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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO – FAED


ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE RISCOS DE DESASTRES PARA O
DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA
SUSCETIBILIDADE À INUNDAÇÃO NA
SUB-BACIA DO RIO LUÍS ALVES - SC

ANA CAROLINA VICENZI FRANCO

FLORIANÓPOLIS, 2012
ANA CAROLINA VICENZI FRANCO

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA SUSCETIBILIDADE À INUNDAÇÃO NA


SUB-BACIA DO RIO LUÍS ALVES – SC

Trabalho de Conclusão apresentado ao


Curso de Especialização em Gestão de
Risco de Desastres para o
Desenvolvimento Socioambiental do
Centro de Ciências Humanas e da
Educação, da Universidade do Estado de
Santa Catarina, como requisito para a
obtenção do título de especialista.

Orientadora: Mariane Alves Dal Santo

FLORIANÓPOLIS
2012
F825a Franco, Ana Carolina Vicenzi
Análise morfométrica da suscetibilidade à inundação na
Sub-bacia do rio Luís Alves – SC/ Ana Carolina Vicenzi
Franco. – 2012.
101 p. : Il. color. ; 21 cm

Orientadora: Profa. Dra. Mariane Alves Dal Santo


Bibliografia: p. 94-100
Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) –
Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de
Ciências Humanas e da Educação, Especialização em Gestão
de Risco de Desastres para o Desenvolvimento
Socioambiental, Florianópolis, 2012.

1. Bacias Hidrográficas (Santa Catarina). 2. Inundação


(desastre). I. Santo, Mariane Alves Dal. II. Universidade
do Estado de Santa Catarina. III. Título.

CDD: 631.476184 – 20.ed.

Ficha elaborada pela Biblioteca Central da UDESC


ANA CAROLINA VICENZI FRANCO

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA SUSCETIBILIDADE À INUNDAÇÃO NA


SUB-BACIA DO RIO LUÍS ALVES – SC

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Especialização em Gestão de


Risco de Desastres para o Desenvolvimento Socioambiental do Centro de Ciências
Humanas e da Educação, da Universidade do Estado de Santa Catarina, como
requisito para a obtenção do título de especialista.

Banca Examinadora

Orientadora: _____________________________________________
Doutora Mariane Alves Dal Santo
Universidade do Estado de Santa Catarina

Membro: ______________________________________________
Doutora Amanda Cristina Pires
Universidade do Estado de Santa Catarina

Membro: ______________________________________________
Mestre Luiz Henrique Fragoas Pimenta
Universidade do Estado de Santa Catarina

Florianópolis, 07/12/2012
AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha orientadora Mariane Alves Dal Santo, por sua


tranqüilidade e competência na orientação, e à Fundação de Amparo à Pesquisa
e Inovação do Estado de Santa Catarina/FAPESC pelo financiamento da
pesquisa da qual o presente trabalho é uma pequena parte. As professoras do
Laboratório de Geologia e Mineralogia Maria Paula Casagrande Marimon e Edna
Lindaura Luiz, e aos colegas do mesmo Laboratório, Elisa Volker e Daniel
Heberle, pelas muitas discussões sobre o tema da pesquisa e oportunas
contribuições. Aos colegas do Laboratório de Geoprocessamento Pedro Senna e
Pedro Porath, por todas as vezes que precisei incomodá-los com dúvidas sobre
SIG. Agradeço aos membros da banca Amanda Cristina Pires e Luiz Henrique
Fragoas Pimenta por aceitarem o convite e pelas considerações sobre o
trabalho. Aos professores e aos colegas do curso de especialização, por todos
os sábados compartilhados com bom humor! Ao Paulo Roberto Witolawski por
autorizar o uso de suas fotografias. Agradeço também ao Daniel por todo o apoio
para que eu pudesse me manter sempre concentrada no trabalho. Aos meus
avós Vera, Themis e Mário, à minha mãe Marliese e irmã Paola. Agradeço ainda
a toda a equipe do Centro de Visitantes do Parque Estadual da Serra do
Tabuleiro por todo o apoio e substituições no trabalho. Por fim, agradeço também
as grandes amigas Ana Terra Vignes e Mari Machado, por serem companheiras
de todos os momentos.
FRANCO, Ana Carolina Vicenzi. Análise morfométrica da suscetibilidade à
inundação na Sub-bacia do rio Luís Alves – SC. Monografia de Especialização –
Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial para o Desenvolvimento
Socioambiental/UDESC. Florianópolis, 2012.

