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Dia de Ênfase enditnow®

Pacote de Recursos

26 de agosto de 2023

SERMÃO

Lobos em Pele de Cordeiro


Quando aqueles que dizem ser seguidores de Jesus prejudicam os outros

Escrito por Ann Hamel e Cheri Corder

SEMINÁRIO

O Diário de Sarah
Escrito por Ann Hamel e Cheri Corder

enditnow®
Os Adventistas dizem Não à Violência

Preparado pelo Departamento dos Ministérios da Mulher


Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia
Em nome da equipa enditnow® dos departamentos da Conferência Geral
12501 Old Columbia Pike, Silver Spring, MD, 20904-6600 USA

Ministérios da Criança, Educação, Ministérios da Família, Dep. Saúde,


Associação Ministerial, Ministérios da Mulher, Dep. Jovens
Igreja Adventista
do Sétimo Dia
CONFERÊNCIA GERAL
SEDE MUNDIAL

MINISTÉRIOS DA MULHER

12 de abril de 2023

Estimados/as Líderes da Igreja:

Saudações cordiais. Este ano o pacote enditnow® é, uma vez mais, muito importante e aborda um tema
muito delicado. Tem como título “Lobos em Pele de Cordeiro.” Já ouviram a analogia que compara a
igreja a um rebanho de ovelhas? Tanto o Antigo como o Novo Testamentos fazem alusão ao povo de
Deus como ovelhas, ao corpo de crentes como o rebanho e ao nosso Senhor como o Pastor.

As nossas igrejas estão cheias de pessoas imperfeitas e quebrantadas. Podemos encontrar lobos
vestidos com pele de cordeiro ou lobos disfarçados de pastores. Jeremias declara que alguns pastores
“se embruteceram, e não buscaram ao Senhor” (Jeremias 10:21, ARC).

No ano passado o tema deste dia concentrou-se no abuso do poder por alguém em posição de liderança
na igreja, como um líder de Desbravadores, um diácono ou até mesmo o pastor. Hoje vamos abordar
outro tópico difícil relacionado com o abuso, particularmente o abuso sexual entre aqueles que
professam ser seguidores de Jesus. Lamentavelmente, o abuso ocorre em igrejas e comunidades de
todas as religiões. O impacto do abuso é sempre grave, mas este impacto agrava-se quando é cometido
por uma das ovelhas—ou seja, por uma pessoa que diz ser seguidora de Jesus.

Pensamos, frequentemente, que o abuso implica violência, mas em nenhum dos casos que
partilharemos houve violência. Nenhum deles indica que a “vítima” resistiu ao abuso ou procurou ajuda.
Na altura da ocorrência, ninguém reconheceu que era abuso. Contudo, devido à diferença de poder que
existia em cada caso e à falta de consentimento adequado, cada uma destas pessoas foi violada.

Com amor e carinho,

Heather-Dawn Small
Diretora dos Ministérios da Mulher

“Dou graças ao meu Deus, todas as vezes que me lembro de vós … com alegria.” Filipenses 1:3
12501 Old Columbia Pike, Silver Spring MD 20904-6600 USA • Office (301) 680 6608 • women.adventist.org

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Índice
Informações sobre o Programa ....................................................................................... 3
Referências Bíblicas ........................................................................................................ 3
Sobre as Autoras ............................................................................................................ 3
Exemplo do Anúncio para o Boletim ................................................................................ 4
Esboço do Culto Divino ................................................................................................... 5
História para as Crianças ................................................................................................ 6
Sermão........................................................................................................................... 7
Seminário ..................................................................................................................... 18

Informações sobre o Programa


Sintam-se livres para traduzir, reformular e editar o pacote de recursos de acordo com as
necessidades da vossa divisão, incluindo a versão mais adequada da Bíblia a usar. Fiquem
igualmente livres para adaptar o pacote à vossa audiência cultural. Se a vossa divisão traduzir o
pacote para francês, português ou espanhol, por favor enviem-nos o ficheiro digital para
partilharmos com as nossas irmãs. Consultem o nosso website para obterem outros pacotes
traduzidos que podem usar.

Referências Bíblicas
A menos que haja indicação em contrário, as citações bíblicas são retiradas da Bíblia Almeida
Revista e Corrigida Online https://biblia.pt/biblia/ARC

Sobre as Autoras
A Dra. Ann Hamel é psicóloga da Equipa de Apoio a Funcionários em Serviço Internacional da
Conferência Geral. Está envolvida na preparação de missionários para o serviço nas missões,
apoiando-os também quando enfrentam desafios, dificuldades ou tragédias enquanto prestam os
seus serviços. A Dra. Hamel é especializada em traumatologia, sendo certificada pela Junta de
Peritos em Stress Traumático. Tem um doutorado (PhD) em Psicologia pela Universidade de
Andrews e Doutorado em Ministério em Aconselhamento do Seminário Teológico Ashland. Tem
igualmente um certificado em Saúde Mental Global: Trauma e Recuperação, da Universidade
Harvard. Ela e o seu esposo, Loren, vivem em Berrien Springs. O casal tem sete filhos e nove netos.

Cheri Corder está envolvida nos Ministérios da Mulher há mais de 35 anos, incluindo 8 anos como
Diretora dos Ministérios da Mulher da Conferência de Oregon. Serviu também como diretora na
conferência dos Ministérios da Família, Ministérios da Saúde, Ministérios da Criança e Serviços
Comunitários Adventistas. Tem tido oportunidade de apresentar palestras em diversos retiros de
mulheres, seminários de acampamentos, duas conferências sobre o abuso e uma série evangelística
numa pequena igreja na Costa Rica. O seu último cargo no ministério antes de se reformar foi de
Coordenadora de Cuidados a Missionários da Adventist Frontier Missions. No âmbito destes cargos
de liderança, participou em muitas sessões de formação sobre o abuso e teve o privilégio de

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escutar inúmeras experiências dolorosas de homens e mulheres. Ela e o seu esposo vivem em
Berrien Springs, Michigan. O casal tem dois filhos adultos e dois netinhos queridos.

Tanya Muganda nasceu em Michigan, EUA, mas morou na Tanzânia, Zimbabué e Quénia, antes de
se mudar para Maryland, EUA, onde reside atualmente. A Tanya é Assistente Administrativa do
Departamento dos Ministérios da Criança da Conferência Geral. Obteve o seu Mestrado na área de
Ministério da Criança e Família e deseja usar os seus dons e formação para servir as crianças da
igreja mundial.

