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A Compreensão
ALQUIMIA

Espagírica dos Remédios

Leia em 25 minutos.

Beat Krummenacher

Excerto de Spagyric Tinctures: tradition, Preparation and Usage

Quase todos os métodos usados hoje para preparar fitoterápicos


(remédios vegetais) têm o objetivo comum de isolar, ou pelo menos
reforçar, um ingrediente eficaz da planta. A tendência é obter uma
caracterização clara e inequívoca de preparações farmacologicamente
ativas e puras. Além dessa abordagem (de isolar ingredientes eficazes),
há também o uso histórico e bem-sucedido de extratos de toda a
planta, que muitas vezes é mais eficaz do que os compostos eficazes
isolados. Uma explicação para este fenômeno é que em toda a planta
existem substâncias “transmissoras” que permitem uma melhor
absorção dos compostos eficazes no trato gastrointestinal. Mas mesmo
em casos como esse é assumida uma correlação direta entre a
substância química e a eficácia do remédio. Todos os métodos
comumente usados para preparar remédios de ervas são muito simples.
Na maioria das vezes, a abordagem é preparar um extrato aquoso ou
alcoólico de uma planta por maceração, extração ou outros métodos
simples. Esses métodos têm o único objetivo de concentrar ou isolar os
compostos eficazes que são conhecidos ou suspeitos de existirem.
Assim, os métodos contemporâneos podem ser vistos como um
resultado direto da compreensão teórica moderna do que constitui um
remédio.

Aqui não encontramos diferença na Espagíria. Na Espagíria, também, a


compreensão teórica determina os métodos práticos de trabalho.
Assim, não se deve descartar prematuramente os métodos espagíricos
sem conhecer a teoria espagírica. A falta ou o conhecimento
insuficiente da teoria (da Alquimia) levou há algum tempo à conclusão
de que a Espagíria é apenas a precursora da química moderna. Assim a
espagíria é entendida como legitimamente descartada, porque sua teoria
está desatualizada. Mas tal julgamento é prematuro e não faz justiça a a
matéria. O fato é que os métodos simples para preparar tinturas de
plantas comuns também eram bem conhecidos dos alquimistas. No
entanto, eles não pouparam esforços para fazer seus remédios
espagíricos. Repetidas vezes eles enfatizaram que o laborioso caminho
da espagiria estava levando precisamente a remédios significativamente
mais eficazes e mais benéficos do que os métodos dos “químicos”. Tal
afirmação de quem conhecia os dois caminhos deveria nos fazer parar
e pensar. Infelizmente, não temos estudos modernos que possam dar
evidência clínica à afirmação de que as essências espagíricas são mais
eficazes. Assim, teremos que primeiro tentar obter uma maior
compreensão do lado teórico das preparações espagíricas.

Compreender os processos espagíricos básicos também nos ajuda a


distinguir os procedimentos espagíricos verdadeiramente significativos
dos “pseudospagíricos”. Mesmo nos círculos alquímicos, muitas vezes
encontramos ignorância dos processos alquímicos reais, o que levou à
introdução de elementos alienígenas nos procedimentos espagíricos de
hoje. O quão importante é lidar seriamente com a Espagíria hoje se
reflete no crescente interesse público em métodos alternativos de cura
– que também incluem remédios espagíricos. Que o valor real das
preparações espagíricas é muito maior do que o registro histórico
mostra também é evidente quando consultamos o (Homeopathic
Remedy Book), métodos espagíricos foram registrados lá, o que indica
sua presença no mercado farmacológico. Para nos aproximarmos de
uma compreensão da medicina espagírica, temos que explorar os
importantes conceitos alquímicos dos Arcanos, de polaridade, bem
como os três princípios alquímicos básicos.

