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SICUT DUDUM

CONTRA A ESCRAVIDÃO DOS NATIVOS


NEGROS1 DAS ILHAS CANÁRIO
Papa Eugênio IV – 1435

Eugênio, Bispo, Servo dos Servos de Deus, Aos nossos veneráveis irmãos, paz e bênção apostólica,
etcetera.

Não muito tempo atrás, soubemos de nosso irmão Fernando, bispo de Rubicão e representante
dos fiéis residentes nas Ilhas Canárias, e de mensageiros por eles enviados à Sé Apostólica, e de
outros informantes confiáveis, os seguintes fatos: nas ditas ilhas - algumas chamadas Lançarote -
e outras ilhas próximas, os habitantes, imitando apenas a lei natural 2, e não tendo conhecido
anteriormente nenhuma seita de apóstatas ou hereges, há pouco tempo foram conduzidos à
ortodoxa fé católica com a ajuda da misericórdia de Deus. No entanto, com o passar do tempo,
aconteceu que em algumas das referidas ilhas, por falta de governadores e defensores idôneos para
orientar os que ali vivem a uma devida observância da Fé nas coisas espirituais e temporais, e
proteger bravamente suas propriedades e bens, alguns cristãos (falamos disso com tristeza), com
raciocínio fictício e aproveitamento e oportunidade, aproximaram-se das ditas ilhas de navio 3, e
com forças armadas tomaram cativos e até levaram afora para terras ultramarinas muitas pessoas
de ambos sexos, aproveitando-se de sua simplicidade.

Algumas dessas pessoas já foram batizadas; outras, às vezes, foram enganados e iludidas pela
promessa do Batismo, tendo recebido uma promessa de segurança que não foi cumprida. Eles

1 Apesar do título, os habitantes nativos das Ilhas Canário (Ganches) não eram racialmente negros, mas sim povos
bérberes.

2 Apenas a lei natural – Isto é, alheio da moral e da ética cristã.

3 Aqui se fala de atos de pirataria, não da coroa portuguesa/espanhola. O domínio ibérico da ilha foi consentido por
Eugênio IV na bula Creator Omnium.
privaram os nativos da propriedade, ou a usurparam para seu próprio uso, e sujeitaram alguns
dos habitantes das referidas ilhas à escravidão perpétua, os venderam a outras pessoas e
cometeram vários outros atos ilícitos e malignos contra eles, por causa de que muitos dos que
permanecem nas referidas ilhas, e condenando tal escravidão, permaneceram envolvidos em seus
erros anteriores, tendo recuado na intenção de receber o Batismo, ofendendo assim a majestade
de Deus, colocando suas almas em perigo, e causando danos não pequenos à religião Cristã.

Portanto, nós, a quem compete, especialmente no que diz respeito aos assuntos já mencionados,
repreender cada pecador sobre seu pecado, e não desejar que passe dissimulado, e almejando -
como é esperado do ofício pastoral que exercemos - tanto quanto possível, a prover salutarmente,
com santa e paternal solicitude, pelos sofrimentos dos habitantes, súplicas ao Senhor, e exortar,
pela aspersão do Sangue de Jesus Cristo derramado por seus pecados, todos e cada um, príncipes
temporais, senhores, capitães, homens armados, barões, soldados, nobres, comunidades, e todos
os outros de todos os tipos entre os fiéis Cristãos de qualquer estado, grau ou condição, que eles
próprios desistam dos atos já mencionados, e façam com que os sujeitados a eles também
desistam, e os restrinja rigorosamente.

E não menos ordenamos e exigimos a todos e cada um dos fiéis de cada sexo, no prazo de quinze
dias a partir da publicação destas cartas no lugar onde vivem, que restituam à sua liberdade
anterior todos e cada pessoa de qualquer sexo que já foram residentes nas ditas Ilhas Canárias, e
feitos cativos desde o momento de sua captura, e que foram submetidos à escravidão. Essas
pessoas devem ser total e perpetuamente livres e devem ser dispensadas sem exigir ou receber
dinheiro. Se isso não for feito passados os quinze dias, eles incorrem na sentença de excomunhão
pelo próprio ato, do qual não podem ser absolvidos, exceto em risco de morte, mesmo pela Santa
Sé, ou por qualquer bispo espanhol, ou pelo já mencionado Fernando, a menos que tenham
primeiro dado liberdade a esses cativos e restituído seus bens. Desejamos que a mesma sentença
de excomunhão seja incorrida por todos os que tentarem capturar, vender ou sujeitar à
escravidão, residentes batizados das Ilhas Canárias ou aqueles que buscam livremente o batismo,
do qual a excomunhão não pode ser absolvida, exceto como já foi declarado acima.

Aqueles que humildemente e eficazmente obedecem essas nossas exortações e mandamentos


merecem, além de nosso favor, e da Sé Apostólica, e as bênçãos que daí decorrem, ser também
possuidores de felicidade eterna e de serem colocados à direita de Deus, etcetera.

Dado em Florença, em 13 de janeiro do ano de Nosso Senhor de 1435


SUBLIMIS DEUS
SOBRE A ESCRAVIZAÇÃO E
EVANGELIZAÇÃO DOS INDÍGENAS
Papa Paulo III – 1537

A todos os fiéis cristãos a quem chegue este escrito, saúde em Cristo nosso Senhor e a bênção
apostólica.

O Deus sublime amou tanto o gênero humano que criou o homem de tal maneira que ele pudesse
participar, não apenas do bem que as outras criaturas desfrutam, mas dotou-o da capacidade de
alcançar o inacessível e invisível Bem Supremo e contemplá-lo face a face; e visto que o homem,
de acordo com o testemunho das sagradas escrituras, foi criado para gozar da vida eterna e da
felicidade, que ninguém pode obter a não ser pela fé em nosso Senhor Jesus Cristo, é necessário
que ele possua a natureza e as faculdades que o capacitem a receba essa fé; e que quem é assim
dotado deve ser capaz de receber essa mesma fé. Tampouco é crível que alguém possua tão
pouco entendimento a ponto de desejar a fé e, no entanto, seja destituído da faculdade mais
necessária para capacitá-lo a recebê-la. Portanto, Cristo, que é a própria Verdade, que nunca
falhou e nunca pode falhar, disse aos pregadores da fé que Ele escolheu para esse ofício: “Ide e
ensinai todas as nações.” Ele disse todos, sem exceção, pois todos são capaz de receber as
doutrinas da fé.

O inimigo da raça humana, que se opõe a todas as boas ações para levar os homens à destruição,
contemplando e invejando isso, inventou um meio nunca antes ouvido, pelo qual ele poderia
impedir a pregação da palavra de salvação de Deus ao povo: ele inspirou seus satélites que, para
agradá-lo, não hesitaram em publicar no exterior que os índios do oeste e do sul e outras pessoas
de que temos conhecimento recente devem ser tratados como brutos mudos criados para nosso
serviço, fingindo que são incapazes de receber a fé católica.

Nós, que, embora indignos, exercemos na terra o poder de nosso Senhor e procuramos com todas
as nossas forças trazer aquelas ovelhas de Seu rebanho que estão de fora para o redil confiado a
nosso cuidado, consideramos, no entanto, que os índios são verdadeiramente homens e que eles
não são apenas capazes de entender a fé católica, mas, de acordo com nossas informações,
desejam muito recebê-la. Desejando fornecer amplo remédio para esses males, Nós definimos e
declaramos por estas Nossas cartas, ou por qualquer tradução delas assinada por qualquer notário
público e selada com o selo de qualquer dignitário eclesiástico, ao qual o mesmo crédito será dado
aos originais, que, não obstante o que possa ter sido ou possa ser dito em contrário, os referidos
índios e todos os outros povos que possam ser posteriormente descobertos pelos cristãos 4, de
forma alguma devem ser privados de sua liberdade ou da posse de seus bens, mesmo que eles
estejam fora da fé de Jesus Cristo;5 e que podem e devem, livre e legitimamente, gozar de sua
liberdade e da posse de seus bens; nem devem ser, de modo algum, escravizados; caso contrário,
será nula e sem efeito.6

Em virtude de Nossa autoridade apostólica, definimos e declaramos por estas cartas, ou por
qualquer tradução assinada por qualquer notário público e selada com o selo de qualquer
dignitário eclesiástico, que assim exigirá a mesma obediência que os originais, que os referidos
índios e outros povos devem ser convertidos à fé de Jesus Cristo pela pregação da palavra de Deus
e pelo exemplo de vida boa e santa.

Dado em 15 de Maio de 1537

4 A bula afirma claramente todos os outros povos – Sendo assim, embora com ênfase aos povos indígenas, se opõe a
escravidão do gênero humano de forma geral.

5 Antes defendida a escravidão dos pagãos pela lei positiva, torna-se ilegítima pela autoridade concedida à Igreja para
se impor a lei moral.

6 Nula e sem efeito - Ou seja, Ilegítimo.


VERITAS IPSA
Papa Paulo III – 15377

A todos os fiéis Cristãos que as presentes letras virem, saúde, e benção Apostólica.

