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HISTÓRIA DOS HEBREUS – p.

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CAPÍTULO 2: SOBRE AS QUATRO SEITAS QUE HAVIA ENTRE OS JUDEUS.

760. Entre os judeus, os que faziam profissão particular de sabedoria estavam, há vários séculos,
divididos em três seitas: os essênios, os saduceus e os fariseus, das quais, embora eu já tenha
falado no segundo livro da Guerra dos judeus, penso que devo dizer aqui também alguma coisa.
A maneira de viver dos fariseus não é fácil nem cheia de delícias: é simples. Eles se apegam
obstinadamente ao que se convencem que devem abraçar. Honram de tal modo os velhos que não
ousam nem mesmo contradizê-los. Atribuem ao destino tudo o que acontece, sem, todavia, tirar
ao homem o poder de consentir. De sorte que, sendo tudo feito por ordem de Deus, depende, no
entanto, da nossa vontade entregarmo-nos à virtude ou ao vício. Eles julgam que as almas são
imortais, julgadas em um outro mundo e recompensadas ou castigadas segundo foram neste —
virtuosas ou viciosas — e que umas são eternamente retidas prisioneiras nessa outra vida, e
outras retornam a esta. Eles granjearam, por essa crença, tão grande autoridade entre o povo
que este segue os seus sentimentos em tudo o que se refere ao culto de Deus e às orações
solenes que lhe são feitas. Assim, cidades inteiras dão testemunhos valiosos de sua virtude, de
sua maneira de viver e de seus discursos.
A opinião dos saduceus é que as almas morrem com os corpos e que a única coisa que somos
obrigados a fazer é observar a lei, sendo um ato de virtude não tentar exceder em sabedoria os
que a ensinam. Os adeptos dessa seita são em pequeno número, mas ela é composta de pessoas
da mais alta condição. Quase sempre, nada se faz segundo o seu parecer, porque quando eles são
elevados aos cargos e às honras, muitas vezes contra a própria vontade, são obrigados a se
conformar com o proceder dos fariseus, pois o povo não permitiria qualquer oposição a estes. Os
essênios, a terceira seita, atribuem e entregam todas as coisas, sem exceção, à providência de
Deus. Crêem que as almas são imortais, acham que se deve fazer todo o possível para praticar a
justiça e se contentam em enviar as suas ofertas ao Templo, sem oferecer lá os sacrifícios,
porque o fazem em particular, com cerimônias ainda maiores. Os seus costumes são
irreprocháveis, e a sua única ocupação é cultivar a terra. Sua virtude é tão admirável que supera
em muito a dos gregos e de outras nações, porque eles fazem disso todo o seu empenho e
preocupação e a ela se aplicam continuamente. Possuem todos os bens em comum, sem que os
ricos tenham maior parte que os pobres. O seu número é superior a quatro mil. Não têm mulheres
nem criados, porque estão convencidos de que as mulheres não contribuem para o descanso da
vida. Quanto aos criados, consideram uma ofensa à natureza, que fez todos os homens iguais,
querer sujeitá-los. Assim, eles se servem uns dos outros e escolhem homens de bem da ordem dos
sacerdotes, que recebem tudo o que eles recolhem de seu trabalho e têm o cuidado de fornecer
alimento a todos. Essa maneira de viver é quase igual à dos que chamamos plistes e vivem entre os
dácios.
Judas, de quem acabamos de falar, foi o fundador da quarta seita. Está em tudo de acordo com a
dos fariseus, exceto que aqueles que fazem profissão para adotá-la afirmam que há um só Deus,
ao qual se deve reconhecer por Senhor e Rei. Eles têm um amor tão ardente pela liberdade que
não há tormentos que não sofram ou que não deixem sofrer as pessoas mais caras antes de
atribuir a quem quer que seja o nome de senhor e mestre. A esse respeito não me delongarei
mais, porque é coisa conhecida de tantas pessoas que, em vez de temer que não se preste fé ao
que digo, tenho somente o receio de não poder expressar até que ponto vai a sua incrível
paciência e o seu desprezo pela dor. Mas essa invencível firmeza aumentou ainda pela maneira
ultrajosa como Géssio Floro, governador da Judéia, tratou a nossa nação e a levou por fim a se
revoltar contra os romanos.

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