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QUE
SIGNIFICA AMAR?
Tomás Melendo
QUADRANTE
Titulo original
el
tras las huellas de
Aristoteles
am
C o m p r e n d e r
Capa
José C. Prado
lustração da capa
Casal elegante em interior 2,
de Pio Ricci (-1919); coleção particular
CDD-248
06-7122
sistemático:
Indices para catálogo
Cristianismo 248.
Vida crist :
1. Amor :
a
reservadosS
direitos
Todos os Publicaçoes750
de F a x : 3 6 7 3 - 0 7 5
Fax:5619*
Sociedade
-
QUADRANTE, 3873-2270
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Paulo
Rua lperoig, 05016-000
São
CEP
i n f o @ q u a d r a n t e . c o m . b r /w w w . q u a d r a n t e
INTRODUÇÃO
- , nhos
nossos dias parece ter-se
perdido o próprio sentido do
amor, o seu significado mais alto e mais autêntico.
Já não sabemos o que
significa amar. A própria pa-
lavra foi desvirtuada, se não
dias, o vocábulo "amor"
prostituída. Nos nossos
designa com freqüëncia uma
3
espécie de
sentimentalismo
satisfazer sequer os
ou
emotivismo difuso
mole, incapaz de nobres
de um adolescente. Ou entãoreremete para a pura anseios
gia, como na envilecida e malfadada frase biolo. Diolo
amor". tão distante do seu signif+cado fazer
conquistar uma pessoa ou de fazer-he nobred dede original
corte, ou ainda desse outro, maravilhoso e mais a
4
I. QUERER O BEM PARA OUTRO
a) querer
b) o bem,
c) do outro enquanto outro.
Um breve comentário de cada um destes compo-
nentes nos situará na estrada adequada
para começar-
mos a compreender a natureza do amor.
1. QUERER
5
de. Mas nós sabemos
que o amor não
que, em sentido forte e se
nossa pessoa. O amor profundo, amamosesgota
esoo
ta nisso, r
abrange: co
desde-
atos mais os
toda a
ção sacrificio pelo sertranscendentes,
e o
amad ou como
conjunto e progressivo daquilo como
que virá a o
a ora-
conjugal e familiar,
- ser projeto
a
vida
passando pelos sentimentos
ressoa e se exterioriza o
nosso
e afetos noS
até as questões
-
carinho. quais
transcendentes, aparentemente mais ínfimas e
como o
empenh por in-
gante e atrativo (ele! e ela, mostrar-se ele
sorrir com amabilidade; a ela e ele!); o esforco o por
nho, mesmo no momentos cariciade
ou o
olhar de cari
ou cansaço ou nervosismo
desalento; ou ainda os pequenoS
nam mais saborosOS que tor- detalhes
entranháveis
descanso em família, que iluminam
e
a volta ao
lar e o
diana com brilhos a
existência coti.
nam e dão vida à fulgurantes
de
entrega, que encar-
íntima e escondida
pais a cada filho ou dedicação dos
dos irmãos e
amigos entre si.
Amamos, pois, com tudo o que
sentimos, podemos, fazemos, temos somos, sabemos,
portanto, também com os nossos e
desejamos (e,
mente tudo. Neste ideais!). Absoluta-
o nosso ser
sentido, amar consiste em derramar
inteiro no apoio e na
rido. promoção do ser que
Mas
amplitude
a
do é tão vasta e
amor
que esse repertório quase infinitoimpossivel
de abarcar
de açoes
a palavra ou o silêncio
tenso ou a
generosa
compreensivos, o trabalho in*
amigos quando andamos disponibilidade para os filhos ou
cuidado da muito escassos de
própria tempo,
aparência ou da casa, com
6 mn
cias freqüentemente quase imperceptíveis, mas sempre
indispensáveis... - só se transforma em amor pleno0,
sincero e provado na medida em que todas essas ativi-
dades sejam "pilotadas" por uma operação da vontade
(o querer), e estejam como que envolvidas ou "imer
sas nesse querer que procura de maneira nobre, fran-
ca e resoluta o bem da pessoa a quem se estima.
Amar, querer: estamos diante de palavras e realida-
des-chave. Pois o amor não se esgota nas disjuntivas
gosto" ou "não gosto", "agrada-me" ou "desagrada-
-me", nem se identifica com o puro e simples "atral
-me", "interessa-me", "apaixona-me".. com que tan-
tos dos nossos contemporâneos, jovens e não täo jo-
vens, pretendem justificar o seu comportamento. No
fim das contas, se considerarmos isoladamente cada
um desses verbos e os absolutizarmos, veremos que
acabam por revelar-se mais próprios dos animais do
que do homem.
Com efeito, os animais movem-se por atração-re-
pulsão, por instintos; buscam o seu bem, estreito, pun-
tiforme e exclusivo, de uma maneira quase automáti-
ca. Gostam daquilo que os beneficia a eles ou à sua
espécie, e rejeitam aquilo que lhes é daninho. São To-
más de Aquino descrevia assim essa realidade: magis
aguntur quam agunt, "mais do que mover-se, são mo-
vidos" pelo objeto externo que os atrai ou repele; mais
do que agir por iniciativa própria, são "levados a
agir",
Já o homem, não. O homem transcende as simples
necessidades biológicas, e é capaz de realizar ações
que não se explicam de maneira nenhuma pelo mero
impulso da sua conservação fisica. Para dizê-lo de al-
gum modo, o homem pode pôr entre parênteses os
seus instintos (melhor seria dizer as suas tendências),
7
e querer e realizar uma ação boa enm s
m
mais que ela nao 0 atraia pessoalmente,sipor mais quepormesma,
por
não lhe agrade nem desperte o seu interesse.
que
desagradee repugne; ou, em sentido contrário e podeIhe ate Ihe
não querê-la nem levá-laa cabo
mesmo que
morrendo" de desejo de realizá-la, se este
esse ato não contribui para o bem dos perceber que
outros.
