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Larissa Capeleto de Souza1*, Elaine Cristina Alves Pereira2, Erika Flauzino Silva
Vasconcelos3, Wendry Maria Paixão Pereira4
1
Discente do curso de Fisioterapia, Universidade de Taubaté-UNITAU, Taubaté-SP
2
Doutor, Docente do curso de Fisioterapia, Centro Universitário FUNVIC-UniFUNVIC, Pindamonhangaba-SP
3
Mestre, Docente do curso de Fisioterapia, Centro Universitário FUNVIC-UniFUNVIC, Pindamonhangaba-SP
4
Doutor, Docente do curso de Fisioterapia, Universidade de Taubaté-UNITAU, Taubaté-SP
*Correspondência: wendrypaixao@gmail.com
_______________________________________
RECEBIMENTO: 15/07/20 - ACEITE: 29/07/20
Resumo
A Disfunção Sexual Feminina é definida como a situação em que o indivíduo não consiga concretizar uma relação
sexual ou que seja insatisfatória para si e/ou para o seu companheiro. Sua caracterização se dá pela alteração no desejo
sexual, aversão, transtornos da excitação e orgasmo, dispareunia e vaginismo. A disfunção sexual é prevalente entre as
mulheres ocasionando impacto na qualidade de vida. De modo que vale destacar o papel da fisioterapia urogenital no
alívio das dores e preparo do assoalho pélvico. O objetivo deste estudo foi discorrer sobre a atuação do fisioterapeuta no
tratamento da disfunção sexual das mulheres. Trata-se de uma revisão sistemática nas bases de dados PEDro e Pudmed
estruturada com os elementos da PICO (P=Paciente, I=Intervenção ,C=comparação, O=Outcomes), estratégia de busca
baseada em evidência. A pergunta norteadora da pesquisa foi quais são as melhores evidências do tratamento
fisioterapêutico nas disfunções sexuais femininas? A pesquisa foi realizada de 15 de junho de 2019 a 15 de outubro,
foram incluídos artigos na língua inglesa com os descritores Physiotherapy, Female Sexual Dysfunction, Women e
Physiotherapy treatment, com delimitação de janeiro de 2014 a outubro de 2019. Para a base PEDro foram
considerados somente artigos com nota acima de sete que são classificados como estudos de alta qualidade. Todos os
artigos selecionados foram submetidos a uma avaliação de qualidade pelo método JADAD. O estudo evidenciou que a
fisioterapia desempenha importante papel no tratamento da disfunção sexual feminina, destacando as técnicas de
massagem, cinesioterapia com o uso de cones vaginais e eletroestimulação.
Abstract
Female Sexual Dysfunction is defined as a situation in which the individual does not have a sexual relationship or is
unsatisfactory for himself and / or his partner. Its characterization occurs by alteration in sexual desire, aversion,
transfer of arousal and orgasm, distribution and vaginismus. Sexual dysfunction is prevalent when women impact
quality of life. So it is worth highlighting the role of urogenital physiotherapy in relieving pain and preparing the pelvic
floor. The aim of this study was to discuss the role of physical therapists in the treatment of women's sexual
dysfunction. This is a systematic review of the PEDro and Pudmed databases structured with PICO elements (P =
Patient, I = Intervention, C = Comparison, O = Results), Evidence search strategy. The guiding question of the research
was what are the best damages to physical therapy treatment in female sexual dysfunctions? A survey conducted from
June 15, 2019 to October 15, included articles in English with the descriptors Physiotherapy, Female Sexual
Dysfunction, Physiotherapy for women and treatment, delimited from January 2014 to October 2019. For the PEDro
database it was considered only articles with a grade above seven that are classified as high quality studies. All selected
articles underwent a quality assessment by the JADAD method. The study showed that physical therapy plays an
important role in the treatment of female sexual dysfunction, highlighting as massage techniques, kinesiotherapy with
the use of vaginal cones and electrostimulation.
Introdução
Método
Resultado
Quadro 1- Artigos sobre o tratamento fisioterapêutico na disfunção sexual feminina (n=13) de acordo com
os achados na literatura.
