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Rf.

flíWJ dtl fャ 」オ 、ャQ セ dr LeJras


HISrORJA
POr/O, fIl Série, 1'01 7,
2006, pp. 263·284

Fácima Regina Fernandes'

Estratégias de Legitimação Linhagística em Portugal nos


Séculos XIV e XV

S U M O Neste trabalho procura-se analisar a sobreposiçao do ramo legitimo e


primogenito dos Pereiras, na segunda metade do século XIV, pelos ramos
cola terias r1egitimos sobretudo através de duas personagens. Após o
desaparecimento destes protagonistas da cena sócio-política portuguesa,
verifica-se a sua projecçao em tempos posteriores através das fontes
historiográflcas.

Temo-nos debruçado há algum tempo sobre a análise de vários aspectos ligados à linhagem
dos Pereira nos finais da Idade Média ponuguesa. Em outros trabalhos desenvolvemos estudos
referentes à primeira geração dos filhos do Prior do Crara, Álvaro Gonçalves Pereira e as condições
de seu esrabelecimemo. Trata-se de uma linhagem muito extensa I , com algumas dificuldades de
tratamenro o que, no euramo, é uma vamagem para o tipo de merodologia que aplicamos, a
prosopografia, onde o volume de dados proporciona melhores condições de extração de perfis.
Outro elemento de dificuldade são as já patentes interpolações consagradas do Livro de Linhagens
do Conde Dom Pedro, inusitadamente, fonte essencial no tratamemo do ramo ilegÍtimo do Prior
do Crara. Enfim, necessiramos utilizar um filtro fmo na análise dos dados que se referem aos
vários ramos desta linhagem.
Nossa proposra para esre rrabalho abarcará a sobreposição do ramo legírimo e primogênito
dos Pereira, na segunda merade do século XIV, pelos ramos colaterais ilegírimos. Rui Vasques
Pereira, cabeça de linhagem reconhecido e favorecido pelos reis desaparece do panorama sócio-
político em 1375 sob acusação de deserviço e cabe a nós, na primeira ptrte deste artigo, analisar
as possíveis causas desta condenação.
Analisamos as referência apócrifas do relato da parricipação do Prior do Crato, colareral
ilegítimo de Rui Vasques, na Batalha do Salado, de 1340, promovida entre 1380/3 e contida no
Livro de Linhagens buscando identificar sua possível aUtoria. E numa terceira parte perseguimos
os dois personagens, Rui e ÁJvaro, nas fomes posreriores para avaliar da eficiência de (al subterfúgio
de exalraçáo do ramo de linhagem ilegírimo sobre o ramo legítimo .

. Dourora em HiSlóna il1edie1Nl/ pela Universidade do Pono; pイッヲ・ウ イセ Adjunta de Hisrória Med.eY:l1 da
Universidade Federal do Paraná-Brasil e pesquIsadora do CNPq.
I MATTOSO, José. ldwtificaçiio de um pai;, 2" ed., Lisboa: Esrampa, 1985. v.I. p. l82.
264 FATIMA RfGINA FERNANDES 265

Para ranto analisamos a najetória dos dois e evemualmeme de seus filhos no contexro que as fontes mais con 
abarca os reinados de Afonso IV (1325-57) ao de Fernando (1367-1383). Os dois proragonistas nos  séculos  posre 
deste trabalho saem de cena entre 1380 e 1383, mas cominuamos a buscar suas referências em adicionais.  Um  br 
fontes do século Y.V, analisando das suas omissões e destaques em funçáo do diálogo entre os documentação ch 
conrextOs de produção das fomes, seus aurores e partOcinadores e os personagens rei arados. A sej a por causas nat 
conclusão é um balanço dos ramos que predominam nas fomes, anulando ou confirmando a aos anos de  1325 
eficiência de instrumentos ideológicos narrativos e ou chancelares na construção de uma dinasria de Avis 8,  ( 
supremacia prerendida pelos promotOres desras fontes. são  responsáveis 
A apresentação de um produtO que surge de uma base prosopográfica oferece muiras integrais por eme: 
dificuldades dado o esforço de síntese exigido de forma a aliviar o leitor de um excesso de dados coerâneidade pret 
informativos ao mesmo tempo que necessita definir uma linha de raciocínio ou um perfil extraído Ap esar disto 
desre emaranhado de dados colhidos. A nossa opção de apresentação arenderá à proposta desre dos  séculos  XVI 
artigo e seguirá cronologicamenre as fomes, o que, como veremos, nesre caso, não incorrerá em principalmente g< 
tamas repetições como imaginaríamos. das  Chancelarias,
complementares (
AlgUI11as  inf(
PRIMEIRA PARTE:
fontes que consid. 
Prior dos  hッウーゥイセ
Iniciamos apresentando os proragonisras. Rui Vasques Pereira é filho primogênitO de Vasco
seu pai, Arcebispl 
Pereira e Inês Cunha e setá casado com Maria de Berredo com quem rerá prole varonillegírima 2 •
oriental do Medit 
Sua irmã, Joana Vasques, esd casada com Diogo Lopes Pacheco desde maio de 13583, o que, a
seu rempo, rerá imeresse para nossa análise.
Álvaro Gonçalves Pereira, filho natural do Arcebispo de Braga, Gonçalo Pereira, foi invesrido
'AZEVEDO,  I
aos dezoiro anos de idade no priorado da Ordem do CratO e reconhecido pelo rei Afonso IV'. da UniverSidade, Aca, 
Terá trinta e dois filhos naturais, segundo algumas fontes, rodos legitimados pelo pai. Dividimos, 7 ChaMe/arÍds j
para facilirar nossa análise, esra prole em dois grupos: os da primeira geração, fruro de relações H1Sfóncos da セ{・カ■ョu
,  Os  esrudos  i. 
do Prior com três mulheres diferentes) e os da segunda geração, fruro de sua esrável relação com arualização  legislariv, 
Eireia Gonçalves do Carvalhal, de quem nascerá o Condesrável Nuno Alvares Pereira e seus Manim de ALBUQU 
COSTA,  Mário  Júlio 
mUlros ourros irmãos.
Figueirinhas, v.  4,  p. 4
Nesre ponto cabe-nos falar um pouco do primeiro conjunto de fomes analisadas e seus de Aftmo 111,  Curilib 
respectivos conrexros de produção, as Chancelarias e as Atas de Cortes. Concebemos アオセウ・イゥ。ュ 9  Gomes  e。ョ・セ
Aft7JSir/ili, concluídas 
Lisboa:  Fundação  C,
Dtsembargo Ritio (IJ
'Teve (rês filhos, João Rodrigue., Pereira, João Mendes de Pereira e Senhorinha Rodrigues (PorrugaJiae Monumenra Luís  Miguel e MOT, 
HiscorÍca ... , Lwro de Linhagem' do Conde D. Pedro, ed. Joseph PIEL e José MATTOSO, Lisboa: Academia das Ciências, Colóquio A Memónl/
v. 11I1,1980, 21H14. A panir daqui idenriflcamos eS[a obra pela sigla LL). Lis boa:  Ed  Presença 
3 lAN I TT, Charmlana dt D. Pedro 1, l.I, [ 24 e v (Sigla nem trabalho, TT, ChancDPl) e LL, 21 1 OrdeTlaçóf,i Ajonsma.s
• LL 21 G 14- 5. Refere-se nesre livro" exisrência de pelo menos quatro criados de Álvaro Gonçalves ( LL 34W4; igualmente desfàlcad, 
45P); 57T5), o que se confirma numa tendênCia crescenre, por nós atesrada em rrahalhos anleriores, visro que os Crónü'a dt D. João 1,
fdhos naturais mais velhos serão igualmen<e identificados como criados, na documentação, ou seja, usufruem da FERREIRA, Maria  E
cndtlO oferecida pelo Prior. Neste caso específico não podemos afirmar que os criados acima referidos sejam filhos de lO A confiarmo

Álvaro, pois no mesmO livro refere-se a exi«encia de um filho ( LL 66P6). Nore-se a limiração de dados genealógicos sua organização e l"ev
de Álvaro Gonçalves Pereira no Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, dada a sUa ilegirimidade, comraposra aos I. XXII,  p. 263,' sig 
ex<ensos relaros de Sua vida e panicipação no Salado, inrerpolados por seus fIlhos (LL 21G 11 et passiml. il Também  SeL

j A mãe de Pedro Alvares é Marinha e a de Rodrigo Alvares, Eirea Vícenre.(TT, ChancDPI, 1.1, f.ll v-12 e f.12v- (LL,  30  B 6)  elUre  1:
13v).  A cana de Diogo Alvares  não  se enContra  na  Chancelaria.  308). 
265  E$ TRATE  GI A$  DELE GI TI MAçÃO LI NHAGí STI CA EM PORTUGAL NOS SÉ CULOS ..

fIlhos no contexro que


tiS as fontes mais contemporâneas dos fatos  narrados, no entantO, as filtragens e seleções promovidas 
3). Os dois protagoniscas nos  séculos  posteriores  com  certeza  nos  privaram  de  uma  quantidade  larga  de  informações 
buscar suas referências em adicionais.  Um  bom exemplo disro  é a  Chancelaria de Ajôruo IV(l325-57) cuja proporção de 
JIlção do diálogo enrre os documentação chancelar sofreu significativas perdas, conforme destacara já, Pedro de Azeved06 , 
I personagens relatados. A seja por causas nawrais ou intencionais, rendo sido objero de recente publicação referente apenas 
ulando ou confirmando a aos anos de  1325 a  1344 7 . Quanro às  reformas legislativas,  como as  promovidas já no início da 
na construçáo de uma dinastia de Avis 8,  cujos resultados principais, as  Ordenações Aftnsinase as  Ordenações Manuetinas,
são  responsáveis  pelo  desaparecimento  de  documentação  e  ou  substiruição  de  documentos 
pográfica oferece muitas integrais  por ementas9 É com estes  mareriais  que devemos  rrabalhar hoje,  longe,  portanto, da 
Dr de um excesso de dados coetâneidade pre{endida lO 
Inio ou um perfil extraído Apesar disto trabalharemos com os dados chancelares que nos restaram.  Fontes mais tardias, 
, tenderá à propOSta desre dos  séculos  XVI  e  XVII  nos  acorrerão  de  forma  importante  no  preenchimenco  de  lacunas, 
ft caso, não incorrerá em principalmence genealógicas desras  rrajerórias,  rrazendo­nos  informações  fiáveis,  mas  ausentes 
das  Chancelarias,  isro  porque  os  aucores  desras  fomes  dispunham,  certamente,  de  resursos 
complementares que já  não estão  ao  nosso  alcance.  Então iniciemos. 
Algumas informações sobre Álvaro Gonçalves Pereira são tão freqüentemente repetidas nas 
fontes que consideramo­las como dados adquiridos como o faro de rer sido alçado  à condição de 
hoprimogênito de Vasco Prior dos  Hospitalários  aos  dezoito  anos,  informação  plausível,  considerando­se  a  posição  de 
t'iÍ prole varonillegüima2 .
seu  pai,  Arcebispo  de Braga ll . Teria  ido  a  Rodes  combater o  inimigo  da  Cristandade na bacia 
maio de 13583, o que, a orienral do Mediterrâneo, jumamenre com o  Grão­Mesrre de sua Ordem, empreitada realizada 

çalo Pereira, foi invesrido


G AZEVEDO, Pedro de, "Chancelaria (A)  de D. Manso IV", in:  Bolemn. da Stgutlda Clas,-e, Coimbra: Imprensa 
ido pelo rei Afonso IV'.
da  Universidade,  Academia  das Sciências  de  Lisboa,  (VI)  1913, p.ISO­5. 
dos pelo pai. Dividimos, 1  Char,,-e/aria,- Porl:ugu«.u. D.  Afomo IV, org. A.  H. de  Oliveira MARQUES, Lisboa:  INIC / Cenrro de  Es[Udos 

eração, fruro de relações HiSTóricos  da  Universidade Nova de  Lisboa,  1990,3 vols  (Sigla nesre  trabalho,  ChancAIV). 
8 Os es[Udos  indicam  que  as  Ordenações de! Rei D.  Duarte (oram  um  ensaio  do  esforço  de  sisremaril,ação  e 
r sua esrável relação com arualização  legislativa  cujos  primeiros  passos  se  dão  ainda  no  remado  de  João  I  (Ordenarões de! Rei D. Duaru ed, 
o Alvares Pereira e seus Marrim de ALBUQUERQUE e Eduardo Borges NUNES, Lisboa:  Fundação Calousre Gulbenkian, 1988, p. V­XXVI; 
COSTA,  Mário Júlio  de Almeida,  Ordenações,  in:  Dwonririo de Hutório de セッァャヲエイp coord.  Joel  SERMO,  Porro: 
Figueirinhas, v.  4,  p. 441­6 (Sigla  DHP) e  FERNANDES. Fátima Regina,  Cometltário.' à Legislação M.dieMI Por,uJlwa
fontes analisadas e seus de AfotlSO 111, Cuririba: Juruá,  2000, p.  15­6). 
Concebemos que seriam セL Gomes  Eanes  de  Zurara  promove  a  Reforma  dos  Lívros  das  Chancelarias  de  q,íms  a  Duarre,  as  Ordenor&.r
AfomintlS, concluídas em  1446.  (Ordenações Afonsina,-, ed. Máfia J.  de A.  COSTA e Eduardo Borges  NUNES, 2' ed., 
Lisboa:  Fundação  Calou"e  Gulbenkian,1998,  p. 6  (Sigla  nesce  (fabalho,  OA);  HOMEM,  A.  Luís  、セ Carvalho,  O 
Dmmbargo Régio (1320-1133), Porro: Centro de HiStória da Universidade do POHo­INIC,  1990, p.  625 e Id; DUARTE. 
Q セL Nャ・ウ (Ponugaliae Monumema Luís  MIguel  e  MOTA,  Eugénía  Pereira,  Percursos  na  burocracia  régia  (  séculos  XIII­XV),  in:  separara  das  Aaa,- do
j,boa: Academia das Ciências, Cofóquio A Memória da Nação, Lisboa,  1987; MARQUES, A. H, de  Oliveira,  Porr.ugaf tia Crise dos SécufoJ XIV, XV,
Lisboa.  Ed.  Presença,  1986,  p.  254­5),  Assim  como  a  Reforma  Manuelina,  concluída  em  1521,  acrualizando  as 
セikdp I・l LRQ I Ordenoções Afonsmas, teria  refiltrado  O que  restara  da  documencação  chancelar  joanina,  a  qual  encontra­se  hoje, 
Alvaro Gouçalves ( LL 34W4; igualmenre desfalcada de boa  parre de sua composição original, conforme nos alerra Baquero Moreno (LOPES, Fernão, 
ilha, anteriores, visro que os Crónica de D. João I, ed.  Humherro  Baquero  MORENO e  António  s セ r g i o L Lisboa:  Civilização,  s/d,  v.I,  p.  X  e 
mação, ou seja, usufruem da FERREIRA,  Maria  Emília Cordeiro,  Manuel  I,  in:  DHP, v.4,  p.  157­ 60). 
lcima referidos sejam filhos de 10  A confiarmos em  Frei  Manuel dos SaI)(OS,  o primeiro livro da Chancelaria de D. Fernando eSlaria  concluído, 
mi'"ç"o de dados genealógicos sua organização e revisão,  em  1463  (SANTOS,  Frei  Manoel dos,  Monarquia LJmtana, Lisboa:  INCM,  1988. p. VIII, 
iセ・ァゥエェュ 、。 L contrapOHil aos I. XXII,  p,  263, a sigla desra obra pa$sa  a ser  ML), 
21C1I et passim). 11 Também seu  (lo­avô,  Frei  Gonçalo  Peres  de Pereira  fôra  Comendador da  Ordem do  Hospiral  na Península 