Uma das alidades que manifestam de mane'
mane.
mais clara a superioridade do homem sobre o
e que os distancia
animal.
infinitamente um do outro, segundo
Pascal é que, deixando de lado os seus gostos e ane.
tites quando as circunstäncias o exigem, o ser
humano
é capaz de conjugar em primeira pessoa o eu quero
ou, se for o cas0, 0 não quero, dotado ås vezes de
muito maior importância antropológica e ética.
Eo que diz também Julián Marías: "Quando nego
que o amor seja um sentimento - identificá-los pare-
ce-me um grave erro, e talvez o mais difundido -, não
nego a enorme importäncia que têm os sentimentos,
incluidos Os amorosos, que acompanham o amor e for
mam como que o séquito da sua realidade central;
esta, porém, pertence a níveis mais profundos"2 da
pessoa: os da vontade.
Também São Josemaria Escrivá comentou ampla-
mente essa realidade, com diversos desdobramentos
que não é possível comentar aqui. Num dos seus textos
mais significativos, depois de deixar claro que o amor
nao se confunde com uma atitude sentimental", per
(2) Julián
Marías, La educación sentimental, Alianza Eaitora la-
drid, 1992, pág. 26.
) São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, Quadrante, São rau
aulo,
2000, n. 230
8
que
diretamente em consiste o amor huma-
gunta-se
Escritura fala-nos de di-
no. E responde: "A Sagrada
bem que
lectio dileção para que se compreenda
sensível. Exprime antes
não se refere apenas ao afeto
Dilectio deriva
uma determinação firme, da vontade.
em lin
de electio, escolha. Eu acrescentaria que 4amar,
guagem crista, significa querer querer.."*
6) Querer querer
9
"querer querer querer querer", e
querer", e
o objetivo desejado5.
assim até
alcançar
querer.. O homem m ultrapaSsa
Amar: querer, querer
infinitamente o animal precisamente medio. mediante
meio do qual supera e excede os e esse
querer por meros
itáa-los, reforçá-los de
sejos, paixões e afetos: pode suscit
contrariá-los segundo Ihe parece conveniente AOu
pois, um ato refinadamente humano, talvez o ma,
mano de todos. E um ato livre e, portanto, intelio hu-
sapientíssimo; decidido, audaze vibrante, fonte de ini
ciativas criadoras, e por isso mesmo libertador e sur
preendente, e por vezes esmagador, muitas vezes cus.
toso, sempre desprendido, generoso, altruísta, liberal.
) No texto
que citei, não deveria
rerquerer é qualificado como amor
passar despercebido que o
que
"em crist. Entre a di-
versas
interpretações que se poderiam darlinguagem
Sugerir duas, que não são de forma a essas
palavras, gosa e
uerer querer" -o autor fala emalguma incompatíveis
outras ocasiões de enrc ac
aEsejosmanifesta
bretudo depois do por um lado a
"desejos i
absoluta impotência da criatur so-
Deus que tudo
pecado original, que por isso chama
chama em sua ajuda o
pode; em
multiplica o vigor e a b)capacidade
simultaneamente, a
elevação
> a graça
natural meramente natural., de agir que a vontadea oru ambito
incrementando ou pondo em mas do modo que Ihe e teria ou seja,
jogo a Sua prop
"quer uerer
sua
10 reflexividade, "querer
o querer"
família normais queiram o melhor para os seus filhos.
No entanto, quando esses pais tentam determinar con-
cretamente o que convém a um filho em determinadas
circunstäncias particulares, a questão já se torna mais
complicada. Que é realmente o bem para esse filho,
aqui e agora?
Mais adiante estudaremos detidamente esta ques-
tão. Por agora, basta apontar dois requisitos concatena-
dos na procura e no oferecimento do autêntico bem:
11
ço
esforço da nossa intelig
gar
principal
o
fundo e descobrirO
cia Por
por co
nhecer essa
pessoa a que mais Ihe
convém.) Estabelece-se assim
m uma espécie de
virtuoso", graças
o alguém ama
qual, quando
ao de Vealguém "circulo
tem de procurar por to
dade outra pessoa,
sua vez,
saiba amar mais e melhor.
meios
que esta,
por a
Podemos dizer, portanto, mesmo que primeira
estranho ou até contraditório,
at
amar eque
parecer
Vista possa equivale aa ensinar aa am
no fim
das contas, amar o amor, a faze
acrescento agora
a facilitar
-
azer-no.
modo de o marido
amar. amar a eSno
melhor
Por isso, o
amavel com ela, no senti.
ser muito
vice-versa) é
sa (e da palavra: no fim das
certeiro e penetrante
do mais a tarefa de amar-nos; é
facilitar a0 cônjuge
contas, é o amor por nós, receber
simples e agradável
tornar-lhe levantar barreiras que
o seu carinho, não
sem entraves
os seus
definitivos desejos de
a sua entrega,
impeçam
unir-se a nós.
reconciliação depois de
hora da
Por exemplo, à enquistarmos na nossa
é não nos
uma pequena briga, do outro,
encontro
abertamente ao
mas sair volte a
posição,
tornar-nos acessíveis e
bem dispostos para que
com a
afeto, e corresponder
depositar em nós o seu
adiantarmo-nos
mesma delicadeza.. ou, melhor ainda,
nós, pedindo-lhe perdão. diária com os
convivência
m e s m 0 acontece na
e co
família restantes amigos
Outros membros da e os
Melendo, Un ses
0 Permito-me remeter, nesta matéria, a Tomás
ro de vida para el matrimonio, em Escritos Arvo, ano XXII, n.4°03
03,
2003, e id., San Josemaria Escrivá y la familia, Rialp, Madri, **
págs. 85-95.
12
nhecidos. Em todas essas circunstäncias, facilitamos o
amor quando nos mostramos francos, próximos e dis-
poniveis. Isto costuma equivaler a estarmos pendentes
dos outros ou, o que é quase a mesma coisa, a não nos
fazermos ásperos, esquivos, distantes... por estarmos
encerrados nos nossos próprios problemas e ocupa-
cões ou entrincheirados nos orgulhosos direitos do
"eu: no "meu... enquanto meu".