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo avaliar a contribuição da morfometria para o


desenvolvimento de inundações na sub-bacia hidrográfica do rio Luís Alves, situada
na porção nordeste do estado de Santa Catarina. As inundações em bacias
hidrográficas podem ser condicionadas por fatores naturais e/ou antrópicos. Dentre
os naturais, a morfometria das bacias hidrográficas é um dos fatores que pode
indicar a suscetibilidade ao desenvolvimento de inundações bruscas ou graduais. A
intensa modificação imposta pela atividade agrícola ao compartimento planície
fluvial, que modifica o padrão de drenagem meândrica do rio Luís Alves e seus
tributários, impondo uma drenagem geométrica regular ao traçado dos rios, tem
implicações sobre o desenvolvimento de inundações e constitui um dos fatores
antrópicos acima citados. Para o desenvolvimento do trabalho foram utilizados
dados disponíveis nas bases cartográficas do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE, escala 1:50.000, datadas de 1981 (Cartas Pomerode, Luís Alves,
Blumenau e Gaspar), e imagem CBERS (2010). O traçado dos rios na planície foi
corrigido com base na imagem CBERS, de forma a atualizar o padrão de drenagem
e outros fatores que tem influência sobre os parâmetros morfométricos, tais como o
número e comprimento dos canais. Tributário do rio Itajaí-Açú, o rio Luís Alves
apresenta 6a ordem de grandeza na hierarquia fluvial de Strahler, drenando uma
área de 582,00 Km2 situada sob um regime de precipitação anual de 1800 mm. Os
índices morfométricos que indicam suscetibilidade à inundação são a área da bacia,
densidade de drenagem, densidade hidrográfica, relação de bifurcação, textura
topográfica, freqüência de canais de 1ª ordem, comprimento médio dos canais de
primeira ordem e hierarquia fluvial. Os parâmetros índice de circularidade,
coeficiente de compacidade, fator de forma e índice de forma, importantes na
determinação da suscetibilidade à inundação apontaram tendência mediana.
Portanto, o desenvolvimento de inundações na sub-bacia do rio Luís Alves possui
uma contribuição morfométrica, embora o uso do solo sem observância de critérios
geomorfológicos de proteção ambiental contribua grandemente para agravar o
problema. A presença, em muitas microbacias, de planícies alveolares ou planícies
fluviais estreitas, aliada ao alto índice pluviométrico anual são outros fatores que
contribuem para a suscetibilidade natural da sub-bacia. Entretanto, a gestão de
riscos na sub-bacia poderá ser bastante eficiente se forem implantadas medidas não
estruturais para o controle de inundações, integrando a gestão de riscos e o
planejamento territorial.

Palavras-chave: Bacia hidrográfica, inundação, desastre, morfometria, Luís Alves.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1: Rede fluvial e sub-bacias do rio Itajaí-Açú. ............................................. 15


Figura 1.2: Perfil longitudinal dos principais tributários do rio Itajaí-Açú. .................. 17
Figura 1.3: Inundação de 1970 no município de Luís Alves, casa de Gelson Wust. . 20
Figura 1.4: Distribuição dos municípios que decretaram situação de emergência e
estado de calamidade pública em novembro de 2008. ............................................. 22
Figura 1.5: Total acumulado da precipitação entre os dias 20 e 25 de novembro de
2008 no Vale do Itajaí, Santa Catarina...................................................................... 22
Figura 2.1: Desastres naturais causados por inundação brusca e alagamento no
Brasil no período de 1991 a 2000. ............................................................................ 31
Figura 2.2: Perfil esquemático dos processos de enchente e inundação.................. 34
Figura 2.3: Representação esquemática do ciclo hidrológico e pontos de intervenção
humana. .................................................................................................................... 37
Figura 2.4: Padrões de redes de drenagem mais comuns. ....................................... 40
Figura 2.5: Modificações na cobertura vegetal, microbacia do Ribeirão do Baú. ...... 41
Figura 2.6: Comparação de hidrogramas para uma área antes e depois da
urbanização. .............................................................................................................. 44
Figura 2.7: Modificações na cobertura vegetal de uma bacia - plantio de bananeira
em linha sobre encosta, município de Luís Alves. 21/09/11. ..................................... 45
Figura 2.8: Interrupção das vias de transporte pela destruição de uma ponte em Luís
Alves, 2008................................................................................................................ 47
Figura 2.9: Destruição de moradias e aumento do nível de base local como
conseqüência da ação combinada de deslizamentos seguidos por corrida de lama e
inundação, 03/2009. .................................................................................................. 48
Figura 2.10: Fluxograma metodológico adotado na pesquisa. .................................. 63
Figura 3.1: Localização da sub-bacia do rio Luís Alves. ........................................... 65
Figura 3.2: Mapa Geológico da Sub-bacia do Rio Luís Alves. ................................. 66
Figura 3.3: Mapa Geomorfológico da Sub-bacia do Rio Luís Alves ........................ 67
Figura 3.4: Hipsometria da microbacia do Ribeirão Máximo/SC. .............................. 69
Figura 3.5: Perfil transversal do Ribeirão Máximo/SC. .............................................. 70
Figura 3.6: Triangular Irregular Network (TIN) da sub-bacia do rio Luís Alves/SC .... 71
Figura 3.7: Feições que evidenciam o canal original meandrante e o canal atual do
rio Luís Alves, retilinizado, 04/11. .............................................................................. 72
Figura 3.8: Encostas e vales fluviais na sub-bacia do Rio Luís Alves, 04/11. ........... 72
Figura 3.9: Capacidade de armazenamento de água no solo da Bacia do rio Itajaí-
açú – destaque para a Sub-bacia do rio Luís Alves. ................................................. 73
Figura 3.10: Hierarquia fluvial da sub-bacia do rio Luís Alves/SC. ............................ 77
Figura 3.11: Perfil topográfico do Rio Luís Alves....................................................... 78
LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1: Área, perímetro, comprimento vetorial do canal principal e amplitude


