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Artigos Técnico-Científicos
Conservação do Cerrado brasileiro:
o método pan-biogeográfico
como ferramenta para a seleção
de áreas prioritárias1
RESUMO
1
O Cerrado abriga uma imensa diversidade
Enviado originalmente em português
2 ja-prevedello@yahoo.com.br
biológica. Já foram registradas no bioma
Artigos Técnico-Científicos 39 Natureza & Conservação - vol. 4 - nº1 - Abril 2006 - pp. 39-57
Jayme Augusto Prevedello - Claudio José Barros de Carvalho
Artigos Técnico-Científicos 40 Natureza & Conservação - vol. 4 - nº1 - Abril 2006 - pp. 39-57
Conservação do Cerrado brasileiro: o método pan-biogeográfico como ferramenta para a seleção de áreas prioritárias
pan-biogeográfico tem sido também ampla- mentadas no passado por eventos vicariantes
mente utilizado na elucidação de padrões de (Craw, 1989; Morrone & Crisci, 1995; Morro-
distribuição de diferentes táxons em diferen- ne, 2004). Os traços generalizados equivalem
tes escalas espaciais (e. g. Croizat, 1952; a componentes bióticos que podem ser orde-
Menu-Marque et al., 2000; Carvalho et al. nados hierarquicamente em um sistema de
2003). Uma terceira aplicação do método, ain- classificação biogeográfica (Morrone, 2004).
da pouco conhecida e valorizada e que é ex- Os pontos de interseção ou proximidade en-
plorada no presente trabalho, é a identifica- tre dois ou mais traços generalizados são cha-
ção de áreas prioritárias para a conservação mados de nós biogeográficos. Os nós biogeo-
(Grehan, 1989; Craw et al., 1999; Morrone, gráficos são interpretados como a representa-
1999; Luna-Vega et al., 2000; Contreras-Medi- ção gráfica de áreas compostas ou híbridas e
na et al., 2001; Mondragón & Morrone, 2004; biológica e geologicamente complexas, onde
Carvalho, 2004). se unem diferentes histórias geográficas e fi-
logenéticas (Craw et al., 1999; Morrone, 2000).
O método pan-biogeográfico enfatiza a im- Em outras palavras, são pontos de confluên-
portância da informação espacial (distribui- cia de biotas de diferentes origens, sendo por
ção geográfica dos táxons) como objeto dire- isso locais de grande complexidade histórico-
to de análise biogeográfica, tratando os pa- biogeográfica e potencial riqueza taxonômica.
drões de distribuição como um dos compo- Os nós biogeográficos representam os verda-
nentes da biodiversidade (Grehan, 1991, deiros hotspots no contexto da Biogeografia,
2000; Morrone, 2000, 2004). A identificação indicando áreas de interesse fundamental
de tais padrões permite, por sua vez, reco- para a conservação da biodiversidade (Craw
nhecer áreas que apresentam, além de alta ri- et al. 1999; Carvalho, 2004).
