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02 de março de 2021.

À Secretaria da
Igreja Adventista do Sétimo Dia - Central

Prezados,

Saúdo a todos os grandes amigos que fiz na Igreja Adventista do Sétimo dia e
escrevo esta carta em conformidade com o conhecimento adquirido em fontes que nunca
antes tive acesso, para solicitar minha desvinculação desta igreja, muito agradecido a Deus
pelo carinho que sempre recebi e certo de que meus trabalhos por anos nesta obra foram
sinceros e sempre tiveram a intenção de aproximar as pessoas de Jesus.
Para isso, relato, a seguir, alguns dos motivos para meu desligamento, a saber o
atual entendimento de que algumas doutrinas distintivas da IASD não são necessariamente
como ela prega quando confrontamos com a leitura bíblica em seu contexto.

A guarda do mandamento do Shabat do sétimo dia sempre foi contraditória no


adventismo. A maneira como se observa o mandamento ou se guarda esse dia sempre
deixou margem para exageros, pressões e assédio moral. Existe uma confusão e um anseio
por não errar que acaba o tornando um verdadeiro fardo (como o apóstolo Paulo define em
Gálatas:3), para quem tenta guardá-lo.
A divisão de lei moral e cerimonial não é respaldada pela Bíblia e o decálogo é, em
si, uma síntese dos mais de seiscentos mandamentos que existiam na época. Contudo,
aprendemos erroneamente, na IASD, que esses mais de 600 dogmas foram criados apenas
para “proteger” ou enfatizar a guarda dos mandamentos, e, principalmente do sábado,
quando na realidade eles formam um todo.
Não obstante a igreja sempre acusar os fariseus, em pregações no púlpito, dizendo
que eles colocaram mais de 600 dogmas sobre o quarto mandamento, e que esses dogmas
foram criados para conseguir guardar melhor o mandamento, como aqueles absurdos de não
levar determinado peso na roupa, não caminhar certa distância no dia de sábado, ainda se
vê a influência dessas proibições acompanhadas do discurso de que somos os “guardiões
do Sábado”. O mandamento em si não explicita o que se pode fazer, mas sim o que não se
deve fazer no sábado.
Fica óbvio que, por meio de políticas de controle, o sistema adventista se mantém
pregando a necessidade de seus fiéis ficarem o dia todo de sábado trabalhando para a
“obra adventista”, e claro, voluntariamente, já que é sábado, e para alimentar o sistema.
A maneira como vemos a liderança guardando o mandamento anula sua própria
pregação. Se fosse tão importante assim, quando a igreja recebe outros pastores ou
missionários que vêm de fora para fazer um seminário ou semana de oração, no meu
entendimento, acredito que deveriam hospedar uns aos outros em suas viagens para não
ficarem em hotéis, alimentarem-se em restaurantes no dia de sábado .
Os próprios ministros aprovam para si fazer coisas no sábado ao passo que reprovam a
congregação. Quando viajam, ficam em hotéis, comem em restaurantes, não preparam uma
marmita para o sábado, como muitos de nós estamos acostumados a fazer no dia a dia por
motivo de economia. Ao mesmo tempo, observa-se que reprovam as crianças por brincarem
aos sábados, reprovam até mesmo um trabalho voluntário dos membros em prol de um outro
ser humano se ele for realizado no sábado, mesmo que esse seja o único dia disponível.
Mas os ministros do evangelho, de maneira bem normal, têm descanso sabático na sua
folga da segunda-feira, o que é demasiado estranho pois o sábado deveria ser o seu dia de
descanso como para os demais membros.
Não obstante preguem aos outros que não se pode comprar nem vender no sábado,
usufruem dos serviços da camareira, do mensageiro, do recepcionista do manobrista, do
cozinheiro, da companhia de internet, telefone, água, energia elétrica… Ou seja, uma guarda
contraditória e esquisita do mandamento que eles mesmos não sabem como se deve
guardar.
Um exemplo muito claro disso, atualmente, ocorre nos acampamentos e outros
encontros da igreja em que se faz a contratação da cozinha industrial, sonoplastia etc, para
execução de trabalho aos sábados, fazendo o pagamento em outro dia da semana como
forma de se eximir de culpa.... Mas, isso pode? Essa confusão de não se saber o que se
