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Bernardo Ernesto Machava

Análise do comportamento do borato de sódio (bórax) no solo das zonas de mineração


artesanal de ouro no Distrito de Manica.
Licenciatura em Ensino de Química com Habilitações em Gestão de Laboratório

Universidade Púnguè
Chimoio
2022
Bernardo Ernesto Machava

Análise do comportamento do borato de sódio (bórax) no solo das zonas de mineração


artesanal de ouro no Distrito de Manica.

Monografia Científica a ser submetido à Faculdade de


Ciências Exatas e Tecnológicas, Licenciatura em Ensino
de Química com Habilitações em Gestão de Laboratório,
para obtenção do grau de Licenciatura.

Supervisor: Olavo Alberto Deniasse (PhD)

Universidade Púnguè
Chimoio
2022
Índice pág.
Índice de figuras .............................................................................................................................. v

Índice de tabelas ............................................................................................................................. vi

Lista de abreviaturas e símbolos ................................................................................................... vii

Declaração de Honra .................................................................................................................... viii

Dedicatória ..................................................................................................................................... ix

Agradecimentos .............................................................................................................................. x

Resumo…………………………………………………………..……………………………….xi

Abstrat ........................................................................................................................................... xii

CAPÍTULO I INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1

1.1. Enquadramento do tema .......................................................................................................... 2

1.2. Justificativa .............................................................................................................................. 2

1.3. Problematização ....................................................................................................................... 3

1.4. Objetivos .................................................................................................................................. 4

1.4.1. Geral ...................................................................................................................................... 4

1.4.2. Específicos ............................................................................................................................ 4

CAPITULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................... 5

2. Mineração Artesanal ................................................................................................................... 5

2.1. Técnicas de extracção e processamento artesanal de ouro ...................................................... 5

2.1.1. Técnicas de extracção Artesanal ........................................................................................... 5

3.1.2. Técnicas de processamento artesanal.................................................................................... 6

2.1.3. Ouro ...................................................................................................................................... 8

2.1.4. Ocorrência na natureza ......................................................................................................... 8

2.2. Principais problemas ambientais associados ao uso do mercúrio na mineração do ouro. ....... 9

2.2.1. Problemas ambientais. .......................................................................................................... 9


2.2.2. Mercúrio .............................................................................................................................. 10

2.3. Potencial de Contaminação .................................................................................................... 11

3.3.1. Borato de Sódio (Bórax) ..................................................................................................... 11

2.3.4. Potencial do Bórax na mineração do ouro .......................................................................... 12

2.3.5. Absorção do Bórax ............................................................................................................. 12

2.3.6. Dinâmica do Boro no solo .................................................................................................. 13

3. CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO DO ESTUDO ................................................................ 14

3.1. Localização ............................................................................................................................ 14

3.2.Vias de acesso ......................................................................................................................... 14

3.3. Clima e Hidrografia ............................................................................................................... 15

2.3. Fauna e Flora.......................................................................................................................... 15

3.4. Relevo e Solos........................................................................................................................ 16

3.5. População e Actividades económicas .................................................................................... 17

CAPÍTULO IV MÉTODOS E MATERIAIS ............................................................................... 19

4.0. Tipo de pesquisa .................................................................................................................... 19

4.1. Quanto a natureza .................................................................................................................. 19

4.2. Quanto a abordagem .............................................................................................................. 19

4.3. Quanto aos objectivos ............................................................................................................ 19

4.4. Quanto aos procedimentos ..................................................................................................... 20

4.4.1. Método bibliográfico .......................................................................................................... 20

4.4.3. Método experimental .......................................................................................................... 21

4.4.4. Amostra ............................................................................................................................... 21

4.4.4.1. Procedimentos de colecta de amostra .............................................................................. 22

4.4.4.2. Preparação da solução de CaCl2 para dissolver o bórax ................................................. 22

4.4.4.3. Análise de quantidades do Bórax adsorvida aos solos..................................................... 23


4.4.4.4. Determinação do Bórax absorvida aos solos. .................................................................. 25

CAPITULO V: APRESENTAÇÃO E DISCURSÃO DE RESULTADOS ................................. 26

5.1. As técnicas de extracção e processamento artesanal de ouro ................................................ 26

5.2. Os problemas ambientais associado a mineração artesanal ................................................... 27

5.3. Determinação do potencial de contaminação do bórax no solo ............................................. 28

CAPITULO VI: CONCLUSÕES E SUGESTÕES ...................................................................... 30

6. Conclusões ................................................................................................................................ 30

6.4. Sugestões................................................................................................................................ 30

6.5.R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................... 31

6.6. APÊNDECES ........................................................................................................................ 34

6.6.1. Formulário de observação ................................................................................................... 34

6.6.2. Guião de Experiência .......................................................................................................... 35

6.6.3. Cálculo do potencial de lixiviação ...................................................................................... 37

6.6.3. Cálculos de quantidades do Bórax adsorvida aos solos ...................................................... 37


v

Índice de figuras

Figura1: Localização da Região do Estudo. ................................................................................. 14

Figura 2: colecta de dados por observação directa no campo. ...................................................... 20

Figura 3: Ilustração de recolha de amostra ................................................................................... 21

Figura 4: Colecta das amostras do solo para análise..................................................................... 22

Figura 5: preparação da solução de para dissolver bórax................................................... 23

Figura 6: Análise quantidades do Bórax adsorvida aos solos ....................................................... 24

Figura 7: processo de lavagem de minério usando princípio de densidade gravitacional ............ 26

Figura 8: demostração de problemas ambientais .......................................................................... 27


vi

Índice de tabelas

Tabela 1: Materiais e reagentes para preparação da solução de para dissolver bórax....... 23

Tabela 2: Análise quantidades do Bórax adsorvida aos solos ...................................................... 24

Tabela 3: Quantidades do Bórax adsorvida aos solos ................................................................... 28


vii

Lista de abreviaturas e símbolos


Ce Concentração do anelito em equilíbrio

Ci Concentração inicial do anelito


Cs Quantidade de Bandit sorvida
[CH₃Hg]⁺ Metilmercúrio
g Grama
Gus Índice empírico a dimensional
Koc Coeficiente de sorcão normalizado do carbono orgânico do solo
Log Logaritmo
MAE Ministério de Administração Estatal
mg/L Miligramas por litro

PhD Professor Doutor

Unipúnguè Universidade Púnguè

t1/2 Tempo de meia vida


V Volume
viii

Declaração de Honra

Declaro por minha honra que esta Monografia é resultado da minha investigação pessoal e das
orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão
devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final,
Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção
de qualquer grau académico.

Chimoio, aos__ Feveiro de 2022


O autor
_______________________________________
(Bernardo Ernesto Machava)
ix

Dedicatória

Aos meus progenitores

Ernesto Paulo Machava e Gilda Armando Lhunguane, pela dedicação que me dispensara em
todas suas vidas, pelo amor, carinho, compreensão, paciência e sobretudo por me fazerem
acreditar que tudo é possível, também por terem sido muito atenciosos e motivadores durante a
minha vida até ao fim das suas vidas.

Que Deus a tenha e proteja, tranquilizando e dando Paz as suas Almas.

Aos meus Tios

Bernardo Aurélio Machava, Ana Khenssane Armando Mapsanganhe Machava, Amosse


Machava, Rael Machava, Meri Machava, pelo amor, pelos conselhos morais que sempre
dispensaram em toda minha vida, e pelo apoio financeiro para concluir meus meus estudos.

A minha Irmã Helena Ernesto Machava, e aos meus primos Márcia Bernardo Machava, Mércia
Bernardo Machava, Sérgio Bernardo Machava, pelo amor e amizade que sempre compartilhamos
nas horas tristes e sem esquecer minha querida Avo Helena Mabunda, pelo amor incondicional.
x

Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço a Deus pelo amor divino, permitiu que tudo isso acontecesse, ао
longo da minha vida, não somente nestes anos como universitário.

A Universidade Púnguè, pela oportunidade de fazer о curso.

Ao Director do curso, o Mestre Dário dos Santos pelo apoio e incentivo na minha formação
académica.

A todos os Docentes da Universidade Púnguè, em particular do curso de Química, pela


paciência que demonstraram durante a transmissão dos conhecimentos.

Agradeço ao meu supervisor Prof. Doutor Olavo Alberto Deniasse, pela sugestão, encorajamento
e motivação na escolha do tema, por me ter orientado na realização deste trabalho, pela
disponibilidade do seu conhecimento, suas ideias, de facto que me trouxe a inspiração para a
realização do trabalho, ultrapassando todas as barreiras que estavam sujeitas pela dimensão do
tema.

Aos gestores do laboratório de Química Eng. Agostinho Vasco Cardoso Obra e Msc Félix
Francisco por me apoiarem durante minhas análises no laboratório.