queza de espécies, importância histórica por
serem pontos-chave na evolução e estrutura- Grehan (1989) defendeu pioneiramente a uti-
ção dos padrões atuais de distribuição da bi- lização da pan-biogeografia com a finalidade
ota (Craw et al., 1999; Carvalho, 2004). Gre- de estabelecer prioridades para a conserva-
han (2000) e Morrone (2000) defendem a ur- ção, na Nova Zelândia. Segundo o autor, a
gência da construção de um “Atlas Biogeo- pan-biogeografia representa uma metodolo-
gráfico” empregando essencialmente o méto- gia superior à correntemente adotada no país
do pan-biogeográfico, que sumarize de for- para aquela finalidade, por (1) se basear em
ma hierárquica os principais padrões de dis- critérios naturais (homologia e monofilia) da
tribuição e centros de diversidade da biota biota, (2) demandar relativamente menos re-
em diferentes escalas espaciais. Tal catálogo cursos, (3) ser empiricamente testável, (4) exi-
subsidiaria ações efetivas e cientificamente gir informações já disponíveis sobre a distri-
embasadas de estabelecimento de políticas e buição dos táxons e (5) permitir que novas in-
prioridades de conservação. formações sobre os táxons sejam rapidamen-
te adicionadas às análises. Morrone (1999),
Metodologicamente, a pan-biogeografia parte analisando padrões de distribuição de cole-
da união dos pontos de distribuição de um tá- ópteros, identificou e hierarquizou áreas pri-
xon (espécie, gênero etc) através de linhas, oritárias para a conservação nos Andes, utili-
respeitando o critério da menor distância ge- zando o método pan-biogeográfico combina-
ográfica possível entre os pontos. Denomina- do à análise cladística. Luna-Vega et al. (2000)
se traço individual ao conjunto de linhas que aplicaram o método com dados de plantas a
unem os pontos de distribuição do táxon, re- fim de definir áreas para a conservação no
presentando a sua área de distribuição atual. México. Ao nível global, Contreras-Medina et
Quando dois ou mais traços individuais se al. (2001) utilizaram simultaneamente áreas
sobrepõem, originam-se os traços generaliza- de endemismo, nós pan-biogeográficos e re-
dos, que representam padrões de distribuição fúgios do Pleistoceno, para identificar áreas
atuais de biotas ancestrais, que foram frag- importantes para gimnospermas, encontran-
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do grande congruência com os hotspots iden- raná. Foram gerados mapas de distribuição das
tificados por Myers et al. (2000). Mondragón espécies através do software de geoprocessa-
& Morrone (2004) propuseram áreas para a mento “ArcView( GIS 3.2a” (ESRI, 1999).
conservação de aves no México através da
pan-biogeografia e índices de complementa- Os critérios utilizados para seleção das espé-
ridade. cies foram endemismo e/ou ocorrência nas
diversas formações do Cerrado. As espécies
No Brasil, a pan-biogeografia nunca foi utiliza- exclusivas de matas de galeria, no entanto,
da com a finalidade de identificar áreas rele- não foram incluídas nas análises, por serem
vantes para a conservação da biodiversidade. em sua maioria componentes mais represen-
tativos da biota da Amazônia e/ou Floresta
No presente estudo buscou-se identificar áre- Atlântica do que do Cerrado (Silva, 1995). A
as prioritárias para a conservação do Cerrado utilização de táxons endêmicos permitiu mai-
brasileiro, utilizando o método pan-biogeo- or detalhamento de padrões de distribuição
gráfico. Quatro etapas foram definidas: (i) intrínsecos ao Cerrado, ao passo que os tá-
identificar traços generalizados na área do xons não endêmicos apontaram relações bio-
Cerrado; (ii) identificar nós biogeográficos, geográficas daquele bioma com outras re-
que apontam áreas prioritárias para a conser- giões, relações essas altamente relevantes
vação; (iii) comparar a distribuição dos nós para o entendimento dos padrões internos ao
biogeográficos à distribuição das unidades de Cerrado (Silva & Bates, 2002).
conservação e (iv) comparar a congruência
entre nós biogeográficos e áreas priorizadas Optou-se por mapear também as demais es-
para conservação por outros autores. pécies congêneres àquelas selecionadas, a fim
de visualizar o padrão de distribuição genéri-
co. Posteriormente, no entanto, foram excluí-
das da análise as espécies pouco informati-
MATERIAL E MÉTODOS vas, interpretadas com as que não ocorreram
no Cerrado e/ou representadas por menos de
Foram obtidos dados de distribuição de espéci- três pontos de coleta, assim como aquelas ex-
es que ocorrem no Cerrado, a partir de extensa clusivas de matas de galeria.