De maneira um tanto negativa, e com o dramatis-
mo tão próprio do seu estilo, o poeta Gustavo Bécquer
dizia:
13
todo o ato educativo
A bússola de
b)
amor-
encontrar
de
sem um
esforço perspicaz e compromeidu
todas as
nossas capacidades de
Co e sem
recorrer à nossa conhecimento teorn-
ra, praticamente na experiência de vida indica -
14
esse
idioma; por outro,
imperioSa
estão
outro, estao Os perigos
às vezes notáveis da solidão, da desadaptação e da de-
sorientação que uma estadia fora de casa poderia pro-
vocar, sobretudo nessa idade. Mas estes aspectos ne-
gativos podem ter por sua vez alguns efeitos positivos,
na medida em que contribuam para o amadurecimento
da jovem.
Na realidade, porém, a questão decisiva é outra. O
essencial é que formulemos a pergunta-chave: na si-
tuação animica e de maturidade em que se encontra a
minha filha, a estadia no estrangeiro por um certo
tempo poderá ajudá-la a amadurecer, a crescer em ca-
pacidade de amar, ou, pelo contrário, poderá introdu-
zir no seu desenvolvimento uma deformação que atra-
se por muitos anos o seu crescimento com0 pessoa?
Esta é que é a "pergunta do milhão", e é a ela que os
pais devem responder antes de tomarem qualquer de-
cisão a esse respeito; e para isso é preciso que lancem
mão de todos os recursos da sua inteligência potencia
da pelo carinho, e peçam conselho a pessoas que con-
siderem sensatas e bem informadas sobre o tema.
as minhas avalia-
proporcionar-me: desde melhorar
empresa, até introduzir-me
çoes de desempenho na
o meu progresso
num âmbito social que favoreceria
15
ofereceria
a
o p o r t u n i d a d e
de conseguir umbbom
filho ou um Conhecido
um fil
me
ou
nara um
amores,
consistencia às minhas virtudes humanas e me aproxi,
moda perfeição e da felicidade... Nem sequer por is
so, embora estes aspect0S não devam ser reieitadoe
seria inumano; o que nao devem e ser propostos como
fim expresso e primordial.
Trata-se, pois, de amar o "outro" unicamente
"outro", por ser aquele a quem amamos. E a razão pelo
to é muito clara: dis
porque é pessoa e, só por esse mot-
Vo, merecedor de amor. Ou
pois vem a dar
se ento, preferirmos-
na mesmaDeus o destinou
manter com Ele um colóquioporque
-, a
l6
CONFIRMAR NO SER
11.
momento de começarmos
a responder, dois ca-
No
análise e o da
minhos se abrem diante de nós: o da
sintese.
enveredarmos pelo primeiro, da descrição fo-
o
Se
deve-
tográfica e pormenorizada dos beneficios que
aos amados,
seres a senda torna-se infini-
mos prestar
ås pessoas que es-
ta. Afinal, devo tentar proporcionar
meu alcance, todos
timo, na medida em que esteja ao
neste caso, a minha
os bens que Ihes aproveitem. Mas,
desses
tarefa torna-se interminável, pois o número
bens não tem limite.
Com efeito, que razão teria eu para não oferecer
um bem à minha mulher, aos meus filhos, aos
meus
17
pois, ada outra via, a
intese. E
e
Experimentemos,
se simplifica.
então veremos que a questão
todos os bens do
ser querido se Poderemos
afirmar
no fim das
que
contas, a dois: reduzem,
que essa pessoa seia
alcaSto
m,
isto éé,
ë, que vá
seja boa, isto
que exista, e que ndo a
a sua perfeicão
sua plenitude como pessoa,
ela, aquilo a que hoje chamamos realização o (e, Com
dade). Tudo o que poderíamos desejar de autentica-
mente benéfico para alguém encontra-se
nesses dois propósitos capitais.
englobado
"aplaudir a Deus", em
Vós acertastes a mão!", "Agora
nesta moça, sim,
sois capaz"; "Muito bem,
sim demonstrastes do que
o que Bécquer eternizou,
com pa-
parabéns, bravo!" E
Vi-a e me
lavras mais cultas, no seu verso: "Hoje vi,
a
19
sobre o noss
fluência alguma comportam o.
existe para nós.
ma delas
entro em ca«
nenhu.
Pelo contrário, quando sa ou no
me reúno co
lugar de trabalho, quando um me
amigos a quem - esses sim!-aprecio. todo: grupo de
para minm, despertam
sentimentos e reflo
es, solici.
existem
atençao, moditicam a minha cor
tam a minha
que é a manifestação
mais clara da suan Juta..., o
mim. Noutras palavras, real e
conseqüente diante
a ter detalhes de comportamento materiais levam-me
e
tuais que tornem mais alegres e fecundas as sa
Vi
das..Ou seja, esses, Sim, eu os percebo como reais
A idéia foi muito bem expressa por Juan Ramón
Jiménez, numas palavras que nao só compõem um in.
signe canto à dignidade de qualquer existência huma.
na, mas constituem uma grandiosa exaltação da mater
nidade
"Sempre que voltávamos pela rua de São José
-
Dizé-lo
de
b)
voltarmos a temas
itivos, amor
mais
Mas, para não só nfirma corrobor
ou
indiscutível
o faz
faz comno
com tal
provado,
aquele a
quem
se dirige, mas
Ortega y
Gasset expos
este
mestria,
reproduzimc a seguir dos seus Estu
parágrafo que
no pessoa é estar emna
"Amar uma
dios sobre el amor: não dmitir, na medida em que
nhado em que
exista;
a possibilidade
de um universo do
de nós dependa,
ausente"13,
essa pessoa esteja
qual formular uma ques-
função disso, poderiamos
Em
calado existencial. Poderíamos
tão prática de enorme
de certa forma,
perguntar sobretudo aos esposos (e,
também aos noivos): "Vocë é capaz de conceber a sua
vida sem o seu cônjuge? Você consegue imaginar-se
vivendo com relativa normalidade se ele ou ela vierem
a faltar?"
