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AULA 2

BATERIAS E CÉLULAS
COMBUSTÍVEIS

Prof.ª Juliana D’Angela Mariano


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, vamos falar sobre baterias de íon-lítio que utilizam tecnologia
de bateria eficiente, e abordaremos os seguintes temas:

• Tema 1 – Fundamentos da tecnologia de íons de lítio;


• Tema 2 – Desempenho elétrico, vida útil e envelhecimento;
• Tema 3 – Sistema de gerenciamento de bateria de lítio - BMS;
• Tema 4 – Questões ambientais;
• Tema 5 – Mercado de baterias de lítio.

TEMA 1 – FUNDAMENTOS DA BATERIA DE ÍONS DE LÍTIO

Antes de começar, é importante descrevermos algumas siglas e


abreviações:

• Óxido de Níquel, Manganês e Cobalto (NMC);


• Óxido de Níquel-Cobalto-Alumínio (NCA);
• Óxido de Lítio-Cobalto (LCO);
• Óxido de Lítio e Manganês (LMO);
• Fosfato de Ferro de Lítio (LFP).

As baterias de íon-lítio são tecnologias modernas, com menos de 40


anos. Quanto às aplicações, essa tecnologia é muito comum na indústria de
eletrônicos e transportes; nos veículos elétricos plug-in; e na rede elétrica.

1.1 Reações celulares básicas

No processo de descarga, o íon Li+ migra de um eletrodo negativo


(carbono) carregando a corrente para o lado positivo (óxido de metal de lítio)
com uma condição inversa. O eletrólito é, geralmente, baseado em um sal de
lítio em solução orgânica. Temos, então, as reações químicas no ânodo e
cátodo, e alguns elementos químicos que compõem uma célula.
Algumas características do eletrodo e eletrólito positivo e negativo:
• Alguns materiais apresentam alto potencial de eletrodo positivo (~ 5 V vs
lítio), por isso ele é necessário para baterias de alta energia – LCO, LMO,
NCA, NMC, LNO e LFP.

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• O potencial médio de carga e descarga (~ 0,5-1 V vs Li) deve estar bem
acima do potencial do eletrodo negativo de lítio – grafite (carbono flexível),
amorfo (carbono rígido), liga, óxidos metálicos, óxido composto de
estanho, liga de silício e metal Li (esses são os materiais anódicos).

1.2 Design de célula e bateria

O íon de lítio apresenta quatro tipos de células:

1. Cilíndrica – é como as baterias AA não recarregáveis e produz energia


muito mais rapidamente, portanto, mais kWh por célula;
2. Em forma de moeda – é o tipo de bateria de relógio;
3. Prismática – é um formato de grande capacidade que facilita a conexão
de quatro células e a criação de uma bateria de 12 V;
4. Lítio-íon plana – é usada em produtos de consumo e formato maior para o
trem de força.

As células cilíndricas, prismáticas e planas (bolsa, sachê de café) foram


dimensionadas para fornecer alta potência. As células planas, por sua vez,
aumentam a complexidade de fabricação, mas oferecem materiais com custos
favoráveis.
Todos os designs de células são completamente selados.

1.3 Aplicações de íon-lítio

Nesse caso, há uma tabela com a química do catodo principal e suas


principais aplicações, dependendo do porte para aplicações eletrônicas
portáveis, veículos elétricos de grande, médio e pequeno porte, bem como
ferramentas ou equipamentos médicos hospitalares.

TEMA 2 – DESEMPENHO ELÉTRICO, VIDA ÚTIL E ENVELHECIMENTO

2.1 Eficiência (ƞ)

A eficiência elétrica da bateria de íon-lítio é definida como o produto da


eficiência da tensão e da eficiência coulômbica (capacidade descarregada sobre
capacidade carregada) de quase 100%.
A eficiência da tensão (tensão média durante a descarga sobre a tensão
média durante o carregamento) determina a eficiência elétrica, que aumenta
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com o aumento da temperatura em cerca de 90% (a 0 ºC) para cerca de 98% (a
40 ºC). No entanto, com o aumento da corrente de descarga, a eficiência elétrica
cai.
A eficiência também depende do fator de carga, do DoD, da corrente, do
tempo de carga flutuante, do tempo de descarga e de outras quantidades.
A eficiência energética de ida e volta de íons de lítio (energia fornecida na
descarga sobre a energia usada para carregar) é superior a 90%.