Sobre o Arcano
Arcanum significa literalmente aquilo que é secreto. Seu significado é
ilustrado pela seguinte citação de Paracelso: “O que vemos não é o
remédio, mas o portador do remédio. Porque os arcanos dos elementos
e do homem são invisíveis. O que é visível é o superficial, que não faz
parte da essência curativa.” Essa parte invisível de cada substância
médica é “toda a virtude da substância em mil vezes melhorada.” O
Arcano é aquilo que é não-físico e indestrutível – é a parte eternamente
viva da Natureza”. Um remédio, ou mais precisamente o que faz de
uma substância um remédio, é aqui chamado de “arcano dos
elementos”. Esses poderes de cura devem ser entendidos como
princípios puramente abstratos ou espirituais, não materiais. Se
entendermos os arcanos como princípios de cura imateriais que não
podemos definir por sua substância material, isso não significa
necessariamente que eles sejam ineficazes. No entanto, de acordo com
o paradigma atualmente dominante, apenas assumimos como real
aquilo que podemos perceber com os nossos sentidos e que é
mensurável fisicamente. Este paradigma não permite uma avaliação
concreta do conceito de arcanos, pois, segundo a tradição, os arcanos
não são matéria bruta, mas realidades energéticas sutis. Paracelso
muitas vezes chamou esses remédios transmitindo “arcanos” ao
paciente e deixa inequivocamente claro que eles devem ser preparados
alquimicamente: “Faça arcanos e aponte-os contra as doenças … Este
é o caminho para curar e tornar saudável – tudo isso é realizado pela
alquimia, sem a qual não poderia acontecer.” Com esta afirmação, ele
também trouxe o fato de que os arcanos imateriais podem ser
transmitidos. Isso significa que é possível preparar transmissores (os
remédios espagíricos), que servem como veículos materiais dos
poderes ocultos (arcanos). Esse tipo de pensamento diverge muito do
nosso entendimento contemporâneo, que faz uma conexão causal
entre o efeito e a substância. No entendimento atual, é a própria
substância que realiza a cura, devido a alguma interação físico-química
com o organismo. Para Paracelso e os alquimistas, a substância material
não produz cura, mas é o veículo para os poderes causadores do efeito
(curativo). A substância é apenas a matriz ou forma que serve para
encarnar os arcanos.

Sobre as polaridades
Os hermetistas enfatizaram repetidamente que tudo o que existe está
sujeito à lei da polaridade. Eles expressaram isso na forma da seguinte
afirmação axiomática como parte dos sete princípios herméticos
mencionados antes: “Tudo é duplo – tudo tem dois pólos, tudo tem
seu par de opostos; semelhante e diferente é o mesmo; opostos são
idênticos em natureza, apenas diferentes em grau; os extremos estão
conectados; todas as verdades são apenas meias verdades; todas as
contradições podem ser reconciliadas”. (Do Caibalion) Em todos os
lugares encontramos polaridades: dia e noite, claro e escuro, quente e
frio, atração e repulsão em eletricidade estática e magnetismo, grande e
pequeno etc.

Mas esses extremos aparentemente opostos são apenas diferentes graus


de expressão para uma mesma força básica. Dessa forma, atração e
repulsão são resultados do mesmo magnetismo. Assim, atração e
repulsão permanecem inalteradas quando nos aproximamos de um ímã
com um pedaço de ferro – o poder magnético é o mesmo. Quente ou
frio são ambos os aspectos da temperatura. Da mesma forma, dia
(claridade) e noite (escuridão) são apenas aspectos da Luz que diferem
em intensidade, enquanto grandes ou pequenos são aspectos de
Tamanho.

Polo Negativo    Magnetismo  Polo Positivo

Frio    Temperatura   Calor

Noite     Luminosidade    Dia

Ilustração: Cada atributo, na verdade tudo o que existe, contém em si


uma polaridade. Opostos (polaridades) são aspectos de uma
propriedade ou força básica.

Os extremos aparentemente opostos de uma polaridade, assim, provam


ser de natureza idêntica em relação à sua propriedade básica. Eles estão
apenas ‘diferindo em grau’. Ambos os extremos tornam-se
significativos apenas pelo efeito concreto que têm sobre um terceiro
princípio. Também é possível defini-los pela existência ou ausência
total de um dos princípios. Por exemplo, distinguimos entre luz e
escuridão porque nosso olho percebe muita ou pouca luz. Mas na
escuridão absoluta não há mais luz presente – o próprio princípio (luz)
não aparece mais.

