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INSTITUTO AGOSTINIANO DE FILOSOFIA

Graduação em Filosofia

Clauciano Ulve da Silveira

UMA VISÃO ACERCA DO TEMPO E DA ETERNIDADE EM


AGOSTINHO DE HIPONA

Franca
2020
Clauciano Ulve da Silveira

UMA VISÃO ACERCA DO TEMPO E DA ETERNIDADE EM


AGOSTINHO DE HIPONA

Monografia apresentada ao Curso de Filosofia do


Instituto Agostiniano de filosofia, como requisito
parcial para obtenção do título de bacharel em
Filosofia.

Orientador: Afonso de Carvalho Garcia, Frei-OAR.

Franca
2020
Clauciano Ulve da Silveira

UMA VISÃO ACERCA DO TEMPO E DA ETERNIDADE EM


AGOSTINHO DE HIPONA

Monografia apresentada ao Curso de Filosofia do


Instituto Agostiniano de Filosofia, como requisito
parcial para obtenção do título de bacharel em
Filosofia.

Franca, 30 de setembro de 2020.

Comissão Examinadora:

___________________________________________________________________
Prof. Orientador: Afonso de Carvalho Garcia, Frei – OAR.

___________________________________________________________________
Examinador
Dedico este trabalho a Deus, princípio e fim do tempo
e da eternidade, beleza sempre antiga e sempre nova,
e a todos os meus familiares e amigos.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, que é fonte de toda sabedoria, de todo bem e de toda
graça, pelo dom de minha vida e pela graça de elaborar um trabalho da forma que desejava.
Agradeço aos meus familiares pelos ensinamentos éticos que me deram ao longo de minha
trajetória, meu pai Luciano Ferreira da Silveira, minha mãe Rosemira Ulve da Silveira, minha
irmã Karolina Ulve da Silveira, e meus sobrinhos Gustavo, João Lucas e Laura. Agradeço à
Ordem dos Agostinianos Recoletos por me dar a oportunidade de estudar a filosofia em um
ambiente cristão e de qualidade. Agradeço a todos os meus irmãos, frades e postulantes, que
estiveram junto comigo ao longo destes três anos, me ajudando nos momentos mais difíceis e
me motivando a seguir em frente. E, por último, agradeço a todos os professores e funcionários
do Instituto agostiniano de filosofia que me ajudaram em minha formação intelectual, em
especial meu orientador Frei Afonso de Carvalho Garcia – OAR, por me ajudar a construir
um trabalho com empenho e liberdade.
“No princípio, Deus criou o céu e a terra.”
(Gn 1, 1)
RESUMO

O objetivo deste trabalho é realizar uma análise sobre o tempo e a eternidade, especialmente no
livro XI das Confissões de Agostinho. Para uma melhor abordagem do assunto, no filósofo em
questão, serão analisados os pensamentos de Platão, Aristóteles e Plotino, para em seguida
aprofundar-se em Agostinho de Hipona. Agostinho trata a questão do tempo a partir da
pergunta: o que fazia Deus antes da criação? Isso o conduz por um caminho em que precisa
separar o tempo da eternidade. Mesmo assumindo alguns traços dos filósofos anteriores a seu
tempo, Agostinho desenvolve uma nova perspectiva sobre o tempo e a relação do homem com
este. Ele desenvolve a ideia de que o tempo seria uma distensão da alma, ou seja, é na alma que
o homem consegue perceber e medir o tempo. Apesar de sua longa reflexão sobre a
subjetividade do tempo, Agostinho não fala que sua existência depende do homem, pois o
tempo é anterior a este. Mas como ele se preocupa mais com a relação entre homem e tempo,
ele o percebe em sua condição subjetiva no presente, desenvolvendo assim sua ideia de presente
das coisas passadas, presente das coisas presentes e presente das coisas futuras. Após suas
reflexões, Agostinho conclui que é impossível falar de um antes, antes da criação, pois como
em Deus não há tempo, mas eternidade, não existe um antes. É como se a eternidade fosse um
constante presente.

Palavras-chave: Agostinho. Tempo. Eternidade.


RESUMEN

El objetivo de este trabajo es realizar un análisis del tiempo y la eternidad, especialmente en el


libro XI de las Confesiones de Agustín. Para un mejor acercamiento del tema, en el filósofo en
cuestión, se analizarán por primero los pensamientos de Platón, Aristóteles y Plotino, para
después profundizar en Agustín de Hipona. Agustín aborda la cuestión del tiempo desde la
pregunta: ¿qué hacía Dios antes de la creación? Esto lo lleva por un camino en el que necesita
separar el tiempo de la eternidad. Incluso tomando algunas huellas de los filósofos anteriores a
su época, Agustín desarrolla una nueva perspectiva sobre el tiempo y la relación del hombre
con él. Desarrolla la idea de que el tiempo sería una distensión del alma, es decir, es en el alma
donde el hombre puede percibir y medir el tiempo. A pesar de su larga reflexión sobre la
subjetividad del tiempo, Agustín no dice que su existencia dependa del hombre, ya que el
tiempo es anterior a éste. Pero, a medida que se preocupa más por la relación entre el hombre y
el tiempo, lo percibe en su condición subjetiva en el presente, desarrollando así su idea del
presente de las cosas pasadas, el presente de las cosas presentes y el presente de las cosas
futuras. Luego de sus reflexiones, Agustín concluye que es imposible hablar de un antes, antes
de la creación, porque como en Dios no hay tiempo, sino eternidad, no hay antes. Es como si la
eternidad fuera un presente constante.

Palabras clave: Agustín. Tiempo. Eternidad.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 9

2 TEMPO E ETERNIDADE NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA GREGA .................. 12

2.1 Tempo e eternidade em Platão, Aristóteles e Plotino e a relação com Agostinho ... 14

2.1.1 A concepção de tempo em Platão .................................................................................... 15

2.1.2 A concepção do tempo em Aristóteles ............................................................................. 17

2.1.3 A concepção do tempo em Plotino .................................................................................. 21

3 A FORMAÇÃO DA VISÃO AGOSTINIANA SOBRE O TEMPO ......................... 27

3.1 A vida de Agostinho ....................................................................................................... 27

3.2 A questão da criação e a eternidade............................................................................. 30

3.2.1 A resposta aos maniqueus ............................................................................................... 31

3.2.2 A eternidade ..................................................................................................................... 32

4 O CONCEITO DE TEMPO EM AGOSTINHO DE HIPONA ................................ 36

4.1 As dúvidas sobre a existência do tempo....................................................................... 36

4.2 A subjetividade do tempo.............................................................................................. 38

4.3 A objetividade do tempo ............................................................................................... 43

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 45

REFERÊNCIAS............................................................................................................. 47
1 INTRODUÇÃO

Na vida, o homem está acostumado a diversas situações que se tornaram corriqueiras e


não são refletidas, entre estas situações está o tempo. Aparentemente, o tempo não representa
um problema para o homem, pois este é um ser temporal e faz parte de sua existência o tempo.
Porém, por estar tão acostumado a essa realidade, ele muitas vezes não faz uma boa reflexão
sobre aquilo que o rodeia. Quando se fala em reflexão, não se trata de pensamentos do dia-a-
dia que se expressam em frases como: “Nos últimos anos o tempo está passando tão rápido”;
“tempo é dinheiro”; “não tenho tempo pra nada”; etc. Ao falar de reflexão temporal, pretende-
se falar sobre: o que é o tempo? Ele possui ser? Como o homem o percebe? Etc.
Desde os primeiros registros feitos pelos homens, nas pinturas das cavernas, pode-se
notar que ele percebe o tempo em que está vivendo. Afinal, o homem é o único animal capaz
de perceber essa realidade ao seu redor. A percepção do tempo está diretamente ligada a uma
capacidade da alma que é a memória. É pela memória que o homem se posiciona dentro da
realidade, seja para experimentar o momento do agora, para recordar um fato passado, ou até
mesmo para ansiar um possível futuro.
Com o passar do tempo, alguns homens não se contentaram em viver a realidade sem
refletir seus fenômenos, e surge assim a filosofia. São diversos os assuntos que esses filósofos
refletiram, mas um dos mais interessantes e que perdura até os dias de hoje é o que se refere ao
tempo e sua relação com o homem.
É na perspectiva da relação entre o homem e o tempo que este trabalho irá se
desenvolver. A ideia é estudar a visão agostiniana sobre o tempo, mas antes serão analisados
alguns dos principais filósofos que desenvolveram o assunto, ou seja, Platão, Aristóteles e
Plotino, para depois ser analisada a proposta de Agostinho de Hipona. O breve retorno a esses
pensadores será feito para melhor entender a construção do pensamento de Agostinho.
A presente monografia está dividida em três partes. No primeiro capítulo é apresentado
uma breve concepção do que Platão, Aristóteles e Plotino entendem por tempo e eternidade. O
segundo capítulo serve como uma introdução para entender melhor o terceiro: nele é analisado
o que inquieta Agostinho a tratar do assunto, para isso ele fala da eternidade. No terceiro
capítulo é que se desenvolve o tema, propriamente dito, proposto pelo trabalho: a concepção do
tempo em Agostinho.
O primeiro filósofo a ser analisado neste trabalho é Platão. As principais teorias
desenvolvidas por Platão sobre o tema encontram-se em sua obra Timeu. Nela, ele afirma que

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existe uma realidade além da que o homem vive, ou seja, o mundo das ideias. Essa teoria está
diretamente ligada à sua visão sobre o tempo, pois diz que no mundo das ideias não existe o
tempo, mas a eternidade. Assim como tudo que pertence ao mundo material é uma cópia do que
pertence ao mundo das ideias, o tempo seria uma cópia da eternidade, isto é, uma imagem móvel
da eternidade. Enquanto as coisas inteligíveis pertencem à eternidade, as coisas sensíveis
pertencem ao tempo. No mundo material, o tempo seria o resultado do movimento dos astros.
Aristóteles não compactua com a ideia de seu mestre de que o tempo é uma imagem
móvel da eternidade e o movimento dos astros. Isso ele elabora especialmente no livro IV de
sua obra Física. A principal questão levantada por ele é quanto ao ser do tempo. Ele vê que as
partes: presente, passado e futuro, é que compõem o tempo, mas estas não possuem ser. O
passado não mais é, o futuro ainda não é, e o presente está entre os dois. Isso o faz refletir sobre
o agora, o que faz com que ele não considere o agora como uma parte do tempo, pois além de
ser o limite entre o passado e o futuro, para que fosse tempo, seria necessário que o tempo se
formasse a partir de muitos “agoras”. Depois dessas análises, Aristóteles vê a relação do tempo
com o movimento e afirma que tempo não é simplesmente movimento, mas também não pode
existir sem o movimento. Desse modo, o tempo é algo do movimento em sua relação com o
antes e o depois. O tempo pertence ao mundo sensível.
Plotino desenvolve sua teoria no livro III de sua obra Enéadas, onde distingue tempo e
eternidade. Para ele a eternidade pertence à uma natureza perpétua, enquanto o tempo pertence
ao universo. O homem possui um papel fundamental em sua teoria, pois ele não acredita que o
tempo seja o resultado do movimento dos astros, nem algo do mundo sensível, mas o
movimento da alma, que tem tanto a experiência da eternidade, como do tempo. Para Plotino,
o tempo é uma criação da alma do mundo que, a partir da contemplação do intelecto, vai dando
forma às coisas sensíveis.
Depois de uma breve reflexão sobre os três filósofos, no primeiro capítulo, o segundo e
terceiro capítulos deste trabalho apresentam a visão do filósofo em questão. Agostinho faz uma
profunda análise do tempo no livro XI de Confissões. Em sua abordagem pode-se ver traços
que aproximam e que se afastam do que foi pensado pelos filósofos do primeiro capítulo.
Em sua teoria, Agostinho trabalha o tempo como uma criação de Deus. Isso já dá uma
base para dizer que para ele existe o tempo objetivo. Porém, ele dedica a maior parte de sua
reflexão à ideia do tempo subjetivo.
Indagado pelos maniqueus sobre o que Deus estava fazendo antes de criar o mundo,
Agostinho mostra que em Deus não existe tempo e sim eternidade, onde tudo é imutável e nada

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passa. Sendo assim, é impossível falar de um antes, antes mesmo da criação, pois o mundo foi
criado com o tempo a partir do nada.
O homem tem a experiência do tempo, mas esse só tem sentido a partir da alma que
percebe seus elementos e imprime-os na memória. Negando a existência do passado e futuro,
em um sentido objetivo, ele diz que estes só têm sentido na consciência que, a partir do presente,
retoma o passado e espera o futuro. Por isso ele elabora uma nova concepção do tempo
manifestada por uma tríade do presente, isto é, o presente das coisas passadas, o presente das
coisas presentes e o presente das coisas futuras.
Outro assunto que Agostinho irá abordar é quanto à medida do tempo. Ele irá tentar
entender como o homem consegue medir o tempo que, enquanto passado e futuro não possuem
ser, e enquanto presente não possui extensão. Essas são indagações desafiadoras e serão
refletidas ao longo desta monografia.

