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Ortodontia

Má Oclusão de Classe II em Paciente Jovem


Redirecionamento do Crescimento e Ortodontia Corretiva
Class II Malocclusion in Young Patient: Forwarding's Growth and Corrective Orthodontics

Aldrieli Regina Ambrosio*, Francine Santos Silva**

INTRODUÇÃO mista, má oclusão Classe II, 2 de Angle, subdivisão esquerda,


O tratamento da má oclusão Classe II é dependente sobremordida acentuada, desvio da linha média superior para
da determinação de quais estruturas estão comprometidas, a direita, caninos superiores em infra-vestíbulo-versão,
sejam elas dentárias e/ou esqueléticas. Quando a maxila está apinhamento severo superior e leve inferior, com
protruída, e existe uma discrepância ântero-posterior em discrepância de modelos negativa de 3mm.
relação à mandíbula, o aparelho extrabucal (AEB) é a
primeira indicação para pacientes em crescimento . Isto 2,8,10

TRATAMENTO REALIZADO
porque este aparelho é capaz de causar restrição maxilar , 3,4

O plano de tratamento consistiu de AEB de tração


enquanto a mandíbula tem seu desenvolvimento normal, bem média e exodontia dos dentes 53 e 63 em um primeiro
como atuar no sentido vertical, conforme o tipo de tração momento.
adotada .
8,9

Como o paciente apresentava uma protrusão


Assim, os resultados do tratamento estão bastante maxilar, e estava passando pelo surto de crescimento puberal,
ligados à determinação do sistema de forças, que deve ser o tratamento foi iniciado assim que diagnosticado. O
cuidadosamente planejado e aplicado pela configuração do planejamento do sistema de forças do AEB consistiu
AEB para que haja previsibilidade dos efeitos nas estruturas primariamente da avaliação do padrão (mesofacial). Portanto,
diretamente afetadas pelo aparelho e nas adjacentes . 8

a tração média ou horizontal foi indicada, com o aparelho IHG


Portanto, aspectos como o padrão de crescimento, (Interlandi Headgear) com 500g de força de cada lado por 14
que determina o tipo de tração, o perfil tegumentar e a horas/dia. O arco externo do aparelho extrabucal foi ajustado
colaboração do paciente devem ser avaliados. curto, próximo ao primeiro molar, e a fixação do elástico do
Importante ressaltar ainda que a idade esquelética do arco externo ao suporte do IHG ocorreu com leve inclinação
paciente é de extrema importância para o sucesso deste para cima, mas com a mesma programação de momentos
tratamento. A fase do surto de crescimento puberal permite, indicada na Figura 3. Assim, a relação entre a linha de ação de
em algumas situações, a harmonização da discrepância força e o centro de resistência produziria também um
esquelética, a diminuição da necessidade de extrações e a
redução do tempo de tratamento . 5

Desta maneira, este relato de caso clínico objetiva


destacar aspectos indispensáveis para a determinação do
plano de tratamento desta má oclusão, e as considerações
necessárias para que o AEB ofereça os efeitos planejados para
este paciente, respeitando perfil e estética facial.

DESCRIÇÃO DO CASO:
Paciente do gênero masculino, como 12 anos de a b
idade, apresentava perfil inferior reto e ângulo nasolabial Fig. 1 - A) Vista extrabucal inicial. B) Cefalograma Inicial.
aberto (Figura 1). A avaliação cefalométrica (Figura 1)
revelou padrão mesofacial (FMA 22º e SN.GoGn 31º),
maxila protruída (SNA 87º), mandíbula bem posicionada
(SNB 80º), padrão Classe II (ANB 7º), incisivos superiores
verticalizados (1.NA 12,5º) e inferiores com boa inclinação
(1.NB 25º, IMPA 97º).
E a avaliação intrabucal (Figura 2) indicou dentição
Fig. 2 - Vista intrabucal inicial.

*Mestre em Odontologia Área de Concentração Ortodontia (PUCPR), Doutoranda em Ciências de Saúde (PUCPR), Coordenadora e Professora do Curso de
Pós-Graduação em Ortodontia da FUNORTE - Balneário Camboriú - SC. **Aluna da graduação em Odontologia (UFPR).

Rev Esp Odont 52 1 (1): 52-54, 2008


Má Oclusão de Classe II

FATOR norma 12 anos 14a6m


SN.GoGn 32º 31º 28º
FMA 25º 22º 19º
FMIA 68º 71º 67º
IMPA 87º 97º 104º
SNA 82º 87º 85º
SNB 80º 80º 82,5º
ANB 2º 7º 2,5º
Plano
9º 3º
oclusal
Fonte: Dados cefalométricos do paciente
Tabela 1 Dados Cefalométricos Comparativos Inicial X Final.

resultados esqueléticos, em concordância com estudos


publicados . No entanto, este relato de caso é concordante
4,10

Figura 3 Biomecânica do Aparelho Extrabucal.