Autor/ano Objetivo Protocolo Resultados
Lahaie et al. 11 Investigar a dor e a 50 mulheres com O grupo com
(2015) tensão muscular do vaginismo, 50 mulheres dispareunia foi o que
assoalho pélvico com dispareunia, 43 melhor apresentou
diferiam entre o controles. Foram resultados positivos, o
vaginismo e os realizados entrevista grupo do vaginismo teve
portadores de estruturada, teste de melhora somente na
dispareunia. sensibilidade à dor, força
exame ginecológico
(força e resistência).
Submetidas a 12 sessões
com cinesioterapia e
eletroterapia (FES)/
(TENS)
Brotto al. 12 Avaliar protocolo de 10 132 mulheres com Melhora da excitação,
(2015) semanas de fisioterapia diagnóstico de DSF com dispareunia e maior
para o assoalho devido a intervenções por três sensação de orgasmo.
alterações sexuais. meses. Exercícios de
Kegel em 24 sessões de
40 minutos de duração
com uma frequência de
duas vezes por semana.
Quadro 1- Artigos sobre o tratamento fisioterapêutico na disfunção sexual feminina (n=13) de acordo com
os achados na literatura (continuação)
Zoorob Determinar efeitos da 30 mulheres com dor no Ambos os grupos
et al. 13 fisioterapia do assoalho assoalho pélvico tiveram resultado
(2015) pélvica e comparar divididas em dois significativo em relação
injeções de Botox nos grupos, 15 mulheres a diminuição de dor nas
pontos, em mulheres receberam aplicação de relações sexuais.
com dor na relação Botox (duas no período)
sexual. e 15 realizaram
fisioterapia com técnicas
de massagem perineal,
cinesioterapia para o
assoalho e
eletroestimulação por 16
semanas.
Aydin et al.14 Avaliar a eficácia do 42 mulheres divididas Não houve diferenças
(2015) protocolo em mulheres em dois grupos todas significativas entre os
com DSF sem disfunção foram avaliadas. Um grupos placebo e da
anatômica do assoalho grupo seguiu com a eletroestimulação quanto
pélvico ou incontinência eletroestimulação com a lubrificação e
urinária. uma sonda vaginal. Com orgasmo; único item
média frequência (50 com aspecto positivo foi
Hz) com repouso e o a satisfação, sendo maior
outro controle. no grupo da
eletroestimulação.
Vallinga et al. 15 Avaliar se a TENS tem 39 mulheres receberam Resultados favoráveis
(2015 ) um efeito benéfico sobre tens domiciliar (20 com o uso do TENS para
a dor, em mulheres com sessões de 35 minutos de relaxamento da
DSF. duração) duas vezes por musculatura e melhora
semana. Frequência da dispareunia.
(35Hz) com repouso.
Salvatore et al.16 Investigar os efeitos do 77 mulheres tratadas O tratamento com laser
(2016) laser na função sexual e com laser tratadas por 12 foi associado a uma
na satisfação geral com a semanas que melhora significativa da
vida sexual em apresentavam dores, função sexual e da
mulheres. queimação e diminuição satisfação sexual das
da libido. Sessões com mulheres
aplicação pontual por 15
minutos.
Morin et al. 17 Avaliar a eficácia da 212 mulheres divididas Houve melhora na
(2016) fisioterapia e comparar a aleatoriamente em dois satisfação sexual,
um tratamento com grupos, um grupo orgasmo e diminuição de
aplicação tópica de fisioterapia e o outro dores em ambos grupos
lidocaína durante a noite fisioterapia mais sendo melhor avaliado
em mulheres com DSF. aplicação de lindocaína, no grupo que usou a
durante seis meses. lindocaina.
Fisioterapia incluía
massagem perineal,
realizada por meio do
toque bidigital e
Exercícios de Kegel .