Da mesma forma, a potência médica como uma soma total de


atributos curativos se manifesta de acordo com o princípio hermético
da polaridade na forma de opostos polares. Um lembrete: Os poderes
de cura que causam os efeitos curativos foram chamados de “arcanos”
por Paracelsus. A alquimia define assim um remédio como uma
preparação que transmite a potência dos arcanos para fins de cura. O
oposto polar de curar é adoecer ou envenenar. Aqui também é verdade
que o “grau” dos arcanos é experimentado por meio de sua interação
com um terceiro princípio, ou seja com o organismo, onde demonstre
atuar como agente curativo ou envenenador. A relatividade dessa
determinação pode ser vista no fato de que algumas substâncias são
curativas ou neutras para um animal, mas tóxicas para o ser humano.
Paracelso, portanto, usa o termo “arcano” em um sentido duplo, o que
é um fator crucial a ser considerado. Ele entende “arcano” como o
remédio com poderes em geral, bem como o efeito que um extremo
polar tem no corpo (cura), que ele chamou de remédio. Para evitar a
falta de clareza nas páginas seguintes, nos referiremos aos arcanos
apenas como os poderes imateriais subjacentes à cura ou
envenenamento. O efeito desses poderes no organismo situa-se entre
os extremos do remédio ou do veneno.

Veneno     Arcana    Remédio

ilustração: “veneno ou remédio” é um par de opostos das forças


ocultas de cura chamada arcana.

A diferença entre remédio e veneno em seu efeito sobre o organismo


humano é, portanto, apenas uma questão de grau. Definimos o efeito
curativo sobre o ser humano como construtivo, potencializador e
harmonizador, enquanto o efeito do veneno é destrutivo, diminutivo e
desarmônico.

A compreensão moderna vê a causa direta do efeito curativo de um


remédio na substancialidade material do agente curativo. De acordo
com os pensamentos desenvolvidos acima, a substância consiste em
veneno e remédio! É por isso que o efeito depende da dosagem.

Quanto mais substância aplicarmos no paciente, mais intenso será o


efeito farmacológico e uma dose alta pode até causar o inverso do
efeito curativo desejado: uma overdose pode causar a morte do
paciente. Paralelamente ao aumento da dosagem, o efeito curativo
cresce, mas é sempre limitado pelo efeito venenoso: as propriedades
destrutivas do veneno são potencializadas junto com os efeitos
construtivos do remédio, até causar sintomas e defeitos manifestos ao
impedir as funções celulares.

O Alquimista vai mais fundo: para ele, a substância é apenas o veículo


dos arcanos. Não há nenhuma conexão convincente entre a substância
física e seu efeito. Ele vê o efeito corretivo também nas substâncias
“químicas” não processadas. No entanto, a conexão entre dosagem e
efeito é interpretada de forma diferente em não-químicos, ou seja,
preparações espagíricas, tomando uma forma alquímica. O alcance
terapêutico é especialmente muito ampliado. Isso é conseguido
primeiro dissociando e depois separando os princípios por
procedimentos espagíricos: os arcanos são alterados em sua estrutura
interna pela dissociação e depois liberados de sua conexão íntima com
a substância física pela separação.

A diferença teórica básica entre as duas abordagens se reflete em sua


prática: o Químico apenas separa, enquanto o Alquimista dissocia e
depois separa. Essa importante diferença teórica e prática das duas
abordagens também é encontrada na obra de Paracelso. Todas as
citações citadas acima se referiam a Paracelso, o Alquimista. Mas, ao
mesmo tempo, Paracelso estava bem ciente da diferença entre alquimia
e química. A seguir, uma passagem muito citada de suas obras, quando
a questão é retratar Paracelso como o fundador da química
moderna: “Todas as snstâncias são venoosas, e nada é sem veneno,
apenas a dose determina que uma substância seja não venenosa.”

Esta citação nos mostra que ele conhecia as características típicas da


substância puramente química. Mas é também aparentemente uma
contradição com a abordagem alquímica. Porque, enquanto o remédio
não for preparado espagiricamente, o efeito sempre se mostra ligado à
substância. O próprio Paracelso distinguiu precisamente entre as
propriedades da matéria-prima não processada e da preparada
quimicamente, por um lado, e as propriedades da preparação alquímica,
por outro. Enquanto de acordo com Paracelsus na abordagem química
a dosagem determina o veneno, isso não é verdade para a abordagem
alquímica! A razão dessa diferença está no processo de dissociação dos
arcanos, que é o elemento mais importante da Espagírica. Se
aplicarmos a estrutura dada acima, podemos elucidar ainda mais essa
diferença comumente incompreendida.