revisão bibliográfica e consulta a bases de da-
dos de coleções científicas como o GBIF (“Glo- A fim de obter maior robustez e poder de ge-
bal Biodiversity Information Facility” - neralização dos resultados, foram obtidos da-
<http://www.gbif.org>), o SpeciesLink dos de quatro grandes “grupos biológicos”
(<http://splink.cria.org.br>) e a coleção orni- distintos: “plantas”, “mamíferos”, “aves” e
tológica do Field Museum (disponível em “insetos”, diferindo das análises pan-biogeo-
<http://www.fieldmuseum.org>). As coorde- gráficas anteriores relacionadas à conserva-
nadas geográficas das localidades de ocorrên- ção, que utilizaram isoladamente apenas um
cia das espécies foram obtidas através do Ca- determinado grupo (Morrone, 1999; Luna-
dastro de Cidades e Vilas do Brasil (IBGE, Vega et al., 2000; Contreras-Medina et al.,
1998), “Biogeomancer” (<http://www.biogeo- 2001; Mondragón & Morrone, 2004).
mancer.org>), “Geobusca” (<http://www.geo-
busca.net/>) e “Global Gazetteer” (<http:// Os registros de cada espécie, pontuados nos
www.fallingrain.com/world/>). A distribui- mapas, foram unidos através do critério de
ção e abrangência do Cerrado foram obtidas a distância mínima, originando traços indivi-
partir de WWF & ESRI (2000). Os dados de dis- duais para cada espécie. A sobreposição dos
tribuição das espécies foram reunidos em um traços individuais das espécies dos diferentes
banco de dados, que encontra-se depositado e grupos indicou os traços generalizados. Nos
disponível para consulta na Biblioteca de Ciên- pontos de interseção ou proximidade de dois
cias Biológicas da Universidade Federal do Pa- ou mais traços generalizados, foram assinala-
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Conservação do Cerrado brasileiro: o método pan-biogeográfico como ferramenta para a seleção de áreas prioritárias
dos os nós biogeográficos (Morrone & Crisci, GIS 3.2a” (ESRI, 1999). Nas áreas revisadas por
1995; Craw et al, 1999). Ramos Neto et al. (2004) a comparação foi efe-
tuada levando-se em conta somente os limites
Os nós biogeográficos identificados foram en- atualizados dos polígonos, enquanto, para as
tão hierarquizados, quantificando-se o número outras áreas, utilizaram-se os resultados origi-
de traços generalizados que os suportavam nais do seminário (Brasil, 1999).
(Craw et al., 1999; Morrone, 2004). Desta forma,
obteve-se ao final um conjunto de áreas priori- RESULTADOS E DISCUSSÃO
tárias hierarquizadas segundo sua importância
para a conservação do Cerrado. O mapa resul- Foram obtidos dados de distribuição de 149
tante foi então sobreposto aos mapas de unida- espécies pertencentes a 23 gêneros, sendo 93
des de conservação do Cerrado (Pádua & Dias, espécies de plantas (oito gêneros), nove de
1997) e áreas prioritárias resultantes do Works- mamíferos (oito gêneros), 11 de aves (quatro
hop Cerrado/Pantanal (Brasil, 1999; Ramos gêneros) e 36 de insetos (três gêneros). Cin-
Neto et al., 2004), para fins de comparação, uti- qüenta e cinco espécies mostraram-se infor-
lizando-se para tanto o software “ArcView( mativas para a análise (TABELA 1), originan-
1. Pine (1973); Schaller (1983); Fonseca & Redford (1984); Stallings et al. (1991); Wilson & Reeder (1993); Cimardi (1996); Voss &
Emmons (1996); Anderson (1997); Hatanaka et al. (1998); Calouro (1999); Cerqueira et al. (2000); Schneider et al. (2000); Silva (2001);
Tomas (2001); Bueno et al. (2002); Cheida (2002); Rodrigues et al. (2002); Santos-Filho & Silva (2002); Maffei & Taber (2003); Ruas et
al. (2003); Santos et al. (2003); Silva & Talamoni (2003); Bueno & Motta-Júnior (2004); Courtenay & Maffei (2004); Rodden et al. (2004);
GBIF (Global Biodiversity Information Facility - http://www.gbif.org).
