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Tanques, vents, perdas de vapor e lençol de

nitrogênio.

Alexandre Fávaro

Publicado em 27 de jul. de 2020

Tanques.
 A maioria dos tanques nos terminais são tanques de armazenamento atmosféricos ou de baixa
pressão, projetados e construídos de acordo com normas internacionais como a API 650, BS 2654
ou DIN 4119. Os tanques têm as chapas do costado, fundo e topo relativamente finas e, portanto,
muito sensíveis tanto para alta pressão como para vácuo (sobpressão).
A pressão no espaço de vapor é influenciada pelo movimento dos produtos, variações de pressão e
temperatura atmosférica e outras condições resultantes de atividades operacionais. Esta pressão
pode, com segurança, variar entre os limites definidos pelas pressões de projeto máxima e mínima
do tanque.
Uma pressão máxima de projeto de 20 mbar = 200 mm Ca (coluna de água) e uma pressão mínima
de projeto de –5 mbar = -50 mm CA de vácuo (sobpressão) são bastante comuns, especialmente
para tanques antigos e serão utilizadas nos exemplos a seguir.

Vents.
Dispositivos para vents, válvulas de pressão e vácuo (válvulas PV) são usadas para proteger os
tanques contra pressões excessivas, como as válvulas de segurança fazem em vasos de pressão. Se a
pressão no espaço de vapor aumentar e exceder a pressão máxima permitida a válvula PV abre e
libera a sobrepressão para atmosfera. Quando a pressão cai para valores muito baixos, a válvula PV
abre permitindo a entrada de ar no espaço de vapor.
Leva um certo tempo, porém, para que a válvula PV alcance a posição onde ela forneça sua
máxima(especificada) capacidade de vent. Neste momento, a pressão no espaço de vapor alcançará
valores acima da pressão de ajuste. Em um projeto adequado, contudo, ela nunca deverá exceder a
pressão de projeto do tanque. Veja a figura 1.
Na figura 1 e em todos os exemplos posteriores a pressão atmosférica é, arbitrariamente, escolhida
como 772 mmHg (mercúrio), que é = 1030 mbar (milibar), que é uma “pressão absoluta”.
As pressões de ajuste mencionadas acima para as válvulas PV são “pressões manométricas”.
As pressões absolutas são derivadas de:
                                                                      p = pman + patm
Em um espaço de vapor fechado a pressão é a soma das pressões parciais que cada um dos
componentes criaria naquele mesmo espaço se ele fosse preenchido com somente aquele
componente (Lei de Dalton):
                                                                      Pv = p1 +p2 + p3 + K + pn
Por exemplo, um tanque vazio contém ar no qual cerca de 80% consiste de nitrogênio (N2) e 20%
de oxigênio (O2).
Então as pressões parciais são:

Quando gasolina é introduzida neste tanque, o ar é deslocado pelo líquido gasolina e pelo vapor de
gasolina. Até a saturação ocorrer, a gasolina vai evaporar a uma taxa que depende da quantidade de
turbulência e da área (m2) da interface vapor-líquido. No ponto de saturação, um estado de
equilíbrio é alcançado entre o líquido e o vapor. A quantidade de moléculas que deixa a superfície
do líquido e a quantidade de moléculas que retorna do vapor para o líquido é a mesma.
O vapor de gasolina desloca o ar e cria uma pressão parcial no espaço de vapor igual à pressão de
vapor real da gasolina. O balanço (diferença), até à pressão atmosférica, é completado pelo ar.
A concentração do vapor de gasolina na mistura de vapor é proporcional à pressão de vapor real do
líquido gasolina na temperatura de armazenamento. Isto significa que os volumes dos componentes
são proporcionais às pressões de vapor dos componentes.
Em termos gerais:

Por exemplo: Um tanque é parcialmente cheio com gasolina tendo uma temperatura de 30 °C. A
pressão de vapor real da gasolina é 580 mbar. Em um tanque fechado, com um espaço de vapor de
900 m3 a pressão se elevaria a:

Com uma pressão de projeto de 20 mbar (200 mmCA), o ajuste da válvula PV será de 14 mbar
(manométrica) ou 1044 mbar (absoluta). Na condição acima a válvula PV aliviará o excesso de
pressão para a atmosfera, ocasionando a perda da mistura ar-gasolina. Veja a figura 2.
Após o alívio de pressão, quando a válvula PV acabou de fechar, a seguinte condição existirá
contanto que a temperatura não seja alterada:

(N.T): Notar que a pressão do vapor da gasolina não se alterou pois trata-se da pressão de vapor real
da gasolina e a temperatura não foi alterada. Como a pressão total é de 1044 mbar sobra 1044 – 580
= 464 mbar. A presença de nitrogênio no ar é de 80%, portanto 80% de 464 é igual a 371 mbar e a
presença de oxigênio no ar é de 20%, portanto 20% de 464 é igual a 93 mbar.
Isto mostra claramente que o vapor de gasolina expande e a quantidade de ar no espaço de vapor é
reduzida se comparada com o volume do tanque vazio. Note que N2 e O2 estão presentes nas
proporções 80-20% da quantidade total de ar. Veja a figura 3.