2.2 Desempenho elétrico, vida útil e envelhecimento

Algumas características sobre a relação potência-energia:


• a tensão da célula é de ~3,6 V;
• a energia específica excede quatro vezes a de uma bateria de chumbo-
ácido.
Características de energia e densidade de potência:
• A energia específica dos materiais ativos depende da voltagem da célula;
• A potência específica é limitada pela Resistência Interna (IR) da célula;
• A queda de IR/RI, de uma bateria de íon de lítio é quase constante em
valores médios de SoC, mas aumenta no estado totalmente carregado e
totalmente descarregado;
• Como Ri aumenta em baixas temperaturas, alguns sistemas de polímero
não podem ser usados para aplicações de energia abaixo de
aproximadamente -10 °C.

2.3 Diagrama de voltagem versus capacidade para baterias recarregáveis


de lítio

Gráfico de Ragone: relaciona a potência específica e a energia específica


em diferentes tecnologias. Esse caso serve para ilustrar a capacidade por
tecnologia, na qual o cátodo costuma ser de maior voltagem e o ânodo possui
maior capacidade coulômbica.

2.4 Processos de vida útil e envelhecimento

A vida útil das baterias de íon-lítio depende dos processos de


envelhecimento. Os processos de degradação, por sua vez, ocorrem com o
carregamento e o descarregamento das baterias de íon-lítio. A taxa de
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degradação, tanto no armazenamento quanto no ciclo, depende muito da
química da célula particular, da estabilidade da solução eletrolítica e das
mudanças estruturais dos eletrodos. Já a capacidade depende muito da
temperatura e das taxas de descarga.
As baterias de lítio se degradam em altas temperaturas e perdem
capacidade quando são sobrecarregadas. Dentro de um laptop mal ventilado,
por exemplo, a degradação será significativamente maior do que no ar ambiente.
Assim, elas devem ser armazenadas abaixo da temperatura ambiente, mas não
devem ser congeladas (~-40 °C), assim como não devem ser armazenadas
totalmente carregadas. Vale ressaltar que a capacidade disponível é perdida
com taxas de descarga muito altas e baixas temperaturas.

Importante: a capacidade anual perdida em SoC é de 100% e 50%,


dependendo da temperatura e do estado da carga de operação.

2.5 Taxa de autodescarga

A taxa de autodescarga é de cerca de 0,5% por semana (a 20 °C), 2% por


semana (a 40 °C) e 4-10% por semana (a 60 °C). As reações de autodescarga
reduzem a vida do calendário e do ciclo de vida pelo crescimento de um SEI no
eletrodo negativo das células de íons de lítio. Assim, após um longo período de
autodescarga, a célula pode não ser capaz de responder aos requisitos de
energia da mesma forma que uma célula que foi descarregada no mesmo SoC.

2.6 Comportamento dinâmico

Nesse caso, a célula pode ser carregada a taxas relativamente altas


(abaixo dos limites de tensão de carga). No entanto, se essas taxas de carga
forem muito altas, isso leva a um rápido enfraquecimento da capacidade da
célula. Desse modo, as taxas de carga devem ser reduzidas a temperaturas
mais baixas, e a taxa de carga máxima permitida é sempre menor do que a taxa
de descarga máxima permitida.

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TEMA 3 – SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE BATERIA

3.1 Eletrônicos e dispositivos de carregamento

As células de lítio não precisam de manutenção, no entanto, as baterias


de íon-lítio requerem circuitos de proteção. Sendo assim, é importante:

• evitar sobrecarga, para alcançar um bom ciclo de vida e segurança;


• limitar o DoD por uma tensão de corte.