Separação Química: Os arcanos entre os extremos do veneno e do


remédio são inseparáveis da substância material, a menos que sejam
dissociados via procedimento Alquímico. Ao usar extrações simples,
também estamos aplicando um processo de separação. Certas
substâncias aparecem no extrato, outras ficam no resíduo. Mas os
alquimistas afirmam que uma simples extração não dissocia o “puro do
impuro” (‘puri ab impuro’); é apenas um processo de separação.

Apenas a Putrefação pode levar à dissociação dos arcanos. Por


enquanto, aceitaremos essa alegação como verdadeira e examinaremos
as consequências que isso tem sobre os procedimentos químicos. O
extrato também contém os arcanos sem alterá-los; na melhor das
hipóteses, aumentamos sua concentração se os compostos ativos que
carregam os arcanos forem dissolvidos no extrato. Podemos então
reduzir a dosagem, mas em princípio não mudamos nada. Dependendo
da dosagem, o homem ainda está confinado ao alcance efetivo dos
arcanos entre veneno e remédio.

Substância Bruta:

Veneno         Arcana        Remédio


(separação química)

Remédio Químico:

Veneno          Arcana          Remédio


              
              
                              

Veneno  Substancias isoladas Remédio

   Ilustração 5: Nas preparações químicas os arcanos não são alterados


estruturalmente. Eles continuam a afetar o homem na polaridade
‘Veneno’ e ‘Remédio’.

Dissociação Espagírica: Em contraste, a Putrefação dos Alquimistas


leva a uma mudança na estrutura interna dos arcanos. O Alquimista
sabe exaltar (elevar) os Arcanos para que não haja mais efeitos
venenosos sobre o homem. Os mesmos arcanos são transmitidos
através de um remédio alquímico, mas são alterados na medida em que
têm um efeito unicamente harmonizador sobre o organismo humano.
Efeitos destrutivos não são mais possíveis. Esse fato pode ser resumido
na seguinte frase: O remédio é dissociado do veneno. (Dissociação do
‘Falso’ do ‘Verdadeiro’). E ainda assim a polaridade é preservada!
Porque o pólo que anteriormente chamamos de “remédio” é em si
mesmo de natureza dual. O remédio mostra um lado nobre e um lado
menos nobre. Mas em relação ao homem ambos os pólos têm um
efeito curativo, porque através do processo espagírico todas as energias
destrutivas (venenos) foram eliminadas. Este é o aspecto invisível da
dissociação alquímica (ilustração abaixo). Em um processo paralelo, os
arcanos também são separados de sua substância portadora física: é
possível isolar, por métodos simples de separação, apenas aquelas
substâncias químicas que servem como portadores ótimos dos arcanos
em sua forma exaltada. Todos os elementos que obstruem o efeito do
remédio são eliminados. A essência espagírica emerge assim também
em uma forma externamente purificada. Este é o aspecto visível da
dissociação alquímica.

Substância Bruta:

Veneno         Arcana        Remédio


(separação química)

Dissociação Espagírica:

Veneno         Arcana        Remédio


           

Menos Nobre  Remédio Mais Nobre

Ilustração: Na preparação espagírica há sempre primeiro uma mudança


na estrutura interna dos arcanos. Somente o pólo remédio dos arcanos
afeta o homem. Mas a polaridade do poder de cura também tem uma
natureza dupla, que é indicada pelo sinal + (para o aspecto nobre) e
pelo sinal – (para o aspecto menos nobre).

Uma citação da “Carruagem Triunfante do Antimônio” de Basilius


Valentinus ilustra esses pensamentos. Seu texto trata do processamento
espagírico do antimônio, que na época era o nome do minério de
sulfeto de antimônio (stibnita). Como a base teórica da Espagírica é
universal, também podemos consultar um trabalho sobre minerais para
fins de ilustração. Veremos que os parágrafos acima correspondem
exatamente ao pensamento alquímico em geral.