pode e o que não se pode fazer e ter que estar sempre sob o juízo particular de uma
igreja/um pastor/um grupo de líderes: isso pode, aquilo não pode… nós podemos, a
congregação não pode…, evidencia que o mandamento não é como se prega ou
simplesmente não é para os nossos dias.
Eu entendo que o povo de Israel precisava de uma norma de conduta, ela foi dada para
um povo que estava saindo da escravidão, pessoas que estavam com uma nova perspectiva
de vida, pessoas que estavam saindo de um sistema tirano e opressor, pessoas que viviam
tratadas como animais durante sua escravidão no Egito por mais de 300 anos, (Será que
estudaram? Será que havia alguma gentileza para com este povo ou até mesmo entre eles?
Será que havia algum tempo de descanso? Será que eles mesmos permitiam-se descansar?
Quando pensamos em pessoas brutas, hostis, pessoas ignorantes, pessoas sem
sensibilidade, que teriam a tendência de tratar os demais como haviam sido tratadas durante
sua escravidão, entendemos o estado de ignorância desse povo quando lembramos que
Moisés chegou a ponto de ter que orientá-los a enterrar suas próprias fezes, Deut 23:13
Como parte do seu equipamento, tenham algo com que cavar, e quando evacuarem, façam
um buraco e cubram as fezes.
Desse trecho podemos imaginar que tipo de gente estava sendo retirada da terra do
Egito. E agora, esse povo livre tem a oportunidade de ter escravos, porque Deus permitiu
que eles fizessem escravos, por conta das dívidas de uns para com os outros e por conta
das guerras. Imagina uma pessoa bruta (sabemos de muitos relatos de coisas que
aconteciam no velho testamento que demonstram e provam isso) uma gente grosseira,
podendo escravizar outra pessoa? Seria algo terrível e sem limites. Penso que, além de
oferecer seu descanso por meio da libertação do cativeiro, Deus também deixou o quarto
mandamento como uma forma de impedir os excessos ou abusos.
A maioria dos mandamentos do decálogo tratam de tudo o que o povo não deveria
fazer, provavelmente porque o estavam fazendo. Estavam fazendo ídolos, adulterando,
matando uns aos outros, abusando de si mesmos e dos outros… Deus intervém e coloca
limites para que esse povo se voltasse a ele em gratidão e, de igual modo, estendesse essa
graça a seus servos, sua família, seus animais.
É um mandamento muito importante, principalmente naquela época da história do
mundo. Ele deveria vigorar até que Jesus viesse, alguém pode argumentar que Jesus
guardou o sábado... Obviamente, Jesus o fez como todo o judeu, e como tal, ia à sinagoga
aos sábados, mas passou a demonstrar que, conquanto os efeitos morais do sábado são
universais, seus efeitos cerimoniais não o são, assim sendo, colheu cereal no sábado e
também fez outras coisas pelas quais foi julgado e morto.
Nos estudos bíblicos da IASD, somos induzidos a aceitar a ideia de que o que os judeus
faziam era o correto, prova disso é que quando dizem que as mulheres não prepararam o
corpo de Jesus após a sua morte foi porque já era sábado, e Jesus descansou no túmulo no
sábado. Isso é uma indução ao pensamento que apoia suas ideias, em nenhum momento na
bíblia diz que o que elas fizeram deveria ser seguido na era da Igreja Cristã, elas o fizeram
por serem judias. Também não há afirmação de que Jesus descansaria depois de morto
conforme o mandamento, mas sim que ele ressuscitaria no terceiro dia (isso é profético
não doutrinal). O cumprimento da profecia, que é o mais importante do texto bíblico, é o que
recebe menor visibilidade nos estudos induzidos da igreja pela simples necessidade de
perpetuar suas doutrinas.
No Novo Testamento, Paulo fala claramente aos outros apóstolos que os mandamentos
de Deus eram um fardo (Gálatas, 3). Paulo e os Cristãos entenderam que o decálogo e toda
Lei de Moisés, logo, também o Shabat do sétimo dia, circuncisão entre outros faziam
parte de um único conjunto de leis que tinham características tanto morais quanto
cerimoniais, contudo, em nenhum momento da Bíblia aparece a divisão como a IASD
afirma, ou seja, que o decálogo era moral e todos os outros preceitos eram
cerimoniais. O próprio sábado possui perfil tanto moral quanto cerimonial. Assim, por se
