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Cartilha de subsídios para o debate sobre

COMUNICAÇÃO

lha
O MST na bata s”
“ a
das id ei

Sem TerRa
nal
jor
SUMÁRIO
04 Apresentação

06 Cinco famílias controlam 50% dos


principais veículos de mídia do país

11 WhatsApp, um fator de distorção


que espalha mentiras e atordoa até o TSE

15 Enfrentar a guerra de quinta geração


com arco e flecha?

26 Comunicação Sem Terra -


Breves apontamentos sobre histórico
e organicidade

32 Linhas políticas do Setor de Comunicação


para o próximo período

34 Linhas de ações do Setor de Comunicação

38 Frentes de Atuação - Um pouco de história

57 Qual a Comunicação que queremos?


APRESENTAÇÃO

4
Nos últimos anos, o Setor de comunicação queremos cons-
Comunicação do MST reali- truir. Qual é o perfil do comu-
zou diversos debates e vivên- nicador popular que o Movi-
cias com o objetivo de com- mento precisa? Como enraizar
preender qual é o papel da e massificar a proposta orga-
comunicação no Movimento nizativa e política de construir
Sem Terra. Além disso, o Setor um Sistema Sem Terra de Co-
construiu reformulações em municação alinhado à nossa
sua própria organicidade para estratégia de luta da Reforma
dar conta tanto das demandas Agrária Popular?
internas quanto do Movimento
como um todo. Essas provocações e o conte-
údo das próximas páginas têm
Nesse sentido, temos inúme- o objetivo de fortalecer um
ros desafios no que se refere à processo coletivo de reflexão
comunicação e ao nosso Setor e debate em torno da comuni-
como esfera orgânica que ma- cação do MST e sua contribui-
terializa o processo de fluxo ção para o conjunto da classe.
de informação, mas também Debate que deve extrapolar a
que provoca a reflexão sobre a militância do Setor, mas pro-
comunicação como pauta po- vocar o todo do MST sobre a
lítica dentro da estratégia da nossa estratégia de comunica-
Reforma Agrária Popular. ção, para dentro e para fora do
nosso Movimento, sobretudo
Justamente porque apren- nos desafios que já apresen-
demos com os processos de tam-se nessa conjuntura acir-
acirramento da luta de clas- rada, que posiciona a comuni-
ses que comunicação não é cação como uma importante
somente fazer um texto e ti- tática para os nossos próximos
rar uma foto. Ela é um instru- passos na luta de classes.
mento que o Capital tem se
apropriado de diversas formas Vamos ao debate!
para consolidar uma hegemo-
nia na sociedade. A comuni- Lutar, Comunicar, construir o
cação traduz ideologicamente Poder Popular!
esse projeto.
*A Cartilha de subsídios para
Diante disso, provocamos o debate sobre comunicação é
conjunto da organização para uma publicação do Setor de
refletir sobre qual projeto de Comunicação do MST.

5
Cinco famílias controlam 50%
dos principais veículos
de mídia do país

Cinco famílias controlam me- volvimento da Alemanha que


tade dos 50 veículos de co- tem como objetivo promover
municação com maior audi- transparência e pluralidade
ência no Brasil. A conclusão na mídia ao redor do mundo.
é da pesquisa Monitoramen- A pesquisa acompanha um
to da Propriedade da Mídia ranking de Risco à Pluralida-
(Media Ownership Monitor ou de da Mídia, elaborado pela
MOM), financiada pelo gover- Repórteres Sem Fronteiras, no
no da Alemanha e realizada qual o Brasil ocupa o 11º e últi-
em conjunto pela ONG brasi- mo lugar. Nos dez indicadores
leira Intervozes e a Repórteres do ranking, o País apresenta
Sem Fronteiras (RSF), basea- risco “alto” em seis deles, como
da na França.
concentração de audiência e
salvaguardas regulatórias.
A pesquisa MOM sobre o
Brasil é a 11ª versão do le-
No caso do Brasil, o levanta-
vantamento, realizado an-
mento listou os 50 veículos
teriormente em dez outros
países em desenvolvimento: de mídia com maior audiência
Camboja, Colômbia, Filipinas, e constatou que 26 deles são
Mongólia, Gana, Peru, Sér- controlados por apenas cinco
via, Tunísia, Turquia e Ucrânia. famílias. O maior é o Grupo
Trata-se de um projeto glo- Globo, da família Marinho, que
bal do Ministério de Coope- detém nove desses 50 maio-
ração Econômica e Desen- res veículos.

6
Além da rede Globo, líder de Na sequência, aparecem a
audiência na tevê aberta, a família Saad, dona do grupo
Globo tem presenças rele- Bandeirantes, e a família de
vantes na tevê a cabo (com a Edir Macedo, da Record, com
Globo News e outros 30 ca- cinco veículos cada um, se-
nais); no rádio, com a CBN e a guidas pela família Sirotsky,
Rádio Globo; e na mídia im- da RBS, com quatro veícu-
los na lista, e a família Frias,
pressa, com títulos como os
com três veículos.
jornais O Globo, Extra, Valor
Econômico e a revista Época.
Se somados o grupo Estado, do
jornal O Estado de S.Paulo; o gru-
Segundo a pesquisa, o grupo po Abril, da revista Veja; e o gru-
Globo alcança sozinho uma po Editorial Sempre Editora, do
audiência maior do que as au- jornal O Tempo, são oito famílias
diências somadas do 2º, 3º, 4º controlando 32 dos 50 maiores
e 5º maiores grupos brasileiros. veículos, ou 64% da lista.

7
Para a RSF e a Intervozes, cujo artigo, assim como outros que
blog está hospedado no site dizem respeito à comunicação
de Carta Capital, esse domínio social, nunca foram regula-
configura um oligopólio. “Nem mentados pelo Congresso.
a tecnologia digital e o cres-
cimento da internet, nem es- Essa previsão a respeito de
forços regulatórios ocasionais monopólios e oligopólios se
limitaram a formação desses aplica apenas a veículos de rá-
oligopólios”, afirmam as ONGs dio e televisão, que são servi-
em relatório. ços públicos e funcionam em
espectro limitado, com um li-
O parágrafo 5º do artigo 220 mite de número de emissoras
da Constituição afirma que que podem existir. Os veículos
“os meios de comunicação so- impressos, como prevê tam-
cial não podem, direta ou indi- bém a Constituição, podem
retamente, ser objeto de mo- ser constituídos e publicados
nopólio ou oligopólio”. Este sem licença de autoridade.

8
9
>> Propriedade cruzada da mídia

O relatório destaca, no entanto, que no caso brasileiro a au-


sência de restrições à propriedade cruzada dos meios de co-
municação, com exceção do mercado de TV paga, permite
que os líderes de mercado dominem múltiplos segmentos.
Assim, no cenário brasileiro grandes redes nacionais de TV
aberta pertencem a grupos que também controlam emisso-
ras de rádio, portais de internet, revistas e jornais impressos.

A propriedade cruzada é, segundo os autores da pesquisa,


uma “dimensão central da concentração na mídia brasileira”,
sendo o principal fundamento do sistema de comunicação
de massa nacional. O caso da Globo, com seu conglomerado
de emissoras de rádio e tevê aberta e fechada, jornais, revis-
tas e sites é o mais conhecido, mas se reproduz com outras
famílias.

A Record, por exemplo, tem canais importantes na tevê aber-


ta e fechada (Record TV e Record News), veículos na mídia
impressa (jornal Correio do Povo) e na internet (portal R7),
além de controlar a Igreja Universal do Reino de Deus, que
possui a Rede Aleluia de rádio e produz o jornal gratuito de
maior tiragem no Brasil, a Folha Universal.

Segundo as ONGs, essas situações persistem porque o Brasil


tem um marco legal ineficiente para combater a monopoliza-
ção e promover a pluralidade. Além disso, dizem, nem mesmo
as poucas provisões legais existentes são aplicadas de fato,
pois a propriedade da mídia não é monitorada constantemen-
te pelas autoridades competentes, que se limitam a receber
e registrar as informações enviadas pelas próprias empresas.

*Texto de José Antonio Lima publicado no Intervozes, referente à


pesquisa das ONGs Repórteres Sem Fronteiras e Intervozes onde se
aponta o domínio da comunicação por poucos grupos. Em ranking
de risco à pluralidade, Brasil é o último.
10
WhatsApp, um fator de
distorção que espalha
mentiras e atordoa até o TSE
O aplicativo se tornou um terreno fértil para as no-
tícias falsas. 120 milhões de brasileiros utilizam-no
diariamente e 66% deles consome e compartilha
informação política na rede social

O WhatsApp é a marca per- O que dá à rede social um


turbadora da eleição brasilei- papel central na disputa po-
ra de 2018. Em um país com lítica é ser uma plataforma
147 milhões de eleitores, 120 fechada, com mensagens
milhões de pessoas utilizam o criptografadas (consequente-
aplicativo de mensagens dia- mente, de difícil verificação e
riamente e 90% o fazem mais monitoramento). Ao lado de
de 30 vezes por dia. 66% dos sua irmã mais velha, o Face-
eleitores brasileiros conso- book, tem um problema con-
mem e compartilham notícias tundente por causa dissemi-
e vídeos sobre política por nação de fake news. Mas, ao
meio da rede social mais po- contrário de rede maior, ain-
pular do país, segundo dados da há poucas iniciativas para
do Instituto Datafolha. Isso tentar contê-las. “No Brasil,
torna o aplicativo um lugar 90% dos usuários faz parte
fértil para, no melhor dos ca- de um ou mais grupos no app,
sos, o debate político e o fluxo o que facilita ainda mais a di-
de informações e, na pior das fusão da propaganda eleito-
hipóteses – que já apareceu ral”, diz Mauricio Moura, CEO
com força nos ainda frágeis e da consultoria Idea Big Data
parciais levantamentos dispo- e especialista em campanhas
níveis – para poderosas cam- eleitorais no Brasil e nos Es-
panhas de desinformação. tados Unidos.

11
Moura faz parte do grupo de tes análises realizadas desde
analistas que havia previsto o ano 2000 demonstram que
que o WhatsApp seria a rede 58% dos candidatos com 30%
mais importante nas eleições ou mais de tempo de propa-
brasileiras. “Depois das elei- ganda foram eleitos e reelei-
ções na Colômbia e no México, tos. Quando o candidato tam-
onde se mostrou o fenômeno bém tinha 30% ou mais das
dessa plataforma, a teoria se intenções de voto antes do
confirmou. Esse panorama início do horário eleitoral obri-
é um reflexo do sucesso das gatório na televisão, a porcen-
estratégias da indústria tele- tagem de vitória subia a 79%.
fônica na região”, diz o espe- “Mas a média de audiência da
cialista, que destaca que só propaganda política na tele-
não aconteceu o mesmo nas visão caiu de 22 pontos em
eleições norte-americanas de 2008 a 6 em 2016”, diz Moura.
2016 porque o Facebook ain- É um dos fatores que expli-
da é muito mais relevante nos cam, por exemplo, o sucesso
EUA. No Brasil, a popularidade do ultraconservador Jair Bol-
do aplicativo é tal que as em- sonaro (PSL), ainda que seja o
presas telefônicas oferecem candidato com menos tempo
planos de Internet específicos de exposição na tevê (somen-
para ele, nos quais, a partir te oito segundos).
de pouco mais de 10 reais, os
usuários podem contratar 50 Entre o eleitorado do capitão
MB por dia de Internet, com da reserva do Exército, a utili-
conexão grátis ao WhatsApp. zação do WhatsApp é, de fato,
No Brasil, onde o salário mé- maior: 81% de seus apoiadores
dio é de 2.100 reais, as ofertas utilizam o aplicativo, segun-
são mais do que tentadoras. O do o Instituto Datafolha, en-
problema é que o usuário fica quanto 55% dos eleitores de
insulado no próprio aplicati- Fernando Haddad (PT), o se-
vo, não navega para fora dele gundo nas intenções de voto
para, por exemplo, cotejar in- (22%), o fazem. Bolsonaro, que
formações. possui o apoio da maior parte
das pessoas de classe média
Um indício incontestável de e alta — que têm mais acesso
que a campanha eleitoral no a smartphones e Internet —
WhatsApp suplantou até o movimentou sua propaganda
mítico poder da propaganda no terreno das redes sociais
política na televisão — diferen- desde o começo da dispu-