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2 TEMPO E ETERNIDADE NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA GREGA

A palavra tempo está fortemente presente no cotidiano do homem. É muito comum


ouvir e utilizar expressões como: “não tenho tempo”, “tudo a seu tempo”, “o tempo está
passando muito rápido” etc. Porém, mesmo percebendo essas mudanças, o homem do cotidiano
não procura refletir filosoficamente sobre o que é o tempo. Isso se dá porque é um tema que
passa despercebido em sua vida, pois refletindo ou não, a mudança acontece. O homem
simplesmente aceita, no nível sensível, sem querer entender como se dá a mudança ou o que
seja o tempo em um nível ontológico.
O sentido de tempo está relacionado à percepção da duração e da diferença entre
passado, presente e futuro. Existem provas de que esta é uma das maiores distinções entre o
homem e os animais, pois os últimos, apesar de possuírem uma certa memória, vivem em um
constante presente. De acordo com Whitrow (1993, p. 35), a percepção de si e da realidade ao
seu redor é a principal característica do homem, pois envolve “um sentido de continuidade
pessoal” diante de vários estados de percepção. Isso está relacionado à memória, não apenas
como lembrança, mas como memória reflexiva. Provavelmente no período paleolítico os
homens já tinham consciência de estarem vivendo um momento, de terem vivido um e de que
ainda iriam viver outro, dando, assim, a ideia de passagem do tempo. Isto é que revela as
pinturas retratadas de suas vidas, nas cavernas.
Whitrow (1993, p. 36-37) ainda diz que a ideia de uma realidade última atemporal está
presente na história humana desde muito cedo. Pois, a partir do momento em que o homem
percebeu que, assim como os outros animais, ele nascia e morria, este começou a tentar conter
o rumo contínuo do tempo por meio dos funerais.

No tocante à nossa própria espécie, o indício mais antigo, que remonta possivelmente
a 35.000 a.C., revela que os mortos eram cercados não só por armas, ferramentas e
ornamentos, mas também por comida, algo que, com frequência devia ser escasso
entre os vivos. Em alguns casos cobriam-se os corpos de ocre vermelho, talvez no
intuito de simular sangue, na esperança de impedir a extinção física. O cuidado
tomado com a remoção dos mortos sugere uma convicção profunda de que, desde que
tomadas as medidas apropriadas, a morte podia ser encarada como um estado
transitório. (WHITROW, 1993, p. 37)

Com isso, percebe-se que já havia uma ideia de tempo que passa e transforma, mas
também a esperança em um momento futuro onde não haveria tempo. Isso já introduz uma
ideia, ainda simples, de eternidade. Porém, essa percepção da mudança, ainda hoje só é

12
percebida como algo simples e pouco refletida, pois é algo comum na vida humana em boa
parte de sua história.
Ao analisar a temática acerca do tempo na Idade Antiga, deve-se levar em consideração
a noção de eternidade, pois “foi dito com frequência que na filosofia antiga (e também
medieval) o conceito de tempo foi relegado ou, pelo menos, posto em parênteses em favor do
tema do ser.” (MORA, 2001, p. 2834).

O vocábulo ‘eternidade’ costuma ser entendido em dois sentidos: em um sentido


comum, segundo o qual significa o tempo infinito, ou a duração infinita, e em um
sentido mais usual entre muitos filósofos, de acordo com o qual significa algo que não
pode ser medido pelo tempo, pois o transcende. (MORA, 2001, p. 925).

Os gregos, filósofos ou não, viam a eternidade como um tempo infinito, como algo que
perdura ao longo de todo o tempo, ou também como algo que durou desde sempre até agora,
sem ser interrompido. Para Mora (2001, p. 925), esse sentido de eternidade é mais visível nas
doutrinas filosóficas pré-socráticas que falavam que a realidade primordial é eterna, ou quando
falavam do eterno retorno1.
Quando se pensa a respeito do tempo na Idade Antiga, também é importante perceber
que os gregos tinham uma visão diferente em relação aos hebreus. Pois enquanto os hebreus
são temporais e destacam o “passar”, os gregos são intemporais e destacam o “estar”.
Como os gregos pensavam o tempo em função do presente, sua visão temporal se dava
por meio da observação do movimento dos corpos celestes. Com isso, pelo fato do movimento
dos astros se repetirem em um determinado período, os gregos viam um tempo cíclico
constituídos de vários presentes que se repetiam ao longo da história.
Os hebreus, por sua vez, concebiam uma ideia de tempo em função do futuro. Para eles
o tempo não é visto como um ciclo, mas um percurso linear que possuiu um início e terá um
fim, pautado no projeto de Deus. De acordo com Whitrow (1993, p. 68-69):

O traço mais destacado a distinguir o pensamento hebraico do grego (em particular


Aristóteles) era a ideia do cosmo como uma criação de Deus que ocorrera
efetivamente na história. No pensamento hebraico, a natureza não era divina como no
pensamento grego, e Deus transcendia todos os fenômenos. O Sol, a Lua e as estrelas
eram todos criaturas de Deus e serviam para atestar sua obra (Salmo 19). [...]. Por
causa disto, os judeus foram por vezes considerados os “construtores do tempo”, ao
passo que os gregos teriam sido os “construtores do espaço”, os romanos os
“construtores do império” e os cristãos os “construtores do céu”.

1
“A doutrina segundo a qual o universo nasce e perece em uma sucessão cíclica.” (MORA, 2001, p. 929).
13
2.1 Tempo e eternidade em Platão, Aristóteles e Plotino e a relação com Agostinho2

Ao elaborar a problemática acerca do tempo em suas Confissões, Agostinho não parte


do zero, ele conhece elementos elaborados por outros pensadores e assim prepara sua
abordagem a partir de visões anteriores.
Agostinho teve contato com diversos ensinamentos platônicos. Mesmo não tendo um
contato direto com suas obras, com exceção da tradução ciceroniana do Timeu, Agostinho
conheceu o pensamento de Platão através de fontes secundárias como Virgílio, Cícero, Varrão,
Plotino, Apuleio e Porfírio. (FITZGERALD, 2018, p. 787).
Fitzgerald (2018, p. 138) continua dizendo que as obras filosóficas de Cícero, Varrão e
versões latinas das obras neoplatônicas são responsáveis pela maior parte do conhecimento
agostiniano também a respeito de Aristóteles. A forma como Agostinho trata do tempo, em
Confissões XI, revela que ele teve algum contato com a Física de Aristóteles.
Para Fitzgerald (2018, p. 791), o pensamento agostiniano a respeito do tempo e da
eternidade apresenta uma profunda influência de Plotino. A primeira semelhança se dá pelo fato
de que, assim como Plotino, Agostinho também acredita que há uma dificuldade em apreender
o conceito de tempo. A segunda semelhança é que os dois pensam em um tempo onipresente e
que não pode ser dividido, sendo extensão. A terceira semelhança se dá em afirmarem que o
tempo não pode ser associado ao movimento dos corpos celestes. A quarta semelhança é que
eles diferenciam a eternidade que existe inteira e simultânea da que é uma imagem da
eternidade.
Platão e Plotino exercem importante influência sobre Agostinho, pois assim como este,
eles faziam uma separação entre tempo e eternidade e tratavam da relação entre ambos. Já
Aristóteles influenciará Agostinho ao propor uma visão espiritualista do tempo, ou seja, a alma
que é a responsável por perceber a mudança do tempo.
Tanto Agostinho como Platão partem da ideia de tempo relacionado ao surgimento do
mundo. Porém, os dois apresentam ideias divergentes quando Platão mostra um tempo
cosmológico, relacionado, mas não reduzido, ao movimento dos astros, e Agostinho, seguindo
a ideia de Plotino, acredita que o tempo não é o movimento dos corpos celestes.
Para uma melhor abordagem torna-se necessária uma explanação da visão de tempo em
Platão, Aristóteles e Plotino, para assim ser trabalhado o problema em Agostinho de Hipona.

2
As referências a estes filósofos, no corpo do texto, não seguirão as normas da ABNT: autor, ano, página. Ao
contrário, serão feitas pelas páginas e outras divisões internas das edições clássicas, facilitando a localização das
passagens em qualquer edição-língua. As edições usadas neste texto estão indicadas nas referências bibliográficas.
14
Desse modo, será elaborada uma reflexão sobre os principais argumentos, a respeito do tema,
em cada um destes filósofos.

2.1.1 A concepção de tempo em Platão

Platão nasceu em Atenas no ano de 427 a. C. e morreu em 347 a. C.. Seu nome
verdadeiro era Aristócles. Platão era um apelido que, alguns acreditam, derivava de seu vigor
físico, ou ainda, da extensão de sua testa. Ele era de uma família nobre, em que descendia de
Sólon, por parte de mãe, e do rei Codro, por parte de pai.
Por ser de uma família aristocrata, é natural que ele tenha se interessado desde cedo pela
política. “Esse é um dado biográfico absolutamente essencial, que incidiria profundamente na
substância mesma de seu pensamento.” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 125).
De acordo com Chauí (1994, p. 163), por pertencer à aristocracia e estar destinado à
política, Platão frequentou os sofistas para aprender retórica. Antes de ser discípulo de Sócrates,
ele teria sido discípulo de Crátilo, que era discípulo de Heráclito. Platão começa a pertencer ao
círculo de Sócrates com aproximadamente 20 anos e se torna o seu discípulo mais importante.
Isso irá influenciar muito sua filosofia, pois a princípio ele teria ido apenas com o intuito de se
destacar na política e, ao conhecer Sócrates, começa a pensar em outros temas além da política.
Platão elabora seu pensamento sobre a questão do tempo na obra Timeu. Mas ao olhar
para a obra é necessário fazer uma ligação com sua teoria da geração do mundo pois, segundo
ele, no momento da geração do mundo também se gerou o tempo, ou seja, ele não existia antes
da produção do cosmos. Desse modo, ele afirma: “De fato, simultaneamente à criação do céu,
ele concebeu a produção de dias, noites, meses e anos, os quais não existiam antes do céu
(universo) ter sido gerado. Todos eles são porções do tempo; [...].” (PLATÃO, Timeu, 37e).
De acordo com Platão, para que a criatura fosse mais semelhante ao criador3, foi gerado
o tempo, por isso afirma:

[...]; portanto, ele concebeu produzir uma imagem móvel da eternidade, e à medida
que ordenava o céu ele produziu, simultaneamente, uma imagem eterna daquela
eternidade que permanece na unidade, e essa imagem se movendo de acordo com o
número, mesmo o que chamamos de tempo. (PLATÃO, Timeu, 37d).

3
Aqui a criação não deve ser entendida no modelo judaico-cristão ex nihilo. Pois Platão não possui essa ideia, mas
sim uma ideia de geração.
15
Porém, de acordo com Mora (2001, p. 2834), essa eternidade apresentada por Platão
como originária do tempo “é, se se quiser, uma ideia, mas é uma ideia da qual há uma cópia
muito ‘imediata’: é o perpétuo movimento circular das esferas celestes.” Provavelmente Platão
considera esse movimento circular como “a eternidade mesma”.
Platão é dualista, portanto, afirma a existência do mundo sensível e do mundo inteligível
ou mundo das ideias. O primeiro é uma imagem do segundo que é real. Desse modo, da mesma
forma que o mundo sensível foi gerado como sendo uma imagem do mundo das ideias, também
o tempo foi produzido como sendo uma imagem móvel da eternidade.

O tempo, portanto, veio a ser (foi gerado) simultaneamente ao céu (universo), de modo
que tendo sido gerados juntos pudessem ser também dissolvidos juntos, na hipótese
de algum dia haver para eles uma dissolução; e veio a ser conforme o modelo da
natureza eterna, de modo a poder assemelhar-se o máximo possível ao seu modelo; de
fato, enquanto o modelo é algo existente por toda a eternidade, ela por seu turno, foi,
é e será por todo o tempo continuamente. (PLATÃO, Timeu, 38b-c).

Platão utiliza o Timeu para apresentar a produção do mundo sensível pelo Demiurgo, ou
seja, a maneira que esse artífice divino utilizou para impor forma e ordem à matéria primeira
que era o caos. Assim, da mesma forma que os seres criados e os deuses não possuem a mesma
essência, mas apenas uma semelhança, o tempo é apenas uma representação da eternidade. Pois
“a eternidade é uma unidade em si, e, isso não foi possível dar ao tempo, este foi criado como
uma imagem que se move segundo o número.” (RICHTER, 2018, p. 14).
Para Platão, o tempo se mostra no movimento dos astros4. Desse modo os corpos
celestes foram gerados em vista do que viria a ser o tempo, e o movimento destes contribui para
a produção do tempo. Com isso, ele afirma:

Assim, em decorrência desse raciocínio e projeto do deus, o qual visava a vir a ser do
tempo, foram gerados o sol, a lua e outros cinco astros, que ostentam a denominação
de errantes, para a distinção e preservação dos números do tempo. E quando o deus
construiu um corpo para cada um deles, acomodou-os nas órbitas traçadas para o curso
do diferente: sete órbitas para os sete corpos. (PLATÃO, Timeu, 38c-d).

De acordo com Whitrow (1993, p. 57), esta relação estreita que Platão fez entre o tempo
e o universo levou-o a considerar o tempo como produto efetivo das revoluções das esferas
celestes. Nisso, ele deixa claro que, em sua filosofia, tempo e universo são inseparáveis, ou
seja, o tempo não possui existência própria, mas é uma característica do universo.

