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Letramento digital

O desenvolvimento de novas tecnologias reorganizou o mundo. Com isso,


reestruturou-se o direito social, protegendo a dignidade da pessoa humana, em razão
do contraste da inclusão no mundo digital, frente à absorção das tecnologias de
informação. A presente unidade busca discutir os tipos de letramento, o conceito de
Letramento Digital e suas aplicações no curso de Direito, tendo em vista as novas
modificações das Diretrizes Curriculares Nacionais.

Tipos de Letramento

Retomando o assunto da unidade anterior, letramento é um processo muito


amplo e complexo, e envolve diversos aspectos: pessoais, sociais, culturais,
históricos, econômicos, tecnológicos, entre outros. Por essa razão, os letramentos
mais conhecidos são:

a) Letramento Científico
Refere-se ao uso do conhecimento científico para adquirir novos
conhecimentos, identificação e interpretação de procedimentos científicos a fim de
utilizá-los na vida cotidiana, seja na vida pessoal ou social. A literacia científica está
relacionada com a compreensão de conceitos científicos, a capacidade de aplicar
esses conceitos e pensar de acordo com uma perspetiva científica, de atuar e
transformar o ambiente;

b) Letramento Matemático
Refere-se à capacidade de identificar e compreender o papel da matemática
no mundo e de utilizá-la para atender às necessidades do indivíduo no cumprimento
de seu papel de cidadão informado, crítico e construtivo. Além de utilizar o
conhecimento matemático para realizar atividades práticas, como operações,
possibilita o raciocínio lógico, a argumentação, a comunicação, a modelagem, a
resolução e representação de problemas e o uso da linguagem simbólica, formal e
técnica.
c) Letramento Linguístico
É a capacidade de dominar a língua em todas as suas dimensões e de utilizar
os conhecimentos linguísticos na vida quotidiana, ou seja, nas relações sociais, na
comunicação e no comportamento praticado socialmente. Além de habilitar a
capacidade de ler e escrever, o letramento linguístico fornece as habilidades para
interpretar, entender e compreender o mundo, bem como transformar o ambiente
social por meio da linguagem.

d) Letramento Literário
Envolve o processo de apropriação da literatura como linguagem. Por meio
das histórias descritas nos livros, é possível ampliar a consciência, conhecer novas
possibilidades e modos diferentes de ser. A literatura permite estimular a criatividade
e a produção de significados e sentidos, mediante a interação do leitor com a obra, o
que requer habilidades de interpretação e compreensão.

e) Letramento Acadêmico
Envolve os conhecimentos adquiridos no processo de ensino e
aprendizagem, e contempla as habilidades de estudo, escolarização e socialização
no ambiente escolar. Refere-se à produção e sistematização do conhecimento por
meio da educação formal, que acontece em uma instituição de ensino, e permite a
interação entre os processos internos do indivíduo e os processos sociais, a fim de
produzir novas formas de linguagem.

f) Letramento Digital
Aborda o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes
relacionadas ao uso dos recursos digitais com proficiência, às práticas socioculturais,
aos sentidos e às reflexões estabelecidas entre a humanidade e o uso de tecnologia.
Caracteriza-se pelo entendimento das relações humanas mediadas pela
comunicação digital, e envolve a compreensão de textos narrativos, análise e
interpretação das informações recebidas pelo meio digital e o conhecimento das
mídias envolvidas.
O letramento digital permite a utilização adequada das Tecnologias da
Informação e Comunicação, graças ao desenvolvimento das competências
necessárias adquiridas em conjunto com os demais conceitos que embasam o
currículo de referência em tecnologia e computação.

g) Multiletramentos
Refere-se aos vários tipos de letramento existentes na sociedade,
considerando a diversidade cultural, as diferentes formas de produzir textos e a
multiplicidade semiótica. O multiletramento permite uma comunicação mais ampla,
pois os textos são expressos em diferentes línguas, mídias e sentidos.
Nesse contexto, o discurso envolve diferentes modalidades: letras, códigos,
símbolos, imagens, som, interação, percepção, conhecimento do contexto local e toda
habilidade não linear.

Por tanto, o que é, e por que falar em Letramento Digital?