2. Sick (1984); Negret (1988); Novaes & Lima (1990); Anjos & Graf (1993); Silva (1995); Dário et al. (2002); Silveira & D’Horta (2002);
Pozza & Pires (2003); Ridgely et al. (2003); Donatelli et al. (2004); Franchin et al. (2004); Species Link (http://splink.cria.org.br); Field
Museum (http://www.fieldmuseum.org).
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FIGURA 3. Traços generalizados do grupo dos mamíferos: FIGURA 4. Traços generalizados do grupo das aves: a)
a) Cabassous tatouay + Ozotoceros bezoarticus + Charitospiza eucosma + Cariama cristata + Rhynchotus
Euphractus sexcinctus; b) Chrysocyon brachyurus + rufescens + Caprimulgus parvulus; b) C. cristata +
Cerdocyon thous + Myrmecophaga tridactyla; c) C. thous + Caprimulgus rufus; c) C. cristata + R. rufescens; d) C. rufus +
C. brachyurus; d) C. brachyurus + O. bezoarticus + C. parvulus + R. rufescens; e) C. cristata + C. parvulus; f) C.
Cabassous unicinctus; e) C. brachyurus + Priodontes parvulus + C. rufus. Nós geográficos: 1) c + e; 2) b + c + f.
maximus + M. tridactyla + E. sexcinctus; f) P. maximus + C.
thous + E. sexcinctus; g) C. brachyurus + C. unicinctus; h)
P. maximus + E. sexcinctus; i) E. sexcinctus + C. unicinctus;
j) E. sexcinctus + M. tridactyla + C. brachyurus; k) E.
sexcinctus + C. thous; l) M. tridactyla + C. unicinctus; m)
M. tridactyla + P. maximus. Nós geográficos: 1) a + b + i;
2) d + e; 3) e + f ; 4) e + g + h; 5) a + h + j; 6) k + l.
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TABELA 2. Síntese dos resultados obtidos na análise pan-biogeográfica dos táxons estudados.
* Refere-se aos traços generalizados e nós biogeográficos suportados por duas ou mais espécies de diferentes grupos.
** Observe que os totais não correspondem à simples soma de todos os grupos, já que houve casos de sobreposição total de dois traços
ou dois nós que foram por isso reduzidos a um. Além disso, a sobreposição de todos os traços generalizados revelou outros 13 nós
biogeográficos não mencionados na tabela.
estados, além do Maranhão, são os mais po- Os resultados obtidos demonstram a defici-
bres em unidades de conservação no Cerrado ência do atual sistema de unidades de conser-
(Cavalcanti & Joly, 2002) e, em conjunto com vação do Cerrado, como já constatado por ou-
São Paulo e Mato Grosso, abrigam as meno- tros autores (Dias, 1993; Brasil, 1999; Caval-
res porcentagens de remanescentes (Manto- canti & Joly, 2002; Aguiar et al., 2004). Além
vani & Pereira, 1998). Em Goiás, dos 13 nós de falhar na proteção da biodiversidade em
identificados, dois situam-se no Parque Naci- seus diversos níveis correntemente avaliados,
onal da Chapada dos Veadeiros. Em Minas o sistema não está sendo eficiente na conser-
Gerais, um dos nove nós encontra-se parcial- vação da diversidade histórico-biogeográfica
mente sobre a Área de Proteção Ambiental do bioma. Diversos pontos-chave de estrutu-
(APA) Carste de Lagoa Santa. No Mato Gros- ração dos padrões biogeográficos do Cerrado
so, dos seis nós identificados, somente um en- encontram-se desprotegidos e sob forte pres-
contra-se em área protegida, no Parque Naci- são antrópica. Os nós biogeográficos orien-
onal da Chapada dos Guimarães; outro nó si- tam historicamente traços generalizados
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8a 8b
FIGURA 8. Distribuição dos nós geográficos na área do Cerrado, que indicam as áreas prioritárias para a conservação do bio-
ma. a) distribuição dos nós; b) comparação entre a distribuição dos nós e as unidades de conservação do Cerrado (áreas des-
tacadas em preto); c) comparação entre a localização dos nós e as áreas prioritárias para a conservação do Cerrado obtidas no
Workshop sobre o bioma (Brasil, 1999). Polígonos com traços horizontais: áreas resultantes da revisão de Ramos Neto et al.