4
Esses astros, Platão caracteriza-os como astros errantes (planetas, sol e lua), que são diferentes dos astros fixos.
Os últimos são divindades invisíveis. (Cf. Timeu 40a-b).
16
2.1.2 A concepção do tempo em Aristóteles

Aristóteles nasceu no ano de 384 a. C e morreu em 322 a. C. Seu nascimento foi na


cidade grega de Estagira, por isso é comum ser chamado de Estagirita. Seu pai, Nicômaco, era
médico, sua mãe, Festis, era de Cálsis, onde Aristóteles viveu seus últimos dias. Aos dezoito
anos Aristóteles viaja para Atenas e logo ingressa na Academia platônica, onde amadurece e
consolida sua vocação de filósofo. Ali permanece por dezenove anos até a morte de Platão, seu
mestre. De acordo com Chauí (1994, p. 235), o pensamento de Platão influenciou
profundamente Aristóteles. Mesmo que possuísse uma forma própria de filosofia e viesse a
criticar alguns pontos da filosofia de seu mestre, “Aristóteles recebeu a marca do platonismo”.
Após a morte de Platão, em 347 a. C, Aristóteles deixa a Academia, saindo de Atenas,
e vai para a Ásia Menor. Isso se dá porque a Academia, agora na direção de Espeusipo, se torna
um grande centro astronômico e matemático, sob a influência do orfismo pitagórico. Para Chauí
(1994, p. 236), os acadêmicos consideravam que somente por meio da matemática e da
astronomia o homem poderia chegar à realidade última das coisas. Isso era criticado por
Aristóteles, que discordava da ideia de identificar filosofia com matemática, pois seu perfil
naturalista e médico não se adaptava ao matematicismo místico que estava tomando conta da
Academia.
Um marco importante na vida de Aristóteles se dá quando Filipe da Macedônia o chama
para a corte, e confia a ele a educação de seu filho Alexandre, que estava com treze anos e viria
a ser o homem destinado a revolucionar a história grega. Quando Alexandre sobe ao trono,
Aristóteles retorna a Atenas e funda o Liceu, sua escola filosófica.
Aristóteles trata da questão do tempo especialmente em sua obra Física (IV, 10-14),
onde alega que a reflexão do tempo é obscura e de difícil entendimento. Desse modo, os
capítulos dez e onze do quarto livro da Física agregam um grupo de argumentos coerentes e
harmônicos que levam à principal definição de tempo proposta por Aristóteles: “isto é o tempo:
número de um movimento segundo o anterior-posterior.” (ARISTÓTELES, Física, 219b, 1-
2)5.
Aristóteles, ao pensar o assunto, tenta solucionar o problema ontológico acerca do
tempo e quer descobrir se o tempo possui ser ou não. Com isso, ele começa por expor as aporias
contidas na própria ideia de tempo. Ele as expõe não como tentativa de resolvê-las, mas para

5
As citações da Física, de Aristóteles, são traduções do autor a partir da edição espanhola, indicada nas referências
bibliográficas.
17
tratá-las filosoficamente. Segundo Puente (2001, p. 123), “pode-se dizer que a investigação
aporética pretende apenas evidenciar a complexidade intrínseca do fenômeno investigado, não
representando necessariamente, porém, as ideias do próprio Aristóteles sobre ele”.
A primeira aporia apresentada por Aristóteles mostra o lado deficitário de ser do tempo.
Pois uma parte do tempo não é mais e a outra parte ainda não é. Desse modo, o tempo necessita
da dimensão do presente, ou seja, da parte que é, como afirma Aristóteles:

Além disso, se há de existir algo divisível em partes, então será necessário que, quando
exista, exista também as partes, ou todas ou algumas. Mas, embora o tempo seja
divisível, algumas de suas partes já foram, outras estão por vir e nenhuma é. O agora
não é uma parte, pois uma parte é a medida do todo, e o todo tem que estar composto
de partes, mas não parece que o tempo esteja composto de agoras. (ARISTÓTELES,
Física, 218a, 5-8).

Essa aporia mostra a impossibilidade de o tempo possuir uma substância, pois ele é
formado de partes que não são. Também demonstra que o que pode ser dividido em partes, para
existir, precisa possuir pelo menos uma ou todas as partes que o formam no presente. Isso leva
a pensar no agora, pois, se pelo menos uma parte do tempo existisse, a sua existência seria
comprovada. O agora, diferente do passado e do futuro, existe no presente. Porém, ele acredita
que o agora não seja uma parte do tempo.
Ao refletir sobre o agora, Aristóteles o vê como um limite entre o passado e o futuro,
mas busca entender se ele é sempre o mesmo ou é sempre um outro. Isso o faz identificar outras
aporias, pois dois agoras idênticos não podem coexistir ao mesmo tempo e agoras diversos
também não podem existir simultaneamente, como afirma Aristóteles:

Além disso, não é fácil ver se o agora, que parece ser o limite entre o passado e o
futuro, permanece sempre único e idêntico ou é sempre outro distinto. Porque se fosse
sempre distinto, e se nenhuma das duas partes que estão no tempo fossem simultâneas
(a menos que uma delas contenha a outra, como o tempo maior contém o tempo
menor), e se o agora que não é, mas antes era, tivesse que ter-se destruído em algum
tempo, então os agoras não poderão ser simultâneos entre si, já que sempre o agora
anterior ter-se-á destruído. Mas o agora anterior não pode ter destruído a si mesmo,
porque era então, tampouco pode destruir-se em outro agora. Porque há que admitir
que é tão impossível que os agoras sejam contíguos entre si, como que um ponto o
seja com outro ponto. Então, se não se destruísse no agora seguinte, mas em outro,
existiria simultaneamente com os infinitos agoras que há entre ambos, o que é
impossível. (ARISTÓTELES, Física, 218a, 9-20).

Richter (2018, p. 21) analisa que toda a discussão a respeito do agora em Aristóteles,
serve para mostrar que, mesmo ele não sendo uma parte pertencente ao tempo enquanto tal, está
associado à forma como o homem entende o tempo.

18
Aristóteles deixa a questão das aporias e parte para tentar compreender o que é o tempo.
Para isso ele passa por algumas definições de sua época: “Alguns dizem que o tempo é o
movimento do todo6, outros dizem que é a própria esfera.” (ARISTÓTELES, Física, 218b, 1).
Essa menção à visão de seus antecessores parece um pouco simples e breve, pois em uma única
sentença ele expressa a contribuição de seus precedentes. Mas ele apresenta as duas ideias do
que seria o tempo para refutá-las.
A refutação da primeira tese se dá por duas questões. A primeira questão é que quando
se pensa na relação da parte e do todo, uma parte do movimento não é movimento, enquanto
uma parte do tempo continua sendo tempo. A segunda questão de refutação da primeira tese
mostra que se houvesse muitos mundos, cada um se movendo a seu tempo, não teria sentido
dizer que haveria muitos tempos. Já a segunda tese de que o tempo seria a própria esfera,
Aristóteles a julga como uma visão ingênua e indigna de ser analisada para ser refutada.
Após apresentar as aporias acerca do tempo e também algumas refutações de visões
anteriores, Aristóteles começa a explanar o que seria o tempo. Ele inicia sua argumentação
relacionando o tempo e o movimento. Para isso, ele aceita que entre o tempo e o movimento
existe uma certa ligação, mas essa ligação não quer dizer que os dois conceitos se identifiquem
totalmente, pois são diversas as diferenças. A primeira está relacionada ao fato de que o
movimento e a mudança só podem ser refletidos em conexão com algo determinado, enquanto
o tempo é algo universal e comum a todas as coisas (entes). Porém, como afirma Puente (2001,
p. 130), mesmo o tempo sendo comum a todas as coisas, ele não pode ser analisado
particularmente em nenhuma delas. A segunda diferença busca mostrar que só existe
movimento e mudança naquilo que está se movendo e enquanto a mudança e o movimento
podem acontecer de forma mais rápida ou mais lenta, o tempo não partilha da mesma
possibilidade. Desse modo, ele diz:

Mas posto que se pensa que o tempo é um certo movimento e uma certa mudança,
deve-se examinar isto, porque só há mudança e movimento na coisa que está mudando
ou onde se dê o caso de que algo se mova ou mude; mas o tempo está presente por
igual em todas partes e com todas as coisas. Além disso, toda mudança é mais rápida
ou mais lenta, enquanto o tempo não é. Porque o lento e o rápido são definidos pelo
tempo: rápido é o que se move muito em pouco tempo, lento é o que se move pouco
em muito tempo. Porém, o tempo não é definido pelo tempo, tanto se o tomar
quantitativamente quanto qualitativamente. (ARISTÓTELES, Física, 218b, 9-15).

6
É atribuída a Platão e este não é mencionado diretamente por Aristóteles porque, segundo Puente (2001, p. 127),
mais pensadores da época partilhavam da mesma ideia.
19
Aristóteles encerra o décimo capítulo afirmando que o tempo não é movimento, mas ao
iniciar o décimo primeiro capítulo ele faz uma ligação dos dois conceitos. O fato de Aristóteles
ligar tempo e movimento se dá porque “sem mudança, não há tempo.” (ARISTÓTELES, Física,
218b, 21).
Para Aristóteles, a ausência de mudança acontece quando “nós mesmos não mudamos
nosso pensamento” ou quando “não percebemos que estamos mudando”. Quando isso acontece,
o tempo parece não ter passado. Desse modo, ele afirma:

E posto que quando não distinguimos nenhuma mudança, e a alma permanece em um


único momento indiferenciado, não pensamos que tenha transcorrido tempo, e posto
que quando o percebemos e distinguimos dizemos que o tempo transcorreu, é
evidente, então, que não há tempo sem movimento, nem mudança. Logo, é evidente
que o tempo não é um movimento, mas não há tempo sem movimento.
(ARISTÓTELES, Física, 218b, 30-219a, 1).

O tempo não é simplesmente movimento, mas também não pode existir sem o
movimento. Desse modo, o tempo é algo do movimento. Pensando nisso, Aristóteles irá
continuar sua reflexão tentando aprofundar a relação entre tempo e movimento.
Depois de afirmar que o tempo é algo do movimento, Aristóteles precisa entender o que
exatamente o tempo é do movimento. A primeira característica que ele toma do movimento é a
noção de contínuo. Para ele, o movimento é contínuo em função de sua magnitude e assim como
o movimento é contínuo, também o é o tempo. Assim, ele diz:

Porém, como o que está em movimento se move de algo para algo, e toda magnitude
é contínua, o movimento segue a magnitude. Porque, por ser contínua a magnitude, o
movimento também é contínuo, e o tempo é contínuo por ser contínuo o movimento
(pois sempre parece que a quantidade do tempo transcorrido é a mesma que a do
movimento). (ARISTÓTELES, Física, 219a, 10-14).

Quando se pensa em continuidade, se pensa em um antes e um depois. O tempo está


completamente ligado ao antes e depois. Isso leva à definição aristotélica: “isto é o tempo:
número de um movimento segundo o anterior-posterior” (ARISTÓTELES, Física, 219b, 1-2).
Desse modo, só se percebe o tempo a partir de uma mente que seja capaz de perceber o
movimento e a mutação.
Ao associar o tempo com o número do movimento, Richter (2018, p. 24) diz que para
Aristóteles “o tempo é uma forma de existência que independe da consciência e também não é
um número, mas sim um concreto numerável em movimento”. Isto quer dizer que enquanto
número, o tempo só pode ser numerado por uma alma, mas o movimento existe independente

20
da percepção da alma, e este é um substrato do tempo. Para Reale e Antiseri (1990, p. 194), a
alma é o que numera, portanto é a condição necessária para fazer a distinção entre numerado e
número. Desse modo, “a alma torna-se conditio sine qua nom do próprio tempo, [...]”. Essas
duas interpretações parecem um tanto contraditórias, mas são visões que se complementam
quando se analisa o que disse Aristóteles:

Quanto à primeira dificuldade, existiria ou não o tempo se não existisse a alma?


Porque se não houvesse alguém que numere tampouco haveria algo que fosse
numerado, e em consequência não poderia existir nenhum número, pois um número é
ou o numerado ou o numerável. Porém, se nada que não seja a alma, ou a inteligência
da alma, pode numerar por natureza, resulta impossível a existência do tempo sem a
existência da alma, a menos que seja aquilo que quando existe o tempo existe, como
seria o caso se existisse o movimento sem que exista a alma; haveria então um antes
e um depois no movimento, e o tempo seria estes como numeráveis. (ARISTÓTELES,
Física, 223a, 21-28).

Com isso, resta dizer que, para Aristóteles, a alma é responsável por numerar o tempo e
perceber sua mudança. Mas independentemente da existência da alma, existe o movimento e
este numera o tempo através da mudança do antes para o depois.
Para Reale e Antiseri (1990, p. 195), a visão espiritualista do tempo é um forte
antecipador da ideia de tempo em Agostinho de Hipona.

2.1.3 A concepção do tempo em Plotino

Plotino nasceu no ano de 205 d. C. e morreu em 270 d. C., na cidade de Licópolis, no


Egito greco-romano. No ano de 232 d. C. Plotino começa a fazer parte do círculo de Amônio
Sacas, onde permanece até 243 d. C.. Em 244 d. C. ele vai para Roma e durante nove anos
apenas aplica lições em uma escola que havia fundado, sem escrever nada. Isso acontece porque
havia feito um pacto com Erênio e Orígenes, o Pagão, de não divulgar as doutrinas de Amônio.
Após Amônio e Orígenes, o Pagão, romperem o pacto, Plotino começa a escrever seus tratados.
“Plotino é a última grande voz da antiguidade greco-pagã.” (REALE; ANTISERI, 1990, p.
337). Sua filosofia é marcada pela influência platônica e pela teoria das Três Hipóstases que
constituem o universo, que será tratada mais adiante.
Plotino desenvolve a questão do tempo e da eternidade em sua obra Enéadas, no livro
III. Para ele, tempo e eternidade são coisas distintas. Ele vê que a eternidade pertence a uma
natureza perpétua e o tempo pertence ao universo. A forma como o homem percebe isso leva a

21
entender que, em sua alma, este possui tanto a experiência do tempo quanto da eternidade.
Assim diz Plotino:

Dizendo que eternidade e tempo são diferentes entre si, uma concernindo à natureza
perpétua, e o tempo, ao devir e a este universo, pensamos ter em nossas próprias
almas, espontaneamente e como por intuições mais densas do pensamento, uma
experiência manifesta acerca deles, referindo-nos sempre a eles e evocando-os a
respeito de tudo. (PLOTINO, Enéadas, III, 7, 1).