tratarem de sinais de alianças não mais em vigor, o Sábado, a circuncisão, se tornariam
apenas fardos que não deveriam ser repassados para outras pessoas.
A pregação de Paulo era cristocêntrica. Se pensarmos que não há um só homem sem
pecado sobre a terra, como a própria Bíblia relata, fica evidente que Deus deixou uma Lei
impossível de ser cumprida, e o mais fascinante disso é que foi propositadamente porque
o foco não é, nunca foi e nunca será a Lei, o foco sempre foi a aceitação do sacrifício de
Jesus Cristo. Contudo, Ellen White contradiz a própria Bíblia ao dizer que a guarda do
sábado importa em salvação eterna (Testemunhos Seletos, vol III, p. 22; Primeiros Escritos,
p. 37).
Com relação ao “espírito de profecia”, as coisas ficam mais difíceis de acreditar, a Igreja
já existia há um tempo quando a Sr.ª Ellen White teve uma „visão‟ de conveniência para
endossar ideias externas trazidas por Bates sobre a guarda do sábado, aquela visão que diz
“que o quarto mandamento brilhava”.
Se o sábado fosse tão importante para Deus como Ellen o afirma (... a pedra de toque
da lealdade; (...) a linha divisória entre os que servem a Deus e os que não O servem. EF,
225.2), pergunto: por que nas visões diárias de Ellen, ao longo de dois anos, nem Deus, nem
Jesus, nem mesmo seu anjo acompanhante a alertou sobre o mandamento do sábado?
Bates teve esse papel e Ellen endossou. Mais além, em se tratando da preciosidade de cada
minuto do sábado, por que em suas visões, por cerca de nove anos, nem Deus, nem Jesus,
nem seu anjo acompanhante a alertaram sobre a maneira correta de sua guarda? Andrews
teve esse papel e Ellen convenientemente endossou.
Joseph Bates introduziu a doutrina e Andrews auxiliou a moldá-la a fim de resolver uma
discussão que estava causando divisão na igreja, sobre em qual horário começaria o
sábado. Ellen White teve oportunamente uma “visão” que endossava a interpretação de
Andrews e corrigia a orientação de Bates, já que, o sábado estava sendo guardado de
maneira errada (das 18 horas da sexta às 18 horas do sábado) por muito tempo.
Tratavam-se claramente de visões de conveniência para endossar uma doutrina
revisitada pelos líderes da igreja na época. “como quase todas as suas visões” Ezequiel Cap.
13 ( meu povo fez uma parede de tijolos soltos e o falso profeta veio e colocou o reboco) a
parede vai cair. Que “espírito” é esse no qual a IASD quer que expressemos fé mesmo como
pré-requisito para o batismo?
Assim, passa-se a crer nessas doutrinas por conta de um ensino indutivo e não
dedutivo, a partir de ferramentas de controle que, na Igreja adventista, tentam coadunar
nossos pensamentos e crenças com aquilo que lhes é conveniente, desde o rol do berço
todos os estudos são direcionados às interpretações dadas por Ellen, a lição da escola
sabatina sempre tem uma citação do “espírito de profecia” para terminar uma ideia e é a
palavra final. Isso leva a crer que provém de particular elucidação (de Ellen), coisa que a
própria Bíblia condena.
Na classe dos professores, todos são instruídos a falar a mesma coisa, através da
chamada somos impelidos a estudar a lição pela vergonha de dizer que não estudamos sete
vezes. Passamos o dia todo de sábado trabalhando para essa organização que suga de
seus membros o seu tempo e os recursos físicos, mentais, e financeiros (não dividindo o
dízimo de acordo com as escrituras).
Enquanto a IASD enfatiza a validade da primeira parte de Deuteronômio, 14; sobre
alimentação, esquece da segunda parte que orienta sobre a aplicação dos dízimos para
alimentação no templo para o doador, e a divisão com “o levita (...), e o estrangeiro, e o
órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão”. Em Malaquias
a admoestação sobre roubar dízimos e ofertas era tanto para o povo quanto para os
sacerdotes.
Ainda, sobre a política de controle, de fato a IASD controla a mente das pessoas,
incutindo a impressão adventista sobre a Bíblia e não necessariamente fazendo a correta
exegese, vejamos alguns exemplos:
Quando se utiliza o termo eterno para o sábado, por exemplo, a IASD não leva em
consideração que a palavra original é a mesma usada em outros momentos que se referem a
estatutos que já cessaram.