Obrigados meus colegas e amigos, Rameca Manhiça, Abeoda Ferlindo, Avelino Eusebio, Lopez
Sambo, Victor Pereira, Leonildo Valoi, Adolfo Matusse, Dirson Doropa, Victor Muchanga,
Lucilio Maudze, Abel Chambal, Jossefa Ubisse, Aida Ferrão, Abede Matusse, Nordino
Vilanculos, Baptista Mausse, de forma directa e indirecta por terem ajudado, a alcançar este
objectivo.
xi

Resumo

O Distrito de Manica se destaca entre outros Distritos da Província de Manica pela actividade de
mineração, principalmente pela mineração do ouro, com isso verifica-se muitos problemas
ambientais devido aberturas de covas com a remoção da cobertura vegetal para a retirada do
minério de ouro. Na mineração artesanal do ouro é empregue o Mercúrio no processo de
amalgamação, isso cria a contaminação do solo. Estas práticas geram a degradação das terras
para agricultura na medida em que a maioria das minas se localizam nas propriedades agrárias,
assoreamento dos rios entre outros problemas ambientais. Este estudo visa analisar o
comportamento do bórax perante os solos do Distrito de Manica, de modo a avaliar as
possibilidades do uso de Bórax como métodos alternativo ao mercúrio para a mitigação, dos
problemas ambientais causados pela mineração artesanal. Para o efeito, foram colectados (12)
amostras do solo nas áreas de mineração nas localidades de Andrade e Fenda, numa
profundidade de 0-20cm e 20-40 cm. Para caracterização e discrição das técnicas de extracção,
técnica de processamento do ouro e principais problemas ambientais recorreu -se a observação
directa das actividades no campo, e para determinação do potencial de contaminação por Bórax
no solo foi utilizado espectrómetro UV-visível. Os resultados mostraram que nas áreas
estudadas, predomina-se a técnica da extracção por escavação subterrânea, e técnicas de
processamento sendoː lavagem, bateamento e Separação gravimétrica seca. O Bórax apresenta
alto potencial de lixiviação, pode ser absorvido facilmente nos solos ricos em matéria orgânica e
argilas. Sua absorção aumenta com um aumento da profundidade. Com isto, conclui-se que De
acordo com as características dos solos de Manica o Bórax pode ser usado como método
alternativo ao mercúrio devido seu baixo potencial de contaminação no solo, também sendo
usando com frequência pode aumentar a quantidade do Bora no próprio solo aumentando o
desenvolvimento das plantas.

Palavras – chave: Bórax, mineração artesanal, Manica.


xii

Abstrat

The District of Manica stands out among other Districts of the Province of Manica for its mining
activity, mainly for gold mining, with this there are many environmental problems due to the
opening of holes with the removal of vegetation cover for the removal of gold. In artisanal gold
mining, Mercury is used in the amalgamation process, this creates soil contamination. These
practices generate land degradation for agriculture as most mines are located on agricultural
properties, river siltation, among other environmental problems. This study aims to analyze the
behavior of borax in the soils of the District of Manica, in order to assess the possibilities of
using borax as an alternative method to mercury to mitigate the environmental problems caused
by artisanal mining. For this purpose, (12) the soil was collected in the mining areas in the
localities of Andrade and Fenda, at a depth of 0-20 cm and 20-40 cm. For characterization and
description of extraction techniques, gold processing technique and main environmental
problems, direct observation of activities in the field was used, and to determine the potential for
contamination by Borax in the soil, a UV-visible spectrometer was used. The results induced that
in the studied areas, the extraction technique by underground excavation predominates, and
processing techniques beingː washing, beating and dry gravimetric separation. Borax has a high
leaching potential, it can be easily absorbed in soils rich in organic matter and clays. Its
absorption increases with an increase in depth. With this, it is concluded that According to the
characteristics of the soils of Manica, Borax can be used as an alternative method to mercury due
to its low contamination potential in the soil, also using frequently can increase the amount of
Bora in the soil itself. the development of plants.
Keywords: Borax, artisanal mining, Manica.
1

CAPÍTULO I INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda sobre análise do comportamento do borato de sódio (bórax)


no solo das zonas de mineração artesanal de ouro, concretamente nas áreas de Andrade e Fenda
no Distrito de Manica. A intenção é aferir se com o uso do Bórax, no lugar do Mercúrio pode
haver problemas com o solo ou não. Optou-se por testar o Bórax porque o uso do Mercúrio tem
causado muitos problemas ambientais, tanto para o homem, como para as plantas e animais. E,
até pode provocar a extinção de animais de pequena espécie nos rios das zonas de mineração;
problema de empobrecimento dos solos para agricultura e ao meio ambiente., entre outros.

Segundo Deniasse (2017) a população que vive ao longo dos rios poluídos tem escassez
de água potável correndo riscos de consumir água impropria. Esses rios desaguam na albufeira
de Chicamba, onde esta instalado o projecto de abastecimento de água às cidades de Chimoio,
Manica e o Município de Gondola. Por todas estas razões, torna-se importante que medidas
adequadas sejam tomadas no sentido de disciplinar a actividade de mineração artesanal e de
pequena escala. Segundo o mesmo autor, há sérios problemas de saneamento e saúde pública nos
acampamentos dos mineradores.

Este trabalho foi realizado em três fases: a primeira fase, consistiu na recolha da amostra do
solo e, a segunda fase consistiu na análise do potencial de contaminação do solo por Bórax
através de uns ensaios no laboratório e a terceira consistiu na observação directa das técnicas de
extracção e processamento do ouro no campo.

O trabalho está estruturado em cinco (5) capítulos nomeadamente: introdução,


fundamentação teórica, materiais e métodos, apresentação e discursão dos resultados, conclusões
e sugestões.
2

1.1. Enquadramento do tema

Enquadra-se na primeira linha pesquisa do curso de licenciatura em ensino de Química a


Química e Meio Ambiente, enquadra-se nas cadeiras do plano curricular leccionadas na
Universidade Púnguè, nas cadeiras de Química Inorgânica, Química Ambiental, Química Física,
Química Técnica e Química Analítica.

No âmbito social, enquadra-se na melhoria da qualidade de estilo de vida dos residentes


nas áreas de extracção mineral e na filosofia de extensão do conhecimento das pesquisas para
situar os problemas das comunidades.

No âmbito institucional, o tema enquadra-se em diferentes ministérios, sendo de destacar


Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADER), Ministério de Terra e Meio
Ambiente (MITA), Ministério de Recursos Minerais e Energia (MIREME), as quais defendem
na suas politicas e legislação a mineração sustentável.

1.2. Justificativa
Do modo geral a mineração artesanal em Manica usa o mercúrio para separar o ouro do
minério. Geralmente esta utilização do mercúrio tem a formação do, composto orgânico do
formato Metilmercúrio [CH₃Hg]⁺, este é considerado o mais importante devido à alta toxicidade
para o organismo humano e outros seres vivos. Além do uso indiscriminado de mercúrio,
observa-se que o mau uso da terra, também pode aumentar os níveis de metilação do mercúrio
perdido na amalgamação, assim como o escoamento e transporte superficial do mercúrio para
corpos das águas locais. Este mau manuseo do solo pode impactar no pH, condutividade
eléctrica, disponibilidade de oxigénio, temperatura e concentração de nutrientes, entre outros
(WINDMOLLER, et al. 2007, Apud TINÔCO, et al. 2010).
Desta forma, o risco de contaminação do ambiente por mercúrio, em área da mineração,
tem sido alvo de pesquisa, para verificar o teor do mercúrio lançado nos efluentes por
mineradores artesanais, porque coloca em risco os ecossistemas.

Manica é uma das Províncias com o maior índice de prática da mineração artesanal, em
que se usa, o mercúrio para separar o ouro do minério. Tendo em conta os problemas ambientais
3

causados pelo mercúrio, este trabalho procura encontrar uma alternativa, através de ensaios do
Bórax nas condições de Manica para testar a possibilidade de implementar o mesmo.

1.3. Problematização
Actualmente a prática da mineração artesanal no Distrito de Manica, tem sido alvo de
preocupação das entidades governamentais devido o alto nível de destruição do solo e a
contaminação da água por mercúrio. Para a libertação do mercúrio, os mineradores fazem a
queima da amálgama (mistura de mercúrio e ouro impuro) a céu aberto e sem instrumentos de
protecção. É neste processo de queima, que o mercúrio é libertado para a atmosfera e inalado
pelos mineradores ou libertado para os rios. E neste processo também se regista os maiores
problemas de contaminação da atmosfera, solos e rios (DENIASSE, 2020).
A contaminação pode ser explicada da seguinte forma: primeiro o mercúrio (no estado
líquido) é manuseado sem observar medidas de protecção durante a amalgamação. Por falta dos
instrumentos adequados para o seu manuseio, este, pode ser, deitado no solo, no rio, ou num
utensílio de trabalho. O mercúrio no estado gasoso, originado da amálgama por queima, é
libertado para atmosfera. Durante este processo o minerador pode inalar, expondo-se a este,
colocando assim a sua saúde em risco (ALMEIDA, 2005).
Segundo Kristensen et al. (2014) o bórax também conhecido como borato de sódio é uma
substância em pó branca, inodoro, não- inflamável, não combustível e não-explosivo, e é a fonte
de outros compostos de boro fabricados, têm muitas utilidades, em produtos cosméticos e nos
produtos de limpeza. Tem sido considerado em outros estudos como uma das formas mais
viáveis que têm sido proposto para reduzir ou interromper o uso de mercúrio em mineração
artesanal do ouro , sendo barato e menos poluente ao meio ambiente. Face a essa especulação,
levanta-se a seguinte questão:
Qual é a possibilidade do uso de borato de sódio (bórax) como método alternativo ao mercúrio
na mineração artesanal do ouro no Distrito de Manica?
4

1.4. Objetivos

1.4.1. Geral

 Analisar o comportamento do borato de sódio (bórax) no solo nas zonas de mineração


artesanal em Manica.