A mesma Verdade, que nem pode enganar, nem ser enganada, quando mandava os Pregadores de
sua Fé a exercitar este ofício, sabemos que disse: Ide, e ensinai a todas as nações. A todas disse,
indiferentemente, porque todas são capazes de receber a doutrina de nossa Fé. Vendo isto, e
invejando-o o comum inimigo da geração humana, que sempre se opõe às boas obras, para que
pereçam, inventou um modo nunca dantes ouvido, pera estorvar que a palavra de Deus não se
pregasse às gentes, nem elas se salvassem. Pera isto, moveu alguns ministros seus, que desejosos
de satisfazer a suas cobiças, presumem afirmar a cada passo, que os índios das partes Ocidentais,
e os do Meio dia, e as mais gentes, que nestes nossos tempos tem chegado a nossa noticia, hão de
ser tratados, e reduzidos a nosso serviço como animais brutos, a título de que são inábeis para a
Fé Católica: e socapa de que são incapazes de recebê-la, os põem em dura servidão, e os afligem, e
oprimem tanto, que ainda a servidão em que tem suas bestas, apenas é tão grande como aquela
com que afligem a esta gente.

Nós, pois, ainda que indignos, temos a autoridade de Deus na terra, e procuramos com todas as
forças achar suas ovelhas, que andam perdidas fora de seu rebanho, pera reuni-las a Ele, pois este
é nosso ofício; conhecendo que aqueles mesmos índios, como verdadeiros homens, não somente
são capazes da Fé de Cristo, senão que acodem a ela, correndo com grande prontidão, segundo
nos consta: e querendo prover nestas cousas de remédio conveniente, com autoridade Apostólica,
pelo teor das presentes letras, determinamos, e declaramos, que os ditos índios, e todas as mais
gentes que daqui em diante vierem à notícia dos Cristãos, ainda que estejam fora da Fé de Cristo,
não estão privados, nem devem sê-lo, de sua liberdade, nem do domínio de seus bens, e que não
devem ser reduzidos a servidão. Declarando que os ditos índios, e as demais gentes hão de ser

7 Derivação da bula anterior, simplificada e resumida.


atraídas, e convidadas à dita Fé de Cristo, com a pregação da palavra divina, e com o exemplo de
boa vida.

E tudo o que em contrário desta determinação se fizer, seja em si de nenhum valor, nem firmeza;
não obstante quaisquer coisas em contrário, nem as sobreditas, nem outras, em qualquer
maneira.

Dada em Roma, ano de 1537, aos nove de Junho, no ano terceiro de nosso Pontificado.
CUM SICUTI

SOBRE A LIBERDADE DOS ÍNDIOS NAS


FILIPINAS8
Papa Gregório XIV – 1591

Para perpétua memória do fato.

Uma vez que, como acabamos de receber, na conversão inicial das ilhas indígenas das Filipinas,
tanto perigo de vida foi incorrido por causa da ferocidade dos próprios índios, a ponto que muitos
foram compelidos a pegar em armas e infligiram danos à propriedade contra estes, que depois,
abandonando a falsa adoração dos deuses e reconhecendo o verdadeiro Deus, abraçaram a fé
católica, aqueles que infligiram danos aos bens desses mesmos índios devem desejar restaurar tais
bens roubados, mesmo que não possam ter a capacidade de fazê-lo.

Nós, desejando consultar a serenidade das consciências das referidas pessoas, e enfrentar os
perigos e inconveniências deste tipo, confiamos e ordenamos ao nosso venerado irmão o Bispo de
Manila, por meio dos presentes, no que diz respeito à nossa autoridade, assim como a pessoa já
mencionada e aos Senhores, a quem a restituição deve ser feita, que eles se organizem de cima, e
que os próprios Senhores, se estiverem estabelecidos, que façam reparação: Onde não houver
Senhores fixos, o mesmo arranjo deve ser feito para o mesmo bispo para benefício e apoio dos
índios; Se porém, aqueles que estão obrigados a fazer a restituição não puderem fazer
confortavelmente, se de fato forem pobres, farão reparação quando alcançarem uma condição
melhor ou uma fortuna mais rica.

8 Embora a Espanha tenha proibido a escravização de indígenas nas Américas em 1542, a prática vigorou no
arquipélago Filipino devido a já presente prática dos nativos.
E para que as constituições e determinações feitas pelo referido Bispo e pelos Religiosos e
Doutores reunidos ao mesmo tempo, para o feliz progresso dos cristãos recém-convertidos à fé,
deles não seja infringido sua vontade e propriedade ou afeto particular, queremos e decretamos
com autoridade apostólica que as coisas que foram ordenadas e demandadas pela própria
Congregação pelo sufrágio da maioria em favor da fé cristã ou da salvação das almas, para o bem
do governo dos próprios índios convertidos, devem ser observadas firme e inviolavelmente, até e
enquanto a mesma Congregação tiver ordenado ou demandado de outra forma.

Finalmente, quando, como recebemos, nosso querido filho em Cristo, Filipe, o rei católico da
Espanha, proibiu que nenhum espanhol tivesse escravos ou servos nas ilhas acima mencionadas
das Filipinas9, mesmo pela lei da guerra justa e injusta, ou da compra, ou sob qualquer outro
título ou pretexto, por causa das muitas fraudes habitualmente cometidas, eles ousam cometer ou
ter ou reter, e alguns ainda retêm os mesmos escravos com eles, contra o édito ou ordem do
próprio Rei Filipe. Nós, para que os próprios índios possam voltar a doutrina cristã, e para que
possam ir e voltar para suas próprias casas e bens com liberdade e segurança, sem medo de
servidão, conforme a razão e a equidade, a todos e cada um, seja qual for o estado, grau, condição,
ordem e posição que tenha, existindo nas mesmas ilhas, qualquer que seja, em virtude de santa
obediência, e sob pena de excomunhão, ordenamos e demandamos, na medida que, tendo
declarado aos presentes, quaisquer escravos e servos índios, se eles os tiverem, ou os detiverem
consigo mesmos, cessando todo engano e fraude, todos sejam libertos e que no futuro não seja
permitido de modo algum nem escravos, nem servos, de acordo com o édito ou ordem do referido
rei Filipe.

Dado em Roma em 18 de abril de 1591, no primeiro ano de nosso pontificado.

9 Filipe II da Espanha reafirmou a proibição da escravização de nativos, tanto nas Américas quanto na Ásia, na Lei
das Índias, em 1573.
COMMISSUM NOBIS

SOBRE A LIBERDADE DOS ÍNDIOS DAS


AMÉRICAS
Papa Urbano VIII – 1639

Ao nosso amado filho, saudação e bênção apostólica.

O supremo ministério apostólico, confiado a Nós pelo Senhor Deus, exige que não descuidemos da
salvação das almas, não apenas dos cristãos, mas de todos os que vivem nas trevas, fora da Santa
Igreja, e estendamos a eles a nossa caridade fraterna, para que sejam conduzidos ao
conhecimento das verdades da Fé, e possamos remover, com a ajuda de Deus, tudo que nos
impeça de agirmos em benefício deles.

Paulo III, nosso antecessor, sabendo que os índios eram escravizados, espoliados e, por isso
mesmo, preferiam rejeitar o cristianismo, em mensagem de 29 de maio de 1537, cuja validade
perdura plenamente, proibiu e ordenou que as autoridades também proibissem escravizá-los,
privá-los de seus bens e, consequentemente, fazê-los sentir aversão pela Fé Cristã.

Todos aqueles que praticam tais ações, já explicitamente condenadas por esta Sé Apostólica,
quaisquer que sejam suas condições sociais ou cargos que ocupem, mesmo que sejam membros de
ordens e congregações religiosas, serão punidos com excomunhão latae sententiae, da qual só
poderão ser absolvidos pelo Romano Pontífice.

Conforme percebemos, as causas que motivaram o posicionamento e a mensagem de nosso


predecessor Paulo, persistem no tempo presente. Por isso mesmo, Nós, seguindo as pegadas dele,
e decididos a reprimir a ousadia dos maus contra os índios, os quais devemos conduzir à Fé Cristã
com mansidão e caridade, encarregamos e ordenamos: Dar eficaz assistência e proteção a todos os
índios, nas províncias do Brasil, do Paraguai e Rio da Prata, ou em quaisquer outras regiões das
Índias ocidentais e meridionais.

Todo aquele que os maltratar, escravizar, vender, comprar, doar, retirá-los do local onde moram,
separá-los de suas mulheres e filhos ou espoliá-los de seus bens, automaticamente estará incurso
na pena de excomunhão latae sententiae, da qual não poderá ser absolvido a não ser pelo Romano
Pontífice, ou em caso de morte ou com a devida reparação prévia.

Igualmente será excomungado todo aquele que incentivar, colaborar e der apoio aos que
cometerem tais crimes contra os índios, qualquer que seja o pretexto ou a justificativa. Aos
rebeldes e contraventores, que se atreverem a desobedecer e desrespeitar estas nossas ordens e
advertências, sejam eles quem forem, será aplicada a pena de excomunhão, como também serão
aplicadas as outras medidas, de fato e de direito.

Dado em Roma, 22 de abril de 1639, no décimo sexto ano de nosso pontificado.