No relato da criação, alguns teólogos dizem que a palavra descansou é traduzida de


uma maneira diferente do original, ou seja, o mais correto seria com um sentido de
cessou, de terminou. Prova disso é que Deus trabalhou no sábado, ele criou o sábado no
sábado, ele cuidou dos animais e do ser humano, ele estava de olho nos anjos e
sustentando todo o Universo, visto que nada entrou em colapso no sábado da criação.
Quando o relato bíblico diz que Deus terminou a sua obra da criação e descansou, se prega
no adventismo isso como um exemplo, contudo, o descanso de Deus é no sentido de que
ele cessou/concluiu o seu trabalho de criação e estaria num descanso eterno porque não
precisaria criar mais nada.
A alegação de que o decálogo e, portanto, o sábado, são eternos desde antes da
criação não se sustenta pela Bíblia pois, não há qualquer indicação de que Adão e Eva,
Abraão, Isaque e Jacó, ou qualquer outro ser humano anterior a Moisés fizeram alguma
guarda específica desse dia. Ele só aparece com Moisés, para aquele povo específico, como
já descrevemos. E o relato da criação é só um relato, não é um mandamento. Se o decálogo
fosse anterior a Moisés, como Adão e Eva iriam honrar pai e mãe? Como os anjos não
deveriam cobiçar a mulher alheia?
Um outro costume na IASD é querer fazer de tudo para ser diferentes, não pelo amor
como Deus nos pede, mas em características humanas e de aparências (vestuário,
alimentação, doutrinas...). É tanta pressão para sermos tão diferentes para não parecermos
com “Babilônia” que, quanto mais distantes de Babilônia estamos, mais assemelhamos com
os Fariseus ficamos, eis uma escolha bem difícil.

Enquanto a IASD aceita os textos do Novo Testamento que desobrigam o Cristão de


circuncidar-se (também uma aliança eterna com Deus segundo Gênesis 17, que precedia
inclusive a guarda do sábado), não aceita os textos neotestamentários que desobrigam a
guarda do sábado.
Se fizermos um paralelo entre o que foi escrito sobre o sábado e o que foi escrito sobre
a circuncisão, podemos concluir que ambos se espelham:

Circuncisão - Gênesis 17 Sábado - Êxodo 31 e cap. 20

Guardarás a minha aliança” 17: 9 Certamente observareis o Meu sábado”


31:13
Tu, e a tua descendência depois de ti, nas Entre mim e os filhos de Israel. 31:17
suas gerações. 17:9