Basil Valentine tem plena consciência de que o antimônio comum é


venenoso e inutilizável como remédio: … “É por isso que ninguém o
usa – porque é venenoso.” Mas isso muda à medida que o espagirista
processa o antimônio: “Depois da correta e verdadeira preparação do
antimônio não há mais nenhum veneno presente, o antimônio deve ser
totalmente e completamente modificado pela arte espagírica, para que
o veneno possa se transformar em um remédio. Sem tal preparação
você não terá uso do antimônio, mas virá a causar danos e problemas.”
Ele descreve o processo de dissociar o puro e o impuro, o veneno e o
remédio da seguinte forma: “Você deve cuidadosamente dissociar o
Antimônio, o bom do ruim, o fixo, do não-fixo e o remédio do veneno,
para que assim possa resultar em verdade e honra… Ninguém deve se
surpreender que nós dissociemos o puro do impuro, o veneno do
remédio… porque isso é provado no trabalho diário da experiência do
Proba… Porque o veneno é removido pelo processo de dissociação e a
mudança do mal ao bem ocorre.. é assim que o fogo trás a dissociação
do veneno e do remédio, do bem e do mal.”

Os Três Princípios Alquímicos


Estabelecemos que os alquimistas entendiam os arcanos como os
poderes invisíveis de cura em uma forma material específica. O arcano
aparece como uma polaridade entre o veneno e o remédio em relação a
um terceiro princípio, o organismo humano. Mas os arcanos são
energias invisíveis escondidas na substância, que é apenas seu portador
ou matriz. Dissemos também que o processo espagírico é distinto do
método químico na medida em que provoca uma mudança na estrutura
interna dos arcanos por meio da Putrefação. Foi assim que
descrevemos o processo espagírico fundamental de dissociação. Mas
isso ainda não é o suficiente para explicar o mecanismo da mudança
nos arcanos e na substância. Ainda não está claro o que permite a
transmutação de um veneno em um agente curativo.

Para responder a esta questão, temos que olhar mais de perto os


arcanos: Os alquimistas afirmam que tudo na natureza consiste em três
princípios essenciais, que eles denominaram Sal (sal), Sulfur (enxofre) e
Mercurius (mercúrio): “Estes três – mercúrio, enxofre e sal – nunca
estão sem o outro; onde você encontra um, há sempre todos os três
unidos, e em todo o mundo não há nada que não consista desses três –
e destes três é feito tudo o que está no mundo.”

Ilustração: Os três princípios alquímicos e seus símbolos

É claro que os três princípios não são idênticos ao que hoje


entendemos como mercúrio, enxofre ou sal químicos. Repetidamente
este fato tem levado e leva a mal-entendidos. No entanto, as palavras
não foram escolhidas aleatoriamente – as propriedades do sal comum,
mercúrio e enxofre correspondem fenomenologicamente às
propriedades dos princípios alquímicos abstratos. Curiosamente, os
três princípios alquímicos encontram uma representação surpreendente
na física. Contemplando a descrição de uma vibração física, cuja forma
mais simples é a curva seno ou cosseno, podemos distinguir três
parâmetros que descrevem completamente uma curva:

1. A forma da curva, no nosso caso senos ou cossenos. Esta é uma


expressão da qualidade, a maneira como algo vibra ou como vibra.

2. A amplitude, que é a medida para a quantidade ou grau de desvio do


meio

3. A frequência ou o número de vibrações por unidade de tempo, que é


uma medida para o movimento da vibração, sua excitação.

Cada vibração – por mais complicada que seja – pode ser demonstrada
como um padrão de interferência único de vibrações harmônicas
(análise de Fourier). A forma ou qualidade de uma vibração mais
complicada é expressa no espectro de frequências, a quantidade de
amplitudes – sendo a amplitude total composta pela soma das
amplitudes individuais – e também a própria frequência que define a
vibração. Podemos comparar essas formas de definir uma curva com a
descrição dos três princípios alquímicos, como os encontramos nos
textos alquímicos:

O sal é o princípio de condensação e endurecimento, que permite a


coesão da matéria. O sal também pode ser chamado de princípio de
fixação ou firmeza. É o componente material ou estático (fixo) em
todas as coisas, a corporeidade da substância e da materialização.
Depois de submeter uma substância ao fogo, o Sal permanece como a
parte indestrutível da substância – sem forma. Assim, podemos
caracterizar o Sal também como relacionado à quantidade (amplitude).
Em relação ao homem, Sal significa o corpo físico como um todo.