A natureza perpétua que Plotino afirma pertencer à eternidade é a substância inteligível,


o Nous, enquanto o tempo pertence ao mundo sensível. Pensando nisso, Sales (2017, p. 5-6) diz
que é de fundamental importância, para compreensão do conceito de eternidade em Plotino,
entender a teoria das três hipóstases que constituem o mundo. Dito isso, continua:

A cosmologia plotiniana divide o universo em três hipóstases: o Uno, o Nous (ou


intelecto) e a Alma. O Uno seria o ser mais perfeito, o princípio metafísico do qual
tudo se originou e que possui sua existência independentemente de qualquer outra das
hipóstases. O Uno é um ser tão perfeito que foi capaz de criar todo um universo
ampliando sua própria natureza sem nada perder, por emanação. Resultado direto da
emanação do Uno, o intelecto é a hipóstase que possui uma existência menos perfeita
e se assemelha ao mundo inteligível platônico, a atividade do intelecto está em
contemplar diretamente o Uno, o que faz da sua existência mais próxima da perfeição
e capaz de produzir a terceira hipóstase: a Alma. Por ter sido produzida a partir da
atividade do Nous a Alma possui existência mais frágil e imperfeita, já que só
consegue contemplar o Uno através do intelecto. Esta hipóstase, da Alma, divide-se
em duas: a hipóstase em si, gerada a partir do intelecto, e a alma mundo, regente e
produtora do mundo sensível a partir da contemplação do intelecto. (SALES, 2017, p.
5-6).

A ideia das três hipóstases ajuda a entender melhor a relação do tempo com a eternidade,
pois a definição do tempo, em Plotino, passa pela definição de eternidade. Neste sentido ele vê
uma certa ligação entre a eternidade e o mundo inteligível. Porém, ele alerta para que não se
confunda mundo inteligível, Nous, com a eternidade, pois apesar de manterem uma relação,
não são a mesma coisa. A eternidade é um atributo do Nous, como ele diz:

Além disso, o universo inteligível e a eternidade contêm, ambos, as mesmas coisas.


Entretanto, quando dizemos que as coisas de um se encontram na outra - na eternidade
- e quando os predicamos de “eterno” - pois ele diz que “a natureza do arquétipo era
eterna”-, dizemos mais uma vez que a eternidade é diferente deles, embora digamos
que a eternidade é própria a ela, ou existe nela, ou está nela presente. Contudo, ambos
serem majestosos não mostra sua identidade: pois, talvez, a majestade advenha de um
deles para o outro. (PLOTINO, Enéadas, III, 7, 2).

22
As dúvidas de Plotino continuam quando ele faz a relação da eternidade com o mundo
inteligível, pois ao associar a questão do tempo sendo a imagem móvel da eternidade, ele se
pergunta se a eternidade seria o repouso. Por isso se questiona:

Será, entretanto, que se deve dizer que a eternidade é conforme ao repouso lá, assim
como o tempo é conforme ao movimento aqui, como dizem? Com razão, porém, se
investigaria se a eternidade, de acordo com o que se fala, é idêntica ao repouso ou,
não ao repouso simplesmente, mas ao repouso que é próprio da essência. Pois, se ela
for o mesmo que o repouso, então, em primeiro lugar, não diremos que o repouso é
eterno, como tampouco que a eternidade é eterna: pois eterno é aquilo que participa
da eternidade. Em seguida, como o movimento seria eterno? Pois, assim, também
seria estático. E, ainda, como a noção de repouso inclui em si o sempre ser? Não me
refiro ao sempre ser no tempo, mas àquele em que pensamos quando nos referimos ao
perpétuo. Todavia, se a eternidade for o mesmo que o repouso da essência, novamente
faremos os outros gêneros exteriores à eternidade. Depois, não devemos conceber a
eternidade apenas em repouso, mas também em unidade; em seguida, devemos
também concebê-la inextensa, para que não seja idêntica ao tempo. Mas o repouso,
enquanto repouso, não contém em si nem a noção de unidade nem a de inextensão.
De mais a mais, predicamos a eternidade da "permanência em unidade": portanto, ela
participaria do repouso, mas não seria o repouso em si. (PLOTINO, Enéadas, III, 7, 2
apud SALES, 2017, p. 6).

Plotino critica a ideia de que a eternidade é repouso e aplica o conceito de eternidade


como sendo a “permanência da unidade”. Pois se a eternidade fosse repouso, o tempo seria
movimento. Para o aprofundamento do que é a eternidade, Plotino continua:

Deve-se dizer que é uma certa intelecção conforme à unidade, reunida porém a partir
de uma multiplicidade, ou ainda que é uma natureza que, ou se segue aos seres de lá,
ou coexiste com eles, ou é neles percebida, e que todos eles são essa natureza que,
embora seja uma, é capaz de muitas coisas e é muitas coisas? E aquele que mira esse
poder múltiplo com uma característica, a de ser um certo tipo de substrato, chama-a
"essência"; logo, chama "movimento" a esse seu aspecto segundo o qual vê vida; em
seguida, chama "repouso" ao seu aspecto que é absolutamente invariável; e "alteridade
e identidade" por serem todas essas coisas juntas uma. E também, inversamente,
recompondo-as em uma unidade, de modo a ser uma só vida, concentrando a diferença
que nelas existe e a incessabilidade de sua atividade e sua identidade, que jamais é
outra e que não é uma intelecção ou uma vida advinda de uma coisa para a outra, mas
o invariável e sempre inextenso: vendo-se todas essas coisas, vê-se a eternidade,
porque se vê uma vida que permanece em identidade por possuir sempre presente sua
totalidade, não uma parte agora e outro depois, mas todas as coisas de uma só vez [...].
(PLOTINO, Enéadas, III, 7, 3 apud SALES, 2017, p. 6).

Sendo assim, pode-se afirmar que, para Plotino, a eternidade é um ato indivisível que
não se identifica com nenhum tipo de mudança, ou seja, não aceita de forma alguma o passado
ou futuro, mas somente o presente, fixo e imutável. No mundo inteligível também existem as
características do eterno presente, onde as coisas simplesmente são, sem deixar de ser ou vir a

23
ser, mas como já foi dito, ambos conceitos, apesar de relacionados, não podem se confundir
como sendo a mesma coisa.
Como a tarefa da filosofia é a busca pela sabedoria e essa passa por uma construção de
pensamentos, Plotino retoma a ideia de alguns filósofos para realizar sua análise crítica. Ele
analisa três tipos de pensamentos, vendo neles uma forte ligação do tempo com o movimento
físico, e afirma:

Talvez devamos, num primeiro momento, dividir os enunciados acerca do tempo em


três grupos. Pois se diz que o tempo, ou é o que é denominado movimento, ou se diz
que é aquilo que é movido, ou algo do movimento; porque dizer que ele é o repouso,
ou algo em repouso ou com algo do repouso seria muito distante da noção de tempo,
que nunca é o mesmo. Mas, dentre os que afirmam que ele é o movimento, há os que
diriam que ele é todo movimento e aqueles, por sua vez, que é o movimento do
universo; os que afirmam que é o que é movido, diriam que ele é a esfera do universo;
e há ainda, dentre aqueles que dizem que é algo do movimento, os que diriam que é a
extensão do movimento, os que dizem que é sua medida e aqueles que dizem
genericamente que ele é o que acompanha o movimento; e, ainda, ou de todo
movimento, ou do ordenado. (PLOTINO, Enéadas, III, 7, 7 apud SALES, 2017, p. 4).

Após essa apresentação de ideias, Plotino analisa que o tempo não pode se identificar
com o movimento, pois são duas coisas distintas. Desse modo, ele parte para a ideia de que o
tempo não é movimento, pois o movimento está no tempo e mesmo que o movimento cessasse,
o tempo continuaria seu percurso. O que ele quer mostrar é que o movimento é o que acompanha
o tempo e não o que o determina.
Ao analisar a ideia de que o tempo seria a coisa movida, Plotino é bem sucinto, pois “se
o tempo não é o movimento da esfera celeste, menos ainda seria a própria esfera, que
supuseram, pelo fato de mover-se, ser o tempo.” (PLOTINO, Enéadas, III, 7, 8). Essa é uma
tese que ele refuta rapidamente.
A terceira questão que Plotino analisa é a visão de que o tempo é algo do movimento,
posta por Aristóteles. A esta teoria ele aplica um pouco mais de tempo e reflexão, pois se fosse
o caso, ele teria que identificar qual parte do movimento é o tempo. Ao analisar, ele observa
que o tempo não pode ser nem extensão, nem intervalo do movimento, pois, de acordo com
Sales (2017, p. 5) “isso implicaria no problema da diversidade dos movimentos e na
impossibilidade de encontrar um que seja parâmetro universal”. Desse modo, a extensão e o
intervalo estão mais ligados à duração do movimento do que à definição do tempo, mesmo que
seja o parâmetro que mede o tempo. Plotino ainda problematiza a visão aristotélica de que o
tempo seria o número de um movimento segundo o antes e o depois:

24
Entretanto, ainda não está claro o que é isso que mede segundo o anterior e o posterior.
Contudo, ao medir segundo o anterior e o posterior, seja com um ponto, seja com
qualquer outra coisa, medirá inteiramente de acordo com o tempo. O tempo será,
portanto, aquilo que mede o movimento pelo anterior e posterior, participando do
tempo e tocando-o para medir. Pois o que toma anterioridade e posterioridade ou é
espacial, como o começo de uma braça, ou será necessário entendê-las
temporalmente. Porque elas o são inteiramente, uma vez que o anterior é o tempo que
cessa no agora, e o posterior, o tempo que começa a partir de agora. Portanto, o tempo
é algo diferente do número que, segundo o anterior e o posterior, mede não apenas um
movimento de qualquer tipo, mas também o ordenado. (PLOTINO, Enéadas, III, 7, 9
apud SALES, 2017, p. 5).

Segundo Sales (2017, p. 5), com essa afirmação, Plotino entende que o anterior e o
posterior são apenas divisões do tempo que já foram e que ainda virão. Para o filósofo, o número
possui uma forte relação com o tempo, por medir o movimento, mas ainda não é o tempo. Pois
se o tempo fosse uma unidade de medida, este não existiria enquanto não houvesse uma alma
para medi-lo. Assim, Plotino se questiona: “Mas por que o tempo não existirá antes da alma
mensurante? A menos que alguém diga que sua origem se encontra na alma. Porque, por causa
da medição, isso não é necessário de modo algum: pois ele é o quanto é mesmo que ninguém o
meça.” (PLOTINO, Enéadas, III, 7, 9). É através desse questionamento que Plotino começa a
dar um maior impacto à sua visão de tempo.
Para Plotino, o tempo é uma criação da alma do mundo que, a partir da contemplação
do intelecto, vai dando forma às coisas sensíveis. Sendo assim, a partir do movimento realizado
pela alma de sair do mundo inteligível e ir até o mundo sensível se forma o tempo. Esse tempo
que, segundo Plotino, não existia antes da eternidade. Dessa forma, Plotino diz que se fosse
possível perguntar ao tempo como ele se originou, ele responderia:

Que antes, antes mesmo de engendrar esse antes e carecer do depois, repousava
consigo mesmo no ente, não sendo tempo, mas também ele se encontrava em quietude
na eternidade. Mas, como havia uma natureza inquieta, desejosa de governar a si
mesma e ser de si mesma e que escolheu procurar mais do que o presente, ela então
se moveu, e se moveu também o tempo, e visto que nos movemos sempre em direção
ao depois e ao posterior e ao não idêntico, mas outro e então outro, fazendo um pouco
longo nosso caminho, fabricamos o tempo como imagem da eternidade. (PLOTINO,
Enéadas, III, 7, 11 apud SALES, 2017, p. 5).

Para Plotino, essa natureza inquieta da alma fez com que ela saísse da eternidade,
deixando a unidade e abraçando a multiplicidade, e imitasse o inteligível criando o Cosmos
sensível. Desse modo, a partir dessa descida e criação do tempo, a alma deixa de participar da
eternidade e tona-se participante do tempo, juntamente com o Cosmos.
Na visão de Plotino, por ser uma criação da alma, é impossível associar o tempo a outra
coisa que não seja a alma. Pois assim como o tempo não pode ser visto como exterior à alma,
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também a eternidade não pode ser vista como exterior ao ente. Por isso Reale (apud RICHTER,
2018, p. 28) diz que o tempo é uma propriedade da alma, porque, enquanto movimento, é
percebido e necessita de uma inteligência para medi-lo. “Esse movimento então não é
movimento no mundo, mas como movimento que contempla a inteligência e fabrica o mundo
sensível.” (REALE apud RICHTER, 2018, p. 28-29).
Ao ir contra a ideia dos pensadores que identificavam o tempo ao movimento físico,
Plotino faz a separação com clareza ao mostrar que o movimento sensível é produto da própria
descida da alma, que ao criar o tempo iniciou-se o movimento. Desse modo, o único movimento
associado à criação do tempo é o movimento que a alma fez do inteligível ao sensível, e este
não é um movimento físico. Desse modo, Plotino encerra seu tratado sobre o tempo com a
seguinte afirmação:

Logo, o corpo que é movido por certo tempo remontará a um movimento da mesma
duração - pois este é sua causa – e em seu tempo, e este movimento, ao movimento
da alma, o qual é dividido em partes iguais. E o movimento da alma, a que remontará?
Pois aquilo ao qual se deseja remontar já é inextenso. Portanto, esse é o movimento
que existe primariamente e em que estão os outros; todavia, ele mesmo já não está em
nada, pois não o teria. E o mesmo acontece com a alma do universo. Então, o tempo
está em nós também? Sim, ele está em toda alma dessa espécie, e da mesma forma em
todas, e todas são uma só. Por isso o tempo não será aniquilado: porque também não
o será a eternidade, que, de um modo diferente, está em todos os seres de sua espécie.
(PLOTINO, Enéadas, III, 7, 13 apud SALES, 2017, p. 5).