E sereis circuncidados” 17:11. Guardareis o sábado” 31:13 ou 14

Pelas vossas gerações” 17:12 Através das vossas gerações” 31:13

Isto será por sinal da aliança entre mim e Um sinal entre mim e vós. 31:13
vós. 17:11

Aliança perpétua 17:13 Aliança perpétua 31:16

Incircunciso… cortado do povo 17:14 Qualquer que nele fizer alguma obra,(...)
será eliminada do meio do seu povo. 31:14

Servo deve ser circuncidado 17:12 Servo deve guardar o sábado 20:10

Sinal de circuncisão é dado no momento da Sinal do sábado dado no momento da


entrega da aliança 17: 1-10. entrega da aliança 31:12-18

Em Gênesis 17, a palavra Circuncisão é Em Êxodo 31, no original, a palavra


mencionada 6 vezes na parte da entrega da Sabbath é mencionada 6 vezes na parte da
aliança. entrega da aliança.

Com base nessa perfeita sincronia, devemos então voltar a nos circuncidar, dado
ao fato de que ambos os sinais são de alianças eternas entre Deus e seu povo e que quem
não cumprir a ordenança deve ser eliminado do meio dele?

E é evidente que pela Lei ninguém será justificado diante de Deus,


porque o justo viverá pela fé. Ora, a lei não é da fé; mas o homem, que
fizer estas coisas, por elas viverá. (Gálatas, 3:11 - 12).