O enxofre é a propriedade característica de uma substância. Ele define


a essência, a alma. O enxofre nos mostra com o que estamos lidando –
denota forma, cor, forma e outras propriedades características. O
enxofre também indica quão bem uma substância queima. Assim,
Enxofre refere-se à qualidade de uma substância. No homem, o
enxofre significa a alma.

O princípio do movimento está contido em Mercúrio. Mercúrio é


também o princípio vivificante, o espírito. Mercúrio é a energia vital, a
força motriz, despertando para a vida as qualidades específicas
(Enxofre) dentro do corpo (Sal). Movimento é mudança, e mudança
está ligada ao tempo. Mercúrio, portanto, relaciona-se com o conceito
de frequência. No homem, o mercúrio é a essência da vida ou espírito.

Sal, Enxofre e Mercúrio (corpo, alma e espírito) são, portanto, análogos


às propriedades físicas que descrevem exaustivamente uma vibração.
Mas, de acordo com a física moderna, tudo o que é material nada mais
é do que energia – energia vibratória. Nesse contexto, a afirmação dos
alquimistas de que tudo consiste em três princípios básicos é
surpreendentemente relevante e significativa.

Sal Sulfur Mercurius


Sal Enxofre Mercurio
Amplitude Forma da Curva Frequência
Quantidade Qualidade Movimento
Ser Físico Gestalt, Essência Energia Vital,
Mutabilitade
Corpo Alma Espírito
Ilustração: Algumas analogias para os três princípios alquímicos

Agora podemos entender melhor o significado abstrato dos três


princípios. Mas temos que ter em mente que Sal, Enxofre e Mercúrio
também podem se manifestar fisicamente. Todo princípio se
materializa na forma física de acordo com suas propriedades. Também
temos que considerar a polaridade do visível e do invisível. As três
manifestações materiais juntas formam o “Corpus”, que percebemos
com nossos sentidos; suas potências internas de poder, porém, os
tríplices arcanos, permanecem invisíveis É somente através do
processo espagírico que o Corpus pode ser destruído e Sal, Enxofre e
Mercúrio, tanto em sua forma física quanto em sua forma invisível,
podem ser acessados para uso terapêutico.

Paracelso descreve o aspecto material dos três princípios da seguinte


forma: “Há três substâncias que dão a cada coisa seu Corpus – três
coisas compõem cada coisa física. Os nomes dessas três coisas são
Enxofre, Mercúrio e Sal. Quando esses três são unidos em um, então
isso é chamado de corpus… Então, em uma forma de qualquer corpus,
estão contidas invisivelmente todas as três substâncias… por exemplo,
se você pegar um pedaço de lenha na mão, então verá só uma coisa
(corpo/corpus) … agora queime-o … o que queima é o enxofre –
nada queima além do enxofre; a fumaça indica o Mercúrio – nada
sublima além de Mercúrio, e o que você encontra como cinzas é Sal –
nada sobra nas cinzas, senão Sal.”

A passagem a seguir explica o significado abstrato dos três princípios:


“Sabemos assim que nos três princípios, tudo o que é quebrado
ressuscita; uma árvore vazia de seu líquido (mercúrio) secaria, se o
enxofre fosse retirado da árvore não teria forma e se o sal fosse
retirado, não teria coesão, mas ele se desfaria como um barril sem o
anel de ferro … “A manifestação visível e invisível dos três princípios
torna-se ainda mais evidente quando as estamos rastreando em uma
planta: “cada planta de acordo com sua natureza é composta de três
coisas, ou seja, sal, enxofre e mercúrio: esses três se juntam e então
formam um corpus, um ser unificado. .. Mas sabemos que forma esses
três princípios assumem: um é um líquido e esse é o mercúrio, outro é
um óleo e esse é o enxofre e um é alcalino e esse é o sal”.

Especificado quimicamente:

Sal: Os sais minerais solúveis lixiviados da substância vegetal calcinada


são chamados de álcalis ou Sal. Este ao mesmo tempo é o princípio da
fisicalidade – indestrutível pelo fogo – a quantidade.