1.4.2. Específicos
 Caracterizar as técnicas de extracção e processamento artesanal do ouro;
 Descrever os principais problemas ambientais causados pela mineração artesanal do ouro;
 Determinar o potencial de contaminação dos solos pelo bórax nas zonas auríferas de
Manica;
5

CAPITULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2. Mineração Artesanal
A mineração artesanal, vulgarmente conhecida como garimpo, constituiu uma actividade
de extracção de minérios, realizada com tecnologia rudimentar e sem equipamentos de
sondagem, requerendo, por isso, o investimento de pouco capital. A mineração artesanal é,
normalmente, realizada na informalidade, na maioria dos casos sem licença de exploração, num
processo por vezes itinerante e realizado por grupos independentes (FEIJÓ & IBRAIMO, 2017)

Não obstante a mineração artesanal constituir uma actividade ancestral em Moçambique,


transmitida de gerações em gerações, nos últimos anos a comunicação social tem apresentado um
conjunto de notícias que sugerem um recrudescimento destas práticas com consequências no
meio ambiente, em particular nas províncias de Manica, Tete, Zambézia, Nampula e Cabo
Delgado.
De acordo com os mesmos autores a mineração é capaz de gerar riquezas, avanço
tecnológico e bem-estar social sem danificar o ambiente, mostrando à opinião pública que é
possível conciliar a extracção de recursos com as práticas ambientais recomendadas pelos
especialistas, através da conservação das características próprias de cada região são explorados.
A exploração de recursos minerais é uma actividade de alto risco. Os processos de produção
artesanais fora do quadro institucional e legal de exploração, conduzem a uma intensificação dos
problemas ambientais na região aurífera de Manica.

2.1. Técnicas de extracção e processamento artesanal de ouro

2.1.1. Técnicas de extracção Artesanal


Para Deniasse (2017) o principal método de mineração artesanal verificado no terreno é
a céu aberto, com a remoção da terra vegetal ou decapagem e segue-se de seguida a remoção do
minério. Este método é usado para extracção de ouro e pedras preciosas e semi-preciosas. O
método a céu aberto é praticado sem seguir métodos elementares de segurança. Têm registado
diversos desabamentos devido a falta de estabilidade dos taludes. As águas provocam grande
6

instabilidade de poços escavados em áreas de depósitos aluvionares e húmidas. Foram registadas


algumas casualidades provocadas por desmoronamentos de paredes desses poços.
Extracção por escavação subterrânea
A mineração subterrânea é praticada na situação em que o minério está a profundidades
que impossibilita a mineração a céu aberto. O dispositivo de suporte do tecto é feito por meio de
madeiras.
Não obstante por escavação subterrânea, na região aurífera em estudo, verifica-se a
exploração através da abertura de furos de 6 a 15 metros de profundidade em galerias com saídas
intercomunicáveis
A Extracção por desmoronamento de solos
Na área estudada, as observações efectuadas permitiram verificar que a exploração do
ouro consiste no desvio das águas do rio para a área aurífera com vista a facilitar a remoção e
desmoronamento dos solos com enxadas e/ou alavancas. Transportados os solos pela água e
depositados no rio abaixo, o ouro é facilmente recolhido.

3.1.2. Técnicas de processamento artesanal


Segundo Deniasse (2020) o processamento artesanal de ouro em Manica observa-se
várias etapas, desde o pré-tratamento na mina, separação granular, gravítica, centrifuga, térmica,
magnética, por amalgamação, bateia e outros.
De acordo com o mesmo autor antes de qualquer processo de separação os mineradores
preparam certas condições básicas para que o processo possa correr, onde se pode destacar:
Primeiro: monta-se a planta do processamento que consiste em:
a) Prepara-se uma superfície em escadarias, sobre a qual se estende estacas para reduzir a
velocidade da água e reter o material denso, incluindo o ouro;
b) Por cima das estacas estendem pedaços de plásticos para evitar a perdas da água por
infiltração. E, imediatamente, por cima destes deitam pedaços de manta ou toalhas de
algodão que servem para reter o minério;
c) Nos cantos da superfície da escadaria espetam-se 4 estacas ou pedras, sobres as quais são
colocadas ouras horizontalmente para suportar o crivo.
Segundo: transporta-se e armazena-se o minério para processamento;
Terceiro: processa-se o minério de ouro que obedece a vários passos, entre os quais:
7

1. Separação granulométrica e gravítica húmida (hidrogravítica)


Os processos de separação granulométrica e gravítica húmida são efectuados
simultaneamente, pois, enquanto ocorrem a crivagem, dá-se também a separação
hidrogravítica (gravidade e água) onde: (1 ) um ou dois dos operadores deitam com ajuda
de pás ou baldes o minério no crivo, (2 ) um ouro operador deita água sobre o material,
enquanto isso (3 ) com ajuda de uma enxada mexe e remexe o material para permitir uma
maior difusão da água sobre minério e facilitar a passagem do material aurífero pelo
crivo. Nisto, o material grosseiro é retido no crivo, o fino passa por crivo. O fino e denso
é retido nos pedaços de manta. Esta retenção ocorre facilmente junto das estacas
colocadas por baixos dos pedaços de mantas porque reduzem a velocidade da água e
facilitam a deposição ou retenção do material denso que normalmente contem o ouro.

2. Separação por centrifugação: esta separação conduz a sedimentação com a base no


princípio de centrifugação (bateamento), isto é, o material mais denso deposita-se no
fundo ou na zonal central da bateia e o leve sai com água e o concentrado é submetido a
separação térmica para a retirada da água por vaporização e seguidamente o concentrado
com ouro muito fino é submetido à amalgamação.

3. Separação gravimétrica seca: (1°) toma-se o concentrado do minério obtido da


separação e espalha-se por sobre uma folha de papel de preferência da cor branca, (2 )
levanta-se até o próximo da altura da boca ligeiramente abaixo, (3 ) sopra-se
obliquamente.
Portanto o material leve sai ficando o denso com o ouro e de seguida o ouro granular é
recolhido, pesado e guardado e o resto submetido a separação magnética.

4. Separação magnética: procede-se do seguinte modo: (1°) com um pauzinho espalha-se


o concentrado sobre um ‟ portador ˮ (papel) (2°) levanta-se o conteúdo até á altura do
peito, (3°) por baixo do ‟portador ˮ faz-se passar um íman bem colado ou posicionado e
arrasta-se o íman para uma das extremidades. O íman leva consigo as partículas
magnéticas por se atraídas, ficando o ouro e outras partículas diamagnéticas.
8

5. Separação por amalgamação: (1°) sobro o concentrado aurífero obtido do processo de


bateamento deitam-se algumas gotas de mercúrio, (2°) adiciona-se água, (3°) continua-se
abatear até formar á amálgama, (4°) decanta-se amálgama para outro recipiente.
Quando a amalgamação ocorre em cilindros herméticos a adsorção de ouro ocorre
facilmente.

6. Separação da amálgama por filtração e vaporização: amálgama é embrulhada num


pedaço de tecido do tipo nylon, e enxuga-se, para filtração do mercúrio, o qual é
reaproveitado. Durante a enxugacão ocorrem o contacto do mercúrio com a pele do
operador, colocando-o potencialmente em risco. O concentrado que resulta da separação
por filtração retém uma parte do mercúrio que fica obviamente misturada com o ouro
esse concentrado é submetido a separação térmica para vaporizar o mercúrio e deixar o
ouro e no âmbito da separação térmica, o mercúrio que sai por vaporização pode ser
inalado pelo homem e causar danos á sua saúde (DENIASSE, 2020, P.72-77).

2.1.3. Ouro
Segundo Lobato e Costa (2017) o elemento químico de símbolo , ocorre sob a forma
de metal de cor amarela, denso e brilhante, de dureza 2,5 a 3, densidade entre 15 e 19,3 g/cm3,
sendo membro do grupo 1B da tabela periódica dos elementos químicos, juntamente com a prata
( ) e o cobre ( corre na natureza como um mineral do sistema cristalino isométrico.
Este foi um dos primeiros minerais usados nas culturas pré-históricas. Desde a antiguidade seus
ornamentos estão entre os objectos metálicos mais conhecidos e cobiçados pela humanidade.
Lascas de ouro foram achadas em cavernas do Paleolítico, datadas de mais de 42 mil anos atrás.

2.1.4. Ocorrência na natureza


Segundo Atkins e Shriver (2003) o ouro encontra-se na natureza geralmente no estado
nativo (estado livre) aparece principalmente sob forma de “pepitas” nas rochas quartziticas e nas
areias de certos rios, em sedimentos dos produtos de desagregação das rochas auríferas.
O ouro encontra-se também em quantidade pequena de sulfureto de ferro, chumbo e
cobre. Os vestígios são descobertos na água do mar. O teor total do ouro na crosta terrestre é
9

5.10% (massa.). Os grandes jazigos de ouro existem na África de sul, nas Alasca, na China, a
Rússia, no Canada e na Austrália e outros.
Em Moçambique pode-se encontrar as ocorrências do ouro em todas as províncias das
regiões centro e norte.

