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PIBIFSP PROJETO DE PESQUISA

TÍTULO DO PROJETO:

ANÁLISE DOS SINAIS DE UM SENSOR ELETROMAGNÉTICO PARA DETECÇÃO E


MONITORAMENTO DE TRINCAS EM COMPONENTES MECÂNICOS
Área do Conhecimento (Tabela do CNPq): 3 . 1 2 . 0 3 . 0 2 - 7

1. RESUMO

As falhas de dispositivos mecânicos complexos costumam levar a paradas


indesejadas. Boa parte destas falhas ocorre devido à fadiga mecânica, que é um
fenômeno caracterizado pelo aparecimento e propagação de trincas em um
componente mecânico sujeito a cargas variantes, as quais diminuem
gradativamente a resistência até a ruptura. Visando reduzir os custos e aumentar a
confiabilidade, é necessário o desenvolvimento de técnicas que permitam a
detenção e o monitoramento de trincas em posições estratégicas dos componentes
mecânicos, especialmente em seu estágio inicial. Na etapa anterior de 2020, um
sensor eletromagnético baseado nas correntes de Foucault, visando à detecção da
nucleação e o monitoramento da propagação de trincas, foi construído e testado a
partir da concepção de dos Santos (2018). Testes foram realizados numa máquina
INSTRON, modelo 8801, em corpos de prova compactos C(T) de alumínio
aeronáutico 7075-T651. Como resultado, um volume razoável de dados foi gerado,
os quais irão requerer a aplicação de técnicas especiais de análise de sinais que
levem em conta, inclusive, se tratar de um sistema não-linear e variante no tempo,
que é a proposta deste trabalho.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Materiais metálicos são comumente utilizados em muitos ramos industriais de


máquinas, estruturas e equipamentos. Eles possuem uma estrutura policristalina ou
multigranular, sendo que suas propriedades mecânicas podem ser manipuladas
pela adição de elementos de liga, ou mesmo por meio de tratamentos térmicos ou
mecânicos (CALLISTER; RETHWISCH, 2012).
As falhas de componentes mecânicos metálicos, em geral, são precedidas de
trincas. Fundamentalmente, a fadiga mecânica é um fenômeno decorrente da
aplicação de cargas variantes no tempo, as quais geram esforços localizados que, no
início, são geralmente de intensidade menor do que o limite de escoamento do
material. Tais esforços estimulam a nucleação e a propagação de uma ou mais
trincas, causando a ruptura e produzindo uma superfície fraturada semelhante ao
de uma fratura frágil (SHIGLEY et. al., 2005).
No estágio I da Fig. 1, em locais de maior concentração de tensão, um
carregamento variante pode causar distorções na grade cristalina, favorecendo o
aparecimento de bandas de deslizamento ao longo dos contornos dos grãos e
provocando o surgimento de deformações plásticas localizadas (TU; ZANG; 2016).
Ao longo tempo, novas bandas de deslizamento se agruparão, causando o
aparecimento de trincas microscópicas chamadas de micro trincas. Após, a micro
trinca poderá se estender de 3 a 5 grãos. O local da nucleação também pode estar
associado a fatores como presença de bolhas do processo de fundição, arranhões ou
oxidação superficiais, ou pontos de solda (SHIGLEY et al., 2005).
No estágio II, a propagação da trinca tem início e causa a deterioração
progressiva da resistência mecânica do componente. Esta propagação poderá
ocorrer tanto através dos grãos que oferecerem menor resistência (intragranular),
ou através dos contornos dos grãos (intergranular) (MEYERS; CHAWLA, 2009).
No estágio III, um novo avanço da trinca provoca a ruptura do componente, o
que ocorre quando a distribuição de tensões no interior do material atinge um nível
crítico. Em materiais metálicos, quanto maior a temperatura mais facilidade a trinca
terá para se nuclear e propagar (MEYERS; CHAWLA, 2009).

Figura 1. Representação dos estágios de nucleação e de propagação da trinca.