Pelo que se observa, a bíblia menciona o sábado como SINAL e não como SELO
como é pregado pela IASD, porque, conforme a Bíblia, Paulo diz que o SELO de Deus é
“Depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele
também crido, fostes selados com o Espírito Santo da Promessa” (Efésios 1:13). É
interessante notar que a circuncisão foi abolida, dando a impressão que seria menos
importante que o sábado, mas, na prática, o sábado era menos importante que a circuncisão,
visto que era permitido fazê-la no sábado http://www.youtube.com/watch?v=2vybcc0-QAI
Outro argumento descontextualizado é com relação à fala de Jesus sobre a fuga
não acontecer no sábado, isso é encaixado nas pregações da IASD, de maneira a se pensar
que é referente aos dias finais da história do mundo, contudo historicamente está se
referindo à destruição de Jerusalém no ano 70 D.C. Ele disse, em outras palavras, mais ou
menos assim: “Vocês que não fazem nada nem caminham no sábado, precisam orar para
que não precisem fugir nesse dia…”
A Bíblia fala que a Lei é imperfeita e que fazia parte das cerimônias de um
sacerdócio imperfeito, que era mera sombra do que havia de vir, e que, contudo, quando o
novo sacerdote chegou (Jesus), em havendo a mudança do sacerdócio, a lei precisou
também mudar. Ora, temos um novo sacerdote, Jesus Cristo que ao contrário de todas as
ilustrações da Igreja adventista não é um sacerdote Levita, portanto, temos um sacerdote
perfeito e eterno, numa Lei perfeita numa nova aliança baseada em melhores promessas.
(Hebreus 07:12). E, por fim, com a morte de Jesus a lei não é abolida, mas cumprida, assim
como o testamento passa a valer quando da morte do testador, o testamento se cumpriu
em Jesus.
Considerando toda essa reflexão, quero afirmar que, como Paulo, não tenho nada
contra quem acredita estar fazendo a coisa correta, guardando uma lei ultrapassada, seja por
fé, medo ou a tradição (os dois últimos são mais prováveis para a maioria) que está
conduzindo essa pessoa por esse caminho. O que acho errado é acusar a todos os que têm
argumentos em contrário, mesmo que os argumentos sejam bíblicos e cristocêntricos. O
discurso de que só a IASD tem a verdade me parece desrespeitoso porque a verdade é
encontrada na sola scriptura, o que não é possível para se obter as doutrinas da IASD que
advém de literatura à parte, e excludente porque limita essa verdade apenas aos que fazem
a leitura bíblica com o olhar viciado e condicionado pelo controle que vivenciamos na igreja
adventista.
A ideia de que temos que ser “diferentes por meio de estereótipos” não transmite a
verdadeira essência Cristã e somente nos afasta das pessoas por querermos manter uma
aparência de piedade, nos afasta também de Jesus, o que se torna um ciclo vicioso e
causador da dependência do olhar de quem supostamente sabe mais que nós “o olhar dos
líderes”.
Percebi que é possível tirar mais de uma conclusão sobre determinado tema
bíblico sem que isso seja uma heresia, então eu pergunto: se Deus deixou dessa maneira o
que faz as pessoas terem a certeza de que sua interpretação é a melhor, é a verdadeira?
Seria o número de textos? Ou o pensamento de que existe alguém (um profeta) que
imaginamos saber mais do que nós mesmos e nem questionamos. É isso que acontece
quando confiamos em líderes cegos ou em profetas falsos.
Dizer que precisamos de uma luz menor para conduzir à luz maior é a mesma
coisa do que dizer que precisamos de uma lanterna para encontrar o sol ao meio dia (Pr.
Martinez). Temos toda a verdade de que precisamos na Bíblia e ela claramente se opõem ou
desbanca muitos argumentos fracos e falsos de Ellen White. Precisamos do Espírito Santo.
Acredito hoje que, se Deus deixou a possibilidade de outras interpretações de alguns temas
bíblicos, isso também tem um propósito, e o propósito, na minha opinião, é mensurar
principalmente o respeito e o amor das pessoas e não fomentar o orgulho de afirmar que nós
temos a verdade, palavra que é muito utilizada no meio adventista desde os primórdios.
Com a alcunha de “Portadores da Luz”, de povo escolhido de Deus para levar “a
verdade”, os adeptos do adventismo são imbuídos de um sentimento de superioridade e
impelidos a fazer proselitismo desleal, pois o fazem com as doutrinas que não são bíblicas. O
que prende as pessoas nesse sistema é a teologia do Medo, porque se prega que todas as
outras religiões são Babilônia, e o adventismo é o Remanescente fiel, que se você sair da
igreja fica claro que você é o joio, se não guardar o sábado e não devolver o dízimo segundo
as regras humanamente criadas da IASD, você vai para o inferno, você não vai ser salvo, e
enquanto estiver nesta terra não vai ser abençoado. Creio que a maioria dos que decidem se
batizar, o fazem menos pela fé e mais pelo assédio moral de tal grau e tão impactante que a
constante repetição torna-se uma “verdade”.
Os mórmons acreditam que há uma grande necessidade de um profeta vivo. Mas
a Bíblia não fala sobre isso. E a igreja se assemelha muito a eles nesta necessidade. A
pregação inicial de que a igreja adventista era a igreja verdadeira era porque Ellen White
estava viva naquele período, argumento viciado que caiu por terra e teve de ser abandonado
após sua morte.
A IASD apresenta sua história aos membros desde quando são adolescentes,
contudo, não revela que os fatos são omitidos e alterados para passar a ideia que se
pretende. Ao estudar a história mais a fundo, e com a dose certa de criticidade, vemos que a
igreja sempre propositadamente alterou inclusive os “escritos proféticos” de Ellen White
sempre que erros literários ou doutrinários muito impactantes fossem percebidos.(por isso
tantas edições de um mesmo livro).
Nas reuniões dos líderes mundiais, se tenta adaptar aquilo que já foi regra de fé,
para ficar com aparência de teologia cristã, ou seja, mais parecido com o que as demais
igrejas acreditam. Mesmo que Ellen tenha feito proibição expressa, dezenas de alterações
nos livros de Ellen White já foram feitas para encobrir erros crassos que, no passado,
chegaram a ser seguidos ao pé da letra pelos primeiros líderes. Contudo ainda se vive
intensamente na busca por argumentos para defender a profetisa que trouxe as doutrinas
que faz o movimento adventista ser diferente do cristianismo ortodoxo.
E, para finalizar, lembro e repito que não tenho absolutamente nada contra quem
tem vontade e fé na guarda do sábado. Sigo o exemplo da pregação de Paulo aos Romanos
no período em que se comunicava com três grupos de pessoas, os judeus, seus líderes
(ainda oprimidos pelo fardo que carregavam), e os gentios recém convertidos. Quando
Paulo pregava na igreja, ele não tinha a possibilidade de fazer três cultos: um para os
líderes judeus, um para judeus e outro para gentios, então, ele precisava fazer uma pregação
que atingisse a todos sem transferir os fardos do passado e sem ofender quem vivia na
tradição e costumes judaicos. Logo, fica claro que sua pregação é equilibrada onde ele diz
em Romanos cap 14:2 - 6:
● 02 Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes.
● 03 O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que
come; porque Deus o recebeu por seu.
● 04 Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé
ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar.
● 05 Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um
esteja inteiramente seguro em sua própria mente.
● 06 Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia
para o Senhor o não faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a
Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus.