IMMENSA PASTORUM

A CARIDADE DO PONTÍFICE
COMPREENDE A TODOS OS HOMENS
DA TERRA
Papa Bento XIV – 1741

A imensa caridade de Jesus Cristo, Chefe dos Pastores, que veio trazer aos homens uma vida mais
copiosa e se entregou pela redenção de muitos, urge-nos a tal modo que, como sem mérito algum,
cumprimos nosso tempo na terra, consideremos então que não há caridade maior do que dar a
vida não só pelos cristãos, mas absolutamente por todos os homens. Ainda que pelo governo
supremo da Igreja Católica, confiado às nossas débeis forças, somos obrigados, segundo o
costume e a instituição dos nossos anciãos, a manter e governar esta Sé Apostólica, à qual se
recorre de todas as partes da terra em demanda do oportuno e salutar remédio tanto nas questões
administrativas10 como nas calamidades que afligem a igreja cristã aqui em Roma, sem poder ir às
regiões mais remotas e distantes para realizar ali mesmo a obra do nosso ministério apostólico,
conquistando as remidas almas pelo precioso sangue de Jesus Cristo e dando até a própria vida,
como é nosso desejo; Não obstante, como não queremos que os benefícios da providência, da
autoridade e da benignidade apostólica falte de nenhuma nação debaixo do céu, de bom grado
convidamos a vós, venerados irmãos, a quem a própria Santa Sé uniu como cooperadores no
cultivo da vinha do Deus dos exércitos, a compartilhar nossa solicitude e vigilância pontifícia para
que possam cumprir cada vez mais facilmente a tarefa que lhe foi imposta e ganhar mais
facilmente a coroa que espera no céu aqueles que lutam por uma causa justa.

10 Os Estados Papais estava extremamente endividado nesta época, com um déficit anual de 200,000 scutis.
Claro é para vocês, irmãos, como e quais penosos trabalhos e gastos pecuniários os Romanos
Pontífices, nossos predecessores e os príncipes católicos, mais dignos da religião cristã,
enfrentaram com espírito determinado e generoso, para conseguir através de sagrado obreiros,
seja pela pregação e bons exemplos, seja por meio de dádivas, presentes, ajudas e auxílios, que a
luz da fé ortodoxa iluminasse os homens, que andaram nas trevas e jaziam na sombra da morte,
fazendo-os chegar ao conhecimento da verdade: e com que favor, com que benefícios, com que
privilégios e prerrogativas são distinguidos ainda hoje, como sempre, os infiéis, de modo que,
atraídos por estas coisas, abraçam a religião católica e, permanecendo nela, por obras de piedade
cristã, alcançam salvação eterna.

Com tudo isto, temos vindo a saber, com profunda dor do nosso espírito paterno, que depois de
tantos conselhos da providência apostólica dados por nossos próprios predecessores, depois de
tantas constituições que providenciaram para que da melhor maneira possível ajudassem e
protegessem dados infiéis, e proibindo, sob as mais graves penas e censuras eclesiásticas, que
fossem atacados, açoitados, presos, escravizados ou mortos, ainda, e especialmente naquelas
regiões do Brasil, haja homens pertencentes à fé ortodoxa que, como se completamente
esquecidos do sentido da caridade infundido em nossas almas pelo Espírito Santo, ou praticam a
escravidão, ou vendem a outros como se fossem mercadorias, ou privam os miseráveis índios de
seus bens, não apenas os desprovidos da luz da fé, mas também os regenerados pelo batismo, que
vivem nas montanhas e nas duras regiões no oeste e sul do Brasil e nas regiões mais desertas, e
que se atrevem a se comportar em relação a eles com tal desumanidade, que os afasta de abraçar a
fé de Cristo e os torna profundamente odiosos.

Tentando, com todo o poder que Deus nos deu, sair do caminho desses males, procuramos
interessar primeiro a notável piedade e o incrível zelo na propagação da religião católica de nosso
querido filho em Cristo João de Portugal11 e ilustre Rei dos Algarves, que, dada a sua filial devoção
a Nós e a esta Santa Sé, prometeu que de imediato daria ordens a todos e cada um dos oficiais e
ministros dos seus domínios para que fossem punidos com as mais severas penas graves, de
acordo com os éditos reais, quem de seus súditos for pego se comportando para com esses índios
de maneira diferente daquela exigida pela mansidão da caridade cristã

Rogamos então a vocês, irmãos, e os exortamos no Senhor para que não mais deixem faltar, com
desrespeito ao seu nome e dignidade, a vigilância, a diligência e o esforço devidos ao seu
ministério, mas bem, unindo o vosso zelo pelos ofícios dos ministros do rei, mostrai a todos com

11 João V, O Magnânimo
quanto maior ardor de caridade sacerdotal que os ministros leigos, padres, pastores de almas, se
esforcem para proteger estes índios e conduzi-los à fé católica

Nós, aliás, com autoridade apostólica e pelo veredito dos presentes, renovamos e confirmamos as
breves cartas apostólicas dirigidas pelo Papa Paulo III, nosso predecessor, ao então Cardeal da
Igreja Romana de nome Juan de Tavera, Arcebispo de Toledo, datadas 28 de maio de 1537, e as
escritas pelo Papa Urbano VIII, também nosso predecessor, ao então coletor geral de direitos e
prêmios devidos à Câmara Apostólica nos reinos de Portugal e Algarves datadas de 22 de abril de
1639; bem como, seguindo os passos daqueles nossos predecessores, Paulo e Urbano, e querendo
reprimir a insolência daqueles homens ímpios que aterrorizam os referidos índios com atos
desumanos, atraindo aqueles que para receber a fé de Cristo seja necessário esgotar todos os
recursos da caridade cristã, recomendamos e ordenamos a cada um de vós e aos vossos sucessores
que cada um por si ou por outrem editais emitidos e propostos e postos em público, abrigando nos
mesmos com a proteção de uma defesa efetiva aos referidos índios tanto nas províncias do
Paraguai, Brasil e do Rio chamado da Prata, como em qualquer outro lugar das Índias ocidentais e
meridionais, proibindo vigorosamente todas e cada uma das pessoas, mesmo leigas, incluindo
ordenadas, de qualquer estado, sexo, grau, condição e cargo, ainda que de especial destaque e com
título de dignidade, como de qualquer ordem, congregação, sociedade - inclusive a Companhia de
e Jesus -, religião e institutos de mendicantes e não mendicantes, monásticos, regulares, sem
excluir nenhum dos militares, nem sequer os Hospitalários de São João de Jerusalém, sob pena
de excomunhão latae sententiae, que incorrerão pelo simples fato de contrariar o que está
determinado, e do qual não podem ser absolvidos, exceto em articulo mortis e satisfação prévia,
ou por nós ou pelo Romano Pontífice da época vigente, que doravante escravizarem os índios
acima mencionados, seja vendendo, comprando, trocando ou dando, separando de suas mulheres
e filhos, despojando de suas propriedades e bens, levando de um lugar para outro ou transferindo,
ou de qualquer outra forma privá-los da liberdade ou retê-los em servidão; da mesma forma os
que ousarem ou presumirem prestar conselho, auxílio, ajuda ou colaboração a quem o fizer, sob
nenhum pretexto ou aparência, ou propagar e ensinar que fazê-lo é lícito ou cooperar de alguma
forma; declarando que quem quer que sejam os transgressores e rebeldes, bem como os que não
obedecerem ao antedito a algum de vós, incorreram na pena de excomunhão indicada, reprimindo
também com outras censuras e penas eclesiásticas e outros remédios oportunos de jure e de facto,
adiando todos os recursos e observando os trâmites legais que eram rigorosos, agravando a
censura e as mesmas penas nos casos de reincidência e invocando mesmo para isso, se necessário,
o auxílio do braço laico. Com autoridade superior, concedemos e estabelecemos a cada um de
vocês e a seus sucessores plena, ampla e livre faculdade.
Não obstante, as declarações que são contrárias às constituições gerais e especiais do Papa
Bonifácio VIII, também nosso predecessor de ilustre memória, cada uma, e a do conselho geral
sobre as duas dietas, e outras apostólicas, e as verificadas em concílio universal, provincial ou em
conselhos sinodais, sejam elas portarias ou mesmo leis municipais e de quaisquer lugares
piedosos e não piedosos e, em geral, assim como quaisquer estatutos ou costumes, mesmo os que
se sustentem por juramento, confirmação apostólica ou qualquer outro suporte; assim como os
privilégios, perdões e cartas apostólicas contra os anteriores, independente da forma em que
foram concedidas, não sejam confirmadas ou renovadas. Todos e cada um dos quais, mesmo
quando feita menção especial, específica, expressa e individual a eles em seu conteúdo total em
palavra por palavra, mas que não firmara o mesmo em suas cláusulas gerais, ou que faltou de
manter alguma expressão ou observação de alguma outra determinada forma, considerando os
referidos conteúdos como plena e suficientemente expressos e inseridos no presente como se
fossem expressamente inseridos palavra por palavra, sem omitir nada e mantendo a forma neles
dada, permanecendo em demais vigor nos efeitos que lhes antecede, pelo menos por enquanto os
revogamos especial e expressamente, bem como qualquer outra disposição contrária.

Queremos, também, que se façam cópias ou exemplos, incluindo impressas, autorizadas com a
assinatura pública e averbadas com o selo de pessoa constituída com dignidade eclesiástica, e que
as referidas cópias sejam cedidas, caso venham a ser exibidas ou mostradas dentro ou fora de
tribunais, a mesma fé que no presente.

Quanto a vós, veneráveis irmãos, guardando vigilante o rebanho que vos foi confiado, esforçai-vos
no vosso ministério e esforçai-vos na diligência, no zelo e na caridade a que estais obrigados,
exigindo constantemente de vós mesmos, na vossa alma, a conta que haveis de prestar a Jesus
Cristo, Príncipe dos pastores e eterno Juiz das suas ovelhas, e que Ele te exigirá bem de perto.
Confiamos, pois, que será de tal modo que cada um de vós empenhe de sua parte todo esforço e
decisão para que não se deseje nesta obra o ofício de tão distinta caridade. Enquanto isso, para a
próspera marcha do sucesso, com amor transmitimos a vós, veneráveis irmãos, a bênção
apostólica juntamente da abundância dos carismas celestiais.

Dado em Roma, 20 de dezembro de 1741, no segundo ano de nosso pontificado.