Para finalizar a reflexão sobre Plotino, Sales (2017, p.8) diz que é necessário perceber
que o tempo sensível é resultado do que acontece na alma, pois o mundo não tem um tempo e
um movimento em si, essas são características aplicadas a ele pela alma. Desse modo, se o
movimento de contemplação exercido pela alma cessasse, cessaria também o tempo sensível e
o movimento.

26
3 A FORMAÇÃO DA VISÃO AGOSTINIANA SOBRE O TEMPO

Santo Agostinho trata da questão do tempo principalmente no livro XI de uma de suas


obras mais conhecidas, Confissões. Começa sua reflexão quando pensa na criação, no livro do
Gênesis, graças a perguntas frequentes que eram feitas sobre “o que fazia Deus antes de criar o
céu e a terra?” (AGOSTINHO, Conf. XI, 10, 12). Pensando nisso, Agostinho inicia uma longa
análise para tentar definir o que é o tempo.
Para uma boa compreensão da visão agostiniana sobre o tempo torna-se necessário a
abordagem da evolução de seu pensamento, por meio de sua conversão e, ainda mais, é
necessário a compreensão de sua visão sobre a eternidade, pois não é possível entender o tempo
sem falar da eternidade e da criação de Deus. Desse modo, esse item abordará um breve resumo
sobre sua vida e sobre sua visão de eternidade.

3.1 A vida de Agostinho

Santo Agostinho (Aurelius Augustinus) nasceu na cidade de Tagaste, província africana


da Numídia, no dia 13 de novembro de 354 e morreu em Hipona, no dia 28 de agosto de 430.
Seu pai, Patrício, era pagão e sua mãe, Mônica, de origem bérbere, era cristã. Agostinho tinha
um irmão chamado Navígio e uma irmã, Perpétua, que se casou, mas ficou viúva logo cedo.
Ele teve uma esposa, na verdade uma concubina, com quem teve um filho chamado Adeodato,
que morre por volta dos dezoito anos.
Agostinho fez os primeiros estudos em Tagaste com o Magister ludi, com quem
aprendeu a ler e escrever e noções elementares de gramática, aritmética, latim e grego. Púnico
era sua língua regional. A segunda etapa de seus estudos se deu em Madaura, com o
Grammaticus, onde continua estudando o que havia estudado até então, mas com uma maior
profundidade. O diferencial é que começam os estudos sobre a Métrica Latina (os poemas,
sobretudo de Cícero e Virgílio).
Agostinho estudou Retórica em Cartago, graças à ajuda de um amigo de seu pai,
Romaniano. Lá, ele começou a se interessar por assuntos filosóficos e religiosos,
principalmente depois de ler Hortensius, de Cícero. Assim, ele começa uma busca mais intensa
da verdade, pois o autor fazia uma exortação à busca da sabedoria. O livro mudou sua visão a
respeito do que buscava, porém, nele não encontrou o nome de Cristo, que afirmava ter bebido
com o leite materno. Desse modo, buscará a verdade nas Sagradas Escrituras, mas se sente

27
frustrado devido a supostas contradições do texto bíblico e à linguagem simples, se comparada
ao estilo elegante dos escritores clássicos latinos.
Agostinho buscava uma solução para o problema do mal e explicação das paixões, isso
fez com que ele fosse atraído pelo maniqueísmo. Desse modo, aos dezenove anos ele se torna
um maniqueu e permanece na seita por nove anos.

O maniqueísmo, uma religião herética fundada pelo persa Mani no século III,
implicava: 1) um vivo racionalismo; 2) um marcado materialismo; 3) um dualismo
radical na concepção do bem e do mal, entendidos não apenas como princípios morais,
mas também como princípios ontológicos e cósmicos. (REALE; ANTISERI, 1990, p.
430).

Apesar de Agostinho ser muito inteligente, ele caiu nas fantasias dos maniqueus por
falarem do nome de Cristo e apresentar uma teoria sobre o mal que, naquele momento, lhe
satisfazia. Pois diziam que o mal não é responsabilidade do homem, mas de uma força maligna
presente neste. Para os maniqueus, Moisés não era inspirado por Deus e era um príncipe das
trevas, sendo o Antigo Testamento obra do deus mal e deveria ser descartado. Para eles, “a
promessa do Espírito Santo feita por Cristo ter-se-ia realizado em Mani.” (REALE; ANTISERI,
1990, p. 431).
Agostinho tornou-se professor de Retórica ensinando em Tagaste e depois em Cartago.
Devido aos problemas que teve com os estudantes cartagineses, mudou-se para Roma em 384.
De acordo com Mora (2001, p. 59), antes de ir para Roma ele já tinha algumas dúvidas sobre o
dualismo maniqueu. No mesmo ano, saiu de Roma e foi para Milão, onde se tornou professor
oficial de Retórica da cidade.

Já em 383/384 Agostinho se afasta interiormente do maniqueísmo, ficando tentado a


abraçar a filosofia da Academia Cética, segundo a qual o homem deve duvidar de
tudo, porque não pode ter conhecimento certo de nada, [...]. Mas, mais uma vez, não
se sentiu em condições de seguir os céticos porque em seus escritos não encontrava o
nome de Cristo. Entretanto, do maniqueísmo ainda guardava o materialismo, que lhe
parecia o único modo possível de entender a realidade, e o dualismo, que lhe parecia
explicar os fortes conflitos entre bem e mal que sentia em seu espírito. (REALE;
ANTISERI, 1990, p. 431).

Em Milão, Agostinho conhece o bispo Ambrósio e começa a se interessar por seus


sermões, mas não no sentido de fé e sim movido por curiosidade, pois o bispo também era um
grande retórico. Porém, mesmo que fosse motivado pela curiosidade, além da retórica, a
verdade pregada por Ambrósio começa a invadir pouco a pouco a alma de Agostinho. Ao ouvir
os sermões de Ambrósio, Agostinho aprende que a Bíblia deve ser lida de forma alegórica e

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não literal. Isso o faz perceber que a imagem e semelhança do homem com Deus não é corporal,
mas espiritual.
A leitura dos neoplatônicos, Plotino e Porfírio, ajudaram-no a solucionar os problemas
ontológico-metafísicos em que se encontrava. Pois mostrou uma realidade além do material,
incorpórea, e demostrou que o mal não é uma substância, mas a privação do bem. Além disso,
ele viu muitas semelhanças com a Bíblia, apesar de não falar do ponto essencial que é o nome
de Cristo.
Para Reale e Antiseri (1990, p. 434), Plotino foi responsável por mudar o modo de
pensar de Agostinho, pois lhe mostrou novas categorias que derrubaram seu pensamento
materialista e sua ideia maniqueísta da realidade substancial do mal.
Agostinho não conseguiria encontrar em nenhum dos filósofos a plenitude da
Revelação, ou seja, Cristo morto e ressuscitado pelos pecados do povo. Essa verdade, de acordo
com a tradição cristã, é oculta aos sábios e revelada aos humildes. Uma verdade que requer uma
transformação interior de fé e não de razão. Desse modo, ao ler o apóstolo Paulo, Agostinho
entende o sentido da Graça, rompendo com as antigas correntes que o mantiveram preso por
tanto tempo.

Mas a conversão e a fé em Cristo e em sua Igreja mudaram também o modo de viver


de Agostinho, abrindo-lhe novos horizontes para o seu próprio pensar. A fé tornou-
se substância de vida e pensamento e, assim, tornou-se não só o horizonte de sua vida,
mas também de seu pensamento. E, estimulado e comprovado pela fé, o seu
pensamento adquiriu uma nova estrutura e uma nova essência. Nascia o filosofar-na-
fé: nascia a “filosofia cristã”, amplamente preparada pelos Padres gregos, mas que só
iria chegar ao perfeito amadurecimento com Agostinho. (REALE; ANTISERI, 1990,
p. 434).

Com isso, depois de densas reflexões, impulsionado pelas pregações de Santo


Ambrósio, pela leitura dos neoplatônicos e de São Paulo, Agostinho assume de vez o
cristianismo e desiste do cargo de professor de retórica. Ele é batizado em 387, retorna à África
em 388, onde inicia a vida monástica em Tagaste, é ordenado sacerdote em 391, em Hipona, e
consagrado bispo auxiliar de Valério em 395. Com a morte de Valério, Agostinho se torna bispo
de Hipona, onde permanece até a morte.
Depois de bispo, Agostinho travou vários debates polêmicos com diversas correntes
heréticas. Sua discussão com os maniqueístas durou até o ano de 404. Logo após ele precisou
derrubar heresias donatistas, que pregavam a validade do sacramento com base na pureza do
ministro e não na graça de Deus. Para isso é realizada uma conferência no ano de 411entre
católicos e donatistas, em que Agostinho sai claramente vitorioso. A partir de 412 começa a
29
disputa contra Pelágio, que pregava que a salvação dependia da boa vontade e obras do homem,
desprezando a Graça divina. Agostinho mostrou que a revelação cristã depende essencialmente
da Graça. Com isso, no ano de 418, no Concílio de Cartago, é condenado o pelagianismo pela
Epistola Tactoria, do Papa Zózimo. (REALE; ANTISERI, 1990, p. 432-433).
A questão toda é que Agostinho foi e é muito importante para a história da filosofia, da
formação da fé cristã, e formação cultural do Ocidente. Assim, até hoje suas variadas e extensas
obras são estudadas, destacando algumas delas como: Confissões; A Cidade de Deus; A
Trindade; Contra acadêmicos; Solilóquios; A vida feliz; Comentários aos Salmos; entre tantas
outras.

3.2 A questão da criação e a eternidade

Para Costa (2010, p. 138), a discussão a respeito do tempo e eternidade entra na filosofia
agostiniana a partir de seu debate contra os maniqueus. Pois eles afirmam uma cosmologia
dualista, em que o mundo é produzido a partir de dois princípios ontológicos: o bem (deus) e o
mal (matéria). Para os maniqueus, o bem e o mal estão em eterna luta em todos os seres do
universo, pois são de natureza infinita e ilimitada. Desse modo, eles creem que o mundo é eterno
em um sentido materialista e panteísta. Essa visão fazia com que os maniqueus criticassem a
ideia cristã da criação ex nihilo, ou seja, de que Deus criou o mundo a partir do nada, sem
precisar de nenhuma matéria pré-existente.
A criação a partir do nada, crida por Agostinho, se diferencia da visão platônica de que
o Demiurgo é o artesão que modela a matéria pré-existente, formando uma cópia do mundo das
ideias. O Deus de Agostinho cria a própria matéria, englobando todas as coisas que são.
Outro dado importante na visão agostiniana é que criação se diferencia de geração. Gerar
significa que “aquilo que é gerado deriva da própria substância daquele que o gera.” (VAZ,
2009, p. 21). Ou seja, o gerado é como o que gerou. Agostinho defende a ideia de criação, pois
o criador cria a partir de uma terceira coisa que não seja sua própria substância. No caso de
Deus, Ele cria a partir do nada.

A criação das coisas se dá do nada (ex nihilo), ou seja, não da substância de Deus nem
de algo que preexistia (...). Portanto, há diferença enorme entre “criação” e “geração”,
porque, diferentemente da primeira, esta última pressupõe o vir (a ser) por outorga de
ser por parte do criador para “aquilo que absolutamente não existia”. (REALE;
ANTISERI, 1990, p. 450).

30
3.2.1 A resposta aos maniqueus

Os maniqueus faziam fortes críticas ao primeiro livro do Antigo Testamento que diz:
“No princípio, Deus criou o céu e a terra.” (Gn 1,1). Assim, eles perguntavam ironicamente:
“Em que princípio? [...] Se Deus fez o céu e a terra em algum princípio, o que fazia antes de
criar o céu e a terra? E por que de repente lhe aprouve fazer o que nunca fizera antes nos tempos
eternos?” (AGOSTINHO, De Gen. Contra Man. I, 2,3). Para eles, se nasceu um movimento
novo em Deus, não se pode falar de uma eternidade.
Agostinho responde às controvérsias maniqueias e afirma um princípio não em sentido
temporal, mas em Cristo. Desse modo, não poderia haver um princípio de tempo antes do
próprio tempo.

Ainda que acreditemos que Deus fez o céu e a terra no princípio do tempo, devemos,
por outro lado, entender que antes do princípio do tempo não havia tempo. Por isso
não podemos dizer que havia algum tempo, quando Deus nada ainda havia feito. Pois
como poderia existir o tempo que Deus não havia feito, sendo ele o criador de todos
os tempos? E se o tempo começou a existir com o céu e a terra, não se pode encontrar
algum tempo antes que Deus tivesse feito o céu e a terra. (AGOSTINHO, De Gen.
Contra Man. I, 2,3).

Quanto à segunda questão posta pelos maniqueus, sobre surgir um movimento novo em
Deus, Agostinho diz que “a vontade de Deus não é uma criatura; é anterior a toda criatura, pois
nada seria criado se não existisse a vontade do Criador.” (AGOSTINHO, Conf. XI, 10, 12).
Esse mundo não é coeterno com Deus, pois somente Deus é eterno. Ele afirma que os tempos
começaram com a criação do mundo. Assim, Deus é anterior ao tempo, mas não em sentido
temporal. Por isso ele completa:

Portanto, se eles disserem: “Por que aprouve a Deus criar o céu e a terra?”, deve-se
responder-lhes que primeiramente aprendam o poder da vontade humana os que
desejam conhecer a vontade de Deus. Se procuram conhecer a causa da vontade de
Deus, a vontade de Deus é a causa de todas as coisas. Com efeito, se a vontade de
Deus supõe uma causa, há de ser algo que anteceda a vontade de Deus; e isso não se
deve pensar. Portanto, àquele que diz: “Por que Deus fez o céu e a terra?”, deve se
responder: porque quis. Pois a vontade de Deus é a causa do céu e da terra, por isso,
a vontade de Deus é maior que o céu e a terra. (AGOSTINHO, De Gen. Contra Man.
I, 2,4).