Exemplo do Anúncio para o Boletim

No próximo Sábado, 26 de agosto, às 11:00 e às 13:30


“Lobos em Pele de Cordeiro” é uma abordagem franca ao abuso cometido por qualquer pessoa
numa posição de autoridade ou influência espiritual. Embora o abuso seja sempre destrutivo, o seu
impacto e consequências são agravados quando cometidos por uma pessoa que diz ser cristã e é
membro ou líder da igreja. A sessão da manhã apresentará a ideia geral do que é considerado
abuso quando cometido por alguém que diz ser seguidor(a) e representante de Jesus.
Examinaremos também a responsabilidade da comunidade de fé para com a vítima, assim como
para com o abusador, quando ocorre o abuso. A sessão da tarde será iniciada com um pequeno
filme intitulado “O Diário de Sarah,” que apresenta uma história verídica que ilustra como uma
pessoa em posição de autoridade e influência espiritual pode tornar-se “um lobo em pele de
cordeiro.” Isto será seguido de um diálogo aberto sobre a forma como o corpo de Cristo deve
proteger os “membros do rebanho, particularmente os cordeiros entre nós,” assim como a forma
de atuar quando isto acontece.

Por favor notar: Embora a terminologia da sessão da manhã seja suavizada para se adaptar à
audiência geral, pode ser aconselhável ter um culto separado para as crianças. A sessão da tarde é
para adultos.

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Esboço do Culto Divino

Ordem Sugerida do Culto

Chamado à Adoração

Oração Inicial

Leitura Bíblica Mateus 7:15, ARC


“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas,
que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas,
interiormente, são lobos devoradores.”

Hino de Louvor: #121 Hinário Adventista do Sétimo Dia


“Divino Pastor”

Oração Pastoral

Oferta e História das Crianças


“Título”

Apelo da Oferta

Música ou Hino Especial

Sermão
“Lobos em Pele de Cordeiro”

Hino Final: #38 Hinário Adventista do Sétimo Dia


“Encanto Sem Igual”

Oração Final

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História para as Crianças

A História de Dina
Escrita por Tanya Muganda, Ministérios da Criança da Conferência Geral

Sabem que José tinha uma irmã? Dina era a única filha e uma das mais novas de entre os filhos de
Jacó e Lea. Dina fazia parte de uma grande família de doze irmãos.

Dina é-nos apresentada em Génesis 34, uma jovem que começava sempre o seu dia ao encontrar-
se com as outras mulheres e a cuidar dos seus afazeres. Ela sentia-se segura e não pensava que
poderia correr perigo. Mas, certo dia, Dina tinha saído, como era seu hábito e Siquém, filho de
Hemor, viu-a. Ele seguiu-a e aproveitou-se dela sem ter a sua permissão, tendo-lhe feito algo muito
mau. Siquém tocou em Dina de maneira imprópria. Mesmo depois desta triste situação, Siquém
apaixonou-se por Dina e queria casar com ela.

Siquém estava determinado a obter permissão do pai de Dina, Jacó, ao oferecer dinheiro pelo
casamento. Jacó soube do que tinha acontecido a Dina e ficou muito triste. Ele estava também
furioso, mas esperou pelos seus filhos chegarem a casa para decidirem o que fazer. Quando os
irmãos de Dina souberam o que Siquém lhe tinha feito, eles ficaram também muito irados.

Mas os irmãos de Dina, Levi e Simeão, fizeram outros planos. Eles pensaram, “Vingar-nos-emos do
que aconteceu à nossa irmã e enganaremos Siquém e aos seus homens antes de aceitarmos a sua
proposta.” Simeão e Levi agiram de forma muito violenta com Siquém, que foi ferido e morreu
juntamente com os seus homens.

Por causa da sua ira, os irmãos queriam vingança. Eles desejavam proteger a sua única irmã, o que
até era correto, mas as suas ações em reação ao sucedido foram erradas.

Embora Jacó estivesse irado pelo que tinha acontecido a Dina, ele ficou muito dececionado com as
ações violentas dos seus filhos contra Siquém. Jacó disse aos seus filhos, “Deus se vingará da sua
maneira e restaurará.” Mas a admoestação chegou demasiado tarde. Agora todos tinham sido
afetados negativamente com consequências que nunca mais poderiam reparar. As suas ações
pecaminosas já tinham sido cometidas e nada poderia mudar o seu resultado.

Se alguém vos faz sentir incomodados(as), digam imediatamente aos vossos pais. Se alguém vos
falar ou tocar sem a vossa permissão, têm o direito de dizer não e contar o que aconteceu a alguém
em quem vocês confiam.

Deus não gosta de ver as Suas crianças serem maltratadas. Lembrem-se de se tratarem uns aos
outros com bondade e pensarem antes de agir, porque as más ações podem ter consequências que
mudam a vida das pessoas. Oremos pela proteção e segurança de todas as crianças.

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Sermão

Lobos em Pele de Cordeiro


Quando aqueles que dizem ser seguidores de Jesus prejudicam os outros
Quando o abuso sexual é cometido por Cristãos/líderes Cristãos
Escrito por Ann Hamel e Cheri Corder

Leitura Bíblica Mateus 7:15, ARC


“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos
como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.”

INTRODUÇÃO
Já ouviram a analogia que compara a igreja a um rebanho de ovelhas? Tenho a certeza que já
devem ter ouvido. Tanto o Antigo como o Novo Testamentos fazem alusão ao povo de Deus como
ovelhas, ao corpo de crentes como rebanho e ao nosso Senhor como o Pastor. Um dos capítulos da
Bíblia mais apreciado é o Salmo 23. O Senhor diz que é o nosso “bom pastor” (João 10:11, ARC), e
nós somos “ovelhas do seu pasto” (Salmo 100:3, ARC), mas os nossos líderes também são
comparados a pastores. Quando falou aos pastores e anciãos que cuidam do rebanho, Paulo disse,
“Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho… para apascentardes a igreja de Deus” (Atos 20:28,
ARC).

Todos nós desejamos acreditar que as nossas igrejas são lugares seguros, onde os pastores e as
ovelhas vivem de acordo com os padrões de Deus. Lamentavelmente, todos nós sabemos por
experiência que isto não acontece. As nossas igrejas estão repletas de pessoas imperfeitas e
quebrantadas. Na realidade, encontramos ocasionalmente lobos vestidos com pele de cordeiro.
Encontramos também lobos disfarçados de pastores. Jeremias declara que alguns pastores, “se
embruteceram e não buscaram ao Senhor” (Jeremias 10:21, ARC).1

Hoje vamos falar sobre o tema difícil do abuso, particularmente do abuso sexual, entre aqueles que
professam ser seguidores de Jesus. Infelizmente, o abuso ocorre em igrejas e comunidades de todas
as religiões. O impacto do abuso é sempre grave, mas este é multiplicado quando é praticado por
uma das ovelhas—ou seja, por uma pessoa que diz ser seguidora de Jesus. É ainda mais prejudicial
quando é cometido por um pastor do rebanho—um líder dos Desbravadores, um professor ou um
pastor.

“Como é que algo tão hediondo como o abuso pode acontecer na igreja?” podem perguntar. Se
observarem uma congregação típica, todos parecem ser bons; a maioria é batizada; estamos a
pregar as três mensagens angélicas a todo o mundo; o povo do Senhor é a “menina dos Seus olhos”
(Zacarias 2:8, ARC). Como podem os problemas e sofrimento causados pelo abuso existir na igreja?

