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Quando nos referimos a termos como "pão" ou "flor", compreendemos claramente do que
se trata. São objetos tangíveis que podemos ver, tocar, saborear e sentir o aroma.
Entretanto, o tempo é um conceito abstrato, e sua definição tem sido um desafio
para filósofos ao longo dos séculos. No século III d.C., Santo Agostinho de Hipona
(354-430 d.C.) apresentou diversas reflexões acerca do tempo, que influenciaram
inúmeros pensadores até o século XIX. Muitas de suas ideias a respeito do tempo
ainda ressoam na atualidade. Neste artigo, exploramos Santo Agostinho e suas
intrigantes teorias sobre o tempo e a consciência, mais de 1600 anos após sua
primeira publicação.
Antes de prosseguir, é crucial ressaltar que Santo Agostinho não é apenas conhecido
por suas teorias sobre o tempo (o título "Santo" em seu nome já sugere isso!). De
fato, ele é amplamente reconhecido como um dos mais importantes pensadores cristãos
da história, graças aos seus vastos escritos teológicos.
Agostinho nasceu em 354 d.C. em Tagaste, uma cidade romana situada na atual
Argélia, a apenas 40 milhas da costa africana. Naquela época, o cristianismo
começava a se difundir a partir de sua forte presença no Oriente Médio. Contudo,
durante a infância de Agostinho, ainda não se havia tornado a religião oficial do
Império Romano.
Todos esses aspectos físicos parecem confirmar que o tempo está continuamente
"passando". No entanto, quando se trata disso, enfrentamos dificuldades para
definir o tempo, pois não podemos realmente ver o próprio tempo. Não podemos tocá-
lo, cheirá-lo ou prová-lo, embora toda nossa experiência de vida esteja tão
intimamente entrelaçada ao tempo. Conforme Santo Agostinho observa, quando não
precisamos definir o tempo, sabemos exatamente o que ele é. Contudo, encontrar as
palavras para descrever o tempo em voz alta é surpreendentemente complicado.
Agostinho sugere que isso acontece porque é apenas em nossas próprias mentes que
percebemos a presença do tempo. Em vez de ser um fenômeno externo e observável, o
tempo existe dentro de nossa própria consciência: "Então é em ti, minha mente, que
eu meço períodos de tempo". Nossa consciência é uma ferramenta poderosa, pois é
capaz de diferenciar o que aconteceu, está acontecendo e acontecerá.
Com efeito, ao longo de milhares de anos e em muitas (mas não todas) culturas, os
seres humanos tendem a dividir o tempo em passado, presente e futuro. É por meio
desses tempos que geralmente caracterizamos o tempo como "fluindo". Sem esses três
estados, nada ao nosso redor existiria da maneira que conhecemos. Agostinho
escreve: "Se nada passa, não há tempo passado, e se nada chega, não há tempo
futuro, e se nada existisse, não haveria tempo presente". O tempo se move
constantemente do passado para o futuro, e sabemos disso por causa das mudanças
físicas que observamos constantemente. Vemos coisas novas surgindo o tempo todo,
que não estavam lá antes, como sementes germinando ou pessoas passando pela nossa
janela. Enquanto isso, outras coisas tornam-se "passado" quando desaparecem da
existência, como quando uma folha cai de uma árvore e eventualmente se desintegra
em pó.
A natureza enigmática dessas ideias remete à ênfase de Santo Agostinho sobre o quão
difícil é para os seres humanos explicarem claramente o que realmente é o tempo. E,
em geral, Agostinho está satisfeito em deixar as coisas dessa maneira. Ele nunca
apresenta uma definição definitiva do tempo, preferindo destacar os diversos
problemas que surgem de nossa percepção temporal. Outro dilema envolve a diferença
entre nossa capacidade mental de perceber o tempo em todos os seus aspectos versus
os efeitos externos do tempo no mundo ao nosso redor.
Considere o corpo humano, por exemplo. O tempo afeta nossos corpos, causando rugas
na pele, enfraquecendo-nos e deixando nossos cabelos grisalhos. Não podemos fazer
nada para impedir esse processo, mas estamos profundamente conscientes dele e
podemos refletir sobre isso por um longo tempo. É por isso que Agostinho também
chama o tempo de distentio animi ou "expansão da mente". A mente é capaz de se
estender ou se afastar dos limites do momento presente e de seus efeitos físicos em
nosso corpo, para pensar conscientemente sobre como isso nos afetará no futuro
também (incluindo todas essas preocupações com cabelos grisalhos!).
No final, Agostinho não nos oferece uma resposta definitiva sobre a verdadeira
natureza do tempo. Em vez disso, ele destaca o caráter peculiar do tempo, que
parece não existir e, ainda assim, é extremamente significativo para os seres
humanos. Contudo, como um homem de fé cristã, suas investigações eventualmente o
levam a refletir sobre como o tempo deve ser no plano de existência de Deus.
Santo Agostinho defendeu que o tempo terreno (que faz parte da criação divina) deve
ser substancialmente diferente da natureza da existência de Deus. Deus é eterno, e
a eternidade ou "o tempo de Deus" é algo que nós, seres humanos, jamais
conseguiremos compreender. Refletindo sobre a natureza da eternidade, Agostinho
indaga: "Quem acalmará o coração humano para que eu possa ver como a eternidade, na
qual não há futuro nem passado, permanece imóvel e dita os tempos futuros e
passados? Minha mente tem força para isso?"