A pergunta sobre o porquê de Deus criar o mundo de repente não possui sequer
aceitação. Pois, sendo a causa de todas as coisas e não sendo determinada por nada, a vontade
de Deus não é precedida por nada. Desse modo, perguntar sobre a causa da vontade de Deus é

31
o mesmo que perguntar por algo que não existe. A vontade de Deus pertence à sua própria
substância, portanto é eterna com Ele.
Essas indagações permitirão a Agostinho fazer uma longa análise sobre o tempo,
diferenciando-o da eternidade. Desse modo, analisar-se-á primeiro a questão da eternidade
defendida por Agostinho de Hipona.

3.2.2 A eternidade

Mesmo sendo o Livro XI das Confissões o principal documento sobre a reflexão


temporal, pode-se notar um primeiro esboço no Livro I. Nele, Agostinho afirma que o tempo
não passa para Deus. O dia de hoje passa por Deus, devido a todas as realidades estarem em
Deus, mas nEle não há mudança. Seus dias são sempre eternos.

És tu o ser supremo, e não mudas. Em ti o dia de hoje não passa, e, no entanto, passa
por ti, pois todas as realidades deste mundo residem em ti; e não teriam meio para
passar, se tu não as contivesses. E porque teus anos não têm fim, os teus anos são o
dia de hoje; quanto dos dias nossos e dos nossos pais já passaram por este teu hoje, e
dele receberam a medida e o modo de existir, e quantos ainda passarão e receberão a
medida e o modo de sua existência! “Tu, porém, és o mesmo eternamente”, e todas as
coisas de amanhã e do futuro, de ontem e do passado, hoje as farás, hoje as fizeste!
(AGOSTINHO, Conf. I, 6,10).

Com isso, mesmo Deus estando na eternidade, Ele conhece e domina tudo que está no
tempo. Mesmo que nossos dias não passem em Deus, Ele os conhece. Como em Deus nada
muda, não é correto dizer que Ele fez ou fará, mas o correto é dizer que Ele faz.
Como o homem é um ser temporal, é do e no tempo que este pensa a eternidade. Portanto
mesmo que não seja correto dizer que Deus criou, pois na eternidade não há passado, o homem
olha a eternidade por meio do tempo. Na linguagem humana a criação já se deu. Desse modo,
foi a partir da eternidade que Deus criou todas as coisas por meio do Verbo eterno e divino,
como afirma Agostinho: “Conjuro-te em nome deste Verbo, por quem fizestes todas as coisas,
e a mim entre elas.” (AGOSTINHO, Conf. XI, 2, 4).
Para Agostinho, todas as coisas proclamam que foram criadas por meio de suas
mudanças. Então, não faz parte da criatura a eternidade. Quando Deus cria, Ele não faz como o
artista que apenas transforma a matéria que já existia, Ele é o autor da própria matéria.

De que modo, porém, criaste o céu e a terra? Que instrumento empregaste em tão
grande obra? Certamente não fizeste como o artista, que se serve de um corpo para
formar outro corpo, imprimindo-lhe, segundo a inspiração do espírito, a imagem que
seu olhar interior descobre. E de onde lhe vem tal capacidade, senão de ti que a criaste?
32
O artista impõe uma forma à matéria que, já existindo, pode recebê-la: assim é a terra,
a pedra, a madeira, o ouro ou qualquer outra coisa. Mas de onde proviria a matéria, se
não a tivesse criado? (AGOSTINHO, Conf. XI, 5, 7).

Deus não possuía matéria alguma para que pudesse criar, foi uma criação ex nihilo. Ele
criou a matéria e com a matéria criou o mundo. Essa criação se deu por meio da palavra.
“Portanto, disseste uma palavra e as coisas foram feitas. Com tua palavra as criaste.”
(AGOSTINHO, Conf. XI, 5, 7). Diante disso, Agostinho busca entender como Deus fala.

Mas como falaste? Porventura do mesmo modo como saiu da nuvem uma voz que
dizia: “Este é meu Filho, o Eleito”? Todavia, aquela voz ressoou e se extinguiu, teve
um princípio e um fim. Ressoaram as sílabas e passaram, a segunda após a primeira,
a terceira depois da segunda, e assim por diante até a última, e depois da última, o
silêncio. Portanto, é claro e óbvio que essa voz foi produzida pelo movimento de uma
criatura, intérprete temporal da tua vontade eterna. (AGOSTINHO, Conf. XI, 6, 8).

O som possui um princípio e um fim, por isso foi pronunciado por uma criatura no
tempo. Desse modo, Reis (1996, p. 314) diz que as palavras de Deus não são como as humanas
que começam e terminam. Pois assim como não há o tempo, porque nada ainda foi feito,
também não há nenhum corpo que comunique as palavras. As palavras por meio das quais Deus
tudo cria não são como as palavras pronunciadas no episódio da transfiguração, pois nesse
episódio elas foram ditas por uma criatura a serviço da vontade eterna de Deus, e não por Ele
próprio. A palavra criadora é o próprio Verbo, “o Verbo que é pronunciado eternamente, e por
ele todas as coisas são eternamente proferidas.” (AGOSTINHO, Conf. XI, 7, 9). Na palavra
criadora, o próprio Verbo, não é necessário terminar uma coisa para iniciar outra e dizer tudo,
pois tudo é pronunciado ao mesmo tempo e eternamente. “Com essa palavra, que é eterna como
tu, enuncias a um só tempo e eternamente tudo o que dizes.” (AGOSTINHO, Conf. XI, 7, 9).
A palavra criadora de Deus ocorre de forma simultânea e eterna, pois ela tem sempre a
sua totalidade. Porém, as coisas criadas apresentam uma sucessão no tempo, onde umas cedem
lugar às outras. Isso faz Agostinho afirmar que: “Nem todas as coisas, porém, que crias com a
palavra, passam a existir simultaneamente e desde toda a eternidade.” (AGOSTINHO, Conf.
XI, 7, 9). Pois se o Verbo de Deus não possuísse sua totalidade, iria existir tempo mesmo antes
de dizer como ato criador e assim Deus não estaria em uma eternidade. Por isso Agostinho
afirma:

Todo ser que começa a existir e tem um fim, começa e acaba quando a eterna
inteligência, que não tem início nem fim, sabe que ele devia começar ou acabar. Essa
inteligência é o teu Verbo, que é o começo porque também nos fala. No evangelho,
ele falou com voz humana, a sua palavra repercutiu exteriormente nos ouvidos dos
33
homens, a fim de que nele cressem, e o buscassem no íntimo, e o encontrasse na
verdade eterna, onde o bom e único mestre ensina a todos os seus discípulos.
(AGOSTINHO, Conf. XI, 8, 10).

Essa verdade eterna habita o interior do homem e é por meio dos ensinamentos de Cristo
que o homem volta para si e a encontra. Dessa forma, ao voltar para si, depois dos seus erros,
o homem precisa encontrar um lugar que é estável. “De fato, se ele não permanecesse estável
enquanto nos desencaminhamos, não teríamos mais para onde voltar.” (AGOSTINHO, Conf.
XI, 8, 10). Com isso, para Agostinho, Deus cria em um ato único e eterno todas as criaturas,
entre elas o próprio tempo. Assim, é para Deus que o homem deve retornar ao terminarem os
tempos, ou seja, para a eternidade junto a Deus. Depois de mostrar como se deu a criação, por
meio do Verbo de Deus, Agostinho pretende definir o que é a eternidade. Para isso responderá
às objeções dos maniqueus sobre o que fazia Deus antes de da criação. Desse modo, ele segue
refutando outras objeções:

Se estava ocioso e nada realizava, por que não ficou sempre assim, continuando a
abster-se do trabalho? Se existiu em Deus um movimento novo, uma vontade nova de
criar a criatura que ele ainda não tinha feito antes, como se pode falar de verdadeira
eternidade, onde nasce uma vontade que antes não existia? (AGOSTINHO, Conf. XI,
10, 12).

Como todas as criaturas surgem no momento da criação, e o tempo também é criatura,


não é possível falar em um antes na eternidade. Então, não possui razão a pergunta sobre o que
fazia Deus antes da criação, pois em Deus não existe tempo.
Para Agostinho, os homens querem entender a estabilidade da eternidade, mas estes não
possuem nenhuma estabilidade no tempo que muda.

Eles se esforçam para conhecer as coisas eternas, mas o pensamento deles vagueia
ainda na agitação das realidades passadas e futuras. Quem poderá deter esse
pensamento e fixá-lo um instante, a fim de que colha por um momento o esplendor da
tua sempre imutável eternidade, e veja como não podem estabelecer um confronto
com o tempo sempre móvel. Compreenderá então que a duração do tempo só será
longa porque composta de muitos movimentos passageiros que não podem alongar-
se simultaneamente. (AGOSTINHO, Conf. XI, 11, 13).

Na eternidade, tudo está inteiramente presente, já no tempo todas as coisas estão em


constante transformação. No tempo cada momento toma o lugar do outro, pois para existir o
passado de um futuro, esse futuro não pode existir simultaneamente ao passado, e para existir
o futuro de um passado, esse passado não pode existir simultaneamente ao futuro. Desse modo,
ele prossegue:
34
Na eternidade nada passa, tudo é presente, ao passo que o tempo nunca é todo
presente. Verá então que o passado é compelido pelo futuro, que o futuro nasce do
passado, que passado e futuro têm suas origens e existências naquele que é sempre
presente. Quem poderá deter o coração do homem, a fim de que pare e veja como a
eternidade, não passada nem futura, sempre imóvel, determina o futuro e o passado?
(AGOSTINHO, Conf. XI, 11, 13).

Assim, em resposta aos maniqueus, Agostinho diz que não é possível falar de um antes,
antes da criação. A eternidade é um constante presente que não muda e a vontade de Deus existe
desde sempre, pois não há passado ou futuro na eternidade.
Como em Agostinho todo o tempo está contido na eternidade e este surge como um
plano criador de Deus, Blanc (1999, p. 139) explica que a eternidade é o princípio e fim do
tempo, pois é esta que funda, circunda e envolve o tempo para que ele seja transformado e
conduzido ao seu completo cumprimento na história por meio da encarnação e ressurreição do
Verbo eterno.

35
4 O CONCEITO DE TEMPO EM AGOSTINHO DE HIPONA

No livro XI de Confissões, Santo Agostinho faz uma reflexão filosófica sobre o que é o
tempo, tudo isso por sua inquietação humana em tentar compreender o mundo ao seu redor e
seus mistérios. Ele parte do princípio de que Deus criou tudo, céu e terra, que o próprio tempo
é uma criação de Deus e que este não existe na eternidade de Deus. Sendo o tempo essa criatura,
todas as coisas presentes no mundo estão presas a essa realidade.
Para Agostinho, o tempo se manifesta na alma humana, pois é ela quem retoma as coisas
do passado, vive o presente e projeta o futuro, ou seja, a alma é que vive coisas que aconteceram,
acontecem e acontecerão no tempo; o que foi e o que virá a ser só possui existência nessa
capacidade que a alma possui.
Mesmo que Agostinho perceba a capacidade da alma e sua relação direta com o tempo,
as coisas não são tão simples assim. Pois, mesmo que a alma tenha a capacidade de perceber o
instante, esse acaba sendo um contínuo deixar de ser, ou seja, o próprio presente nunca é
estabilizado, a cada instante ele se vai, pois, se permanecesse imutável, o presente já não
pertenceria ao tempo, mas à eternidade. Agostinho não chega a uma definição perfeita do que
é o tempo, mas suas reflexões abrem portas para diversos problemas filosóficos e mostra uma
compreensão que não revela o todo do tempo, mas uma parte muito importante para a
compreensão humana.

4.1 As dúvidas sobre a existência do tempo

Após fazer uma longa análise sobre a eternidade, Agostinho começa a se questionar o
que viria a ser o tempo propriamente dito. Sua famosa frase expressa muito bem essa
inquietação: “Por conseguinte, o que é o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; porém, se
quero explicá-lo a quem me pergunta, então não sei.” (AGOSTINHO, Conf. XI, 14, 17).
Agostinho vê que a ideia de tempo apresentada ao homem consiste em três momentos:
passado, presente e futuro. Essa é uma herança transmitida de geração em geração sem
questionamento. Com isso, ele analisará cada um desses momentos e tentará desvendar sua
duração. Ao começar pelo passado e futuro, ele já percebe suas dificuldades.

No entanto posso dizer com segurança que não existiria um tempo passado se, se nada
passasse; e não existiria um tempo futuro, se nada devesse vir; e não haveria tempo
presente se nada existisse. De que modo existe esses dois tempos – passado e futuro,

36
– uma vez que o passado não mais existe e o futuro ainda não existe? (AGOSTINHO,
Conf. XI, 14, 17).

Analisando a percepção de tempo como sendo passado, presente e futuro, Agostinho


começa a se perguntar sobre o ser do tempo, já que o passado não mais é e o futuro ainda não
é, ou seja, o tempo se parece mais com o nada do que com o ser. Quanto ao presente, entra um
outro problema, pois “se permanecesse sempre presente e não se tornasse passado, não seria
mais tempo, mas eternidade.” (AGOSTINHO, Conf. XI, 14, 17). Desse modo, para que o
presente seja parte do tempo, ele precisa se tornar passado. Assim, o mesmo motivo que faz o
presente ser é o que o faz deixar de ser.
Apesar de o homem não conseguir atribuir ser a nenhuma das fases do tempo, pois o
passado deixou de ser, o futuro ainda não é, e o presente para ser deve deixar de ser, ele ainda
continua falando de um tempo mais longo ou mais curto. Mas como falar de um tempo passado
longo, se este pode ser dividido em infinitos presentes? E como falar de um presente longo, se
este deixa de ser e se torna passado? Isto Agostinho demonstra a começar por um período de
cem anos até um período tão curto de passagem do futuro para passado em que o presente não
teria extensão alguma. (AGOSTINHO, Conf. XI, 15, 19-20). Porém, mesmo sem extensão é no
presente que as coisas se dão.