12
ta - tem mais de 7 milhões de política no Facebook, obrigan-
seguidores no Facebook. O co- do a plataforma a indicar aos
mitê de campanha de seu prin- usuários quais conteúdos de
cipal rival, Haddad, demorou a partidos e candidatos eram
perceber o poder da platafor- promovidos. “Isso serviu para
ma e só anunciou um canal blindar, de certo modo, a cam-
para denúncias de notícias fal- panha no Facebook contra as
sas nessa semana, quatro dias fake news”, diz Fabrício Bene-
antes do primeiro turno. venuto, professor do departa-
mento de Ciência da Compu-
TSE atordoado tação da UFMG e criador do
projeto Eleições sem Fake. O
Em 2014, o WhatsApp já foi uti- principal órgão eleitoral não
lizado para tentar interferir em incluiu, entretanto, o What-
um resultado eleitoral no Bra- sApp na regulamentação. O
sil. Em 26 de outubro daque- especialista acha importan-
le ano, no dia da votação do te criar alguma medida para
segundo turno, quando Dilma controlar a rede, mas explica
Rousseff (PT) tentava a reelei- que isso seria “tecnicamente
ção em disputa direta com Aé- complicado”. “É um fenômeno
cio Neves (PSDB), milhares de novo, é normal que não sai-
pessoas acordaram com a se- bam muito bem como ana-
guinte notícia em seus celula- lisá-lo. Como as mensagens
res: Alberto Youssef, empresá- são criptografadas, nem a
rio que havia se transformado própria equipe da plataforma
em colaborador da Operação a entende muito bem. Não sa-
Lava Jato e que havia dito dias bem nem mesmo quão envie-
antes que Rousseff sabia so- sados são os dados”, afirma.
bre o esquema de corrupção
na Petrobras, havia sido “en- Neste domingo, a presidenta
venenado” na prisão. Era uma do TSE, Rosa Weber, admitiu
notícia falsa, um rumor que se que as autoridades ainda es-
espalhou entre os eleitores a tão “aprendendo a lidar com
ponto das autoridades do Go- fake news”. “O que o TSE está
verno precisarem desmentir a fazendo? O TSE não está fa-
história publicamente. zendo nada? Primeiro, ele
está entendendo o fenômeno,
Para essas eleições, o TSE que não é de fácil compreen-
(Tribunal Superior Eleitoral) são, não é de fácil prevenção,
regulamentou a propaganda e não é um problema brasi-

13
leiro. Mas o TSE está atento”, Nesse universo de troca de
disse Weber. notícias, em que o controle
sobre o que é falso e verda-
Existem pelo menos 100 gru- deiro e sobre a origem do que
pos públicos do WhatsApp se compartilha é quase nulo,
que apoiam Bolsonaro, e 37 aparece conteúdo de todo o
deles são monitorados pelo tipo, confundindo o eleitor.
Eleições sem Fake. “O candi- Com o país dividido em meio a
dato monopoliza os debates uma das campanhas mais po-
na maior parte dos 272 gru- larizadas da história recente,
pos que analisamos. Ele é o as notícias falsas se espalham
protagonista da maior parte como fogo em capim seco no
das notícias, vídeos e memes WhatsApp. Uma das mentiras
que circulam na rede”, diz Be- mais divulgadas nas últimas
nevenuto. semanas surgiu exatamente
de um grupo de apoio a Bol-
Na véspera da eleição, a con- sonaro: a afirmação de que as
traofensiva nas redes se in- urnas eletrônicas no Brasil já
tensificou. Diogo Nascimento foram manipuladas, apesar
da Silva, de 31 anos, que mora de ser um fato não compro-
no Recife, afirma ter percebi- vado nos 22 anos de uso do
do nas últimas semanas um sistema, de acordo com o TSE.
aumento no volume de men- O mesmo aconteceu com a
sagens sobre Bolsonaro nos informação falsa de que Ma-
grupos dos quais participa. nuela D’Ávila (PCdoB), candi-
“Agora já começaram a man- data a vice-presidenta com
dar algo sobre Haddad, mas Haddad, teria recebido uma
quando o fazem, os apoiado- ligação de Adélio Bispo de
res de Bolsonaro enviam tan- Oliveira, o homem que esfa-
tas mensagens por cima que queou Bolsonaro, em 6 de se-
os eleitores do PT até desis- tembro, dia do ataque.
tem”, conta. Apesar da quan-
tidade de mensagens, ele
afirma que nada interfere em
seu voto: “Vou no 51”, diz, sem
saber o nome do candidato: * Por Joana Oliveira e Marina
Cabo Daciolo (Patriota), que Rossi, publicado originalmen-
tem 2% das intenções de voto. te no El País.

14
Enfrentar a guerra de quinta
geração com arco e flecha?
Uso maciço da internet, para bloquear o debate polí-
tico, é só o começo. Há agora um gigantesco arsenal
de controle e manipulação, para o
qual a esquerda está desatenta

Em todo o mundo, uma imen- São muito poucos os donos


sa variedade de órgãos gover- da infraestrutura que possibi-
namentais e partidos políticos lita o uso da internet em todo
estão explorando as plata- o mundo, e também os ser-
formas e redes sociais para viços nela fornecidos. A pro-
difundir desinformação e lixo priedade dos cabos de fibra
em forma de notícia; exercer subaquática, as empresas que
a censura e o controle; minar hospedam e controlam o NAP
a confiança na ciência, nos (o principal hub das Ameri-
meios de comunicação e nas cas), grandes centros de dados
instituições públicas. como Google, Facebook, Ama-
zon, ou os chamados “servi-
O consumo de notícias é cada ços em nuvem” como Google
vez mais digital, e a inteligên- Drive, Amazon, Apple Store,
cia artificial, a análise de Big OneDrive, são controlados por
Data (que permite à informa- corporações transnacionais,
ção interpretar-se a si mes- em sua maioria com capitais
ma e adiantar-se às nossas estadunidenses. Hoje, das seis
intenções) e os algoritmos principais empresas listadas
da “caixa preta” são utilizados em Wall Street, cinco estão na
para por em prova a verdade e categoria ICT [Information and
a confiança, as pedras angu- Communication Technolo-
lares da chamada sociedade gy] : Apple, Google, Microsoft,
democrática ocidental. Amazon e Facebook.
15
>> Campo popular: veis; à transnacionalização da
comunicação, convertendo a
aggiornar a luta informação em campanhas de
terrorismo midiático… enquan-
O mundo está em constan- to nós apenas denunciamos
te mudança, muitas vezes no quão fácil está converter a de-
ritmo da tecnologia, e pare- mocracia em ditadura manipu-
ce que a esquerda, os movi- lada por grandes corporações.
mentos e meios populares de
comunicação, nos empurram Deveríamos estar atentos aos
para lutar em campos de ba- temas da vigilância, manipula-
talha equivocados ou já ultra- ção, transparência e governan-
passados, brandindo slogans ça da internet, ao vídeo como
que não têm relevância neste formato que irá reinar nos
novo mundo. próximos anos, estar atentos
ao fato de que os televiso-
Enquanto isso, as corporações res estão se convertendo em
midiáticas hegemônicas de- mais uma tela onde chegam
senvolvem suas estratégias, conteúdos manipulados pelas
táticas e ofensivas em novos grandes corporações.
campos de batalha, onde se
luta com novas armas, onde a Mas, no campo popular, conti-
realidade não importa, no que nuamos reclamando a demo-
talvez já nem se trate da guer- cratização da comunicação e
ra de quarta geração — a que informação, acreditando que
ataca percepção e sentimen- a distribuição equitativa das
tos, e não raciocínio — mas uma frequências de rádio e televi-
guerra de quinta geração, em são entre setores público, co-
que os ataques são maciços e mercial e popular pode sig-
imediatos por parte de mega- nificar o fim da concentração
empresas transnacionais, que midiática. Estamos empenha-
vendem seus “produtos” (como dos em guerras que já não
espionagem) aos Estados. existem – quando o campo
de batalha está na Internet,
Hoje deveríamos estar mais no Big Data, nos algoritmos,
atentos à integração vertical na inteligência artificial.
dos provedores de serviços de
comunicação com empresas Esses temas não estão na
que produzem conteúdo, com agenda dos movimentos,
a chegada dos conteúdos dire- dos partidos nem dos gover-
tamente aos dispositivos mó-
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nos (inclusive progressistas), tas, as novas armas de uma
mais preocupados em seguir guerra cultural ciberespacial.
com a satanização das novas Talvez o problema não seja
tecnologias, com a denun- formular, mas ter ouvidos dis-
ciologia, do que em definir postos a tentar, diz o huma-
estratégias e linhas de ação. nista Javier Tolcachier.
Hoje, os governos da restau-
ração conservadora disparam Cada site de mídia e/ou or-
contra a Unasul, que em seu ganizações sociais dirige suas
auge não conseguiu concreti- mensagens a uma audiên-
zar um canal próprio de fibra cia limitada, aos que já estão
óptica – que ao menos faria convencidos de sua mensa-
cócegas no controle das me- gem, numa ginástica endogâ-
gacorporações. Hoje, o cená- mica, sem definir uma agenda
rio digital pode converter-se própria, latino-americanista,
numa via para a reconexão do em defesa dos direitos hu-
progressismo com suas bases, manos e dos trabalhadores,
em particular os jovens, o que uma linha editorial que possa
significa dizer o futuro. Não se unificá-las e então entrar com
avançou, porém, numa agenda força na guerra cultural, na
de comunicação comum, nem batalha das ideias.
tampouco em temas estraté-
gicos para o futuro da sobera- Suas linguagens – falamos
nia tecnológica como gover- em geral, e por isso merecem
nança da Internet, copyright, destaque os esforços de mi-
inovação, desenvolvimento de diativismo do Mídia Ninja, do
nossas indústrias culturais. Facción ou Emergentes, por
exemplo – não se adequam
Fala-se de novos caminhos, ao momento histórico, cultural
mas poucos parecem dispos- nem tecnológico. Estão anco-
tos a percorrê-los, porque por rados na denunciologia, sem
certo afetam sua identidade, tornar visíveis as lutas, os an-
sua memória e sua vida. Insis- seios dos povos ou sociedades
te-se em denunciar a desin- que pretendem representar.
formação, a informação lixo,
o terrorismo midiático (temos
doutorados em denunciolo- >> O informe de Oxford
gia e lamentação). Mas não
nos preparamos para apren- Um informe de Samantha
der a usar novas ferramen- Bradshaw e Philip Howard,
17
pesquisadores da Universi- ameaçada por notícias lixo e
dade de Oxford (Challenging ingerência estrangeira nos as-
Truth and Trust: A Global In- suntos internos e desenvolve
ventory of Organized Social suas próprias campanhas de
Media Manipulation), confirma propaganda cibernética.
que a manipulação da opi-
nião pública nas plataformas Numa quinta parte desses
de mídia social converteu-se 48 países, sobretudo nos do
numa ameaça à vida pública. sul global, foram encontra-
das evidências de campanhas
Em 2017, o primeiro inventá- de desinformação operando
rio das tropas de ocupação em aplicativos de chat como
cibernética globais, realizado WhatsApp, Telegram e We-
por esses pesquisadores, jo- Chat. A manipulação das re-
gou luz sobre a organização des é um grande negócio, e
mundial da manipulação dos governos, fundações, ONGs
e partidos políticos gastaram
meios de comunicação so-
mais de 500 milhões de dó-
cial por governos e atores de
lares em pesquisas, desenvol-
partidos políticos. Esse ano,
vimento e implementação de
revela as novas tendências
operações psicológicas e ma-
de manipulação organizada nipulação da opinião pública
das mídias, e as crescentes através da Internet.
capacidades, estratégias e re-
cursos em que se apoia, com Em alguns países isso inclui
evidências de campanhas de “esforços para conter o extre-
manipulação organizada dos mismo”, mas na maioria dos
meios em 48 países, 20 a países implica a propagação
mais que no ano anterior. de notícias lixo e desinforma-
ção durante as eleições, as
Em cada país, constatou-se crises militares e desastres
que um partido político ou humanitários complexos.
agência governamental, ao
menos, usava os meios de
comunicação social para ma- >> A Guerra de
nipular a opinião pública na- Quinta Geração
cional. Isso ocorre em países
onde os partidos políticos Se a guerra de primeira ge-
disseminam desinformação ração baseia-se em mobili-
durante as eleições, ou onde zar a mão de obra, a segunda
a institucionalidade sente-se no poder de fogo, e a terceira