altimétrica do canal principal ..................................................................................... 75
Tabela 3.2: Número de canais de cada ordem e comprimento dos canais de cada
ordem. ....................................................................................................................... 75
Tabela 3.3: Frequência relativa de canais de cada ordem ........................................ 85
Tabela 3.4: Comprimento médio dos canais de cada ordem .................................... 86
Tabela 3.5: Parâmetros morfométricos da sub-bacia do Rio Luís Alves ................... 88
LISTA DE QUADROS

Quadro 1.1: Ocorrência de inundação no município de Luís Alves por ano e tipo de
inundação. ................................................................................................................. 20
Quadro 2.1: classificação dos desastres naturais segundo o EM-DAT. .................... 30
Quadro 2.2: Tipos de inundações. ............................................................................ 33
Quadro 2.3: Estudos morfométricos recentes no Brasil ............................................ 52
Quadro 2.4: Classificação do Fator de Forma ........................................................... 57
Quadro 2.5: Classificação do Índice de circularidade................................................ 58
Quadro 2.6: Classificação da Densidade de Drenagem............................................ 59
Quadro 2.7: Classificação da Textura Topográfica. .................................................. 60
Quadro 3.1: Valores de gradiente do canal principal encontrados na literatura ........ 76
Quadro 3.2: Valores de coeficiente de compacidade encontrados na literatura........ 78
Quadro 3.3: Classificação do Fator de Forma. .......................................................... 79
Quadro 3.4: Valores de fator de forma encontrados na literatura.............................. 79
Quadro 3.5: Valores de índice de forma encontrados na literatura ........................... 80
Quadro 3.6: Valores do índice de circularidade encontrados na literatura ................ 81
Quadro 3.7: Valores do densidade de drenagem encontrados na literatura ............. 82
Quadro 3.8: Valores do densidade hidrográfica encontrados na literatura................ 82
Quadro 3.9: Valores de textura da topografia encontrados na literatura ................... 83
Quadro 3.10: Valores do Coeficiente de manutenção encontrados na literatura. ..... 84
Quadro 3.11: Valores da Frequência relativa de canais de 1ª ordem encontrados na
literatura .................................................................................................................... 85
Quadro 3.12: Valores de comprimento médio encontrados na literatura .................. 87
Quadro 3.13: Valores da relação de bifurcação encontrados na literatura ................ 87
LISTA DE SIGLAS

AVADAN – Formulário de Avaliação de Danos


ABRH – Associação Brasileira de Recursos Hídricos
CBERS - Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres
CEPED – Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres
CIRAM – Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de
Santa Catarina
CRED – Centre for Research on the Epidemiology of Disasters
DNOS – Departamento Nacional de Obras e Saneamento
EM-DAT – Emergency Events Database
EPAGRI – Empresa Agropecuária e de Extensão Rural de Santa Catarina
ESRI - Environmental Systems Research Institute
FAPESC - Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa
Catarina
GEOLAB – Laboratório de Geoprocessamento
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
JICA – Japan International Cooperation Agency
SIG – Sistema de Informação Geográfica
TIN – Triangular Irregular Network
LISTA DE EQUAÇÕES