LaocDPI, I.l,f 1I v-12 e f.12v- (LL,  30 B 6)  <nrre  l269  e J291  (Fretre,  Anselmo  Braancamp,  Bri1Sões d4 Sal" de Sintra, Lisboa,  INCM,  19')6, v.I,  p. 
308). 
266 FÁTIMA REGINA FERNANDES 267

na juventude e já fora do contexto original de Cruzada no Oriente, além de ter combatido no Em 1356 inicia
Salada. junto ao rei Afonso r
Na Chancelaria de Afonso IV encontramos a referência mais antiga a Álvaro Gonçalves neto natural, filho pI
Pereira, já referido como Prior, em 1337 12 . Carta..'> que tratam, tal como as postetiores, de dispmas entre setembro e OUl
de jurisdição entre os Concelhos que divisam com as terras do Crato, as quais denotam uma Rodrigo e Pedro AJy:
tendência de extensão da pretensão dos direitos da Ordem do Hospital; em quase rodas, a Álvaro Gonçalv
sentença régia é favorável à Ordem. Se aceitarmos que o pai de Álvaro o tenha gerado ames de fica encarregue de se
tomar os votoS, conforme nos afirmam as fontes 13 e que a sua investidura como Arcebispo de do infante Fernando
Braga tenha ocorrido em1325 14 , podemos concluir que Álvaro teria nascido antes de 1325. Em execução da instituiç
ou tu bro de 1341 a Chancelaria nos apresenta a carra de pedido de au to rização ao rei para O Prior termin
compra de herdades no termo do Crato e construção da capela de Frol da Rosa 15.O ra, segundo tutor de seus filhos I
estas cartas Álvaro já fôra investido Prior antes de 1337, o que nos permite inferir que Álvaro que se gestavam nua
seria de fato, muito jovem à época que já representava o Priorado nestas cartas. Seu pai, no quesrionadores à sue
entanto, era ainda uma força bastante presente junro à Corte régia l6 , fato que permitia ao Priot Note-se, neste p
solidificar sua posição até a morte de seu pai, que só se dá, à volra de 1358 17 • Pereira. Pelo serviço (
fui Aras de Cortes promovidas por Afonso IV só mencionam o Prior indireramenre, político português. J
seja incluindo-o nas obrigações de contenção da Pragmática de 1340 18 seja em outras questões Gonçalves ou Rui V,
administrarivas l9 . E interessante notarmos que este é o ano em que se realiza a Batalha do Salada, Já no reinado di
1340, quando Afonso XI solicita o apoio do rei Afonso IV para conter a nova ofensiva muçulmana, Vasques a serviço do
pedido atendido pelo envio do Prior do Crato 20 e que não hajam substanciais referências de sua prole. Em ag
chance1ares ao mesmo na documenração, mesmo posrerior. Faro que pode se dever às já referidas amplo benefício de O
perdas documentais da Chancelaria afollsina. Durante as Cortes d
pouco depois, em jl

"Uma carra de se'Hença de 1337, típICO resulrado da ação do rempo e dos reformadores da legislação, fragmencada
e resumida alude a dispuca judicial da Ordem do Hospiral numa região bem disranre do Crato, nos (ermos da Vila
Dona Cbama, Além-Douro (Chanc AlV, v. 2, doeI. 59, f. 17). Ou tra do mesmo ano, na qual O nome do Prior Álvaro
Gonçalves Pereira vem identificado, apoma no mesmo senrido da amerior, em relação à aldeia de Sigães cm (erra de
21 LL,2IGI2a21(
Faria (Id., I. lI, doc. 175, f. 37 e v). Uma ouera cana de semença, de agosm de 1339, relata-se longa e arrasuda disputa
enrre O Concelho de Abranres e O Prior sobre a (erra de Mação, sem decisão régia t.voráve! a qualquer das panes, as Coimbra: Insriruro de Es
22 Carras que SÓ c
quais devem resolver enrre si a dispuca (Id., I. li, doc. 125, f. 31). Eseranba decisão régia visto que Maç;lo, amiga
Guidinresra, fôra rerra doada por Sancho I, em 1194 aos hospi<alários para aí construírem o castelo de Belver (TORRES, Concessão de carras de 11
R. de A, Hospitalános, in: DHP, v. 3, p. 225-6). Decisão corrigida dois anos mais tarde quando em agosto de q41, o instieuí-!os conforme já f
rei confirma aos hospiralários a posse de Senã, do Craro, Vila de Monrouro e Ulveira na terra de SCla e Belvcr, seus 13 O restamemo d

termos, e COSIelO de Ulgoso ( Chanc. AIV, v. m, doc., 320, 1. IV, f. 75 e v). mortc. de Inês de Castro
'-' LL 21G 14-5 sucedidas junto à Cone
J' Ascende aO Arcebispado quase imediatamenre após a coroação de Afonso IV em 1325 sucedendo João Martins 571).
2'i Livro dt lBLャj、ァセ
Soalhães (JESUS, Frei Rafael de, ML, Lisboa: INCM, 1985, p. VII,!. VIII, cap. 12, n.6).
I; ChancAIV, v. m, 1. IV, doc. 335, f. 82v. p. 7J ( SIgla LL XVI) e jt
,(, Enue 1336-9 enCOntramos teferências do Arcebispo Gonçalo Pereira, acuando diretamente com O rei Afonso 2; Carra de confieI"
16 Diogo Alvares p,
IV contra Afonso Xl de Caseela na disputa do Infante Manuel com o rei cas(e1hano (JESUS, ML, p. VIl,!. X, capo lO,
n.5). Cearo. a[l'avés de canas e
" Dara c1"Íeica ex(raída da Monarquia Lusieana (JESUS, ML, p. VII, I. X, capo lO, n.5). 54v-55). Doaç;loqueée
"}ue. 12° da., pre(ensas Cones de Sanrarém de 1340, especialmente no que respeita à veseimcllra e equipamento I. I, r. 55 e v).
do cavalo (Corte.' Portuguesas. Reinado de Afonso IV (J325-J357), ed. A. H. de O. MARQUES, Maria T. C. " Rodrigo Alvarc,
RODRIGUES e Nuno J. P. P. DIAS, Lisboa: INIC/Centro de Eswdos Hiseórie05 (FCSH da Universidade NoV<! de A.lvares rivesse uma cana
Lisboa), 1982, p. 107. A sigla passa a ser Cortes AIV). mesmo «mpo. É a prim
"No aH. 7° das Cones de Lisboa de 1352 (Cortes AIV, p. 142). 28 A Carta foi emiri

10 JESUS, ML, p. VII, , I. IX, capo Xl, p. 474-9 e J. X, capo m, p. 502. se sabe, reallumrse entri:
267 ESTRATÉ(;IAS OE LE(;ITIMAÇÃO LINHA(;iSTICA EM PORTUGAL NOS SÉCULOS

セi←ュ de ter combatido no Em 1356 inicia seu papel de instituidor e ptotetor dos Infantes portugueses; intercedendo
junto ao rei Monso IV, fazendo eco aos pedidos do Infante Pedro, para que o rei desse Casa a seu
セョエゥァ。 a Álvaro Gonçalves neto natural, filho primogênito de Pedro com Inês, Infame João de Castro zl . Neste mesmo ano,
10 as posteriores, de disputas entre setembro e outubto de 1356, ele próprio institui seus dois filhos naturais mais velhos,
tW, as quais denotam uma Rodrigo e Pedro AJvates Pereira, respectivamente, em amplo patrimônio próximo ao Crat0 22
. spital; em quase todas, a Álvaro Gonçalves está presente à morte de Monso IV, ocorrida em 28 de maio de 1357 e
Ira o tenha gerado antes de fica encarregue de ser seu testamenteiro 23 . Responsável pela execução de uma espécie de tutoria
!idura como Arcebispo de do infante Fernando de apenas oito anos, único nero legítimo do rei defumo e pela garantia de
ascido ames de 1325. Em execução da insrimição de Casa também a este Infante, desejada pelo seu avô z'.
e aurorização ao rei para O Priot termina o reinado de Monso IV bastante fortalecido, amigo do Infante Pedro e
rol da RosaI 5.Ora, segundo LUtor de seus filhos mais que herói do Salado, por estas fontes. Árbitro das dispuras intestinas
permire inferir que Álvaro que se gesravam numa Corte onde a passionalidade do novo rei Pedro gerara tantos potenciais
nestas canas. Seu pai, no questionadores à sucessão de um único herdeiro legítimo.
fàro que permitia ao Prior Note-se, neste ponto, a ausência de referências, neste conjunro documemal, de Rui Vasques
1358'] Pereira. Pelo serviço direro ao rei, Álvaro Gonçalves começava a suplantá-lo no panorama sócio-
° Prior indiretamente,
fi potírico  português.  Já  as  Atas  das  Cortes  de  Monso rv, não  referem  especificamente Álvaro 
18seja em ouuas quesrões Gonçalves ou Rui Vasques Pereira. 
ealiza a Baralha do Salado. Já no reinado de Pedro  1,  encontramos, em novembro de  1363,  a primeira referência a Rui 
nova ofensiva muçulmana, Vasques a serviço do rei z5 Enquanto isso, Álvaro  Gonçalves cominuava seu papel de instituidor 
substanciais referências de  sua prole.  Em  agosto  de  1357  o  Prior  consegue  o  reconhecimento  régio  de  concessão  de 
dese dever às já referidas amplo beneficio de outro seu filho  namraI26, além da legitimação de seus dois  filhos mais velhos27 . 
Duranre as  Cortes de  Elvas,  em maio  de  1361,  obrém confirmação  régia  destas  concessões 28  e 
pouco  depois,  em  julho,  a  legitimação  de  vários  outros  filhos  narurais  que  reve  com  Eirea 
ores da legi>l.ção, fr<>grnenr.do
I do CralO, 1105 ,ermos d. Vila
Da qu.1 o nome do P,ior Alvaro
., à aldeia de Sigães em <erra de
lat.·se longa e .rrast.do dlspu,o 21 LL, 21 G 12 a 21 G 15 e ARNAUT, S.  Dia:;,  A Cri" Nacional do.. Fim do Sé(lllo XlV:A Sue,"",do de D. Fernando,

\;Il'dvel • qualque, da." parres. a." COimbra:  Insriruro de  Esrudos Hiscóricos Df. Anrónio de Vasconcelos,  1960,  2 a  p.,  p.  74·5. 
l régia visto que セッ ̄￧。m :ln(iga 22  Carras  que  só  conhecemos  ,ranscri,"s  na Chancelaria  de  Pedro  I (TT  Chanc  DPI,  1.1,  f.  53v·56  e  54v). 

ocas,e1ode Bel ver (TORRES, Concessão de carlas de morgado de bens doados  por cerceiros  a seus filhos  que sáo,  nO  emamo, um subreri",ígio  p.ra 
"qulndo em agosro de 1341, o insri,uí·!os conforme já provamos em  trabalho  oncerior. 
na tetO de Seia e Bclver, seus 2)  O reStameufO  de  Afonso  IV  foi  redigido  em  fevereiro  de  1355,  cenamelHe セ ・ ュ ョ 、 ッ as  consequências  da 
mone de  Inês  de Casrro  mas  só em  1357 O PriOr  merece  a condição de execuror do  mesmo após SuaS  iniciativa:;  bem 
sucedidas  jumo  à  Corre  régia  (LL século XVI,  p. 71  "JESUS, ML, p.  VII,  1.  X,  capo  XXl,  p. 565­7 e  cal'.  XXIlI,  p.
1325 sucedendo João Martins 571). 
n.6). l4 Livro de Lmhogms do século XV!, ed.  A. Machado de FARIA,  Lisboa: Academia Portuguesa da  Hisrória,  1956  , 

p.  71 (sigla LL XVI)  e JESUS, ML, p.  Vil,  I. X,  copo  XXI,  p  565­7. 


diretantclHe com o rei Afonso 2;  Corta de confirmação de COUfo  do lugar de Lamegal,  <ermo  de  Pinhel  (TT, ChancDPI,  I. I.  f.90v). 
'SCS, ML, p. VlI, I. X, copo 10, zé Diogo Alvares  Pereira recebe, na forma de cana de morgado, semelhante a seus dois irmãos,  bens próximos ao 
Craro, a"ovés de canos emiridos DOS  (Crmos do  Senã,  cerras  iguolmeu(C próximos do Priorodo (TT, ChoncDPI.  I. I,  f.
10, n.5). 54v­55).  Doação que é completada por um segundo documento da  mesma nacureza emlCido em julho de  1359 ( Id., 
ita à ves(lmeo[a e eq uipamenro I. I,  f. 55 c v). 
O. MARQUES, Maria T. C 17  Rodrigo  AJvores  Pereira  e  Pedro  Alvares  Perei,a  (TT,  ChancDPI,  I. l, f.  1 lv­13v).  É  provável  que  Diogo 

CSH da Universid.de Nova de AJvares  civesse  uma cana semelhante que deve  (c'  se  pcrdido, visco  que os  rrês  irmãos sáo,  ncSf.  fase  beneficiados ao 
mesmo  rempo.  É a primeira geração dos filhos  do  Prio, Álvaro  Gonçalves  Pereira. 
28  A carta roi  emirida em Elvas, dacada  de  20 de maio de 1361  (TT, ChancDPI, I. I.  r 55 e v),  as Cones, como 

se  sahe,  realizam­se encre 24  e 25  deSte  mesmo  mês. 