Discussão
O presente estudo teve a finalidade de contração.14 Tal técnica tem como função o
discorrer sobre a atuação do profissional fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico,
fisioterapeuta na disfunção sexual feminina. Os bem como aumento da consciência de contração. 15 O
artigos que compõem esta revisão evidenciaram que uso da eletroestimulação por meio da corrente TENS
a intervenção do fisioterapeuta ainda é pequena tem efeitos positivos para tratamento da dor vulvar e
19
quando se trata das disfunções sexuais. Entretanto, relaxament
com grande resolutividade. A cinesioterapia ou exercícios de Kegel, são
A fisioterapia é tida como uma área nova no utilizados para reforçar o controle da musculatura do
campo da sexualidade, e por meio dos recursos e assoalho pélvico e consistem na realização de
técnicas pode trazer benefícios principalmente para exercícios voluntários envolvendo a contração e
as mulheres. O tratamento fisioterápico é visto de relaxamento simultâneo, podendo ser combinados à
baixo custo, pois melhora a força e resistência do respiração diafragmática.18,21 A técnica é capaz de
assoalho pélvico e promove alívio da dor pélvica proporcionar diversos benefícios, dentre eles,
e/ou abdominal.14 Aveiro et al.24 citaram diversos aumentar a consciência perineal, equilíbrio e
recursos como a eletroterapia, terapia manual, controle do assoalho pélvico, melhora da
biofeedback e massagens perineais. O intuito maior performance sexual, incremento da vascularização
é, no entanto, proporcionar uma vida sexual pélvica, aumento da lubrificação vaginal e
saudável às mulheres. excitação.17,23
Os principais objetivos da fisioterapia nesta A massagem perineal tem sido recomendada
área são: a sensibilização e propriocepção dos para aumentar a flexibilidade da musculatura pélvica
músculos, a conscientização da contração e e dos tecidos perivaginais, com o intuito de reduzir a
relaxamento muscular, normalizar o tônus muscular, ocorrência da dispareunia.17 É uma técnica simples, a
aumentar a elasticidade na abertura vaginal, sua execução é feita pela própria mulher. No Brasil
dessensibilizar áreas dolorosas, e diminuir o medo ainda é pouco difundida, realizada por meio do
na penetração vaginal. toque bidigital do fisioterapeuta a fim de alívio de
Os principais recursos adotados são: o uso dor, diminuição dos pontos gatilhos da musculatura
de cones vaginais que têm como objetivo promover e melhor conscientização de contração muscular. 13 A
a melhora na força muscular e resistência, por meio massagem perineal promove um relaxamento e
do recrutamento das musculaturas pubococcígenas. alongamento progressivo da MAP e dos tecidos da
Atuam promovendo o aumento da conscientização entrada vaginal, útil para os casos em que é
da contração da musculatura do assoalho pélvico. 23 necessária a facilitação na abertura do canal vaginal,
Os cones possuem cargas estimadas, que variam de como nos casos de vaginismo. 13
20 a 70 gramas, e devem ser usados de maneira Sobre a atuação do fisioterapeuta na
específica respeitando a individualidade de cada disfunção sexual os 13 artigos encontrados
paciente. Conforme se obtém as evoluções, é ratificaram como principais recursos a massagem
recomendado realizar o aumento gradual da carga. 23 perineal, a cinesioterapia para o assoalho pélvico,
eletroestimulação pélvica, uso de cones vaginais e o
O Biofeedback é um método que consiste em biofeedback. Os estudos incluídos nesta revisão
trabalhar na reeducação muscular, por meio de um abordaram sobre esses recursos e técnicas.
efeito modulatório atuante no sistema nervoso Lahaie et al.11 investigaram a presença da
central. Realiza-se a introdução do aparelho no canal dor e da tensão muscular do assoalho pélvico no
vaginal, oferecendo assim, além do feedback verbal, vaginismo e na dispareunia. Participaram 143
um feedback visual, em que a paciente é capaz de mulheres que foram submetidas a sessões de
ver no aparelho o momento de contração e eletroestimulação intravaginal com sonda anal,
relaxamento. 20 A técnica é vista como utilizaram a corrente TENS/ FES intercaladas por 12
desenvolvimento da percepção corporal e controle sessões, os pesquisadores obtiveram melhora na dor
voluntário do assoalho pélvico. e na força muscular. Muito provavelmente em
Já a Eletroestimulação é um método no qual decorrência do recrutamento das fibras musculares
ocorre a colocação intravaginal de um eletrodo com dos tipos I e II, além de melhorar a propriocepção,
cerca de sete centímetros de comprimento e 2,5 de contribuindo para contrações mais eficazes. Dados
diâmetro, cuja frequência varia de dez a 50Hz, semelhantes aos dos estudos de Schmitt et al.20 e
porém, em alguns casos, pode-se aplicar os eletrodos Schvartzman et al.,21 que por meio da força da
na região do músculo tibial anterior. 11 A corrente Musculatura do Assoalho Pélvico (MAP)
elétrica é ajustada de maneira em que a paciente promoveram maior satisfação e menos dores.