18
na liberdade de manobra, os do ser humano através de sua
paradigmas mudam substan- parte neurológica (frequên-
cialmente na Quarta Geração, cias binaurais e componentes
quando tanto os recursos em- dos cristais de magnetita do
pregados como os objetivos cérebro e métodos sobre suas
e interesses a alcançar en- possíveis manipulações).
globam o interesse público
como o privado (interesses de E os meios de massa e redes
corporações). A ideia principal sociais são parte integral des-
é que o Estado perdeu o mo- sa guerra para gerar desesta-
nopólio da guerra, e as táticas bilizção na população através
incluem desde o controle ar- de operações de caráter psi-
mamentista até o psicológico. cológico prolongado; busca-
-se afetar a psique coletiva,
Dada a enorme superiorida- afetar a racionalidade e as
de tecnológica alcançada na emoções, além de contribuir
etapa anterior frente à assi- com o desgaste político e a
metria de forças entre com- capacidade de resistência.
batentes, só é concebível
o uso de forças irregulares E conta-se com mecanismos
ocultas que ataquem o inimi- científicos de controle total,
go de forma surpreendente, por meio não só da manipula-
tratando de desestabilizá-lo ção de meios massivos de co-
e assim provocar sua derrota, municação e informação con-
com o uso de táticas de com- centrados, mas também de
bate não convencionais. sistemas financeiros como o
Fundo Monetário Internacio-
Na Guerra de Quinta Geração nal, o Banco Mundial, o Banco
(também denominada guer- Interamericano de Desenvol-
ra sem limites), introduzida
vimento, milhares de funda-
desde 2009 como conceito
ções e organizações não go-
estratégico operacional nas
vernamentais.
intervenções EUA-Otan, não
interessa ganhar ou perder,
mas demolir a força intelec- Zbigniew Brzezinski, ex-se-
tual do inimigo, obrigando-o a cretário de Estado estaduni-
buscar um acordo, valendo-se dense, afirmava que a chave
de qualquer meio, inclusive estava no ataque aos recur-
sem uso das armas. Trata-se sos emocionais de um país,
de uma manipulação direta por meio da revolução tecno-

19
lógica. A tática para manter A aparição ampla das redes
a desintegração política na sociais, considera a especia-
sociedade consiste em criar lista britânico-equatoriana
complexos de inferioridade Sally Burch, revolucionou nos-
e converter-se em referência sas sociedades, mas também
externa em todos os âmbi- causou preocupação porque,
tos, evitando que os projetos como não estão reguladas,
e modelos coletivos ou alter- são aproveitadas para a de-
nativos se consolidem em sua sinformação, a imposição de
identidade, pois a referência imaginários coletivos com a
será algo distinto de si mes-
difusão de informação falsa,
mos: o mundo desenvolvido e
criando realidades virtuais dis-
seu modelo predominante.
tantes das realidades reais, a
apropriação de dados pessoais
Os meios de difusão em mas-
para fins comerciais e/ou de
sa encarregam-se de condi-
cionar as mentes nas nações manipulação política e, inclusi-
subdesenvolvidas, posto que ve, para violar a intimidade dos
“o Terceiro Mundo enfrenta, cidadãos, invadir seus espaços
agora, o espectro das aspira- de trabalho, educação, ócio e
ções insaciáveis”, como já es- inclusive socialização.
crevia Brzezinski há 44 anos.
As redes sociais têm acesso
e manipulam dados dos usu-
>> Redes sociais, ários (endereço de email, nú-
isolacionistas mero de telefone, interesses,
gostos, amigos), gentilmen-
As redes sociais são um con- te proporcionados por eles
junto de plataformas digitais mesmos através da constru-
de recreação e interação so- ção de seus perfis. Seu maior
cial entre seus diversos usuá- atrativo é a massividade: a
rios, sejam eles pessoas, gru-
mesma mensagem, informa-
pos sociais ou empresas, que
permite enviar mensagens, ção – ou a mesma publicida-
comunicação em tempo real de tácita ou encoberta – pode
e difusão de conteúdo de vá- ser enviada a milhões de pes-
rias maneiras, entre os usu- soas ao mesmo tempo atra-
ários que se encontrem co- vés de diferentes platafor-
nectados entre si — sejam mas (computadores, tablets,
“amigos” ou “seguidores”. telefones celulares).

20
Operam com base em algo- construção de sociedades ci-
ritmos que organizam a infor- berdependentes, nichos onde
mação para mostrar-nos mais não tem espaço o pensamen-
daquilo que gostamos e me- to contrário, a alteridade.
nos do que não. Quando va-
lidamos um comentário, uma >>Fim da transparência?
publicidade ou uma notícia,
retroalimentamos o sistema A consultora britânica Cam-
para que se adapte ainda mais bridge Analytica (CA), que
a nossos gostos pontuais. Já
protagonizou escândalo pelo
que os algoritmos privilegiam
uso de 87 milhões de dados
o conteúdo semelhante ao
de usuários do Facebook,
que escolhemos (com uma
embora tenha anunciado o
“curtida”), restringindo as opor-
fim de suas operações, sim-
tunidades de receber informa-
ção real, não filtrada, em que o plesmente mudou de pele e
usuário só tem acesso a opini- manterá suas manipulações,
ões semelhantes às suas (um ameaçando a transparência
efeito antidemocrático, sem das eleições em vários paí-
dúvida), acrescenta Burch. ses, entre eles Argentina, Co-
lômbia e México.
Por exemplo, um algoritmo
usado pelo Facebook baseia- A empresa britânica culpou
-se na afinidade (número de as denúncias de manipula-
vezes que um se conecta com ção política que inundaram
outro, publicando em suas as mídias internacionais nos
páginas, validando – curtindo últimos meses por sua que-
– seus conteúdos). Seu peso bra, mas o certo (que não diz)
é a quantidade de interações é que seus principais ativos
que tem uma publicação, e o já trabalham numa empresa
tempo faz com que ela vá per-
com fins similares chamada
dendo o interesse e vá caindo
Emerdata Limited, em cujo
na fila de informações.
conselho de administração
As desvantagens das redes figuram vários nomes direta-
sociais apontam para a rup- mente vinculados à própria
tura com a presença dos ou- Cambridge Analítica, como
tros, incitando-nos a deixar de destacou em março o site
socializar pessoalmente, na Business Insider.

21
Alexander Taylor foi nomea- te empresarial envolvido nas
do diretor da Emerdata em 28 mudanças de tendência nas
de março, em substituição ao urnas britânicas (no referen-
demitido Alexander Nix, que do Brexit) e estadunidenses
reconheceu ter trabalhado (eleição de Donald Trump)
em eleições de países de to- em 2016 – reconheceu que
dos os continentes, incluindo a consultora britânica havia
Estados Unidos, Reino Uni- acessado (ou comprado?)
do, Argentina, Nigéria, Quênia informação pessoal de pelo
e República Checa, e teve de menos 87 milhões de usuá-
afastar-se como resultado de rios, e a havia utilizado para
um vídeo gravado pela tele- criar perfis de eleitores.
visão britânica, com câmera
escondida, onde fez todo tipo O Facebook administra mais
de comentário impróprio, tal de 300 milhões de gigaby-
como oferecer grandes quan- tes em informação pessoal
tias de dinheiro a um candida- de seus usuários, um arsenal
to e tentar extorqui-lo. de perfis que lhe permite dis-
por de uma das plataformas
Segundo a Business Insider, online mais importantes do
entre os responsáveis pela mundo, indispensável para
Emerdata aparece Johnson beneficiar-se de modelos de
Chun Shun Ko, um executivo negócio que ampliam consu-
chinês do Frontier Services midores e diversificam merca-
Group, empresa militar pre- dos, ao calor do crescimento
sidida pelo destacado par- produtivo de robôs e da auto-
tidário de Trump Erik Prince, mação industrial.
fundador da empresa militar
estadunidense Blackwater e >> Conclusão
“casualmente” irmão da secre-
tária de educação dos Estados Tudo isso acontece apenas duas
Unidos, Betsy DeVos, pilar da décadas depois que Sergey Brin
rede internacional capitalista e Larry Page registraram o do-
Atlas Network. mínio google.com e onze anos
desde que Steve Jobs apresen-
O Observatório em Comuni- tou à sociedade, em São Franci-
cação e Democracia afirma co, o primeiro iPhone. Enquanto
que, logo que o escândalo isso, o Facebook segue criando
assumiu dimensão global, o perfis de usuários e os algorit-
Facebook – principal agen- mos que a Cambridge Analytica
22
usou seguem à disposição de evasão e a elisão fiscal – e
quem os queira (e possa) pagar. estas, por sua vez, privam os
É difícil que um único pais te- governos dos recursos nces-
nha capacidade de desenvol- sários para executar políticas
ver os níveis necessários de distributivas, agravando ainda
resposta para manter e/ou re- mais a desigualdade. Ainda
cuperar a soberania em algu- que esta tenha se reduzido
mas áreas, e por isso, impres- de maneira considerável na
cindível a soma de vontades América Latina, está regres-
políticas – governo, academia, sando rapidamente.
movimentos sociais – para so-
mar a potência de negociação O problema da sonegação
em temas básicos como in- ganhou protagonismo na
teligência artificial e big data. opinião pública, nos últimos
Não há outra saída: devemos anos, graças à publicação am-
nos apropriar do big data para pla de nomes de pessoas e
poder pensar em ferramentas entidades que utilizam em-
libertadoras. presas e contas offshore em
paraísos fiscais, para evadir o
A única forma de lutar nesta pagamento de impostos. Os
guerra de Quinta Geração é Panama Papers, em 2016, e os
colocando-se em dia em re- Paradise Papers, em 2017, pu-
lação à inteligência artificial, seram a nu o modus operandi
à possibilidade de montar da evasão fiscal e os perso-
novas plataformas que esca- nagens que se serviram dela,
pem aos filtros das grandes apontando entre os evasores
corporações, à necessidade os presidentes da Argentina,
de apropriar-se das armas, Mauricio Macri, o da Colôm-
as ferramentas para poder bia, Juan Santos, e o do Chi-
lutar nesta guerra cultural, le, Sebastián Pinera, além de
de gerar agendas próprias de ex-candidatos presidenciais
acordo com os interesses de como Doria Medina, na Bolívia,
nossos povos. e Guillermo Lasso, no Equador

A corrida por impostos cada Mas segundo investigado-


vez menores para os ricos res latinoamericanos, a pu-
ganhou velocidade nos últi- blicação dos Panama Papers
mos anos, impulsionada por obedeceria a uma grande es-
governos neoliberais e para- tratégia de Washington para
ísos fiscais, que permitem a consolidar sua posição no
23
mundo como um grande pa- fiscais são impenetráveis a
raíso fiscal, no momento em estas estratégias de inves-
que enfrenta uma crise grave tigação e contrainformação.
de liquidez. Com a publicação Delaware, com uma popula-
dois documentos, o dinheiro ção de 920 mil habitantes,
passou a buscar um refúgio tem 945 mil empresas regis-
em que não possa ser investi- tradas. Wyoming conta com
gado e exibido. 128 mil “entidades de negó-
cio ativas”, o que equivale a
Ariel Noyola, investigador da
uma para cada 4,5 cidadãos,
Universidade Nacional Autôno-
apesar de ser o segundo Es-
ma do México (Unam) afirma
tado menos povoado de seu
que este dinheiro irá parar em
qualquer dos quatro paraísos país. Mas os paraísos fiscais
fiscais que os Estados Unidos dos EUA não despertam in-
abrigam: Delawares, Dakota do teresse nem dos meios tradi-
Sul, Wyoming ou Nevada. Os cionais de comunicação, nem
principais bancos e fundos dos do Consórcio Internacional
EUA são os que alocam seu di- de Jornalismo Investigativo,
nheiro em mais de trinta para- que vazaram os Papers.
ísos fiscais que há no mundo,
há quase meio século. No entanto, mais além das
atitudes pouco leais daqueles
A mensagem que os Panama que mantêm contas ou ne-
Papers emite é clara: senhores gócios em paraísos fiscais e
empresários e cidadãos, seu ao mesmo tempo dirigem os
dinheiro não está seguro no orçamentos públicos de seus
Panamá como paraíso fiscal. países, são necessários alguns
Depositem-no nos EUA, para dados econômicos sobre os
sua segurança. Noyola chama prejuízos aterrorizantes que
atenção para o fato de que, na estas instituições provocam.
investigação dos Panama Pa- Os países em desenvolviment
pers, não apareceram nomes perdem centenas de bilhões
nem de cidadãos, nem de em- de dólares por ano, por eva-
presas norte-americanas. são e elisão fiscal de grandes
empresas através de paraí-
Assim, uma possível inter- sos fiscais. Estes concentram
pretação é de que os fundos grandes fortunas latinoame-
e a informação que os EUA ricanas. Calcula-se que cer-
mantêm em seus paraísos ca de 27% da riqueza privada

24
total da região esteja deposi- são fiscal, aumentar a trans-
tada em países que oferecem perência dos movimentos e
benefícios fiscais para grandes de origem dos grandes capi-
fortunas, o que faz da Améri- tais e afastar do serviço esta-
ca Latina a região do mundo tal aqueles que atentam de
com maior proporção de ca- maneira irresponsável contra
pitais privados nestas nações o setor público são algumas
– à frente do Oriente Médio medidas necessárias para que
e África (23%) e da Europa a ofensiva contra o Estado,
Oriental (20%), e anos-luz lançada pela direita, não conti-
adiante da Europa Ocidental nue gerando novas vítimas, na
(7%), Ásia Pacífico (6%) e Es- forma de desigualdade.
tados Unidos e Canadá (1%),
segundo o Boston Consul-
ting Group, uma das maiories Por Aram Aharonian | Tradução:
consultorias estratégicas do Inês Castilho, publicado origi-
mundo. Segundo o FMI, os pa- nalmente no site SURySUR e
íses em desenvolvimento são replicado pelo Outras Palavras.
até três vezes mais vulnerá-
veis que os países desenvolvi-
dos, para os efeitos negativos
que a legislação fiscal de um
país tem sobre os demais.