É necessária a medição das temperaturas, tensões e correntes das


células. Além disso, a bateria deve ser desconectada de qualquer carga ou fonte
de alimentação, caso os limites definidos sejam excedidos.
Características gerais de carga e descarga de uma bateria de íon-lítio: 1 –
descarga on; 2 – descarregamento; 3 – carregue on; e 4 – carregue off.
O sistema de gerenciamento de bateria possui sete recursos principais.
Descrição das funções do sistema de monitoramento:

1. Monitoramento de células – aquisição da corrente, tensão e temperatura


de cada célula.
2. Segurança e proteção – indicam as tensões de corte da bateria,
mostrando quando operar sem taxas de carga ou temperatura.
3. Estimativa de SoC – carga disponível armazenada na bateria em
comparação com a carga de capacidade total que ela possui.
4. Estimativa SOH – prevê o número de vezes que a bateria pode ser
carregada e descarregada antes de sua vida terminar.
5. Balanceamento de células – incompatibilidade entre a tensão e a
capacidade.
6. Gerenciamento térmico – consiste em controlar a temperatura da bateria
e mantê-la no ponto ideal sob diferentes condições de operação.
7. Controle de carregamento – recurso integrado para gerenciar, otimizar e
proteger o regime de carregamento quando o carregador específico não
estiver disponível.

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TEMA 4 – QUESTÕES AMBIENTAIS

4.1 Disponibilidade de lítio

Os recursos de lítio aumentaram substancialmente em todo o mundo e


totalizam cerca de 80 milhões de toneladas. Os países com maior
disponibilidade de lítio como mineral são: Chile, Austrália, Argentina, China,
Estados Unidos, Zimbábue, Brasil e Portugal.
Para se ter uma ideia, são necessários 67,8 MJ de energia normalmente
consumida na produção de 1 kg de bateria de íon-lítio.

4.2 Sobre a atividade de reciclagem

Há uma empresa nacional reciclando lítio metálico e baterias de íon-lítio,


desde 1992, em suas instalações em BC, Canadá. Em 2015, a empresa
começou a operar a primeira instalação de reciclagem dos EUA para baterias de
íons de lítio para veículos, em Lancaster, OH (Jaskula, 2020).

4.3 Questões ambientais

A maior disponibilidade de íons de lítio e as maiores reservas estão


localizadas na Austrália e América Latina.

4.4 Extração de lítio

Podemos encontrar o lítio e os mecanismos de concentração e extração,


além das fontes potenciais de lítio. A extração do lítio bruto ocorre de diversas
formas e em várias camadas terrestres, além disso, é uma atividade bastante
explorada pela indústria da mineração.

4.5 Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE)

A produção de 1 kWh de capacidade da bateria libera cerca de 25 kg


CO2eq (LFP) ou 20 kg CO2eq (LiNi0.33Mn0.33Co0.33O2, NMC) (Moseley;
Garche, 2015).
Os resultados também são amplamente diferentes, com um impacto
climático variando de 39 kg CO2eq / kWh a 196 kg CO2eq / kWh (Melin, 2019).
Os inventários de ciclo de vida para a pasta catódica são presumidos de 14,8 kg

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CO2eq / kg a 17,5 kg CO2eq / kg de intensidade de emissão de GEE (Dai et al.,
2019).
Considerando que baterias são consideradas produtos perigosos, assim
como gasolina, propano e ácido sulfúrico, estas são as recomendações de
segurança:

• Armazene-as em temperatura ambiente;


• Não as exponha a altas temperaturas, como as que podem ocorrer em
um carro estacionado ao sol, por exemplo;
• Use um carregador ou dispositivo projetados para elas;
• Quando possível, não as deixe sem supervisão;
• Armazene-as separadamente de qualquer coisa perigosa, como
explosivos, combustíveis ou qualquer outro material altamente inflamável;
• Evite sobrecarga, descarga excessiva ou curto-circuito;
• Fique atento a sinais de falha, como descoloração ou inchaço;
• Descarte-as antes da data de validade ou quando elas não estiverem
mais funcionando corretamente (Laboratório Nacional de Los Alamos,
2016).

TEMA 5 – MERCADO DE BATERIAS DE LÍTIO

5.1 Principais megafabricantes

Os principais megafabricantes em 2013 e 2018 são LG Chem, Samsung,


GS Yuasa, Tesla, BYD, dentre outros.