Gostaria de apresentar duas razões:


(1) Sempre que está reunida a humanidade caída, existem problemas da humanidade caída.
(2) A igreja é o lugar FAVORITO do diabo para fazer o seu trabalho!

1
Passagens como as encontradas em Jeremias 25:34-38, Ezequiel 34:10, Zacarias 10:3 descrevem a ira do
Senhor com relação aos maus pastores e o Seu juízo sobre eles por abusarem dos outros para seu próprio
benefício egoísta.
7
É verdade que o diabo trabalha nos governos e organizações, no mundo da diversão… mas não
duvidem disto: ele empenha os seus MELHORES e mais intensos esforços a causar problemas na
Igreja, tanto com os seus membros como com os seus líderes.

Felizmente, a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem tomado medidas decisivas—particularmente nas
últimas duas décadas—não somente para abordar estas questões, mas também para ajudar a
garantir a segurança das crianças e dos membros a nível global. O Dia de Ênfase à Prevenção do
Abuso foi adicionado ao calendário mundial da igreja em 2001. Em 2009, a iniciativa foi ampliada
com o nome enditnow®. São fornecidos às nossas igrejas ao redor do mundo materiais focados na
questão do abuso para o Dia de Ênfase anual enditnow, que é assinalado no quarto sábado de
agosto.

Não estão felizes por saber que têm líderes atentos a este tipo de problemas? Assim, hoje, como
parte da iniciativa enditnow, iremos falar sobre o abuso, tendo os objetivos seguintes em mente:
• Reconhecer que existe,
• Compreender melhor o assunto, e
• Reagir de forma mais eficaz.

Aceitar a realidade de que o abuso ACONTECE é o primeiro passo para nos capacitar a fazer com
que as nossas comunidades de fé sejam mais seguras ainda.

VAMOS ORAR ANTES DE INICIAR


Querido Pai Celestial, estamos gratos pela nossa família mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Damos graças pelos líderes corajosos e perspicazes que desenvolveram iniciativas para tratar de
questões difíceis da família da igreja como esta. Senhor, por favor fica aqui connosco hoje de
maneira especial. Se houver alguém para quem este tópico é particularmente difícil, fica
especialmente perto destas pessoas enquanto este tema é apresentado. Abre os nossos corações e
as nossas mentes àquilo que oferece cura aos que sofrem por causa destas situações, e ajuda-nos a
usarmos estes momentos juntos para evitarmos sofrimento futuro. Isto Te pedimos em nome de
Jesus, Ámen.

COMECEMOS POR DEFINIR ABUSO


Por vezes pensamos num abusador como um estranho que entra pela janela ou se aproxima de
uma pessoa num beco escuro. Todavia, a maioria dos abusos a crianças são cometidos por alguém
que a criança conhece e ama, normalmente uma pessoa em quem confia e da qual depende. É
frequentemente um membro da família. Pode ser também uma pessoa amiga íntima da família ou
um vizinho, uma vez que 91% dos abusos sexuais a crianças é cometido por alguém que a criança e
a família conhecem e em quem confiam.

A igreja é conhecida como o corpo de Cristo e a família de Deus. Da mesma forma que o abuso
sexual ocorre nas famílias, este também acontece nas comunidades de fé. Onde vamos encontrar
pessoas que conhecemos e em quem confiamos? Onde vamos encontrar um lugar onde podemos
baixar a nossa guarda? Nas nossas famílias…e na igreja.

O abuso sexual é pouco relatado e as definições de abuso variam de estado para estado e de país
para país e, por conseguinte, não temos estatísticas exatas do índice de abuso, mas as estimativas
indicam que cerca de 1 em 10 rapazes e 1 em 5 raparigas serão vítimas de abuso sexual na infância.

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Por muito que não queiramos reconhecer, os estudos realizados dentro da nossa igreja apresentam
estatísticas semelhantes.2

Para nos ajudar a abordar este assunto, são indicados a seguir sete exemplos reais de abuso na
nossa comunidade de fé, a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Iremos comentar acerca de cada
exemplo ao prosseguirmos.

EXEMPLOS
Sarah foi seduzida pelo diretor da escola da igreja. Conseguir que ela se tornasse sua “secretária”
permitiu que ele estivesse sozinho com ela no edifício depois das aulas e chamá-la de vez em
quando durante as aulas para “ajudá-lo” noutra parte da escola. Ela pensava que era amor, mas era
abuso.

Daniela sentia-se atraída pelo seu professor de música na Academia e começou a flirtar com ele.
Ele ficou encantado por poder aceitar o que ela oferecia. Ela também pensou que era amor, mas—
apesar da iniciativa ter surgido da parte dela—isto também foi abuso.

Mateus estava com dificuldades na disciplina de matemática no 7º ano. A sua professora convidou-
o a ficar depois das aulas para ajudá-lo—e, entretanto, ensinou-lhe algumas maneiras empolgantes
de se divertir. A princípio ele gostou, mas isto foi abuso.

Davi estava entusiasmado por estar longe de casa e no dormitório pela primeira vez, mas equilibrar
os estudos com a sua nova liberdade social não era fácil. O seu conselheiro ofereceu-se para levá-lo
até ao ginásio local, só os dois, para Davi poder ter uma boa sessão de treino e para poderem
conversar. Davi não se sentiu bem quando o conselheiro entrou com ele no chuveiro e entendeu
mais tarde que isto era voyeurismo. Não era ministério e, embora o conselheiro não tivesse tocado
no Davi, foi abuso.

Amanda tinha terminado o liceu e dedicou a sua vida totalmente ao Senhor. Ela ansiava fazer a
diferença no mundo e ter uma família melhor do que a família que tivera ao crescer. O seu pastor
ocupou um papel paternal na sua vida e, vendo o seu potencial, aconselhou-a em diversas áreas do
ministério eficaz. Acabou por aconselhá-la a ser uma boa esposa. A princípio ela pensou que era
útil, mas foi abuso.

Estas histórias são difíceis de ouvir, não são? Temos só mais duas.

Brenda estava infeliz em seu casamento. O seu esposo era desdenhoso e, de muitas maneiras,
fazia-a sentir-se incapaz, inútil e até invisível. Quando ele se divorciou dela, ela procurou a ajuda do
seu pastor. Ele fez com que ela se sentisse apreciada, linda e viva. No fim de cada sessão de
aconselhamento ele tomava as mãos delas nas suas para orar—até que um dia tomou mais. Ela
pensava que era amor. Era abuso.

Susana estava divorciada há pouco tempo e, como mãe solteira, mudou-se para uma comunidade
Adventista para sentir o apoio que não tinha da sua própria família não cristã. Na igreja conheceu
um homem cristão Adventista espiritualmente dedicado que ela respeitava. Pouco tempo depois
começaram a namorar e ela acreditava que Deus o tinha colocado em sua vida. Ela confiava no que
pensava ser uma experiência religiosa superior dele e cria que o aspeto físico do seu

2
Seminário de formação da Adventist Risk Management, 3 de abril de 2023. Para mais informações visitar a
página https://adventistrisk.org.
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relacionamento refletia o seu compromisso para com ela e o seu futuro juntos. Ela sentiu-se traída
por ele e por Deus quando ele decidiu que o relacionamento não era o que ele queria. Ele abusou
dela ao aproveitar-se dela.

