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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Curso de mestrado do programa de pós-graduação stricto sensu em


Ciências da Religião

Disciplina: Tópicos de ciências da religião da linha pluralismo religiosos, diálogo e


linguagem: Peter Berger e o fenômeno religioso na contemporaneidade
Aluna: Talita Bárbara Costa de Oliveira

Professores: Carlos Ribeiro Caldas Filho


Daniel Rocha
Roberlei Panasiewicz

Sai em nome de Jesus!:


O Demônio na Sociedade Pluralista

INTRODUÇÃO

Estamos em pleno século XXI, o homem já foi a lua, nossa ciência está cada vez
mais avançada, a modernidade traz uma coisa nova a cada instante e será que o
sociólogo Peter Berger da primeira fase estava certo? Será que essa modernidade levou
o fim da religião matando assim até o demônio? O novo Berger diria que sim, mas o
sociólogo dos últimos anos de carreira provavelmente diria que não. Ele poderia dizer
que o demônio andou trocando de roupa, até de emprego, mas, ele continua vivo em
nossa sociedade.

O sociólogo de O Dossel Sagrado (1985), via na modernidade a secularização


do mundo e, com isto, o fim da religião juntamente com seus elementos. Esse Berger
trazia a premissa de vários outros sociólogos que: “o mundo cultural é não só produzido
coletivamente, como também permanece real em virtude do reconhecimento coletivo.”
(BERGER, 1985, p. 27), mas, para ele, conforme a modernidade iria se desenvolvendo,
essa cultura se tornaria mais científica e menos religiosa.
Todavia, pelos últimos decênios o que podemos acompanhar juntamente com
Berger, é uma sociedade que ao invés de tornar-se secular está cada vez mais pluralista,
principalmente por meio da modernidade que permitiu o contato de grupos entre
diversas partes do globo.

Devemos entender que a religião não suprimi somente a falta do desconhecido,


mas quando o véu cai e alguns elementos sobrenaturais passam a ser entendidos como
naturais, mesmo assim, a religião continua como um dos alicerces da sociedade.
Segundo o Sociólogo Paul Ricoeur (2013), todo indivíduo é dotado do bem e do mal, e é
por isto que busca na religião uma forma de escapar de sua culpabilidade ao cometer o
“pecado”, colocando assim, a culpa no outro, ou seja, no mal religioso e não em seu
próprio mal.

Principalmente durante o último século o mundo sofreu várias guerras e


conflitos e, uma das formas do indivíduo se desculpabilizar seria colocando o mal no
outro, criando demônios. E com isto a ideia do mal foi ganhando novamente espaço.

No Brasil principalmente com a vinda das religiões pentecostais e


neopentecostais a ideia de que o mal estaria a solta ficou mais viva. Com isto a Igreja
Católica teve também que trazer a ideia do mal novamente como um ser externo a nós
e que precisa ser impedido.

1. Os demônios pluralistas da IURD


No Brasil ocorrem três ondas acerca da implantação das igrejas pentecostais e,
a última que é chamada de neopentecostal que podemos incluir a Igreja Universal do
Reino de Deus (IURD). Diferente da Igreja Católica, a IURD mostra diariamente em seus
cultos, abertamente para seus membros, os rituais de descarrego e exorcismo. Esses
tipos de rituais antes das pentecostais, eram vistos como algo reservado num sentido
proibitório, só era feito em última instância e sem público. Já com a IURD eles viraram
até quadro de programa de televisão:
No neopentecostalismo principalmente na IURD, suas principais
características são: “1) exacerbação da guerra espiritual contra o Diabo e seu
séquito de anjos decaídos; 2) pregação enfática da Teologia da Prosperidade;
3) liberalização dos estereotipados usos e costumes de santidade.”
(MARIANO, 2014, p.36).
Para o sociólogo Peter Berger em seus primeiros anos de carreira, a
modernidade além de acabar com a religião, faria com que nosso pensamento voltasse
para o mundo científico, abandonando o mundo místico (lembramos que um mundo
não exclui o outro). Mas o que Berger não contava, principalmente no Brasil, com a
fundação da neopentecostal.
Podemos dizer que a neopentecostal, em específico a IURD, é uma religião
pluralista em todos os sentidos. Ela traz em sua estrutura elementos da Igreja Judaica, a
Igreja Católica, e vários elementos de Igrejas Cristãs como Batistas, Quadrangulares,
entre outras. Você não precisa ir sempre aos cultos para ter sua benção, você pode
assistir pela televisão, programas específicos para os seus problemas, como a Sessão de
Descarrego. Seu dízimo e oferta podem ser depositados via transferência bancária. Ou
seja, a IURD enlouqueceria Berger, porque além de ser pluralista ela conseguiu a partir
da modernidade alcançar fiéis de diversas formas, por meio da mídia.
De fato, nele os rituais de cura ocupam um lugar de destaque, sendo o mais
importante deles uma espécie de exorcismo em que o pastor provoca e
invoca os “demônios”, o Mal (trata-se quase sempre dos orixás das religiões
afro-brasileiras), para se manifestarem nas pessoas, muitas delas chegando a
entrar em estado de transe. Na seqüência do ritual os pastores identificam os
“demônios” e mostram o seu poder sobre eles (o poder do Bem), obrigando-
os a revelar as suas intenções maléficas. Ato contínuo, submetem-nos,
anulam-nos e expulsam-nos, sob aplausos efusivos dos fiéis, onde ser vê a
religião se dando em espetáculo. A libertação dos demônios é condição de
eficácia terapêutica. (ORO, 1993, p. 307).