Ciclo hidrológico………………………………………………………………………… 36
Gradiente do canal principal…………………………………………………………… 55
Coeficiente de compacidade…………………………………………………………... 56
Fator de forma…………………………………………………………………………… 56
Índice de forma………………………………………………………………………….. 57
Área do círculo…………………………………………………………………………... 57
Perímetro do círculo…………………………………………………………………….. 58
Índice de circularidade………………………………………………………………….. 58
Densidade de drenagem……………………………………………………………….. 58
Densidade hidrográfica…………………………………………………………………. 60
Textura da topografia…………………………………………………………………… 60
Coeficiente de manutenção……………………………………………………………. 61
Frequência relativa dos canais de cada ordem……………………………………… 61
Relação entre o comprimento médio dos canais de cada ordem…………………. 61
Relação de bifurcação………………………………………………………………….. 62
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 13
1.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA ......................................................... 14
1.1.1 As inundações históricas ....................................................................... 17
1.1.2 O desastre de 2008 ............................................................................... 21
1.2 OBJETIVOS ................................................................................................. 26
1.2.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 26
1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 26
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 27
2.1 INUNDAÇÕES ............................................................................................. 32
2.2 CONDICIONANTES DO DESENVOLVIMENTO DE INUNDAÇÕES ........... 35
2.2.1 Condicionantes naturais ........................................................................ 36
2.2.2 Condicionantes antrópicas .................................................................... 41
2.3 IMPACTOS DAS INUNDAÇÕES ................................................................. 46
2.4 CONTROLE DE INUNDAÇÕES .................................................................. 49
2.4.1 Medidas estruturais ............................................................................... 49
2.4.2 Medidas não-estruturais ........................................................................ 50
2.5 A MORFOMETRIA DA BACIA NO ESTUDO DAS INUNDAÇÕES .............. 50
2.5.1 Área da bacia......................................................................................... 54
2.5.2 Hierarquia fluvial .................................................................................... 55
2.5.3 Gradiente do canal principal .................................................................. 55
2.5.4 Coeficiente de compacidade ................................................................. 56
2.5.5 Fator de Forma ...................................................................................... 56
2.5.6 Índice de Forma (K) ............................................................................... 57
2.5.7 Índice de circularidade ........................................................................... 57
2.5.8 Densidade de drenagem (Dd) ............................................................... 58
2.5.9 Densidade hidrográfica (Dh) .................................................................. 59
2.5.10 Textura da topografia (Tt) ................................................................... 60
2.5.11 Coeficiente de manutenção (Cm) ....................................................... 60
2.5.12 Frequência relativa dos canais de cada ordem .................................. 61
2.5.13 Relação entre o comprimento médio dos canais de cada ordem ....... 61
2.5.14 Relação de bifurcação ou índice de bifurcação .................................. 61
2.6 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................... 62
3 CARACTERIZAÇÃO DA SUB-BACIA DO RIO LUÍS ALVES ..................................... 65
3.1 ASPECTOS GEOLÓGICO-GEOMORFOLÓGICOS .................................... 66
3.2 CÁLCULO DOS PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS ................................ 74
3.2.1 Delimitação da bacia hidrográfica .......................................................... 74
3.2.2 Ordem hierárquica dos canais ............................................................... 75
3.2.3 Gradiente do canal principal (Gcp) ........................................................ 76
3.2.4 Coeficiente de compacidade ................................................................. 78
3.2.5 Fator de Forma ...................................................................................... 79
3.2.6 Índice de Forma (K) ............................................................................... 79
3.2.7 Índice de circularidade ........................................................................... 80
3.2.8 Densidade de drenagem (Dd) ............................................................... 81
3.2.9 Densidade hidrográfica (Dh) .................................................................. 82
3.2.10 Textura da topografia (Tt) ................................................................... 83
3.2.11 Coeficiente de manutenção (Cm) ....................................................... 83
3.2.12 Frequência relativa dos canais de cada ordem .................................. 84
3.2.13 Relação entre o comprimento médio dos canais de cada ordem ....... 85
3.2.14 Relação de bifurcação ........................................................................ 87
3.2.15 Discussão dos resultados................................................................... 88
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 92
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 94
13

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho teve por objetivo caracterizar morfometricamente a sub-


bacia do rio Luís Alves, uma das sete sub-bacias do rio Itajaí1, Santa Catarina. Esta
grande bacia hidrográfica é internacionalmente conhecida pelos desastres
desencadeados por eventos de inundações e movimentos de massa que com certa
frequência assolam os municípios aí localizados. A sub-bacia do rio Luís Alves foi
escolhida pela pouca disponibilidade de trabalhos de caráter
geomorfológico/morfométrico que abordassem a sub-bacia em sua totalidade.
A morfometria de bacias hidrográficas é uma metodologia útil por caracterizar
matematicamente aspectos geométricos das bacias, que por sua vez, possuem
implicações sobre a hidrologia das bacias. Assim, pela morfometria é possível
identificar determinadas tendências de comportamentos hidrológicos, sendo
especialmente útil para aquelas áreas onde há escassez deste tipo de dados. A sub-
bacia hidrográfica do rio Luís Alves possui uma estação fluviométrica localizada no
município de Luís Alves (26°44’17” S, 49°55’54” W)2, entretanto os dados aí
coletados não são representativos da bacia inteira, por estar localizada em área
distante da foz. Desta forma optou-se por utilizar a morfometria para identificar qual
a contribuição destes aspectos no desenvolvimento de inundações.
O material utilizado para determinação dos parâmetros morfométricos foram
quatro cartas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, escala
1:50.000 vetorizadas e disponibilizadas no sítio eletrônico do Centro de Informações
de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina –
CIRAM/EPAGRI3. Das cartas foram selecionadas as camadas hidrografia, curvas de
nível e pontos cotados, sendo todo o trabalho realizado em meio digital, de forma
não automática, com auxílio do software ArcGIS 10.0 (ESRI)4.
Os resultados alcançados mostram que a sub-bacia do rio Luís Alves
apresenta suscetibilidade ao desenvolvimento de inundações, entretanto o uso do