Iremos comentar mais sobre cada uma destas histórias ao prosseguirmos.

Muitas vezes pensamos que o abuso significa violência, mas não houve violência em nenhum
destes casos. Nenhum deles indica que a “vítima” resistiu ao abuso ou procurou ajuda. Na altura
em que ocorria, nenhuma das vítimas reconheceu a situação como abuso. Todavia, devido à
diferença de poder que existia em cada um dos casos e à falta de consentimento adequado, cada
uma destas pessoas foi abusada.

O abuso ocorre quando um indivíduo usa o seu poder ou influência para tirar proveito de uma
pessoa vulnerável. O poder e influência podiam ter sido usados para abençoar a outra pessoa, mas
foram abusados para o prazer egoísta. Alguns pastores do rebanho do Senhor são como lobos
esfomeados e como “cães gulosos, não se podem fartar.” São pastores ignorantes, todos a seguir o
seu próprio caminho e desígnio de benefício pessoal (Isaías 56:11, ARC). Deus repreende também a
estes. “Ai dos pastores…que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores as
ovelhas?” (Ezequiel 34:2, ARC). Este abuso de poder e influência é o fator comum em todas as
histórias que acabámos de ouvir.

A maioria dos países ao redor do mundo definem o abuso sexual de uma criança como crime.
Embora seja comum haver definições legais para determinação disto e da obrigatoriedade de
relatar estes incidentes, o abuso também pode ter lugar entre dois adultos, se uma pessoa tirar
proveito da vulnerabilidade de outra pessoa. Isto pode ser uma ideia nova para nós, mas, como
cristãos, o padrão que estabelecemos na definição do abuso deve ser mais elevado do que aquele
determinado pelo mundo, tal como Jesus elevou os padrões do adultério e divórcio nas práticas
judaicas do Seu tempo (Mateus 19:8-9).

QUAL É O IMPACTO DO ABUSO?


É por vezes dito às vítimas de abuso sexual, “Oh, mas ele não te magoou. Não tens nódoas negras.
Até gostaste! Então porquê que te estás a queixar? Está tudo bem! Esquece isso!”

Mas as vítimas têm nódoas negras—na alma—e, na realidade, em quase todas as áreas do futuro
da pessoa, incluindo a sua saúde.

As pesquisas indicam que todos os tipos de abuso na infância têm o potencial de prejudicar o
cérebro em desenvolvimento das crianças, predispondo-as a problemas de saúde mental e física
para toda a vida e aumentando o risco de todo o tipo de dificuldades—sociais, emocionais,
comportamentais e académicas. Aumenta a probabilidade de comportamentos viciantes em
adolescentes, assim como comportamentos de grande risco, tais como a promiscuidade. Aumenta
também o risco de um grande número de problemas profissionais, legais, financeiros e sociais, e até
mesmo o desenvolvimento de doenças crónicas, tais como doenças cardíacas e diabetes.

A natureza sigilosa do abuso cria uma sensação de isolamento e afastamento dos outros que
interfere com o desenvolvimento social e emocional normal. O abuso sexual é particularmente
prejudicial à essência da pessoa. Quando sofrido na infância, aumenta o risco de depressão,
ansiedade e outros problemas de saúde mental na fase adulta. Quando uma criança ou um adulto
sofre abuso sexual, é criado um certo grau de vergonha e culpa, assim como a sensação de
desprezibilidade que alguns—os que não recebem ajuda—nunca conseguem escapar.
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Quando o abuso é cometido por um cristão, os danos são maiores por causa da capa inerente de
abuso espiritual que o acompanha. O trauma e o abuso fazem sempre com que a pessoa questione
a sua fé ou sistema de convicções espirituais, mas o abuso sexual cometido por alguém numa
posição de autoridade espiritual pode destruir a fé da pessoa. Paulo escreveu, “Tu, porém,
permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido”
(2 Timóteo 3:14, ARC). Mas o que acontece à fé da pessoa quando esta entende que não pode
confiar na pessoa que a ensinou?

DOIS FATORES QUE DETERMINAM COMO UMA VÍTIMA SERÁ AFETADA

1. O impacto do abuso em alguém é determinado, em grande medida, pelo nível de estabilidade


emocional e social na vida da vítima antes do abuso.

Infelizmente, as pessoas que frequentemente são alvos de abuso são as vulneráveis e as que têm
falta de estabilidade social. Por exemplo, sabemos que a incidência do abuso de crianças
incapacitadas ou deficientes é mais elevado do que de outras crianças. Por definição, as pessoas
vulneráveis são mais carentes, menos suscetíveis a falar sobre o abuso, sendo menos provável que
os outros acreditem nelas se estas falarem sobre o assunto.

Uma das coisas mais importantes que as igrejas podem fazer para proteger os seus membros contra
o abuso é apoiar e fortalecer as famílias. As famílias de pais solteiros são especialmente vulneráveis.
Por exemplo, o Mateus, estava vulnerável à sua professora do 7º ano por causa das circunstâncias
do divórcio dos seus pais. A sua mãe desconfiava que algo estava errado entre ele e a sua
professora, mas como mãe solteira numa nova cidade ela tinha receio de arriscar o seu emprego na
igreja e causar ainda mais traumas aos seus filhos se tentasse expor a professora. O Mateus não
disse nada e tentou agir como se nada estivesse a acontecer. Ele precisava da ajuda e atenção que a
sua professore lhe dava e entendia também que falar sobre o assunto poderia destabilizar a
situação da sua família ainda mais. A sua mãe sentiu-se ainda mais intimidada a expor a professora
quando esta recebeu o prémio de professora do ano.

A situação do Mateus não é pouco comum. É muito difícil, senão impossível, um dos pais sozinho
satisfazer todas as necessidades emocionais e sociais dos seus filhos, deixando-os vulneráveis à
atenção que lhes é oferecida por outras pessoas. Muitos pais são gratos por terem pessoas,
particularmente dentro da igreja, que estão dispostas a ajudá-los a cuidarem e apoiarem os seus
filhos. Quando o sistema familiar é frágil, os pais têm tendência a passar por alto os sinais de que
algo pode estar errado.

2. O impacto do abuso também é determinado pela resposta dos adultos ou dos que ocupam
posições de autoridade ou influência quando o abuso é exposto.

Muitas vezes é difícil para a vítima contar a alguém o que se passa por causa do sentimento de
culpa e vergonha. Muitas não se sentem como vítimas, mas pensam que são responsáveis pelo que
aconteceu e temem expor-se se falarem sobre o ocorrido. Isto é particularmente verdade se o
abusador fizer com que a experiência seja agradável ou excitante.