268 FÁTIMA REGINA FERNANDES 269 EST

Gonçalves do Carvalhal, dentre eles Nuno Alvares Pereira 29 . Nestas mesmas Cones o rei Pedro castelhano Fradique, セ。ョ
I institui seus próprios filhos naturais Infames Castro'o o que manifesta uma cópia de atuação não pode estar presente,
régia na trajetória do Prior. ainda neste ano de 1380 r
Duas cartas de 1359 reforçam o papel de Álvaro Pereira como clérigo que constrói a capela É referido no preâmbulo
no Cram para rezar pela intercessão divina a fàvor dos reis". Já as atas das Cortes de Elvas e àqueles que ocupam algu
outros documenros chancelares sucessivos, reforçam sua atuação de mancenedor dos direitos Após a morte de Á!,
régios de isenção concedidos por Afonso IV e ampliados por Pedro I 32. Gonçalves Camelo, um S'
Além de zeloso administrador do patrimônio e direitos das rerras da Ordem, Álvaro entanto é seu filho, Pedr
Gonçalves mosrra-se um instituidor de jovens, n uma Casa repleta de jovens criados à sombra do Crato num processo lon[
Crato, além de seus próprios fdhos nawrais, os filhos de seus colaterais e da alta nobreza que o A Chancelaria e Ar
cerca33 , o que reflete-se, neste contexro do século XIV, como um critério diferenciador de um muiro mais frequência, ;
nobre de grande importância no panorama sócio-político do reino. nos principais ュッ・ セ
Álvaro Gonçalves Pereira nos inícios do reinado de Fernando dá conrinuidade às legirimações os-Montes, desde maio (
de seus filhos 3• mas na Chancelaria e Cones fernandinas suas referências são escassas. Em 137240 e duranre a assinaI'
novembro de 1376 recebe, pelo rei, o juramenro do casamenro da Infanra Beacriz com o Infanre não só na cerimônia de c(
seu benefício. Sua セゥウッー
que recebe concessões en'
2? Duas canas de 24 de julho de 136 I, urna onde legirima Nuno ALvares e ouna, Fernando ALvares e Lopo

Alvares Pereira (TT, ChancDPI, I. I, f. 89 e v). Aqui começa aquilo que designamos como segunda geração dos filhos
do Prior.
30 João e Dinis de Casrro reriam recebido nestas Corres uma comia de 20 mil libras e Bearril. de Castro reria ,) Recebe a prowrado ri:
recebido 100 mil libras em caSamentO (LOPES, CDPI, capo 46, p. 202) Segundo a documenraçao.o Infame João de Rúnado dt D. remando 1(13
Casrro teria recebido ainda, a rogo de seu irmão Infante Fernando. ampLas concessóes patrimoniais inclnindo jurisdição EStudos Históricos (FCSH da
civel e crime a tÍ<ulo de morgadio, tal como os filhos do Prior (ANTI, ChancDP. , 1.1, f:86-87v e ARNAUT, 2' P , p. ;6 O procurador que o fi

103-4). Pouco depois das Cones o rei Pedro recebe a resposta pontificaI de um pedido de reconhecimento de seu tenhamos conseguido locali;-.ar
casamento com Inês e consequente reconbecimelHo da legitimidade dos Infantes C""uo. A resposta é negativa com a em Corte", p. (68).
clara referência de que o Infante Fernando era o único a ter direiIO ao ríwlo de Infame, os filhos com Inês seriam " Especificamenre na lei
apenas "filhos nados" do rei (ARNAUT, op.m., 2' p., p. 84-89). fidalgos de setembro deSte rne,
J' Em carta de 13 de fevereiro de L359, Pedro I concede o padroado da Igreja de Santa Maria de Marvão para op.cir.,!' p., p 117-8)
manutenção da capela de Flor da Rosa, anexando a aUTorização de consrrução da mesma, feita por Afonso IV (TT, JB Inicialmeu[e a vac1ná
ChancDPI, I. I, f. 34v-35) Ouua carta de L5 de novembro de 1359 resumindo O conteúdo da anterior, concede o Camelo. No emanto, O. l'emar
padroado da Igreja de Maçom, na Guarda, para o mesmo fim ( Id., I. I, f. 32 e v). a insri ッセ\ᅦゥuャ de Pedro Alvares
II Nas acras de""" Cones exis<c nma queixa do Concelho do POrtO contra caseiros da Ordem que se excusam de olici almenre iniciado em março
cumpnr anúduva neste Concelho ao que o rei responde que deveriam prescá-la pois a Ordem Tinha ai muit"" herdades desde fevereiro de 1380, o tei p
(Com.' PortuguesaJ. Reinado de D. Ptdro I ( 1357-13(7),ed. AH de O MARQUES e Nuno J.r.r. DIAS, Lisboa: INICI Ocideme, in: LUJ!flima Saaa, L
Cemro de Esrudos HIstóricos (FCSH da Universidade Nova de Lisboa), 1986, are. 5°, f. 60, p. 110-1, sigla, Cories Alvares Pereira identiEcado cor
DPI). Decisão régia reviSta a posreriori. Em três cartas, uma de 4 de março de 1361 (TI, ChancDPI., I. I, f'. 50), ouua, Alvaro Gonçalve" Camelo sucec
referente especificameme a direiros requeridos pelo Concelho do PortO de 7 de junho de 1363 ( Id, I. I, f. 84v-85) e Avis carapultado certamente po
ouua de 17 de abril de 1365 (ld, 1.1, f. 108v), rei Pedro I confirma os direilOs e isençóes da Ordem do Ho"piral freme 59 Em Maio de 1367 rer

aos Concelhos do reino. Apenas num OutrO documenro de 1 de agosto de 1362 ( ld, I. I, f'. 79 v) arbitra a lavor do Bahar e Paços no julgado de A
Concelho de Pinhel uuma dispura deste com a Ordem. 98). O pai de Rui V""ques, Va
.H Pero Rodrigues, filho natural de Rodrigo Eanes Redondo é c""ado sob influência do Prior e os dois filhos progenitor do ramO dos Pere"
deste casamentO, Álvaro e João Rodrigues serão criados do Prior ( LL, 34W 3-4); Guiomar Lopes Pacheco, meia-irmã 10 Recebe cana de 23 d(

de Diogo Lopes Pacheco e casada com o Conde de Outém e Barcelos, João Afonso Teles loi também criada na casa do de seus mar3vedis (TI, Chan,
Prior (LL, 57T5) e cenameme daí encaminhada ao casamenlO que a transformaria em Condessa. Além desres, concessão confirma indireram
enconrramos a referência a Álvaro Gonçalves Camelo, criado do Prior (LL, 45(5) sendo inclusive sobrinho dos senhores " É conE. rmada ma anti
da Feira, ramo colareral do Prior, LッイセカQa Gonçalo e Rui Pereira ( LL,35F4). Voharemos ma i" à freme a este Alvaro março de 1373 ('n; ChancO
GonçaLves Camelo. ., Recebe VcrmOlnl em
H Em duas canas de 15 de setembro de 1367 legitima Gonçalo e Vasco Pereira (ANI TT, ChctTluwria de D. I, r. 122v). Como sabemos, er
Fernando, I. I, f. 17 e v, siglaTT ChancDF) e em OUtra de 8 de janeiro de L375 legitima Rui Pereira (Id., I. I, f'. 159v- concessões régias ウッセ nobres, I
160). (VITERBO, Fr J. de Santa R
269 ESTRAT ÉGI AS OE LE GITI MAçÃO LI NHAGí STI CA EM PORTUGAl NOS SÉCUlOS '"

las Cones o rei Pedro castelhano Fradique, nas Corres de Leiria3S • Nas Cortes de Totres Novas de agosto de 1380 já
uma cópia de aruação não pode esrar presente, enviando procurador em seu lugar 36 , tendo falecido em data incerra
ainda nesre ano de 1380 pois não encontramos qualquer outra menção chancelar a este indivíduo.
)que consrrói a capela É referido no preâmbulo de leis em 1375, nas quais referem-se direiros e isenções reconhecidas
das Cortes de Elvas e àqueles que ocupam alguns cargos no reino, como o de Prior do Hospitap7.
ntenedor dos direitos Após a morre de Álvaro Gonçalves o Grão-Mestre da Ordem nomeia seu sucessor Álvaro
Gonçalves Camelo, um sobrinho dos senhores da Feira, ramo dos Pereira colareral a Álvaro, no
IS da Ordem, Álvaro entanto é seu filho, Pedro Alvares Pereira, quem o sucederá na função de Prior da Ordem do
lS criados à sombra do Crato num processo longo que conta com a intervenção favorável do rei português58 ,
da alra nobreza que o A Chancelaria e Atas de Corres relarivos ao reinado de Fernando nos apresentam com
, diterenciador de um muito mais frequência, a presença de Rui Vasques Pereira, especialmente entre 1372 e 1373,
nos principais momentos fortes da governação. Senhor com várias rerras e alcaidarias em Trás-
l!'idade às legirimações os-Montes, desde maio de 136739 será beneficiado durante a realização das Corres de Leiria de
:ias são escassas. Em 1372 40 e durante a assinatura do Tratado de Samarém de 1373 41 , o que pressupõe sua participação
Beatriz com o Infame não só na cerimônia de celebração do tratado corno na guerra que o antecedeu, o que jusrificaria
seu benefício. Sua posição de primogênito é confirmada nesta documentação, na medida em
que recebe concessões em pagamento de sua contia4l , as quais se extinguem em 1373'3. A partir
Fernando Alvares e Lo po
segunda geração dos filhos

lS e Bearri'l de Casuo leria 3; Recebe a procuradoria jun{amenre com Henrique Mannel de Vilhena, Conde de Sei a ( Corte< portuguesas.
leJ1laçio,o Infa",e João de Remado de D, Fernando! ( 1367-1383), ed. AH de O MARQUES e Nuno J. P. P. DIAS, Lisboa: INIC/Cenuo de
,oniais incluindo jurisdição E,<rudos HlSfóricos (FCSH da Universidade Nova de Lisboa), 1990, v. I, p. 150, sigla, Corres Df').
-87v e ARNAUT, 2a p., p. Só O procurador que O represenra é Fernando Alvares Pereaa identificado comO irmão do Prior, ainda que não
de reconhecimenro de seu renhamos consegrl)do localizar esre paremesco (Cones DF, Procurrrçiío do PrIOr da Ordem do Hospital ao leU representante
セ resposcJ é negariva com a em CorteJ, p. (68).
0.1 filhos com Inês seriam " Especificamen,e na lei das Sesmarias, dos mercadores estrangeiros d" maio de 1375 e na lei de jurisdição dos
fidalgos de se<embro desre mesmo ano (O A, , livro 11, rírulo LXJJJ e lIvro IV, dmlo IV e rírulo LXXXI e ARNAUT,
l(a Maria de Marvão para op.cil., P 1'., p. 117-8),
, feira 1'01 Afonso IV (TT. 38 Inicialmente a vacância do priorado será resolvida pelo Grão-Iv'leme da Ordem, que nomeará ÁJvaro Gonçalves
ido da anrertor, concede o Camelo. No emamo, D. Fernando, afirmando qne O Grão·Mestre era apaniguado de Urbano VI, requere a Clememe VII,
a insliluição de Pedro Alvares Pereira (LOPES, CP/I, Pp., capo 35, p.70- I e cap,156, p.333), O Cisma do Ocideme,
Ordem qne se excusam de oficialmen,e iniciado em março de 1378, serve assim, aos imeres>es régios de beneflciamemo de sells fiéis, na medida em que
m ,inha aí muilas herdades desde feverwo de 1380, o rei português reconhece o Papa CIemenre VII (Vide BAPTISTA, J. c., Porrugal e o Cisma do
r.Pp. DIAS, Lisboa: INICI Ocideme, in: Lusirlima Srlcra, Lisboa, t.I (1956), p, 84-90, especialmeme p. 105). Na Chancelaria régia encourrarnos Pedro
60, p. 1I0-1, sIgla, Cones AJvares Pereira identificado como Prior do Hospira.! セ。ョ・ー em março de 1383 (TT, ChancDF. I. m, f.49v). Quanro a
lancDP!., I. I, f 50), OUlra, Alvaro GonçaJves Camelo sucederá sell primo, Pedro Alvares Pereira no Pnorado da Ordem do Hospiral após a ascensão de
1363 (Id, L I, f 84v-85) e Avis campu"ado cerramen,e por seus lios, os senhores da Feira.
Ordem do Hospilal frente 3? Em Maio de 1367 recebe o casrelo de Monralegre H t ャ セ ChancDF, I. 1, f. 13 v). Em fevereiro de 1372 recebe
f 79 v) arbirra a favor do Bahar e Paços no julgado de Aguiar de Sonsa e Aboim e fuco de Baúlhe no julgado de Cabeceiras de Basro (Id, I. I, f.
98). O pai de Rui Vasqnes, VaKO Pereira fôra senhor de Cabeceiras de Basro (LL, 21 H 14) e reria sido segundo Freire,
a do Prior e os dois filhos progeniror do ramo dos Pereira Marramaques (FREIRE, op.cit., v. I, p. 308-9),
Lopes Pacheco, meia-irmã 40 Recebe cana de 23 de novembro de 1372, emirida em Leiria a concessão da (erra de Barroso em pagamenro

i rombém criada na casa do de seus maravedis (TT, ChancDf, I. I, f. 117). Ainda que não consre sua presença explícira nas referidas Corres, (ai
TI Condessa. Além desces, concessáo confirma indirecamenre sua presença.
.Lli ve sohrinho dos senhores " 'f confirmada sua anterior concessão do caSTelo de Momalegre nnm docnmemo exarado de Samarém, a 28 de
mais à frente a este Alvaro março de 1373 (TT, ChancDF, I. I, f 118v). O Trarado é asSinado a 07 de abril em San(arém.
" Recebe Vermoim em pagamemo de sua conna com obrigação de serviço com cerras lanças (TT, ChancDF, I.
NI TT, ChanceLma de D. I, f. 122v). Como sabemos, em resposra aos agravos dos povos aO rei, feiros em Corres aIHeriores conna os excessos de
li Pereira (Id., L I, f. l59v- concessões régias aos nohres, D. Fernando esrabelece que 。ー・ョ。セ os primogêniros (ecão d"eiro às comias ou maravedis
(VITERBO, FI. J. de Sama Rosa de, E/ucidário dóIS Palavras, Termo! e Frases que em Portugal r/TItjgamente fe waram e
270 FÁTIMA REGINA FERNANDES 271

de 1375 seus bens passam a ser transferidos para rerceiros sob alegação de que Rui Vasques reria mal feito rias dos fi(
caído em desemiço. no mesmo ano de
As primeiras canas que trazem esta acusação datam de 5 de março de 1375 esclarecendo fonres para o parri
que Rui perdia algumas das terras que recebera do rei "por erros que cometera"·'í. Sua trajetÓria posse de João Rodr
eclipsa-se da Chancelaria e de qualquer ourra fonre até que em documento de 12 de março de seriam beeuias, Tu
1383 a mulher de Rui, Maria de Berredo, é apontada como viúva"5, sem idenrif\car, naturalmenre, Pereira e mais tard
a data da morte de seu marido. Nesre documento Maria de Berredo confirma seus direitos sobre Pereira é confirrna<
rerras que tinham sido comadas anreriormente 46 sendo que boa parte dos bens que tinham lha dera o próprio
pertencido a Rui Vasques Pereira acaba incorporado ao parrimônio do Condesrável Nuno Alvares ramo dos Pereira, :
Pereira 47 uma hipó(ese que
Seu filho, João Rodrigues Pereira, recupera pane dos benefícios que rinham sido concedidos durameme pela lei
a seu pai, já no contexto de ascensão do Mestre de Avis e que viria a se ramar um senhor de como acomecera G
beetrias em Trás-os-Montes· 8 . fIlho é que usufruo
Em um trabalho anterior analisamos um senhor de beerrias na mesma região e no mesmo como rerribuição d
conrexto, Vasco Marrins de Sousa, que a partir de setembro de 1375 reria sido confiscado por possíveis abusos d(
malfeirorias que fizera em suas rerras'9, pelo que argumenramos, fôra aringido pela lei sobre as confisco de Rui Va
Gosraríamos :
Pereira, cabeça de I
que Hoje regulannenle se IgrJO"Im. ,,' ed. Mário FlÚZA, Pano: Civili'Z.ação, 1962-65, v. lI, p. 130, informação referendada
Pacheco, seu cunh:
por Hennque da Gama Barros)
43 A 11 de serembro de 1373 recebe as rerras de Tendães e Parada Meã (1'1', ChancDF, I. I, f 122v). Cas(e!a manifesta s
"Os beneficiados são Manim Afonso de Melo qne recebe as rerras de Balrar e Paços (1'1', ChancDF, 1. I, f.165v) rei casrelhano sobn
e Fernando Afonso de Melo, seu filho, que recebe Arco de Baúlhe e Aboim (Id., 1. [, f. i65v-166).
'51'1', ChancDF, 1. 111, f. 55.
invade seu reino n
., TT, ChancDF, 1. [1, f. 98v e UI!, f 55. direta fidelidade:
47 Transferência observada em exrenso documenw que recupera canas de 1372 aré 1391 além de uma publica
assassinara de D. F
forma de 1404 com o mesmo reor. Os bens de Rui noS julgados de Aguiar de Sousa e Cabeceiras de Basro que serão
[ransferidos a Nuno Alvares Pereira e objero parcial de escambo desrc com um filho de Rui, João Rodrigues Pereira em
1391 (AN 11'1', Clltlnce!<tria de D. João f, 1. IV, f.88-90, sigla 1'1', ChancDJI), cuja conflrmaç.lo de escambo dara de 11
de maio de 1392 ( Id., l. II, f. 67v). Bens que consriroirão pane do furoro Ducado de Bragança. 50 FERNANDE:

'8 A quem acompanh.a no cerco de Lisboa, nas Corres de Coimbra de 1385, no ..naial sobre Chaves de 1386 e Aquae FlolJltu, Chaves,
no de 1'uy de 1398. Recebe bens do Conde de Viana em deJuVlf'o do Mesrre, além de Paços e Baltar , que eram de seu ;1 D. Fernando.

pai. Esra concessão é feira em Lisboa, às vésperas do cerco casrelhano à cidade em cana de 13 de abril de 1384 (1'1', Antônio Caetano do, '
CbancDJI, l. 1, f7v-8), ocasião em que recebe rambém a vila dc Aveiro com seus direiros e rendas Como as rivera a 1945, p. l43).
rainha Leonor Teles (Id., 1. I, f 7v). Em maio de 1384, no início do cerco. João Rodrigues é confirmado na d9ação dos ;2 O senhor eleir
bens que tinham sido do Conde e que rinham sido conresrados por Fernando Afonso de Zamora (Id., l. I, f. 61 v). João Rodrigues Pereira
Recebe amplas concessões no decurso das Cones de Coimbra de abril de 1385. No dia 07 de abril recebe os bens qlle João Rodrigues são cor
[inham penencldo ao Conde Pedro de Trasrâmara (Id., l. I, r. 106v) e ounos do Conde de Viana, cujos moradores ,3 SANTOS, MI
reáam e1eiro João Rodrigues Pereira como seu senhor ( Id., l. I, r. l40). A 12 de abril, D. João reconhece a eleição de j-'TT, ChancDJ
João como senhor de Mós. realizada pelos moradores da dira localidade (Id., I. I, f. 107v). Duranre o arraial sobre " Afonso Esreve:
Chaves, a 5 de fevereiro de 1386 recebe confirmação da vila de Aveiro e dos lugares de Bal<ar e Paços na condição de FERNANDES, Fárim
morgados (Id., I. I. f. 169 e v) além do julgado de Penaflel de Sousa (Id., J. I, f. 169v-1 70). Em documento de 3 de século XIV>, in: ReIJi.,(
junho de 1398 no arraIal de par de SOUto Maior, oS dois filhos de João Rodrigues Pereira. Gouçalo e Rui Vasques 56 São in úrneras

Pereira recebem do rei João I, bens que tinh.am penencido a seu pai aré sua morte (Id., l. Il, f. 146v) que ocorre 1398 diame, manifesrando l
(LOPES, CDJI, 2·p., capo 167, p. 368). Á partir desce documento a Chancelaria joanlna confirma a fidelidade dos cerco de Tuy em maio
filho, de João Rodrigues Pereira à dinasria de Avis paga com amplas concessões. No arraial sobre 1'uy, em junho de " A irmã legiril1l
1398, Gonçalo Pereira vê confirmado o escambo da rena de Balrar, reali'Z.ado enne seu pai e seu rio Nuno Alvares ChancDPI, l. I, f. 24 ,
Pereira (1'1', ChancDJI, 1. 11, f 146 e v), além de aparecer na mesma data na documen<açáo como senhor e1eiro pelos jR Vide a esre reSJ

motadores de vários lugares que rinham eleiro ameriormenre seu pai: Canavezes, TUlas, Paços, Gomigem, Louredo-o- Edirora da UFPR, 200
Velho e Galegos (Id., J. 11, f. 146v-147). em el siglo XIV, iu: SI,
';91'1', ChancOF, I. I, f. 176v-177. p. 211-24.
271 ESTRATÉGIAS OE LEGITIMAÇAO LINHHisIICA EM PORTUGAL NOS SECULDS ..

Jue Rui Vasques reria maJfeitorias dos fidalgos, cuja matéria rege abusos senhoriais so Ora, Rui Vasques é confiscado
no mesmo ano de Vasco Martins; no entanto, a condição de senhor de beeuias só aparece nas
le 1375 esclarecendo fontes para o pauimônio de seu filho. É o caso de Canavezes e Louredo-o-Velho'· beetrias na
ma"<4. Sua trajetória posse de João Rodrigues Pereira s2 , não constando estas terras do patrimônio de seu pai. Também
:0 de 12 de março de seriam beetrias, Tuias, Gontigem, Britiande e Gallegos 53 , terras conflOnadas a João Rodrigues
tjftcar, naruralmenre, Pereira e mais tarde ao filho desteS<. Em outro documento, um escudeiro de João Rodrigues
na seus direiros sobre Pereira é confirmado na posse de Portocarreiro, terra da mesma natureza, da mesma forma que
.os bens que tinham lha dera o próprio Rui Vasques Pereira55, o que autOriza-nos a inferir que o patrimônio desre
JestáveJ Nuno Alvares ramo dos Pereira, ainda em vida de Rui Vasques fÔra consrituído em parte por beetrias. Seria
uma hipótese que Rui Vasq ues ao perpetrar abusos nas suas beerrias tivesse sido atingido
ham sido concedidos duramente pela lei de malfeirorias dos fidalgos que previa nestes casos confisco dos bens, ral
tornar um senhor de como aconrecera com Vasco Martins de Sousa, no entanto, nos documentos, as terras de seu
fIlho é que usufruem maciçamente desra condição de beetrias concedidas a João Rodrigues
.a região e no mesmo como retribuição de Avis a seus inúmeros serviçosS6 O que leva-nos a afastar a hipótese de que
I sido confiscado por possíveis abusos domíniais e jurisdicionais promovidos por Rui em suas terras, justifICasse o
gido pela lei sobre as confisco de Rui Vasques Pereira e as acusações de deserviço que lhe são impuradas.
Gostaríamos ainda de discutir outra hipótese para o eclipse de sua trajetória. Rui Vasques
Pereira, cabeça de linhagem, dispunha de uma vinculação linhagísrica estreita com Diogo Lopes
,0, Informação referendada
Pacheco, seu cunhado 57 . Esra figura conlroversa 58 especialnlente após a segunda guerra contra
F, I. I, r 122v). Caslela manifesta sua clara partidarização ao rei Trasrâmara. Além de rer levado informações ao
n, ChancOF, I. [, r.165v) rei castelhano sobre a disposição belicosa de Fernando a romper o Trarado de Alcourim de 1371,
v·166).
invade seu reino natural e o combare a favor do inimigo. Prosseguindo a manifesração de sua
direta fidelidade a Henrique Trastâmara, Pacheco empreende uma tentativa frustrada de
391 além de uma publica
assassinara de D. Fernando, auxiliado por João Lourenço da Cunha, primeiro marido de Leonor
'CClfa5 de 6.5<0 que serão
10.0 Rodrigues Pereira em
;ão de escambo dara de II
,.nça. 50 FERNANDES, Fárima Regina, «Vasco Marrim de Sousa, um senhor de beetritt; rranSlnonranas", ReVISta
ai sobre Chaves de [386 e Aqurte Flavia<, Chaves, Grupo Culrural Aquae Flaviae, 26 (2001), p. 75-93.
e nal,ar, que eram de sen 51 0. Fernando, a 15 de julho de [382 confirma o privilégio de butrta à escas e ourras localidades (AlvfARAL,

13 de abril de 1384 (TT, AnrónlO Caerano do, Mem6nas. Memóna V. Para a Ristóna da LegISlação e Costumes de Portugal, Porro:Civdú.ação,
e {endas como as fivera a 1945, p. 143).
confIrmado na doação dos 52 O senhor eleito das mesmas aré maio de 1384 (TT,ChancOJI, L I, f. 61 v) dara da concessão deSte benefício a
Zamora (Id., I. I, f. 6Iv). João Rodrigues Pereira, seria o Conde de Viana (TT, Chanc.DF, 1.11, 93). A posse de ウ・セサカ。ョ c e Louredo-o-Ve1ho a
\e abril recebe os bens que João Rodógues são confirmadas ainda em TT, ChancDJI, l. I, F. 106v e 140 e a seu filho em Id., LII, f. [46v-147.
iC Viana, cujO$ moradores ;.1 SANTOS, ML, p. VIII, livro XXl!, capo XXXV, p. 258.
lão reconhece a eleição de 5'TT, ChancDJI, l.1, r. 106ve 1.11, f. 146v-147.
Durante o arralal sobre ;5 Afonso Esteves de Paredes (TT, ChancDJI, l. I, F. 42v-43) recehe Porrocarreiro. A propósiro desra bee rrj a vide
'ar c Paços na condição de FERNANDES, Fárima R., "Joao Rodrigues Ponocarreiro, um senhor em Trás-os-Montes, na segunda merade do
l. Em documento de 3 de século XIV", in: ReVIsta Aquae Flaviae, Chaves: Grupo Cuhural Aquae F1aviae, 12 (1994), pp. 225-231
a, Gonçalo e Rui Vasques 56 São inÚmer3.S 3.S reFerências à João Rodrigues Pereira na Crónica de O. João I, conforme veremos nlalS a

,f. 146v) que ocorre1398 diante, manjfesrando uma ー。イ ゥ、。イゥセ。￧ ̄ッ precoce e conStJnre deSte, jnnw ao Mesrre de Avis aré sua morre durame o
confirma a fIdelidade dos cerco de Tny em maio de 1398 ( LOPES, COJI, 2"1'" cal" 167, p. 368).
,I sobre Tuy, em jun ho de ;7 A irma legí6ma de Rui Vasques Pereira, Joana Vasques, era casada desde 1358 com Oiogo Lopes Pacheco (TT,
,ai e seu (10 Nuno AIvares ChancOPI, l. I, r. 24 e v e LL, 21 H [4).
ocomo senhor c1eiro pelos 58 Vide a este respelfO, FERNANDES, Fárima R., Sociedade e Poder na haixa Idade Média ponuguesa, Curiliba:
os, Gonrigem, Louledo-o- Edirora da UFPR. 2003, p.121-33 e Id. Diogo Lopes Pacheco. Acción polírica y diplomaciaenrre Pormgal y Casrilla
em e1 siglo XIV, in: Studul H1.iIorICa. Rutor;a MulÚ'/!al, Salamanca, Universidad de Salamanca, 18- [9 ( 2000-200 I),
p.211-24.
272 fATIMA REGINA FERNANDES 273

Teles e possivelmente dos Infames Dinis e Beatriz de Castro. A entrada de Pacheco em Portugal permice-nos concluir (
ocorre em 1372, mas a tentaúva de regicídio não tem uma data precisa. A resposta do rei A quarra carta de 25
português a esras iniciativas hosris de Pacheco são demoradas devido a concingências diplomáricas. tes tamen to e transfere
O Tratado de Santarém de 1373 59 obriga-o a perdoar os naturais de Porrugal que tivessem uaição ao rei leria sido
apoiado o inimigo castelhano, além de devolver-lhes os bens evenrualmeme confiscados, o que de Rui Vasques Pereir:
adiava a vingança régia contra o Pacheco e co neta o Infante Dinis. Apesar disto, a devolução dos 1375 o que não nosau
bens dos traidores não setia promovida na tQralidade pelo rei Fernando o que gera, em 1380 de contlsco só se justif
queixas do rei castelhan060 . que, conforme vimos,
Ora, em 28 de agosro de 1378, D. Fernando faz seu restamenro e nde claritlca as traições O que me parec<
de que fôra objeto, justificando suas coações aos traidores do reino porruguês. Acusa o Pacheco, cunhado na segunda
alguns narurais do reino e seus meio-irmãos, Infantes Dinis"' e Bearriz de Castro de rerem Trás-os-Momes nesra
conspirado para sua moné2 , aproveitando para deserdá-los da sucessão do reino">' Acusação colaboração mesmo ql
suficienre para não devolver os bens contlscados do Pacheco e do Infante Dinis. Tal menção o que justificaria as ae
testamentária indica-nos, também, que a tema(Íva de regicídio deve rer ocorrido ames de meados Buscamos ainda,
de 1378. A Chancelaria fernandina corrobora ral hipórese através de quatro cartas. A primeira, Enrique de Pero Lop<
darada de 19 de dezembro de 1378, na qual transfere-se bens da Infanta Bearriz de Casrro a iniciativa que não obt
Fernando Afonso de Albuquerque, sem menção direra a traição"·i. A segunda, de O1 de julho de
1379 auibui ao mesmo Fernando Afonso os bens de João Lourenço da Cunha e rdara-se que
este último chegara a ser reinvestido em seus bens após 1373 mas que os usara para comratar
assassinos que promoveriam o regicídi0 65 A rerceira, de 3 de dezembro de 1379, transfere bens
de Dinis para terceiros"6.0 ra, a correlação das datas e do benetlciado, nas duas primeiras cartas, Nesre pomo, inil
volta de 1340-44 sob (
sérios já comprovaram
l' RUSSELL, P. E , "Fernão Lopes e o Trarado de Sanlarém", Revirra Portugue.;a de HútÓl"ia, Coimbra: Faculdade
inreressando-nos part
de Lwas, V (1951), 1'.455- 473.
60 João I Trasrâmara, recém ascenso, escreve com esre fim, Cana a D. Fernando, em 1380 (TT, ChancDF, 1.11, f.
veremos outra obra de
10v). enranro, apenas as paI
61 O definitivo afastamenro do Infante Dinis da Cone portnguesa dara da época do casamento de D. Fernando
enconrra num apêndi
e Leonor Teles quando aquele recusa-se a beijar a mão da nova rainha. Nesra ocasião o rei reria sido contido pelo seu
aio e o do Infanre, de ;lssassinar seu meio·irmão (LOPES, Fernão, Crónica de D. Fernando, ed. Salvador Dias ARNAUT, As obras do Conde de
Pano: Civ,liução, 1966, cal'. 62, p. 166, Sigla, LOPES, CDF)
62 Maria José Pimenra Ferro Tavares enrende rerem ocorrido dois episódios de rentariva de regicitlio: uma
perpetrada 1'01' Diogo Lopes Pacheco e ourra por João Lourenço da Cunha., ramhém sem conseguir ex",ur um, dara
para qualquer um dos dois. No en(an[Q, conclui que a renraüva empreendida pelo Cunha esraria relacionada com o <? Álvaro Peres de C
resultado das Corres de Leiria de 1376 quando pela primeira vcz a filha de D. Fernando, Infanra Beatriz, é jurada 6' Pera Lopez de Ay'
herdeIra do rrono e casada com Fradique, Infanre cascclhano. O Cunha, membro da linhagem que fUlllramente porrugues. Posreriormenre
defendel'la nas Corres de Coimbra de 1385 a causa do Infanre Castro, teria, ,egundo Tavares, vistO nesca indicação 61, p. 161e capo 149, p. 3:
6' Boa pane dosrela.
uma Crusfração a seus desfgnios de colocar o Infame no trono (TAVARES, "Revolra (A)dos mesreirais de 1383", in:
ActoJ das IIIJomaddJ Arqueofógtrrls- 1977, Lisboa, 1978, p. 364, n. 72). Parece-me nma hipótese comprometida com de Pedro, o Cruel contra,
o devil" conhecido de AVls, mas com pouca fundamenração no comex(Q do reinado de D. Fernando. Braga alena-nos, baseado r
"' No caso de serem considerados seus irmáos leghimos, ral acusação os afastana da sucessão (ARJ'-<AUT, op.cir, referências. ausenres na (fÓ
2 a 1", apêndice 7, p. 294. i、。 ・m←、ゥサセ Lisboa: (NO
<H Recebe os lugares de Terena e Ferreira (TT, Cha.ncDF, l. 11, r. 3Gv). pensar que a Crónica do c
6; Recehe ,odos os bens de João l.ourenço da Cunha (1'T, ChancDF, I. li, r. 45v-46). uma forma completa. Alér
'ó Diogo Afonso de FIgueiredo, vedor do InI;mle João de Casrro recebe quinta de Sanro André em Zurara que
fronreira casre1hana para P
fôra do Infante Dinis (TT, ChancDF, 1. lI, f 50 e v). Diogo Afonso ajudara o seu senhor, Infame João, a marar Maria Vide ainda a este respeiro,
70 Vide FERNAND
Teles, em julho desre ano (LOPES, CDF, cal" 103, p. 281-4). Em dezemhro é beneficiado pelo rei o que reforça nossa
hipórese de patrocfnio régio do assassinam da Teles com o in tuiro de afasrar o Infanre do reino ponugnês e da suces>ão Anali do IV Encontrll Inter
ao [l'ono. " LL, 1lI1- As refun
273 ESTRATÉGIAS DE lEGITIMAÇÃO L1NHAGiSTICA EM ャagutroセ NOS StCULOS ...