1
Também conhecida como Vale do Itajaí.
2
Schaefer-Santos (2003).
3
http://ciram.epagri.sc.gov.br/mapoteca/
4
Licença do Laboratório de Geoprocessamento/GEOLAB da Universidade do Estado de Santa
Catarina/UDESC.
14

solo sem observação da legislação ambiental se constitui num agravante dessa


condição.
O trabalho está estruturado em quatro Capítulos. O Capítulo 1 (Introdução)
apresenta uma breve caracterização do problema das inundações no Vale do Itajaí e
na sub-bacia do rio Luís Alves, com base na extensa bibliografia existente sobre a
questão naquela bacia, além dos objetivos geral e específicos do trabalho. O
Capítulo 2 traz a fundamentação teórica do trabalho, abordando os conceitos de
desastre, caracterizando o fenômeno das inundações dentro da classificação dos
desastres, as condicionantes que contribuem para seu desenvolvimento, os
impactos decorrentes de um evento, medidas de controle, a morfometria no estudo
das inundações e a descrição dos parâmetros morfométricos utilizados no presente
trabalho. O Capítulo 3 caracteriza brevemente a sub-bacia do rio Luís Alves em seus
aspectos físicos, apresenta os materiais e métodos empregados na caracterização
morfométrica e descreve os cálculos empregados para a sub-bacia, comparando os
resultados com dados encontrados na literatura científica. Por fim, no Capítulo 4 são
tecidas as considerações finais do trabalho.

1.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA

Com uma área total de 15 mil Km2 e ocupando 16,15% do território


catarinense, a bacia hidrográfica do rio Itajaí integra a Vertente Atlântica, situando-se
na porção nordeste do estado de Santa Catarina. Limita-se ao norte pelas bacias
dos rios Itapocu e Iguaçu, a oeste pelas bacias do Iguaçu e Uruguai, ao sul pelas
bacias do Tubarão e Tijucas e a leste pelo Oceano Atlântico, sendo formada por
sete sub-bacias5 (ver Figura 1.1). Constitui-se na maior bacia hidrográfica do estado
de Santa Catarina (FRAGA & KÖHLER, 1999). Atualmente abrange 49 municípios e
uma população de aproximadamente 1.150.000 pessoas (AUMOND et al., 2009),
dos quais cerca de 75% residem em zonas urbanas (FRAGA & KÖHLER, 1999).

5 2 2 2
Itajaí do Norte (3.315 Km ), Itajaí do Oeste (2.928 Km ), Itajaí-Açú (2.794 Km ), Itajaí do Sul (2.309
2 2 2 2
Km ), Itajaí-Mirim (1.673 Km ), Benedito (1.398 Km ) e Luís Alves (582,02 Km ) (FRAGA & KÖHLER,
1999).
15

Figura 1.1: Rede fluvial e sub-bacias do rio Itajaí-Açú.

Fonte: Adaptado de Aumond e Frank (2006).

Os eventos de inundação se fazem presentes nesta bacia hidrográfica desde


os primeiros anos da colonização européia, no século XIX (FRAGA & KÖHLER,
1999), e possivelmente já eram recorrentes antes deste período, em função das
16

características geológico-geomorfológicas e climáticas da bacia. De acordo com


Santos (2006:51) a bacia do rio Itajaí apresenta “grande complexidade geoecológica,
(...) suscetibilidade à dinâmica dos processos geomorfológicos erosivos e (...)
fragilidade mediante as ações de derivação antropogênica”.
A descrição extensiva do meio físico da bacia do Itajaí não constitui objetivo
deste trabalho, mas considera-se importante caracterizar alguns aspectos geológico-
geomorfológicos que podem contribuir para o desenvolvimento de inundações.
A geologia da bacia do Itajaí apresenta-se bastante complexa, constituindo
um mosaico de litologias que reflete um longo processo de coevolução entre fatores
endógenos (tectônicos) e exógenos (climáticos) elaboradores do relevo, que
remontam a 2,7 bilhões de anos antes do presente. Na bacia afloram rochas do
embasamento cristalino, ígneas intrusivas e metamórficas, de idades entre 2,7
bilhões a 550 milhões de anos, cuja gênese está ligada aos três ciclos orogênicos
que configuraram na formação do Cráton Luís Alves, sedimentares e ígneas
extrusivas datando de 290 e 115 milhões de anos, e por fim sedimentos recentes,
depositados nos últimos dez mil anos durante o período Holoceno (AUMOND, 2006).
Esta geologia tão diversa atua como condicionante das formas construídas
pelos processos do meio físico atuantes na bacia, expressas pelas unidades
geomorfológicas, ou, por exemplo, pelo perfil longitudinal dos rios, cujas diferentes
declividades dos setores do relevo condicionam diferentes processos de
escoamento e acumulação, ou o próprio traçado de algumas drenagens, que correm
encaixadas no sistema de fraturamento Arqueano-Proterozóico:

Grandes trechos do rio Itajaí-Açú, entre Trombudo Central e


Blumenau e praticamente todo o rio Itajaí-Mirim encontram-se
encaixados em fraturas regionais de orientação nordeste. Já os rios
Itajaí do Norte e do Sul acham-se condicionados a um sistema de
fraturas noroeste (AUMOND, 2006:25).