2.2. Principais problemas ambientais associados ao uso do mercúrio na mineração do ouro.

2.2.1. Problemas ambientais.


Segundo Deniasse (2017) os resultados da mineração a céu aberto, dada a remoção da
terra ou capeamento, tem como consequências negativas como exemplo, a desflorestação, erosão
dos solos, doenças pulmonares, poluição das águas, provocando a extinção de animais de
pequena espécie nas zonas de mineração, problemas de empobrecimento dos solos para
agricultura, estagnação da água nas minas abandonas criando condições de para doenças como
malária, diarreias, etc.
Definitivamente, os danos ambientais resultantes da mineração artesanal são mais graves do
que se imaginava antes do estudo. Os principais problemas ambientais constatados são:
 Poluição das águas dos rios, especialmente Revue, Zambúzi, Chua, Namucuarara,
Mukurumazi e Púnguè;
 Assoreamento dos rios e riachos;
 Erosão das terras, principalmente as zonas montanhosas;
 Degradação das terras para agricultura na medida em que a maioria das minas se
localizam nas propriedades agrárias;
 Existência de grandes fendas e buracos, uma vez que os mineradores artesanais não
fazem aterro das minas abandonadas.
Os problemas acima mencionados já estão a afectar a actividade agro-pecuária
(principalmente a agricultura de irrigação), a actividade pesqueira, bem como a fauna e flora em
geral.
A saúde pública está igualmente ameaçada. As populações que vivem ao longo dos rios
poluídos continuam a consumir a água e o peixe. A maior parte dos rios desaguam na albufeira
de Chicamba, onde está instalado o projecto de abastecimento de água para as cidades de
Chimoio, Manica e Município de Gondola. Por todas estas razões, torna-se importante que
10

medidas urgentes sejam tomadas no sentido de disciplinar a actividade de mineração artesanal e


de pequena escala. Há sérios problemas de saneamento e saúde pública nos acampamentos dos
mineradores. As vezes eclodem doenças tais como diarreias, cólera, malária e outras.

2.2.2. Mercúrio
Segundo Damas et al. (2014) o elemento químico mercúrio é simbolizado por , uma
redução da palavra grega "Hydrargyrus" ("Hydrargyrum", em latim), que significa prata líquida,
forma como o mercúrio era conhecido na antiguidade. A derivação do latim é “Argentum
Vivum”. Contudo, o nome mercúrio é uma herança dos egípcios que, conhecendo sete astros
(Sol, Lua, Vênus, Marte, Saturno, Júpiter e Mercúrio), passaram a associá-los aos sete metais
conhecidos até então: ouro, prata, cobre, ferro, chumbo, estanho e mercúrio, respectivamente.
O principal minério, o cinábrio é encontrado em torno das antigas manifestações
vulcânicas. Em almadén, na Espanha, vem sendo explorado desde 415 a.C. Essa é a maior
ocorrência mundial do mercúrio. Apresenta-se também em grande quantidade no monte Amiata,
na Itália, nas Américas o cinábrio é encontrado nas costas do pacífico, desde o Alasta até o Peru,
todavia em quantidade relativamente pequena.
O mercúrio encontra-se também em forma de sulfuretos. Em consequência de baixa
estabilidade do óxido de mercúrio o processo de obtenção do Hg ocorre só num passo.
.

2.2.2.1. Carácter nocivo do mercúrio.


A toxicidade do mercúrio é causada, principalmente, pelo facto de este metal entrar no
organismo e reagir com diferentes enzimas, inibindo a catálise de reacções metabólicas básicas,
não tendo por isso, nenhuma função fisiológica benéfica. A exposição ao mercúrio pode ocorrer
através da inalação do ar ambiente, em que a absorção é efetuada principalmente por via
pulmonar, ingestão de alimentos contaminados, água ou solos, ou contacto dérmico com objectos
que contenham este metal. Em saúde ocupacional, a via inalatória é a propensa e, tanto o
mercúrio elementar como o inorgânico e seus compostos podem alcançar o sangue, por esta via
com uma eficiência de 80%. No caso da via dérmica, não está demonstrado que haja uma
influência importante do ponto de vista da saúde ocupacional (OLIVEIRA, 2013).
11

2.3. Potencial de Contaminação


Segundo Luchini e Andréa (2002) a contaminação ambiental pode ocorrer,
principalmente, quando o processo de transporte atua na molécula de insecticida assim que
lançada no ambiente, pela lixiviação da molécula da insecticida através do perfil do solo,
atingindo as águas subterrâneas, e/ou pelos resíduos de insecticida pela superfície do solo
(escoamento superficial), pela acção da água da chuva e/ou água de irrigação.

3.3.1. Borato de Sódio (Bórax)


Segundo Para Kristensen et al. (2014) é uma substância em pó branca, inodoro, não-
inflamável, não combustível e não-explosivo, e não apresenta perigo em caso de incêndio.
Borato de sódio apresenta pouco ou nenhum perigo ao homem, tendo baixa toxicidade aguda
oral e dérmica.

3.3.2. Obtenção
Segundo Beltrão (2010) o Bórax é obtido partir da reação a quente de ácido bórico com
metaborato de sódio
+ .
É encontrado na natureza em forma de pequenos cristais agrupados facilmente friável,
com aparência macroscópica de um pó esbranquiçado. Microscopicamente seus cristais são
transparentes e de pequena dureza. Os principais depósitos de minerais contendo bórax estão
localizados em: Califórnia, Estados Unidos; Kirka, Turquia; Chile; China e região de
Vladivostok na Rússia. (BELTRÃO, 2010)

2.3.3. Propriedades físico-químicas


De acordo com Beltrão (2010) o Bórax apresenta as seguintes propriedades:
 Sólido, pó, branco.
 Inodoro
 pH: carácter básico
 Apresenta alto ponto de fusão e ebulição
 Solubilidade: em água: a
 Densidade é de ⁄
12

2.3.4. Potencial do Bórax na mineração do ouro


Segundo Kristensen et al. (2014)) bórax apresenta um alto potencial na mineração
artesanal do ouro, pois esse bórax reduz o ponto de fusão de metais e minerais uma vez que não
podem criar a alta temperatura necessária para fundir o minério. Esta substância pode substituir o
mercúrio e, de fato, os mineiros associados que já o utilizam reconhecem que o ouro obtido é de
melhor qualidade. O borato de sódio é um elemento inócuo para a saúde humana e para o meio
ambiente, não é caro e, além disso, pode ser vendido como produto de limpeza. O problema com
o bórax é que não é amplamente comercializado no país devido ao desconhecimento sobre o seu
uso e, portanto, os mineiros que o desejam usar devem deslocar-se às cidades para consegui-lo.

2.3.5. Absorção do Bórax


Segundo Oliveira e Brighenti (2011) define adsorção como o processo em que uma
substância interage em um sítio comum a uma mistura contendo no mínimo duas fases. Quando
estão envolvidos uma fase sólida e um fluido, o sólido é chamado de adsorvente e o material que
adsorveu nessa superfície é chamado de adsorvato ou adsorbato. A sorção de moléculas de
insecticidas pelo solo é um dos principais factores que influenciam sua movimentação, pois, em geral,
quanto menor a capacidade de absorção, maior seu potencial de lixiviação.
As propriedades específicas do solo e os factores climáticos influenciam grandemente no
comportamento do agro-tóxicos no solo. As principais propriedades envolvidas nesse processo
são: textura (teor da fracção argila), teor de carbono orgânico, actividade microbiana, capacidade
de troca catiónica, teor de matéria orgânica, temperatura, pluviosidade, velocidade do vento,
luminosidade e humidade (OLIVEIRA & BRIGHENTI, 2011).
No solo, a principal fonte de é a matéria orgânica; uma vez na solução do solo, o B
pode ser imediatamente absorvido pelas plantas ou estar sujeito a lixiviação, visto que não é
facilmente adsorvido aos colóides do solo pela ausência de cargas da forma predominante que é
As principais fontes de B são Bórax (11% de B), Solubor (20% de B), ácido bórico (17%
de B) e Ulexita (8% de B). As adubações de correcção via solo são as mais comuns, sendo
utilizado fritas ou bórax com doses variando de 0,5 a 2 kg (ROSOLEM & BÍSCARO, 2014)
Os solos de regiões tropicais chuvosas, apresentam geralmente baixos teores de boro total
e disponível, independente do material de origem, o que é ocasionado pela alta mobilidade do
elemento no solo e pelo alto grau de intemperismo. A textura do solo é um factor que também
13

afecta a disponibilidade de boro, principalmente pelo fato de que parte do boro do solo encontra-
se adsorvida por partículas de argila com maior ou menor energia de adsorção. A adsorção de
boro aumenta com o teor de argila. A correcção da deficiência de B em solos argilosos requer
maiores quantidades de fertilizantes do que em solos arenosos (BOLOGNA, 2003).