:heco em Portugal permire-nos concluir que além do Infante Dinis, a Infanra Beatriz estaria igualmente envolvida.
A resposta do rei A quarta cana de 25 de maio de 1380 reforça as acusações feiras a Diogo Lopes Pacheco no
neias diplomáticas. testamento e transfere seus bens ao Conde de Arraiolos 67 • De onde podemos concluir que tal
ugal que tivessem rraição ao rei teria sido perpetrada antes de 1378 encabeçada por Diogo Lopes Pacheco, cunhado
confiscados, o que de Rui Vasques Pereira. Mas esce começa a ser confIscado em seus bens já 11. partir de março de
o, a devoJ ução dos 1375 o que nao nos autoriza a considerá-lo um cúmplice da tentariva de regicídio.Tal precocidade
ue gera, em 1380 de confiSCO só se justificaria no caso de Rui Vasques ser o cabecilha desta iniciativa, possibilidade
que, conforme vimos, nao apresenra vesrígios nas fontes relaüvas a esre episódio.
:larifica as traições O que me parece mais plausível é a partidarização de Rui Vasques Pereira ao lado de seu
. Acusa o Pacheco, cunhado na segunda guerra do reino português contra Casre/a. Ainda que a participação de
Castro de terem Trás-os-Momes nesca segunda guerra tenha sido pouco expressiva, isto não invalida uma
reino 6J . Acusação colaboração mesmo que indireta de Rui Vasques Pereira com o inimigo através de seu cunhado
)jnis. Tal menção o que jusrificaria as acusações de deserviço contidas nos documentos.
o ames de meados Buscamos ainda, referências a Rui e Álvaro, na Crônica de! Rey DOIl Pedro y dei Rey Don
;artas. A primeira, Enrique de Pero Lopez de Ayala, rescemunha coecânea do concex[Q dos Pereira analisad0 6s ,
,eatriz de Casno a iniciaciva que nao obteve qualquer resulrad0 69 .
de 01 de julho de
lha e tela ta-se que
ara para conrratar SEGUNDA PARTE:
,79, transfere bens
S prImeiras canas, Nesce ponto, iniciamos com a análise do Livro de Linhagens tb Conde D. Pedro redigido à
volra de 1340-44 sob O pacrocínio do bastardo de D. Dinis, Pedro, Conde de Barcelos7o. Estudos
sérios já comprovaram suficientememe as redações e interpolações a que esca obra esteve sujeira,
" COimbra: Faculdade
interessando-nos particularmente as partes interpoladas entre 1360-5 e 1380-3 71 Em seguida
(TT, ChaocD F, I. 11, f. veremos oucra obra do mesmo autor, a Crónica Gera! de Espanha de J344, interessando-nos, no
en tanro, apenas as panes que referem a possível inrervenção dos nossos prmagonistas, a qual se
nemo de D. Fernando
encontra num apêndice da referida Crônica redigido e interpolado em meados do século XV
: sido comido pelo seu
vador Dias ARJ.'1AUT, As obras do Conde de Barcelos servem-nos, assim, naquilo que originariameme não continham,

Iva de regicídio: uma


cguir exuair uma d,u<l,
Iria relacionada com O 61 Álvaro Peres de Casuo recebe Ferreira de Aves (TT, cィ。ョ」dャセL I. 11, f. 64v-65). .-
Fama Beauiz, é juradá '8 PelO Lopez de Ayala panicipa das ações castelhanas conrra Porrugal em Aljubarrora e permanece prisioneiro
gem que fururameme ponugues. Posteriormenre é restabelecido em CaS[e1a (LOPES, CD)l, 2' p., cap.33-4, p. 78-85; capo 50, p. 135; capo
, visro neSt3 mdicação 61, p. 161e cal'. 149, p. 325).
,eS[eirais de 1383,., in. ", Boa pane dos relaros de Ayala neSta Crônica sobre a guerra enrre Cas,da e Arag50 de 1366 e as lutas imesrinas
:se comprometida com de Pedro, o Cruel comra seus irmãos hasrardos serão coligidas na Crônica do rei D. Pedro de Fernão Lopes. Teófilo
,ando. Braga alcna-nos, baseado nos esrudos de Sanchez Moguel, que em 111uiros casos é em Fernão Lopes que enconrram-se
s50 (ARNAUT, op.ci" referências ausemes na Crónica de Ayala, sobre eventos cas,e1hanos (BRAGA, Teófilo, Hzstória da Literatura Partug'.",a.
Uruie Media, Lisboa: INCM, v. I, 1984,1'.417- 20). Ví"o que Fernão Lopes eSCreve pOS<eriormeme a Ayala só podemos
pensar que a Crônica do cas,e1hano que tem a parrir de 1380 uma forma abreviada, teria, à época de Fernão Lopes
uma forma complera. Além disso, é narural que algumas iulormações relativas ao rumo de personagens que passam a
André em Zurara que ffOnteira cas,e1hana para Porrugal enconuem maior eco nos documenros porrugueses aproveüados por Fernão Lopes
a matar Maria
IC )O:l.Ol VIde ainda a esre respeiro os comentários de Damião Peres na Crónica de D. Pedro I, p. XV e xxv.
rei o que reforça nossa '" Vide FERNANDES, F. Regina, "Díscurso (O) e o poder na obra de Pedro Afonso, Conde de Barcelos», in:
'onuguês e da sucessão A1lOi.f do IV Encontro In tmzaclOn ai de btudos m・、ゥイセGッQゥNイL ABREM, PUCMG, FAPEMIG. CNPq, 2003, p. 351-6.
" LL, 1I/1- As refundições do Livro de Linhagens, p. 41- 50.
274 FÁ TIMA REGINA FERNANDES 275

daí escusar-nos de falar do autor e condicionantes de produção desras obras, trabalharemos mais Infante Pedro de
com suas ínrerpolações e adições promovidas entre a década de '60 do século XIV e meados do impedindo a conl
século XV Embora rerome um tema amplamente trarado pela hisroriografia porwguesa72 prerendo elo de ligação do
apenas (fazer algumas coO[ribuições a esta discussão. menção direta do
As primeiras inrerpolações do Livro de Linhagens do Conde D. Pedro de 1360-5, reriam conjugando a m
sido, segundo Marroso, possivelmente promovidas pelo próprio Álvaro Gonçalves Pereira, que protagonisras desl
teria complememado informações genealógicas, apesar de omitir dados flagrantes que seriam de poderia eer atrave
seu eonhecimenro, ocorridos entre 1360-5, sem, no entanto, interferir nos rrechos narrativos73 • Exisre ainda
Contudo, areremos-nos à segunda refundição, considerando que a versão que dispomos hoje é assassinaco de Ini
a que resulra desra interpolação, ainda que revisra no século )CVl'í. Infante e sen paiS
Rui Vasques Pereira rem freqüemes referências genealógicas em vários títulos do Livro de ações apaziguado
Linhagens, caracrerístico de um nobre legítimo, cabeça de linhagem e fala de sua filiação, seu Afonso Iy83 o qUl
casamenro e a descendência daí 。、カゥョ WセN Já os dados genealógicos referentes a Álvaro Gonçalves Devemos fal
Pereira concentram-se no título vime e um e referem-se à sua filiaçã0 76 , identificando brevemente entre os refundid
sua inequívoca bastardia, seguidos da ode à sua panicipação no Salado, marca registrada da objero da apologia
segunda refundição 77 • As referências de Álvaro em Ontros títulos identificam apenas seus vários do debare.
criados, cabendo-nos destacar, dentre eles, Guiomar Lopes Pacheco e Álvaro Gonçalves Camelo 78 Bem, de far(
que imeressarão para nossa discussão e cuja menção engrandece a figura do Prior. Qualquer Palmeira, cabeça (
destas úlrimas menções pode rer sido o resultado já da primeira refnndição pois os personagens e Álvaro Gonçalve
nela cirados já esrariam vivos em 1360. do livro, ao rei R
Colige-se ainda, nesra linha, da natrativa do título XXI, a notícia de que Álvaro Gonçalves segunda refundiç
Pereira reria sido um refém na Corre de Pedro, o Cruel de Castela ainda durante o reinado de Estratégia que c
Afonso IV79. O rei castelhano o teria cumulado de benefícios e atenção e nesta ocasião reria Reconquista 84 em
tornado-se amigo de João Afonso de Albuquerqne. Sabemos que este nobre, juntamente com Pereira, nestas açó
Fernando e Álvaro Peres de Castro, irmãos de Inês, encabeçam, em 1353, uma revolta monárquica que.
nobiliárq uica contra o rei Pedro, o Cruel 80 chegando a oferecer a Coroa castelhana ao então bastando para tar
Tal reflexão
n Vide a esre respeiw SARAIVA. A J.. O auror da narra6va da baralha do Salada e a refundição do Livro do
desre livro em 136
Conde D. Pedro. in: Boleúm rie Filologi". 22 (l97l), p. 1-16; MATTOSO, J.. A nobreza medieval porruguesa no promovida na int
contexro peninsular, in: Actas dd.i IV Jornodlls LUJ'O-E"panhold.i de Hmóri" lvledicvo4 Porro, separara Da Revisra da Rui Gonçalves Pe
FLUP- série Hisrória, vol XV-li série, v.l. p. 1019-1044; Id., A lírerarura genealógica e a culrura da pobreza em
Po[[ugal (sécs.xUI-XIV), in; Id .• Portugal lvledie/lol:now-s mterprtraçõeJ. 2·ed .• Lisboa: INCM. 1992. p. 310 e Id., Os
livros de linhagens pOlTugueses e a lirerarura genealógica européia da Idade Média. in; Nobreza Medic·u,,[ Portugucill: o
fámflia e o poder. Lisboa; Esrampa, 1981, além de vários ouuos auWres.
81 Crónicds dos
7l LL, II r I. As refundições do Livro de Linhagens. p. 44, 49-50.
da História. 1952, \'.
7' MATTOSO. A licerafura genealógica e a eulwra da nobreza em Porrugal ( sécs. XIII-XIV). in; Id • Portugal
62 LLGI5. [-rei
Medieval: nOVaS inlCrpretaçõeJ, p. 3l5.
ao Arcebispo de Brag
';LL, 17D6; 21 HI4-15,23A4e 55M7.
8.3 Tréguas enm
"LL 2l G 14-15.
8' A esre propó:
,., Além das informações genealógIcas que jusrillcam reconbecer-se a segunda refundição de 1380-3 apresemadas
セNャ ゥ・■ ュ pnHnJu.farCJ t
por Marwso (LL, As refundições do Livro de Linbagens, p. 42-3) acrescemamos ourca. localizada no ,írulo 2l que
refere a mOf[e de Pedro I, o Cruel de Casrela ocorrida em 1369 (LL, 21 A (5), sendo que o auwr original, Pedro, o
tidO quer dizer que o I
Luís. A concepção n
Conde de Barcelos morre cerca de 1354 /7.
1994 , p. 137-8).
"Aos quais ameriormeme já uos refefllnos em nora supra (LL, 34 W 4; 45 P 5; 57 T 5 e 66 P 6).
il Nas palavras
'1 LL 21G 15.
linhagens e que COWii
"LOPEZ DE AYAlA, Pero. CrónÚ'a deI rey Don Pedro y ddRey DOtl Ennque. Buenos Aires; SECRIT r INCIPITI
ponugueses e a lirem
CONICET, 1994, V (354); 18; 2-12.
275 ESTRATÉGIAS DE LEGITIMAÇÃO LINHAGíSTICA EM PORTUGAL NOS SÉCULOS"

obras, trabalharemos mais Infante Pedro de Portugal em troca de auxilio à sua causa St . A intervenção do rei Afonso IV
o século XIV e meados do impedindo a conclusão deste acordo geraria, em boa pane a morte de Inês de Castro, potencial
,rafia portuguesa72 pretendo elo de ligação do rrono português com os interesses dos Castro em Castela. Não encontramos
menção direta do Prior a este episódio de rentativa de cooptação do Infante Pedro, no entamo,
. Pedro de 1360-5, reriam conjugando a trajetória do Prior em 1353, com sua posição junto ao rei e aos principais
uo Gonçalves Pereira, que proragonisras deste conluio e a menção do Livro de Linhagens, podemos intuir que o Prior não
os flagrantes que seriam de poderia rer atravessado ileso esra conjuntura.
ir nos rrechos narrarivos73 . Existe ainda a menção à iniciativa do Prior na contenção da fúria do Infante Pedro após o
crsão que dispomos hoje é assassinaro de Inês de Casrro, especialmenre às porras do Porro e do apaziguamenro entre o
Infame e seu pai82 , concluído em agosro de 1355. Nesra mesma linha relaram-se semelhanres
vários tírulos do Livro de ações apaziguadoras de seu pai, Gonçalo Pereira, Arcebispo de Braga nos reinados de Dinis e
t e fala de sua filiação, seu Afonso IV 83 o que dá profundidade ao perfil do Prior, seguidor dos passos de seu pai,
erenres a Álvaro Gonçalves Devemos falar da razão que jusriflcaria estas refundições, seus possíveis agentes e o nexo
,identificando brevemente entre os refundidores e o autor da obra e entre os refundidores e Álvaro Gonçalves Pereira,
lado, marca registrada da objeta da apologia. Longe de fechar a quesrão, penso apenas poder conrribuir para a conrinuidade
ttincam apenas seus vários do debate.
Jvam Gonçalves Camelo 78 Bem, de faro, o título vime e um que contém os descendenres de Gonçalo Rodrigues de
figura do Prior, Qualquer Palmeira, cabeça da linhagem de onde sairiam os dois protagonistas deste trabalho, Rui Vasques
tdição pois os personagens e Alvaro Gonçalves, vincula os Pereira, denno das estratégias de exposição da esrrutura genealógica
do livro, ao rei Ramiro, herói asturiano da Reconquisra criscã e é nele que se interpolou, na
ade que Álvaro Gonçalves segunda refundição, o extenso rrecho narrativo da participação do Prior na lide do Salada.
inda durante o reinado de Estrarégia que coloca o Prior, monge guerreiro, numa posição paralela à dos heróis da
nção e nesta ocasião reria Reconquista s< em oposição ao silêncio sobre uma possível parricipação de seu primo, Rui Vasques
セ nobre, juntamenre com Pereira, nestas ações. Uma es[ratégia de superioridade ideológica nobiliárquica frente à insrituição
, em 1353. uma revolra monárquica que serve bem aos intuiros de engrandecimento de uma figura ou de um grupo,
:oroa casrelhana ao emão basrando para ranto incluir a sua biografia nesra esuurura 85 ,
Tal reflexão leva-nos a retomar outra bipótese de Mattoso, a do nexo enrre o refundidor
bdo e a «fundição do Livro do desre livro em 1360-5, Álvaro Gonçalves Pereira e seu auror, o Conde de Barcelos. Desra discussão,
.obreza medieval porruguesa no promovida na inrrodução da última edição do Livro de Linhagens, Marroso desraca o nome de
( Pano, separara Da Rev iHa da
Rui Gonçalves Pereira, [io do Prior, alguém que o conhecia bem, o que refleriria-se na riqueza
gica e a culrllra da nobreza em /
: INCM, 1992, p, 310 e Id,. Os
: No6reZll M,dutlal POJ'tugU(jd: a

