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RESUMO
No contexto económico actual, nacional e internacional, as empresas preocupam-se com a
gestão e transparência dos recursos naturais dos países, em particular, as empresas angolanas,
tem vindo a observar os seus resultados além do prisma da obtenção de lucros e benefícios
individuais, olhando cada vez mais pelo impacto das suas actividades no desenvolvimento
não só económico, mas também social. Adicionalmente, o mercado mineiro internacional
está sofrendo uma reestruturação, fundamentalmente, a transição energética e a corrida em
direção a zero emissões, está criando um aumentou da demanda por 'minerais críticos'.
Compreender o papel que a indústria mineira tem desenvolvido nos níveis atingidos pela
economia angolana, durante o período de 2014 até 2022, constitui o objectivo geral do
presente artigo. A investigação, feita com uma abordagem qualitativa, visa identificar os
impactos da industria mineira, selecionada como estudo de caso, a partir de uma revisão
documental e bibliográfica, bem como, de series estatísticas do sector tanto, no ámbito
nacional como internacional. Constatou-se que a industria mineira angolana, à luz dos
resultados mostrados a finais de 2022, em especial a não petrolífera, tem ainda um
insipiente desenvolvimento pelo que o seu papel na economia do país tem que experimentar
mudanças estruturais a alto impacto.
RESUMEN
Os Autores:
1
Conforme o relatório apresentado pelo Council of foreing Relations , allAfrica, (New York) os problemas de corrupção
que Angola tem enfrentado são a causa fundamental da não incorporação de mais capitais estrangeiros nos investimentos da
actividade mineira. A pesar dos esforços e de ter passado do posto 165 para o 116 no Transparency International`s
Corruption Perceptions Index,, os novos acontecimentos que envolvem altos funcionários governamentais, no sector da
justiça , tem reavivado a discussão sobre a efetividade das medidas tomadas pelo governo do presidente Jõao Lourenço,
Angolans see growing corruption, Government failure to Contail it, (Abril, 2023), allAfrica.com.
derrame de riqueza que impacte na qualidade de vida dos habitantes dessas comunidades e do
país em geral.
O presente artigo visa analisar brevemente o contributo da indústria mineira ao
desenvolvimento económico de Angola, identificando de forma geral as principais variáveis
desse contributo durante o período em estudo e aportando elementos para o crescimento do
sector.
JUSTIFICATIVA
2
Jornal de Angola,
https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/pais-tem-42-minerais-exploraveis-capazes-de-gerar-desenvolvimento/
3
PwC (Price Woterhouse Cuper) RELATÓRIO-solucoes-para-o-sector-diamantifero-angolano (2020)
https://www.pwc.com/ao/mining
CONCEPTUALIZAÇÃO
“As pessoas são a verdadeira riqueza de uma nação,” não apenas como beneficiárias
do Desenvolvimento, mas sobretudo como arquitectos do seu próprio Desenvolvimento4.
Com estas palavras, o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) de 1990 deu início à
convincente defesa de uma nova abordagem ao pensamento acerca do Desenvolvimento.
Portanto, a ideia de que o objectivo do Desenvolvimento deve ser o de criar um ambiente que
possibilite as pessoas desfrutarem de vidas longas, saudáveis e criativas pode parecer, hoje
em dia, evidente em si mesma. Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que o
bem-estar da sociedade se media pelo seu Crescimento Económico. A busca desenfreada pela
industrialização e pelo Desenvolvimento Económico levou a maioria dos países do mundo a
concentrar seus esforços na promoção do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB),
deixando a qualidade de vida em segundo plano. O crescimento económico era visto como
meio e fim do Desenvolvimento.
Desenvolvimento
Segundo OLIVEIRA (2012, p. 127), apesar de ter deixado grandes sequelas, esta
visão sobre o Desenvolvimento, mudou consideravelmente ao longo do tempo: começando
pela ideia de que o investimento de capital equivale ao “crescimento e ao Desenvolvimento,
avançou sucessivamente para o papel do capital humano, para o papel dos mercados e das
políticas, para o papel das instituições e, mais recentemente, para o papel da capacitação
individual e de grupos e do domínio das nações sobre si mesmas”.