Embora, nos últimos anos, os lu-


cros das grandes transnacionais
tenham triplicado, sua contri-
buição tributária caiu, passando
de 3,6% do PIB, em 2007, para
2,8%, em 2014, segundo dados
da Organização para a Coo-
peração e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE), o que fez
com que, em 2017, alguns países
começassem a tomar medidas
contra a evasão e a enfrentar a
queda da tributação.

Especialistas destacam que es-


tabelecer limites legais à eva-

25
Comunicação Sem Terra -
Breves apontamentos sobre
histórico e organicidade

A compreensão do MST sobre a importância da comunicação como


estratégia político-ideológica se desenvolve a partir da fundação
enquanto organização nacional. Os processos organizativos a par-
tir da comunicação colaboram com as estratégias organizativas, no
acesso ao povo Sem Terra e na expansão do Movimento no territó-
rio nacional, divulgando a realidade da luta pela terra no Brasil
.
Ao longo de mais de 30 anos de luta, a criação de veículos de co-
municação populares pelos Sem Terra, como o Jornal Sem Ter-
ra (JST) e a organização do Setor de Comunicação, demonstram
a necessidade em buscar o direito à comunicação e expressão de
grupos populares rurais, por meio da disputa em alguns canais co-
merciais e na organização de meios comunicativos, desenvolvendo
uma política de comunicação popular voltada à criação de canais
de comunicação autônomos e de emancipação dos camponeses.,
para auxiliar nos processos organizativos, na mobilização dos traba-
lhadores Sem Terra, na educação do povo e na agitação da luta por
direitos sociais e reforma agrária.

Os meios de comunicação atuam como aparatos ideológicos na


construção e manutenção de um consenso hegemônico e na dis-
puta da hegemonia cultural da classe dominante sobre a classe
trabalhadora. Assim, se torna fundamental a luta dos movimentos
sociais pela garantia do direito à comunicação. Enquanto MST, per-
cebe-se a necessidade em articular a pauta da luta pela terra à luta
pela democratização dos meios de comunicação para conquistar o
direito ao poder de expressão e à comunicação na sociedade, nos
meios tradicionais e nas mídias digitais.

26
Após os anos 2000, o MST cria o setor de comunicação, com a fun-
ção de construir linhas políticas de atuação do Movimento na área
de comunicação, orientar os debates junto à base social e promover
o diálogo com a sociedade, além de coordenar a organização dos
veículos de comunicação do Movimento. É fundamental que essas
dinâmicas comunicativas estejam vinculadas as linhas políticas do
MST, transformando os trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra
em sujeitos ativos e críticos dos processos de produção e gestão da
informação e comunicação.

Nesse sentido, o MST passa a priorizar a formação de comunica-


dores populares, com a realização de uma série de oficinas para a
capacitação de sua militância nesta área. Em 2001, inicia um curso
de nível médio com capacitação em comunicação popular, no Insti-
tuto de Educação Josué de Castro, formando 50 comunicadores/as
de assentamentos e acampamentos. Entre 2010 a 2013, em parceria
da Via Campesina e a Universidade Federal do Ceará (UFC), inicia o
Curso de Jornalismo da Terra, formando 45 comunicadores/as. E a
partir da organização do Setor Comunicação desenvolve cursos de
formação política, oficinas na área do rádio, audiovisual, assesso-
ria de imprensa, internet, entre outras práticas comunicativas, bem
como debates sobre a temática da comunicação nos espaços do
Movimento, em parceria com outros movimentos rurais e urbanos
em diálogo com a sociedade.

Neste mesmo período, cria o boletim Letra Viva, distribuído pela in-
ternet. Nos últimos anos, o Movimento tem procurado ampliar tam-
bém sua produção em audiovisual, com autonomia, uma vez que
a maior parte dos vídeos produzidos sobre o MST era de amigos e
apoiadores. Assim, passa a adquirir equipamentos e realizar ofici-
nas específicas para esta área. A partir de 2005, o projeto Cinema
na Terra leva projeções de filmes para áreas de assentamentos e
acampamentos, atingindo centenas de municípios em todo o país.

Juntamente com outros movimentos sociais da Via Campesina, o


MST passa a construir outros veículos que possam ir além da luta
pela Reforma Agrária, debatendo e discutindo um Projeto Popular
para o Brasil e denunciando as violações de direitos humanos, a
política econômica e o modelo agrícola. É neste sentido, com caráter
mais amplo, que o MST participa da organização e criação da Editora

27
Expressão Popular (www.expressaopopular.com.br), procurando via-
bilizar o acesso de livros, abaixo do preço de mercado, para a mili-
tância em geral e com amplo catálogo de temas; do jornal Brasil de
Fato (www.brasildefato.com.br).

O setor de comunicação atua por meio de práticas comunicativas


populares e contra-hegemônicas – através de rádios comunitárias,
jornais, materiais impressos, canais virtuais, audiovisual, redes so-
ciais, entre outros -, na produção e circulação de conteúdos que
auxiliam no debate da Reforma Agrária Popular, junto à base social
e à sociedade em geral. As práticas comunicativas também buscam
difundir conhecimento e conscientização para a elevação cultural
dos camponeses e camponesas.

Entre a década de 1980 e os anos 2000, o Movimento cria vários


veículos de comunicação, com abrangência nacional, estadual e re-
gional para auxiliar no avanço da luta pela Reforma Agrária.

Jornal Sem Terra


O JST foi o precursor dos meios de comunicação e dos processos
comunicativos do MST. Surge antes da fundação da organização em
1981, no Rio Grande do Sul, como boletim informativo, no acampa-
mento da Encru­zilhada Natalino, em Ronda Alta (RS).

O objetivo era romper a barreira física imposta pelo exército du-


rante a ditadura militar e informar a sociedade local acerca da re-
alidade dos trabalhadores Sem Terra e suas demandas de luta. Em
1986, o jornal ganhou o prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo por
se destacar na luta pelos direitos hu­manos e na democratização da
comunicação.

O JST é um instrumento histórico para o MST por contribuir para a


construção da identidade dos trabalhadores Sem Terra e na mobili-
zação de sua base social. Sua função é informar a sociedade sobre
a realidade d-ha luta pela terra e manter sua base social informada
sobre as lutas da classe trabalhadora no país.

28
Rádios comunitárias
O rádio é o veículo com maior facilidade de acesso às populações
pobres e isoladas, principalmente no campo. O MST se apropria
do rádio na década de 1980 para produzir e veicular programas se-
manais de alcance nacional, na Rá­dio Aparecida (SP) – da rede ca-
tólica. Também veicula programas em rádios comerciais e instala
rádios-poste em acampamentos.

A partir da década de 1990, o MST inicia a organização de cursos e


oficinas para a capacitação de militantes e a instalação de rádios
comunitárias em vários assentamentos e acampamentos pelo país.
É desenvolvida a experiência em produção de programas de rádio,
como o programa “Vozes da Terra” e a montagem de rádios em mo-
bilizações massivas, com a “Rádio Brasil em Movimento”, organizada
durante a Marcha Nacional do MST em 2005, nos 5º e 6º Con-
gressos Nacionais do MST, em 2007 e 2014, respectivamente, e nas
Feiras Nacionais da Reforma Agrária entre 2015 a 2018.

A organização das rádios comunitárias nos acampamentos e assen-


tamentos melhora a comunicação interna da base e abastece a so-
ciedade local com informações sobre o cotidiano dos Sem Terra e
a realidade sobre a luta pela Reforma Agrária. Porém, como a legis-
lação de Radiodifusão Comunitária no Brasil é arcaica e não atende
às necessidades do campo, historicamente no país há um processo
de criminalização das rádios comunitárias, comandado pelas rádios
comerciais e o Estado brasileiro, através do Ministério das Comuni-
cações, que nos últimos anos tem fechado muitas rádios.

Revista Sem Terra


A Revista foi criada pelo MST em 1997, com o intuito de produzir
conteúdo mais elaborado sobre a questão agrária, para abastecer o
público apoiador da Reforma Agrária, principalmente as organiza-
ções populares, intelectuais, professores, profissionais liberais, en-
tre outros, da classe trabalhadora urbana e colaborar na formação
de militantes. As temáticas giram em torno de pautas conjunturais,
questão agrária, assuntos de caráter internacional de interesse do
MST e dos segmentos populares.
29
Devido às dificuldades financeiras e a criação de outros veículos de
comunicação, a partir de 2011, a Revista passa a ser publicada so-
mente como edição especial, trazendo discussões mais elaboradas
sobre temas de interesse do Movimento.

Página virtual MST


Com o avanço e popularização da internet no Brasil, a partir da dé-
cada de 1990, e a necessidade em romper com o silenciamento
e a criminalização imposta pelos oligopólios midiáticos brasileiros,
desde 1997, o MST mantém uma página virtual, por meio da qual
centraliza a divulgação de suas reivindicações e busca ampliar o
debate com a sociedade em torno do projeto de Reforma Agrária
no Brasil.

Entre 2003 e 2015 o portal foi reformulado, adquirindo atualização


diária com diversos conteúdos: reportagens, artigos, entrevistas, po-
esias, informações sobre a história e funcionamento do Movimento;
biblioteca virtual sobre a questão agrária brasileira; coberturas es-
peciais; videoteca, musicoteca, entre outras informações em texto,
vídeos e publicações, como o Jornal Sem Terra.

A criação do portal do MST faz parte de uma definição política da


organização em ampliar a mediação com a população e fortalecer
as alianças com os segmentos populares urbanos. O Movimento
busca tornar sua página virtual um espaço de referência para a luta
pela terra e o debate da Reforma Agrária Popular no Brasil. O canal
assume a posição de porta-voz do MST na sociedade.

Audiovisual
Com o avanço tecnológico os Sem Terra se apropriaram da lingua-
gem audiovisual. A partir da produção do filme “Lutar Sempre! - 5º
Congresso Nacional do MST”, em 2007, desenvolve-se a experiência
da Brigada de Audiovisual da Via Campesina. O coletivo realiza um
trabalho de capacitação de militantes dos movimentos sociais para
a produção audiovisual, com base em uma linguagem da classe
trabalhadora, que aborda a prática de luta e os processos coletivos
dos trabalhadores do campo como protagonistas. No caso do MST,

30
o foco se concentra na produção audiovisual sobre as lutas e as
conquistas dos trabalhadores Sem Terra, para o suporte comunica-
tivo no debate político e nos processos formativos.

A produção audiovisual do Movimento é divulgada na página do You-


tube (http://www.youtube.com/user/videosmst) e compartilhada no
portal do MST.
Redes sociais
Passam a ser utilizadas como canal para ampliar o acesso à página
virtual do MST e a mediação com os usuários da rede. O Movimento
se faz presente nesses espaços em 2006, no Twitter e em 2011, com
a criação de um perfil oficial no Facebook.

