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POEMA 01 POEMA 02

SONETO – GREGÓRIO DE MATTOS E GUERRA A CRISTO SENHOR NOSSO CRUCIFICADO ESTANDO O POETA NA
ÚLTIMA HORA DE SUA VIDA – GREGÓRIO DE MATTOS E GUERRA

Discreta, e formosíssima Maria,


Meu Deus que estais pendente em um madeiro,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
em cuja lei protesto de viver,
Em tuas faces a rosada Aurora,
em cuja lei santa hei de morrer
Em teus olhos e boca o Sol e o dia:
animoso, constante, firme e inteiro.

Enquanto com gentil descortesia


Neste lance, por ser o derradeiro,
O ar, que fresco Adônis te namora,
pois vejo a minha vida anoitecer
Te espalha a rica trança voadora,
é, meu Jesus, a hora de se ver
Quando vem passear-te pela fria:
a brandura de um Pai manso Cordeiro.

Goza, goza da flor da mocidade,


Mui grande é vosso amor, e meu delito,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
porém pode ter fim todo o pecar,
E imprime em toda a flor sua pisada.
e não o vosso amor, que é infinito.

Oh não te aguardes, que a madura idade,


Esta razão me obriga a confiar,
Te converta em flor, essa beleza,
que por mais que pequei, neste conflito
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
espero em vosso amor de me salvar.

MATTOS, Gregório de. “Lizongea outra vez...” In: AMADO, James. Obras
completas de Gregório de Mattos. Salvador, Janaína, 1969. MATTOS, Gregório de. “A Cristo Senhor Nosso...” In: AMADO, James. Obras
completas de Gregório de Mattos. Salvador, Janaína, 1969.

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