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v a ç ã o 1 3 (2 0 1 5) 35-40
Natureza &
Conservação
Revista Brasileira de Conservação da
Natureza
Apoiado pela Fundação do Grupo Boticário para a Proteção da
Cartas de pesquisa Natureza
ht t p : / / w w w . nat ur eza ec ons erv ac a o. c om. b r
A perda de habitat e a eficácia das áreas protegidas
no hotspot de biodiversidade do Cerrado
Histórico do artigo: O definition de metas de conservação é estratégico para a proteção da biodiversidade e deve
Recebido em 28 de agosto de garantir a representatividade e a persistência dos componentes da biodiversidade. Isto é
2014 espe- cialmente crítico em ecossistemas de rápido desaparecimento, como no Cerrado,
Aceito em 4 de março de 2015 onde as oportunidades de conservação estão diminuindo rapidamente. Avaliamos como
Disponível online 17 de abril diferentes categorias de áreas protegidas (APs) no Cerrado contribuem para alcançar a
de 2015
meta de conservação de 17% defined pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB).
As taxas de desmatamento em áreas de uso sustentável (categorias IV a VI da IUCN) são
Palavras-chave: similares àquelas fora das áreas protegidas, indicando que elas não são adequadas para
CDB garantir a proteção da biodiversidade. Por outro lado, as UCs rígidas exibem significantly
Objetivos de menos desmatamento e devem formar a maior parte do conteúdo alvo. Como as UCs
conservação rígidas representam apenas 3% do Cerrado, o Brasil está longe de atingir a meta de 17%
Gerenciamento do defined pela Convenção sobre Diversidade Biológica. Medidas urgentes para a criação de
desmatamento UCs rigorosas no Cerrado são necessárias para garantir a representatividade e a
Biodiversidade persistência de sua biodiversidade visível.
Savana
© 2015 Associac¸ão Brasileira de Ciência Ecológica e Conservac¸ão. Publicado por Elsevier
Região neotropical
Editora Ltda. Todos os direitos reservados.
∗ Autor correspondente em: Departamento de Zoologia, Universidade de Brasília (UnB), 70910-900 Brasília, DF, Brasil.
Endereço eletrônico: renatatafrancoso@gmail.com (R.D. Franc¸ oso).
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http://dx.doi.org/10.1016/j.ncon.2015.04.001
1679-0073/© 2015 Associac¸ão Brasileira de Ciência Ecológica e Conservac¸ão. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos
reservados.
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Material e métodos
Resultados
Brasil Pará
Maranhão 5ºS
Cerrado
Piauí
Tocantins 10ºS
Bahia
Mato Grosso
15ºS
Goiás
Minas Gerais
Lenda
São Paulo Rio de
Áreas Protegidas Integrais Áreas
Janeiro
Protegidas de Uso Sustentável
Área de
Paraná 1:25.000.000
Desflorestament
o Hidrográfico
0 250500 Km 25ºS
N
Vegetação nativa do
Cerrado
Fig. 1 - Área desmatada no Cerrado brasileiro e suas áreas protegidas (Proteção Integral em marrom; Uso Sustentável em
amarelo).
não-expropriadas (p < 0,001) PA (Tabela S2). Nenhuma das à jurisdição estavam dependentes do uso: o desmatamento
outras comparações de pares foi significant. em torno de PIs federais era significantly mais baixo que em
O desmatamento no buffer de 10 km variou significantly torno de PIs estaduais ou municipais, SUs estaduais ou
com jurisdição, expropriação, assim como a interação entre municipais, e SUs federais (p < 0,04 em todos os casos, Tabela
jurisdição e uso (Tabela S2). O desflorestamento foi signifi - S2). Nenhuma das outras comparações de pares foi significant.
pouco mais alto em torno de áreas expropriadas do que Comparando o desmatamento dentro e fora das UCs,
áreas não expropriadas (Tabela 2; Tabela S2 p < 0,001). O também observamos um menor desmatamento dentro dos
desmatamento foi signifi - menor em torno das UCs estaduais parques federais e EE e parques estaduais. Todas as outras
ou municipais (p = 0,006 e p = 0,004, respectivamente; categorias de UCs mostraram diferenças nãosignificant entre
Tabela S2; Tabela 2). Não obstante, as diferenças no o desmatamento interno e externo (Tabela S3).
desmatamento em torno das UCs de acordo com a Tabela S2.
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Tabela 1 - Número, tamanho e porcentagem de cobertura natural para cada categoria de área protegida no Cerrado, de acordo
com a jurisdição e uso.
Jurisdição Remanescente Use Categoria N Área (ha) Cobertura Remanescente
(%) (%) (%)
Federal 88.60 IP EE* 5 1,112,149 0.55 0.54
(49) (22) PARK* 15 2,891,980 1.42 1.39
REBIO* 1 3,449 0 0
RVS 1 128,049 0.06 0.06
SU FLONA* 7 29,023 0.01 0.01
(27) APA 11 1,457,864 0.71 0.45
RESEX 6 81,621 0.04 0.03
ARIE 3 2,312 0 0
Restante (%) = porcentagem de área não afetada pelo desmatamento; Cobertura (%) = porcentagem do bioma Cerrado coberto por cada categoria;
IP = proteção integral; SU = uso sustentável; EE = estação ecológica; REBIO = reserva biológica; RVS = refúgio de vida selvagem; FLONA = for- est
nacional; APA = área protegida ambiental; RESEX = reserva extrativa; ARIE = área de interesse ecológico relevante; MN = monumento natural; RDS
= reserva de desenvolvimento sustentável.