O Desenvolvimento Socioeconómico entendido genericamente, como o processo no
qual “o crescimento económico e o Desenvolvimento humano estão interligados em uma
relação de dependência, tornou-se hoje um fenómeno amplamente desejado por toda a
população, visto que a humanidade deseja qualidade de vida, que só é possível quando as
necessidades e desejos passam a ser atendidos adequadamente”.5
Na história da humanidade, o contexto do Desenvolvimento é relativamente moderno,
surgindo no século XX depois da segunda guerra mundial, com a descolonização dos países
até aí colonizados e o consequente aparecimento dos estados nacionais modernos, bem como
os grandes avanços na navegação marítima, que revolucionaram as relações económicas que,
4
PNUD. Relatório de desenvolvimento humano. Edição do 20º aniversário, a verdadeira riqueza das nações: vias para o
desenvolvimento humano. 2010. p. 1. Disponível em:< http://www.undp.org>. Acesso em: 6 Jan. 2023.
5
NAZZARI, Rosana Katia. Capital social, desenvolvimento socioeconômico e cooperativismo. São Paulo.
2003. p. 3.
segundo BRESSER-PEREIRA (2006, p. 1), apud. TAVARES (2009, p. 12) “se constitui num
fenómeno histórico relacionado com o surgimento das nações e com a formação dos Estados
nacionais ou Estados-nação e, ainda com a acumulação de capital, a incorporação do
progresso tecnológico aos factores de produção (capital e trabalho) e a coordenação de
instituições comerciais com os mercados”. Neste cenário, as políticas orientavam-se para um
crescimento elevado do PIB per capita, uma vez que eram visíveis as grandes desigualdades
de desenvolvimento, por um lado entre a Europa e os Estados Unidos que se tinham
industrializado e, por outro, os territórios que tinham sido colonizados, os quais com os seus
recursos naturais, haviam ajudado o crescimento dos primeiros.
Desenvolvimento Local
6
O keynesianismo é uma teoria económica do começo do século XX, baseada nas ideias do economista inglês
John Maynard Keynes, que defendia a acção do estado na economia com o objectivo de atingir o pleno emprego
(Disponível em: <http:// www.economiabr.net/teoria_escolas/teoria_keynesiana.html>. Acesso em: 20 Março.
2023).
7
Disponível em: <http:// blogspot.com/conceitos-e-tipos-de-desenvolvimento.ht>. Acesso em: 6 Jan. 2023.
Para STHOR e TAYLOR (1981), Apud. ANDRADE (1997, p. 19-20), “o
Desenvolvimento local é o Desenvolvimento centrado na ideia de baixo para cima ou o
paradigma desde baixo que tem como foco o Desenvolvimento pleno das potencialidades e
habilidades humanas da sociedade local”, pois pensar em Desenvolvimento local é, antes de
qualquer coisa, pensar na participação da sociedade local no planeamento contínuo da
ocupação do espaço e na distribuição dos frutos do processo de crescimento.
A organização da sociedade local pode transformar o crescimento advindo dos
desígnios centrais em efeitos positivos, ou melhor, em Desenvolvimento para a região. A
região não pode ser vista apenas como um factor geográfico, mas como um actor social,
como elemento vivo, do processo de planeamento estratégico económico. O Estado é quem
estabelece as regras do jogo e a região é a parte negociadora, que deve se inserir nos
mecanismos de decisão para fazer acordos, transacções, dirimir conflitos, por fim, deve ter a
capacidade de transformar o impulso externo de crescimento económico em
Desenvolvimento com inclusão social. A solução dos problemas regionais e, por conseguinte,
a melhoria da qualidade de vida demandam o fortalecimento da sociedade e das instituições
locais, pois são estas que transformarão o impulso externo de crescimento em
Desenvolvimento.