Não se trata de que você não consiga refazer-se,
com a ajuda de Deus e das restantes pessoas que lhe
querem bem e lhe dão consolo, se por infelicidade vier
a perder o marido ou a mulher; mas de que agora mes-
te. Tentei
mitigar-lhe a dor, mas só o ouvi
e outra vez, com os lábios repetir uma
trêmulos: «E eu, que vou fa-
zer sem a sua me?
Que será de mim se ela morrer?»'
Não é um episódio raro. Mas a
emoção do meu
amigo, décadas depois desse episódio, transmitia-me
com uma força
incomparavelmente mais viva do que
consigo reproduzir aqui a realidade desse amor.
2. COMPROVAÇÃO POSITIVA
23
vinte e cinco, trint ou mais
anos
nial, continua a crescer no
seu
de uniäião matrimo.
amor
só amado e
o ser
parece
apaixonadl
mas tudo o que o rodeia e tudo maravilhoso, exce .não
epcional
o
que existe
brilho, com resplande.
ce com uma luz nova, com um
zes absolutamente desconhecidos uns
fora da mati
m
apaixonado. condiçå ode
E aqui poderiamos recorda um
poemas e canções que manifest sem-número o de
num
prodigio formosura.
de
25
"Em conseqüência, que sou senão aquilo que
1
esperam de mtm os que me amam? Quando a
consciência se fecha sobre si mesma, resseca-se e
atormenta-se; quando se abre ao amor liberta-se
das suas cadeias interiores. Mas a con~ciência só
se abre qua ndo acolhe o amor; assim, no círculo
do amor, a resposta vai mais_longe que o pedido,
e o dom que se recebe, mais longe que o dom
que se faz" 35 •
51
a n [f e st a ç õ e s 111uito c o n c re ta s
b) M
o s . d iz e n d o ,
s d o q u e v im
A s c o n se q ü ê n c ia é m a b u n d a n te s. D es~es~as ul-
ta m b
t Íin a s p á g in a s sã o q emos
a l g u m a s d e la s :
e d e v e rí a m o s se n ti r- n o s in d ig n os
- A p ri m e ir a é q, u ~ 1
.d , p o r e x e m p lo , n a vida
o
0 1 er ec
d o ~mor que nos e n h e c e r q u e u m a d as coisas
u e re c o
co n Ju g al . T e n h o q m a o lo n g o d a m in h a expe-
c io n a ra
q u e m a is m e e m o n a c o n v iv ê n c ia c o m o u tr o s ca-
do e
ri ê n c ia c o m o m a ri z e s, e n ã o só n o c o m e ç o d a vida
v e
sa is fo i q u e m u it a s s d iz ia a o o u tr o : "E u am o
s e sp o so
em comum, um do n d ic io n a lm e n te , e, ao o lh ar
, in c o
v o c ê c o m lo u c u ra e sm o , n ã o c o m p re e n d o co m o é
m
p a ra d e n tr o d e m im a m e "; e a re sp o s ta d o cô n ju g e
me
p o ss ív e l q u e v o c ê ra ç ã o a o a v e ss o : " N ã o , so u eu
a o
c o n si st ia e m v ir a r r v o c ê , e, co n h ec en d o -m e,
ado po
q u e m e st á a p a ix o n a r q u e m e te n h a e sc o lh id o
a c re d it
é -m e im p o s s ív e l
o u e sp o sa ".
p a ra se r se u e sp o so tu d o is to ro m a n ti sm o b ar at o ;
A lg u n s c o n si d e ra
rã o
n ã o h á m u it o te m p o , a o fi n al d e
va ,
er a o q u e p ro c la m a ei so b re o te m a q u e n o s o cu p a,
e d
u m a c o n fe rê n c ia q u e io d iz e n d o : "S e i m u it o b e m as
rv
u m a p e ss o a q u e in te e q u e fi z e ra m a m in h a mulh_er
ho,
q u al id ad es q u e te n C o n fe ss o q u e e ss a in te rv en ça o
!"
e n a m o ra r- se d e m im o d e s e n ti m e n ta li s m o e d e se r
u sa d
- n a q u a l e u e ra a c p ri o B é c q u e r - m e c a u so u u m a
p ró
m ais m e lo so q u e o n ta r a té v in te , p o rq u e a al m a
que co
p en a ,e n o n n e . T iv e e st a ss e a li m e sm o 0
ia m q u e a d m o
~ ª 1in g u a m e p e d re ss ã o "I n fe li z !" E is s o n ã o ems
m a ex p
in o p o rt u n o co
· · m u it o m e n o s d e o fe n sa , m a
to m d e re c n m 1 n aç ã o , o u
e ra in ca p a z d e p e rc e b e r a q u il o
em
p o rq u e p o b re h o m
O
52
ue há de 1nais gratificante no amor: justamente a níti-
da sensação de que não o merecemos!
como afirma Étienne Rey, "para saborear plena-
mente a felicidade, não há nada como sentir-se indig-
no dela". E Marta Btancatisano: "Ser amados quando
somos os heróis ou os primeiros da classe não chega a
dar-nos grande satisfação; mas ser amados quando so-
mos e nos comportamos como uns vermes... ah, isso
sim comove as entranhas do mundo, provoca um as-
sombro capaz de dar nova vida a quem recebe um
amor assim" 37 , injustificado, gratuito.
No amor conjugal, tudo é gratuito. Não há dúvida
de que qualquer p~ssoa merece ser amada pela sua
simples condição de pessoa (também gratuita, fruto da
liberalidade criadora); -mas que alguém. faça de nós o
objeto exclusivo dos seus amores, ou que se obrigue
mediante uma promessa irrevogável a entregar-se a
nós pela vida inteira e lute dia a dia por cumpri-la, nos
momentos de alta e nos de bancarrota, isso ninguém o
pode exigir, pois é o resultado de uma decisão com-
pletamente livre, que pede toda a nossa gratidão.