Quando uma corrente elétrica flui por um fio condutor, ela gera um campo
magnético, o qual pode ser intensificado por meio da construção de bobinas. Quando
estas bobinas são aproximadas de um material condutor de eletricidade tal como
fibra de carbono ou metal, o campo magnético irá induzir correntes elétricas
chamadas de parasitas ou de Foucault. Tais correntes elétricas tendem a percorrer
circuitos fechados no interior do material, gerando seu próprio campo magnético
secundário que irá se contrapor ao campo magnético principal. Tal fenômeno é
modelado pela chamada Lei de Faraday-Lenz dada pela Eq. (1), a qual estabelece
que a intensidade da força eletromotriz, e(t), induzida no material, que provoca a
corrente de Foucault, será proporcional à taxa de variação do fluxo magnético
líquido, ΦB, pela área delimitada pelo perímetro fechado percorrido pela corrente.
Assim, a indutância da bobina (e a sua impedância) também é alterada. O sinal
negativo indica que a distribuição das tensões elétricas induzidas irá produzir
correntes elétricas que darão origem a campos magnéticos que se oporão ao campo
principal (CATTANI; VANNUCCI, 2014).

𝑑Ф𝐵
𝑒(𝑡) = − (1)
𝑑𝑡

Santos (2018) propôs um sensor para monitoramento do comprimento da


trinca composto por duas bobinas: uma interna excitadora de diâmetro menor e
perfil mais alto e uma bobina sensora de diâmetro maior e perfil mais baixo, como
mostrado na Fig. 2, ambas montadas em uma base polimérica de Teflon.
Diferentemente das demais configurações, não há conexão entre as duas bobinas,
sendo que o acoplamento entre elas é apenas magnético. A bobina excitadora teve
zo = 5,00 mm, le = 15,50 mm, de = 10,00 mm, com 74 espiras de fio AWG 32 (de =
10,40 mm). A bobina teve ls = 3,50 mm e ds = 24,00 mm, com 29 espiras também de
fio AWG 32 (Ds = 24,81 mm). O perfil alto da bobina excitadora permite um maior
número de espiras, enquanto que o perfil baixo da bobina sensora favorece o fluxo
magnético devido às correntes de Foucault predominantemente na superfície do
metal. O sensor é colado à superfície do metal somente pela região alinhada à base
da bobina excitadora de diâmetro De.

Figura 2. Sensor eletromagnético proposto por Santos (2018).

A Fig. 3 apresenta o diagrama do circuito elétrico do sensor de Santos (2018)


com as bobinas excitadora Le e sensora Ls acopladas magneticamente. Há dois
circuitos: o circuito da bobina excitadora à esquerda e o circuito da bobina sensora
à direita cuja corrente é nula devido à alta impedância de entrada do voltímetro, Is =
0 mA. Já a corrente senoidal aplicada na bobina excitadora Ie = 30 mA @ 1 MHz, onde
RL é um resistor de carga e Vs(t) a tensão induzida na bobina sensora que representa
o sinal de interesse ao monitoramento da trinca. No espaço do tempo, a função de
resposta deste sistema é dada pela Eq. (2), onde Mes é a indutância mútua entre as
bobinas, Ie o módulo fixo da corrente de excitação,  a frequência angular fixa e t o
instante de tempo. Portanto, a presença da trinca afeta as correntes de Foucault que
afetam Mes, sendo, portanto, que Vs é diretamente proporcional a Mes.

Figura 3. Circuito elétrico do sensor.