Assim, o relevo da bacia do Itajaí se apresenta em grande parte como


resultante da acomodação da drenagem ao padrão de fraturamento geológico e da
erosão regressiva e diferencial, levada a cabo pelo trabalho dos rios em direção a
leste (SANTOS, 2006), após o soerguimento da Serra do Mar e o basculamento do
planalto catarinense para oeste (AUMOND, 2006).
17

Da interação entre o arcabouço geológico e os processos geomorfológicos


modeladores do relevo resultam naquela bacia três domínios morfoestruturais, de
montante para jusante: as bacias e coberturas sedimentares, os embasamentos em
estilos complexos e os depósitos sedimentares (SANTOS, 2006).
Cada um desses domínios compreende um conjunto de formas de relevo
características, que por sua vez tem reflexo no traçado da hidrografia – formas de
revelo menos acidentadas tendem a condicionar rios de maior comprimento e menor
gradiente, enquanto os relevos acidentados constroem perfis de maior gradiente e
menor comprimento (SANTOS, 2006). A Figura 1.2 apresenta uma comparação
entre os perfis longitudinais dos principais afluente do rio Itajaí-Açú, ilustrando o que
foi comentado acima: a bacia apresenta diversos rios acidentados de alto gradiente
e pequena extensão, nas duas margens do Itajaí, já os rios de maior extensão e
baixo gradiente estão presentes em menor número, sendo três na margem direita e
apenas um na margem esquerda.

Figura 1.2: Perfil longitudinal dos principais tributários do rio Itajaí-Açú.

Fonte: Santos (2006).

1.1.1 As inundações históricas

Os registros de inundações nesta bacia remontam aos primeiros anos da


colonização européia (FRAGA & KÖHLER, 1999). De acordo com Seyferth (1974,
apud FRANK, 2003), a escolha da bacia do rio Itajaí para assentar as famílias vindas
18

dos reinos germânicos foi deliberada e promovida pelo Governo Brasileiro, que
pretendia criar um canal de ligação entre Desterro6 e o Planalto catarinense:

“interessava ao Governo Brasileiro estabelecer, nas áreas de floresta


das províncias meridionais, colonos que fossem pequenos
proprietários, que usassem só mão-de-obra familiar, de modo a não
entrar no mercado de escravos nem competir na criação de gado”
(FRANK, 2003:15).

Assim, foram instituídas as colônias de Blumenau em 1850 e Brusque em


1860, com a vinda de imigrantes germânicos. A partir de 1875 formam-se outros
núcleos coloniais, com a vinda de imigrantes italianos (FRANK, 2003). Em 1877
criou-se a Colônia Luís Alves, na confluência dos rios Luís Alves e Serafim7, com a
chegada de 79 imigrantes italianos e posteriormente alemães, austríacos e
portugueses (OLIVEIRA, 1997).
O primeiro registro de uma inundação no Vale do Itajaí data de 1848 e é de
autoria do Dr. Hermann Blumenau, sendo encontrados na literatura outros relatos e
descrições de eventos que ocorreram nos anos seguintes8. Desde então foram
registrados 68 eventos em Blumenau entre 1850 e 2002. De acordo com dados de
Frank (2003), a freqüência das enchentes situa-se em torno de uma cheia a cada
2,5 anos. Segundo Fraga e Köhler (1999) a cidade é uma das mais vulneráveis a
inundações no rio Itajaí-Açú e tem sido uma das mais afetadas por inundações na
Bacia do Itajaí, por conta de sua localização, tamanho e estágio de
desenvolvimento.
Após a inundação de 1911 seguiram-se discussões com o objetivo de
solucionar o problema. De acordo com Frank (2003), três soluções foram
levantadas: a construção de um muro de arrimo (executado na década de 1960 em
Blumenau), a abertura de um canal de escoamento entre Blumenau e o Belchior
(executada 20 anos mais tarde), e a terceira possibilidade - nunca adotada, que
consistia na mudança da cidade para cotas mais altas, diminuindo a vulnerabilidade

6
Atual Florianópolis.
7
Disponível no sítio eletrônico da Prefeitura Municipal de Luís Alves:
<http://www.luisalves.sc.gov.br/conteudo/?item=27548&fa=5775> Acesso em 03/02/2012.
8
Ver: Santos, 2010.
19

da população e eliminando a necessidade de obras estruturais. Para Frank


(2003:20):

é surpreendente que a terceira idéia, de mudança da cidade, ou


melhor – em linguagem técnica atual -, a de estabelecer um
zoneamento que contemplasse um uso mais adequado das áreas
inundáveis, fosse totalmente rejeitada. (...) Por que o espírito
inovador não se manifestou na implementação de medidas de
prevenção de enchentes ao alcance do município, como, por
exemplo, o ordenamento do uso do solo? A resposta mais imediata
encontra-se na racionalidade econômica. As iniciativas de
desenvolvimento levadas a termo compreendiam atividades
produtivas, o que justifica os empreendimentos privados. As medidas
de prevenção de cheias, embora tivessem a finalidade de evitar
eventuais prejuízos privados, teriam caráter nitidamente público,
razão pela qual estiveram excluídas da racionalidade dos
empreendedores do Vale do Itajaí.