2.3.6. Dinâmica do Boro no solo


Segundo Bologna (2003) são vários os factores relacionados ao solo que influenciam a
disponibilidade do boro na solução do solo e, naturalmente, sua absorção pelas plantas. Dentre
estes factor tem-se o pH como um dos mais importantes. Citam que as principais causas para a
ocorrência da deficiência por boro são os baixo teores totais no solo; solos formados a partir de
rochas ígneas ácidas ou rochas sedimentares; solos lixiviados, ácidos, neutros ou alcalinos;
baixos teores de matéria-orgânica; uso excessivo de adubos nitrogenados e calagem excessiva ou
mal feita.
Cabrita (1993) apund Bologna (2003 estudando o efeito das aplicações de boro no solo
na forma de óxidos silicatados e foliarmente na forma de ácido bórico, durante três anos
consecutivos em pomares em início de produção (5 anos) e em plena produção (16 anos),
observou que o boro teve seus níveis foliares aumentados principalmente pela aplicação no solo
evidenciando ser esta a melhor forma de elevar os teores deste nutriente nas folhas.
14

3. CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO DO ESTUDO

3.1. Localização
O estudo foi desenvolvido nas áreas de mineração artesanal designadamente Andrade e Fenda,
no Distrito de Manica. O Distrito de Manica localiza-se na parte central a Oeste da Província de
Manica, com formato alongado e estreito, limitado a Norte pelo Distrito de Bárue, a Sul pelo
Distrito de Sussundenga, a Este pelo distrito de Vanduzi e a Oeste, em toda a sua extensão pela
2
República de Zimbabwe. Possui uma superfície de 4.594 km (Figura 1).

Figura1: Localização da Região do Estudo.

(MACHAVA, 2020).

3.2.Vias de acesso
Este Distrito é servido pelo Corredor da Beira, Estrada Beira - Manica e pela via-férrea
ligando Beira à República de Zimbabwe, na fronteira de Machipanda.
15

O acesso para os distritos limítrofes é feito em estradas alcatroadas e, em boas condições.


Já os acessos dentro do distrito são feitos em estradas de terra batida mas que não apresentam,
grandes limitações de trânsito, excepto, durante a época chuvosa. Três zonas estão pouco
acessíveis, devido à falta de reparação das estradas (numa extensão de 159 km) e uma via
ligando Manica à Vista Alegre é inacessível (com uma extensão de 10 km). A empresa CFM é, a
par de alguns pequenos transportadores privados, o garante do transporte de mercadorias
nacionais e internacionais na linha férrea Beira-Machipanda, coluna vertebral do Corredor da
Beira (MACHAVA, 2020).

3.3. Clima e Hidrografia


Segundo Bazima et al. (2011) o clima do distrito, segundo a classificação climática de
Köppen é do tipo temperado húmido (Cw).
A região montanhosa de Manica regista valores médios anuais na ordem dos 1000 e 1020
mm de chuva. Em geral, a repartição das chuvas é desigual ao longo do ano, observando
claramente a existência de duas estações bem distintas, a estação chuvosa e a seca. A estação das
chuvas tem início no mês de Novembro e seu términus no mês de Abril. A evapotranspiração
média anual é cerca de 1220 – 1290 sendo este superior ao valor da precipitação média anual. O
balanço hídrico permite apurar que o período de excesso de água ocorre no mês de Novembro a
Março, no qual a precipitação é maior em relação a quantidade de evapotranspiração.
Durante a época fria, a evapotranspiração é superior em todos os meses assim como à
quantidade de precipitação. Com este padrão, a região possui apenas um período de crescimento
do tipo normal com um período seco que ocorre de Maio a Outubro (BAZIMA, et al. 2011).
A temperatura média anual do é de 21,2ºC. A média anual dos valores máximos é de
28,4ºC, com os valores extremos de 30,9ºC (Outubro) e 24,4ºC (Julho). A média anual dos
valores mínimos é de 14,0ºC, com os valores mensais extremos de 18,5ºC (Fevereiro) no Verão e
7,3ºC (Julho) no Inverno (PEDPM, 2015).

2.3. Fauna e Flora


À escala regional o mapeamento das parcelas ocorre em cinco tipos genéricos de
vegetação nomeadamente: Mata de miombo semi-decíduo de alta precipitação (Brachystegia
spiciformis) - Unidade de Mapeamento Nº 21, Mata de miombo decíduo (Brachystegia
16

spiciformis-Julbernardia globiflora) - Unidade de Mapeamento Nº 23, mata decíduo aberta de


miombo - Unidade de Mapeamento Nº 30, Savana Arbórea semi-sempre verde de alta
precipitação (Parinari curatellifolia) -Unidade de Mapeamento Nº 39, e Floresta sempre verde -
Unidade de Mapeamento Nº 1 (JANSEN et al. 2008).
Em termos de áreas de valor de conservação (AVC), existem aquelas que podem ser
consideradas ecologicamente sensíveis, considerando os critérios de proximidade aos cursos de
água e presença de matas densas. A flora que circunda cursos de água e encostas (mata ciliar)
representam alto valor de conservação por fornecer serviços naturais de protecção de solos e
água e também acrescenta-se ao alto valor de conservação os cemitérios, locais históricos e/ou
culturais, etc. Em termos de serviços de ecossistemas às comunidades locais, a vegetação nativa
providencia recursos tais como a produção de lenha e carvão, a colheita de produtos alimentares
(raízes, folhas, fauna, etc.) e medicinais para a sua utilização quotidiana (MICOA, 2014).

3.4. Relevo e Solos


O distrito de Manica é constituído por cadeia montanhosas ocorrendo de Sul a Norte da
província numa faixa fronteiriça com o Zimbabwe constituindo o denominado “Cratão de
Zimbabwe” (SHEERAN, 1987).
Esta formação compreende especialmente basaltos, riólitos e lavas alcalinas. A maior
parte dos afloramentos formam cristas e cadeias montanhosas. Algumas montanhas chegam a
atingir cerca de 1500 – 2000 metros de altitude. Existe uma certa correlação entre a topografia,
especialmente a altitude e condições agro-climáticas. Geralmente, quanta altitude for maior,
maior é a precipitação anual e com o período chuvoso longo (BAZIMA, et al. 2011).
Os solos do distrito de Manica, mostram uma estreita relação com a geologia e o clima da
região e são localmente modificados pela topografia e o regime hídrico. Em geral, os solos são
desenvolvidos sobre materiais do Soco do Pré-câmbrico, rochas ácidas como granito e gnaisse.
Sendo basicamente solos argilosos vermelhos óxicos ou castanhos avermelhados, profundos,
bem drenados, a topografia é suavemente ondulada; nos declives superior e os cumes das
montanhas e nos afloramentos rochosos os solos são líticos, com textura franco-arenosa, pouco
profundos e drenagem excessiva. Infelizmente estes solos são sujeitos a degradação devido a
mineração (MAE, 2014).
17

3.5. População e Actividades económicas


O Distrito de Manica tem uma população recenseada em 2017 de 225.000 habitantes, a
relação de dependência económica potencial é de aproximadamente 1:1, isto é, por cada 10
crianças ou anciões existem 10 pessoas em idade activa. A população é jovem (46%, abaixo dos
15 anos de idade), maioritariamente feminina (taxa de masculinidade de 50%) e de matriz rural
(taxa de urbanização de 15%). (INE, 2018)
O distrito de Manica é dotado de solos férteis. A existência de um bom clima, de recursos
hídricos e o uso de adubos orgânicos (estrume de animais e restolhos de plantas e detritos
armazenados), complementam significativamente a fertilidade dos solos. Dos 438 mil hectares
da superfície do distrito, estima-se em cerca de 200 mil hectares o potencial de terra arável deste
distrito, dos quais só 30 mil são explorados pelo sector familiar (7% do distrito). Têm ocorrido
disputas sobre a posse de terras no distrito de Manica, com maior ênfase na zona do corredor da
Beira e junto a fronteira com o Zimbabwe. Considerando a fertilidade dos solos do distrito,
facilmente se pode esperar a convergência de mais agricultores interessados em cultivar a área,
pelo que se pode esperar o agravamento dessas disputas e uma maior pressão sobre os recursos.
A agricultura itinerante, a produção de carvão e o corte de árvores para madeira constituem uma
série de actividades que levam à perturbação ecológica dessas áreas, desse modo, acelerando o
processo natural de fragmentação pelo incremento antrópico. A agricultura itinerante é, de longe,
a perturbação ecológica actual mais significativa nessas parcelas. Grandes extensões de terra
foram convertidas em campos agrícolas para o plantio de culturas e muitos habitantes locais
geram rendimento através da produção de carvão vegetal e também utilizam o produto numa
base de subsistência para cozinhar. Este processo contribui expressivamente na destruição de
grandes áreas de vegetação natural, visto que, os madeireiros seleccionam preferencialmente
determinadas espécies de madeiras para serem utilizadas como material de construção e
mobiliário e este processo remove selectivamente algumas espécies chave e altera o habitat
natural. (INE, 2018)
O sistema de produção predominante nos solos de textura pesada e mal drenados é a
monocultura de batata-doce em regime de camalhões ou matutos (época fresca), enquanto nos
solos moderadamente bem drenados predominam as consociações de milho, mapira, mandioca e
feijão nhemba. Algodão e tabaco são culturas de rendimento, produzidas em regime de
18

monoculturas. Este sistema de produção é ainda complementado por criações de espécies como
gado bovino, caprino, e aves (INE, 2018)
Segundo ITC (2010) as autoridades governamentais afirmam ser difícil de quantificar os
diferentes aspectos económicos da indústria de mineração de pequena escala em Manica devido
a sua natureza de informalidade, nomadismo, desregulação e desorganização. Ainda assim,
existe um amplo reconhecimento do governo e da sociedade de que a extracção mineira artesanal
e de pequena escala desempenham um papel importante no combate ao desemprego, na
ocupação de jovens com dificuldade de continuar os estudos, no aumento de rendimentos dos
camponeses residentes nas áreas de mineração, e, em última análise, na redução da pobreza.
19

CAPÍTULO IV MÉTODOS E MATERIAIS

4. Tipo de pesquisa

4.1. Quanto a natureza

Segundo Prodanov e Freitas (2013), quanto a natureza a pesquisa pode ser básica, pura ou
aplicada. A pesquisa aplicada deve gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à
solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais. Quanto a natureza a
pesquisa é aplicada pois este visa procurar e aplicar novo método para resolver problemas
causados pela mineração arsenal

4.2. Quanto a abordagem


De acordo com os mesmos autores, quanta abordagem a pesquisa pode ser quantitativa,
qualitativa e mista. Consideram que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em
números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de recursos e de
técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de
correlação, análise de regressão etc. Pela natureza da problemática e a forma de abordagem o
presente estudo é quantitativa porque foi determinado o potencial de contaminação por Bórax no
solo de Distrito de Manica, usando factores quantitativos.