𝑉𝑠 = 𝑀𝑒𝑠 ∙ 𝐼𝑒 ∙ 𝜔 ∙ cos⁡(𝜔𝑡) (2)

Santos (2018) realizou simulações baseadas na Análise pelo Método dos


Elementos Finitos (FEA) utilizando o software COMSOL Multiphysics 4.4. Para isso,
considerou as normas da ASTM E399-12 e E647-13, as quais tratam da Tenacidade
à Fratura e da Propagação de Trincas em materiais metálicos, respectivamente. As
normas foram escolhidas por estabelecerem condições de teste para o sensor.
Assim, num domínio tridimensional, foi tomado um corpo de prova compacto C(T)
de alumínio com largura W = 50,8 mm e espessura B = 12,7 mm, as garras e os pinos
de aço da máquina de ensaios, e o sensor foi assumido como afixado à superfície do
corpo de prova como previsto para ocorrer nos testes experimentais.
Este trabalho representa uma continuação de vários outros. Em 2017, com o
apoio por meio de bolsa PIBITI/CNPq, foi realizada a análise micro gráfica e a
caracterização de amostras de alumínio da chapa da qual já foram fabricados os
corpos de prova, os quais serão utilizados neste estudo (PRANDI, 2017). No mesmo
ano e também com apoio por meio de bolsa PIBITI/CNPq, foi desenvolvido e testado
um sistema de monitoramento do comprimento de trinca ocasionada por fadiga
mecânica a partir da aquisição e do tratamento de imagens digitais (DA SILVA,
2017). Como dito, em 2018, por meio de simulações baseadas no Método dos
Elementos Finitos, foi proposto um sensor eletromagnético para detecção e
monitoramento do comprimento de trincas ocasionadas por fadiga mecânica, o qual
foi o resultado principal de dissertação de mestrado (SANTOS, 2018).
O registro de patente, junto ao INPI da concepção do sensor proposto por
Santos (2018), foi solicitado pela Agência de Inovação do IFSP (INOVA) em janeiro
de 2020 sob número BR1020200011340.
Mais recentemente, de Oliveira (2020) construiu o sensor proposto, além de
um circuito transdutor cujo diagrama em blocos é mostrado na Fig. 4. Ele é composto
por: um oscilador em ponte Wien, o qual compõe uma fonte de corrente na
configuração Howland pump, gerando a corrente de excitação Ie(t) mostrada na Fig.
4, um amplificador de entrada de alta impedância para Vs(t), além de um retificador
de onda completa e um filtro-ativo passa-baixas. Portanto, transdutor tem saída DC
proporcional ao sinal Vs(t) do sensor eletromagnético, o qual é adequado para a
entrada de um sistema de aquisição de dados.

Figura 4. Diagrama em blocos do circuito transdutor (DE OLIVEIRA, 2020).

Também na etapa de 2020, foram realizados testes deste sistema de medição


em uma máquina INSTRON, modelo 8801, em corpos de prova compactos C(T) de
alumínio aeronáutico 7075-T651. Como resultado, um volume de dados foi gerado,
os quais irão requerer a aplicação de técnicas especiais de análise de sinais que
levem em conta, inclusive, se tratar de um sistema não-linear e variante no tempo.

A análise baseada na chamada transformada de Hilbert-Huang (HHT) é


adequada para sinais de sistemas não-lineares e variantes no tempo (HUANG; SHEN,
2005). Ela foi proposta inicialmente para se estudar ondas do oceano. Nela, a
primeira etapa consiste em decompor o sinal original em um número finito de
funções características. Este processo é conhecido como decomposição de modo
empírico ou Empirical Mode Decomposition (EMD), onde cada modo de oscilação de
baixa e de alta frequência é extraído do sinal original. Cada modo de oscilação é
chamado de função de modo intrínseco ou intrinsic mode function (IMF) (SHI; LUO,
2003). Neste processo, primeiramente se identifica todos os máximos locais do sinal
complexo original, X(t). Depois, “conecta-se” todos os máximos locais ao longo do
tempo, por meio do processo chamado de “peneiramento” ou sifting, através do qual
uma função obtida por interpolação polinomial cúbica, obtendo-se o envelope
superior de X(t), esup(t). Em seguida, se repete o mesmo procedimento para com os
pontos de mínimo locais, obtendo-se o envelope inferior de X(t), einf (t). Assim, os
envelopes superior e inferior devem “envelopar” todo o sinal X(t). A média entre
esup(t) e einf(t), Eq. (3), é designada como m1(t), enquanto a diferença entre x(t) e
m1(t) é um versão ainda preliminar da primeira IMF, Eq. (4) (SHI, LUO, 2003,
HUANG; SHEN, 2005).