A partir da década de 1950 foram implantadas diversas medidas de


engenharia com o objetivo de minimizar os impactos das inundações na bacia: foram
construídos diques marginais em Blumenau, realizados cortes de meandros,
desassoreamento, alargamento e retificação de trechos de rios, e implantadas três
barragens para armazenamento de águas das inundações: Taió (capacidade de
armazenamento de 110.000.000 m3), Ituporanga (97.500.000 m3) e José Boiteux
(357.000.000 m3). Mais tarde, em 1988, estudos da Japan International Cooperation
Agency (JICA) mostrariam que parte das medidas adotadas pelo DNOS9 para
avaliação das barragens estavam equivocadas (FRAGA & KÖHLER, 1999).
A primeira inundação registrada no município de Luís Alves data de 1880,
quando 25 pessoas morreram. Com o pouco apoio governamental após o evento,
muitas pessoas abandonaram a colônia10. Eventos desse tipo são comuns no
município. A Figura 1.3 foi obtida do sítio eletrônico da prefeitura de Luís Alves e
retrata uma inundação datada do ano de 1970. Somente entre 1983 e 2001 foram
registrados, por meio de formulários Avaliação de Danos (AVADAN), oito eventos de
inundação em Luís Alves (ver Quadro 1.1), sendo seis eventos de inundação

9
Departamento Nacional de Obras e Saneamento.
10
Disponível no sítio eletrônico da Prefeitura Municipal de Luís Alves:
<http://www.luisalves.sc.gov.br/conteudo/?item=27548&fa=5775> Acesso em 03/02/2012.
20

gradual e dois de inundação brusca (HERMANN, 2005), o que dá uma média de um


evento para cada 2,25 anos.

Quadro 1.1: Ocorrência de inundação no município de Luís Alves por ano e tipo de
inundação.
Ano Inundação gradual Inundação brusca
Primavera Verão Outono Inverno Primavera Verão Outono Inverno
1983 x x
1984 x
1985 x
1987 x
1989 x
1998 x
2001 x
Fonte: Hermann (2005).

Figura 1.3: Inundação de 1970 no município de Luís Alves, casa de Gelson Wust.

Fonte: Prefeitura de Luís Alves11.

11
Disponível no sítio eletrônico da Prefeitura Municipal de Luís Alves:
<http://www.luisalves.sc.gov.br/conteudo/?item=28797&fa=5775&PHPSESSID=fe1unjl2l1mo1q25qckl
91a1d2> Acesso em 03/02/2012.
21

1.1.2 O desastre de 2008

Segundo Severo (2009), o evento de extrema precipitação de 22 e 23 de


Novembro de 2008 esteve associado com a atuação de um anticiclone que
permaneceu estacionário sobre o oceano vizinho à região sul do Brasil, facilitando o
transporte de umidade para o continente e favorecendo o desenvolvimento de
nuvens convectivas. De acordo com dados da Estação Pluviométrica de Blumenau,
o ano de 2008 apresentou precipitação próxima ou abaixo da média em sete dos
doze meses. Entretanto, em Outubro e Novembro o volume de chuvas foi maior que
o dobro da média, alcançando em Novembro valores próximos a 1000 mm12, ou
cerca de metade da precipitação anual total (SEVERO, 2009). Choveu todos os dias
entre 18 e 29 de Novembro, provocando inundações e enxurradas e contribuindo
para o encharcamento dos solos, que desencadearam movimentos de massa em
diversos locais do estado, levando 14 municípios a decretarem estado de
calamidade pública e 63 a decretarem situação de emergência (ver Figura 1.4).
Em todo o estado foram contabilizados 135 mortos, 78.656 desabrigados e
desalojados e 1,5 milhão de pessoas afetadas. Na bacia do Itajaí, as regiões do
médio e baixo vale foram as mais afetadas (MATTEDI et. al., 2009), justamente onde
está situado o complexo do Morro do Baú, entre os municípios de Ilhota, Gaspar e
Luís Alves. Segundo Sevegnani et al. (2009: 115):

Em Luís Alves, no Baú (em Ilhota) e no Arraial (em Gaspar) as


operações de resgate tiveram semelhança às executadas numa
guerra, pois famílias inteiras tiveram que ser localizadas, retiradas e
levadas aos abrigos pelos helicópteros, pois toda a região estava em
risco máximo de escorregamento e os moradores impedidos de
voltar aos seus lares ou as suas localidades durante semanas.

O impacto verificado nesses municípios pode ser em parte explicado pelo


mapa de isoietas da bacia do Itajaí apresentado por Severo (2009), que mostra a
concentração geográfica das chuvas mais intensas entre 20 e 25 de Novembro
exatamente sobre a sub-bacia do rio Luís Alves, alcançando 700 mm de chuva em
apenas cinco dias (ver Figura 1.5).

12
Foram registrados 500 mm em apenas dois dias em Blumenau (MATTEDI et. al., 2009).
22

Figura 1.4: Distribuição dos municípios que decretaram situação de emergência e estado de
calamidade pública em novembro de 2008.

Fonte: Mattedi et. al (2009).

