Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PREFÁCIO
1. Instrução e trabalho
Esse capitulo se inicia com uma pergunta: existe uma pedagogia marxiana? Ou,
em outras palavras, é possível localizar, no interior do pensamento de Marx - da sua
análise, interpretação e perspectiva de transformação real - uma indicação direta para
elaborar uma temática pedagógica distinta das pedagogias do seu e do nosso tempo?
O. Iu. Schmidt afirmou em outubro de 1920 durante discussões na Rússia Soviética
a respeito da nova escola socialista que
[...] Para Marx, sabe-se, o comunismo não é um ideal ao qual a realidade se deva
conformar, mas sim “ o movimento real que subverte o atual estado das coisas”; näo
há, portanto, nenhuma filosofia abstrata nele.
Nas instruções (Marx, Engels, 1962, p.192-5) Marx, tendo definido como
progressiva e justa a tendência da indústria moderna de fazer colaborar na
produção, crianças e adolescentes dos dois sexos, e tendo reforçado a tese de que,
a partir de nove anos, toda criança deve se tornar um operário produtivo, e de que
todo adulto deve, segundo a lei geral da natureza, “ trabalhar não apenas com o
cérebro, mas também com as mãos”, propõe dividir as crianças, para fins de
trabalho , em três classes ou grupos- dos 9 aos 12; dos 13 aos 15 e dos 16 aos 17
anos - horários diários, respectivamente de 2, 4 e 6 horas.
“ o ensino não pode ser de repente transmitido igual a todas as classes, sem o risco,
evidentemente, de um rebaixamento de nível, como hoje se diz. Isso significa também
confirmar a autônoma validade daquela formação intelectual que, nas Instruções de
1866, era primeiramente colocada como componente do ensino sem adjetivos.”[...]
Citando Engels, este analisa também as escolas que a burguesia criara para
os operários, e observa que o ensino leva a uma atrofia moral e desolação intelectual.
Da mesma forma sobre a formação das classes cultas, acrescenta que, mesmo com
o latim, são espiritualmente decaídos e fechados ao progresso. Faz, ao mesmo
tempo, denúncia do instrumentalismo da escola popular e da cultura decorativa das
classes cultas.
Por fim, a partir de Marx, a fenomenologia do homem unilateral emerge das
análises filosóficas, sociológicas e de economia política, segundo as quais a
subsunção dos indivíduos sob determinadas relações, leva ao embrutecimento do
operário. O homem parcial, anexado a uma função unilateral, alienado, sucumbe ao
próprio maquinismo do processo de trabalho, que destrói crianças e adolescentes.
Nessa humanidade dividida e unilateral, em que uma parte está excluída dos
bens sociais (materiais e intelectuais) e outra detêm privilégios, é na classe excluída
que reside a libertação, sendo implícita na emancipação do operário a emancipação
humana.
Tal perspectiva, indeterminada, pode ser pensada de uma forma mais concreta
ao visualizar uma situação em que o trabalhador, no contexto da perda das
especializações, seja levado a uma crescente versatilidade no contexto de constantes
variações tecnológicas, se revelando aí o rompimento da experiência limitadora e o
surgimento de outras formas de saber, mais ousadas. O autor cita os exemplos
extraídos de Marx, que contrapõe à rígida divisão do trabalho alienante, o gênio do
relojoeiro Watt que inventou o tear contínuo e do operário Futton que desenvolveu o
barco a vapor, bem como faz referência as ideias de John Bellers sobre a superação
do modelo educacional e da divisão do trabalho causadoras da unilateralidade. São
exemplos de um tipo de homem onilateral, que escapa à estreiteza do pensamento
superficial dominante, educado com “doutrinas não-ociosas” e “ocupações não-
estúpidas”.