Enxofre: As partes voláteis, oleosas e principalmente perfumadas da


planta são o enxofre. Mais proeminentemente encontramos este
princípio nos óleos essenciais. Essas substâncias que caracterizam cada
planta também são uma ilustração adequada do modelo alquímico: o
enxofre pode ser entendido como a alma ou essência de uma planta.

Mercúrio: Mercúrio foi definido como energia vital, como o princípio


do movimento. É o espírito ainda invisível que só se manifesta após a
putrefação (fermentação). Se fermentamos uma planta obtemos seu
espírito como álcool etílico e outros produtos altamente voláteis da
fermentação. Ainda hoje a palavra “espíritos” é usada para bebidas
alcoólicas em referência a essa conexão. (Ilustração 10)! O princípio
vivificante do mercúrio não está vinculado a nenhuma espécie de
planta. Todas as plantas compartilham o princípio da vida. O ponto de
vista alquímico explica assim facilmente que após a fermentação de
diferentes espécies vegetais o mesmo espírito aparece na forma física
(matriz química) do álcool etílico.

Ilustração: Forma material dos três princípios dentro das plantas


(Corpo, Alma e Espírito), (Sais Minerais, Óleos Essenciais e Álcool)

A Estrutura Interna dos Arcanos


Agora podemos entender mais precisamente a estrutura interna dos
arcanos: Os arcanos são, por um lado, a potência curativa ou poderes
ocultos de cura da planta; por outro lado, estão vinculados à
manifestação material da planta. Os arcanos são energias, mostrando-se
em forma tríplice. A substância, como portadora dos arcanos, também
espelha sua estrutura interna de forma tripla. Esses três princípios,
invisíveis e visíveis, são chamados de Sal, Enxofre e Mercúrio. Os
arcanos também estão sujeitos à polaridade. Definimos os dois pólos
dessa polaridade como veneno e remédio. Podemos agora entender a
polaridade do veneno e do remédio como um efeito da tríplice
subestrutura dos arcanos. Assim podemos retratar.

Veneno         Arcana        Remédio


                         
Veneno             Sal            Remédio
Veneno         Enxofre        Remédio
Veneno         Mercúrio        Remédio

Ilustração: Em sua estrutura interna, os arcanos mostram uma tripla


polarização

Se quisermos liberar apenas o lado do remédio dos arcanos, temos que


considerar corretamente sua estrutura interna. Só então podemos
escolher o procedimento certo para alcançar uma completa dissociação
e separação. Apenas assim podemos prosseguir na compreensão do
processo espagírico básico.

O Processo Espagirico
O objetivo do processo espagírico é obter os arcanos – que definimos
como energias de cura vibratórias – de tal forma que a preparação
espagírica resultante contenha apenas frequências, amplitudes e formas
curvas de cura que são benéficas para o organismo tratado. Todas as
vibrações desarmônicas de frequência inferior devem ser eliminadas.
Como poderes de cura invisíveis, os arcanos não podem ser acessados
diretamente, mas apenas indiretamente através da substância
transportadora. Assim, é vital eliminar e separar todas as substâncias
portadoras de materiais com baixas frequências, formas de curvas
desarmônicas ou amplitudes ásperas (grossas). O procedimento mais
fácil seria obter os arcanos em um  único passo – e fazê-lo como um
todo – na forma de um remédio puro. Mas quando na prática
processamos as plantas, percebemos que esse método de uma etapa é
impossível. Se extraímos assim, partes essenciais da planta ficam no
resíduo e sua quantidade depende do solvente. Se destilamos, obtemos
apenas as partes voláteis, e todos os minerais são perdidos nesse
processo. Se queimamos a planta, queimamos os óleos e substâncias
etéreas típicos junto com os componentes orgânicos e os únicos
resíduos são os componentes inorgânicos. Em suma, é impossível
obter todos os três princípios ao mesmo tempo. A separação
“química” de um princípio leva à destruição ou perda dos outros.
Assim, só nos resta uma escolha: primeiro temos que deixar a planta
morrer, ou seja, precisamos processá-la de maneira que os três
princípios firmemente unidos na planta viva sejam dissociados sem
destruição ou perda de nenhum princípio. Este primeiro passo de
todos os processos espagíricos os alquimistas chamavam de Putrefatio
(putrefação), Digestão, Fermentação etc. Há diferentes nomes para este
processo, porque diferentes métodos são aplicados dependendo das
substâncias que são a base da dissociação. Somente a putrefação pode
dissociar os princípios alquímicos e separar sua polaridade inata de
veneno e remédio. Somente a morte da substância possibilita o
nascimento da essência pura. Um autor anônimo descreveu esse
processo em 1782 da seguinte forma: “A morte é a putrefação, a
separação do bem e do mal, do puro do impuro; através disso, o novo
corpo e a tintura podem renascer. como uma folha de grama cresce de
uma semente, assim também o corpo velho dá à luz o novo corpo
através da putrefação.” Kirchweger diz: “Nós, portanto, começamos no
portão principal da natureza – na chave e ponto de origem de todo
nascimento, destruição e renascimento – sem esta chave não podemos
sondar o fundo dos mistérios da Natureza, e esta chave é o ponto focal
da arte da dissociação: chama-se putrefação… Portanto, não podemos
esperar a verdadeira dissociação sem maceração, digestão ou
fermentação … ”