Se a vítima não for ouvida ou se os detalhes da história forem desafiados ou questionados, o


impacto do abuso é intensificado. A vítima não só se sente violada, mas também se sente insegura
e desprotegida. Por vezes a culpa pelo ocorrido é atribuída à vítima. Mesmo crianças pequenas
(particularmente as que são emocionalmente carentes) são por vezes censuradas pelo que
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aconteceu. Infelizmente, isto sucede com mais frequência do que podemos imaginar,
especialmente quando o abusador ocupa uma posição de autoridade e influência na comunidade.

As pessoas têm dificuldade de acreditar em relatos negativos sobre alguém que respeitam e
admiram. A dissonância cognitiva que isto cria faz com que seja mais fácil acreditar que a história
foi inventada ou, no mínimo exagerada. Este é um dos muitos motivos que levam as vítimas a
ficarem em silêncio. Para além da vergonha que sentem, têm medo de que os outros não acreditem
na sua história.

REAÇÕES ÀS REVELAÇÕES DE ABUSO


A Sarah teve duas reações muitos diferentes. Quando finalmente se abriu sobre o diretor que tinha
abusado dela, os líderes da conferência não tomaram nenhuma ação. “Ele admitiu, está a ser
honesto,” disseram, “o que pensamos ser uma boa atitude. E já foi há tanto tempo…O que queres
que nós façamos?”

Bem, a Sarah não sabia o que devia ser feito, mas a decisão dos líderes de manterem o abusador
como diretor foi como uma nuvem sombria sobre ela. O facto de eles ignorarem o abuso que ela
tinha sofrido durante anos; ignorarem o impacto que tinha causado em sua vida, e depois dizerem
que era uma boa atitude ele admitir o seu pecado e ser honesto a esse respeito foi uma ofensa não
somente para Sarah, mas também para o nosso Senhor, o qual afirmou que seria melhor pendurar
uma pedra de moinho em volta do pescoço do que fazer mal a uma criança (ver Mateus 18:6).

Alguns anos mais tarde, o diretor mudou-se para outra conferência, onde os líderes tinham uma
noção melhor sobre abusadores e o risco que são para outras pessoas. Providencialmente, tiveram
conhecimento da experiência de Sarah antes dele iniciar o seu trabalho. Contactaram-na para
confirmar o sucedido. O diretor foi dispensado e foram tomadas medidas adequadas para limitar a
sua capacidade de liderança na igreja local.

Isto foi incrível para Sarah, mas não ficou por aqui. O presidente da conferência contactou-a para
agradecer a sua ajuda ao lidarem com o abusador. Ela ficou espantada. E não foi só, ele pediu-lhe
desculpa em nome da igreja, pela forma como um funcionário da igreja se tinha comportado com
relação a ela e pela inação da igreja quando ela o expôs a princípio. Este pedido de desculpa e a
justiça das restrições impostas ao abusador ajudaram Sarah a sentir a cura necessária.

Às vezes, especialmente quando a vítima nos é relativamente desconhecida, é fácil culpá-la. Talvez
tenha sido por causa da maneira como ela se vestia ou comportava. As pessoas dizem, “Ela deve ter
feito alguma coisa para denegrir o nome daquele ‘homem bom.’”

Por vezes a vítima age de maneira sedutora. Vejamos, por exemplo, o caso da Daniela, que tinha
uma paixoneta pelo seu professor de música e o procurou. Quando o seu relacionamento foi
descoberto, Daniela foi mandada para um colégio interno para salvar o casamento e a carreira do
professor (que terminou poucos anos depois). Daniela sentiu-se culpada e amargurada durante
anos, até ter aprendido finalmente que o ADULTO era a pessoa responsável pelo relacionamento,
não ela. Quando Daniela flirtou com ele, este tinha a responsabilidade de se distanciar dela, de
garantir que nunca estivessem sozinhos, de ensiná-la acerca de relacionamentos, de cooperar com
os pais dela e ajudá-la a obter aconselhamento. ELA não desfez o casamento e a carreira dele; foi
ELE que o fez. Ele abusou da sua autoridade e influência na vida dela para fins egoístas. Ele foi o
abusador.

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As vítimas também são culpadas pela forma como abordam a situação. Frequentemente, a queixa é
que não seguiram os princípios de disciplina encontrados em Mateus 18:15-20. Amigos, por favor
leiam outra vez Mateus 18. Este capítulo trata da resolução de conflitos entre pessoas em plano
igual. As vítimas e os abusadores não estão em plano igual! Usar Mateus 18 quando a vítima tem de
lidar com um abusador provavelmente não será apenas ineficaz, mas também pode ser perigoso.

Por exemplo, quando a Brenda tentou confrontar sozinha o pastor com relação ao seu
comportamento, ele abusou dela novamente, culpando-a pela sua “fraqueza,” prometendo
suicidar-se se ela contasse a alguém o que ele tinha feito, indicando até os detalhes da forma como
o faria. Quando ela conseguiu ter coragem para expô-lo, ele negou tudo, negou até que a conhecia
e afirmou que as queixas dela não podiam ser levadas a sério porque ela não tinha observado os
princípios de Mateus 18. Foi descoberto que este pastor tinha abusado de várias mulheres, cada
uma das quais pensou—tal como Brenda—ser o amor da vida dele. Felizmente, apesar das fortes
objeções de muitos membros da congregação, a conferência afastou-o do ministério e revogou a
sua ordenação.

PLANO DE AÇÃO
Devem existir planos de segurança e ação quando são apresentadas acusações contra qualquer
membro da igreja. Isto protege todas as pessoas envolvidas, incluindo o ofensor.3

Se vos dissesse o número médio de vítimas de um abusador antes deste ser responsabilizado, vocês
não acreditariam. É muito sério. Isto é possível porque, muitas vezes, numa tentativa de
demonstrar bondade ou presumir a inocência até haver provas em contrário, especialmente se
conhecemos e amamos a pessoa acusada, mas não conhecemos muito bem a pessoa acusadora,
muitas vezes erramos ao concedermos aos abusadores o benefício da dúvida. Infelizmente, quando
lhes é concedida uma segunda ou terceira oportunidade, muitas vezes estes continuam a abusar de
outras pessoas.

Foi este o caso na experiência de Davi. Ele sentiu-se incomodado quando o seu conselheiro entrou
com ele no chuveiro do ginásio e, pouco tempo depois, ficou a saber que os alunos e membros da
faculdade sabiam que aquele homem tinha problemas de voyeurismo.

Na realidade, a administração tinha avisado este homem diversas vezes para não levar os alunos ao
ginásio, colocando até as suas admoestações em escrito, mas foi permitido que este
comportamento continuasse.