O letramento digital é um dos conceitos da cultura digital, que se caracteriza


pelas relações entre as pessoas por meio da comunicação digital, incluindo a
compreensão de textos narrativos, a análise e interpretação das informações
recebidas e o conhecimento dos meios envolvidos.
Envolve o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes
relacionadas ao uso efetivo dos recursos digitais, práticas socioculturais, significação
e reflexão sobre a humanidade e o uso da tecnologia.
É, pois, a literacia digital que permite a correta utilização das TIC's a partir do
desenvolvimento das necessárias competências adquiridas com outros conceitos que
constituem a base do programa de referência na área da tecnologia e informática.
As novas mídias moldam, como a escrita, práticas sociais inovadoras até
seus aspectos mais fundamentais, como a comunicação. As atividades diárias foram
completamente revolucionadas e, mais uma vez, falar é desencorajado, dando lugar
a e-mail, SMS instantâneo e muito mais. Como resultado, nascem novas práticas
sociais concretas, incluindo novos recursos tecnológicos à disposição da sociedade,
obrigando os indivíduos a se reorganizarem em diferentes níveis da vida.
Com efeito, segundo Buzato (2006), “a tecnologia, tal como a linguagem,
molda e organiza as relações […] e é moldada e organizada por essas mesmas forças
[…]”. Trata-se de “conceber a tecnologia como uma ação social coletiva, como uma
rede de conexão entre agentes humanos e não humanos, e seu desenvolvimento
como um processo de deriva, enganoso, deriva, deslizamento e transição
consecutivamente (Latour, 2000) (BUZATO, 2008).
Assim, com a introdução destes recursos na sociedade em geral, diz-se que
o indivíduo adquire as competências básicas que lhe permitem utilizá-los (em paralelo
com o domínio do código da língua), mas não só: supõe-se que seja capaz de utilizá-
los para materializar interesses, necessidades e iniciativas individuais e comunitárias,
ter autonomia para conhecer as práticas sociais formadas nesse contexto, ou seja,
além de uma simples familiarização com esses recursos, é necessária a alfabetização
digital. A partir disso, é preciso expor o conceito de letramento digital introduzido por
Buzato que é o contexto sociocultural delimitado no tempo, bem como dentro do
contexto construído pela interação eletronicamente mediada. (KLEIMAN, 2006, p. 06,
apud BUZATO, 2008).
Os conceitos apresentados, de “letramento” e “letramento digital” são
importantes porque determinam como o fenômeno será tratado, (ou às vezes não) de
outras formas: governo, empresa, escola, etc. Por exemplo, os governos podem se
concentrar na divulgação dos aspectos técnicos dessas tecnologias para as massas
(por exemplo, como os computadores são ligados, o que é a internet, etc.). Mas será
que basta isso para alcançar a autonomia que o letramento digital oferece? As
políticas públicas devem ser definidas levando em consideração todos os aspectos
dos conceitos.
Como ressaltado, as novas tecnologias de informação e comunicação
inseriram-se nos diversos aspectos da vida em sociedade. Juntamente com elas,
certo fetichismo se instaurou no imaginário social, atrelando ao avanço tecnológico
uma ideia de benesse sem ressalvas.

As mudanças no Curso de Direito em razão da modernização da justiça.

Tendo em vista todas as modificações desses contextos sociais, o Conselho


Nacional de Educação, por sua Câmara de Educação Superior, via Parecer CNE/CES
nº: 757/2020, alterou o art. 5º da Resolução CNE/CES nº 5/2018, que institui as
Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Direito. As mudanças
são fruto da necessidade de o curso de Direito abranger conteúdos de interesse da
atual conjuntura, fazendo com que os egressos possuam as competências
necessárias e exigidas pelo mercado de trabalho.
Era uma demanda já existente e que visava, por exemplo, a inclusão no curso
de matérias referentes ao Direito Financeiro, temática essencial à formação jurídica.
O Direito Financeiro também é imprescindível para a compreensão de como se dão
as contas públicas, a governança pública e a efetividade das políticas públicas. Além
do que hoje se apresenta como constante matéria nos tribunais, tanto para solução
de conflitos nacionais como regionais.
A diretriz curricular de dezembro de 2018, da área do Direito, menciona a
tecnologia de forma genérica, tanto no conteúdo geral de formação quanto no perfil
do egresso. Não inclui o conteúdo de informática, ciência da computação ou ciência
de dados.
O tema apareceu somente como uma opção de ênfase em “Direito
Cibernético” e, naquele momento, os conteúdos incluídos no rol obrigatório foram
Direito Previdenciário e Formas Consensuais de Solução de Conflitos.
Mas, embora não houvesse consenso sobre a necessidade de incluir temas
relacionados à tecnologia e ao mundo digital nos projetos pedagógicos de cursos de
Direito, sabemos que a tecnologia é absolutamente indispensável para os
profissionais do Direito.
Softwares de gestão e de inteligência artificial são apenas uma parte do
pacote de mudanças já consolidadas, como a atuação em processos eletrônicos e o
uso de processadores de texto, planilhas, programas de apresentação ou design.
Agora, no curso de graduação em Direito, em razão do Parecer CNE/CES nº:
757/2020, que alterou o art. 5º da Resolução CNE/CES nº 5/2018, deverão ser
incluídos no PPC conteúdos e atividades que atendam às três seguintes perspectivas
formativas:

Art. 1º O art. 5º da Resolução CNE/CES nº 5, de 17 de dezembro de


2018, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Graduação em Direito, passa a ter a seguinte redação:
“Art. 5º O curso de graduação em Direito, priorizando a
interdisciplinaridade e a articulação de saberes, deverá incluir no PPC,
conteúdos e atividades que atendam às seguintes perspectivas
formativas:

I - Formação geral, que tem por objetivo oferecer ao graduando os


elementos fundamentais do Direito, em diálogo com as demais
expressões do conhecimento filosófico e humanístico, das ciências
sociais e das novas tecnologias da informação, abrangendo estudos
que, em atenção ao PPC, envolvam saberes de outras áreas
formativas, tais como: Antropologia, Ciência Política, Economia, Ética,
Filosofia, História, Psicologia e Sociologia;

II - Formação técnico-jurídica, que abrange, além do enfoque


dogmático, o conhecimento e a aplicação, observadas as
peculiaridades dos diversos ramos do Direito, de qualquer natureza,
estudados sistematicamente e contextualizados segundo a sua
evolução e aplicação às mudanças sociais, econômicas, políticas e
culturais do Brasil e suas relações internacionais, incluindo-se,
necessariamente, dentre outros condizentes com o PPC, conteúdos
essenciais referentes às áreas de Teoria do Direito, Direito
Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Penal,
Direito Civil, Direito Empresarial, Direito do Trabalho, Direito
Internacional, Direito Processual; Direito Previdenciário, Direito
Financeiro, Direito Digital e Formas Consensuais de Solução de
Conflitos; e (NR)

III - Formação prático-profissional, que objetiva a integração entre a


prática e os conteúdos teóricos desenvolvidos nas demais
perspectivas formativas, especialmente nas atividades relacionadas
com a prática jurídica e o TC, além de abranger estudos referentes
ao letramento digital, práticas remotas mediadas por tecnologias
de informação e comunicação. (NR)

Art. 2º Esta Resolução entrará em vigor na data de 3 de maio de 2021.


(CNE, 2021) (grifo nosso)

O letramento digital mencionado no Parecer CNE/CES nº: 757/2020 tem


como objetivo principal tornar os estudantes de Direito capazes de atuar em
processos eletrônicos, ou seja, capazes de se apropriar do uso dos sistemas
computadorizados nos Tribunais e demais órgãos públicos nas suas atividades
processuais. A expressão traz uma gama de atividades, quais sejam, o controle, o
acompanhamento, o andamento e a prática de atos auxiliados por sistemas
computadorizados.
Mas a expressão abrange a comunicação geral via tecnologias digitais, a
compreensão do sentido de informações em textos multimodais, a localização,
filtragem e avaliação crítica das informações e suas fontes, bem como o entendimento
das normas de conduta e linguagem nos canais digitais de comunicação.
Deve abranger, também, o estudo das técnicas para a regulação dos serviços
e dos produtos, da finalidade de suas utilizações e, muito importante, dos inevitáveis
dilemas éticos suscitados pelas novas tecnologias.
A capacidade, enfim, que um indivíduo tem de responder adequadamente às
demandas sociais que envolvem a utilização dos recursos tecnológicos e da escrita
no meio digital se torna imprescindível hoje à plena conquista da cidadania. Um
egresso do curso de Direito deve possuí-la primeiramente para si para conseguir,
consequentemente, ser agente da cidadania alheia, consciente de sua
responsabilidade social.
Referências

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO


CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR RESOLUÇÃO Nº 2, DE 19 DE ABRIL DE
2021.Disponível<http://portal.mec.gov.br/docman/abril-2021-pdf/181301-rces002-
21/file>. Acesso em: 10 mar. 2023.
BUSTILLO, Luisa N. NASCIMENTO, Grasiele A. LETRAMENTO DIGITAL:
REFLEXOS NO MUNDO DO TRABALHO. Disponível em:
<https://www.jacobsconsultoria.com.br/post/mudan%C3%A7as-nas-dcn-s-do-curso-
de-direito-e-a-inclus%C3%A3o-do-letramento-digitais> Acesso em 10 mar. 2023.
BUZATO, M. E. K. Letramentos Digitais: um lugar para pensar em Educação, Internet
e oportunidades. III Congresso Ibero-Americano EducaRede. São Paulo, 2006.
CEREZO, J. Ciência, tecnologia e sociedade. In: SANTOS, L. (Org.). Ciência,
tecnologia e sociedade: o desafio da interação. Londrina, Iapar, 2002. IBGE. Pesquisa
sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas empresas. Rio de
Janeiro: IBGE, 2010.
KLEIMAN, A. B. Letramento na contemporaneidade. Bakhtiniana. São Paulo, p. 72-
91, ago./dez. 2014. Disponível em: Acesso em 20 de mar. 2023.
NUNES, R. Manual de introdução ao estudo do direito. 10. ed. São Paulo: Saraiva,
2011.

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