Embora sejam muitas as razões desta espécie de
contradição que acabo de expor - reconhecermo-nos
reciprocamente indignos do amor que nos é outorgado
-, uma delas consiste muito concretamente em que,
como vimos, aquele que ama não só percebe as perfei-
ções atuais do ser amado, mas toda a plenitude que ele
está destinado a encarnar. Dentro de qualquer casa-
mento autêntico, cada um dos cônjuges ama o outro
mais do que a si mesmo, e por isso também descobre
53
I
e iç ã o in u it o in aior do u
nele u m a perf tr o s p e c q ... e_ o ou tro seria
a r p o r inera in
ca p _a z d e e n x e r g
e s s a perf e iç ã o p o te nc i çf º ' e assim , ma.
:a v il h a d o c o m o r. ª , faz dele o ot,..
J e to d o s e u a m á veis do
fe it o s in e vit l já
- O u tr o d o s e
u é m s e e a m or, ao quab
e mal a lg namorad e d _co re es
a lu d im o s , é q u '.
, rr e s p o n d id o , independentemente } sual1dade,
que e co e s ta d o d e saúde , etc ., 1ormu a um
ã o soc l',_ ia l,
c o n d iç az e r-se m e nos indigno do
, • ,,.J
rbtf!ra p a r a ~ a
propo~1to u e " ! eo I_Jeto. P o r isso, quando escutamos
amor_ e q u e e tr is te a fi rm a ç ã o de que
sy e 1to _ d ~ a lg ~ ma pes_soa a o s e st a r certos de
~e n a vida", p o d e m
n a o foi ~ in g u e m m o u d e v erdade.
m a a sentença de
q u e n1ngue s e n ti d o d e st a
vida, o
E s te é, s e m dú ibui tanto para tornar mau um ho•
contr vavelmente,
Gautier: " N a d a a m a d o " . E , p ro
te r sido era
m e m c o m o n ã o fi rm a ç ã o de Niemeyer: "O amor g
a m-
ta m b é m o d e s ta n a tu re z a rude consegue resistir se
a -
a m o r , e n e m u m m u it ís s im o s homens tivessem rece
Se am
p r e à s u a força. a s u a infância e juventude, ter-se-i
n
b id o m a is a m o r io r grau".
human iz a d o e m m a
ú lt im a s p a la v ra s , conse-
c o m estas
E m consonância da é muitas vezes fruto da cons-
aliza ran-
g u ir u m a vida re s queridos e da confiança inqueblo. -
o
c iê n c ia d e s e rm nos a m a - uma mãe, p o r exemp mo
tável q u e q u e m . e assim faz surgir em nós . (Antocon-
..
deposita e m n ó sum d o s mais eminentes filósofos gra-
Millán-Puelles, petia n a intimidade, com convictaa _na
temporâneos, re ha chegado a s e r alguma coismae,
tidão, que, s e m tin a o c a rin h o da sua
e boa m e d id a
vida, devia-o e c o n fi a n ç a : " Meu fi lh o ,
que o incentivém ava cheia d
c ê s e rá a lg u na vida"). n a r o ti p o eg o ís ta .
v o c io
eríamos men e d e fi n iç ã o desta ati-
- P o r fi m , pod d
m a -s e c o n s id e ra r, a tí tu lo
C o s tu
54
que O homem
enclausurado em si mesmo se
t
tu de, mai . t
s ou menos. consc1en emen e a amar ·os ou-
nega em mui tas ocas1oes isso ta 1vez
•N •
seJa con-
mas que d
· tuosa ou e um tem-
, ia de uma educaçao de.
troSüênc N
e1e1
seq e. .
101 corn
. 'd
g1 o. . ,
peramento que não
Muito .mais revelador de um verdadetro ego1smo,
porém é o fato de que a pessoa egoísta rejeita ser
amadd. Como percebe claramente que o carinho que
receberia a obrigaria a esforçar-se por melhorar, sain-
do de si e amando por sua vez, evita todo o compro-
misso, uma vez que não está disposta a suportar os sa-
crificios - esses sacrifícios tão saborosos para quem
ama de verdade - que lhe imporia a atitude de "amar
porque é amada".
56
entendamos que
insuperável precisão ... , desde que lica com idênti-
ap
aquilo que ele afirn1a da mulher se
co vigor ao hon1em:
não exis-
"Amiel ignorava que a mulher ideal
ição: porque,
te quase nunca em estado de perfe
acaso, mas em
via de regra, não é apenas obra do
[... ]. O ideal
grande parte obra da criação própria
nunca nos é
fe1ninino, como todos os ideais,
com o barro
dado feito; é preciso construí-lo;
é construí-lo
adequado, é claro, mas o essencial
os dias, ex-
com o amor e o sacrifício de todos
de cara ou co-
pondo por ele, num jogo arriscado4
roa, o porvir do próprio coração"
º.
nso que vale a
Uma vez chegados a este ponto, pe
ist ir so br e um as pe cto . Pa rec e-m e indubitável
pena ins
am or , es se qu ere r qu e alg ué m se ja e alcance a
que o
ue za de fin itiva en ce rra da no se u ser, se configura
riq
de qualquer tentati-
como o motor de toda a educação,
ria acrescentar que,
va de ajudar os outros. Mas quere
en te po r se tratar de pe sso as , ca da uma delas é
justam
etíve l, e a sua pe rfe içã o - po r ma is que apresente
irrep
- é também estrita-
certa analogia com a dos outros
isso, o que sempre
mente singular e irrepetível. Por
is ardente amor é
devemos procurar por meio do ma
se r a qu em am am os atinja o seu próprio apogeu:
que o
u rea lm en te distinto do de qu alq uer outro. se.r hu-
o se '
no qu e ex ist a, ten ha ex istido ou venha a existir ... , e
ma
também do nosso. ia o amor como
Recordemos que Aristóteles defin
. 11 2.
(40) Gregorio Marafión, Amiel, pág
57
u
re r o b c n 1 d o o u tr o e n q a n to o u t ro ,, . E e
··q u e
b é rn a s p a la v ras d ir ig ,·da s p o r M 1·g uc1 deVolJq lle ,
rn o s ta n1 .to r n o v a to . q u e s e u e ix .
a un 1 e s c n q a v a ao '1le na,
n1un o - ·
,. q e ,, ,, p rod UÇ-ao n a o era S ll fi1c 1en tc ,n te_ rest
s ll n co
re
,
I U " · u e l r e s p o n d e u -l h e : " Nà en
( t:
·d .J .. D 0 111
n 11ec1 .'
f 1
/\g
e n os . n e n1 ig u a l a °
se Julgue
qua 1squ er 0 utro ,
n e rn n1
11e11 1 111 a 1s .