Davi e algumas outras pessoas que o apoiaram, encontrou-se com o conselheiro e apresentou uma
queixa formal. O conselheiro foi exonerado do seu cargo, mas se tal tivesse acontecido antes, o Davi
não teria passado por esta experiência que fez com que se sentisse manipulado e humilhado. A sua

3
Sempre que é apresentada uma queixa de abuso contra qualquer funcionário da igreja, ou até mesmo um
líder voluntário, é imperativo contactar imediatamente o gabinete da Adventist Risk Management da
conferência em causa. Se a pessoa for um funcionário da igreja, é provável que esta seja colocada em licença
administrativa enquanto decorre a investigação. Se a pessoa não for funcionário da igreja, mas estiver
envolvida no trabalho da igreja ou na escola, a Adventist Risk Management irá provavelmente aconselhar
que os serviços da pessoa sejam suspendidos e oferecerá orientações com relação ao procedimento a seguir.
Caso seja determinada a credibilidade das acusações, então, independentemente do nível de influência do
indivíduo na igreja ou na comunidade, independentemente do quanto as pessoas gostam dele(a), ele ou ela
deverão deixar todos os cargos de responsabilidade ou influência na igreja. Devem ser tomadas
imediatamente medidas para limitar o seu acesso à vítima e outras vítimas potenciais.
13
experiência naquela escola piorou como resultado disto e ele acabou por deixar a escola, uma
decisão que teve consequências profundas na sua vida.

PRESTE ATENÇÃO
Preste atenção ao que se passa nas nossas congregações e escolas. Se sentir inquietação com
relação a qualquer coisa, deverá estar disposto(a) a agir de uma forma que pode ser incómoda para
todos—e procurar saber o que se passa.

Considerem a seguinte declaração de Judith Herman, uma psiquiatra especializada em abuso sexual
e stress pós-traumático: “É muito convidativo tomar o partido do abusador. Tudo o que este quer é
que os observadores não façam nada. Ele apela ao desejo universal de não ver, não ouvir e não
falar do mal. Ao contrário, a vítima pede aos observadores que partilhem o peso do sofrimento. A
vítima exige ação, envolvimento e lembrança.”

Se alguma vez puder apoiar uma vítima, faça-o.


Se alguma vez puder responsabilizar um ofensor, por favor faça-o.

BOAS NOTÍCIAS
Os neurocientistas dizem que, como já referimos, o abuso tem o potencial de causar danos ao
cérebro, particularmente o cérebro em desenvolvimento de uma criança. Embora o abuso aumente
o risco de desenvolvimento de problemas mentais e físicos para toda a vida, nós temos boas
notícias: estes desafios não são inevitáveis!

Tal como Deus criou os nossos corpos com a capacidade de sararem de ferimentos e doenças, Ele
também criou o nosso cérebro e mente com a capacidade de serem curados. Na realidade, os
traumatologistas dizem que o impacto do abuso a longo prazo depende menos do tipo e severidade
do abuso do que do nível de apoio que a pessoa recebe depois de passar por uma experiência de
abuso.

Para o corpo de Cristo e congregação de crentes, isto são boas notícias! É importante nós sabermos
que a forma como reagimos tanto à pessoa abusada como ao abusador, irá fazer uma grande
diferença no grau de cura operada em cada um. A nossa reação é importante!

A coisa mais importante que podemos fazer por uma pessoa abusada é ouvir cuidadosamente a sua
história. Prestar atenção às emoções e sentimentos que transmite, bem como aos detalhes e factos
da experiência. A vulnerabilidade não é algo que a maioria das pessoas consegue expressar
logicamente. Ouçam com cuidado e sem julgar. Ouçam com o coração.

O(A) ABUSADOR(A) DEVE SER PERDOADO(A)?


Como todos sabemos, perdoar alguém pode ser muito difícil. Muitas vezes, porque não sabemos o
que isto significa. Será que perdoar alguém significa:
• Que aquilo que a pessoa fez é aceitável?
• Que a experiência que eu tive não importa?
• Que vou continuar o meu relacionamento com a pessoa como se nada tivesse acontecido?
• Que eu fico com esta dor e sofrimento, mas a pessoa não tem que sofrer as
consequências?
• Como é que posso perdoar alguém que não faz um pedido sincero de desculpas? Que não
admite que fez algo errado? Ou que não admite que fez alguma coisa?

14
O dicionário tem mais do que uma definição da palavra “perdoar.” Quando usamos a palavra
“perdoar” aqui, queremos simplesmente dizer que não deixamos o ressentimento tomar conta de
nós. Assim, a resposta a cada uma das perguntas acima é NÃO. Perdoar alguém NÃO significa que o
mal que fizeram é aceitável ou que não importa, ou que devo ter um relacionamento com essa
pessoa como se nada tivesse acontecido, ou que a pessoa não tem de sofrer as consequências.

O perdão chama o mal de mal. O perdão NÃO é ignorar o mal, transmitindo a mensagem de que o
abuso é aceitável ou que não é importante. O perdão liberta a pessoa abusada de emoções
debilitantes, não permitindo que o abusador continue a exercer poder sobre a vítima. O perdão
significa controlar a mente e o coração e continuar a viver.

Como cristãos, desejamos que todos se amem uns aos outros e que vivam em harmonia.
Desejamos a reconciliação entre as pessoas. Queremos que tudo volte a ser o que era. Todavia, a
reconciliação com o abusador, mesmo quando este é perdoado, nem sempre é possível e nem
sempre é recomendada.

Por exemplo, depois da Amanda casar, o pastor que a tinha aconselhado sobre a forma como ser
uma boa esposa queria que Amanda e o seu marido o perdoassem…e desejava continuar a ser
amigo deles e da família. Disse-lhes que o Senhor desejava que voltassem a ser amigos, porque isto
demonstraria o poder da graça de Deus em suas vidas. Vulnerável às suas sugestões, Amanda e o
seu marido tentaram durante algum tempo, mas o comportamento do pastor para com eles não foi
próprio e eles tiveram de cortar qualquer contacto com ele e sua família, o que deveriam ter feito
desde o princípio.

EXEMPLOS DE ABUSO NA BÍBLIA


Um dos exemplos de abuso que encontramos na bíblia foi o do rei Davi e Batseba (2 Samuel 11 e
12). A diferença de poder entre Davi e Batseba, assim como entre Davi e o seu marido, Urias,
desempenhou um papel significativo na história. Quando o REI enviou a mensagem a Batseba para
ela ir até ele, ela obedeceu. Davi ABUSOU do seu poder e autoridade legítimos e concedidos por
Deus para seu benefício próprio, e usou depois o mesmo poder e autoridade para tentar encobrir o
que tinha sucedido. Deus tinha algo para dizer a Davi acerca do que ele tinha feito. Embora David se
tenha arrependido e sido perdoado, ele pagou um preço elevado pelas suas ações pelo resto da sua
vida.

Outra história bíblica de abuso (por um líder espiritual) é a de Simão, o fariseu (Lucas 7:36-50), o
qual muitos acreditam que tinha violado Maria, irmã de Marta e Lázaro. Ellen White diz que Jesus
“desejava fazer-lhe ver [Simão] quão grande era na verdade a sua culpa. Queria mostrar-lhe que seu
pecado era maior do que o dela.”4

Outra referência ao abuso (por líderes espirituais) foi o caso dos filhos de Eli, Hofni e a Finéas, os
quais, como sacerdotes, abusavam das “mulheres que, em bandos, se ajuntavam à porta da tenda
da congregação” (1 Samuel 2:22, ARC). Que histórias trágicas aquelas mulheres vulneráveis deviam
ter para contar! E que fim trágico foi o daqueles dois sacerdotes.