possa senti-la confortavelmente durante a fase de
-7. DOI:
al.21 ainda descreveram que no caso do vaginismo, 10.1590/S0101-60832006000300006
podem ser recomendados associado a massagem
métodos manuais com a finalidade de desativar os 5. Abdo CHN. Oliveira Junior WM, Moreira ED,
Fittipaldi JAS. Perfi
pontos gatilhos. Um método a ser realizado é
resultados do Estudo do Comportamento Sexual
(ECOS) do brasileiro. Rev Bras Med.
comprime manualmente 2002;59(4):250-7.
Salvatore et al.16 investigaram os efeitos do 6. Burri A, Hysi P, Clop A, Rahman Q, Spector TD. A
laser na função sexual e na satisfação geral com a genome-wide association study of female sexual
vida sexual em 77 mulheres. Elas foram tratadas por dysfunction. PLoS One. 2012;7(4):e35041. DOI:
12 semanas com aplicação pontual por 15 minutos. 10.1371/journal.pone.0035041
Foi o único artigo que descreve a utilização do laser,
entretanto, houve melhora significativa da função 7. American Psychiatry Association. Diagnostic and
Statistical Manual of Mental disorders - DSM-5.
sexual e da satisfação sexual das mulheres.
5th.ed. Washington: American Psychiatric
Esta pesquisa apresenta limitações devido a Association, 2013. DOI:
atuação fisioterapêutica nas DSF ainda ser pouco 10.1176/appi.books.9780890425596
difundida na população, com escassas publicações.
Além da decisão metodológica do estudo de estudo 8. Cabral PU, Canario AC, Spyrides MH, Uchoa SA,
incluir somente artigos de duas bases de dados, Eleuterio Junior J, Gonçalves AK. Determinants of
embora atualmente as bases escolhidas sejam as sexual dysfunction among middle-aged women. Int J
mais relevantes da área da saúde e da fisioterapia. Gynaecol Obstet. 2013; 120: 271-274. DOI:
10.1016/j.ijgo.2012.09.023
Conclusão
9. Blümel JE, Chedraui P, Baron G, Belzares E,
Bencosme A, Calle A, et al. Sexual dysfunction in
Os artigos encontrados apresentaram middle-aged women: a multicenter Latin American
resultados positivos da atuação da fisioterapia, todos study using the Female Sexual Function Index.
os artigos ratificaram que a fisioterapia possui papel Menopause. 2009;16(6):1139-48. DOI:
relevante no tratamento das disfunções sexuais, 10.1097/gme.0b013e3181a4e317
embora ainda esta atuação seja escassa. O estudo
evidenciou que a fisioterapia desempenha 10.
importante papel no tratamento da disfunção sexual
de mulheres destacando as técnicas de massagem,
cinesioterapia (exercício de Kegel), terapia manual e
11. -
o uso de cones vaginais e eletroestimulação tendo Andersen M, Binik YM. Can fear, pain, and muscle
efeitos positivos no orgasmo na melhora da tension discriminate vaginismus from
dispareunia, satisfação sexual e a libido. dyspareunia/provoked vestibulodynia?: implications
for the new DSM- 5 diagnosis of genito-pelvic
Referências pain/penetration disorder. Arch sex behav.
2015;44(6):1537-50. DOI: 10.1007/s10508-014-
0430-z
1. Aslan E, Beji NK, Gungor I, Kadioglu A, Dikencik
BK. Prevalence and risk factors for low sexual 12. Brotto LA, Sadownik LA, Thomson S, Dayan M,
function in women: a study of 1,009 women in an Smith KB, Seal BN, et al. A comparison of
outpatient clinic of a University Hospital in Istanbul. demographic and psychosexual characteristics of
J Sex Med. 2008;5(9):2044-52. DOI: 10.1111/j.1743- women with primary versus secondary provoked
6109.2008.00873.x vestibulodynia. Clin J Pain. 2015;30(5):428-35. DOI:
10.1097/AJP.0b013e31829ea118