(2004). Polígonos com traços verticais: áreas resultantes do Workshop que não foram revisadas.
regionais (Craw et al., 1999), o que significa ogeográfico do Novo Mundo – reflete indire-
que os padrões de distribuição da biota de di- tamente na manutenção em longo prazo da
versas regiões são influenciados pelo que biodiversidade da Amazônia. Da mesma for-
ocorre nesses poucos centros biogeográficos. ma, a conservação dos nós biogeográficos é
Craw et al. (1999) ilustram a importância dos essencial para a manutenção da estrutura es-
nós biogeográficos afirmando que uma políti- pacial da biota de vastas extensões do Cerra-
ca de conservação do Caribe – principal nó bi- do. Os nós biogeográficos são ainda pontos
TABELA 3. Comparação entre a distribuição dos nós biogeográficos e as unidades de conservação (UC) do
Cerrado (Pádua & Dias, 1997) e as áreas prioritárias resultantes do Workshop Cerrado/Pantanal (Brasil, 1999).
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1999). Os resultados aqui obtidos indicam que Em relação à hierarquia de importância entre
tais nós biogeográficos possuem importância os nós biogeográficos, encontrou-se que 22
histórica dentro do Cerrado, sendo pontos de dos 48 nós obtidos são sustentados por dois
confluência de táxons de diferentes origens. traços generalizados, 15 são sustentados por
três traços generalizados, sete são sustenta-
• Mato Grosso do Sul: (1) município de San- dos por quatro traços e quatro são sustenta-
ta Rita do Pardo, com um nó formado pela dos por cinco traços generalizados. Os nós bi-
sobreposição de dois traços generalizados ogeográficos sustentados por quatro ou cinco
de plantas; (2) Campo Grande, um dos nós traços generalizados, que totalizam 11, rece-
mais importantes do grupo das plantas, beram o primeiro grau de prioridade para a
com cinco traços generalizados; (3) Para- conservação do Cerrado (TABELA 4; FIGU-
nhos, área indicada por traços generaliza- RA 9). Cinco destes nós biogeográficos en-
dos de insetos e mamíferos; (4) Ponta Porã, contram-se em unidades de conservação, sen-
com um nó formado por traços generaliza- do três de proteção integral. Oito nós são con-
dos de mamíferos, plantas e insetos; (5) gruentes com os resultados do Workshop (Bra-
Itaporã-Douradina, com traços generaliza- sil, 1999). Dado seu status histórico-biogeo-
dos de aves e plantas. gráfico, as áreas indicadas com maior grau de
prioridade são as mais fundamentais para
• Goiás: (1) Caiapônia, representa um dos conservar o Cerrado, concentrando um exten-
nós mais bem sustentados de toda a análi- so conjunto de traços generalizados de dife-
se, reunindo traços de mamíferos e plan- rentes origens. As áreas indicadas no noroes-
tas; (2) Planaltina, outro nó importante por te da Bahia (nó biogeográfico “2”) e norte e
reunir vários traços generalizados de aves, nordeste de Goiás (nós “4” e “5”) situam-se
mamíferos e plantas. em regiões relativamente bem conservadas,
que oferecem uma das últimas oportunidades
• Minas Gerais: dois nós localizados no mu- ao estabelecimento de grandes áreas protegi-
nicípio de Paracatu, ambos sustentados das (Mantovani & Pereira, 1998; Cavalcanti &
por traços de plantas e mamíferos. Joly, 2002; Machado et al., 2004). Por outro
lado, estratégias de conservação alternativas
• São Paulo: entre os municípios de Altinó-
polis e Brodowski, com traços generaliza-
dos de aves e mamíferos.