É no presente que as coisas acontecem, sendo este um tempo que sofre modulações,
e se transforma, mas este também não é eterno, pois se fosse eterno não seria
considerado tempo, é a partir dele, que nos remetemos ao passado que já se foi e
esperamos o futuro que ainda está por vir. (PEREIRA; SOUZA, 2012, p. 19).

Como já foi dito, para Agostinho o presente é um momento sem extensão porque se
tivesse uma extensão que permanecesse, já não seria mais tempo e, sim, eternidade. Desse
modo, o presente pode ser visto como um elo que liga o futuro ao passado, ou seja, é um
momento tão veloz de passagem que não pode ser medido. Entretanto, mesmo com essas
aporias, o homem tem uma noção da duração do tempo e de seu estilo tripartido. Por isso
prossegue:

Todavia, Senhor, percebemos os intervalos do tempo, comparamos um com o outro,


e afirmamos que uns são mais longos, outros mais breves. Medimos também quanto
um tempo é mais longo ou mais breve que outro, e depois afirmamos que este é o
dobro ou o triplo, enquanto aquele é simples; ou, ainda, dura tanto este quanto aquele.
Mas se fazemos tais cálculos, é porque temos a percepção do tempo que está passando.
Mas quem pode medir o tempo passado, que agora já não existe, ou o tempo futuro,
que ainda não existe, se não tiver a coragem de dizer que pode medir o que não existe?
Portanto, pode-se perceber e medir o tempo que está passando; mas se já é passado
não se pode mais medir, porque não existe. (AGOSTINHO, Conf. XI, 16, 21).
37
O homem tem a capacidade de medir o tempo, mesmo diante de todos esses dilemas. A
partir de sua medida, o homem pode comparar entre um mais extenso e outro mais curto. Mas
para afirmar a medida de um tempo curto ou longo, é necessário afirmar a existência do tempo,
mesmo que aparentemente seja inacessível ao homem. Resta, então, a Agostinho buscar
entender como o homem tem a capacidade de perceber aquilo que não possui extensão, que
ainda não existe e que não mais existe.
Agostinho se põe a questionar: se não existe presente, passado ou futuro, como o homem
pode falar de coisas que aconteceram no passado? Ou como pode predizer as coisas do futuro
por meio das adivinhações? Ele se pergunta se talvez o futuro para se tornar presente sai de
algum lugar oculto e para lá torna a voltar ao se tornar passado. Para que esses momentos sejam
percebidos, eles precisam estar em algum lugar. Em suas palavras:

Na realidade, aqueles que predisseram o futuro, onde é que o viram, se ainda não
existia? Não se pode ver o que não existe. E aqueles que narram coisas passadas, não
poderiam relatar coisas verdadeiras, se não as visse na mente. Ora se o passado
realmente não existisse, de modo algum poderia ser percebido. De onde se conclui
que tanto o futuro como o passado existem. (AGOSTINHO, Conf. XI, 17, 22).

De acordo com Richter (2018, p. 41), esse ponto da reflexão de Agostinho é a primeira
ideia daquilo que irá chamar de tríplice presente, tema que será retomado mais à frente com
mais detalhes. Sendo assim, de alguma forma pode-se falar de passado e futuro, mas em uma
realidade presente na mente do homem.

4.2 A subjetividade do tempo

Agostinho chega à conclusão de que, ontologicamente, passado e futuro não existem,


pois para isso deveriam possuir ser, mas esses tempos são percebidos pelo homem, sendo o
passado na memória e o futuro na previsão. Estes vividos no presente.

Se futuro e passado existem, quero saber onde estão. Se ainda não consigo
compreender, todavia sei que, onde quer que estejam, não serão futuro nem passado,
mas presente. Se aí fosse futuro, não existiria ainda; e se fosse passado, já não existiria.
Por conseguinte, em qualquer parte onde estiverem, seja o que for, não podem existir
senão no presente. (AGOSTINHO, Conf. XI, 18, 23).

Para Agostinho, só tem sentido falar do passado estando no presente e o evocando na


memória. Por isso continua:

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Quando narramos os acontecimentos passados, que são verdadeiros, nós os tiramos
da memória. Mas não são os fatos em si, uma vez que são passados, e sim as palavras
que exprimem as imagens que os próprios fatos, passando pelos sentidos, deixaram
impressos no espírito. Minha infância, que não existe mais, está no passado que
também não mais existe. Mas a imagem dela, quando a evoco e é objeto de alguma
conversa, eu a vejo no presente, porque está ainda na minha memória. (AGOSTINHO,
Conf. XI, 18, 23).

Assim como Agostinho utiliza o presente para falar das coisas passadas, ele também
toma o presente para falar de coisas futuras. Isso se dá porque o tempo presente permite pensar
em coisas que acontecerão no futuro. Para expressar essa capacidade de previsão do futuro ele
utiliza, assim como fez para falar do passado, um exemplo que todos podem perceber na vida
diária. Agostinho mostra que através da aurora o homem tem a capacidade de prever que o sol
irá nascer, ou seja, a partir de algo presente se traz algo do futuro.

Portanto, para quem vê, não se trata do futuro, mas do presente, do qual é tirada a
predição de um futuro concebido na mente. Por sua vez, essas imagens já existem, e
aqueles que fazem predições as veem presentes diante de si. Tomemos um exemplo
entre muitos possíveis. Vejo a aurora e posso predizer que o sol está para surgir. O
fenômeno que observo está presente, o que prevejo é futuro. Não é futuro o sol, que
já existe, mas sim o seu surgimento, que ainda não se realizou.” (AGOSTINHO, Conf.
XI, 18, 24).

Na conclusão de Agostinho, quando o homem vê a aurora, ele já sabe que logo o sol irá
aparecer. O que o homem vê, vê no presente, mas o que está sendo anunciado se encontra no
futuro. Porém, não significa dizer que sol será criado ainda no futuro, este já existe, mas seu
ressurgimento no horizonte ainda não se deu. A previsão só é possível porque o homem tem a
visão presente da aurora, e a lembrança guardada em sua memória da imagem do nascimento
do sol, também rememorada no presente. Sendo assim, o nascimento do sol no horizonte ainda
não existe, mas através dos fenômenos presentes, o homem pode prever o que acontecerá no
futuro.
De acordo com Cardoso (2010, p. 88), o tempo, na visão agostiniana, se apresenta
diretamente unido à memória, à intenção e à espera. É na alma que o tempo encontra sua
realidade, na vida interior do homem. Portanto, o tempo é a própria distensão da alma, sendo
uma continuidade entre memória, espera e intenção.
Na visão agostiniana fica claro que o passado e o futuro não possuem existência por si.
Estes só existem enquanto evocações no presente de algo que já passou e de algo que virá.
Desse modo, é inadequado falar de passado, presente e futuro. Fica então a questão: Como é
possível falar de algo que não possui existência?

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Após concluir que é impossível falar de coisas passadas ou futuras sem o presente, isto
é, tudo o que acontece é no presente e não em outro lugar, Agostinho afirma que as
nomenclaturas presente, passado e futuro devem ser mudadas. Portanto ele divide o presente
em um sentido triplo, isto é, o presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes, e
o presente das coisas futuras. Esses três tempos, definidos por Agostinho, não estão em outro
lugar a não ser na memória.

Agora é claro e evidente para mim que o futuro e o passado não existem, e que não é
exato falar de três tempos – passado, presente e futuro. Seria talvez mais justo dizer
que os tempos são três, isto é, o presente dos fatos passados, o presente dos fatos
presentes, o presente dos fatos futuros. E estes três tempos estão na mente e não os
vejo em outro lugar. O presente do passado é a memória. O presente do presente é a
visão. O presente do futuro é a espera. (AGOSTINHO, Conf. XI, 20, 26).

Nesta perspectiva, o presente do passado são as memórias, os vestígios de coisas que já


aconteceram, mas que estão guardados na mente; o presente do presente é o agora, o momento
exato em que as coisas acontecem e que passam rapidamente ao passado; o presente do futuro
é a espera de acontecimentos futuros, que por hábito de coisas armazenadas na memória, o
homem pode dizer que acontecerão.
De acordo com Richter (2018, p. 42-43), com essa afirmação, Agostinho deposita toda
experiência temporal na alma do homem, que tem a capacidade de perceber o tempo a partir da
lembrança, da visão e da memória.
Após associar o tempo à consciência interna, Agostinho busca entender outra coisa
muito importante na relação entre o homem e o tempo que é a sua medição. Ele quer entender
a forma que isso ocorre e como o homem mede o tempo.

Eu disse há pouco que nós medimos o tempo que passa, de modo que podemos afirmar
que este tempo é o dobro daquele que é simples, ou dura tanto este quanto aquele; ou
também podemos indicar qualquer outra relação entre intervalos de tempo. Como
dizíamos, medimos o tempo no momento em que este passa. E se alguém me
perguntar: “Como sabes”? Responderei: “Sei disso porque o medimos, e não se pode
medir o que não existe. Ora, o passado e o futuro não existem”. Quanto ao presente,
como podemos medir, se não tem extensão? Nós o medimos enquanto ele passa.
(AGOSTINHO, Conf. XI, 21, 27).

O bispo de Hipona deseja ardentemente entender essas expressões tão comuns e simples
na vida diária, mas que ao mesmo tempo assumem uma condição tão obscura quando se quer
refletir sobre elas. Comuns porque qualquer pessoa consegue entender quando se fala de um
tempo longo ou de um tempo curto, pois consegue calcular comparando um ao outro. Porém, é

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obscuro porque o que Agostinho deseja não é entender as expressões usadas no dia a dia, mas
a forma que a mente percebe essas diferenças e estabelece relações entre elas por meio da
medida.

Falamos de um tempo e de outro tempo, de tempos diversos: “Por quanto tempo ele
falou”? “Em quanto tempo ele fez isso”? “Há quanto tempo não o vejo”? “Esta sílaba
é longa, tem o dobro da outra que é breve”. Usamos e ouvimos expressões assim. E
nos fazemos compreender, e compreendemos. São palavras muito claras e muito
comuns, mas ao mesmo tempo são muito obscuras, e sua descoberta parece novidade.
(AGOSTINHO, Conf. XI, 22, 28).

Ainda tentando compreender como e o que o homem mede do tempo, ou no tempo,


Agostinho irá analisar os exemplos que defendem o tempo como sendo um movimento exterior
e espacial, isto é, o movimento dos astros. Sendo assim ele segue:

Ouvi um homem instruído dizer que tempo nada mais é que o movimento do sol, da
lua e das estrelas. Mas eu não concordei. Antes, por que não seria o movimento de
todos os corpos? Se os astros parassem e a roda do oleiro continuasse a mover-se,
deixaria de existir o tempo para medirmos as voltas dela? Acaso não poderíamos dizer
que essas voltas se realizam em espaços iguais, ou que uns são mais longos, outros
mais curtos se a roda algumas vezes se move mais devagar, outras vezes mais
depressa? [...] Existem astros e luzes no céu que servem como sinais para indicar as
estações, os dias e os anos. Contudo, assim como eu não ousaria afirmar que uma
volta daquela roda de madeira representa um dia, também aquele homem instruído
não se atreve a dizer que não represente um tempo. (AGOSTINHO, Conf. XI, 23, 29).

O bispo de Hipona não se baseia somente no movimento, mas também na duração deste
movimento. Ele se pergunta se o que forma o dia é o movimento, a duração do movimento, ou
as duas coisas juntas. Para tentar responder a essa questão, ele utiliza o exemplo do movimento
do sol em torno da terra – como se acreditava então – como constituinte de um dia. Se o tempo
fosse o movimento do astro, mesmo que o sol demorasse apenas uma hora para completar seu
percurso, se teria um dia. Por outro lado, se o tempo fosse a duração, seria necessário que o sol
desse vinte e quatro voltas em torno da terra para formar um dia, usando o exemplo anterior.
Em uma terceira hipótese, mesmo que “um dia consistisse no movimento do sol e na duração
desse movimento, não se poderia chamar de dia ao giro do sol que se completasse em uma hora,
[...].” (AGOSTINHO, Conf. XI, 23, 30). E por último, ele ainda segue afirmando que mesmo
que o sol parasse, ainda não poderia ser chamado de tempo o percurso que normalmente ele
gastaria.
Com o exemplo do movimento dos corpos, Agostinho conclui que o movimento e a
duração do movimento dos corpos não são o tempo. Estes se movimentam no tempo. “Desejas

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que eu concorde com quem diz que o tempo é o movimento dos corpos? É claro que não
concordo. De fato, os corpos só se podem mover no tempo, [...].” (AGOSTINHO, Conf. XI, 24,
31). Desse modo, Agostinho dá continuidade ao pensamento de Plotino ao dizer que não se
deve enganar-se e acreditar que o tempo seja o movimento ou a duração do movimento dos
astros.
Para Richter (2018, p. 43), com esses exemplos, Agostinho não está negando a
existência do tempo fora da consciência, mas afirmado que o tempo não pode ser definido como
o movimento dos astros. Toda medida se dá a partir das experiências internas que o homem
possui das coisas que acontecem no tempo. Com isso, Agostinho apresenta que o tempo “é uma
espécie de extensão.” (AGOSTINHO, Conf. XI, 23, 30).
Depois de entender o tempo como extensão, Agostinho quer entender onde ocorre esse
processo e como o homem consegue medir o tempo. Ele vê que o homem utiliza outros
exemplos para comparar a duração de determinada coisa. Utilizando o exemplo das sílabas,
Agostinho diz que para dizer que uma é longa, é necessário que se tenha uma noção da que é
breve. Porém, nem isso é suficiente para afirmar como se mede o tempo, pois a duração na
recitação de uma sílaba breve pode ser maior que a duração de uma sílaba longa.