IN SUPREMO
APOSTOLATUS

EM CONDENAÇÃO AO TRÁFICO DE
ESCRAVOS
Papa Gregório XVI – 1839

Colocado no cume do poder Apostólico e, embora carente de méritos, ocupando o lugar de Jesus
Cristo, o Filho de Deus, que, feito Homem por extrema Caridade, Se dignou morrer pela Redenção
do Mundo, Nós julgamos que pertencia à nossa solicitude pastoral esforçar-nos para afastar os
fiéis do comércio desumano de escravos de negros e de todos os outros homens. Certamente,
desde que se difundiu, primeiramente pelos cristãos, a luz do Evangelho, essa gente miserável,
que em tão grande número, e principalmente pelos efeitos das guerras, caiu em uma escravidão
tão cruel, experimentou um alívio de sua dor. Inspirados de fato pelo Espírito Divino, os
Apóstolos, é verdade, exortaram os próprios escravos a obedecer a seus senhores, segundo a
carne, como se obedecessem a Cristo, e a cumprir sinceramente a Vontade de Deus; mas eles
ordenaram aos senhores que agissem bem para com os escravos, dando-lhes o que era justo e
equitativo, e se abstendo de ameaças, sabendo que o verdadeiro Mestre tanto deles quanto dos
escravos está no Céu, e que com Ele não há distinção de pessoas.

Mas como a lei do Evangelho prescreve universal e seriamente uma caridade sincera para com
todos, e considerando que Nosso Senhor Jesus Cristo havia declarado que considerava como feito
ou recusado a Si mesmo tudo de bom e misericordioso feito ou recusado aos pequenos e
necessitados, segue-se que é natural, não apenas que os cristãos devam considerar seus escravos
como seus irmãos e, acima de tudo, seus escravos cristãos, mas que devem estar mais inclinados a
libertar aqueles que tornaram-se merecedores; o que era costume fazer principalmente por
ocasião da festa da Páscoa, como nos diz Gregório de Nissa. Não faltaram cristãos que, movidos
por uma caridade ardente, “se entregaram à servidão para redimir os outros”, muitos exemplos
dos quais nosso predecessor, Clemente I, de santíssima memória, declara ter chegado ao seu
conhecimento. Com o passar do tempo, dissipando-se cada vez mais a névoa da superstição pagã e
suavizando-se os costumes dos bárbaros, graças à Fé operada pela Caridade, acontece finalmente
que, há vários séculos, não há mais escravos no maior número de nações cristãs. Mas – dizemos
com profunda tristeza – houve depois entre os fiéis homens que, vergonhosamente cegos pelo
desejo de ganho sórdido, em países solitários e distantes, não hesitaram em reduzir à escravidão
índios, negros e outros povos miseráveis, ou então, instituindo ou desenvolvendo o comércio
daqueles que foram escravizados por outros, para favorecer sua prática indigna. Certamente
muitos Romanos Pontífices de gloriosa memória, Nossos Predecessores, não deixaram, de acordo
com os deveres de seu encargo, de censurar severamente esta maneira de agir como perigosa para
o bem espiritual dos envolvidos no tráfico e uma vergonha para o nome cristão; eles previram que,
como resultado disso, os povos infiéis seriam cada vez mais fortalecidos em seu ódio à verdadeira
religião.

É a estas práticas que se dirige a Carta Apostólica de Paulo III, dada em 29 de maio de 1537, sob o
selo do Pescador12, e dirigida ao Cardeal Arcebispo de Toledo, e depois outra Carta, mais
detalhada, dirigida por Urbano VIII em 22 de abril de 1639 ao Júri Coletor da Câmara Apostólica
de Portugal. Neste último são severa e particularmente condenados aqueles que ousam “reduzir à
escravidão os índios das Índias Orientais e Meridionais”, vendê-los, comprá-los, trocá-los ou dá-
los, separá-los de suas esposas e filhos, despojá-los de seus bens e propriedades, conduzi-los ou
transportá-los para outras regiões, ou privá-los de liberdade de qualquer forma, retê-los em
servidão, ou aconselhar, socorrer, favorecer e cooperar com aqueles que agem assim, sob qualquer
pretexto ou desculpa, ou que proclamam e ensinam que esta maneira de agir é permitida e
cooperam de qualquer maneira nas práticas indicadas.

Bento XIV confirmou e renovou as penas dos Papas acima mencionados em uma nova Carta
Apostólica dirigida em 20 de dezembro de 1741 aos Bispos do Brasil e de algumas outras regiões,
na qual estimulou, para o mesmo fim, a solicitude dos próprios Governadores. Outro dos Nossos
Predecessores, anterior a Bento XIV, Pio II, que enquanto em vida o poder dos portugueses se
estendia sobre a Nova Guiné, enviou a 7 de Outubro de 1462, a um Bispo que partia para aquele
país, uma Carta na qual ele não só dá ao próprio Bispo os meios de exercer ali o ministério

12 Selo de documento papal – “Pescador”, isto é, Pedro.


sagrado com mais frutos, mas, ao mesmo tempo, dirige graves advertências a respeito dos cristãos
que devem reduzir os neófitos à escravidão.

Em nosso tempo, Pio VII, movido pelo mesmo espírito religioso e caritativo de seus
predecessores, interveio zelosamente junto aos detentores do poder, para que ao menos
cessassem o tráfico de escravos entre os cristãos 13. As penas impostas e os cuidados dispensados
por Nossos Predecessores contribuíram em não pequena medida, com a ajuda de Deus, para
proteger os índios e demais povos mencionados contra a crueldade dos invasores ou a cupidez dos
mercadores cristãos, sem contudo levar a tal êxito um ponto que a Santa Sé pode se alegrar com o
sucesso total de seus esforços nessa direção; pois o comércio de escravos, embora tenha
diminuído em mais de um distrito, ainda é praticado por numerosos cristãos. É por isso que,
desejando remover tal vergonha de todas as nações cristãs, tendo refletido profundamente sobre
toda a questão e seguindo o conselho de muitos de nossos veneráveis irmãos, os cardeais da Santa
Igreja Romana, e seguindo os passos de nossos predecessores, Advertimos e exortamos
sinceramente no Senhor os cristãos fiéis de todas as condições que ninguém no futuro se atreva a
vexar alguém, despojá-lo de suas posses, reduzi-lo à servidão ou prestar ajuda e favor àqueles que
se entregam a essas práticas, ou exercer esse tráfico desumano pelo qual os negros, como se não
fossem homens, mas sim animais, tendo sido levados à servidão, de qualquer maneira, são, sem
distinção alguma, em desacato aos direitos de justiça e humanidade, comprados, vendidos e às
vezes dedicados ao trabalho mais duro. Além disso, na esperança de lucro, propostas de compra
feitas aos primeiros proprietários dos negros, dissensões e conflitos quase perpétuos também são
suscitados nessas regiões.

Reprovamos, então, em virtude de Nossa Autoridade Apostólica, todas as práticas acima


mencionadas como absolutamente indignas do nome cristão. Pela mesma Autoridade Proibimos e
condenamos estritamente qualquer Eclesiástico ou leigo de presumir defender como permissível
este tráfico de negros sob qualquer pretexto ou desculpa, ou de publicar ou ensinar de qualquer
maneira, em público ou em particular, opiniões contrárias ao que estabelecemos nesta Carta
Apostólica.

Dado em 3 de Dezembro de 1839

13 Pio VII trocou cartas com João VI e Luís XVIII pressionando-os pelo fim do tráfico negreiro. Representado pelo
cardeal Ercole Consalvi no Congresso do Viena, se posicionou a favor do fim da prática, juntando-se a declaração
que a condenou internacionalmente.
IN PLURIMIS

SOBRE A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO


Papa Leão XIII – 1888

Aos Bispos do Brasil,

Em meio às muitas e grandes manifestações de afeto que de quase todos os povos da terra nos têm
vindo, e ainda nos chegam, para felicitar-nos pelo feliz quinquagésimo aniversário de nosso
sacerdócio, é aquela que nos move de uma forma muito especial. Referimo-nos a um que vem do
Brasil, onde, por ocasião deste feliz acontecimento, foram legalmente libertados muitos dos que
naquele vasto império choravam sob o jugo da escravidão. E esta obra, tão cheia de espírito de
misericórdia cristã, foi oferecida em cooperação com o clero, por membros caritativos de leigos de
ambos os sexos, a Deus, o Autor e Doador de todas as coisas boas, em testemunho de gratidão
pelo favor da saúde e pelos anos que nos foram concedidos. Mas isso foi especialmente aceitável e
doce para Nós porque confirmou a crença, que é tão bem-vinda para Nós, que a grande maioria do
povo do Brasil deseja ver a crueldade da escravidão terminada e erradicada da terra. Esse
sentimento popular foi fortemente apoiado pelo imperador e sua augusta filha, e também pelos
ministros, por meio de várias leis que, com esse fim em vista. foram introduzidos e sancionados.
Dissemos ao embaixador do Brasil em janeiro passado que consolo essas coisas foram para nós, e
também asseguramos a ele que enviaríamos cartas aos bispos do Brasil em nome desses infelizes
escravos.