4.3. Quanto aos objectivos


Segundo Siena (2007) quanto aos objectivos a pesquisa pode ser descritiva, exploratório
e explicativa. Pesquisa Explicativa visa explicar a razão dos fatos, por meio da identificação e
análise das relações de causa-efeito dos fenómenos. Em geral, assumem as formas de pesquisa
ex-post-facto e experimental. Quanto aos objectivos é explicativa porque explica até que ponto o
método de mineração artesanal usando Bórax pode ser alternativo ao mercúrio.
20

4.4. Quanto aos procedimentos


Para Siena (2007) quanto aos procedimentos técnicos a pesquisa pode ser experimental,
bibliográfico, documental, observação, levantamento etc. Nesta pesquisa, usou-se o método
bibliográfico, observação directa e experimental.

4.4.1. Método bibliográfico


Consistiu-se na busca de informações em artigos científicos, manuais, que tem conteúdos
relacionados com o tema em estudo (LAKATOS & MARCONI, 1991). O uso deste método
consistiu-se em levantamentos de livros, alguns manuais já publicados em forma de artigos
científicos ou monografias que tratam assunto relacionados com o tema em estudo de modo a
fazer uma analogia com aquilo que o autor pretende.

4.4.2. Observação
Richardson (2007), mesmo destacando que a observação é um método qualitativo de
investigação, informa que os dados colectados podem ser quantificados, dependendo da direcção
que for dada na pesquisa. O referido autor destaca como ponto positivo da observação, a
possibilidade de obter a informação no momento em que ela ocorre.
Observou-se as técnicas de extracção e processamento artesanal do ouro e os principais
problemas ambientais no Distrito de Manica de acordo com a (figura 3).

Figura 2: colecta de dados por observação directa no campo.


21

4.4.3. Método experimental


O método experimental consiste, especialmente, em submeter os objectos de estudo à
influência de certas variáveis, em condições controladas e conhecidas pelo investigador, para
observar os resultados que a variável produz no objecto (GIL, 2008).

Com o qual realizou-se alguns ensaios laboratoriais com vista a determinar o potencial da
contaminação do bórax nos solos do Distrito de Manica usando o método de GUS e teste de
absorção usando o método de Batch

4.4.4. Amostra

A colecta de amostra de solo foi feita nas zonas nas de Andrade e Fenda no Distrito de
Manica, onde há uma prática intensiva das actividades de mineração artesanal de ouro. Em cada
local foram escolhidos de forma aleatória 2 pontos de colecta de amostra, nas profundidades de
0-20 cm (A1,B1,C1) e 20-40 cm (A2,B2 ,C2. Para garantir a representatividade das amostras fez-se
a uniformização de acordo com a profundidade em cada local. Salientar que para cada ponto, as
amostras foram atribuídos códigos por cada perfuração e profundidade, (figura 3)

Figura 3: Ilustração de recolha de amostra

B1 e B2

C1 e C2

A1 e A2

A1 = 0-20 cm; A2= 20-40 cm; B1= 0-20 cm; B2 = 20-40 cm; C1= 0-20 cm;, C2= 20-40 cm;

O estudo foi realizado numa área que compreende uma extensão de 45 km num
comprimento de 2 km do leito principal do rio Revué, Distrito de Manica nas seguintes
coordenadas e para localidade de Andrade e e
22

para localidade de Fenda localizado na parte central da Província de Manica,


centro de Moçambique.

4.4.4.1. Procedimentos de colecta de amostra

Dos dois (2) locais de colecta de amostra foram colectados doze (12) amostras do solo
sendo que para cada local foram seis (6) amostras, delimitou-se a área de amostragem em forma
de xadrez com uma separação de dez (10) passos de um ponto para outro e depois fez-se uma
abertura de 0-20cm de profundidade com uma picareta, onde colectou-se a primeira amostra e
colocou-se num balde plástico rotulado 0-20cm e de seguida aprofundou-se 20-40cm na mesma
abertura e colectou-se a segunda amostra que foi colocada num balde plástico rotulado 20-40cm
de acordo com a (figura 3).

Figura 4:Colecta das amostras do solo para análise

4.4.4.2. Preparação da solução de CaCl2 para dissolver o bórax


A substância de teste foi dissolvida numa solução 0,01 M de cloreto de cálcio ( ), a
solução de é usada como fase aquosa do solvente para melhorar a centrifugação e
minimizar a troca de cátioca. Os materiais e substâncias usadas constam na (figura 4) e (tabela
1).
23

Figura 5: preparação da solução de para dissolver bórax

Tabela 1:Materiais e reagentes para preparação da solução de para dissolver bórax.


Materiais Reagentes

2 Espátulas 0,14g CaCl2


3 Copos de bequer 2g de Bórax
Balança analítica 100ml de água destilada

Procedimentos

(1°) Mediu-se 100ml de água destilada no copo de bequer;

(2°) Pesou-se 0,14g de CaCl2 em seguida introduz no bequer com água destilada;
(3°) Mexeu-se com espátula até CaCl2 se dissolver completamente;
(4°) Transferiu-se 50ml da solução para copo de bequer;
(5°) Pesou-se 2g de Bórax em seguida introduz no copo de bequer que contem a solução
de cloreto de cálcio;
(6°) Mexeu-se até o bórax se dissolver por completo.

4.4.4.3. Análise de quantidades do Bórax adsorvida aos solos.


Os experimentos em batch foram conduzidos num frasco de vidro tipo Erlenmeyer de
250 ml em uma proporção ideal de 1:5 solo e solução do Bandit respectivamente. Mediu-se 3g
de massa do sorvente (solo) e um volume de 15ml da solução de Bórax em análise de
concentração inicial conhecida que serão adicionados no erlenmeyer. Como forma de melhorar o
24

contacto entre a solução do Bórax e o adsorvente usou-se um agitador automático. Após 30


minutos do tempo que variava 0,25 a 90 minutos, era retirado do agitador amostras do líquido
sobrenadante, clarificado, por centrifugação para posterior análise no espectrofotómetro-UV. As
diferenças entre a concentração inicial de cada solução e a concentração no sobrenadante foram
atribuídas à adsorção pelo solo. Os materiais e substâncias usadas constam na (figura 5) e (tabela
2).

Figura 6: Análise quantidades do Bórax adsorvida aos solos

Tabela 2: Análise quantidades do Bórax adsorvida aos solos

Materiais Reagente

Erlenmeyer 15ml de Solução Bandit


Copo de Bequer 3g de Solo
Balança Analítica
Espátula
Balbe
Agitador automático
Centrifuga
Espectrofotómetro UV-visível
25

Procedimentos

(1°) Seleccionou-se todas as mostras do ponto Andrade com rotulagem 0-20cm e


mistura numa bacia ou balde e em seguida com a rotulagem 20-40 cm,o mesmo
procedimento foi aplicado nas amostras do ponto Fenda;
(2°) Seleccionou uma amostra representativa;
(3°) Mediu-se 15ml da solução bandit e introduz no erlenmeyer;
(4°) Pesou-se 3g do solo e introduz no erlenmeyer que contem a solução de bandit;
(5°) Levou-se o erlernmeyer com a mistura do bandit e solo para um agitador
automático;
(6°) Após 30 min em 30min num período de 0,25 a 180 min retirou-se do agitador
amostra do líquido sobrenadente num copo de bequer;
(7°) Clarificou-se o líquido sobrenadente por centrífuga numa rotação de 500rpm por
20 min;
(8°) Filtrou-se o sobrenadente;
(9°) Analisou-se no espectrofotómetro UV-visível no comprimento de onda de 503
nm.

4.4.4.4. Determinação do Bórax absorvida aos solos.

A quantidade do Bórax adsorvida aos solos será determinada de acordo com a equação abaixo:

Cs = (Ci-Ce)v/m
Em que:
Cs = Quantidade de Bandit sorvida (mg.g-1);
Ci = Concentração inicial do anelito (mg.L-1);
Ce = Concentração do anelito em equilíbrio (mg.L-1);
V = Volume da solução do anilito (L); e
m = massa do solo (g).
26

CAPITULO V: APRESENTAÇÃO E DISCURSÃO DE RESULTADOS


Neste capítulo apresenta-se os resultados da observação directa no campo em torno das
técnicas de extracção e processamento da mineração artesanal de ouro e principais problemas
ambientais associado a mineração e análises realizadas no laboratório em torno o potencial de
contaminação do solo por Bórax e as respectivas discussões em função doutras teorias
apresentadas por vários autores acerca da manifestação agro-tóxicos no solo.