𝑒𝑠𝑢𝑝 (𝑡)⁡+⁡𝑒𝑖𝑛𝑓 (𝑡)


𝑚1 (𝑡) = (3)
2

ℎ1 (𝑡) = 𝑋(𝑡) − 𝑚1 (𝑡) (4)

É comum que ℎ1 (𝑡) não seja tomada como uma IMF. Assim, no próximo passo
o processo de “peneiramento” é repetido partindo de ℎ1 (𝑡). Após k repetições,
ℎ1𝑘 (𝑡) se é tomada como sendo a primeira IMF, isto é, c1(t) = h1k(t):

ℎ1𝑘 = ℎ1(𝑘−1) (𝑡) − 𝑚1𝑘 (𝑡) (5).

Há quatro critérios de parada propostos na literatura para as k vezes em que


o processo de peneiramento é repetido (WIKIPEDIA, 2020a), sendo que o mais
utilizando é baseado no cálculo de um desvio padrão, SD1k, como na Eq. (6) (HUANG;
SHEN, 2005), onde T é o período de duração de X(t). Sendo que o processo de
peneiramento é interrompido quando SD1k é menor do que um valor pré-
estabelecido, e a primeira IMF c1(t) = h1k(t).
2
∑𝑇
𝑡=0|ℎ1(𝑘−1) (𝑡)−ℎ1𝑘 (𝑡)|
𝑆𝐷1𝑘 = ∑𝑇 2 (6)
𝑡=0 ℎ1(𝑘−1)

Na próxima etapa, determina-se o chamado resíduo de c1(t) como:

𝑟1 (𝑡) = 𝑋(𝑡) − 𝑐1 (𝑡) (7).

Partindo de r1(t) no lugar de X(t), toda a etapa de peneiramento é repetida e,


assim, é obtida a segunda IMF, e o mesmo ocorre para as demais até que o resíduo
rn(t) seja considerado como desprezível (HUANG; SHEN, 2005). Assim, como
resultado de todo esse processo:

𝑋(𝑡) = ∑𝑛𝑖=1 𝑐𝑖 (𝑡) + 𝑟𝑛 (𝑡) (8).

Depois do processo de decomposição e obtenção das n IMF, a próxima etapa


consiste em aplicar a transformada de Hilbert a cada uma. Dessa forma, uma
distribuição tempo-frequência de X(t) pode ser obtida extraindo-se componentes
instantâneos de frequência como resultado de cada IMF, 𝑐𝑖 (𝑡). Para isso, parte-se da
definição da transformada de Hilbert-Huang no espaço temporal contínuo que, para
a i-ésima IMF, é definida como:
1 ∞ 𝑐𝑖 (𝜏)
𝑐̂(𝑡)
𝑖 = 𝜋 ∫−∞ 𝑑𝜏 (9).
𝑡−𝜏

Em coordenadas cartesianas e polares, respectivamente, pode-se escrever:

𝑧𝑖 (𝑡) = 𝑐𝑖 (𝑡) + 𝑗𝑐̂(𝑡)


𝑖 = 𝑎𝑖 (𝑡). 𝑒 𝑗𝜃𝑖 (𝑡) (10),

onde 𝑎𝑖 (𝑡) = √𝑐𝑖 (𝑡)2 + 𝑐̂(𝑡)


𝑖
2 , 𝜃 = 𝑡𝑎𝑛 −1 [𝑐
𝑖 ̂(𝑡)/𝑐
𝑖 𝑖 (𝑡)] e 𝑗 = √−1. Assim, a chamada
frequência instantânea, já que ela é uma função do tempo, é definida como (HUANG;
SHEN, 2005):

𝜕𝜃𝑖 (𝑡)
𝜔𝑖 (𝑡) = (11)
𝑑𝑡

Partindo-se da Eq. (4), aplicando-se a HHT às n componentes IMF, ci(t),


obtém-se a Eq. (10). As Eq. (10) a (11) permitem calcular cada ai(t) e i(t) de cada i-
ésima IMF.