81 Crónicl/s dos Sete P1'il/ltiros ReIS セ、 Portugal, ed. de Carlos da Silva TAROUCA. Lisboa: Academia Ponuguesa
écs, XIll·XlV), ,n: Id" Portugal da História, 1952, v, 3,
82 LL G 15, Frei Rafael deJesus, na Monarquia Lusi[ana • confunde, nes<e eventO, O Prior com seu pai, atribuindo

ao Arcebispo de Braga a defesa do Pono (JESUS, ML. p, VII. I. X. cap, 20, n, 1 a 3, p, 562-3),
'3 Tcéguas entre O Infanre Afonso e seu pai, Dinis e entre Afonso IV e Afonso XI de Cmela (LL G 14)

'mdição de 1380-3 apreseu[adas " A es<e propósilO. Luis ICrus analisa bem es<a função: Sem dútlida que esta concepção de um protlldenciaü..-mo dAS
U3, localizada no [í[uio 21 que
mllícttls pen/mula", erl1. ,'m grande parte, da mporlJabilzdade da J'efimdição d, 1380-1383 do Lwro de LmhLrgms O que
o que o anlOr original, Pedro, O não quer drzer que Oto:lo da venão original dafimte niio contiue.rse em si e/emelltos que permitIam ta! teonzaçiío (KRUS.
Luís, A concepção nobiliárquica do espaço ibérico(l280-1380), Lisboa: Fundação Ca!ous[e Gulbenkian / ]NICT,
5;57T5e66P6) 1994, p, l37-8),
'5 Nas palavras de MATTOSO, nma estratégia de afirmação freme à monarquia que "Je exprIme no" livm; de

enos Aires. SECRIT / INClPIT/ linhagens e que consiste em pôr a getlertlogia aO serviro da solidariedade de c!dfu'''tMATroSO. Os livros de linhagens
portugueses e a licerarura genealógica européia l1a Idade Média, in: A nobreza rmdteval portuguesa, p. 54)
276 FÁTIMA REGINA FERNANDES 277

de detalhes do telaro da baralha do Salado ditada pelo próptio Álvaro. eセエ・ mesmo Rui, de
quem descenderiam os senhores da Feira, seria, em 1350, vassalo e restamenteiro do Conde de
Barcelos. Porranto, podemos pensar que a segunda refundição do Livro de Linhagens interessaria Nesre pomo paI
aos descendentes de Rui Gonçalves Pereira. referências de Rui V,
Quanto à auroria desta segunda refundição, a meu ver, o desraque óhvio à figura do Prior qual já se dera o desa
deve-se a uma estrarégia de exalração de um membro da linhagem dos Pereira com o objetivo de Nesre POntO ava
chamar a arenção não apenas sobre o próprio mas acima de tudo sobre a linhagem, ou melhor, de Espanha de 1344
sobre os representantes desra linhagem no comexro da segunda refundição, segundo Marroso, relação a este úlrimo セ
ocorrida anteriormente aos eventos de 1383, logo, esres seriam, na minha opinião, os filhos, da no contexro sócio-p
primeira geração, do Prior, Pedro Alvares Pereira, sucessor de seu pai no priorado e seus irmãos posreridade aos episá,
Rodrigo e Diogo Alvares Pereira. Assim, se considerarmos a data limite da segunda refundição como já referimos ac:
como a de 1383 poderíamos considerar esres nomes como o dos possíveis agentes promotores referências ao Prior e
desra iniciariva e não os senhores da Feira. Esra parte fragmenta
Por ourro lado, se considerarmos a possibilidade desra segunda refundição rer sido feira Manuel com o Infan
pouco depois de 1383 consideramos OUtros os possíveis responsáveis por esra iniciariva e isso Cintra, por Fernão L
porque os filhos mais velhos do Prior, acima identificados, Pedro e Diogo Alvares Pereira morrem do Salado, dando セ、
nos campos de Aljubanota lurando do lado casrelhano e Rodrigo Alvares, rambém após 1384, Diogo Lopes Pad,ea
seguiria para Castela TrasrâmaraS6 . Nesre contexro, após 1383, reriam, obrigatOriamente de ser Observamos, de
ourros os autores da refundição. Lopes onde constara
Em relação à realização desta refundição, gostatia de referir ainda Outro nome, o de Álvaro derrimenro de seu fll
Gonçalves Camelo, criado do Prior, nero de Rui Gonçalves Pereira s7 e sobrinho dos senhores da crescente aos heróis (
Feira, Álvaro, Gonçalo e Rui Pereita, filhos de Rui Gonçalves PereiraS8. Como já referimos, esre àquela utilizada na se
Álvaro Gonçalves Camelo sucederá Pedro Alvares Pereira, após 1384, no Priorado da Ordem do senhores da Feira.
Hospiral e pode ter sido o agente da segunda refundição a pedido de seus tios, senhores da Feira. Em outra fonte
Ora, a exaltação do Prior refleria-se na exaltação dos senhores da Feira. eセエ・ウL pertencentes Sete Primeiros reis d<:
a um ramo ilegírimo de sua linhagem, carentes, porramo, de legitimidade, como de resto, a respeito a Álvaro GOl
própria dinasria que ajudam a insrituir, com grande denodo e dedicação, encontrariam na sua filiação e trazem
estrarégia de exalração do Prior o elo que os vincularia aos heróis da Reconquisra crisrã. Seria
uma forma indirera, mas eficiente, de participar de uma esrrutura genealógica edificante ainda
que não tivessem direiro de nela esrarem, devido à sua ilegitimidade. Heróis de pós 1383 que " O apêndice llI, '
utilizariam a biografia do Prior, seu colateral, como referência de sua profundidade linhagísrica Pedro idemiflcado na an'
Filipe Linclley CINTRA.
e transcendência pré-Aviso Emendo, assim, os relaros da Baralha do Salado como uma esuarégia
1454 a dar. da rransferên
de afirmação dos senhores da Feira, mais provável num contexto próximo, mas posrerior a 1383 Gonçalo Eanes de Zum
e com o imuito de uma indireta auro-promoção. Nesra hipórese, o nome de Álvaro Gonçalves localiza 1460 como uma
ser auibuído a Fernão Lo
Camelo, Prior do Crato após 1384 me parece um nome plausível de redação desta segunda
sido redigido neS[a época
refundição, herdeiro da estruturado Hospital em Portugal disporia de condições para empreender morre dara de 1449 em P
ral iniciariva a serviço de seus rios, os senhores da Feira. 90 Apêndice m, cal

91 Teófilo Braga, ar

ainda que posleríormentê


Oliveira Marques não rcc
BG FERJ'lANDES, F. Regina, Sociedadt (poda na baixa Idflde Médtll portut''''sa, p. 143-5. 56-9) Parece-me que lI[
87 ÁJvaro Gonçalves Camelo é filho de Aldonça Rodrigues, filha de Rui Gonçalves Pereira e Elvira Garc13 ゥョ」ッ 、オセ■カ。L eSCU$ilmO·n

Pinçoa, casada com Gonçalo Nnnez Camelo ( LL 26 L 6 e 21 J 14). Crón,ra MS StU


92

セN LL, 21 } 14, 45 P 5 e 67 D 3. sua presença na hora da I


277 ESTRATÉGIAS DE LEGITIMAÇÃO L1NHAGíSTICA EM PORTUGAL NOS SECULOS ...

t mesmo Rui, de TERCEIRA PARTE:


tiro do Conde de
agens Inreressaria Nesre ponto partimos para uma terceira parte deste trabalho onde analisaremos os ecos das
referências de Rui Vasques e Álvaro Gonçalves Pereira nas fontes posteriores a 1380, época na
à figura do Prio r qual já se dera o desaparecimento desres dois proragonisras da cena sócio-polírica portuguesa.
;om o objerivo de Neste pOntO avançamos para outra fome da auroria do Conde de Barcelos, a Crórúca Geral
1gem, ou melhor, de Espanha de 1344 em busca de referências a Álvaro Gonçalves e Rui Vasques Pereira. Em
:gundo Marroso, relação a este último silêncio absoluro, pois à época de redação da obra Rui ainda não despomara
1ião, os filhos, da no contexro sócio-político português mas em relação a Álvaro corresponderia à imediara
Ido e seus irmãos posteridade aos episódios do Salado, esperávamos encontrar aí ecos reais destas ações, no entanto,
;unda refundição como já refetimos acima, mais uma vez nossas iniciativas foram frustradas pois só encontramos
:nres promorores referências ao Prior e à Batalha do Salado num apêndice posterior à redação otiginal da obra.
Esra pane fragmemada que cobre desde o boicore de Afonso XI ao casamenro de Consrança
ção ter sido feira Manuel com o Infante Pedro alé Alfarrobeira, reria sido redigido, segundo o iminente Lindley
. ... .
1 InIClatlva e ISSO Cintra, por Fernão Lopes, à volra de 1460 89 e não refere a patricipação do Prior nesre episódio
:s Pereira morrem do Salado, dando destaque ao rei Afonso IV e seu fiel vassalo Lopo Fernandes Pacheco, pai de
1bém após 1384, Diogo Lopes Pacbec0 90 Outro contexro de produção, ourros epígonos a desracar.
oriarnente de ser Observamos, de faro, neste pomo, o início do rraramemo das fontes de autoria de Fernão
Lopes onde consraramos uma crescente omissão da figura de Álvaro Gonçalves Pereira em
ame, o de Álvaro detrimemo de seu filho Nuno Alvares Pereira e de seus primos, os senhores da Feira. Destaque
)dos senhores da crescente aos heróis de Avis que o cronisra avisino quer legirimar e erernizar. Estratégia similar
já referimos, este àquela urilizada na segunda refundição do Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, pelos mesmos
Ido da Ordem do senhores da Feira.
enhores da Feira. Em ourra fonte atribuída a Fernão Lopes 91 , ainda que oficialmenre anônima, a Crónica dos
:es, perrencentes Sete Primeiros reis de Portugal, não encontramos mençóes a Rui Vasques e aquelas que dizem
;omo de resw, a respeito a Álvaro Gonçalves Pereira são basranre econômicas. No reinado de Afonso IV falam de
encontrariam na sua filiação e trazem um relaco mínimo sobre a sua participação no Salado91
lista crisrã. Seria
edificante ainda
de pós 1383 que S? O apêndice UI, Continuaçáo da Histôna do]" reis de Portugal ceria sido um códice perrencenre ao regente D.
dade linhagística Pedro idemificado na análise de Cinrra como manuscrico P ( Crônica Gmd d. Espanha de 1344,"ed. crítica de Luís
lU uma estratégia Filipe lindley ClNTRA, Lisboa: INCM, 1990, v. IV, p. 497 e 551). Cabe-nos ressalcar qne a hiscofJografia arribni a
1454 a daca da uansferência do ofício de Guardador da Torre do Tombo e de 1450-2 do ofício de cronista do reino a
posterior a 1383 GonÇ<llo Eanes de Zurara (MARQUES, LOPES, Fernão, in: DHP, V. 4, p. 57). Emendemos qne L.ndley Cinrra
íJvaro Gonçalves localiza 1460 como uma franja cronológica de possível amoria do cexco sem pretensão de localização exala podendo
lQ desra segunda ser au}huído a Fernão Lopes nos fins de sua carreira ou a seu sucessor e conrjnnadoI. Aré porque se o mann$crÍro [iver
sido redigido neSta época, 1460, não poderia rer penencido ao Regente Pedro, cuja regência inicia-se em 1439 e CUja
para empreender morre dara de 1449 em AJfanobeira.
90 Apêndice Ill, capo I, p. 537-8 e ainda manuscriw L, capo 727, p 261-2.