Nesses espaços são difundidos conteúdos mais dinâmicos e inte-


rativos, buscando aumentar o alcance das publicações da página
virtual do Movimento e produzir conteúdos, com linguagens mais
dinâmicas, com o uso da imagem, vídeo, áudio e textos curtos, com
objetivo de ampliar a interação e a mediação com outros públicos,
principalmente a juventude, que possui presença mais massiva nas
redes sociais.

O MST se utiliza das redes sociais procurando alargar a difusão


sobre a realidade da luta pela terra no campo, suas reivindicações
e na mediação com a opinião pública em torno do debate sobre a
Reforma Agrária Popular no país.

Os trabalhadores e trabalhadoras do Movimento na sua prática or-


ganizativa também percebem os limites desses meios comunicati-
vos em relação ao poder de influência social dos meios de comu-
nicação de massa brasileiros (TVs, rádios, jornais, revistas) que, de
modo geral, se mantêm como aparatos ideológicos privilegiados
de hegemonia na formação de um consenso na sociedade, espe-
cialmente junto às populações mais pobres, com acesso restrito à
educação e à internet.

Atualmente as mudanças no sistema de informação e comunicação,


geradas pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e
o avanço da internet não têm sido suficientes para superar o poder
dos meios de comunicações de massa tradicionais e monopoliza-
dos na sociedade brasileira. Diante disso, mantém-se a necessidade
de potencializar a criação de novos veículos e práticas comunicati-
vas populares e contra-hegemônicos, alternativos e comunitários,
como rádios comunitárias, rádioweb, jornais, TVs comunitárias, tea-
tro, audiovisual, entre outros.

31
Linhas políticas e
organicidade do
Setor de Comunicação

O setor de Comunicação tem


como objetivos internalizar
as linhas políticas e estraté-
gicas da nossa Organização,
contribuindo na qualificação
da organicidade e da forma-
ção política do conjunto do
Movimento. E externamente,
juntamente com a socieda-
de, auxiliar na realização da
disputa político-ideológica e
contra-hegemônica em tor-
no do Programa de Reforma
Agrária Popular, do modelo
camponês para a agricultura e
Projeto Popular para o Brasil.

32
As linhas políticas que preensão das linhas políticas
direcionam nosso da organização e avançando na
trabalho são: profissionalização de militantes
nesta área;
1. Construir, manter e qualifi-
car nossos meios de comuni- 5. Avançar na relação com a
cação populares, melhorando sociedade e na agitação no
a circulação de informações, meio urbano através das arti-
auxiliando nos processos de culações construídas em con-
formação e manutenção da junto com outras organiza-
unidade política e ideológica, ções, buscando métodos para
construção da identidade Sem o trabalho de “Agitação de
Terra e estratégias de luta; Massas urbano” que procurem
estimular o diálogo com ou-
2. Apropriar-se das técnicas, lin- tras categorias, principalmen-
guagens e meios necessários, te com os setores populares
possibilitando às camponesas e mais dispersos e/ou apáticos.
aos camponeses que se tornem
sujeitos deste processo. 6. Fortalecer as experiências de
comunicação popular que con-
3. Proteger e blindar nossa tribuam para a organização da
Organização na relação com classe trabalhadora na cons-
os meios de comunicação da trução de um Projeto Popular
burguesia, através de uma rede para o Brasil, como o jornal
de Assessoria de imprensa em Brasil de Fato e de setores da
nível nacional e nos estados, mídia alternativa e popular.
que garanta o acompanha-
mento, formação e a organi- 7. Organizar um sistema de
zação, evidenciando, contudo, distribuição dos materiais de
a denúncia e o enfrentamento comunicação e informação,
que travamos cotidianamente garantindo agilidade e rapidez
contra o oligopólio na impren- de circulação e o vínculo des-
sa na perspectiva da Demo- sa produção com a organici-
cratização das Comunicações. dade do Movimento.

4. Construir um programa de 8. Colaborar para a apropriação


formação política e técnica da coletiva das novas Tecnologias
comunicação para formar Mi- de Informação e Comunicação
litantes Comunicadores, Agi- (TICs), contribuindo para a cons-
tadores e Propagandistas do cientização política e para a dis-
MST, com especialização em ciplina no que toca à segurança
várias linguagens de comunica- das informações armazenadas e
ção a fim de contribuir na com- compartilhadas.
33
Linhas de ações do
Setor de Comunicação
para o próximo período

Nosso coletivo nacional se orga-


niza da seguinte forma: Direção
Nacional, Coordenação Nacional,
Coordenações Regionais (Sul, >> DIREÇÃO NACIONAL
Ana Iris Pacheco
Sudeste, Centro-Oeste, Nordes-
te e Amazônica) e Coordenações >> COORDENAÇÃO NACIONAL
de Frentes (Assessoria de Im- Wesley Lima/BA
prensa, Audiovisual, Produção de
Conteúdo e Rede Sociais, Tecno- >> FRENTES DE ATUAÇÃO:
logia da Informação e Rádios) e - Assessoria de Imprensa
Acompanhamento do CPMídias. Rafael/AL e Mayrá Lima/Brasília
Essas representações formam o
que chamamos de “Executiva” e - Audiovisual
ela se reune duas vez por ano e Luara/SP
tem a tarefa central de garantir - Produção de Conteúdo
a execução/acompanhamento e Rede Sociais
da realização das tarefas do co- Gustavo/AL e Solange
letivo nacional e a garantia das
linhas políticas, além de discutir - Tecnologia da Informação
Zenaide/SP e Lenon/PR
novos processos que precisam
ser encaminhados a partir dos
desafios que vão sendo colo- - Rádios
cados para a Organização. Para Camila Bonassa/SP
o próximo período, discutimos
>> CPMÍDIAS
a importância de integrar a este Luiz Felipe
espaço da Executiva, de forma
permanente, a representação de >> GRANDES REGIÕES:
outros quatro setores: Produção, Sul (Geani), Sudeste (Geanini),
Educação, Formação, Frente de Centro-Oeste (Janelson), Nordeste
(Aline) e Amazônica (Reynaldo).
Massas e o Coletivo de Cultura.
>> SETORES: Produção, Educação,
Formação, Frente de Massas e o
Coletivo de Cultura.

34
Organização do setor, com a truir processos com os demais
formação de coletivos nos es- setores. Assim além de sermos
tados e nas regionais, prioriza demandados para fazer mate-
para o próximo período fortale- riais e etc, que surgem no dia a
cer a organicidade das grandes dia, nos propomos a estar com
regiões. A proposta é que este representações para partici-
coletivo das regiões se reúna par e construir alguns debates.
duas vezes por ano e os res- Nesse sentido, realizamos uma
ponsáveis regionais devem ga- divisão de tarefas entre nós da
rantir o acompanhamento do seguinte forma: FM (Rafael); DH
setor nas regiões, fazer a pon- (Mayrá, Reynaldo, Maura); Cultu-
te com a direção nacional e as ra (Janelson e Luara); Formação
frentes de atuação ampliando (Íris/Mayrá/Solange); Produção
o contato e as conexões entre (Lenon, Rafael, Camila); Gênero
os militantes do setor. (Íris/Geanini); Educação (Aline);
Juventude (Gustavo); Campanha
Fazer o debate sobre a impor- Contra os Agrotóxicos (Wesley).
tância da comunicação como
estratégia política na organi- Autossustentação: em diálogo
zação, mobilização e disputa com o setor de finanças, buscar
ideológica (projeto): da direção condições materiais para cum-
nacional à base; Organizar pla- prir o planejamento de ativida-
nejamentos de ações orgânicas des do setor nacional, além de
do setor (com divisão de tare- construir parcerias com alguns
fas, acompanhamento e ava- espaços universitários onde
liação), a partir da realidade e temos incidência nos estados
necessidade do Movimento, em para projetos na área de Rádio e
cada estado e região. Rompen- Tecnologia da Informação e Co-
do com o tarefismo. municação (TICs), sempre com
a intencionalidade da formação
Planejamento de ações interse- de militantes e quadros do se-
toriais. Retomar diálogo e cons- tor, além da capacitação técnica.

35
FORMAÇÃO

Centralidade da pauta da Democratização da Co-


municação em todos os processos formativos do
setor e deste para o todo do Movimento.

Construir um Programa de Formação política e téc-


nica de comunicação, inclusive retomando a ideia
de cursos formais (graduação e pós-graduações).

Inserir o debate da comunicação nos cursos de for-


mação do MST (formais e informais) e construir um
planejamento de oficinas com formação técnica.

Garantir o debate da comunicação/hegemonia/luta


de classes para o todo do setor em todas as instân-
cias do MST. Incluir as formulações mais recentes (a
ex. da segurança, tecnologia e internet).

Construir cursos de formação política em conjunto


com Comunicação, Cultura e Juventude. Também es-
tabelecer formações conjuntas com outros setores.

Ocupar os espaços das escolas do campo para o


debate e a formação política e técnica em comuni-
cação. Qualificar os nossos meios de comunicação
e construir novos instrumentos a partir da realidade
e necessidades nacional, estadual e regional.

Rediscutir a função dos nossos veículos de comuni-


cação, como o Jornal Sem Terra, rádios, página vir-
tual, redes sociais, etc.

Elaborar materiais de estudos sobre a comunicação


do MST (Cadernos de Comunicação – pensando a
dimensão do debate político organizativo e tam-
bém técnico).

36
MASSIFICAÇÃO
(Interno – Acampamentos e Assentamentos – e Externo):

Trabalho de base: atuar nas áreas (acampamentos e


assentamentos) contribuindo na organização, forma-
ção da consciência e mobilização social, acumulando
para formação de novos quadros do setor, tendo na
juventude o elo para possível massificação.

Auxiliar na construção de instrumentos e com dife-


rentes linguagens de comunicação, que dialoguem
com a realidade e necessidade das famílias Sem Terra.

Encarar as rádios como elemento de formação, traba-


lho de base e luta política nos acampamentos e assen-
tamentos.

Compreender o debate e qualificar a atuação na mo-


bilização em torno da pauta da democratização da
comunicação. Promover articulação com outras orga-
nizações e grupos populares para a criação de méto-
dos alternativos e criativos que estimulem a agitação
e mobilização das massas urbanas e rurais.

Construir e/ou fortalecer a relação política com organi-


zações de comunicação popular da classe trabalhado-
ra e grupos de comunicadores populares. Brasil de Fato
nos Estados, Centro Popular de Mídias, Sindicatos de
Jornalistas progressistas, blogueiros progressistas etc.).

37

FRENTES DE ATUAÇÃO – UM POUCO DE HISTORIA

ASSESSORIA DE IMPRENSA

A maior parte dos meios de comunicação está nas mãos da burgue-


sia. Por isso, os programas e as informações que transmitem têm
a visão dos seus donos. A primeira tática das elites com os movi-
mentos populares é ignorá-los. Hoje, na sociedade, se tem a visão
de que o que não sai na imprensa não aconteceu ou não é verdade.
Assim, os meios de comunicação geralmente omitem informações
sobre nossas lutas e nossas conquistas.

Aprendemos com o professor Florestan Fernandes as outras táticas


que as elites utilizam para tentar derrotar o povo organizado quan-
do já não é mais possível ignorar: “cooptar, dividir e esmagar”.

Como os meios de comunicação são o reflexo desta elite, na práti-


ca, farão o mesmo:

a) Cooptando, através do personalismo. A imprensa gosta de per-


sonalizar a luta, de criar mitos, de individualizar, mostrando histórias
de pessoas que “venceram” por esforço próprio, pregando o indivi-
dualismo. Nosso Movimento é contra isso. Por isso, dentro das ins-
tâncias todos podem e devem representar o Movimento.

b) Dividindo: aqui também aproveitam do personalismo, do estre-


lismo. Comparam declarações entre dirigentes, inventam correntes
e facções para dar a ideia de que o movimento não tem unidade.
Também combatemos esta postura através dos nossos princípios
organizativos da disciplina, do respeito às instâncias e do centralis-
mo democrático.

c) Criminalizando para esmagar: a linha geral dos meios de comuni-


cação é de criar um estigma na sociedade contra o MST. Produzem
matérias bombásticas, sempre voltadas para a violência, e criam o
discurso de que a organização é ilegal e antidemocrática.

38
Avaliação

A Frente de Assessoria de Imprensa sente fortemente o refluxo que


atinge a nossa organização, pois já tivemos referências em todos os
estados, mas não temos um coletivo nacional que consiga dividir
tarefas, e sim dois companheiros nos espaços nacionais que acu-
mulam essa e outras funções.