𝑋(𝑡) = 𝑅𝑒{∑𝑛𝑖=1 𝑎𝑖 (𝑡)𝑒 𝑗 ∫ 𝜔𝑖 (𝑡)𝑑𝑡 } + 𝑟𝑛 (𝑡) (12)

Dos termos da Eq. (10), o chamado espectro de Hilbert é definido como na


Eq. (13) (WIKIPEDIA, 2020b), sendo que a frequência instantânea i, em rad/s, pode
ser também representada por fi = i/2. em Hz.

𝑎 (𝑡)⁡𝑠𝑒⁡𝜔 = 𝜔𝑖 (𝑡)
𝐻(𝜔, 𝑡) = ∑𝑛𝑖=1 𝐻𝑖 (𝜔, 𝑡) com 𝐻𝑖 (𝜔, 𝑡) = { 𝑖 (13)
0⁡⁡⁡⁡⁡⁡⁡⁡⁡𝑠𝑒⁡𝜔 ≠ 𝜔𝑖 (𝑡)

O espectro de amplitude de Hilbert é representado, portanto, por um gráfico


3D de 𝐻(𝜔, 𝑡) versus  e t, enquanto espectro de potência é [𝐻(𝜔, 𝑡)]2 versus  e t. A
potência instantânea é:

𝐼𝐸(𝑡) = ∫𝜔 [𝐻(𝜔, 𝑡)]2 𝑑𝜔 (14).

3. OBJETIVOS

O objetivo principal é o seguinte:

“Analisar os sinais gerados durante os testes com o sensor eletromagnético baseado


nas correntes de Foucault, o qual teve arquitetura idêntica àquele proposto por
Santos (2018), visando à detecção da nucleação e o monitoramento da propagação
de trincas por fadiga mecânica. ”

Portanto, o trabalho sendo proposto vêm no sentido aprimorar a tecnologia


tendo em vista a sua futura cessão.

Os objetivos específicos são:

1. Revisar a literatura acerca da Mecânica da Fratura, com foco na nucleação e


na propagação de trincas em placas metálicas devido à Fadiga Mecânica;
2. Revisar a literatura acerca do processamento e da análise de sinais baseadas
na transformada de Hilbert-Huang, que é adequada a sistemas não-lineares
e variantes no tempo, como é o caso do sistema estudado;
3. Rever os procedimentos experimentais adotados por de Oliveira (2020);
4. Propor uma metodologia para conversão dos sinais do sensor em valores de
comprimento da trinca, tendo em vista o uso do clip gauge durante os testes;
5. Elaborar uma estratégia para processamento e para a análise dos sinais,
como foco tanto nas funções de modo intrínseco quanto na análise dos
espectros de Hilbert, procurando identificar parâmetros que possam indicar
a detecção da nucleação da trinca;
6. Implementar, em etapas, algoritmos no MATLAB para o processamento dos
sinais e para a geração de resultados;
7. Analisar os sinais tendo em vista tanto a detecção quanto o monitoramento
do comprimento da trinca ao durante os testes, deste a etapa de propagação
até a ruptura dos corpos de prova.

4. MATERIAIS E MÉTODOS

A Fig. 5 apresenta um diagrama da bancada experimental. Tem-se um corpo


de prova C(T) entre as garras de uma máquina de ensaios servo-hidráulica da marca
INSTRON, modelo 8801, com capacidade de até 100 kN, que lhe aplica esforço cíclico
na direção axial. Ao longo do tempo, ocorre a nucleação e a propagação a partir da
boda do entalhe concentrador de tensões. O sensor eletromagnético encontra-se
colado à placa metálica pela região de fixação em indicada em azul, na base da
bobina excitadora, posicionando-o sobre a região da trinca. Ele está ligado por cabos
blindados ao transdutor, o qual gera o sinal de corrente para a bobina excitadora e
condiciona o sinal de tensão da bobina sensora, e o envia para o sistema de aquisição
de dados (DAC) da marca National Instruments, modelo DAQ NI-USB 6008 ligado ao
microcomputador. Assim, foi possível registrar os sinais gerados pelo sensor ao
longo de cada ensaio.