Aos Gálatas (4:10 e 11) ele relata sua preocupação com a demasiada importância
que eles estavam dando a certos dias, meses ou anos. E há tantos outros textos que
merecem nossa leitura contextualizada e não viciada, buscando a exegese em detrimento da
eisegese...
São tantas as contradições doutrinárias que sem dúvida daria um livro. É
importante citar, então, que o discurso de que todas as outras igrejas são Babilônia ou Filhas
de Babilônia e que somos os portadores da VERDADE nos impede de pesquisar outros
materiais, nos impede de olhar sem os óculos adventistas. Nos impede até mesmo de
enxergar as coisas tão boas e libertadoras do próprio Evangelho e, por consequência, nos
impede de ter a certeza da salvação.
São tantas as aberrações que preciso dizer claramente meus queridos que não os
perseguirei no grande dia do Senhor como se prega muito na igreja, afirmando que “aqueles
que saem são as piores pessoas do mundo”, mas digo que ao me desligar procuro seguir o
mandamento de Cristo, o único que devemos seguir, o mandamento do amor, porque
ninguém rouba, ninguém mata, ninguém desonra e ainda vai muito, muito além disso e faz o
bem.
Meus amigos, tenho muito respeito por todos aqueles que acreditam sinceramente
e percebem o amor de Deus. Mas demorei quarenta anos para conseguir ver que Rodrigo
Silva, Leandro Quadros, Michelson Borges, entre outros líderes fazem verdadeiros
malabarismos eisegéticos (Interpretação em que os pontos de vista do leitor são
incorporados ao texto) numa enrolação interminável para tentar explicar o inexplicável, tentar
defender o indefensável, se reprovando constantemente naquilo que condenam, uma vez
que misturam verdade com mentira o tempo todo. Não seria isso uma das características de
Babilônia?
Podem até ser pessoas sinceras, mas, como o próprio Jesus mencionou, não
precisamos de líderes cegos. Acredito que eu preciso deixar alguns atavismos para crescer
espiritualmente. E convido a todos aqueles que se sentem sob o mesmo fardo a acreditar
que Deus tem algo diferente e libertador.

Fico a disposição para esclarecimentos e se alguém sentir no seu coração que


precisa conhecer mais sobre os mandamentos de Jesus. Meu WhasApp, e-mail, minha casa
e meu tempo estão a disposição para aprendermos juntos mais sobre esse Cristo libertador e
maravilhoso que nos mantém a cada dia.
Com um forte abraço desejo que Deus abençoe sem medida as famílias desta
igreja e como ele prometeu “ilumine os passos dos homens bons”. Com base em todas
essas considerações, solicito, com todo o respeito, meu desligamento desta instituição para
que possa encontrar, sem amarras, um local em que possa congregar e buscar as verdades
bíblicas sem a imposição de doutrinas sectárias.

Evandro Pedrozo de Oliveira.

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