Nós, de fato, para todos os homens somos o Vigário de Cristo, o Filho de Deus, que tanto amou a
raça humana que não apenas Ele não recusou, tomando nossa natureza para Si, para viver entre
os homens, mas se deleitou em levar o nome de o Filho do Homem, proclamando abertamente
que veio à terra “para pregar a libertação aos cativos” para que, resgatando a humanidade da
pior escravidão, que é a escravidão do pecado, “ele possa reunir todas as coisas que estão no céu
e na terra” e assim trazer de volta todos os filhos de Adão das profundezas da ruína da queda
comum à sua dignidade original. As palavras de São Gregório Magno são muito aplicáveis aqui:
“Desde que nosso Redentor, o Autor de toda a vida, dignou-se a assumir a carne humana, que
pelo poder de Sua Divindade, as correntes pelas quais éramos mantidos em cativeiro foram
quebradas, Ele pudesse nos devolver ao nosso primeiro estado de liberdade, é muito apropriado
que os homens, pela concessão da alforria, restituam à liberdade em que nasceram aqueles que
a natureza enviou livres ao mundo, mas que foram condenados ao jugo da escravidão pela lei
das nações.”14 É certo, portanto, e obviamente de acordo com Nosso ofício apostólico, que
devemos favorecer e promover por todos os meios em Nosso poder o que quer que ajude a
garantir para os homens, seja como indivíduos ou como comunidades , salvaguardas contra as
muitas misérias, que, como os frutos de uma árvore má, brotaram do pecado de nossos primeiros
pais; e tais salvaguardas, de qualquer tipo que sejam, ajudam não apenas a promover a civilização
e as comodidades da vida, mas levam à restituição universal de todas as coisas que nosso
Redentor Jesus Cristo contemplou e desejou.

Diante de tanto sofrimento, a condição de escravidão, na qual uma parte considerável da grande
família humana tem se afundado na miséria e na aflição por muitos séculos, é profundamente
deplorável; pois o sistema é totalmente oposto ao que foi originalmente ordenado por Deus e pela
natureza. O Supremo Autor de todas as coisas assim decretou que o homem deveria exercer uma
espécie de domínio real sobre animais, gado, peixes e aves, mas nunca que os homens deveriam
exercer um domínio semelhante sobre seus semelhantes. Como Santo Agostinho coloca: “Tendo
criado o homem como um ser racional, e segundo a Sua própria semelhança, Deus desejou que
ele governasse apenas sobre a criação bruta; que ele deveria ser o mestre, não dos homens, mas
dos animais. A partir disso, segue-se que o estado de escravidão é corretamente considerado
como uma penalidade para o pecador; assim, a palavra escravo não ocorre na Bíblia até que o
justo Noé marca com ela o pecado de seu filho. Foi o pecado, portanto, que mereceu esse nome;
não foi natural”15.

Do primeiro pecado vieram todos os males, e especialmente esta perversidade de que houve
homens que, esquecendo-se da fraternidade original da raça, em vez de procurarem, como
deveriam ter feito naturalmente, promover a bondade mútua e o respeito mútuo, seguindo seus
maus desejos começou a pensar nos outros homens como seus inferiores e a considerá-los como
gado nascido para o jugo. Assim, por um absoluto esquecimento da nossa natureza comum, da

14 Livro VI, Epístola XII

15 Cidade de Deus, Livro XIX, Capítulo XV


dignidade humana e da semelhança de Deus estampada em todos nós, aconteceu que nas
contendas e guerras que então irromperam, os mais fortes diminuíram os conquistados em
escravidão; de modo que a humanidade, embora da mesma raça, ficasse dividida em duas seções,
os escravos conquistados e seus senhores vitoriosos. A história do mundo antigo nos apresenta
esse espetáculo miserável até o tempo da vinda de nosso Senhor, quando a calamidade da
escravidão caiu pesadamente sobre todos os povos, e o número de homens livres tornou-se tão
reduzido que o poeta foi capaz de para colocar esta frase atroz na boca de César: “A raça humana
existe para o bem de poucos”.

O sistema floresceu mesmo entre os povos mais civilizados, entre os gregos e entre os romanos,
com os quais poucos impunham sua vontade sobre muitos; e esse poder foi exercido tão
injustamente e com tanta arrogância que uma multidão de escravos era considerada apenas como
bens móveis - não como pessoas, mas como coisas. Eles foram considerados fora da esfera da lei e
sem sequer a pretensão de reter e aproveitar a vida. “Os escravos estão sob o poder de seus
senhores, e esse poder é derivado da lei das nações; pois descobrimos que, entre todas as nações,
os mestres têm o poder de vida e morte sobre seus escravos, e tudo o que um escravo ganha
pertence a seu mestre. “16 Devido a esse estado de confusão moral, tornou-se lícito aos homens
vender seus escravos, dá-los em troca, dispor deles por vontade própria, espancá-los, matá-los,
abusar deles, obrigando-os a servir para a gratificação de paixões malignas e superstições cruéis;
essas coisas poderiam ser feitas, legalmente, com impunidade e à luz do céu. Mesmo aqueles que
eram mais sábios no mundo pagão, filósofos ilustres e jurisconsultos eruditos, ultrajando o
sentimento comum da humanidade, conseguiram persuadir a si mesmos e aos outros que a
escravidão era simplesmente uma condição necessária da natureza. Tampouco hesitaram em
afirmar que a classe dos escravos era muito inferior aos homens livres tanto em inteligência
quanto em perfeição de desenvolvimento corporal e, portanto, que os escravos, como coisas
carentes de razão e sentido, deveriam em todas as coisas ser instrumentos da vontade, por mais
imprudentes e indignos, de seus mestres. Tais doutrinas desumanas e perversas devem ser
especialmente detestadas; pois, uma vez aceitos, não há forma de opressão tão perversa que não
se defenda sob alguma cor de legalidade e justiça. A história está cheia de exemplos que mostram
como esse sistema tem sido uma sementeira do crime, uma praga e uma calamidade para os
estados. Os ódios são excitados no peito dos escravos, e os senhores são mantidos em estado de
suspeita e pavor perpétuo; os escravos se preparam para se vingar com as tochas dos incendiários,
e os senhores continuam a tarefa de opressão com maior crueldade. Os estados são perturbados

16 Justiniano, Corpus Juris Civilis, Livro I, Capítulo VIII, Seção I


alternadamente pelo número de escravos e pela violência dos senhores, e assim são facilmente
derrubados; daí, em uma palavra, vêm motins e sedições, pilhagens e incêndios.

A maior parte da humanidade labutava neste abismo de miséria, e era mais digna de pena porque
estava submersa nas trevas da superstição, quando na plenitude dos tempos e pelos desígnios de
Deus, a luz brilhou sobre o mundo, e os méritos de Cristo, o Redentor, foram derramados sobre a
humanidade. Por esse meio, eles foram retirados do pântano e da aflição da escravidão, e trazidos
de volta da terrível escravidão do pecado à sua alta dignidade como filhos de Deus. Assim, os
Apóstolos, nos primórdios da Igreja, entre outros preceitos para uma vida devota, ensinavam e
expunham a doutrina que mais de uma vez ocorre nas Epístolas de São Paulo dirigidas aos novos
batizados: “Pois vós sois todos os filhos de Deus pela fé, em Jesus Cristo. Porque todos quantos
fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. Não há judeu nem grego; nem escravo nem
livre; não há homem nem mulher. Pois todos vós sois um em Cristo Jesus.”. “Aí não haverá mais
grego nem judeu, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre, mas somente Cristo, que será
tudo em todos.”. “Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo,
judeus ou gregos, escravos ou livres; e todos fomos impregnados do mesmo Espírito.”. Palavras
de ouro, de fato, lições nobres e saudáveis, pelas quais sua antiga dignidade é devolvida e
aumentada à raça humana, e homens de qualquer terra ou língua de classe estão juntos e unidos
nos fortes laços de parentesco fraterno. Essas coisas, São Paulo, com aquela caridade cristã de que
estava cheio, aprendeu do próprio coração dAquele que, com muita bondade insuperável, se
entregou para ser irmão de todos nós, e em sua própria pessoa, sem omitir ou excluir qualquer
um, homens tão enobrecidos que se tornem participantes da natureza divina. Por meio dessa
caridade cristã, as várias raças de homens foram reunidas sob a orientação divina de maneira tão
maravilhosa que floresceram em um novo estado de esperança e felicidade pública; como com o
passar dos tempos e dos acontecimentos e o trabalho constante da Igreja, as várias nações
puderam reunir-se, cristãs e livres, organizadas de novo à maneira de uma família.

Desde o início, a Igreja não poupou esforços para fazer com que o povo cristão, em um assunto de
tão alta importância, aceitasse e sustentasse firmemente os verdadeiros ensinamentos de Cristo e
dos Apóstolos. E agora através do novo Adão, que é Cristo, é estabelecida uma união fraterna
entre homem e homem, e entre pessoas e pessoas; assim como na ordem da natureza todos eles
têm uma origem comum, assim na ordem que está acima da natureza todos eles têm uma e a
mesma origem na salvação e na fé; todos são chamados para serem filhos adotivos de Deus e do
Pai, que pagou o mesmo resgate por todos nós; somos todos membros do mesmo corpo, todos
podem participar do mesmo banquete divino, e a todos nós são oferecidas as bênçãos da graça
divina e da vida eterna. Tendo estabelecido esses princípios como primórdios e fundamentos, a
Igreja, como uma mãe terna, procurou encontrar algum alívio para as dores e desgraças da vida
do escravo; com este fim em vista, ela definiu claramente e fez valer fortemente os direitos e
deveres mútuos de senhores e escravos, conforme estão estabelecidos nas cartas dos Apóstolos.
Foi com essas palavras que os Príncipes dos Apóstolos admoestaram os escravos que haviam
admitido no redil de Cristo. “Servos, sede obedientes aos senhores com todo o respeito, não só
aos bons e moderados, mas também aos de caráter difícil.”. “Servos, obedecei aos vossos se-
nhores temporais, com temor e solicitude, de coração sincero, como a Cristo, não por mera
ostentação, só para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, que fazem de bom grado a
vontade de Deus. Servi com dedicação, como servos do Senhor e não dos homens. E estai certos
de que cada um receberá do Senhor a recompensa do bem que tiver feito, quer seja escravo,
quer livre.” São Paulo diz o mesmo a Timóteo: “Todos os que vivem sob o jugo da servidão
considerem seus senhores dignos de toda honra, para que não sejam caluniados o nome de Deus
e sua doutrina. E os que têm patrões que abraçaram a fé, nem por isso os menosprezem, sob
pretexto de serem irmãos. Ao contrário, deverão servi-los ainda melhor, pelo fato de que eles
são fiéis amados de Deus e participantes de seus benefícios. Tal deve ser o tema de teus
ensinamentos e de tuas exortações.”. Da mesma maneira, ele ordenou a Tito que exortasse os
servos a serem “submissos a seus senhores e atentos em agradar-lhes. Em lugar de reclamar
deles e defraudá-los, procurem em tudo testemunhar-lhes incondicional fidelidade, para que por
todos seja respeitada a doutrina de Deus, nosso Salvador.”.