Sua pluralidade alcança até os demônios. Durante a história da demonologia,


os demônios que atacavam as pessoas, eram aqueles seres conhecidos pelo povo, e que
os tinham aversão, em outras palavras, os grupos normalmente possuíam seus inimigos
e eles eram considerados maus comparados ao seu grupo. Então se meu inimigo é mal
o Ser em que ele acredita para mim é um demônio, um exemplo, entre os judeus, os
demônios eram os seres que os fenícios acreditavam.
Já no Brasil, esses demônios judaicos não nos trariam muito espanto (nos filmes
hollywoodianos nos dá medo), pois eles possuem uma história que não nos reconhece.
Pensando nisto, como posso trazer um demônio para esta população ao qual ela o
conheça e tenha medo? Uma das características do pluralismo é haver várias religiões,
e no Brasil, uma religião que vem crescendo muito nos últimos anos, são as religiões de
matrizes-africanas.
Demonizando as entidades dessas religiões, mostra-se um inimigo então
conhecido da população e, quem não seria adepto delas por medo ou qualquer outro
preconceito, acabam indo para a IURD, acreditando em sua palavra. Não obstante, nos
últimos anos essa Igreja vem crescendo muito não somente em áreas de classe
média/baixa da população, mas também entre a classe alta. Essa classe mais alta, não
está muito preocupada com a Pompagira ou com o Preto-velho, sua aflição está mais
voltada para a falta de dinheiro, então nos cultos os demônios que aparecem tomam
direto com esses nomes, demônio do dinheiro, demônio da ansiedade. Eles podem e
possuem as vezes os mesmos tipos de efeitos, por exemplo, um Tranca Ruas, ele irá
trancar o seu caminho, impedindo de ter dinheiro, emprego, felicidade, mas ao falar
com a classe mais alta seu principal medo em aberto, o efeito é maior e garantido.

CONCLUSÃO

Enfim, a sociedade está cada vez mais pluralista, as religiões estão oferecendo
várias formas de ser religioso, as pessoas podem orar/rezar em casa, podem pedir
oração via drive-through, podem escolher em qual religião vai frequentar. Ou seja, a
modernidade não acabou com a religião, mas a religião conseguiu aproveitar do que a
modernidade estava oferecendo para se expandir.

Contudo, agora estou preparado para conceder que os teóricos da


secularização não estão tão errados como eu achava antes. Compreendo
agora mais plenamente a realidade global do discurso secular, não só na
Europa e nas associações do corpo docente em todo o mundo, mas também
na vida de muitos crentes comuns que conseguem ser tanto seculares quanto
religiosos. Eu diria que são estas pessoas que realizam o ato de equilíbrio
cognitivo prototípico da modernidade, e com este ato modificam a forte
dicotomia entre os teóricos da secularização e aqueles que anunciam “o
retorno dos deuses”. (BERGER, 2017, p.15)

Peter Berger dos últimos anos já estava vendo essa realidade e pôde
compreender que a religião não é algo que irá acabar, mas simplesmente se
ressignificar.

REFERÊNCIAS
BERGER, Peter L. O Dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião.
São Paulo: Paulus, 1985.

BERGER, Peter L. Os múltiplos altares da modernidade: rumo a um paradigma da


religião numa época pluralista. Petrópolis: Vozes, 2017.

MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São


Paulo, SP: Edições Loyola, 5ª edição. 2014.

ORO, Ari Pedro. “Podem passar a sacolinha”: Um estudo sobre as representações do


dinheiro no Pentecostalismo Autônomo brasileiro atual. Revista Eclesiástica Brasileira,
v. 53, n. 210, p. 301-323, 30 jun. 1993. Disponível em:
https://doi.org/10.29386/reb.v53i210.2773. Acesso em: 5 jul. 2023.

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