No por do sol, a temperatura ambiente diminui. Consequentemente, a temperatura do costado e do


teto do tanque também diminui e causa um rápido esfriamento da mistura de vapores no tanque.
Como resultado, o volume da mistura de vapores diminui de acordo com a lei de Boyle-Gay-
Lussac. Embora formalmente seja válida somente para gases ideais, esta lei é uma ferramenta muito
útil para estimativa da pressão resultante da mistura (o volume real não é importante; veja a
fórmula):
Usualmente a temperatura média do líquido é a base para os cálculos, porque ela pode ser medida
facilmente. Na realidade, porém, é a temperatura da camada superior do líquido que determina a
pressão de vapor do produto.
A camada superior do líquido também esfriará quando a temperatura da mistura de vapores
diminuir.
Suponha uma queda de temperatura para 20 °C, que causaria uma queda na pressão de vapor da
gasolina para 410 mbar.
A queda da pressão total seria cerca de:
                                              ( 1044 - 1009) + (580 - 410) = 205 mbar
Com uma pressão de projeto mínima de –5 mbar ( menos 50 mm CA), o ajuste da válvula PV será
normalmente de –3,6 mbar (manométrica) ou 1026,4 mbar (absoluta). Na condição acima a válvula
PV abrirá para permitir que o ar preencha o vácuo (sobpressão) até que a válvula feche outra vez.
Veja a figura 4.

Após o alívio da pressão, quando a válvula PV acabou de fechar, a seguinte condição será
desenvolvida. Veja a figura 5.
Lençol de nitrogênio.
Para alguns tipos de produtos, pode ser requerido ou desejado por razões de qualidade dos produtos
ou de segurança, que nenhum oxigênio ou ar com umidade esteja presente no espaço de vapor.
Nestes casos, uma proteção com nitrogênio (Lençol de Nitrogênio) deve ser aplicado.
Em um instante antes que a válvula PV abra para prevenir uma situação de vácuo (sobpressão), uma
reguladora abre o fornecimento de N2 para o espaço de vapor. Há algumas razões para que isto
inicie-se antecipadamente: a maioria das válvulas PV não são completamente estanques próximo
aos pontos de ajuste de pressão e também a precisão das reguladoras de nitrogênio que dependem
de cada tipo e qualidade.
Portanto, o fornecimento de N2 é iniciado em um ponto onde ainda há uma pressão positiva no
espaço de vapor, isto é, acima da pressão atmosférica. Na prática, o ajuste da pressão de
fornecimento de N2 pode ser cerca de 2 mbar (20 mm CA), que é 1032 mbar (absoluta). Isto
significa que o sistema regulador do lençol de nitrogênio mantém, no espaço de vapor, uma pressão
positiva (sobrepressão) mínima de 2 mbar acima da pressão atmosférica.
O tamanho e a capacidade da reguladora dependem dos mesmos fatores como para a capacidade de
uma válvula PV.
Somente com uma válvula PV, o espaço de vapor fica fechado entre as pressões de ajuste. Nos
exemplos deste trabalho eles são de –3,6 e +14 mbar (manométrica) ou 1026,4 e 1044 mbar
(absoluta). No caso de haver o lençol de N2 a faixa é de +2 e +14 mbar (manométrica) ou 1032 e
1044 (absoluta).
A faixa de trabalho é reduzida de 17,6 mbar para 12 mbar ou 32%. Isto significa que o tempo entre
aspirar e expirar será menor sob as mesmas circunstâncias, as quais significam aumento de perdas
de vapor de produtos. Veja a figura 6.

Os exemplos mostram que o lençol de nitrogênio pode apenas substituir o suprimento de ar (O2) e
que a redução da faixa de pressão tem, claramente, um efeito negativo na perda de vapores. Além
dos custos relacionados com a perda de vapores não devemos esquecer do custo do fornecimento de
N2.
A redução na perda de vapores, ou seja perda de produtos, pode ser conseguida somente
aumentando-se o tempo entre a aspiração e expiração ou seja aumentando-se a faixa de trabalho da
pressão. Isto pode ser alcançado com um ajuste de baixa pressão da válvula PV mais alto. A
possibilidade para fazer isto, porém, fica limitado às pressões de projeto máxima e mínima do
tanque.
Válvulas PV.
A capacidade requerida das válvulas PV é determinada pelas características do tanque e dos
sistemas relacionados.
O tamanho de uma válvula PV, porém, depende da pressão diferencial possível sobre a válvula
(Dp). A escolha de um alto valor Dp, porém, reduz a faixa de pressão de trabalho efetiva, pois as
pressões de trabalho do tanque não podem ser excedidas.
A capacidade de vent das válvulas PV depende, como para outras válvulas, em fatores dimensionais
como área da secção transversal dos canais internos e da pressão diferencial sobre a válvula, isto é,
a pressão antes e depois da válvula (-p). Os ajustes de pressão das válvulas PV deverão, portanto,
serem sempre menores que as pressões de projeto máximas e maiores que as pressões de projeto
mínimas.

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