Figura 5. Diagrama da bancada experimental.

Neste trabalho, se propõe utilizar a análise baseada na (HHT) (HUANG; SHEN,


2005). As análises podem ser realizadas sob diferentes aspectos: (1) com base nos
sinais decompostos do sinal original, chamadas de funções de modo intrínseco
(IMF); e (2) com base nos na potência ou energia do sinal e nos espectros de Hilbert.
Há vários trabalhos na literatura que apresentam estudos baseados na HHT como
em diferentes áreas do conhecimento. Como exemplo mais próximo deste trabalho,
tem-se aquele de Lin e Chu (2012). Os autores analisaram sinais de sensores de
emissão acústica (AE) em eixos sujeitos a fadiga mecânica a 3200 rpm ou 53,3 rps.
Para a detecção, eles compararam as IMF, a fração de energia total de cada IMF os
espectros de Hilbert de sinais do eixo saudável e já com a presença da trinca. A Fig.
6 apresenta uma amostra de 0,2 ms dos sinais analisados pelos autores.

(a) (b)
Figura 6. Sinais de AE: eixo saudável em (a) e trincado em (b) (LIN; CHU, 2012).

A Fig. 7 apresenta os espectros de Hilbert das amostras dos sinais da Fig. 6,


respectivamente, indicando, no eixo vertical a frequência em kHz e no eixo
horizontal o tempo em ms. A legenda indica a energia do sinal, da mais alta em
vermelho rubro até a mais baixa em azul escuro. Claramente, nota-se distinções
entres os dois espectros.

(a) (b)
Figura 7. Espectros de Hilbert: saudável em (a) e trincado em (b) (LIN; CHU, 2012).

No caso do sensor eletromagnético, como a proposta é detectar e também


monitorar o comprimento da trinca, a HHT deverá ser utilizada na etapa de detecção
por meio de comparação de sinais (CDP saudável versus já com uma micro trinca),
o que, evidentemente, dependerá da resposta do sensor, mas também deverá ser
utilizada na análise dos sinais de monitoramento do seu comprimento. Em suma, o
intuito será o de identificar “padrões” que apontem para as transições entre os
estágios I, II e III representados na Fig. 1.
Destaca-se que o desenvolvimento e aplicação baseada na transformada de
Hilbert-Huang, costuma-se utilizar de recursos computacionais e softwares de
cálculo numérico e engenharia tal como o MATLAB®. Destaca-se também que esta
etapa contará com a colaboração do proponente do sensor eletromagnético.

5. PLANO DE TRABALHO

O Plano de Trabalho proposto foi dividido em nove metas a serem cumpridas


em um período de nove meses como consta nas Tabelas 1 e 2.

Tabela 1. Metas estabelecidas para a pesquisa.


METAS DESCRIÇÃO
1 Literatura revisada acerca da Mecânica da Fratura.
Literatura revisada acerca do processamento e da análise de sinais
2 baseadas HHT, inclusive das funções do MATLAB, além da realização de
processamento e análise de sinais conhecidos.
3 Procedimentos experimentais de Oliveira (2020) revistos
Metodologia proposta para conversão dos sinais do sensor em valores
4
de comprimento da trinca.
Estratégia elaborada para processamento e para a análise dos sinais,
5 como foco tanto nas funções de modo intrínseco quanto na análise dos
espectros de Hilbert.
6 Relatório Parcial entrega até 05/07/21.
Algoritmos no MATLAB implementados na forma de scripts, tanto para o
7
processamento dos sinais quanto para a geração de resultados.
Sinais analisados, tanto tendo em vista tanto a detecção quanto o
8
monitoramento do comprimento da trinca.
9 Relatório Final entrega até 30/11/2021.

Tabela 2. Cronograma proposta para cumprimento das metas.