Todavia, nem desse modo chegamos à noção exata da medida do tempo, porque pode
suceder que um verso breve, recitado lentamente, dure mais tempo que um verso mais
longo recitado apressadamente. O mesmo acontece a um poema, a um pé ou a uma
sílaba. Daí concluo que o tempo nada mais é do que extensão. Mas extensão do quê?
Ignoro. Seria surpreendente, se não fosse a extensão da própria alma. (AGOSTINHO,
Conf. XI, 26, 33).

Com esta citação, Agostinho mostra que a medida do tempo está diretamente ligada à
capacidade interna que a alma possui de gravar as impressões do antes e do depois. Para melhor
explicar sua teoria, ele utiliza exemplos fundamentados nos sons e nas vozes.
Quando ocorre o fenômeno da voz, enquanto ele ocorre, a mente o percebe, mas ao
parar, vem o silêncio. Antes de perceber o fenômeno, este não podia ser medido, pois ainda não
existia e, depois de passar, não pode ser medido porque não mais existe. “Em outras palavras,
não medimos o futuro, nem o passado, nem o presente, nem o tempo que está passando. E, no
entanto, medimos o tempo.” (AGOSTINHO, Conf. XI, 27, 34).
Agostinho cita o verso Deus creator omnium para fechar o assunto da medida do tempo.
Este, porque é composto pela alternação de quatro sílabas longas e quatro sílabas breves. As
sílabas longas duram o dobro das sílabas breves. “Estas duram, cada uma, um tempo duplo em
relação às breves; eu pronuncio e o percebo claramente pelo testemunho dos sentidos.”
42
(AGOSTINHO, Conf. XI, 27, 35). Porém, assim como no exemplo anterior do som, Agostinho
só as consegue medir enquanto passam, se elas se tornaram passado não é possível medi-las,
pois não mais existem. Sendo assim, ele vê que o que mede não são as sílabas, mas alguma
coisa delas que permanece gravado em sua memória. Assim, conclui que com o espírito ele
mede a impressão que permanece na memória.

É em ti, meu espírito, que eu meço o tempo. Não me perturbes, ou melhor, não te
perturbes com o tumulto de tuas impressões. É em ti, repito, que meço os tempos.
Meço, enquanto está presente, a impressão que as coisas gravam em ti no momento
em que passam, e que permanece mesmo depois de passadas, e não as coisas que
passaram para que a impressão se reproduzisse. É essa impressão que meço, quando
meço os tempos. (AGOSTINHO, Conf. XI, 27, 36).

As impressões são gravadas na memória do homem e permanecem até que este as


evoque no presente, para recordar uma coisa passada ou aspirar por uma futura. Desse modo, a
mente humana mede as impressões que ficaram gravadas na memória e foram levadas ao
presente. Com isso, Agostinho conclui sua teoria subjetiva do tempo:

Mas como é que diminui e se consome o futuro que ainda não existe? Ou ainda: como
é que cresce o passado, que já não existe, a não ser pela existência dos três momentos
no espírito que os realiza: expectativa, atenção e lembrança? Desse modo, aquilo que
a alma espera torna-se lembrança depois de ser objeto de atenção. Quem se atreve a
negar que o futuro ainda não existe? No entanto, já existe no espírito a expectativa do
futuro. Quem pode negar que o passado não mais existe? Contudo, existe ainda no
espírito a lembrança do passado. E quem nega que o presente carece de extensão, uma
vez que passa em um instante? No entanto, perdura a atenção, diante da qual continua
a retirar-se o que era presente. Portanto, não é o tempo futuro que é longo, pois não
existe, mas o longo futuro é a longa espera do futuro. Também não é o longo tempo
passado inexistente, mas o longo passado é a longa recordação do passado.
(AGOSTINHO, Conf. XI, 28, 37).

Agostinho não nega a existência do tempo em sua forma ontológica e independente do


homem, mas afirma que é na alma que as coisas que acontecem no tempo têm sentido. A alma
tem a capacidade de, a partir do tempo real presente, ir no futuro, por meio da expectativa, e
também retomar as coisas passadas em seu sentido mais íntimo.

4.3 A objetividade do tempo

Depois que Agostinho estabelece a relação entre a percepção do tempo e a sua existência
de modo subjetivo, ele tenta chegar a uma definição do que seria o tempo exterior à consciência
humana, o tempo objetivo. Para Agostinho, a existência do tempo objetivo não depende do

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homem por ser anterior a ele, mas para que o homem fale sobre o tempo é necessário que este
o perceba.
A primeira questão a se levar em conta na objetividade do tempo é que este foi criado
por Deus. “De fato, foste tu que criaste o próprio tempo, e ele não podia decorrer antes de o
criares.” (AGOSTINHO, Conf. XI, 13, 15). O tempo criado se torna real no mundo e nas coisas
que o compõe. Para ele “o mundo foi feito com o tempo, [...].” (AGOSTINHO, A Cidade de
Deus, XI, 6). Não se pode falar de um antes, antes do próprio tempo.
Um outro momento em que Agostinho fala do tempo em seu sentido objetivo dá-se logo
depois de concluir que não saberia dizer o que é o tempo a quem perguntasse, como já foi
citado, mas aqui é retomado para melhor compreensão. Assim, ele diz: “No entanto posso dizer
com segurança que não existiria um tempo passado se, se nada passasse; e não existiria um
tempo futuro, se nada devesse vir; e não haveria tempo presente se nada existisse.”
(AGOSTINHO, Conf. XI, 14, 17). Nesse ponto, para Agostinho, a existência do tempo está
ligada à existência das coisas mutáveis do mundo. Isso não quer dizer, como já visto, que a
mudança gera o tempo, mas como algo que está além do movimento ou da duração deste.
Ao pensar o tempo como algo independente do homem, Agostinho separa tempo
subjetivo de tempo objetivo, ou seja, ele constrói reflexões particulares para cada um desses
modos de entender o tempo. Na primeira reflexão, o tempo se apresenta como uma distensão
da própria alma, mostrando existência apenas no interior do homem, o tempo subjetivo, ou
tempo da consciência. O tempo objetivo também está relacionado ao homem, pois é o homem
que faz sua elaboração intelectual. Porém, a diferença é que na reflexão sobre a objetividade do
tempo, Agostinho retira a ideia de que o tempo depende da consciência humana, colocando-o,
assim, fora da consciência. O local que Agostinho pensa o tempo é em seu lugar primeiro, ou
seja, o mundo. Desse modo, o tempo subjetivo depende do homem, pois se abriga em seu
interior; já o tempo objetivo é independente do homem, pois é anterior ao próprio homem. Mas
as duas construções, mesmo que sejam independentes, são realizadas pelo homem. (RUFINO,
2003, p. 133-134).

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após todas as reflexões ao longo desse trabalho, quem se atreveria a repetir a pergunta
dos maniqueus sobre o que fazia Deus antes da criação? Ficou claro que esta pergunta não tem
sequer fundamento lógico, pois, como foi visto, não é possível falar de um antes, antes mesmo
da criação, pois na eternidade nada passa ou muda. Porém, se não fosse por essa pergunta, talvez
Agostinho não teria dedicado tanto esforço em refutá-los. Esse esforço abriu um novo horizonte
para o problema do tempo, visto que suas reflexões perpassam o próprio tempo e chegam até
os dias de hoje.
O problema, visto por Agostinho, é que o homem quer entender os desígnios de Deus
se apegando à temporalidade. É claro que homem só consegue olhar para Deus a partir do
tempo, mas como Deus é eterno, alguns aspectos não podem ser entendidos em um sentido
temporal.
Em Agostinho, a criação, na perspectiva de Deus, não aconteceu, nem acontecerá, mas
acontece. Passado, presente e futuro estão contidos em um ato único. Isso porque Deus está na
eternidade, onde nada muda e não há tempo. Porém, mesmo que esteja na eternidade, Deus
conhece e domina todas as coisas que estão no tempo.
A construção que Agostinho utiliza para desenvolver sua teoria é simples, pois pode ser
explicada em poucas palavras, especialmente sua teoria da tríade do presente. Entretanto, ao
mesmo tempo assume uma complexa estrutura de reflexão em seus inúmeros elementos.
Em um primeiro ponto, Agostinho afirma que o tempo real seria o presente que, apesar
de não possuir extensão, é dele que o homem fala do passado e do futuro. Por isso fala que o
tempo precisa ser dividido em três novas partes, isto é, em presente do passado (as memórias),
presente do presente (o agora) e presente do futuro (as expectativas). Este só existe na alma,
pois essas partes não possuem ser fora da memória, o que pode ser chamado de tempo subjetivo.
Agostinho dedica praticamente toda sua reflexão pensando o tempo em um sentido
subjetivo, pois as perguntas que o levam a tratar o assunto dizem respeito à percepção que o
homem tem de Deus, no tempo. Porém, a sua teoria não se resume à subjetividade do tempo,
pois ele também trata o tempo como uma criatura, criada por Deus com o mundo. O tempo, em
sua forma objetiva, não depende do homem por ser anterior a ele, mas para que o homem tenha
uma ideia do tempo é necessário que ele o perceba, por isso sua forma subjetiva.
Agostinho retira a ideia de que o tempo é dependente do movimento físico, pois, mesmo
que o movimento colabore para a percepção da passagem do tempo, mesmo que não houvesse

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qualquer movimento, o tempo continuaria a transcorrer. O tempo não necessita de nenhum
movimento físico para existir, pois é o tempo que mede o movimento dos corpos.
Apesar de Agostinho herdar muitos elementos da filosofia grega, em um sentido geral,
ele se afasta muito no desenvolvimento de sua ideia. Ele acredita que o mundo foi criado com
o tempo, isto é, que houve um princípio, e essa criação se deu a partir do nada, ex nihilo. Já os
gregos tinham uma visão diferente. Platão acreditava no tempo como sendo uma cópia da
eternidade, em que o Demiurgo moldou um tipo de matéria informe, formando o mundo, e o
movimento dos astros geraria o tempo. Aristóteles acreditava em um mundo eterno, onde o
tempo seria uma espécie de movimento entre o antes e o depois. Plotino, por sua vez, concebia
o tempo como o resultado do movimento da alma do mundo que, por emanação, gerou o mundo.
Agostinho conclui que o tempo é uma distensão da alma, pois somente na alma o homem
consegue falar de passado, presente e futuro. É na alma que o homem consegue medir o tempo,
pois a alma tem a capacidade de gravar impressões do antes e do depois, para assim comparar
um período longo ou curto e perceber essa passagem temporal. Com o espírito, o homem mede
a impressão que está na memória.
Ao longo do trabalho foi possível ver vestígios das teorias anteriores à de Agostinho
presentes em sua construção, mas também foi possível ver a realocação que ele dá a essas
reflexões em um sentido mais profundo e cristão. Além disso, suas reflexões foram de
fundamental importância para pensadores como: Tomás de Aquino, Kant, Kierkegaard,
Bergson, Husserl, Heidegger, entre tantos outros pensadores que partiram da ideia agostiniana
de tempo para desenvolverem sua filosofia em torno do assunto.
Com este trabalho, conclui-se que através da relação que Agostinho faz entre o homem
e o tempo, mesmo que o tempo seja anterior ao homem e possua existência independente,
algumas de suas particularidades só possuem sentido na mente. E o tempo como um todo só
tem sentido em relação com o homem, seja em sua forma subjetiva ou objetiva.
Poder-se-ia dizer que em Agostinho o tempo é como um rio, que em algum momento
tornou-se existente pelo Criador, e começaram suas águas a correrem. Em um determinado
momento o homem foi introduzido em meio a essa correnteza. O homem não consegue parar
seu ritmo, mas pode perceber que ele está acontecendo, e com isso recorda as águas que já
passaram e espera pelas que virão. Em suma, o tempo não é o movimento, mas mede o
movimento dessas águas.

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REFERÊNCIAS

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Tradução de Frei Agustinho Belmonte, OAR. São Paulo: Paulus, 2005. (Patrística 21).

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VAZ, Aline Tabosa. A visão de Santo Agostinho sobre o tempo. Cuiabá, 2009.
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WHITROW, G. J. O tempo na história: concepção do tempo da pré-história aos nossos dias.


Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993.

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DECLARAÇÃO DE ORIGINALIDADE DO TEXTO

Eu, CLAUCIANO ULVE DA SILVEIRA, RG MG-21.359.631 PCMG, aluno


devidamente matriculado no sexto período do curso de FILOSOFIA do INSTITUTO
AGOSTINIANO DE FILOSOFIA, ao entregar o meu TRABALHO DE CONCLUSÃO DE
CURSO (TCC), que tem por título: Uma visão acerca do tempo e da eternidade em Agostinho
de Hipona.
DECLARO ser o autor de todo o texto final, e que o referido texto não foi entregue, nem
em todo, nem em parte, para a obtenção de outro título acadêmico ou Diploma em qualquer
outra Faculdade ou Instituto, civis ou eclesiásticos;
DECLARO, expressamente, não haver transgredido nenhuma Norma de ética do
Instituto Agostiniano de Filosofia na composição do texto, especialmente as referentes ao
Plágio, que são por mim conhecidas;
DECLARO ainda, estar ciente das sanções previstas em caso de plágio ou falsa
declaração, sobretudo referente à anulação do TCC e cancelamento do Certificado de
Conclusão de Curso, ainda que a constatação seja feita após aprovação em banca.

Em fé, firmo a presente declaração.

Franca, 30 de setembro de 2020.

__________________________________
CLAUCIANO ULVE DA SILVEIRA
RG: MG-21.359.631 PCMG

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