Precisamos nos enxergar dentro da organização, mais do que so-


mente a relação com a mídia: o mérito da nossa presença na im-
prensa é das lutas.

Temos o trabalho de formular o discurso, o que exige um ritmo


de pesquisa e sistematização. Nos estados, temos deixado de fazer
monitoramento da imprensa, ou, no mínimo, clipagem. Mas temos
uma presença na imprensa nos estados (precisamos medir isso).

Nossa presença na mídia grande diminuiu. Há um silenciamento in-


tencional com o qual temos que lidar (em certo nível desencanar
de estar na mídia grande, e sim pensar a tática a partir do que vive-
mos: fomos engolidos na conjuntura política, portanto precisamos
girar junto). Mantemos uma postura reativa, sendo pautados pelo
que a imprensa precisa de informação, mas é necessário passar a
uma postura de agendamento (pautar o que a imprensa vai falar
em cada período). Em certa medida, ampliamos a relação com veí-
culos internacionais.

Nesse sentido, a relação com as redes sociais sobem em impor-


tância pra nós, pois muito do que vai pra grande mídia vem da re-
percussão das redes. Precisa ser pensada de forma totalizante a
comunicação: assessoria/redes.

39
Desafios

A primeira preocupação é de formação de um grupo: identificar


pessoas para montar um pequeno coletivo e planejar tarefas;

Temos que encontrar uma alternativa para realizar formação, tanto


de quem trabalha na assessoria como dos porta-vozes. (projeto de
media training está pronto).

É importante retomar o monitoramento cotidiano da imprensa (uti-


lizando nossos instrumentos consolidados – clipagem e análise,
MST na Imprensa e Termômetro).

Precisamos investir na estrutura para o trabalho da assessoria: se-


nhas de internet para clipagem, Maxpress.

Retomar reuniões mensais com o coletivo de Assimp.

Programar um seminário de análise da conjuntura da imprensa,


agendamento e treinamento de porta-vozes.

Tarefas

Definir responsáveis pela relação com a imprensa em cada estado.

Providenciar uma periodicidade para o monitoramento de imprensa


em cada estado.

Formar porta-vozes, com a devida atenção ao gênero e a diversidade.

40
Dicas da Assimp

O MST não usa a mídia para criar factoides (fatos planejados para
repercutir na imprensa) ou ficar se projetando.

Devemos evitar pautar o debate sobre o nosso Movimento, o jeito


de o MST funcionar, seus recursos etc. Os jornais não ficam expli-
cando como eles funcionam ou de onde vem o dinheiro.

Devemos evitar a participação em programas ou entrevistas que


sejam apenas para projetar e estimular personalismos.

Ter cuidado com as pautas que já vêm “prontas”. É fácil perceber


quando a intenção do jornalista é essa: basta prestar atenção nas
perguntas que o jornalista faz.

O MST não participa de nenhum debate onde esteja a UDR/CNA,


porque eles são responsáveis pelo assassinato de diversas lideran-
ças, vários fazendeiros associados usam armas e organizam milícias.
Não podemos sentar com nossos torturadores.

O MST não concede entrevistas para alguns veículos específicos,


como a Revista Veja, para os programas do apresentador Boris Casoy;

Quando se trata de uma grave acusação, falsa, devemos imediata-


mente consultar nossos advogados para ver a possibilidade de en-
trar com queixa crime, pedir direito de resposta e entrar com ações
que impliquem indenização por danos morais.

Quando for preciso responder a alguma falsa notícia ou calúnia,


nunca personalizar o ataque ao jornalista autor.

41
RÁDIOS NO MST:
LINHAS POLÍTICAS E ORGANIZATIVAS

O rádio faz parte da cultura de quem vive no campo, principalmente


por ser um meio flexível, que pode ser levado para qualquer lu-
gar e que possibilita que as pessoas façam outras coisas enquanto
ouvem os programas. Ele está presente na maioria das casas bra-
sileiras. É, portanto, uma importante ferramenta no processo de re-
sistência dos territórios de Reforma Agrária frente ao avanço do ca-
pital e suas diversas formas de atuação. Em muitos casos, as rádios
são a única forma de acesso aos meios de comunicação. Por isso, o
MST entende a importância e a necessidade de instalar rádios nos
assentamentos e acampamentos.

Conquistar o espaço de rádio faz parte da luta pela justiça e trans-


formação social. É fundamental para as mudanças do nosso país e
para a emancipação dos trabalhadores do campo e da cidade. De-
mocratizar verdadeiramente a comunicação, através da construção
de meios de comunicação que representem a voz da classe tra-
balhadora, deve ser um objetivo aliado a nossa luta pela Reforma
Agrária e um Projeto Popular para nosso país.

Breve histórico acerca do rádio no MST

A utilização do rádio pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais


Sem Terra data de praticamente o início da Organização, nos anos
de 1980. Intercalando períodos de maior ou menor intensidade nas
atividades, o rádio sempre esteve em pauta no MST.

Em 1987 e 1988, o MST já tinha um programa de alcance nacional,


que ia ao ar toda semana, na Rádio Aparecida (SP), no horário do
amanhecer. Por ser um veículo de comunicação rápido e que atinge
bastante pessoas ao mesmo tempo, o movimento passou a se utili-
zar deste meio também nos estados, comprando espaços nas rádios
comerciais para fazer os programas do MST e também utilizando os
programas de rádios de entidades amigas do Movimento.

As rádios poste também passaram a ser utilizadas nos acampamen-


tos, para desenvolver a comunicação e organização internas. Nos

42
anos 90, o seu uso foi diminuído e nos últimos anos elas têm reapa-
recido nos acampamentos e também nas atividades nacionais.
O movimento das rádios comunitárias foi crescendo no país e, des-
de meados dos anos 90, o MST procura acompanhar esta luta pela
democratização, instalando equipamentos e estruturas, capacitando
gente, montando equipes e organizando comunidades para monta-
rem as suas próprias rádios comunitárias camponesas. Há experiên-
cias interessantes nos estados, no desenvolvimento da comunicação
direta com acampados, assentados e sociedade em geral.

Em 2005, o MST organizou a Marcha Nacional pela Reforma Agrá-


ria. Doze mil pessoas caminharam de Goiânia a Brasília. Nessa gran-
de mobilização, o Movimento Sem Terra, em parceria com a Asso-
ciação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço) se desafiou
a desenvolver uma experiência de rádio itinerante e colocou no ar,
pela primeira vez, a Rádio Brasil em Movimento (RBM). Com o lema
“Verás que um filho teu não foge à luta!”, a rádio foi transmitida em
frequência modulada (FM) a partir de um estúdio instalado em um
trio elétrico que fez o trajeto junto com os marchantes, que tam-
bém podiam participar dos programas.

O MST produziu durante anos (de 2000 a 2008), o programa de


rádio Vozes da Terra, que era distribuído todo mês para rádios do
MST, católicas, universitárias, comunitárias e algumas comerciais
de todo o país. Ao todo foram mais de 500 rádios que recebiam,
mensalmente, CD’s temáticos com 4 programas, de 15 minutos. Os
temas eram sociais, políticos, econômicos, culturais, de acordo com
a conjuntura e os grandes debates que aconteciam no país. Além
de ser distribuído em CD, as rádios podiam baixar o programa pela
internet, através da página do MST.

Mesmo sabendo que ainda há muito por fazer, pode-se dizer que
nos últimos quatro anos (pós- 6º Congresso Nacional) tivemos al-
guns avanços. Um deles é a consolidação da Rádio Brasil em Mo-
vimento (RBM) como instrumento da Organização e a simbologia
que tem. Hoje, em todas as atividades já inserimos a rádio - seja
na versão poste ou web - como necessidade, assim como nossos
outros meios.

43
Atividades radiofônicas desenvolvidas pelo MST

O trabalho de rádio do MST se desenvolve em várias frentes. Em


três décadas de existência, diversas experiências já foram construí-
das. Algumas permanecem, outras se tornaram um acúmulo neste
trabalho para avançarmos em nossa concepção de rádio.

As principais atividades radiofônicas desenvolvidas pelo MST são:

<< Rádios Comunitárias Camponesas


normalmente funcionam com transmissões em frequência modu-
lada (FM) e as emissoras são instaladas, na maioria das vezes, em
áreas de assentamentos. O MST não possui nenhuma experiência
de rádio AM.

<< Programas do MST


são espaços cedidos ou comprados em rádios comunitárias, livres
e/ou comerciais, que podem ser FM ou AM. Geralmente são sema-
nais e têm duração de 1 hora.

<< Rádio Poste


são sistemas de som internos com equipamentos de alto falantes
ou cornetas instalados em uma área determinada e de menor abran-
gência territorial. São mais utilizadas em acampamentos, escolas,
centros de formação e atividades (encontros, congressos, cursos).

<< Rádios Itinerantes


podem funcionar como FM, poste ou web. É denominada itinerante
pois não tem um local fixo, podendo transmitir a partir de qualquer
local. É mais utilizada em atividades a exemplo das marchas, con-
gressos e Jornadas de Agroecologia.

<< Rádio Web


são emissões via internet (distribuição de dados) através de tec-
nologia de transmissão de áudio em tempo real (streaming). Tem
funcionado com programações especiais nas coberturas dos Con-
gressos, Feiras Nacionais, Festivais e marchas.

44
Concepção das Rádios do MST

Muitas vezes nos perguntamos se nossas rádios são comunitárias


ou livres. Mas qual seria a diferença entre essas concepções? E qual
a nossa concepção?

................................O que é uma Rádio Comunitária?

<< Rádio Comunitária é um tipo de emissora de rádio FM, de alcan-


ce limitado a, no máximo, 01 km a partir de sua antena transmis-
sora de 25 watts.

<< Pelo limite de seu alcance, determinado por lei, pode-se perce-
ber que ela foi concebida, legalmente, para os centros urbanos, pois
esse alcance é limitado pelas condições geográficas e de organiza-
ção das comunidades rurais.

<< Ainda, as concessões que legalizam a atuação das Rádios Co-


munitárias são autorizadas pelo Congresso Nacional, que prioriza
os grandes empresários, perseguindo, através da ação da Polícia
Federal, muitas vezes, as rádios que realmente se propõem a de-
senvolver um trabalho comunitário, com a população local.

<< É importante termos claro, que muitas rádios comunitárias são to-
madas por polítcos, igrejas e empresários locais, com o objetivo de
compor seu domínio de poder em determinados municípios e regiões.

................................O que é uma Rádio Livre?

<< Rádio Livre é aquela que não tem objetivo em obter concessão
para funcionar.

<< Se organiza de forma aberta, sem compromisso com partido po-


lítico, movimento social, igreja ou qualquer forma de organização,
mesmo que popular.

<< Organiza-se por assembleias gerais, abertas a quem queira participar.

<< Denominam-se meios de informação alternativos.

45
................................Qual a nossa concepção de Rádio?

Para nós do MST, a comunicação deve ser incorporada como um


direito dos trabalhadores do campo e uma ferramenta de luta e
organização de nossas comunidades, além de cumprir o papel de
levar à sociedade nossas conquistas e nossa cultura Sem Terra.

Assim, não podemos nos denominar como Rádios Livres ou Co-


munitárias. Primeiro, porque somos de uma organização, do MST,
da organização dos trabalhadores Sem Terra e estamos abertos ao
nosso povo, mas não a todos. Imaginem se um fazendeiro vem em
nossas reuniões da rádio? Segundo, porque não lutamos por con-
cessão, uma vez que a legislação foi pensada para rádios pequenas
e comunitárias não funcionarem, ainda mais no meio rural. Somen-
te para o meio urbano. Apenas 01 km de alcance para nossas rádios,
não contempla nem mesmo todo um assentamento com o acesso
à sua programação.

Ainda, temos que ter clareza, que pedir concessão tem dois proble-
mas: além da grande burocracia, pedi-la é dar o endereço de nossas
rádios à polícia, que pode fazer busca e apreensão dos materiais e
equipamentos. Uma vez que uma rádio não tem concessão, a Polí-
cia Federal é autorizada a apreendê-la.

Nossa concepção deve ser a de Rádio do MST, comunitárias cam-


ponesas, construídas pelos Sem Terra em sua organização e luta
pela Terra, Reforma Agrária e a Transformação Social.