Portanto, falar em Desenvolvimento local, significa falar em diálogo permanente, em
participação efectiva das sociedades locais, pois, caso contrário, estar-se-á sempre
reproduzindo as imagens perversas do “bom civilizado” parasitando o “mau selvagem”. É
fundamental ressaltar que uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades
sem diminuir as perspectivas das gerações futuras.8
No entanto tudo o anterior, o sector também enfrenta fortes desafios, como a falta de
infraestrutura e mão de obra qualificada, além da necessidade de maiores investimentos em
exploração e desenvolvimento. Sendo um dos maiores produtores de diamantes, Angola
9
Fonte: Elaboração dos autores com dados da PwC: Mining, O sector mineiro angolano; British Geological Survey (BSG):
World Mining Data 2008-2022. https://www.pwc.com/ao/pt/industrias/mining.html#sectormineiro
tem-se esforçado para atrair investidores estrangeiros, e tem vindo a implementar importantes
reformas a nível regulatório, bem como, na concessão de incentivos fiscais. Neste sentido,
foram feitas importantes reformas nos últimos anos visando transformar o sector como
um dos maiores contribuintes para a economia angolana, e um dos sectores prioritários na
estratégia de redução da dependência do petróleo, onde se destacam10:
RESULTADOS DA PESQUISA
Nos últimos 100 anos, a demanda pela maioria dos minerais e metais aumentou em
resposta à demanda global. O crescimento populacional e a globalização nos últimos anos,
levou a uma produção sem níveis precedentes para muitos minerais e metais. Particularmente
nos últimos anos, a produção mineira mundial tem experimentado um crescimento constante
como mostra a Figura 1, com dados do ano 2020 da World Mining Data (WMD) 2022.
Desde o ano 2000 ate 2022 a produção de minerais a nível mundial cresceu em todos
os continentes excepto em Europa, como mostra a figura a seguir:
12
Relatório World Mining Data 2020, Volume 37, C. Reichl, M. Schatz, Minerals Production,
Vienna, 2022
período analisado e além, tal o caso da República Democrática do Congo com o Cobalto e de
Botswana com os diamantes e Marruecos con a produção de fosfatos, todos minerais de alta
demanda mundial. As figuras 3,4,5 e 6 mostram o comportamento porcentual da produção de
vários destes minerais no continente africano. Pode-se observar que Angola destaca
solamente na produção de diamantes, com um 14,31 % da produção mundial registrada.13
Figura 3.
Participação
porcentual dos
países de Africa na
produção de
Cobalto
(2014-2021=
Figura 4.
Participação
porcentual dos
países de Africa
na produção de
Cobre
(2014-2021)
13
World Mineral Statistics Data, British Geological Survey; https://www2.bgs.ac.uk/mineralsuk/statistics
Figura 5. Participação porcentual dos países de Africa na produção de diamantes 2014-2021
14
OCDE Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico
ano 1994 , não obstante, possui reservas comprovadas de vários dos minerais considerados
essenciais, os que, além das contribuições petrolíferas e diamantíferas constituem uma forte
potencialidade para o comercio regional e o posterior desenvolvimento do país.
A importância do desenvolvimento da industria mineira angolana fica fora de toda
dúvida, só a modo de exemplo, no curto prazo a perspectiva da produção do cobre é definida
dentro de um ambiente macro económico global, pressionado pelos altos preços da energia, a
inflação e a crescente probabilidade de recessão em algumas economias importantes, mas a
longo prazo, a transição energética conduzirá crescimento do consumo, liderado pelos EUA
como demanda de projetos de transição energética15
Dentro do cenário nacional, a industria mineira angolana tem ainda muito a dizer em
quanto a sua contribuição para o desenvolvimento económico e social do país. Iniciando uma
análise resultados médios para os últimos anos (período de 2014 a 2022), pode ser verificada
a exigua participação percentual do sector mineiro não petrolífero dentro do PIB, com um
1% , sendo a extração de petroleo e outros relacionados o de maior aporte com um 27 %
como média. Figura 7.