MESES
METAS MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV
1
2
3
4
5
6
7
8
9

6. VIABILIDADE DE EXECUÇÃO

O trabalho deverá ser realizado nas dependências do câmpus São João da Boa
Vista do IFSP, onde há toda a infraestrutura, inclusive uma Biblioteca com cerca de
150 títulos nas áreas de Mecânica dos Sólidos, Sinais e Sistemas e Sensores, além de
acesso à Base Capes de Periódicos. O câmpus também possui a licença do software
MATLAB 2014. Portanto, toda a estrutura para este trabalho está à disposição.
7. RESULTADOS ESPERADOS E DISSEMINAÇÃO

Dependendo dos requisitos do processo de patenteamento, os resultados


deverão ser publicados por meio de artigos em periódicos de grande circulação,
além do apontamento de diferentes desdobramentos para a pesquisa na área.
Também será considerada a participação dos envolvidos em eventos nacionais e
internacionais, o que for julgado como mais conveniente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALLISTER, W. D.; RETHWISCH, D. Ciência e Engenharia dos Materiais: uma


introdução. 8 ed. São Paulo: LTC, 2012.
CATTANI, M.; VANNUCCI, A. Correntes de Foucault: aspectos básicos. Revista
Brasileira de Ensino de Física, v. 36, n. 2, jun. 2014.
MEYERS, M. A.; CHAWLA, K. K. Mechanical Behavior of Materials. 2 ed. New York:
Cambridge University Press, 2009.
DA SILVA, M. R. Desenvolvimento de um Sistema Baseado na Aquisição e no
Tratamento de Imagens para Identificação e Acompanhamento de Trinca
Ocasionada por Fadiga Mecânica. Relatório de Iniciação Científica do
PIBITI/CNPq, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo,
2017.
DE OLIVEIRA, K. B. Sensor Eletromagnético para Detecção e Monitoramento de
Trincas devido à fadiga Mecânica em Materiais Metálicos. Relatório de Iniciação
Científica do PIBIFSP, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São
Paulo, 2020 (em elaboração).
HUANG, N. E.; SHEN, S. S. P. Introduction to the Hilbert-Huang Transform and Its
Applications. 5. ed. Singapura: World Scientific, 2005. p. 1-24.
LIN, L.; CHU, F. HHT-based AE characteristics of natural fatigue crack in rotating
shafts. Mechanical Systems and Signal Processing, v. 26, p. 182-289, 2012.
PRANDI, G. V. Caracterização de Amostras de Liga de Alumínio 7075-T651
visando a realização de Ensaios de Fadiga Mecânica segundo as Normas ASTM
E399-12 e ASTM E647-13. 2017. Relatório de Iniciação Científica do PIBITI/CNPq,
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, 2017.
SANTOS, R. G. Modelagem de um Sensor Eletromagnético para Monitoramento
do Comprimento de Trincas Ocasionadas por Fadiga Mecânica em Materiais
Metálicos. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) - Instituto Federal de
São Paulo. São Paulo, 192 p., 2018.
SHIGLEY, J. E.; MISCHKE, C. R.; BUDYNAS, R. G. Projeto de Engenharia Mecânica. 7
ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
SHI, C-x, LUO, Q-f. Hilbert-Huang transform and wavelet analysis of time history
signal. ACTA Sesmologica Sinica, v. 16, n 4 p. 442-429, 2003.
TU, S-T.; ZHANG, X-C. Fatigue Crack Initiation Mechanisms. In: Reference Module
in Materials Science and Materials Engineering, London: Elsevier, p. 1-23, 2016.
WIKIPEDIA. Hilbert-Huang transform. Disponível em:
<https://en.wikipedia.org/wiki/ Hilbert%E2%80%93Huang_transform>. Acesso
em 20 setembro de 2020a.
WIKIPEDIA. Hilbert Spectrum. Disponível em:
<https://en.wikipedia.org/wiki/Hilbert_spectrum#cite_note-Hilbert-
Huang_Transform_and_Its_Applications-1>. Acesso em 20 de setembro de 2020b.

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