Reflexões sobre a metodologia do trabalho com as rádios

Há uma compreensão e decisão política do MST de ampliar o nú-


mero de rádios em assentamentos e acampamentos para avançar
na relação com o conjunto das famílias Sem Terra e com a socie-
dade em geral. Este não é um processo fácil, pois exige, além da
montagem da rádio (equipamentos), o funcionamento, manuten-
ção e coordenação interna permanentes. O desafio cotidiano é ter
continuidade e persistência no trabalho com as rádios comunitárias
camponesas. E para que as rádios cumpram os objetivos propostos
é fundamental que estejam inseridas na organicidade do MST.

46
Princípios

Todas as rádios devem ter princípios articulados aos do MST e de-


vem estar a serviço da estratégia do Movimento.

A rádio é da comunidade: Discutir com a comunidade a importância


e os objetivos da rádio e como a comunidade vai participar dela,
tanto em sua programação, quanto em sua organização. Os núcleos
de base (núcleos de famílias que integram o assentamento) de-
vem discutir o método de organização e funcionamento da rádio, de
acordo com as formas de organização do assentamento.

Envolvimento dos setores do MST: Comunicação, Educação, Saúde,


Produção, Cultura, Gênero, Formação, Juventude e demais setores
devem estar inseridos na discussão da organização da rádio e na
elaboração da programação. Cada setor tem suas iniciativas e ex-
periências importantes em andamento e devem se utilizar do rádio
para divulgá-las, educar e chamar para a participação.

Compor uma coordenação da rádio com representantes do assen-


tamento e dos setores do MST (Coletivo de Coordenação da Rá-
dio) para atuar coletivamente e que tenha articulação com o Setor
de Comunicação Estadual. Estas pessoas não precisam necessa-
riamente apresentar programas na rádio, mas garantir a represen-
tatividade da comunidade. Realizar assembleias comunitárias para
discutir pontos relacionados à rádio.

A responsabilidade do acompanhamento das linhas de trabalho na


rádio deve ser da coordenação do assentamento e da coordenação
da rádio - pois são aqueles que ouvem todos os dias a rádio - de
acordo com os princípios do MST e do Setor de Comunicação.

A rádio deve ter autonomia financeira e política e não estar vincu-


lada às figuras políticas locais, com troca de favores e palanques
eleitorais. A comunidade deve buscar formas de sustentabilidade
das rádios. Fazer o debate político em torno das questões locais e
gerais, mas sem transformar a rádio em palanque.

47
Valorizar a formação e o estudo das pessoas que atuam na rádio, de
forma que possam ter um vasto universo de conhecimentos e, ao
mesmo tempo, a condição de aprofundá-los para ser capaz de ser
um educador do povo..

Capacitar os trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra para serem


sujeitos do processo como ouvintes e como participantes da pro-
gramação da rádio.

Combater a indústria cultural e a alienação pela informação nas


rádios. Valorizar a cultura camponesa, a cultura popular e divulgar a
cultura que fica à margem da sociedade.

Formação: o Setor de Comunicação do MST e a coordenação da


rádio têm a responsabilidade de organizar em nível regional, esta-
dual e nacional os cursos, oficinas, reuniões de avaliações, encon-
tros para trocas de experiências, seminários e capacitação para os
militantes que atuam nas rádios. Este planejamento pode e deve
ser feito em articulação com os demais setores do MST, principal-
mente com os Coletivos de Cultura e de Juventude.

Desafios do MST em relação às rádios

O MST entende que as rádios são muito importantes para o proces-


so de democratização da comunicação e para a emancipação dos
trabalhadores. Por isso, busca ampliar o trabalho em rádio, de for-
ma que este caminhe junto com as conquistas dos trabalhadores e
trabalhadoras Sem Terra e que possa contribuir para o alcance de
mais conquistas. Dentre os desafios neste campo estão:
:
1. Ampliar o trabalho em rádio, massificar, com a participação das
comunidades.

2. Manter as rádios abertas e funcionando com regularidade.

3. Desenvolver a identidade de rádio comunitária e camponesa,


diferente das rádios comerciais e das rádios urbanas promovidas
pela indústria cultural.
48
4. Garantir o envolvimento da militância e de quadros políticos no
desenvolvimento e acompanhamento das rádios.

5. Desenvolver programação que contribua para a todas as dimen-


sões da vida humana que perpassam a organização das áreas de
Reforma Agrária.

6. Contribuir com as demandas da luta e organização do MST, for-


talecendo nossas comunidades, em especial acordo com a linhas
políticas de atuação, definidas pelo conjunto do Movimento e de
nossas instâncias.

7. Consolidar as rádios como instrumentos que possam fortalecer


nossa luta e massificação, ajudando no trabalho de base, na pro-
paganda de nossas conquistas e na organização de nossos acam-
pamentos, aliando a formação política e a educação permanente
neste processo.

8. Criar uma dinâmica de articulação entre as rádios instaladas em


áreas de Reforma Agrária afim que construir uma unidade política
entre as emissoras e consolidar a atuação da Frente de Rádios do
MST.

9. Fortalecer a Rádio Brasil em Movimento como uma ferramenta


de caráter nacional.

10. Nos apropriar da internet como potencializadora do trabalho


com as rádios. Consolidar as experiências de rádio web, investindo
em capacitação e estrutura.

49
FRENTE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO E REDES

Umas das mais novas frentes do Setor de Comunicação, que surge


em meados de 2015, diante do avanço das tecnologias da informa-
ção e comunicação e da importância da internet no compartilha-
mento e divulgação de informações sobre as ações do MST para a
sociedade e na interação com a nossa base social.

A frente tem a tarefa da edição e divulgação de conteúdos (textos,


imagens, vídeos, cards e áudios) na página virtual do MST, Jornal
Sem Terra, no perfil do Facebook e no Twitter. Também realiza pla-
nejamentos e produção de conteúdos para esses meios e para es-
peciais, como a Revista Sem Terra, de acordo com as demandas do
Movimento.

Avaliação

- No último período conseguimos ampliar a produção de conteú-


dos, com a reportagens mais profundas, de contexto nacional para
a página virtual.
- Os estados estão produzindo mais conteúdos e enviando para os
nossos veículos, inclusive alguns que não tinham essa prática;
- Foi realizada a capacitação de um grupo de comunicadores que
estão nos estados para colaborar na atualização da página e redes
sociais, o que é fundamental para descentralizar a divulgação de
conteúdos, melhorar a dinâmica desse espaço e capacitar mais mi-
litantes para a tarefa;
- Foi positiva a criação do MST Informa, envolvendo mais militantes
na descentralização da tarefa;
- A realização de entradas ao vivo, nas redes sociais tem contribuído
para ampliação de acessos aos conteúdos do Movimento nas redes
sociais.

Desafios:

- Melhorar a descentralização na produção e divulgação de conte-


údo, não fixando somente em São Paulo;
- Criar planejamento de reunião de pautas da frente para alinha-
mento nacional e a relação com a conjuntura;
- Dar vazão às demandas de produção de conteúdo nas páginas e
50
perfis locais, colocando as diversas experiências em rede;
- No gerenciamento da página do MST, Facebook e Twitter, de ou-
tras páginas, blog e perfis relacionados ao MST, sempre levar em
conta as reflexões sobre segurança realizadas pelo Movimento. E
ficar atento ao tipo de conteúdo divulgados nesses espaços, evi-
tando a divulgar informações e imagens internas. Ter clareza de que
a internet é um espaço público e sem segurança;
- A demanda para as redes sociais (Facebook, Twitter, WhatsApp)
é grande, mas a equipe é reduzida. Por isso, é fundamental manter
permanente a experiência de descentralização;
- Realizar oficinas de produção de conteúdo para internet e redes
sociais, capacitando mais militantes para atuar nessa frente;
- As redes sociais não devem ser apenas um repositório de conte-
údo. A atuação da frente deve estar atrelada às outras frentes do
setor e ao Movimento.
- Tarefa de estudo permanente sobre as redes sociais, na área po-
lítica e técnica.

Prioridade: A frente está produzindo um manual com normas


básicas para dar suporte à produção de conteúdos pelos comuni-
cadores nos estados.

Tarefas das Regiões

- Definir responsáveis pela produção de conteúdos e redes nas re-


giões e estados;
- Fazer um mapeamento dos militantes com experiência na pro-
dução de conteúdos, com formatos para internet e redes sociais
(cards, vídeos, áudios, textos objetivos etc.);
- Produzir conteúdos sobre as ações públicas do MST nos estados e
enviar rapidamente para divulgação nas nossas plataformas virtuais;
- Realizar oficinas de produção de conteúdos para internet e redes
sociais na regiões e estados. Entrar em contato com a coordenação
da frente para dar suporte.

51
AUDIOVISUAL
BRIGADA DE AUDIOVISUAL EDUARDO COUTINHO (BAEC)

A Brigada de Audiovisual da Via ao cineasta que havia falecido


Campesina, como era anterior- recentemente.
mente chamada por também ser
composta de militantes de outros É nesse período que a brigada se
movimentos sociais, começa to- aproxima mais do Setor de Co-
mar forma em meados do ano de municação. Em 2016 se desliga
2004, quando, em parceria com do Coletivo de Cultura e passa a
entidades amigas do MST, como pertencer organicamente somen-
a UBV (atual SAL – Solidariedade te ao Setor de Comunicação. A
América Latina) e outras, o Setor partir de então, crescem quantita-
de Comunicação começa adquirir tivamente e qualitativamente os
equipamentos e pensar formação vídeos para as redes sociais. Con-
para a produção audiovisual. Mas seguimos manter a realização de
foi a partir da elaboração do vídeo um a dois grandes documentários
Lutar Sempre!, do V Congresso por ano, todos baseados em nos-
Nacional do MST, que se conso- sas atividades (6ºCongresso do
lidou enquanto brigada. MST, Congresso da CLOC, Primeira
Turma de Formação de Formado-
Durante o período de 2007 – res em Língua Inglesa, 10 anos da
2014, a brigada estava intima- ENFF, Conferência Internacional
mente ligada ao Coletivo Nacio- da Via Campesina, entre outros).
nal de Cultura, tendo importante
papel em sua estruturação os Fortalezas: Tentativas de saltos
Pontões de Cultura, que garan- quantitativos e qualitativos na
tiram apoio a projetos e equipa- proposta de comunicação do MST.
mentos, além de enraizar o Cine-
Desafios: Estruturação da brigada
ma na Terra (projeto de exibição para efetivar seu enraizamento nos
e debate de filmes nas áreas de estados, através de processos for-
acampamentos, assentamentos, mativos, tanto para os militantes
encontros, etc). que já a compõe, como para os/as
que irão se somar.
A partir do 6º Congresso, em
2014, a brigada, que já não era Formação periódica e permanen-
te, com o objetivo de contribuir
mais organicamente da Via Cam-
no debate e construção de um
pesina, muda o nome para Briga- cinema popular, desenvolvendo
da de Audiovisual Eduardo Cou- a linguagem Sem Terra e da clas-
tinho (BAEC), em homenagem se trabalhadora.
52
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Antes da “era dos computadores”, o MST em parceria com a CPT


(Comissão Pastoral da Terra), criou uma “rede de telex” distribuídos
nos principais Estados onde estava mais organizado e nas secreta-
rias regionais quando de sua expansão para o Nordeste. Até o final
de década de 1980, essa “rede de telex” cumpriu um papel impor-
tantíssimo para fazer fluir as informações dentro do MST e com
seus pares, mas, principalmente, como mecanismo de denúncias e
instrumento de pressão sobre as autoridades diante das arbitrarie-
dades cometidas contra os trabalhadores: violência dos despejos,
assassinatos e prisões.

A partir de 1989, o MST começou a utilizar computadores. Nessa fase


inicial, esses trabalhos se restringiam, a parte administrativa e arqui-
vos de documentos. Depois, junto ao Instituto Sedes Sapientae, esse
trabalho evoluiu para a qualificação da mão de obra do próprio MST.
Naquela época ainda não havia os grandes provedores comerciais
(UOL, Terra, Bol, AOL etc.). Tudo era via Ibase, com o sistema Alternex,
que supria essa lacuna e disponibilizava para o Brasil um dos primei-
ros provedores de internet. No início dos anos 1990, o Movimento foi
convidado para discutir essa questão em um encontro promovido
pela Agência Latino-Americana de Informação, em Quito, Equador.

Internamente, a Secretaria Geral do MST era responsável por zelar


desse debate sobre tecnologia e sua importância para o processo
organizativo. A partir do ano 2000, iniciam-se as primeiras discussões
de Software Livre e nasce, nesse período, a Frente Digital, destinada
a realizar cursos técnicos e montar telecentros nas áreas de assen-
tamentos em vários Estados (foram 10 telecentros no total). Data
deste período a construção do provedor de internet do MST (criação
do domínio mst.org.br). Em 2003 foram consolidados os Pontos de
Cultura nos Estados de PE, MA, PR, SP, SE, ES e na ENFF e criado o
Software Livre chamado MST TIC, para os Telecentros.