Aqueles primeiros discípulos da fé cristã entenderam muito bem que esta igualdade fraterna de
todos os homens em Cristo não deveria diminuir ou depreciar o respeito, a honra, a fidelidade e
outros deveres devidos aos que estão acima deles. A partir disso, muitos bons resultados se
seguiram, de modo que os deveres se tornaram mais certos de serem executados, e mais leves e
agradáveis de fazer, e ao mesmo tempo mais frutíferos na obtenção da glória do céu. Assim, eles
trataram seus mestres com reverência e honra, como homens revestidos da autoridade dAquele de
quem vem todo o poder. Entre esses discípulos, o motivo da ação não era o medo do castigo ou
qualquer prudência esclarecida ou sugestões de utilidade, mas a consciência do dever e a força da
caridade. Por outro lado, os senhores foram sabiamente aconselhados pelo Apóstolo a tratar seus
escravos com consideração em troca de seus serviços: “Senhores, procedei também assim com os
servos. Deixai as ameaças. E tende em conta que o Senhor está no céu, Senhor tanto deles como
vosso, que não faz distinção de pessoas.”. Eles também foram instruídos a lembrar que o escravo
não tinha motivos para se arrepender de sua sorte, visto que ele é “o homem livre do Senhor”,
nem o homem livre, visto que ele é “o servo de Cristo”, para se sentir orgulhoso, e para dar seus
comandos com arrogância. Incutiu-se nos senhores que eles deveriam reconhecer em seus
escravos seus semelhantes e respeitá-los de acordo, reconhecendo que por natureza eles não eram
diferentes de si mesmos, que pela religião e em relação à majestade de seu Senhor comum todos
eram iguais. Esses preceitos, tão bem calculados para introduzir harmonia entre as várias partes
da sociedade doméstica, foram praticados pelos próprios Apóstolos. Especialmente notável é o
caso de São Paulo quando se esforçou em favor de Onésimo, o fugitivo de Filêmon, com quem, ao
devolvê-lo ao seu mestre, ele enviou esta recomendação amorosa: “E Torno a enviá-lo para junto
de ti, e é como se fora o meu próprio coração [...] não já como escravo, mas bem mais do que
escravo, como irmão caríssimo […] Se ele te causou qualquer prejuízo ou está devendo alguma
coisa, lança isso em minha conta.”.

Quem comparar a atitude pagã e cristã em relação à escravidão chegará facilmente à conclusão de
que uma foi marcada por grande crueldade e maldade, e a outra por grande gentileza e
humanidade, nem será possível tirar à Igreja o crédito devido à ela como o instrumento dessa feliz
mudança. E isso se torna ainda mais evidente quando consideramos cuidadosamente com que
ternura e com que prudência a Igreja cortou e destruiu essa terrível maldição da escravidão. Ela
reprovou qualquer ação precipitada para garantir a alforria e a libertação dos escravos, porque
isso teria acarretado tumultos e causado danos, tanto aos próprios escravos quanto à comunidade,
mas com sabedoria singular ela viu que as mentes dos escravos deve ser instruída por meio de sua
disciplina na fé cristã, e com o batismo deve adquirir hábitos adequados à vida cristã. Portanto,
quando, em meio à multidão de escravos que ela contou entre seus filhos, alguns, desviados por
alguma esperança de liberdade, recorreram à violência e à sedição, a Igreja sempre condenou
esses esforços ilegais e se opôs a eles, e por meio de seus ministros aplicou o remédio da paciência.
Ela ensinou os escravos a sentirem que, em virtude da luz da santa fé e do caráter que receberam
de Cristo, eles desfrutavam de uma dignidade que os colocava acima de seus senhores pagãos,
mas que eram obrigados mais estritamente pelo Autor e Fundador de sua própria fé para nunca se
colocar contra eles, ou mesmo faltar na reverência e obediência devidas a eles. Sabendo-se os
escolhidos do Reino de Deus, dotados da liberdade de seus filhos e chamados para as coisas boas
que não são desta vida, puderam trabalhar sem se deixar abater pelas tristezas e angústias deste
mundo passageiro, mas com olhos e corações voltados para o céu foram consolados e fortalecidos
em suas santas resoluções. São Pedro se dirigia especialmente aos escravos quando escreveu:
“Com efeito, é coisa agradável a Deus sofrer contrariedades e padecer injustamente, por motivo
de consciência para com Deus. Que mérito teria alguém se suportasse pacientemente os açoites
por ter praticado o mal? Ao contrário, se é por ter feito o bem que sois maltratados, e se o
suportardes pacientemente, isso é coisa agradável aos olhos de Deus. Ora, é para isso que fostes
chamados. Também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que sigais os seus
passos.”.

O mérito desta solicitude aliada à moderação, que de modo tão maravilhoso adorna os poderes
divinos da Igreja, é aumentado pela coragem maravilhosa e invencível com que soube inspirar e
sustentar tantos pobres escravos. Era uma visão maravilhosa contemplar aqueles que, em sua
obediência e paciência com que se submetiam a todas as tarefas, eram um exemplo para seus
mestres, recusando-se a se deixar persuadir a preferir os mandamentos perversos de seus
superiores a santa lei de Deus, e até entregando suas vidas nas mais cruéis torturas com corações
invencíveis e frontes límpidos. As páginas de Eusébio mantêm viva para nós a lembrança da
inabalável constância da virgem Potamiena, que, em vez de consentir em satisfazer as
concupiscências de seu mestre, aceitou destemidamente a morte e selou sua fidelidade a Jesus
Cristo com seu sangue. Muitos outros exemplos admiráveis abundam de escravos que, pelo bem
de suas almas e para manter sua fé em Deus, resistiram a seus senhores até a morte. A história
não tem caso para mostrar escravos cristãos por qualquer outra causa se opondo a seus mestres
de se juntarem a conspirações contra o Estado.

A partir daí, restabelecidos os tempos de paz e sossego na Igreja, os santos Padres fizeram uma
sábia e admirável exposição dos preceitos apostólicos sobre a fraterna unanimidade que deve
existir entre os cristãos, e com igual caridade a estenderam em benefício dos escravos, esforçando-
se para apontar que os direitos dos mestres se estendiam legalmente de fato sobre as obras de
seus escravos, mas que seu poder não se estendia ao uso de horríveis crueldades contra suas
pessoas. São Crisóstomo é preeminente entre os gregos, que frequentemente trata deste assunto, e
afirma com mente e língua exultantes que a escravidão, no antigo significado da palavra, havia
desaparecido naquela época pela beneficência da fé cristã, então que parecia e era uma palavra
sem sentido entre os discípulos do Senhor. Pois Cristo, de fato (assim ele resume seu argumento),
quando em Sua grande misericórdia para conosco Ele enxugou o pecado contraído por nosso
nascimento, ao mesmo tempo curou as múltiplas corrupções da sociedade humana; de modo que,
como a própria morte por meio Dele deixou de lado seus terrores e se tornou uma passagem
pacífica para uma vida feliz, também a escravidão foi banida. Portanto, não chame nenhum
cristão de escravo, a menos que, de fato, ele esteja novamente sujeito ao pecado; eles são
totalmente irmãos que nasceram de novo e foram recebidos em Cristo Jesus. Nossas vantagens
fluem do novo nascimento e adoção na família de Deus, não da eminência de nossa raça; nossa
dignidade surge do louvor de nossa verdade, não de nosso sangue. Mas, para que esse tipo de
fraternidade evangélica possa dar mais frutos, é necessário que nas ações de nossa vida cotidiana
haja um intercâmbio voluntário de gentilezas e bons ofícios, de modo que os escravos sejam
estimados em conta quase igual aos demais. de nossa família e amigos, e que o dono da casa deve
fornecer-lhes, não apenas com o que é necessário para sua vida e comida, mas também todas as
garantias necessárias de treinamento religioso. Finalmente, do discurso marcado de Paulo a
Filêmon, oferecendo graça e paz "à igreja que se reúne em tua casa", o preceito deve ser mantido
em respeito igualmente por mestres e servos cristãos, de que aqueles que têm uma intercomunhão
de fé deve ter também uma intercomunhão de caridade.