∗ refere-se às categorias que prevêem a expropriação de terras.
1.E+07
90 A B 54.0%
27.4% 27.0%
80
8.E+06
70
60 18.9%
6.E+06
50
24.4%
40
4.E+06
9.5% 9.5%
30
7.7%
20 2.E+06 9.2% 9.1%
10 2.4%
0.8%
0 0.E+00
Federal Estado Municipal Federal Estado Municipal
Fig. 2 - Número (A) e área (hectares) (B) de áreas protegidas do Cerrado (SU em cinza escuro, IP em cinza claro) em diferentes
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jurisdições.
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conservação do Cerrado.
De acordo com nossos resultados, não há disputa se os
PAs de gerenciamento mais restritivo sem ocupação
humana (Proteção Integral) são mais eficazes para a
Conflicts de interesse
conservação da biodiversidade. Ainda assim, estas categorias
estão claramente perdendo terreno para os UCs que
Os autores declaram não ter interesse em conflicts.
permitem muitas formas de uso humano. Embora alguns
autores concordem que as pessoas podem promover a
proteção ambiental através do uso sustentável da
biodiversidade (Adams, 2005), especialmente quando os
usuários de recursos naturais estão envolvidos na decisão
pro- cess (Ostrom e Nagendra, 2006), a presença humana nas
UCs aumenta o desmatamento e as taxas de fire,
promovendo a perda de habitat (Nepstad et al., 2006).
Assim, as políticas de conservação devem basear-se em
argumentos que tenham uma base ecológica (Peterson et
al., 2005).
Estima-se que 15-29% da Terra será protegida em 2030,
mas a maioria dos PAs serão projetados para uso humano
(McDonald e Boucher, 2011), com diferentes graus de perda
de biodiversidade. Isto se origina de questões ideológicas e
políticas, combinadas com os interesses pessoais dos
gerentes públicos, políticos e tomadores de decisão. Os PAs
projetados para uso sustentável são menos desgastantes
politicamente, mas a maioria tem altos custos associados à
perda da biodiversidade e serviços ambientais associados,
que em última instância levam ao empobrecimento das
comunidades locais (Andam et al., 2010).
Argumentamos que a criação de UCs que são inefficient
na proteção da biodiversidade de áreas de alta prioridade é
uma caligrafia sem sentido. Como as UCs são a pedra angular
de todas as estratégias de conservação da biodiversidade,
investir na seleção, projeto e gestão dessas áreas só faz
sentido se houver uma chance razoável de que elas
continuem a fornecer proteção da biodiversidade e serviços
ecológicos no futuro (Leverington et al., 2010). Embora as
áreas protegidas sejam o quadro mais importante - trabalho
para a conservação da biodiversidade (Margules et al., 2002),
é evidente que os esforços do governo brasileiro para a
conservação do Cerrado estão longe de ser os ideais. A
criação de novas PI federais é necessária, uma vez que são
mais eficazes na pré-desmatamento (Carranza et al., 2013),
mesmo considerando
ameaças reais.
Cerca de 15% do território brasileiro está sob algum tipo
de proteção (McDonald e Boucher, 2011). Entretanto, as UCs
estão distribuídas de forma muito desigual entre os diferentes
biomas (Barr et al., 2011). Isto poderia reflect diferenças nas
metas anteriores da CDB (30% para a Amazônia, e 10% para
outros biomas), mas a Amazônia Brasil- ian não é um hotspot
de conservação (Myers et al., 2000). Há um grande
desequilíbrio nos esforços de proteção entre os biomas Brasil-
ian, sendo o Cerrado um dos menos protegidos (Barr et al.,
2011). Entretanto, o Brasil tem a responsabilidade global de
proteger seus hotspots, ou seja, a Mata Atlântica e o Cer- rado
(Rylands e Brandon, 2005), especialmente porque ambos
estão quase inteiramente restritos ao território brasileiro.
Nosso findings indica que o investimento na criação de
UCs no Cerrado deve ser direcionado principalmente para
IPs federais, especialmente aqueles que exigem expropriação,
como parques, REBIOs e EEs. Os parques nacionais também
promovem o turismo ecológico, portanto ben- efiting
comunidades locais e sociedade, e são muitas vezes
grandes, contribuindo mais efetivamente para a
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Leverington, F., Costa, K.L., Pavese, H., Lisle, A., Hockings, M.,
Agradecimentos 2010. Uma análise global da eficácia da gestão de áreas
protegidas. Ambiente. Gerenciar. 46, 685–698.
O GRC agradece à CAPES, CNPq e FAPDF pelo apoio do financial. Locke, H., Dearden, P., 2005. Repensando as categorias de áreas
O RBM foi apoiado por uma bolsa de pesquisa do CNPq. protegidas e o novo paradigma. O ambiente. Conserv. 32, 1–
10.
Margules, C.R., Pressey, R.L., Williams, P.H., 2002. Representando a
Apêndice A. Dados complementares biodiversidade: dados e procedimentos para identificação de
áreas prioritárias para conservação. J. Biosci. 27 (4 Sup. 2), 309-
326.
Dados suplementares associados a este artigo podem ser McDonald, R.I., Boucher, T.M., 2011. Desenvolvimento global e o
encontrados, na versão on-line, em futuro da estratégia das áreas protegidas. Biol. Conserv. 144,
doi:10.1016/j.ncon.2015.04.001. 383–392.
Myers, N., Mittermier, R.A., Mittermier, C.G., et al., 2000.
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