A Frente Digital, nasceu dentro do Setor de Comunicação e atua


ininterruptamente por um período de cinco anos. Posteriormente
é retomada, em 2015, atualizando suas linhas de atuação como
Frente de Tecnologia da Informação, integrada ao mesmo Setor. A
principal discussão visava colocar as/os Sem Terra no aspecto da
53
infraestrutura de comunicação, indo para além do acesso à terra e
da produção, garantindo acesso à comunicação e ao mercado (co-
mercialização de seus produtos). Também almejava-se encurtar as
distâncias entre o campo e a cidade que contava com uma imen-
sa variedade de serviços de telecomunicações. Com as evoluções
tecnológicas dos últimos anos, estamos conectados por internet
ou telefonia em praticamente todo o território nacional. Mas, ainda
persiste o desafio ao MST: articular e propor ações que possam
reduzir de forma efetiva a exclusão digital do homem do campo.

A partir do desenvolvimento da sociedade da informação e a po-


pularização da internet na década de 1990, as redes sociais passam
a fazer parte do cotidiano das pessoas, bem como da militância do
MST e das famílias assentadas e acampadas, no seu dia a dia e nos
processos de luta social.

As redes sociais se tornaram uma ferramenta mundial de comu-


nicação individual, porém, também coletiva, possibilitando aos
movimentos populares, como o MST, ampliar a interação com a
sociedade. Se torna uma ferramenta importante para auxiliar na
mobilização e na luta social em torno das demandas dos trabalha-
dores do campo.

As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), em que se


insere a internet, tornam possível aos movimentos populares e às
organizações da classe trabalhadora urbana e rural o rompimento
do cerco ideológico e o filtro editorial das corporações clássicas
da imprensa burguesa em relação à marginalização, o tratamento
negativo, pejorativo e de criminalização contra os Sem Terra e a luta
pela terra, no caso do MST.

Ao mesmo tempo, esse ambiente atrativo das redes às massas para


interagirem no consumo e difusão de conteúdo nos coloca diante de
novos oligopólios da informação, como Facebook e Google, que con-
trolam através de algoritmos até onde vai esta suposta liberdade das
redes. No capitalismo contemporâneo, onde todas as facetas da vida
são passíveis de lucratividade, cada clique, cada busca no Google é
tratado como estoque de dados, utilizado para referenciar vendas e di-
recionar mercados por gente que paga bem caro por isto. Seus gostos,
suas influências e anseios são comercializados como ouro.

54
É importante ter em mente que não existem formas de regular as
interações e as motivações dos sujeitos que interagem nas redes
sociais. Os usuários dessas redes podem utilizar as informações dis-
poníveis na internet para vários fins na sociedade: tanto democráti-
cos e progressistas, quanto na difusão de interesses conservadores
e autoritários.

Por outro lado, precisamos ter clareza de que a ação e agitação


política nas redes sociais não termina no espaço virtual. As redes
sociais servem somente como espaço público para convocar as lu-
tas e mobilizações, que precisam estar ligadas à realidade de cada
momento histórico e vinculadas a um projeto político de sociedade,
como a Reforma Agrária Popular defendida pelo MST, correspon-
dendo a sua organicidade.

Atualmente, não há como entender os meios de comunicação tra-


dicionais e a internet sem considerar o movimento do capital, pois,
de modo geral, a mídia defende e é beneficiada pela estratégia de
busca pelo lucro do capital.

A internet é criada na sociedade capitalista, vinculada à lógica de


concentração e monopolização e, além de ter origem militar em
seus primórdios, é gerida por empresas que possuem o monopólio
dessas tecnologias no mundo.

Como a internet tem se tornado um fórum importante para o deba-


te público na sociedade atual, a visibilidade das demandas do MST
e da pauta de Reforma Agrária depende da presença na internet
e nas redes sociais para fazer a disputa de hegemonia no espa-
ço público sobre o nosso programa da Reforma Agrária Popular. E
pressionar os governos para a obter conquistas em relação a essa
pauta no Brasil.

Objetivos, tarefas e proposta da Frente de Tecnologia

As principais tarefas, objetivos e proposta da frente, que devem per-


passar a Organização como um todo, podem ser resumidos em:

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a) Promover a inclusão digital e viabilizar o acesso à Internet nas
comunidades rurais.

b) Promover a cidadania e a inserção dos empreendimentos soli-


dários na economia digital.

c) Disseminar o conhecimento livre através da Internet e seus


meios de comunicação, criando a Frente de Tecnologia do MST.

d) Realizar debates sobre tecnologia e segurança, materializado


em uma infraestrutura SEGURA de TI para os espaços do MST.

e) Fomentar o debate de uma cultura de Segurança da Informação


junto à nossa estratégia de Movimento.

f) Realizar formação e elaboração política sobre a tecnologia da


informação no MST.

g) Dar suporte em TI para as necessidades do Movimento enten-


dendo as suas especificidades organizativas.

h) Enraizar e politizar o tema da tecnologia da informação na es-


tratégia no Plano da Reforma Agrária Popular;

i) Construir um Portal de Serviços de Comercialização para a


agricultura familiar (propõe-se que, com a Frente de Tecnologia o
MST dê condições aos pequenos agricultores usarem a Internet
para comercializar sua produção, comprar sementes, interagir com
os empreendimentos de economia solidária, realizar treinamentos
via Internet etc.)

j) Discutir o papel da TI na disputa da hegemonia da comunicação.

k) Estreitar a relação com movimentos parceiros da área de tecno-


logia da informação e fomentar o debate com outras organizações
populares.

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Qual a Comunicação
que queremos?

Comunicação como um Direito

Debater os meios de comunicação, de certo modo, sempre foi uma


possibilidade bastante distante do cotidiano dos brasileiros e brasi-
leiras. Vez ou outra questionamos algo que passa na TV, mas para
além disso, não enxergamos a mídia como um espaço que deve ser
problematizado, questionado e repensado por todos e por todas.

Pensar a comunicação está tão distante de nós, pois não a enten-


demos como um Direito, mas como um produto que pode ser ne-
gociado, fruto do papel que os poderosos instituíram aos grandes
meios de comunicação.

No entanto, é comum percebermos que há algo de errado com o


que lemos, ouvimos e assistimos por meio dos veículos de comuni-
cação mais acessados. As lutas diárias do povo brasileiro não estão
nos jornais. É comum vermos o corpo das mulheres objetificado
pela propaganda. Quase não vemos negros e negras - a maior par-
te da população brasileira - em novelas ou seriados. Mas que direi-
to é esse que a comunicação faz parte?

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), em seu artigo


19, destaca que “[…] todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião
e de expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência,
ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias
por quaisquer meios, independentemente de fronteiras” (Assem-
bleia Geral das Nações Unidas, 1948, Art. 19).

Neste sentido, podemos considerar também a comunicação como direito


humano, ou seja, como parte fundamental para a garantia de vida digna
e plena e que precisam ser garantidos para todos e todas, independente
das diferenças de gênero, raça, orientação sexual, convicção política etc.
57
Para além da liberdade de expressão, o direito humano à comuni-
cação é a garantia de que todos e todas possam ter condições para
se expressar livremente, produzir informação e circulá-las. Mas isso
nos é garantido nos dias de hoje no Brasil? O Estado garante medi-
das para que nós possamos exercer esse direito?

Em nosso país, não está na legislação a comunicação como um


direito, mas como um serviço, serviço este que pode ser prestado
tanto por entes públicos quanto privados. Diferente da Bolívia e
da Espanha, por exemplo, que tem na Constituição a comunicação
como direito humano, pela compreensão do papel da comunicação
na formação dos valores e transmissão de informação que implica
numa série de desdobramentos no dia-a-dia.

<< Questões para debate >>

- Como enxergamos a comunicação no Brasil hoje?

- Temos hoje a possibilidade de produzir nossa própria informação


e circulá-la livremente?

A comunicação no Brasil

A comunicação sempre foi vista como um negócio. Ela já nasce vin-


culada com o próprio capitalismo e o seu desenvolvimento depen-
dente de empresas de caráter privado. No Brasil não foi diferente:
pensar o sistema de comunicação no Brasil é pensar na relação das
emissoras privadas e seus serviços de rádio e TV. Em nosso país,
o Estado demandou à tarefa das transmissões para as empresas
privadas, dando origem ao domínio da Rede Globo, SBT, Record,
Rede TV e Bandeirantes, que possuem alcance nacional em suas
transmissões.

De acordo com a pesquisa “Monitoramento da Propriedade da Mí-


dia”, de 2017, aponta que cinco famílias controlam metade dos 50
veículos de comunicação com maior audiência no Brasil, destes o
maior é o Grupo Globo, da família Marinho, que detém nove desses
50 maiores veículos. Ainda de acordo com a pesquisa, tendo em
vista a pluralidade de ideias e opiniões, a mídia brasileira ocupa o
último lugar no ranking.
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A concentração de rádios, TVs, jornais e revistas no Brasil é concen-
trada especialmente pelas famílias Marinho (Organizações Globo),
Abravanel (SBT), Saad (Rede Bandeirantes), Sirotsky (RBS), Civita
(Editora Abril), Frias (Folha de S. Paulo), Mesquita (O Estado de S.
Paulo), bem como por duas igrejas, a Universal do Reino de Deus
(Record) e a Igreja Católica (Rede Vida). Se olharmos para o conte-
údo local e regional, em nossos estados, não é diferente. A concen-
tração se repete e a mídia segue controlada nas mãos de poucos
grupos de poderosos em nossa região, a exemplo da família Collor
em Alagoas e dos Magalhães na Bahia.

Esses dados da concentração da comunicação no Brasil implicam


numa série de fatores que nos esbarramos no dia-a-dia: uma mídia
que não apresenta a diversidade do povo brasileiro, que não apre-
senta a diversidade de ideias e opiniões, que apresenta somente o
olhar dos “donos da mídia” e não do conjunto da sociedade.

A questão é que os meios de comunicação prestam um serviço que
é público, mas através de um olhar de quem é o dono dela. Ou seja,
se a notícia, o padrão de beleza, de formação social, ou se o projeto
político não for do agrado do dono da empresa, não estará na mídia
consequentemente.

Não é preciso irmos longe para enxergar essas relações. Basta as-
sistir a qualquer novela e lá a gente vê os estereótipos e reforço de
papeis de determinados segmentos da sociedade, como os negros
e negras, sujeitos LGBT, mulheres e etc; basta analisarmos a cober-
tura dos grandes jornais sobre o caso de impeachment da presiden-
ta Dilma, os desdobramentos do Golpe e a prisão do ex-presidente
Lula, além de diversas outras ocasiões em que os direitos humanos
são violados “na tela da TV, no meio desse povo”.

Por outro lado, o Brasil é um laboratório de experiências de mídia


que busca informação e conteúdo mais democráticos. É o caso de
centenas de rádios comunitárias espalhados pelo país, ou mesmo
de páginas de internet e jornais comunitários, alternativos, que vão
na contra hegemonia dos grandes meios de comunicação. O nos-
so país, inclusive, possui uma Empresa Pública de Comunicação (a
EBC) e muitos estados possuem televisões públicas, educativas, ou
de caráter cultural.

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No entanto, a vida não está fácil para quem quer ir contra
a corrente. Muitas rádios comunitárias são fechadas pelo Governo
anualmente e o Estado demora em conceder novas concessões de
caráter publico, ou mesmo educativo. Há ainda políticos que são
donos da mídia, desrespeitando assim o artigo 54 da nossa Cons-
tituição, que proíbe que deputados e senadores a terem meios de
comunicação. Sem falar que a EBC cada dia mais sofre censura, dei-
xando de cobrir as pautas dos movimentos sociais, ou manipulando
notícias que são contra o governo golpista.

<< Questões para debate >>

- Como é a mídia no meu estado e região? Conseguimos


visualizar quem são os “donos da mídia” no lugar que eu moro?
- Como nos vemos na TV? Lembramos de algum caso, co-
bertura, cena de novela que chama nossa atenção sobre o lado em
que a mídia está?
- Qual o caminho a ser tomado para uma mídia democráti-
ca? Democratizar a comunicação é democratizar o Brasil!

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