"Teófilo Braga, amparado em Damião de GÓIS, reconhece a autOria original desce conjunw a Fernão Lopes
dinda que posceóormente tenha sido copiado e adulterado por cronistas posteflores (BRAGA, op.cit., p. 415-20). Já
Oliveira Marqnes não reconhece o esciio de Fernão Lopes neSta obra (MARQUES, LOPES, Fernão, in: DHP, V. 4, p.
56-9). Parece-me que uma ceoria não invalida a outra. Visco que é uma discussão que cem se mosuado até aqUI
"eira c Elvira GarcIa incondusiva, eSCtlsalno-nos de fomentá-Ia.
?1 Crómca dOJ Sete PrimeirOS Rm d. Portugaf, V. 11. capo 61, 17, p. 335; capo 62, 62-65, p. 340; dlém do relato à
sua presença na hora da morte de Afonso IV (v. lI, eap. 61,12, p. 371).
278 FÁTIMA REGINA FERNANDES 279

Até aqui navegamos num reneno movediço de obras com auroria apenas atribuída a Fernão de responsável pejos
Lopes, à parrir daqui cennamo-nos naquelas que são de sua auroria reconhecida. Agora sim 1371, Olivença, Call
poderemos discurir com mais segurança os concextos de produção desta obra e o processo de A IUra ao lado d
omissão e desraque de algumas fIguras que vínhamos acompanhando aré este pomo. na região, reforça a pr
Fernão Lopes é de faro, um cronista que gerou muiro correr de pena em parte por sua com comprovada co
genialidade. Seguro na documemação e pouco consensual na sua análise dos conrextos relarados. ourro episódio desra
De qualquer forma, não podemos esquecermo-nos de sua função ofIciai, cronista régio e das morre de Maria Tele,
suas obrigações com seus sucessivos parrocinadores, João I (1385-1433), Duarre (1433-9), por iniciariva dima I
Regenre D. Pedro (1439-1449) e Afonso V (1438-1481), arravessando o conrurbado comexro inicialmeme perdoar
de AJfàrrobeira. Fernando, em favor
A Crônica de D. Pedro I, cuja redação não dispõe de urna dam arribuída, mas podemos vimos amenormeme,
concluir que renha sido redigida entre 1434, dara em que Fernão Lopes é invesrido na função de que roda a trama vis
cronisra do reino e 1437, quando já esraria trabalhando na Crônica de D, Femandr?3, Escrira, numa data próxima,
porranro, durame o reinado de D. Duarte. seu meio-irmão e su;
A Crônica de D. Pedro não traz nenhuma referência a Rui Vasques Pereira e poucas a Álvaro agudizado a ponro di
Gonçalves Pereira. Desre último diz apenas rer sido enviado pelo rei, como embaixador porruguês, Refere-se ainda,
ao enconrro de representantes de Henrique Trastâmara, em Caia, à volra de 1366, onde reriam Avis quando da red,
rratado acordos de apoio múruo% forrem ente reforçada
Observamos que no relaro da Declaração de Canranhede, que aconrece em junho de 1360, A primeira pam
menciona-se nesra Crônica, a presença de Álvaro e Gonçalo Pereira, primos do Prior e fuwros a regência do Infame
senhores da Feira mas não a do Prior do Hospiral 95 . Ora, é bastanre provável que o Prior renha o regenre e o rei Af(
esrado presenre a esta sessão dado seu grau de proximidade ao rei Pedro 96 , mas a óprica do semído no reforço do
cronista rinha ourros epígonos no momemo de sua redação. da dinasria de Avis.
A Crônica de D. Fernando teria sido escrira na sequência da anterior, entte 1437 e 144Y7, pelas forças Concelh
quando Fernão Lopes já estaria rrabalhando na Crônica de joão 1. A redação desra narraríva No entanto, oue
envolveria o fIm do reinado de D, Duarre, a disputa pela regência e a ascensão do Infanre Pedro cujos relatos nesra Cr
no comrole do reino, condições que rransformam o Infame Pedro no novo patrocinador da ao Prior, apenas na n'
obra. Nela, mais uma vez constatamos um eclipse toral de Rui Vasques Pereira, nenhuma vez em quatro capítulos セ
referido, pelo cronisra. Quanw ao Prior Alvaro Gonçal ves Pereira merece ainda menções inédiras, de onde vem o Cond
para nós, em relação às fonres ameriormeme analisadas. Refere a sua parricipação na primeira madre '104. Mosrra-se
guerra conrra Casrela (1369-71) duranre a qual reria acompanhado o Infame João de Catrro na junro à Cone de D.
função de fronreiro-mor de Emre-Tejo-e-Odiana 98 , fronteira sensível pois defendia as rerras do Leonor AJvim, viúva
Craw das razias casrelhanas. Esra postura defensiva de seus inreresses reforça-se na sua condição vez, ainda que indire
insriruidor de seus fll

91 Vide Damião Peres na Inuodução da CrónlCa de D. Pedro (LOPES, Fernão, Crónieo de D, Pedro I, ed.

Damião PERES, Pano: Civilização 1965 (sigla LOPES, COPO e ainda MARQUES, LOPES, Fernão, in: DHP, v. 4, セY LOPES, CDF, c.
p. 56-9 e ARNAUT, op.cir., 2 a 1" p. 119, LOPES, CDF, '
1(1{)

9' LOPES, COPI, cal'. 4 I, p. 133. port<.<gumt, p. 23-30


9; LOPES, COPI, cal" 27, p. 126. 101 LOPES, CDF, ç

?G O ,ex(Q da Crón;ca, após cira, alguns nomes apoma para a presença de mui,as oU(ras pesso"s não citadas 102 LOPES, CDI:, c

(LOPES, CDP!, capo 27, p. 126). 1o, LOPES, CDF, ç


"Vide Arnau" in: LOPES, CDE p. IX. 10' LOPES, CDJI,

"Nesra Função aiuda o Infante" ",acal' Badajoz (LOPES, CDE cal" 33, p. 102). 10; LOPES, CDJI,
279 ESTRATEGIAS DE LEGITIMAÇÃO LINHAGISTICA EM PORTUGAL NOS SÉCULOS.

)enas atribuída a Fernão de responsável pelos castelos portugueses colocados como reféns do uatado de Alcoutim de
:econhecida. Agora sim 1371, Olivença, Campo Maiot, Noudal e Marvã0 99 .
ta obta e o processo de A lura ao lado do Infante, além de manifestar urna coincidência de inceresses patrimoniais
té este pomo. na região, refotça a proximidade e mesmo proteção dispensada pelo Prior àquele, desde a inHncia,
pena em pane pOt sua com comprovada continuidade na idade adulra. Urna relação estreita e continuada que em
dos contexros relatados. ourro episódio desta mesma Crànica mais uma vez se confirmaria. Trata-se do planejamenro e
jal, cronisra régio e das morte de Maria Teles, irmã da rainha Leonor Teles, ocottido em meados de 1379 em Coimbra
33), Duarte (1433-9), por iniciativa direta de seu marido, Infante João e inditeta da irmã da vítima 1oo • O Infame seria
o comurbado COlHexto inicialmente perdoado, segundo os relacos, por intercessão do Prior que teria pedido ao rei D.
Fernando, em favor daquele lol . Álvaro Gonçalves tinha sido insrituidor dos dois, conforme
rribuída, mas podemos vimos anteriormente, pelo que justificaria-se a veracidade de tal intervenção. Apesar disro sabemos
セ invesrido na função de que roda a trama visava a saída do Infanre do reino, a qual acontece em outubro de 138ü 11l2 ,
D. Femandi". Escrita, numa data próxima, porranto, à morte do Prior. O Infante reria-se sentido isolado, traído por
seu meio-irmão e sua cunhada e talvez, após a mone de seu protetor esre sentimento tenha se
'ereira e poucas a Álvaro agudizado a pomo de levá-lo ao exílio para junto de sua irmã em Castela.
Iembaixador português, Refere-se ainda, nesta Crânica,o faro de Nuno Alvares Pereira, o já reconhecido herói de
a de 1366, onde teriam Avis quando da redação da Crónica, ser filho de Álvaro Gonçalves Pereira'o,. Uma relação
fortemente reforçada na Crónica seguinte de D. João 1.
rece em junho de 1360, A primeira pane da Crônica de D. João liniciada à volra de 1443 teria sido redigida durante
imos do Priot e futuros a regência do Infante Pedro ainda que já deva reI' sofrido influência dos estremecimenros entre
vável que o Prior renha o regente e o rei Afonso V. Contexro conturbado onde o esrfmulo do regente deve rer sido
dro%, mas a óptica do senrido no reforço do cronista à participação municipal nos evenros embrionários da implantação
da dinastia de Avis. Afinal, como sabemos o próprio Regente era, em seu conrexto, apoiado
Ir, emre 1437 e 1443 97 , pelas forças Concelhias de boa parte do reino.
:edação desra nanariva No entanto, OUtrO foco do proragonismo, além do próprio Mesrre, é a figura do Condestável,
ensão do lnfànte Pedro cujos relaros nesta Crônica consrruirão a profundidade genealógica legirimadora, daí as menções
novo parrocinador da ao Prior, apenas na medida em que é pai de Nuuo Alvares Pereira. Estas menções esrão conridas
5 Pereira, nenhuma vez em quatro capítulos seqüenciais da Crônica que se inicia com a identificação da saga da família
ainda menções inédiras, de onde vem o Condesrável: "De que linhagem deçemdeo ôte Nunallvarez, e quem foi Jeu padre e
micipação na primeira madre'w,. Mostra-se o encaminhamento de Nuno Alvares por iniciariva de seu pai, o Prior,
セョエ・ João de Casuo na junto à Corre de D. Fernando e Leonor Teles, de quem será escudeiro e de seu casamento com
)is defendia as terras do Leonor Alvim, viúva, mas casta e poderosa senhora do Entre-Douro-e-1vIínho I0 5. Mais urna
Jrça-se na sua condição vez, ainda que indireramenre, mostra-se a dimensão do Prior enquanro empenhado e eficiente
insriruidor de seus filhos junro à dinastia de Borgonha.

. Crómcfl de D. Pedro I, ed.


)PES, Feroio, in: DHP, v. 4, '" LOPES. CDF, capo 53, p. 142.
100 LOPES, CDF, caps. 101 a 103, p. 275- 284 e FERNANDES, Sociedade c poder na baixa [dade Médur.
portuguesa, p. 23-30.
101 LOPES, CDF, capo 104. p. 285.
15 Ou traS pessoas não ci radas IU2 LOPES, CDF, capo 106. p. 291-2 e ARNAUT. op.ci,-, 2' p. p. 149-50.

lo; LOPES. cdiセ capo 120, p. 337.


I" LOPES, CDJI, Ja p.• caps. 32 a 35. p. 65-71.
IOj LOPES, CDJI, l' r .. capo 32, p. 68 e capo 34, p. 68-70.
280 FÁTIMA REGINA FERNANDES 281

Á época de redação desra Crônica era óbvia a dispensa de apresenrações à figura de Nuno mente na Crónica dI
Alvares Pereira mas é nesres relaros que sua legitimidade é definirivamente consagrada arravés da maior e conhecend(
narrariva de sua trajetória, na qual seu pai rem papel fundamental, além dos relaros de suas nosso crOl1lsta pOSSl'
façanhas pessoais devidamente reforçadas e desracadas. O Prior dá profundidade de boa cepa a João I, independem
esta trajerória, afinal fôra clérigo famoso por suas imporrantes ações para o bem do reino, além próxima, mas COnsl(
de não rer descurado da formação e do encaminhamento de sua prole, inclusive de Nuno escrira antes de 144.
Alvares. Nesra mesma Crônica as menções dos OUtrOS ftlhos do Prior, da primeira geração, sua morre, ponam(
desracam suas ações conrrárias à ascensão de Avis e sua condição de "nados NVPセGッイゥ・ァオ「ュ。コ、 O produção, um lapso
desraque ao principal apoiante do Mesrre de Avis é uma estrarégia de reforço do regisrro do vida, do Condesrável
próprio fundador da dinasria. Estratégias que confltmam a persisrência de condições adversas da elegia panicular ,
nesres meados do século "XV, conrexro de redação das Crônicas, que ainda ameaçariam a Considerando-
legitimidade e segurança de Avis. Em março de 1386 o Infame João de Castro é reconhecido CondeJtdvel para Nu
pela monarquia Trasrâmara, em Casrela, Regente do reino português l07 , ameaça que não para os senhores da
desaparece de rodo mesmo após 1396-7 quando ele vem a falecer pois os projeros sucessórios enalrecimenro do P
porrugueses em Casrela rransferir-se-ão para o Infante Dinis após a morte de seu irmão l08 quem lI1reressana er
Assim, sem contrariar nossas conclusões sobre a função legirimadora do conjuntO da renha sido ele própri,
Crônica l09 , julgamos pertinente reflerirmos um pouco sobre os quarro capírulos que consriruem Poderíamos pensar r
uma iniciariva concentrada de reforço da figura do Condesrável. das narrativas do Sal;
E inevitável a associação entre esres capítulos da primeira parte da Crônica de D. João I, e reforçando a fldelid:
as imerpolações do Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, promovidas pelos senhores da Feira. esra hipórese. Em I
Associação que não aproximaria esres dois texros pelo mesmo mecanismo de interpolação; nem hostilidade em relaç
como um movimento coordenado pois não seriam conremporâneos, a interpolação da segunda Porto tentariam soe
refundição do livro de linhagens e a redação desres capítulos da Crónica. O que os aproxima, na 1386 morre seu irrn:
minha opinião, é a narureza do móbil de sua realização, ou seja, o desejo de exalrar um grupo, por Álvaro Gonçalv,
desracá-Io num contexto de incerrezas e mudanças de estrurura sócio-polírica. Nesra linha, o senhores da Feira esr
que motivaria o desraque ao Condesrável num contextO próximo a A1farrobeira' do Condestdve! Podi
Estas reflexões levam-nos a outra fonte atribuída a Fernão Lopes, senão, pelo menos Álvaro Pereira 1l4 e I
conremporânea da Crônica de D. João I, a Crónica do Condestdvel de Portugal, obra cujo conjunto Conde.rtdvefo visto ql
consritui uma elegia a Nuno Alvares Pereira. Jaime COrtesão, na edição de 1935, afirma de Álvaro Gonçalves
categoricameme na introdução da obra que o aUtor "não é de certeza Fernão Lope.r" I 10, jusrificando Pereira, pOtencial eL
sua afnmação no faro de que o povo não aparece nesra narrativa. No enranro, se compa'farmos -se o lapso de 1431 ,
o primeiro capículo da" Crônica do Conde.rtdvel e os capítulos XXXII a XXXV da Crônica de D.
João I, constaramos a coincidência da seqüência dos faros narrados, do conreúdo e da forma da
narrativa. Não podemos comprovar uma possível interpolação posrerior realizada premeditada- 111 CARVALHO,
I" LOPES, CO)!,
Marechal do reino, apó;
FERNANDES, Somdm
106 Pedro Alvares Pereira e Diogo Alvares Pereira (LOPES, CDJI, ]a p.. capo 160, p. 344). H3 LOPES, CO]].
\07 ARNAUT, op.cir, 2"p., p. 192. 1\4 Dias depois da

'08 LOPES, CDJI, 2" p., capo 170, p. 372-3. terras de Sama Mana da
Goセ Alé porque enconrrarnos na Crônica, inúmeras ourras passagens que reforçam eSlas conclusões comO O capo foi a origem da Casa da
193, que rala do carárer e personalidade do Condesrável, exalrando sua pureza e fidelidade, il propósiro dele rer sido varão dos senhores da F,
o prinCIpal fiel de D. João J (LOPES, CD]I, 1" p. capo 193, p. 424-427). cODrinuidade. No eman
110 Crônica do Cúrul..tItál!t:/ de セ。ァャQエイッp 8" ed, adapração de Jaime CORTESÃO, Lisboa: Livrar;a Sá da Cosra, Teles, Conde de Barcelo;
1993, p. 8. a 27 de janeiro de 1383
281 ESTRAT E GI AS DE LEGITIMAÇÃO LI NHAG í STI CA EM PORTUGAL NOS SteU LOS