Dos autores latinos, lembramos digna e justamente a Santo Ambrósio, que tão seriamente
investigou tudo o que era necessário nesta causa, e tão claramente atribui o que é devido a cada
tipo de homem de acordo com as leis do Cristianismo, que nenhum jamais o conseguiu melhor,
cujos sentimentos, é desnecessário dizer, coincidem plena e perfeitamente com os de São
Crisóstomo. Essas coisas foram, como é evidente, estabelecidas de maneira mais justa e útil; ainda
mais, o ponto principal é que eles foram observados total e religiosamente desde os primeiros
tempos, onde quer que a profissão da fé cristã tenha florescido. A menos que esse fosse o caso,
aquele excelente defensor da religião, Lactâncio, não poderia tê-la mantido com tanta confiança,
como se fosse uma testemunha dela. “Se alguém disser: Não há entre vocês alguns pobres,
alguns ricos, alguns escravos, alguns que são senhores; não há diferença entre pessoas
diferentes? Eu respondo: Não há, nem há outra causa pela qual nos chamamos pelo nome de
irmão do que nos considerarmos iguais; primeiro, quando medimos todas as coisas humanas,
não pelo corpo, mas pelo espírito, embora sua condição corporal seja diferente da nossa, mas
em espírito eles não são escravos de nós, mas os estimamos e os chamamos de irmãos,
cooperadores na religião.”.17

O cuidado da Igreja estendeu-se à proteção dos escravos e, sem interrupção, tendeu


cuidadosamente a um objetivo: que eles finalmente fossem restaurados à liberdade, o que
conduziria grandemente ao seu bem-estar eterno. Que o evento respondeu alegremente a esses
esforços, os anais da sagrada antiguidade fornecem provas abundantes. Nobres matronas,
tornadas ilustres pelos elogios de São Jerônimo, forneceram grande ajuda para levar a efeito este
assunto; de modo que, como relata Salviano, nas famílias cristãs, embora não muito ricas, muitas
vezes acontecia que os escravos eram libertados por uma generosa alforria. Mas, também, São
Clemente muito antes elogiou aquela excelente obra de caridade pela qual alguns cristãos se
tornaram escravos, por uma troca de pessoas, porque de outra forma não poderiam libertar
aqueles que estavam em cativeiro. Por isso, além do fato de que o ato de alforria começou a
realizar-se nas igrejas como um ato de piedade, a Igreja ordenou que fosse proposto aos fiéis

17 Institutos Divinos, Livro V, Capítulo XVI


quando estão prestes a fazer suas vontades, como uma obra muito agradável a Deus e de grande
mérito e valor com Ele. Portanto, esses preceitos de alforria para o herdeiro foram introduzidos
com as palavras: “pelo amor de Deus, pelo bem-estar ou benefício de minha alma”. Tampouco
houve ressentimento quanto ao preço dos cativos, venderam-se dons dedicados a Deus,
derreteram-se ouro e prata consagrados, alienaram-se os ornamentos e dons das basílicas, como,
de fato, mais de uma vez fizeram Ambrósio, Agostinho, Hilário, Elígio, Patrício e muitos outros
homens santos.

Além disso, os Romanos Pontífices, que sempre agiram, como a história verdadeiramente relata,
como protetores dos fracos e ajudantes dos oprimidos, fizeram o melhor para os escravos. O
próprio São Gregório colocou em liberdade o maior número possível e, no Concílio Romano de
597, desejou que recebessem sua liberdade aqueles que estavam ansiosos para entrar no estado
monástico. Adriano I sustentava que os escravos podiam contrair matrimônio livremente, mesmo
sem o consentimento de seus senhores. Foi claramente ordenado por Alexandre III no ano de 1167
ao rei mouro de Valência que ele não deveria escravizar nenhum cristão, porque ninguém era
escravo pela lei da natureza, todos os homens foram libertados por Deus. Inocêncio III, no ano de
1190, pela oração de seus fundadores, João de Matha e Félix de Valois, aprovou e instituiu a
Ordem da Santíssima Trindade para os Redentores dos Cristãos que haviam caído em poder dos
turcos. Posteriormente, Honório III e, posteriormente, Gregório IX, devidamente aprovaram a
Ordem de Santa Maria Auxiliadora, fundada com semelhante fim, que Pedro Nolasco havia
instituído, e que incluía a regra severa de que seus religiosos se entregassem como escravos no
lugar de cristãos levados cativos por tiranos, se for necessário para resgatá-los. O mesmo São
Gregório aprovou um decreto, que era um apoio muito maior à liberdade, de que era ilegal vender
escravos para a Igreja, e acrescentou ainda uma exortação aos fiéis de que, como punição por suas
faltas, deveriam dar seus escravos para Deus e Seus santos como um ato de expiação.

Existem também muitas outras boas ações da Igreja no mesmo interesse. Pois ela, de fato, estava
acostumada por penalidades severas a defender os escravos da raiva selvagem e dos ferimentos
cruéis de seus mestres. Ela estava acostumada a abrir seus templos sagrados como lugares de
refúgio para aqueles sobre os quais a mão da violência havia repousado, para receber os homens
livres em sua boa fé e para restringir pela censura aqueles que ousaram por maus incentivos levar
um homem de volta à escravidão. Da mesma forma, ela era ainda mais favorável à liberdade dos
escravos que, por qualquer meio, ela mantinha como seus, de acordo com os tempos e lugares;
quando ela estabeleceu que deveriam ser libertados pelos bispos de todos os laços de escravidão
que se mostraram durante um certo tempo de prova de louvável honestidade de vida, ou quando
ela facilmente permitiu que os bispos por sua própria vontade declarassem aqueles pertencentes a
eles livre. Também deve ser atribuído à compaixão e à virtude da Igreja que um pouco da pressão
da lei civil sobre os escravos foi remitida e, na medida em que foi provocada, que os alívios mais
brandos de Gregório o Grande, tendo sido incorporados no direito escrito das nações, entrou em
vigor. Isso, no entanto, foi feito principalmente pela agência de Carlos Magno, que os incluiu em
sua “Capitularia”, como Graciano fez posteriormente em seu “Decretum”. Finalmente,
monumentos, leis, instituições, através de uma série contínua de épocas, ensinam e demonstram
esplendidamente o grande amor da Igreja para com os escravos, cuja condição miserável ela
nunca deixou desamparada e sempre aliviada com o melhor de seu poder. Portanto, jamais
poderão ser retribuídos elogios ou agradecimentos suficientes à Igreja Católica, banidora da
escravidão e causadora da verdadeira liberdade, fraternidade e igualdade entre os homens, pois
ela o mereceu pela prosperidade das nações, pela grandíssima beneficência de Cristo. nosso
Redentor.

No final do século XV, época em que a mancha vil da escravidão havia sido quase apagada entre as
nações cristãs, em que os Estados estavam ansiosos para permanecer firmemente na liberdade
evangélica e também para aumentar seu império, esta sé apostólica tomou o maior cuidado que os
germes malignos de tal depravação não devem reviver em nenhum lugar. Ela, portanto, dirigiu
sua providente vigilância às regiões recém-descobertas da África, Ásia e América; pois chegou a
ela um relatório de que os líderes dessas expedições, embora fossem cristãos, estavam
perversamente fazendo uso de suas armas e engenhosidade para estabelecer e impor a escravidão
a essas nações inocentes. De fato, como a natureza rude do solo que eles tiveram que superar, nem
menos a riqueza de metais que tiveram que ser extraídos por meio de escavações exigiam um
trabalho muito duro, planos injustos e desumanos foram feitos. Pois iniciou-se um certo tráfico,
sendo para o efeito transportados escravos da Etiópia, que, naquela época, sob o nome de “La
tratta dei Negri”, ocupava demasiado aquelas colônias. Uma opressão dos habitantes indígenas
(que são chamados coletivamente de índios), muito parecida com a escravidão, seguida de maus-
tratos semelhantes.

Quando Pio II se assegurou sem demora desses assuntos, em 7 de outubro de 1462, ele deu uma
carta ao bispo do lugar em que reprovou e condenou tal maldade. Algum tempo depois, Leão X
emprestou, na medida do possível, seus bons ofícios e autoridade aos reis de Portugal e Espanha,
que cuidaram de extirpar radicalmente aquele abuso, oposto tanto à religião, à humanidade e à
justiça. No entanto, aquele mal, tendo crescido forte, permaneceu lá, com sua causa impura, o
desejo inextinguível de ganho, permanecendo. Então Paulo III, preocupado com um amor
paternal quanto à condição dos índios e dos escravos mouros, chegou a esta última determinação,
que em pleno dia e, por assim dizer, à vista de todas as nações, declarou que eles todos tinham um
direito justo e natural de caráter tríplice, a saber, que cada um deles era senhor de sua própria
pessoa, que podiam viver juntos sob suas próprias leis e que podiam adquirir e manter
propriedades para si mesmos. Mais ainda, tendo enviado cartas ao Cardeal Arcebispo de Toledo,
pronunciou a interdição e privação dos sacramentos contra os que contrariam o referido decreto,
reservando ao Romano Pontífice o poder de os absolver.

Com a mesma premeditação e constância, outros pontífices em um período posterior, como


Urbano VIII, Bento XIV e Pio VII, mostraram-se fortes defensores da liberdade para os índios e
mouros e aqueles que ainda não foram instruídos na fé cristã. O último, além disso, no Conselho
dos Príncipes Confederados da Europa, realizado em Viena, chamou sua atenção em comum para
este ponto, que o tráfico de negros, do qual falamos antes, e que agora havia cessado em muitos
lugares, deveria ser completamente erradicado. Gregório XVI também censurou severamente
aqueles que negligenciam os deveres da humanidade e as leis, e restaurou os decretos e
penalidades estatutárias da sé apostólica, e não deixou de tentar que as nações estrangeiras,
também, seguindo a bondade dos europeus, cessassem e abominassem a desgraça e a brutalidade
da escravidão. Mas foi muito feliz para Nós recebermos as felicitações dos principais príncipes e
governantes dos negócios públicos por termos obtido, graças a Nossos constantes pedidos, alguma
satisfação pelas queixas de longa data e mais justas da natureza e da religião.