Figura 7. Participação porcentual por sectores no PIB Nominal. Valores médios do período
2014-2022
15
S&P Global Market Intelligence, FORECAST copper-by-the-numbers-final 2022-2027
Com tudo, resulta importante poner em valor que, no período analisado, a actividade
mineira não petrolífera, experimentou um forte processo de reordenamento e reestruturação,
fundamentalmente para regular a exploração informal de diamantes.
A industria mineira não petrolífera está representada pela exploração de diamantes
com o maior volume de actividade, mas também pela produção e exploração de outros
minerais tanto para a construção civil como para usos industriais, tais como granito e
mármore, dentro das rochas orçamentais, calcários e outros minerais. Durante o período de
2014-2022 a produção tem experimentado um comportamento variável, influenciada
fundamentalmente pelas dificuldades na obtenção de divisas para a aquisição de consumíveis
e equipamentos; acesso as pedreiras em mau estado de conservação; a falta de água e energia
da rede pública, entre outros factores importantes16.
O principal aporte da industria mineira angolana, petrolífera e não petrolífera, ao
desenvolvimento económico do país se enmarca na arrecadação de receitas para o Orçamento
Geral do Estado, de impostos e rendimentos, sendo a produção de diamantes a principal fonte
entre os recursos minerais não petrolíferos.
Figura 8. Curva da participação dos recursos minerais nas receitas do OGE angolano (2014-2022)
16
Anuário Estatístico do Sector dos Minerais e Petróleo, MIREMPET (2020). INE
A figura 8 mostra o ligero crescimento da arrecadação de impostos, para a industria
mineira em particular este está fundamentalmente na actividade petrolífera; em comparação,
os impostos sobre a actividade diamantífera tem experimentado um comportamento irregular
com tendencia decrescente, com uma variação negativa de 12 % entre 2021 e 2022, como se
mostra na tabela No 1.
Figura 9. Participação porcentual dos rendimentos mineiros nas receitas do OGE. (2014-2022)
CONCLUSÃO
A modo de conclusão, a industria mineira angolana está chamada a se converter num
motor mais que relevante para o desenvolvimento da nação, além do papel que já é
desempenhado pelo sector petrolífero.
A existencia de recursos mineiros no solo angolano e a sua exploração de forma
efectiva e eficiente constitui um desafío para o sector, os recursos geológicos e minerais de
Angola constituem um activo estratégico do país e se precisa completar os estudos das
17
O Plano de Desenvolvimento Nacional 2023-2027 ainda não foi aprovado (maio de 2023)
18
PND Industrial de Angola 2025
19
World Explorations Trends 2023 (march, 2023)
reservas existentes e a viabilidade para sua exploração, a captação urgente de capitais e o
empenho para o desenvolvimento das infraestructuras necessárias para a potencialização de
sector a médio e longo prazo.
REFERÊNCIAS
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Ávila, Lucas Veiga et al. (2013. p. 125). A experiência de um conselho regional de desenvolvimento
– Corede – No Estado do Rio grande do sul. Holos, [s.l.], v. 2.
<http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/holos/article/view/1295
Ministerio das Finanzas, Governo de Angola. Resumo Da Receita Por Natureza Económica
https://www.minfin.gov.ao/PortalMinfin/#!/materias-de-realce/orcamento-geral-do-estado/
ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO2014
ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO2015
ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO2016
ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO2017
ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO2018
ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO2019
ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO2020
ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO2021
ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO2022
Ministerio das Finanzas, Governo de Angola. Resumo Da Receita Por Natureza Económica
AGT Mapa de Arrecadação anual (2006-2021)
AGT Mapa de Arrecadação anual (2022-2023)
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https://revistas.ipls.ao/index.php/kulongesa-tes/article/download/209/105/
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Xiaquivuila, Canga (28/9/2021). País tem 42 minerais exploráveis capazes de gerar desenvolvimento.
Jornal de Angola. https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/
APÊNDICES
Apêndice 1
Apêndice 2
Apêndice 3
Apêndice 4
ANEXOS
Anexo 1