; à figura de Nuno r,
mente na Crônica de D. João 1, mas considerando-se que a Crônica do Co destáIJel é um conjunto
Isagrada através da maior e conhecendo o estilo de construção dos relatos de Fernão Lopes podemos aceirar que o
los relaros de suas nosso cronista possivelmente reria copiado parres da Crônica do CondestálJel para a Crônica de D.
lade de boa cepa a João 1, independentemente de ser o autor das duas ou não. Podem rer sido escriras em época
em do reino, além próxima, mas considerando-se ser a do Condestável a fome da Crônica de D. João [deve rer sido
nc!usive de Nuno escrira ames de 1443, mas posreriormente a rodos os fatos da vida de Nuno Alvares, pois relara
primeira geração, sua morre, portanto, depois de 1431, logo, as duas fontes podem rer emre si, em termos de
iコ。ュ「ャ ァ・ゥイッGセPV O produção, um lapso temporal relativameme pequeno. Além disso é norória a proximidade em
-ço do regisrro do vida, do Condestável e do regente Pedro, o que jusrificaria a inrerpolação de uma parte imporrame
:ondiçães adversas da elegia particular do Condesrável, na consrrução da elegia da dinastia de Avis .
.ia ameaçariam a Considerando-se a nossa linha de raciocínio poderíamos dizer então, que a Crônica do
;tro é reconhecido CondestdlJel para Nuno Alvares é um equivalente das narrarivas do Salado no Livro de Linhagens
ameaça que não para os senhores da Feira. Já discurimos acima as hipóteses que justificariam a iniciariva de
:oje[Qs sucessórios enalrecimenro do Prior e de seus indireros descendentes. Agora resra-nos buscar entender a
: seu innão ,o8 quem interessaria encomendar a elaboração da elegia de Nuno Alvares. É pouco provável que
l do conjunto da renha sido ele próprio, pois esraria, desde 1423 recluso volunrário em um Convento Carmelira 1I.' •
os que consriruem Poderíamos pensar nos senhores da Feira, numa iniciariva de complementação do regisrro inicial
das narrativas do Salado na fIgura do mais ilustre filho do Prior, Nuno Alvares, sobrinho daqueles,
'I/ca de D. João 1, e reforçando a fidelidade e grandiosidade de sua linhagem. Algumas dúvidas nos levam a rechaçar
senhores da Feira. esta hipórese. Em primeiro lugar, Nuno Alvares Pereira manifesraria, ainda em vida, uma
imerpolação; nem hostilidade em relação a seu rio Rui Pereira, que o reria impedido de embarcar nas naus que do
oração da segunda Pono teOlariam socorrer Lisboa em 1384, peleja na qual o próprio Rui viria a falecer ll2 . Em
le os aproxima, na 1386 morre seu irmão, Álvaro Perei ra, marechal do reino, rendo sido subsriruído nesras funções
exaltar um grupo, por Álvaro Gonçalves Camelo' 13, o já ameriormeme referido Mesrre da Ordem do Hospira1. Os
ea. Nesra linha, o senhores da Feira estariam, assim, descartados da possibilidade física de encomendarem a Crônica
:ira' do Condestálle!. Poderíamos avenrar a possibilidade de João Alvares Pereira, único ftlho varão de
:não, pelo menos Álvaro Pereira I J4 e primeiro senhor da Feira, ser um dos parrocinadores desra Crônica do
lbra cujo conjunro CondestdlJel, visto que reve urna conrinuidade desracada na Corre de Avis. Outro nome seria o
de 1935, afirma de Álvaro Gonçalves Camelo, sobrinho dos senhores da Feira, sobrinho do Prior Álvaro Gonçalves
'es"IIO, jusrificando Pereira, porencial elaborado!" da interpolação do Livro de Linhagens. No emanto, considerando-
l, se compararmos -se o lapso de 1431 a 1443 como data crírica de eJaboração da Crônica tW CondéStálJelconc!uímos
1 da Crónica de D.
údo e da forma da
zada premedirada- 1]) CARVALHO, A Manins de, "Pereira, Nuno Alvare"" in: DHP, v. 5, p. 57 .
'1/ LOPES, CDJI, P p., capo 120, p. 233-4; cap.J22, p. 237-9 ecap. 125, p. 244-6. Quamo a Álvaro Pereira,
Marechal do reino, após a morte de seu irmão manifes<a uma aproximação a seu sobrinho, Condesrável. Vide ainda
FERNANDES, Socudade e Poda lia 。セゥ「 Idad, Média Portuguesa, p. 149·53.
i). '" LOPES, CDJI, 2' p., capo 77, p. 192
'" Dias depois das Cortes de Coimbra de 1385, a 8 de abIiI, Álvaro Pereira é nomeado Marechal e recebe as
,erras de Sanla Maria da feira, Cabanões de Ovar, Cambra e Refojos (TI, ChancDJI, I. I, f 128). Segundo freire, esta
unclusões como o capo foi a origem da Casa da Feira e Álvaro Pereira seu primeIro senhor (FREIRE, op.cit, v.l, p. 310). Único descendenre
propÓmo dele ler sido varão dos senhores da Feira pOIS João Alvares sÓ lem duas irmãs e seu rio Rui Pereira sÓ rem duas filhas que lhe dão
conrinuidade. No emanro, enconuamos na Chancelaria de D. fernando , um senhor da Feira anterior, João Afonso
: Livraria Sá da C05ra, Teles, Conde de Barcelos, a1miran<e do reino e irmão da rainha LeonorTeles que rcceb as teHas de Sanra Maria da feira
a 27 de janeiro de 1383 (AN/TT, CHANCDF, I. 11, f 99v e 100).
282 FÁTIMA REGINA FERNANDES 283

que Álvaro Camelo, já PrÍor e Marechal em 1386, estaria velho demais para empreender tal Conforme já v
iniciativa, senão, marco. após Aljubarrma. j
OUtro possível patrocinador da Crônica do Condestáve!, seria a filha deste, Bearriz Pereira, pena de Fernão Lo
casada, desde 1401, com Afonso, Duque de Bragança, bastardo de D. João L Esta hipórese Alfarrobeira. Tal 00
justificaria a cópia de boa parte da laus de Nuno Alvares na Crônica de D. João 1. No enranro, CUJO nome oonstará
considerando-se o desgaste das relações entre o regenre Pedro, responsável pela cominuidade da Nesres relalOs, obs,
elaboração da Crônica de seu pai e o Duque de Bragança, podemos relativizar tal possibilidade. próprio tio, Álvaro
I., 'l
Além do acirramento de posiçóes que culminaria em Alfarrobeira, sabemos que um dos morivos o desaparecimento
de dispura entre o Regente e o Duque seria a sncessão do cargo de Condesrável. Afonso pede o Nuno Alvares, apr'
cargo para seu filho, neto de Nuno Alvares Pereira e o Regenre concede-o a seu próprio filho. da Feira. João Rod
Sicuação de crescente tensão especialmenre à parrir de 1445 11 >. Epoca, portanto, da elaboração resrabelecido a um.
da Crônica de D. João 1, por Fernão Lopes. onde a hierarquia di
A proximidade pessoal do regente ao Condesráve! Nuno Alvares Pereira jusüficaria a inserção e já não pelo sangue
dos quatro capítulos da Crônica do Condestáve! na Crônica de D. João 1, apesar de [aI iniciativa Sobressaem os filhc
exaltar, indiretamente o genro do Condestável, inimigo de D. Pedro. Tais tensões transpiram Pereira. Na dialétic
das dnas panes da Crônica de D. João 1, especialmente entre 1449, dara da morre do Regente, a de Avis, consraram'
partir de quando Fernão Lopes será patrocinado pelo rei Afonso V e seus aliados, denrre eles o de Rui Vasques Pen
Duque de Bragança e 1452-4, quando Fernão Lopes passa o cargo de cronisra régio a Zurara. sua linhagem na di
Quanro ao parrocínio da Crônica do セ・カ、エウ ョッc ficaremos no campo das hipóteses sem concluir
definitivamenre por nenhuma delas. Em relação ac
destaque garantido
Onde nos levaram os ecos da busca pelo Prior do Hospital e de Rui Vasques Pereira na
político, João Alval
Crônica de D. João 1! t- hora de rerOrnarmos aos relaros da CrÓnica. Ainda interessa-nos um dos
Pereira desaparecidc
quatro capíwlos que contam a vida de Nuno Alvares, copiado de sua própria Crônica e que fala
regidas por Afonso 1
das dúvidas do Prior Álvaro Gonçalves Pereira em saber qual de seus filhos, Pedro Alvares ou
linhagísticos. Uma
Nuno Alvares seria o proragonisra de uma profecia que varicinava a um deles um fururo de
conrexro do redaro
grandes haralhas e inevitáveis virórias l16 . As semelhanças são muitas com o varicínio que D.
analisamos, em reL
Pedro I ouvira sobre um de seus filhos João, confirmando a escolha do Mestre de Avis no famoso
com desraque e riq\
sonho do reino em chamas conrrolado por seu esforço e pela simbologia da vara em suas mãosll 7
excluídos do LilJrO'
preconizando um fucuro reinado de justiça, tal como fÔra o de seu pai. Neste último exemplo
Lopes e no século j
comprova-se naruralmente a unicidade das três Crônicas de Fernão Lopes, de Pedro r a João I,
de suas trajetórias
além de denunciar o objerivo da sua elaboração. Além dislO, a similitude de aplicação desta
pretendida. O Livr
estratégia providencialisra nos dois relaros sugere um engare da trajetória de N uno Alvares, com
reino português pó
seu pai, um represenrante dos Pereira no papel de progeniror do herói, na trajecrória da própria
Em outras obras c
dinasria de Avis. Heróis escolhidos pelos mesmos meios e indicados pelas mesmas esrrarégias.
rempestades filipin
De resto, na primeira pane da Crônica de D. João 1, observa-se um desraque aos feitos dos
Braancam p Freire,
representantes do ramo dos Pereira designado de senhores da Feira, sucedendo-lhes, nesre papel,
o filho de Álvaro Pereira.

LOPES, CD)I
'18
LuracmAljub
lt9

135. p. 295, cal'. 182, I


115 SERRÃO,]. Veríssimo, «Afonso», in: DHP, v. 1, p. 35-6. no cerco de Tuy, de Ma
116 LOPES, CDJ[, cal" 33, p. 66-7. "0 Sendo de Jeml
JI7 LOPES, CDPl, cal" 43, p. 195-7. do conrexro Ja crise dir
283 ESTRATE GI AS OE LEGI TI MAçÃO LI NHAGi STI CA EM? ORTUGAL NOS SECULOS ...

ais para empreender tal Conforme já vimos, a primeira geração dos filhos do Prior não rinha razões para ser lembrada
após Aljubarrota. A segunda geração, encabeçada por Nuno Alvares, alça grande destaque na
lha deste, Beatriz Pereira, pena de Fernão Lopes e é fortemente exahada no seu texto, elaborado em pleno contexto de
D. João r. Esra hipótese Alfarrobeira. Tal como o fIlho de Rui Vasques Pereira, João Rodrigues Pereira, apoiame de Avis,
rle D. João I. No entanto, cujo nome constará da lista de ponugueses que ajudaram a defender o seu reino dos castelhanos 118.
vel pela cominuidade da Nestes relacos, observa-se a aproximação de João Rodrigues ao Conde Gonçalo Teles e a seu
ativizar tal possibilidade. próprio rio, Álvaro Pereira, junro a quem teria estado nas Corres de Coimbra de 1385 119 . Com
mos que um dos motivos o desaparecimento de Rui Pereira em 1384, o seu irmão, novo marechal do reino, junra-se a
ndestável. Afonso pede o Nuno Alvares, aproximando os dois ramos da linhagem, o dos filhos do Prior e o dos senhores
e-o a seu próprio filho. da Feira. João Rodrigues Pereira complemenraria tal tendência fundindo seu próprio ramo,
I ponamo, da elaboração restabelecido a uma condição privilegiada, aos ounos dois, juntO à Corre de Avis, num contexra
onde a hierarquia dos ramos de linhagem regia-se por critérios encabeçados pelo serviço à dinasria
reira justificaria a inserção e já não pelo sangue. Na segunda parte da Crólúca de D. João I, observamos esra mesma tendência.
1, apesar de tal iniciativa Sobressaem os filhos dos anteriores protagonistas, Nuno Alvares, João Rodrigues e João Alvares
, Tais tensões transpiram Pereira. Na dialérica da continuidade ou renovação dos quadros nobiliárquicos após a ascensão
t da morre do Regeme, a de Avis, constatamos, neste caso, o predomínio da continuidade. O filho do ramo principal, o
. eus aliados, denrre eles o de Rui Vasques Pereira '20 , os filhos do Prior, e o de Álvaro Pereira é que continuarão a represenrar
t cronisra régio a Zurara. sua linhagem na dinasria de Avis.
shipótesessem concluir
Em relação ao conrexto de redação, especialmente da Crónica de D. João Iobservamos o
e Rui Vasques Pereira na destaque garanrido a esres novos protagonistas também já desaparecidos do panorama sócio-
nJa Ímeressa-nos um dos polírico, João Alvares  Pereira,  morre  em  1398,  Nuno Alvares  Pereira  em  1431  e João Alvares 
rópria Crônica e que fala Pereira desaparecido antes de 1453.  O rclaro os eterniza e rransfere às  futuras gerações portuguesas 
filhos, Pedro Alvares ou regidas por Afonso V a imagem e o modelo dos heróis nobiliárquicos e seus respecrivos referenciais 
um deles um fururo de linhagísticos.  Uma esrrarégia que ulrrapassa a mera recordação e prerende atuar sobre o próprio 
com o vaticínio que D. contexto do  redaror  e dos  futuros leirares.  Esrrarégia que encontra ecos,  no caso  específico  que 
Mestre de Avis no famoso analisamos,  em  relaros  posteriores.  O  Livro de Linhagens do Século XVI, por exemplo,  fala­nos 
.a da vara em suas mãos 117 com destaque e riqueza de dados genealógicos dos senhores da Feira, originariamente basrardos, 
;ti. Neste último exemplo excluídos do  Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, legirimados por Avis e pelas obras de Fernão 
opes, de Pedro I a João l, Lopes e no século XVI, consagrados  num  nobiliário  arualizado,  cujo  auror  teria  recolhido ecos 
lirude de aplicação desta de  suas  trajerórias  em  obras  que  lhe  antecederam,  obras  cons[)'urons  de  uma  supremacia 
ria de Nuno Alvares, com pretendida.  O Li7JrO de Linhagem do Século XVI, reconhece e avaliza o quadro sócio­polírico do 
, na trajectória da própria reino  português  pós­Alfarrobeira  e nele  se  enquadram  os  descendentes  dos senhores da  Feira. 
elas mesmas eStrarégias. Em  outras  obras  como  a  Monarquia Lusitana, fruto  de  um  século  XVII,  atravessado  por 
hn desraque aos feitos dos tempesrades  filipinas  e  restauradoras,  mal  se  percebe  qualquer  destaque  aos  Pereira.  Anselmo 
edendo-Ihes, neste papel, Braancamp  Freire,  nos fins  do século XIX e inícios do XX os  reenconrraria nas fontes do século 

118  LOPES.  CO]],  1"  p.,  capo  161, P  346.  


li?  Luta em Aljubarrma e após esra, ao lado do Conde Gonçalo Teles (LOPES. CDJI,  1a p., capo  73, p.  142, capo  
135.  p.  295, capo  182,  p.  392.  e Id.,  ib)(\'  2a p.,  cal'.  1,  p.  9  e  FERNANDES.  Sociedade e poda ... p.  149­53.  Morre 
no cerco de Tuy,  de. Maio  de.  1398  (LOPES, CO}!,  2' p.,  capo  167,  p.  368). 
120  Se.ndo  de lembrar que esre ramo [ôra afasrado do poder ainda antes  da cnse dinásrica,  à volta de  1375, fora 
do cOlHextQ  da crise dinásrica. 
284 FÁTIUA REGUlA FERNANDES

XIV e XV e reproduziria, em suas obras, o destaque a Nuno Alvares e ao ramo dos senhores da
Feira, que ajudou a nomear.
Parece-me que fica claro, neste trabalho, o valor da tradição, da elegia, no plano empírico
do contexto sócio-político porruguês, pré e pós Alfarrobeira e na construção da sua
correspondenre sociedade política. Eficiente instrumento ideológico, cujos personagens não
valem rantO pelo que são, realmente, mas pela imagem, pela consrrução que dele fazem, sempre
com objectivos apócrifos, objerivos próprios de seus descendentes.
Os Pereira, na figura de seus representantes, Rui Vasques, Alvaro Gonçalves e Rui Gonçalves,
vivos e atuantes na primeira metade do século XIV, ainda influenciariam, através das fontes
historiográficas, o de projecção de seus descendentes na segunda metade do século XV, quiçá,
até aos dias de hoje.

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