5.1. As técnicas de extracção e processamento artesanal de ouro


Constatou-se no terreno que a técnica de extracção processamento nas minas onde
decorreu o estudo predomina, a extracção por escavação subterrânea, verifica-se a exploração
através da abertura de furos de 6 a 18 metros de profundidade em galerias com saídas
intercomunicáveis.
Nesta técnica de extracção os instrumentos usados por mineradores são de tecnologia
rudimentar e compreendem pás, picaretas, enxadas, sacos e cordas, motobombas, barras de ferro,
bacias e bateias de lavagem, toalhas, caixas de sluices1, escopros, marretas e martelos.
A maior parte de mineradores não está organizada em associações nem em formas
empresariais primárias. Trabalham em pequenos grupos informais cuja composição varia entre 2
a 10 membros sendo maior número de homens.
Constatou-se que o processamento do minério de ouro é feito mediante os seguintes
procedimentos: Lavagem neste processo usa o princípio de densidade gravitacional. Nos sluices
o minério misturado com água é lançado sobre uma superfície rugosa inclinado. Durante o
escoamento, os minerais de maior densidade (exemplo ouro) são captados e retidos na superfície
rugosa (figura 6)

Figura 7: processo de lavagem de minério usando princípio de densidade gravitacional


27

Bateamento: é um processo em que os mineradores põem o minério numa bacia e pelo processo
de “peneiração” os minerais de maior densidade depositam-se no fundo da bacia e os de menor
densidade são escoados. Este processo abrange os minérios de ouro primários assim como
aluvionares.
Separação gravimétrica seca: toma-se o concentrado do minério obtido da separação e espalha-
se por sobre uma folha de papel de preferência da cor branca, levanta-se até o próximo da altura
da boca ligeiramente abaixo, sopra-se obliquamente. O material leve sai ficando o denso com o
ouro. Nisso, o ouro granular é recolhido, pesado e guardado.

5.2. Os problemas ambientais associado a mineração artesanal


Segundo ITC (2010) os problemas da mineração artesanal acima afectam a actividade agro-
pecuária (principalmente a agricultura de irrigação), a actividade pesqueira, bem como a fauna e
flora em geral.Os principais problemas ambientais constatados são:
 Poluição das águas dos rios, impedindo a livre circulação da água assim dificultando o
crescimento da vegetação;
 Ausência de água potável isso causa varias doenças;
 Degradação das terras para agricultura na medida em que a maioria das minas se
localizam nas propriedades agrárias reduzindo alimentação;
 Existência de grandes fendas e buracos, uma vez que os mineradores artesanais não
fazem aterro das minas abandonadas, causando acidentes de animais desprevenidos
(figura 7)

Figura 8: demostração de problemas ambientais


28

5.3. Determinação do potencial de contaminação do bórax no solo


O índice de GUS, descrito por Gustafson, (1989), é o critério mais adoptado para classificar
preliminarmente agro-tóxicos quanto ao seu potencial de lixiviação, sendo calculado de acordo
com a equação abaixo: GUS= log t1/2 (4 – log Koc)
Segundo Bologna (2003) esse critério, o fertilizante ou agro-tóxicos com GUS <1,8 são
considerados não lixiviáveis, enquanto valores de GUS> 2,8 representam compostos lixiviáveis.
Os demais são classificados como intermediários.

Sendo que bórax tem como tempo de meia vida ou tempo de persistência que varia de 1 ano a 2
anos dependendo do tipo do solo e o clima da região, segundo esse critério o bórax apresente o
índice empírico adimensional , assim apresentando baixo potencial de
contaminação no solo.

5.3.1.Quantidades do Bórax adsorvida aos solos

Tabela 3: Quantidades do Bórax adsorvida aos solos


Amostra Profundidade Ci Ce Cs
de solo (mg.L-1) (mg.L-1); (μg.g-1)

Andrade 0-20 cm 40 000 372 198,14


A1,B1,C1
Andrade 20-40cm 40 000 128 199,36
A2,B2 ,C2
Fenda 0-20cm 40 000 285 198,58
A1,B1,C1
Fenda 20-40 cm 40 000 130 199,35
A2,B2 ,C2
Ci = Concentração inicial do anelito (mg.L-1); Ce = Concentração do anelito em equilíbrio
(mg.L-1); Cs = Quantidade de Bandit sorvida (μg.g-1);

A lixiviação da molécula do fertilizante no perfil do solo é influenciada pela capacidade


de retenção da molécula ao solo e quanto maior for Koc, menor será a mobilidade deste
29

fertilizante no perfil do solo. Tanto a absorção quanto a lixiviação são processos altamente
dependentes das características físicas e químicas do fertilizante e do solo (MARCHESE, 2007).

Martinazzo et al, (2011) estudou a capacidade de absorção e a estimativa do potencial de


contaminação dos agro-tóxicos e fertilizante em seis tipos diferentes de solos e concluiu que
agro-tóxicos são mais absorvida em solos ricos argilas e com baixa quantidade de água.

Segundo Bologna, (2003) os teores de argila e areia e a calagem são os factores que mais
influenciam a adsorção e lixiviação de Boro. Um aspecto importante a se considerar em estudos
de adsorção é a grande afinidade existente entre o Boro e os hidróxidos de ferro e de alumínio.

Os resultados de análises laboratoriais ilustrados na (tabela 3) quantidade do bórax absorvido


aumenta quanto maior for a profundidade. Sendo que os solos de Manica são basicamente
argilosos vermelhos óxidos ou castanhos avermelhados, no horizonte B apresenta maior
acumulação de argila e matéria orgânica e outros minerais que quem possuem grande afinidade
com o Boro. Nestas circunstâncias o bórax apresenta baixo potencial da contaminação no solo
devido a maior quantidade de matéria orgânica e argila e minerais com grande afinidade com o
Boro, sendo assim a substância será lixiviado facilmente sem contaminar o solo nem as águas
subterrâneas.
30

CAPITULO VI: CONCLUSÕES E SUGESTÕES

6. Conclusões
A partir do estudo do comportamento do Bórax no solo deste estudo conclui-se que:
A mineração artesanal de ouro no Distrito de Manica constitui uma importante fonte de
renda das comunidades locais. Constitui uma alternativa de emprego para a juventude
impossibilitada de continuar os estudos nos níveis médios e superior. Atrai milhares e milhares
de imigrantes internos e estrangeiros (muitos como ilegais) para regiões mineiras dos distritos de
Manica. Por isso empregam a técnica por escavação subterrânea se olhar nos riscos ambientais
tais como: degradação das terras, poluição da água e minas não desenterradas.
A mineração artesanal é a causadora de imensos problemas no meio ambiente e na saúde
pública. A erosão dos solos, a poluição e assoreamento dos rios apresentam níveis inaceitáveis
que reclamam uma acção urgente de todos actores. Com o assoreamento e poluição dos rios os
agricultores que usam sistemas de irrigação sente-se ameaçado.
O Bórax apresenta alto potencial de lixiviação, pode ser absorvido facilmente nos solos
ricos em matéria orgânica e argilas. Sua absorção aumenta com um aumento da profundidade,
sendo levemente maior na camada superficial, já que a mesma possui maior teor de matéria
orgânica em relação à outra.

O Bórax mostrou-se fracamente retido, apresentando menor risco de contaminação em


solos com alto teor de matéria orgânica e argilas. De acordo com as características dos solos de
Manica o Bórax pode ser usado como método alternativo ao mercúrio devido seu baixo potencial
de contaminação no solo, também sendo usando com frequência pode aumentar a quantidade do
Bora no próprio solo e aumentando o desenvolvimento das plantas.

6.4. Sugestões

O aprofundamento deste estudo, pois não foi avaliado o potencial de contaminação por Bórax
nas águas e sedimentos.
Para redução de contaminação do meio ambiente sugere-se avaliação do comportamento de
qualquer substância no local a ser implementado antes de promover.
31

6.5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ALMEIDA, Marcelo Domingues. Biogeoquímica do mercúrio na interface solo-
atmosfera na amozonio.tese apresentada ao curso de pós-graduação geociências da
universidade federal flu-minse,Niteroi, 2005.
2. ATKINS. P. W, SHRIVER. D. F. Química Inorgânica, 3ª edição, São Paulo,2003.
3. BAZIMA, V. M et al. Manica Province Strategic Development Plan (PEDPM) 2011-
2015. Manica, Moçambique.
4. BELTRÃO, A. Ficha de Informações De Segurança de Produtos Químicos, Rio de
Janeiro,2010.
5. BOLOGNA Isabela Rodrigues. Adubação Boratada, São Paulo, 2003.
6. DAMAS, G. B; Bertoldo, B; Costa, L. T. Mercúrio: da Antiguidade aos Dias Atuais.
Rev. Virtual Quim., 2014.
7. DENIASSE, Olavo Alberto. A problemática ambiental da mineração artesanal em
Manica-Moçambique: proposta de solução. 1ª Edição ethale publishing Lda. Maputo,
2020.
8. DENIASSE, Olavo Alberto. A problemática ambiental da mineração artesanal em
moçambique: um desafio para o sector da EDUCAÇÃO, Vol. 1 | Nº. 8| Beira,
Moçambique 2017.
9. FEIJÓ, João; IBRAIMO, Momade, mineração artesanal em Moçambique – cenário far
west e propostas de mudança, DESTAQUE RURAL Nº 26, 2017.
10. DAMAS, Bruno et al. Mercúrio: da Antiguidade aos Dias Atuais, Rev. Virtual Quim.,
2014.
11. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008.
12. JENSEN, J. R. Sensoriamento Remoto do Ambiente. São José dos Campos, SP:
Parêntese, 2009.
13. KRISTENSEN AK, THOMSEN JF; MIKKELSEN S A review of mercury exposure
among artisanal small-scale gold miners in developing countries, Bolivia, 2014.
14. LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Maria de Andrade, Metodologia científica.2ªed.
rev. Ampli. São Paulo. Atlas. 1991.