Fonte: Shimizu et al., 2004 com Baumrind et al. (1983) quanto ao fato de que forças
2

pesadas não causam necessariamente apenas movimentos


esqueléticos, e sim uma combinação de movimentos. Assim,
componente de força vertical, de leve intrusão e outra a correção total da Classe II foi devido a uma combinação de
horizontal mais forte, de distalização, com um momento anti- movimentos dentário e esquelético.
horário. Ao minimizar extrusões de molares, minimiza-se A sobreposição parcial da maxila evidenciou esta
também a rotação horária mandibular, facilitando a correção distalização do molar superior , assim como a modificação
1,4,5,10

da discrepância ântero-posterior . Da mesma forma, neste


7
da inclinação dos incisivos superiores, favorável à correção
caso, uma intrusão mais acentuada do molar também não da sobremordida (Figura 6b). Na sobreposição da mandíbula
estava indicada, pois prejudicaria a correção da (Figura 6c), a vestibularização dos incisivos inferiores foi
sobremordida. Assim, o objetivo foi controlar a inclinação do conseqüência da decisão por não extrair pré-molares devido
plano mandibular. ao perfil reto e ângulo naso-labial aberto. Aspectos estes que
Para a correção da subdivisão foi associada uma melhoraram a estética do paciente ao final do tratamento
barra transpalatina ativa confeccionada com fio 0,8mm. (Figura 4).
Os aparelhos fixos superior e inferior foram Neste caso, a rotação do plano oclusal foi favorável à
montados (Edgewise 0.022" X 0.030") e assim que houve correção da sobremordida acentuada, e ocorreu devido ao
espaço disponível os caninos superiores foram tracionados planejamento do sistema de forças, assim como sugere a
(em 14 meses). O paciente continuou utilizando o AEB por revisão de literatura realizada por Shimizu et al. (2004).
7

mais 12 meses como contenção ativa (8horas/dia). Os valores cefalométricos obtidos com este paciente
A decisão por não extrair pré-molares, apesar da foram bastante similares aos encontrados por Marsan (2007)6

discrepância negativa, foi devido ao ângulo nasolabial e perfil em um estudo com ativadores associados ao AEB de tração
do paciente, que poderiam ficar prejudicados com a retração alta, que obteve diminuição do ANB de 3,4 e do SNA em 2,
anterior. A exodontia dos terceiros molares superiores e aumento do SNB de 2,6, diminuição da sobremordida em
inferiores foi solicitada. 2,2mm, protrusão dos incisivos inferiores (IMPA aumentou
2) e correção da Classe II dentária. No entanto, no presente
caso a correção do ANB e a protrusão dos incisivos foi maior.
RESULTADOS E DISCUSSÃO É de fundamental importância considerar que o
Os resultados obtidos mostraram tanto a correção da sucesso do tratamento depende muito da cooperação do
má oclusão dentária (Figura 5) quanto da esquelética (Figura paciente .
10

4). Os valores cefalométricos comparativos (inicial e final)


estão apresentados na Tabela 1 e a representação na Figura 6. RESUMO E CONCLUSÂO
A restrição maxilar pode ser confirmada pelo valor do SNA, Introdução: O tratamento da Classe II esquelética
que reduziu em 2º, enquanto a mandíbula estava livre para se depende da caracterização do problema e do estágio de
desenvolver e teve rotação anti-horária (ponto B mais crescimento do paciente. Objetivo: Apresentar e discutir o
anterior) (SNB aumentou 2,5º). Assim, a combinação dos tratamento de uma má oclusão Classe II, 2 de Angle, com
efeitos da maxila e da mandíbula corrigiu a discrepância comprometimento esquelético sagital, sobremordida
ântero-posterior, que era de 7º e foi para 2,5º. acentuada e apinhamento superior severo em um paciente
A aplicação de forças pesadas e pelo número de jovem. Método: Tendo em vista a caracterização da protrusão
horas diárias adequados têm forte impacto na obtenção dos

Rev Esp Odont 53 1 (1): 52-54, 2008


Má Oclusão de Classe II

Fig. 5 - Vista intrabucal final.


A B

Fig. 4 - A) Vista extrabucal final. B) Cefalograma Final.

maxilar, a abordagem de tratamento foi o uso de aparelho


extrabucal IHG e ortodontia corretiva. A programação do
AEB foi ajustada com componente de força levemente A B C
vertical e estabelecimento de uma relação entre a linha de ação
Fig. 6 - Sobreposições: A) de Cefalogramas Inicial e
de força e o centro de resistência que causasse rotação anti- Final; B) Parcial da Maxila e C) da Mandíbula.
horária do plano oclusal. Resultados: Correção da má oclusão
dentária e esquelética com evidência de restrição maxilar,
rotação mandibular e de plano oclusal anti-horária e 2. BAUMRIND, S; KORN, E.L.; ISAACSON, R.J.; WEST,
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Enviado em: dezembro de 2007
Revisado e aceito: fevereiro de 2008
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Endereço para correspondência:
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CEP: 80320-240 - Curitiba PR.
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Dentofacial Orthop, v.121, n.1, p.18-30, Jan 2002. E-mail: aldrieli@gmail.com

Rev Esp Odont 54 1 (1): 52-54, 2008

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