UM APELO ÀS VÍTIMAS
Antes de terminar, desejo falar especialmente para as pessoas que já foram usadas ou abusadas por
alguém que diz ser cristão, ESPECIALMENTE se era um líder cristão.

4
White, Ellen G., O Desejado de Todas as Nações (Ellen G. White Estate), 397
15
Independentemente de ter acontecido uma vez ou inúmeras vezes durante vários anos, se foi só um
abusador ou diversos abusadores, ninguém além de Deus compreende totalmente o que isto
significou na sua vida. Pode identificar-se com a pergunta feita em Lamentações 2:13 (ARC),
“Porque grande como o mar é a tua ferida; quem te sarará?” A resposta é: Deus pode sarar!

Pode pensar, “Mas se ESTE sistema de pensamento (levantar a bíblia) produz ESTE tipo de
comportamento, eu não quero nada com isto!” A sua reação é compreensível, mas este
comportamento deturpou o sistema bíblico de pensamento e desvirtuou Deus! Meu amigo, minha
amiga, já não sofreu o suficiente? Não deixe que o(a) abusador(a) roube também a sua fé! Volte
para ISTO (levantar a bíblia). Aprofunde o seu relacionamento com Deus, porque é aqui onde
encontra a mais plena e genuína cura!

Quando a pessoa é ferida, receber um pedido de desculpas pode ajudar no processo da cura.
Todavia, o abusador pode nunca apresentar um pedido de desculpas significativo e pode ser que
vítima nunca receba um telefonema do presidente da conferência a pedir desculpa, como no caso
de Sarah. Posso eu apresentar-lhe esse pedido de desculpas? Em nome do corpo de crentes da
igreja mundial, da minha igreja, da NOSSA igreja, eu peço desculpa pelo sofrimento que um dos
nossos membros, talvez um dos nossos líderes, lhe causou. Tal nunca deveria ter acontecido!

• O seu abusador teve a audácia de abusar de si; agora quero que tenha a TENACIDADE de
sarar.
• O seu abusador teve a audácia de fingir que o abuso não aconteceu ou que não importa; eu
quero que tenha a TENACIDADE de dizer que aconteceu e que importa.
• O seu abusador pode ter tido a audácia de continuar a viver como um bom cristão; eu
quero que tenha a TENACIDADE de continuar a viver como um VERDADEIRO cristão ou
cristã, com toda a dignidade e alegria inerentes!

Amiga ou amigo, não deixe que esta experiência defina ou determine o resto da sua vida. A igreja e
o mundo precisam de si. Deus precisa de si. Ele precisa da sua energia, da sua perspetiva, dos seus
dons concedidos por Ele. Deus tem um lugar para si no Seu reino E um lugar aqui nesta terra, onde
poderá fazer a diferença que Ele deseja, então…busque a cura, procure ajuda e siga em frente! Já é
tempo!

UM APELO AOS ABUSADORES


E se alguém aqui é culpado de abuso, qual será a sua resposta hoje? Pode chegar-se a Deus tal
como está, aceitar o Seu dom do perdão, e depois decidir segui-Lo. Busque e aceite a ajuda de Deus
e ajuda profissional. A força, graça e paz de Deus ajudá-lo-ão a encarar as consequências. Este é o
momento!

UM APELO A TODOS
Alguns dos que estão aqui hoje podem nunca ter sido vítimas de abuso, mas ouviram falar sobre
este assunto hoje. O que irão fazer com o que ouviram? Como responderão a alguém que é vítima
de abuso? Como responderão ao abusador?

Não importa se é a vítima, o abusador ou apenas observador, Jesus, o nosso Bom Pastor, pode curar
as feridas físicas e emocionais, fortalecer a sua espiritualidade e conceder-lhe paz. Um pastor cuida
das suas ovelhas ao tratar das suas feridas, alimentá-las e guiá-las a águas tranquilas.

16
“E, vendo a multidão, [Jesus] teve grande compaixão deles, porque andavam desgarrados e
errantes, como ovelhas que não têm pastor” (Mateus 9:36, ARC). Jesus reagia com compaixão.
Convido-vos a olharem para o Bom Pastor e a reagirem com compaixão, da mesma forma que Ele o
fez.

Ele pode dar tudo o que as pessoas precisam. Ao chegar-se a Ele para pedir ajuda e cura, reclame
estas promessas:

“Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus braços, recolherá os cordeirinhos, e os
levará no seu regaço” (Isaías 40:11, ARC).

“Eu sou o bom Pastor: o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (João 10:11, ARC).

“Porque o Cordeiro, que está no trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes das águas da vida.
Deus enxugará para sempre as lágrimas dos seus olhos” (Apocalipse 7:17, ARC).

OREMOS
Querido Pai Celestial, Como deve sofrer o teu coração por causa do abuso que acontece no mundo,
e até mesmo na Tua igreja. Perdoa-nos, Senhor, por não prestarmos mais atenção. Abre os nossos
olhos e dá-nos sabedoria e coragem para fazermos a diferença no futuro. Acima de tudo, cura-nos,
Senhor. A todos nós. Em nome de Jesus, Ámen.

—fim do sermão—

17
Seminário

O Diário de Sarah
Escrito por Ann Hamel e Cheri Corder
26 de agosto de 2023

SECÇÃO UM
Apresentação do vídeo

Bem-vindo a este seminário que será baseado num vídeo, o Diário de Sarah. O abuso sexual é
sempre prejudicial. É especialmente prejudicial quando cometido por alguém que diz ser
seguidor de Cristo.

A apresentação seguinte descreve uma história verdadeira que aconteceu numa das nossas
escolas Adventistas do Sétimo Dia. Aconteceu a uma mulher que eu conheço pessoalmente, a
quem chamaremos Sarah, embora este não seja o seu nome verdadeiro. Sarah procurou-me há
muitos anos para pedir-me ajuda para lidar com o impacto do abuso que tinha sofrido muitos
anos antes. Nesta apresentação, a história de Sarah é contada usando a leitura de um diário que
ela tinha aos 14 anos. Sarah está disposta a partilhar a sua história com a esperança de que não
só nos dê uma perspetiva de como isto pode acontecer—mas também como pode ser evitado.
Esperamos também que, ao ouvirem a sua história, possam entender como nós, uma
comunidade de fé, como o corpo de Cristo, podemos responder de forma mais eficaz a uma
vítima de abuso.

Receberam umas folhas com perguntas que devem considerar enquanto ouvem a história. Irá
demorar cerca de 25 minutos a ouvir 15 das entradas no seu diário, distribuídas por um período
de cerca de 18 meses.

Oremos. Pai do Céu, Convidamos a presença do Espírito Santo a estar aqui connosco ao
ouvirmos a história da Sarah. Oramos para que abras os nossos corações e as nossas mentes ao
Teu poder curador enquanto ouvimos. Em nome do nosso querido Salvador Jesus, Ámen.

Facilitador(a): Apresentar o vídeo.