Temos, no entanto, em Nossa mente, em uma questão do mesmo tipo, outro cuidado que não nos
causa nenhuma ansiedade leve e pressiona Nossa solicitude. Esse comércio vergonhoso de
homens, de fato, deixou de ocorrer por mar, mas em terra é feito em uma extensão muito grande e
bárbara, e isso especialmente em algumas partes da África. Pois, tendo sido perversamente
estabelecido pelos maometanos que os etíopes e homens de nações semelhantes são muito pouco
superiores aos animais brutos, é fácil ver e estremecer com a perfídia e crueldade do homem. De
repente, como saqueadores fazendo um ataque, eles invadem as tribos dos etíopes, sem temer tal
coisa; eles correm para suas aldeias, casas e cabanas; eles devastam, destroem e apreendem tudo;
eles conduzem para longe dali os homens, mulheres e crianças, facilmente capturados e
amarrados, para que possam arrastá-los à força para seu tráfico vergonhoso. Essas odiosas
expedições são feitas ao Egito, Zanzibar e, em parte, também ao Sudão, como se fossem várias
estações. Os homens, acorrentados, são obrigados a fazer longas viagens, mal alimentados, sob o
uso frequente do chicote; aqueles que são fracos demais para passar por isso são mortos; aqueles
que são fortes o suficiente vão como um rebanho com uma multidão de outros para serem
vendidos e entregues a um comprador brutal e desavergonhado. Mas quem é assim vendido e
abandonado está exposto ao que é uma separação miserável de esposas, filhos e pais, e é
conduzido por aquele em cujo poder ele cai em uma escravidão dura e indescritível; tampouco
pode recusar a obedecer aos ritos religiosos de Maomé. Não faz muito tempo que recebemos essas
coisas com a maior amargura de alguns que foram testemunhas oculares, embora chorosas, desse
tipo de infâmia e miséria; com estes, aliás, coincide inteiramente o que foi relatado ultimamente
pelos exploradores na África equatorial. É de fato manifesto, por seu testemunho e palavra, que a
cada ano 400,000 africanos são geralmente vendidos como gado, cerca de metade dos quais,
exaustos pela aspereza dos trilhos, caem e perecem ali, de modo que, triste relatar, aqueles que
viajam por esses lugares veem o caminho coberto de restos de ossos.

Quem não se emocionaria com o pensamento de tais misérias. Nós, de fato, que ocupamos o lugar
de Cristo, o amoroso Libertador e Redentor de toda a humanidade, e que nos regozijamos com as
muitas e gloriosas boas ações da Igreja para todos os que estão aflitos, mal podemos expressar
quão grande é Nossa comiseração por essas infelizes nações, com que plenitude de caridade
abrimos nossos braços para elas, com que ardor desejamos poder oferecer-lhes todo alívio e
apoio, com a esperança de que, tendo se livrado da escravidão da superstição e da escravidão do
homem, eles podem finalmente servir ao único Deus verdadeiro sob o suave jugo de Cristo,
participantes conosco da herança divina. Oxalá todos os que ocupam altos cargos de autoridade e
poder, ou que desejam que os direitos das nações e da humanidade sejam considerados sagrados,
ou que sinceramente se dedicam aos interesses da religião católica, todos, em todos os lugares,
agindo de acordo com Nossas exortações e desejos, lutem juntos para reprimir, proibir e pôr fim a
esse tipo de tráfico, do qual nada é mais vil e perverso.

Nesse ínterim, enquanto por uma aplicação mais árdua de engenhosidade e trabalho novas
estradas estão sendo feitas e novos empreendimentos comerciais empreendidos nas terras da
África, que os homens apostólicos se esforcem para descobrir a melhor maneira de garantir a
segurança e a liberdade dos escravos. Não obterão êxito nesta matéria senão se, fortalecidos pela
graça divina, se entregarem à difusão da nossa santíssima fé e ao cuidado diário dela, cujo fruto
distintivo é que saboreia e desenvolve maravilhosamente a liberdade “com a qual Cristo nos
libertou”. Aconselhamo-los, portanto, a contemplar, como num espelho de virtude apostólica, a
vida e as obras de São Pedro Claver, a quem ultimamente acrescentamos uma coroa de glória. Que
olhem para aquele que por quarenta anos se entregou a ministrar com a maior constância em seus
trabalhos, a uma miserável assembleia de escravos mouros; verdadeiramente ele deveria ser
chamado o apóstolo daqueles cujo servo constante ele se professou e se entregou a ser. Se eles se
esforçarem para assumir e refletir a caridade e a paciência de tal homem, eles brilharão de fato
como dignos ministros da salvação, autores de consolação, mensageiros da paz, que, com a ajuda
de Deus, podem transformar a solicitude, a desolação e a ferocidade na mais alegre fertilidade da
religião e da civilização.
E agora, veneráveis irmãos, Nossos pensamentos e cartas desejam dirigir-se a vocês, para que
possamos novamente anunciamos e novamente compartilhar com vocês a grande alegria que
sentimos por causa das determinações que foram publicamente aceitas naquele império em
relação a escravidão. Se, de fato, nos pareceu um acontecimento bom, feliz e propício, que fosse
estabelecido e exigido por lei que quem ainda estivesse na condição de escravos deveria ser
admitido na condição e direitos de homens livres, assim também conforma e aumenta a nossa
esperança de atos futuros que serão motivo de alegria, tanto em matéria civil como religiosa.
Assim, o nome do Império do Brasil será justamente tido em honra e louvor entre as nações mais
civilizadas, e o nome de seu augusto imperador também será estimado, cujo excelente discurso
está registrado, que ele desejou nada mais ardentemente do que todo vestígio de escravidão ser
rapidamente eliminado de seus territórios. Mas, na verdade, até que esses preceitos das leis sejam
levados a efeito, empenhe-se sinceramente, Nós lhe rogamos, por todos os meios, e pressione o
máximo possível a realização deste assunto, que nenhuma dificuldade leve impede. Por vosso
meio, faça-se possível que senhores e escravos possam concordar mutuamente com a mais alta
boa vontade e boa fé, nem que haja qualquer transgressão de clemência ou justiça, mas, tudo o
que tiver que ser feito, que tudo seja feito legalmente, com moderação e de maneira cristã. É, no
entanto, principalmente desejável que isso possa ser realizado com prosperidade, o que todos
desejam, que a escravidão seja banida e abolida sem nenhum dano aos direitos divinos ou
humanos, sem agitação política e, portanto, com o sólido benefício do próprios escravos, por
quem é empreendido.

A cada um deles, sejam eles já libertados ou prestes a sê-lo, dirigimos com intenção pastoral e
espírito paterno algumas salutares advertências extraídas das palavras do grande Apóstolo dos
Gentios. Que eles, então, se esforcem piedosamente e constantemente para reter memória e
sentimento agradecidos para com aqueles por cujo conselho e esforço eles foram libertados. Que
eles nunca se mostrem indignos de tão grande dom, nem confundam liberdade com
licenciosidade; mas deixe-os usá-lo como convém a cidadãos bem ordenados para a indústria de
uma vida ativa, para benefício e vantagem tanto de sua família quanto do Estado. Respeitar e
aumentar a dignidade de seus príncipes, obedecer aos magistrados, ser obedientes às leis, esses e
outros deveres semelhantes permitem que eles cumpram diligentemente, sob a influência, não
tanto do medo quanto da religião; que eles também restrinjam e mantenham em sujeição a inveja
da riqueza ou posição de outro, que infelizmente aflige diariamente tantos daqueles em posições
inferiores e apresenta tantos incitamentos de rebelião contra a segurança da ordem e da paz.
Satisfeitos com seu estado e sorte, não pensem em nada mais caro, não desejem nada mais
ardentemente do que as boas coisas do reino celestial por cuja graça foram trazidos à luz e
redimidos por Cristo; deixe-os sentir piedosamente em relação a Deus, que é seu Senhor e
Libertador; deixe-os amá-lo, com todo o seu poder; que guardem Seus mandamentos com todas
as suas forças; regozijem-se por serem filhos de Sua esposa, a Santa Igreja; deixe-os trabalhar
para ser o melhor possível e, tanto quanto puderem, deixe-os retribuir cuidadosamente o Seu
amor. Vocês também, Veneráveis Irmãos, sejam constantes em mostrar e exortar aos libertos
essas mesmas doutrinas; que, aquela que é a nossa principal oração, e ao mesmo tempo deveria
ser a sua e a de todas as pessoas boas, a religião, entre as primeiras, pode sempre sentir que ela
ganhou os mais amplos frutos daquela liberdade que foi obtida onde quer que que o império se
estende.

Mas para que felizmente aconteça, rogamos e imploramos a plena graça de Deus e o auxílio
maternal da Virgem Imaculada. Como antegozo dos dons celestiais e testemunho da nossa
paterna boa vontade para convosco, veneráveis irmãos, vosso clero e todo o vosso povo, com amor
concedemos a bênção apostólica.

Dado em São Pedro, em Roma, no dia cinco de maio de 1888, décimo primeiro do nosso
pontificado.

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