J -
a o s o m o s q u a n ti d a d e
· ,
1o n1 ~ns, n r,· : aC a d a uni
I:'º,'s .n o s o ~
vel; p o n h a O s e u p
nc1p J e mpe-
e u nz c o ,.. e 1n s ubs t1tu1
o e s c r up u lo s a n1e nte "4 '·
n ho e m se -l ím 1a a m esn 1 a coisa ' embo ra a p a r-
f
Juli án M arías a .va b as tante diversa , que subi·mhª
p ecti
t1. r e u m a p e rs'd ad e s d o a1n a n te d o que a b u scs le~
d a d
n1a1.s as n ec es s1 a da. N o entanto, s e corrigirm sofo
o
am
bem da p e ssoa d e m ira , essa passagem do fi ável
ló
v e m e n te o p o n to m r e s u m o p lenamente aproveit
u
p o d e constituir os d iz endo:
daq uilo qu e v im
cia b il id a d e » d o amor, que-
sa
" A o falar d a «in o r n ão s e co n tenta com ne-
e o am
ro significar q u lh e b a s ta e s te ou aque-
, q ue n ã o
n h u m a abstração oa a m a d a , m a s q u e aspira a ela
ss
le a s p e c to da p e de passada , presente e futura ,
a
na s u a integrid m e n ta l e in te le ctual, nes-
a, s e n ti
corporal e anímic tro.
te m u n d o e n o
ou o lo n g o da vida
e te m p o r a l, a
"Na sua realidad ta q u e a v id a humana é um
de vis
- não p e rc a m o s rs o argumental, e m q u e o te ~ -
cu
transcurso ou d e dimentando e p e n n it e , a partir
se
p o vivido se vai r a té c e r to p o n to o futu-
desse sedimento
, antecipa u it o p rincipal-
o n s is te m
o amor c
ro p r é - v iv id o - ,
· d
,, , s se le c ta s P le m tu ,
U
(4 1 ) M ig ue J d e n am u n o • " J·A d en tr o . , en O b ra '
.
Madrid ' y• ed ·, 196 5 , p ag . 18 6.
58
mente em deixar ser. Esta é a raiz do seu impres-
cindível respeito pela pessoa amada, respeito que
é compatível com essa avidez que chega à insa-
ciabilidade [ ... ]. Quem ama precisa tanto da pes-
soa amada que tem de deixá-la ser o que é, o que
precisa continuar a ser.
"A única coisa em que pode agir ativamente
sobre ela é estimular o nascimento do mais pró-
prio e do melhor· que há nela, ajudá-la a desco-
brir-se, a ver-se como num espelho que aquele
que a vê lhe estende. Quem quer transformar a
pessoa amada - erro tão freqüente - não a ama
de verdade; a atitude de que venho falando leva a
querer que ela seja na maior medida possível ela
mesma, e por isso limita-se a tentar despojá-la de
aderências postiças para deixar a sua realidade li-
vre, não para trocá-la pela própria ou por aquela
que se prefere pessoalmente" 42 •
2
(42) Julián Marias, La educación sentimental, pág. 28 ,
59
IV. ENTREGA
1. ENTREGA PESSOAL
E GRATUITA
a) "Tu, só tu"
ga é a cu lm in aç ão m ai s au têntica do amor.
A entre : com a agude-
ul ar as si m es ta af irm aç ão
Costumo form
do en te nd im en to ap er fe iç oa da pelo carinho, a pes-
za ilha que o ser ama-
e am a de sc ob re to da a m ar av
soa qu tu ra de crescimento
rra no se u in te ri or e a av en
do ence almente sem padl~1--
tá de stin ad o· e en tã o no rm
a que es ' ' não pode deix · ar de
vras, mas" com a própria vi da . . arnioendete
'
lh e: V ~le a pe na qu e eu m e ponha tetrí in
zer- al ca nc e es se prodquge eu,
ao ..eseu· ...serviço pa ra qu e vo cê
i ie iç ao e be le za qu e es tá ch amado a se"Ir "e
pe
e am or , de sc ob ri em voce. corn eça
pe ª,
1 1 or ça do m eu
qu and? s~iiar e na
qu e co m eç a a av en tu ra :
E ~ntão
da na se gu nd a pe ssoa do stn~ç a a veL
ª~ 00 J_u ga r a vi
e nó s) · qu an do se co me sobretu·1
pr-imei,ra do pl ur al (tu , b,
ol ho s pr óp rio s, m as ta m ernd 0 . quaD0l
nao so com os ento do arn~ '
do com os olhos e o entendim seu coraçaod. ist0 ~~
se de seja e. se anseia através do ue tu .0derr10Il~J
M . , s1mos são os exemplos em q
. u1tis se m es pa ve ntosp,resenta
manife sta co m si m pl ic id ad e
. ' en tre ga re
nd
tra 0 em qualquer caso qu e a
60
d ida do an1or fidedig no: sem ir mais longe, na exis-
1ne . b f: ,1· l
t''ncia cotidiana de uma oa amt ta, na qua cada um,
: nfon,,e an1adurece, tende a subord inar os seus pró-
~rios interesses aos desejo s _dos outros ; e também. na
vida 11,ais ou 1nenos excep cional das pessoa s dedica -
das por vocaçã o ao serviç o dos outros .
A pergunta que surge então, quase sem que o pre-
tenda1n os, é a seguin te: O que é que os que se amam
desejatn interca mbiar? O que é que o apaixo nado es-
pera oferec er ao objeto da sua devoç ão? Poder íamos
encontrar a respos ta, mais uma vez, nuns versos de
Salinas, que consti tuem ao mesm o tempo toda uma
síntese da antrop ologia do dom e, atravé s dele, da
condição de pessoa : pois esta, como verem os, está na-
tural e intima mente orient ada para o dom, a dádiva , a
entrega de si.