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TABELA 4. Caracterização dos onze nós biogeográficos que receberam o primeiro grau de prioridade para a conservação do Cerrado.
* A comparação dos nós 1 a 4, 6 e 7 foi efetuada com as áreas revisadas por Ramos Neto et al. (2004); os nós 10 e 11 foram comparados com os resultados
originais do Workshop (Brasil, 1999).
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devem ser implementadas nas regiões de Cai- rico únicos, pode ser utilizada como mais
apônia (nó biogeográfico “8”), Campo Gran- uma importante ferramenta a favor da con-
de (nó “9”) e centro do estado de São Paulo servação da diversidade biológica, disponibi-
(nó “11”), com ênfase na restauração e cone- lizando para tanto um método robusto, obje-
xão de remanescentes, visto que a cobertura tivo, empiricamente testável, relativamente
vegetal foi quase totalmente suprimida (Man- rápido e de baixo custo. Cabe lembrar que o
tovani & Pereira, 2002). entendimento da trajetória histórica da biota
é essencial quando se objetiva a conservação
em longo prazo da biodiversidade, subsidi-
ando esforços mais concretos de manejo e es-
CONCLUSÕES tabelecimento de políticas e prioridades de
conservação.
A pan-biogeografia atesta a importância his-
tórica de muitas áreas priorizadas para a con-
servação do Cerrado por estudos anteriores,
os quais utilizaram diferentes metodologias AGRADECIMENTOS
de análise, o que reafirma a relevância de tais
áreas. A Elaine Della Giustina Soares (Universidade
Federal do Paraná), Silvio Shigueo Nihei
Dez áreas priorizadas pelo método encon- (Museu de Zoologia da Universidade de São
tram-se em estágio avançado de degradação, Paulo) e Aline Cristina Martins (UFPR) pela
indicando que pontos-chave de estruturação leitura crítica do manuscrito. A Mario Barroso
dos padrões biogeográficos do Cerrado fo- Ramos Neto (Conservação Internacional do
ram ou estão muito próximos de ser perdi- Brasil), pelo fornecimento dos mapas com os
dos. Programas emergenciais de conservação polígonos do Workshop, revisados. Contribui-
devem ser implementados nesses casos, en- ção nº 1623 do Departamento de Zoologia,
volvendo a restauração, conservação e cone- Universidade Federal do Paraná.
xão dos remanescentes, mesmo que exíguos.
Estudos mais detalhados devem ser conduzi- Anderson, S. 1997. Mammals of Bolivia, taxo-
dos nas áreas apontadas pelo método, a fim nomy and distribution. Bulletin of the Ameri-
de definir prioridades em escala espacial can Museum of Natural History 231: 1-652.
mais refinada, permitindo adequar esforços
frente à realidade local de cada região. Anjos, L. dos & Graf, V. 1993. Riqueza de aves
da Fazenda Santa Rita, região dos Campos
A Biologia da Conservação, sendo uma ciên- Gerais, Palmeira, Paraná, Brasil. Revista Brasi-
cia essencialmente multidisciplinar, deve leira de Zoologia 10 (4): 657-664.
agregar contribuições de diferentes fontes do
conhecimento biológico a fim de atingir o ob- Arbo, M. M. 1995. Turneraceae - Parte I: Piri-
jetivo a que se propõe. A pan-biogeografia, queta. Flora Neotropica, Monograph nº 67. The
com seu corpo metodológico e enfoque histó- New York Botanical Garden, New York.
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Conservação do Cerrado brasileiro: o método pan-biogeográfico como ferramenta para a seleção de áreas prioritárias
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