15. LOBATO L.M. & COSTA M.A. Recursos minerais de minas gerais – ouro Brasil, Belo
Horizonte 2017.
32

16. LUCHINI, L. C; ANDRÉA, M. M. Dinâmica de Agrotóxicos no Ambiente.). Programa


de Defesa Ambiental Rural - Textos Orientadores, Brasília, DF, BRA, 2002
17. MACHAVA, Castigo David. Modelagem dinâmica do desmatamento na Província de
Manica – Moçambique. Belo Horizonte, 2020.
18. MARCHESE, L. Sorção/dessorção e lixiviação dos agrotoxicos ametrinas em solos
canavieiros tratados com lodo de esgoto. Dissertação (Mestrado em Ciências)
Universidade de São Paulo, 2007.
19. MARTINAZZo, R et al. Sorção de agro-tóxicos e estimativa do potencial de
contaminação. Química Nova, 2011.
20. MICOA. The National Report on Implementation of Convention on Biological Diversity
in Mozambique. Mozambique. 2008.
21. OLIVEIRA, M.F E BRIGHENTI, A.M. Comportamento dos insecticidas no ambiente.
Editora Omnipax, Curitiba, PR, BRA. 2011.
22. OLIVEIRA, Ana Lúcia Cebola, Exposição Ocupacional a Mercúrio: Associação com a
Atividade da Paraoxonase Humana e Vitaminas A e E. Instituto Politécnico de Lisboa,
2013.
23. PEDPM. Plano Estratégico de Desenvolvimento da Província de Manica. Maputo, 2015.
24. PRODANOV, C. C. Metodologia do trabalho Científico: Métodos e Técnicas da
Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. (2nd ed.); Novo Hamburgo - Rio Grande do Sul –
Brasil; 2013.
25. RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3 ed. São
Paulo:Atlas, 2007.
26. ROSOLEM, C.A ; BÍSCARO.T. Adsorção e lixiviação de boro em Latossolo Vermelho-
Amarelo, 2014.
27. SIENA, O. Metodologia da pesquisa científica: Elemento para Elaboração e
Apresentação de Trabalhos Académicos. Porto Velho, 2007.
28. SILVEIRA, Wilson Jonas. Manual internacional fertilidade do solo 3 ed. São Paulo;
1998.

29. Sherran, D. Report on prospecting operation for 1987. Minas Auríferas de Manica.
Manica, Mozambique, 1987
33

30. TINÔCO, Ana Amélia Paulino; et al. Avaliação de contaminação por mercúrio em
Descoberto, MG. Engenharia Sanitária e Ambiental, 2010.
31. WINDMOLLER, C., et al. Distribuição e especiação de mercúrio em sedimentos de
áreas de garimpo de ouro do quadrilátero ferrífero (MG). Química Nova. V.30 nº 5
p1088-1094, 2007.
32. BELTRÃO, A. Ficha de Informações De Segurança de Produtos Químicos, Rio de
Janeiro, 2010.
33. ITC, Estudo sobre a “Mineração Artesanal, Associativismo e Tecnologias Para o seu
Aproveitamento Sustentável, 2010.
34. INE. IV Recenseamento da População e Habitação 2017: Resultados Preliminares.
Maputo. 2018.
35. MAE. Perfil do distrito de Manica Província de Manica. Maputo. MAE/DNAL. 2014.
36. MAE. Ministério de Administração Estatal Perfil do Governo, 2005.
37. UP. Norma para Produção e Publicação de Trabalhos Científicos na Universidade
Pedagógica, Maputo 2009.
38. PORTUCEl. Moçambique, Sistema de Gestão Ambiental e Social-Manica,2014
39. PRODANOV C. C & FREITAS E. C. de. Metodologia do trabalho científico: Métodos e
Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Académico. 2ª Edição. 2013.
34

6.6. APÊNDECES

6.6.1. Formulário de observação

UNIVERSIDADE PÚNGUÈ

FACULDADE DE CIÊNCIAS EXACTAS E TECNOLÓGICAS

Licenciatura em ensino de Química com Habilidades em Gestão de Laboratório

Formulário de observação directa de campo


Data ___________Horas __________Coordenadas___________________________________
2. Local / discrição ________________________
3. Principais técnicas de extracção__________________________________________________
3.1.Técnicas de
Processamento________________________________________________________
____________________________________________________________________________
3.2 Materiais e substâncias usados ________________________________________________
______________________________________________________________________________
3.3.Procedimentos
1.
2.
3.
4.
5.
4.Problemas ambientais na mineração artesanal
Água limpa________ Água poluída___________
Vegetação verde___________ árvores de porte __________
35

Presença das crianças____________ Presença de professores_______________


Presença de mulheres grávidas ____________
Usam materiais de protecção ________________
Respeitam sentido de vento________________
Fazem amálgama _________________________________

6.6.2. Guião de Experiência

UNIVERSIDADE PÚNGUÈ

FACULDADE DE CIÊNCIAS EXACTAS E TECNOLÓGICAS

Licenciatura em ensino de Química com Habilidades em Gestão de Laboratório

Pratica 1: Preparação da solução de CaCl2 para dissolver o bórax

Materiais e Reagentes

 2 Copos de bequer
 Balança analítica
 Água destilada
 Espátula
 CaCl2
 Borax

Procedimentos

 Medir 100ml de água destilada no copo de bequer,

 Pesar 0,14g de CaCl2 em seguida introduz no bequer com água destilada.


36

 Mexe com espátula até CaCl2 se dissolver completamente,


 Transferir 50ml da solução para copo de bequer,
 Pesar 2g de Bórax em seguida introduz no copo de bequer que contem a solução de
cloreto de cálcio
 Mexe até o bórax se dissolver por completo.

Pratica 2: Ensaio de absorção do bórax pelo solo

Materiais e Reagentes.
 Erlenmeyer
 Copo de Bequer
 Balança Analítica
 Espátula
 Bacia ou balbe
 Agitador automático
 Centrifuga
 Espectrofotómetro UV-visível
 Solução Bandit
 Solo

Procedimentos

 Seleccione todas as mostras do ponto Andrade com rotulagem 0-20cm e mistura numa
bacia ou balde,
 Selecciona uma amostra composta,
 Mede 15ml da solução bandit e introduz no erlenmeyer
 Pesar 3g do solo e introduz no erlenmeyer que contem a solução de bandit,
 Leva o erlernmeyer com a mistura do bandit e solo para um agitador automático,
 Após 30 min em 30min num período de 0,25 a 180min ritira do agitador amostra do
liquido sobrenadente num copo de bequer,
 Clarificar o liquido sobrenadente por centrefuga,
 Analise no espectrofotómetro UV-visível no comprimento de onda de 400nm a 700nm,
37

 Para cada série de ensaio zerar a maquina com a técnica de ensaio em branco.

6.6.3.Cálculo do potencial de lixiviação

DADOS Fórmula/Resolução


6.6.3.Cálculos de quantidades do Bórax adsorvida aos solos

6.6.3.1. Concentração do analito em equilíbrio


Andrade Dados Formula/Resolução

0-20cm 0,372
b= 1 cm
= 10 ml
C=?
38

Conversão de gamas para


miligrama

1g……………….1000mg

0,0372………… …….x

X= 37,2 mg

20-40cm 0,128
b= 1 cm
= 10 ml
C=?

Conversão de gamas para


miligrama

1g……………….1000mg

0,0128………… x

X= 12,8 mg

Fenda Dados Fórmula/ Resolução

0-20cm 0,285
b= 1 cm
= 10 ml
C=?

Conversão de gamas para


miligrama
39

1g……………….1000mg

0,0285………… x

X= 28,5mg

20-40cm 0,130
b= 1 cm
= 10 ml
C=?

Conversão de gamas para


miligrama

1g……………….1000mg

0,0130………… x

X= 13,0mg

6.6.3.2. Quantidade absorvida do bórax

Andrade Dados Fórmula/ Resolução


0-20cm ?
= 40 000 ug
= 37,2 mg
= 0,015 l

20-40cm ?
= 40 000 ug
40

= 12,8 mg
= 0,015 l

Fenda Dados Fórmula/ Resolução


0-20cm ?
= 40 000 ug
= 28,5 mg
= 0,015 l

20-40cm ?
= 40 000 ug
= 13,0 mg
= 0,015 l

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