5.2 Megafabricantes por região

Os custos são influenciados pelas disponibilidades ou pela presença de


megafábricas planejadas ou operantes na Europa, assim como pelos fabricantes
chineses em expansão.

5.3 Roadmaps do mercado de baterias de lítio

Mais recentemente, o Departamento de Energia Americano lançou um


importante documento sobre a visão dos EUA para a cadeia de suprimentos de
baterias de lítio. Os Estados Unidos e seus parceiros estabelecerão uma cadeia
segura de suprimento de tecnologia e materiais de bateria, que apoia a
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competitividade econômica de longo prazo dos EUA e a criação de empregos
equitativos, também, permite a descarbonização, avança com a justiça social e
atende aos requisitos de segurança nacional.

5.4 Cenário brasileiro

No Brasil, houve a Chamada 21, estabelecida pela Aneel, que teve como
objetivo o desenvolvimento de projetos para avaliação e inserção de sistemas de
armazenamento de energia no setor elétrico brasileiro, de forma integrada e
sustentável, a fim de criar condições para o desenvolvimento de base
tecnológica, propriedade intelectual (patentes) e infraestrutura de produção
nacional. O estudo das variáveis contribui para essa transição, promovendo o
equilíbrio entre geração de energia e demanda.
Essa integração tem se expandido em nível mundial e viabiliza a redução
de custos e o adiamento de investimentos, entre outros, principalmente com a
evolução e adequação do modelo tarifário brasileiro e a infraestrutura do setor,
integrando a Agenda Regulatória da Aneel 2021/2022.
Principais resultados do P&D da Chamada 21 da Aneel:

1. Desafios do mercado de sistemas de armazenamento de energia

A reformulação de uma política pública e a adoção de novas


regulamentações setoriais para o desenvolvimento e a implementação dessa
tecnologia em larga escala requerem um esforço conjunto de P&D, empresas de
energia elétrica e Aneel. Localizar a implantação dos sistemas de
armazenamento gera mudanças na proposta de valor para os stakeholders e
para a rede elétrica, criando um ambiente favorável a novos modelos de
negócios de vários portes – pequeno (residencial), médio (comercial/industrial) e
grande (usinas e subestações).

2. Barreiras regulatórias para serviços e recomendações específicas

• Limitação na arbitragem de energia por parte dos operadores;


• Falta de clareza quanto à sua capacidade de reserva girante e não
girante;
• Projeção e operação do armazenamento com suas múltiplas
funcionalidades;
• Redução do custo dos sistemas de armazenamento de energia.

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3. Modelo de negócios com armazenamento de energia

O segundo modelo de negócio atende aos interesses da distribuidora,


devido a questões regulatórias ou econômico-financeiras que não possuem
ativos de geração.

4. Cenário nacional em relação a pesquisa e desenvolvimento

Para superar essas barreiras, uma alternativa é a integração de sistemas


de armazenamento de energia com fontes de energia renováveis e a otimização
do desenvolvimento de algoritmos controlados que permitem gerenciar de forma
eficiente. Trata-se de uma solução atrativa, que, se desenvolvida corretamente,
pode conciliar os benefícios econômicos para o consumidor com os benefícios
técnicos e operacionais para a rede e a concessionária.

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REFERÊNCIAS

DAI, Q. et al. Life cycle analysis of lithium-ion batteries for automotive


applications. Batteries, 2019, v. 5, n. 2, 48.

JASKULA, B. W. Lithium: data in metric tons of lithium content unless otherwise


noted. 2020. Disponível em:
https://pubs.usgs.gov/periodicals/mcs2020/mcs2020-lithium.pdf. Acesso em: 8
fev. 2022.

MELIN, H. E. Analysis of the climate impact of lithium-ion batteries and how


to measure it. 2019. Disponível em:
https://www.transportenvironment.org/sites/te/files/publications/2019_11_Analysi
s_CO2_footprint_lithium-ion_batteries.pdf. Acesso em: 8 fev. 2022.

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