61
b) o sentido do dom
Por que un1a ant ropologi_a do dom, do presente?
re '-'eriria Iimitar-111e a sugenr apenas algumas ide'·ias·
P 1
1
•" •
sc1encia. hda .nossa próp na. ·
bor a tod os ten hamos con
Em . 1
pequenez e até d~ ocas1? na mesqu1n ana de al~urnas
das nossas atuaçoes, a 1ndole pessoal de cad a indi ví-
duo eleva-o a urna altura tão prodigiosa, tão fora de
qualquer parâmetro, que faz ~om que ta~bém para ele
seja válido, plenamente efe tivo, o seguinte aforismo:
"E tanta a perfeição radica l da pessoa , que nen
hum
presente é digno dela se for menor que ... outra pessoa!
Qualquer outra realidade distinta que lhe seja ofereci-
da fica aquém, é insuficiente, permanece muito abaixo
daquilo que a densidade pessoal reclama".
Nes te sen tido Em erson afirmava: "Os anéis e as
., . '
J, ~s não
01 são pre sentes, mas pedidos de desculpas. ~
umco presente é um pedaço de você mesmo": é vo:e
me__smo, todo o seu ser, acrescentaria eu, imitando Sao
Joao da Cruz:
ó)
àqueles a quem deveríamos amar. Ou
ainda um meio
de "comprar" - e assim "prostitui r",
com perdão da
palavra - os filhos com quem não qu
eremos gastar 0
tempo necessário e dos quais desej
amos sobretudo,
talvez sem o perceber, mimos e agradeci
mentos perifé-
ricos, ou até ... que nos deixem em pa
z.
No extremo contrário, continua sempre
nar-nos o embevecimento com que um a emocio-
a mãe recebe
quatro traços desajeitados que o filh
o ou a filha d_e
muito poucos anos lhe oferecem por
ocasião do am·
versário ou do dia das mães. Bosquejo
qu
absolutamente nada... , exceto toda a pe e nada vale,
sso
que se empenhou na sua elaboração du a da criança,
rante uma, duas
ou mais semanas . As mães apreciam 1
efetivamente 0
valor dessa demonstração de entrega,
embora O seu
preço comercial seja nulo e menos que
nulo. ·
Alberoni expõe-no também, e com sin
são: "Na vida cotidiana - afirma - vale gu_lar,c?º~~
intercam" b'10 calculáv o pnncipio·5a
el: se eu lhe der a1guma co1va·'
quero algo em contrapartida, e deve ser O
lor'' • Entre os que se amam pelo con d~ _m e~~ ão ha
trario, cebo,
nenhuma contabilidade do qu '
e dou e dO .que que re
Cada qual entrega dádivas ao outro: as \he
parecem belas algo que fale de si, qu coiOsas arde ao
' e reco outro,
amado. Mas tam bém coisas que agradªmf aqüênc1·,ª'
que o outro mencionou ou recordou. Co
o do ' m r:âneoque
. m _e um ato imprevisto, ~m ge_s to. .espon l N1ª5
stmbohza a doação de si a d1spon1bi1td de tota · . tii-
od '
a a retrib e
· om não espera outro do .., era
m, nao esp uJl \ 111·5
ção. Ao fazennos um dom, as conta qui libr afi tl~
s e_e ql1e 1\r
imediatamente: basta que o outro Oap~
contente . A alegria do outro vale mai~eci u'e quali\1 1
-
. '!.,_ e
0 b~et o. Desta fonna, os dois pre se_n,,te1a 5 111t l
1"
l:! i ,_
1'
1 (,
1 ~'
~',•; Pelo contr ário, "se se dese ncad eia uma contabilida-
◊. de dos dons, um «eu lhe dei, mas você não me deu», a
::~ paixão - o amor - está a pont o de terminar. E se cada
i um exige essa conta bilid ade do dar e do receber; então
... ou talve z nunc a tenha che-
46
\e acab ou por comp leto"
1\'
~·· gado a nascer.
'
'
• f,
67
. . ,
Ma s é n~a1s q~!c 1sso~ e u_tntserdesp iritual
to cont1nua, o que mais ar e se revet''. Port
,
·. . ,
dec tstvo e se a ct.1•anç a ,
e a1nada e se ara conan.
-.
. •110
en1 sat1·s1a
r zer
as sua s necessid · ade
s vai· °
CUtdacto
nhado de an1or. eom e1eito, e mais
e . , .
im acomp
a-
atnar a cn.an ça do qu e s~ t·is f:azer-lhe um dPortant
nado nún1ero de necessidades objetivas'' t _e
4; ermi-
70
nicos2 não nos ten1 sido de muita utilidade. Porqu e é
verdade que o homet n e a tnulhe r são de certa forma
coinplen1entares e que o desejo de unir-n os à pessoa
que nos aperfe içoa constit ui .um dos impuls os para de-
sejar essa entrega. O desejo de compl ement aridad e
pertence realme nte aos ingred ientes do amor. Mas não
é ne111 a sua causa n1ais alta - embor a talvez seja o seu
ponto de partid a - , nem aquilo que o toma formal-
1nente hu111ano. O que especi fica o verdad eiro amor
pessoal é, pelo contrá rio, a procur a e a entreg a ao ou-
tro enquan to outro: aquilo que poderí amos qualifi car
como o "prima do radica l do tu".