SECÇÃO DOIS
Reação ao vídeo

Wow! Agora quero pedir que fiquem sentados(as) por uns momentos e examinem os vossos
sentimentos. Qual é a vossa reação ao ouvirem a história de Sarah? Emocional? Cognitiva?

Como se sentiriam se a Sarah fosse vossa filha ou neta? Ou talvez a vossa mãe ou a vossa
vizinha?

Como se sentiriam se o diretor, o Sr. M. fosse vosso marido ou filho? Ou talvez o vosso patrão ou
colega de trabalho? O Sr. M. era isto para alguém.

18
Lemos em Lucas 17:2 que “Seria melhor para essa pessoa ser atirada ao mar com uma pedra de
moinho amarrada ao pescoço, do que ela fazer cair em pecado um destes pequeninos” (ARC).
Pensam que isto se aplica ao abuso sexual? Aplica-se a uma menina de 14 anos?

SECÇÃO TRÊS
Estatisticamente falando

A prevalência do abuso sexual de crianças (ASC) é difícil de avaliar por dois motivos:
1. Provavelmente não é relatado o suficiente. Este é particularmente o caso em culturas
onde a rapariga, independentemente da sua idade, é culpada pelo abuso. É menos
provável que os homens relatem o abuso do que as mulheres.
2. As definições do que constitui ASC são diferentes de país para país, de estado para
estado e, consequentemente, de estudo para estudo.

Contudo, de acordo com os Centros de Controlo de Doenças dos Estados Unidos, cerca de 1 em
4 meninas e 1 em 13 meninos nos Estados Unidos são vítimas de abuso sexual infantil.

Segundo a Organização Mundial da Saúde

1 em 5 mulheres e 1 em 13 homens relatam ter sido abusados sexualmente na infância.

Estas estatísticas não são muito diferentes dentro do corpo mais abrangente da igreja cristã ou
até mesmo dentro da nossa Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ao passo que o abuso físico
acontece com mais frequência com rapazes e o abuso sexual ocorre mais frequentemente com
raparigas, os números de rapazes e raparigas que são abusados física e sexualmente é
demasiado elevado. Muitas crianças, em todas as culturas ao redor do mundo, são submetidas a
diversos tipos de abuso durante os seus anos formativos. Este abuso afeta o seu cérebro em
desenvolvimento. Muitos crescem e tornam-se homens e mulheres quebrantados e feridos que
acabam por ferir e abusar de outras pessoas.

A maioria dos casos de abuso sexual de crianças, 91% das vezes, é cometido por alguém que a
criança conhece e em quem confia. Frequentemente, a criança ou o adolescente é seduzido a
envolver-se num relacionamento ilícito. A criança é levada a acreditar que há um laço especial
entre si e o abusador. De maneira geral, os homens e mulheres que abusam sexualmente de
crianças são pessoas que nós, como membros da igreja e famílias, conhecemos e em quem
confiamos. Na superfície, aparentam não ser diferentes de outras pessoas de confiança.

A Sarah tinha 14 anos quando foi aliciada pelo diretor carismático e “muito espiritual” da sua
escola. O abuso continuou durante todo um ano letivo e até ao ano seguinte, com incidentes
ocasionais nos anos seguintes.

O diretor da escola alegava “amar” a Sarah. É evidente que ele sentia uma atração emocional e
união a ela, mas ele não a amava da forma pura e santa que Deus nos chama a nos amarmos
uns aos outros. Ele gostava do “prazer” do relacionamento sem qualquer tipo de
responsabilidade ou compromisso com a Sarah.

O que passa pela mente de um homem ou mulher que inicia um relacionamento ilícito com uma
menina ou uma moça jovem? Que barreiras morais ou sociais ultrapassaram nos seus corações e
nas suas mentes que os levariam a cometer tais atos?

19
A marca distintiva do abuso sexual é o abuso do poder. Como adulto e como seu diretor, bem
como a sua posição de líder espiritual na escola, o Sr. M. cortejou, cativou e por fim seduziu
Sarah. Ela sentiu-se lisonjeada pela sua atenção e gostava da afeição que ele lhe demonstrava.

Qual é a nossa responsabilidade como “comunidade de fé” para garantirmos que este tipo de
abuso não acontece nas nossas igrejas, escolas e nos nossos lares? Legalmente, a Sarah era
menor. A maioria dos países e culturas ao redor do mundo condenam o contacto sexual entre
uma pessoa adulta e uma criança menor, definindo-o como ofensa criminal. Como comunidade
de fé, compreendemos claramente a nossa responsabilidade de garantir que haja regulamentos
e práticas para proteção das nossas crianças?

Vamos agora passar algum tempo a dialogar sobre as medidas que a nossa igreja pode tomar e
que os seus membros devem tomar para proteger as crianças e adolescentes do abuso.

SECÇÃO QUATRO
Conclusão

Para evitar o abuso das nossas crianças e jovens, e também de pessoas vulneráveis de todas as
idades nas nossas congregações, devemos primeiro reconhecer que é nossa responsabilidade
cuidar e proteger estas pessoas. O risco maior vem de dentro. A Bíblia fala de lobos com pele de
cordeiro. As estatísticas mostram que 91% do abuso é cometido por alguém que, não somente a
criança conhece e em quem confia, mas também alguém que nós conhecemos e em quem
confiamos—um lobo com pele de cordeiro. Devemos dar a prioridade máxima à segurança das
nossas crianças e jovens. Repito, o maior risco está dentro das nossas famílias e da nossa própria
congregação.

A maioria das pessoas que se tornam abusadoras não conseguem ver o impacto das suas ações.
Mas a cegueira não ocorre repentinamente. Esperamos que hoje os nossos olhos possam ser
abertos. Esperamos poder ver uma linha bem clara de separação entre o que é certo e o que é
errado. Não podemos desculpar o ultrapassar de limites ou racionalizar de qualquer forma no
que diz respeito ao relacionamento sexual entre um adulto e uma criança.

Embora a linha que separa o que é certo do errado seja clara e distinta, esta linha não é estreita,
mas sim uma larga linha cinzenta que contém muitos comportamentos que podem ser
considerados seguros, contudo, não o são. É por isto que o pai da Sarah não reconheceu
imediatamente o perigo de deixá-la andar de mota com o diretor. É por isso que ninguém, nem
os pais da Sarah, nem os outros professores e professoras reconheceram o risco da Sarah ficar
sozinha depois das aulas a trabalhar com o diretor. É por isso que ninguém o questionou quando
ele a chamava nas aulas para o ajudar. Estes são comportamentos que precisamos aprender a
questionar, comportamentos que devemos sentir-nos à vontade para investigar e desafiar.

“Peço a Deus…que ele ilumine o vosso entendimento.” Efésios 1:17, 18, ARC

“Abre os meus olhos, para que eu veja as maravilhas da tua lei.” Salmos 119:18, ARC

Esta deve ser a nossa oração ao procurarmos proteger as nossas crianças.

ORAÇÃO FINAL

—fim do seminário—
20

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