Ilustração: Somente a morte permite o despertar para uma nova vida.


Quem sabe isso colherá frutos abundantes (simbolizado pelo trigo na
beira do túmulo) e acertará o alvo, ou seja, praticará com sucesso. A
putrefação correta é a chave para toda a arte (veja a chave acima do
alvo).

Tendo assim desvendado a substância, temos que separar os princípios


uns dos outros. Somente após essa dissociação os procedimentos de
separação “químicos” fazem algum sentido, pois os princípios
dissociados podem agora ser isolados. Agora podemos obter Sal,
Enxofre e Mercúrio sem destruir ou perder nenhum dos outros
princípios. Para este fim são utilizados os processos de destilação,
calcinação, etc. Mas não basta separar Sal, Enxofre e Mercúrio um do
outro. Também temos que purificar cada princípio de acordo com sua
polaridade inerente. A purificação é conseguida através do uso de um
fogo externo. Porque cada substância pode ser purificada sem destruir
sua essência no fogo.” No entanto, a temperatura certa deve ser
aplicada, dependendo das propriedades específicas da substância.
Exemplo: Os compostos de sal ativamente carregados são os únicos
componentes que sendo sais amorfos são mortos e alquimicamente
inúteis – por isso foram apropriadamente chamados de ‘caput
mortuum’ (cabeça da morte). Se usarmos (relativamente falando)
temperaturas muito altas na calcinação de uma planta, obtemos os
componentes inorgânicos nas cinzas. Só neste ponto podemos
dissolver os sais alquimicamente valiosos do ‘caput mortuum’, mas se
quiséssemos fazer uma destilação para obter enxofre e mercúrio nas
mesmas altas temperaturas, isso levaria à queima dos resíduos no
frasco, inutilizando todo o destilado. Se finalmente separamos e
purificamos os princípios, eles devem ser trazidos para uma nova
unidade. Isso porque somente a conjunção do três princípios
constituem os arcanos, que agora aparecem em uma nova e completa
forma (Gestalt) como a potência ativa de cura sem a polaridade do
veneno. Assim, o processo espagírico básico prossegue em quatro
etapas:

1. A Putrefactio (Putrefação) ou fermentação


2. A Separatio (Separação) dos princípios
3. A Purificatio (Purificação) dos princípios
4. A Cohobatio (Coobação ou conjunção) dos princípios ou o
casamento químico, produzindo a essência espagírica

Neste processo quaternário está o segredo da obtenção de preparações


espagíricas. Agora podemos ver que  tinturas comuns, extrações,
decocções etc., só em parte podem fazer uso dos poderes curativos das
plantas. Nessas preparações, os três princípios não são completos, nem
purificados, nem combinados em suas propriedades curativas. Também
o processo de putrefação – tão essencial à dissociação dos três
princípios – está ausente nos procedimentos químicos. Portanto, os
‘quimistas’ nunca podem libertar um princípio sem destruir outros ao
mesmo tempo. Em contraste, a preparação espagírica “desbloqueia”
completamente a planta, de modo que o caminho é aberto para a
obtenção da essência espagírica contendo apenas os princípios
purificados.

Traduçao: Tamosauskas

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