Confo rme explic a Carlo Caffar ra,
71
_ ,nm,Fttt11,r.tta-u.,.,,
sec o do outro e a.e. sua vontade se abre para dar-se
d .e. • iizaç"' 0
ao outro na tare1a e aper1e1çoar a rea ª do
bern ou valor intrínseco do a1nado"sJ.
eraiizad
Ao contrário de uma opinião bastante gen
afirmava e~
nos nossos dias, e ta1nbém da,quilo _que se
como ponto
outros tempos, o am or genu1no nao tem
, procurar 0
de referência o eu. Como mostra Cardona
a não tanto
bern próprio, a auto-realização, manifest
dizer, "esper-
que a pessoa é boa, mas que é, po r assim
, pelo contrá-
ta" ... ou "espertinha". O am or verdadeiro
tu, dos ou-
rio , procura inelutavelmente a perfeição do de mui-
ois
tros 54 • Também Juan Bautista Torelló, dep em Vie-
ria
tos anos de experiência prática em psiquiat
e da capaci-
na, afirma: "A maturidade afetiva depend
e incapacita
dade de amar, e o egocentrismo é o qu
como para o
para o amor, tanto pa ra o am or humano
r do «viver
divino. Para amadurecer, é necessário sai " 55 •
eg óti co e ati ng ir um «v ive r pa ra ti»
para mim»
ça e uma
Charles Moeller diz o me sm o com gra
há um sair
certa índole cordial: "N o am or autêntico,
s mostrará»,
de si rumo a um «país no vo qu e Deus no
asteiros, que
que fará de nós verdadeiramente uns for
lançará a essa
se apoderará de nós po r completo e nos
que o ser a
grande aventura que consiste em fazer
mesmo, pr~-
quem amamos seja verdadeiramente ele
s, incomunt-
servado tal como é, ou seja, distinto de nó
de la antropología Y de la
. ~53 ) ~arlo Caffarra, Sexualidad a la luz
Biblta, Rialp, Madrid ' 1998 ' pag, 22
. ·
.
(54
) Cfr. Carlos Car dona, Étic a dei que hac er educativo, Rialp, Ma-
dnd, J990, pág . 96.
(55 ) bJuan Bau tista TorelJó • cit. por Carlos Nannei • E/
amor "º es
,
una pala ra equl'vo ca, sem ref., págs. J J -12.
72
, l Diante desse ser, não pode mos senão estar a seu
cave . , d'1zer: E ~ "
serv iço , desap arece. rmos
. . nos e « u,
, nao: voce»
• ,, s6 ,
nas palavras de D1m1tnu no roma nce 1ncognzto .
73
nho: "Di lige, et quo d vis fac .. . : ama e faz O que .
res; se te calares, calarás com amor; se gritares qu,_se-
rás com amor; se corrigires, corrCigirás com am' or, g~lta-
d , se
per?oares, pder o_aras dcom ª :!1ºrb. orno a raiz do arno r
esta den tro e ti, na a senao em poderá sair de ta1
. ,,
raiz .
Trata-se, pois, em todos os casos, não apenas nern
fundam entalme nte de faz
,. er, com o sugere a toda a hora
. .
o ativismo contemporaneo, mas antes e sobretudo de
amar, mesmo sabendo que, sem obras - e entre estas
as da inteligência que inquire e por fim compreende_
tal carinho não é completo. Assim se poderiam evita;
muitas fricçõe s interiores, fruto de falsas alternativas '
como entre trab alhar em excesso fora do lar, empe-
nhando-se em "produzir" no âmbito social, diante dos
amigos e conhecidos ... , e dedicar uma atenção prefe-
rencial ao cônjuge e aos filhos. Quando todas as ações
são fruto do amor, a aparente incompatibilidade entre
fazer e amar desaparece, não só na teoria, mas na prá-
tica, que talvez necessite ser temperada com certa
dose de esperteza.
Por último, seria oportuno recordar que o aperfei-
çoamento obtido em virtude do amor não é coisa de
um instante, nem mesmo de anos, mas tarefa de toda
úma vida. Daí, entre outros motivos, a função inigua-
lável da família. Porque , como nos recorda Mazzin_i,
"a família possui em si mesma um dom precioso, mut-
to raro fora dela : a pers istência. Os afetos entrete-
cem-se lentamente, despercebido s; mas, tenazes e du-
radouros, entrelaçam-se dia a dia como a hera em tor-
n~ ,. da. árvore; identific am- se por fim, com muita fre-
quencia, com a nossa própria vida. Muitas vezes, nem
sequer somos capazes de discerni -los, já que f~zem
parte de nós mesmos; mas, quando os perdemos, e co-
74
faltasse u1n não sei quê de íntimo, de neces-
1110 se nos . ,,
, . ai·a poderm os viver
sano P c.e ·to para referir .
· -me a um so' caso, a at't
i u de
e on1 e1 1 1 , • _ • .
de u1n ancião ou uma ancia diante do 1eito de mo rte
do cônjuge, o beijo ar~ente com_ 9-ue dele se despede,
pode constituir uma aJuda defini!iva p~ra a passagem
deste mundo para a vida etern~. E ~recis~ an:iar~se de
paciência, portanto, e - o que e muito mais d1fic1l nes-
tes tempos, conforme comentava com uma ponta de
ironia Carlos Cardona - esquecer-se da velocidade.
75
IWIJnHU1,,,,...._..
ÍNDICE
3
INTRODUÇÃO . .
PARA OUTRO..
1.QUERER O BEM
1.QUERER. . mais..
a) A vontade... e algo 9
b) Ouerer querer....*ss. 10
2. QUERER "O BEM". 10
amor..
a) Ensinar e facilitar o
.
educativo
14
b) A bússola de todo o ato
. . . .
OUTRO...
3. QUERER O BEM DO 15
ENQUANTO OUTRO..
17
II. CONFIRMAR NO SER.. e**** *****************
18
1. QUERER QUE A PESSOA SEJA.. 18
a) Dizer que "sim" e******e**********°*°.
22
6) Dizé-lo de maneira absoluta... 23
2. COMPROVAÇÃO POSITIVA.. *°°°
23
a)Quandom innamoro.. * ° ° ° ° * * .
26
b) Os defeitos do conjuge..
28
c) A nossa própria melhora.... eeeeoneee*
3. COMPROVAÇAO NEGATIVVA. 31
31
a) Amar é dizer: "Não morrerás" °°°°°°°
***°°
b) Umafratura no ser.. 32
62
2. A INCLINAÇÃO PESSOALA DAR-SE. **°*°°* 65
a) O homem, um ser para o amor (e paraa
a felicidade, como conseqüëncia) . . 65
b) Afecundidade caracteristica da pessoa... 67
c)A absoluta prioridade do outro... 70
3. FECUNDIDADE PELA VIDA TODA. 73