Figura 1.5: Total acumulado da precipitação entre os dias 20 e 25 de novembro de 2008 no


Vale do Itajaí, Santa Catarina.

Fonte: Severo (2009).


23

Evidentemente não foi apenas a alta concentração de chuvas a responsável


pelo desastre ocorrido na bacia do Itajaí como um todo. Em última instância, a falta
de uma política de gestão de riscos numa região que historicamente é assolada por
eventos adversos desencadeadores de desastres certamente contribuiu para o atual
cenário de vulnerabilidade dos municípios. A sociedade em suas diversas instâncias,
apesar do histórico de eventos adversos recorrentes, permaneceu despreparada
para enfrentar situações como aquela, resultando num cenário de desastre, tal como
apontam Mattedi et al. (2009:16):

embora a intensidade da chuva no evento de novembro de 2008


possa ser considerada excepcional (perto de 500 mm em dois dias
em Blumenau), é inegável que as atividades humanas contribuíram
decisivamente para o aumento de seus impactos. Na região do Baú,
por exemplo, área fortemente atingida pelo desastre, levantamento
feito pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural
de Santa Catarina (EPAGRI), mostrou que 85% dos
escorregamentos tiveram como causas predisponentes as ações
humanas desenvolvidas nas áreas afetadas: desmatamentos, cortes
nas encostas, aterros e práticas agrícolas e urbanas inadequadas.

Segundo Sevegnani et al. (2009) o Formulário de Avaliação de Danos


(AVADAN) realizado pelo município de Luís Alves em 2008 descreve 100% da
população do município afetada, 3232 pessoas desalojadas, 239 desabrigadas, 4
feridas e 10 mortas. Entre as perdas materiais são citadas duas unidades de saúde,
uma escola, 40 km de estradas danificadas, além de perdas na produção
agropecuária do município. De acordo com a Defesa Civil de Santa Catarina, o
município ficou durante uma semana privado de energia elétrica13.
Serrano (2011) investigou os impactos pós-evento através das modificações
impostas pelos deslizamentos de 2008 às planícies do Ribeirão Sorocaba, um
afluente do rio Luís Alves. Através de fotointerpretação e entrevistas com os
moradores e produtores locais, verificou diversos impactos relacionados ao
assoreamento das planícies cultivadas, implicando na perda de culturas de banana,

13
Disponível no sítio eletrônico da Defesa Civil de Santa Catarina:
<http://www.desastre.sc.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=219:celesc-investe-r-
12-milhao-para-restabelecer-toda-a-energia-em-luis-alves&catid=2:energia&Itemid=17> Acesso em
03/02/2012/
24

arroz, palmeira real, e em açudes de criação de peixes, por soterramento ou


impossibilidade de venda dos produtos devido ao bloqueio de estradas.
Um entrevistado, dono de aviário relatou a perda de sua produção por falta de
ração, além de animais mortos por soterramento ou afogamento. Muitos dos
proprietários entrevistados relataram perdas na produtividade, sendo que algumas
atividades nunca mais foram retomadas. A presença nas planícies de seixos e
blocos trazidos pelos deslizamentos ou corridas de lama inviabilizou a produção em
escala, pois impedem agora a utilização de maquinário. Outras questões também
contribuíram para piorar a situação dos pequenos produtores: muitas das empresas
que compravam a produção de Luís Alves também sofreram perdas com as
inundações ou deslizamentos, cancelando os pedidos naquele período e agravando
a situação econômica daquela população (SERRANO, 2011).
Os dados evidenciam a extrema vulnerabilidade do município de Luís Alves, e
certamente dos outros municípios do Vale do Itajaí aos eventos adversos,
transformando-os em desastres. Segundo Serrano (2011), todos os entrevistados
afirmaram que o único fator responsável pelo desencadeamento dos deslizamentos
foi o excesso de chuvas, apontando uma compreensão equivocada da relação entre
as dinâmicas naturais e os impactos que a própria atividade agropecuária podem
exercer sobre a bacia hidrográfica14.
Embora desde a colonização tenha havido esforços pontuais para a
minimização do problema, a gestão de risco de desastres no Vale do Itajaí só foi
contemplar ações mais integradas de prevenção, preparação, resposta e
reconstrução nas últimas décadas do século passado, e ainda assim de forma um
tanto desarticulada entre as esferas municipal, estadual, federal e privada. Além
disso, desde os primeiros anos da colonização há evidências do uso político das
inundações (FRANK, 2003).
A falta de uma política de Estado de gestão integrada dos riscos em Santa
Catarina e no Vale do Itajaí em especial culminou no cenário atual, onde convive
uma população grande, ocupação desordenada, desrespeito às leis de ordenamento
e uso do solo pelo próprio poder público e não observância de critérios

14
Segundo EPAGRI (2009), 85% dos pontos onde ocorreram deslizamentos a cobertura florestal
nativa havia sido substituída por plantações de pínus/eucalipto ou banana, ou ainda apresentavam
solo exposto ou em fase inicial de regeneração da vegetação.
25

geomorfológicos (regionalizados) para o uso da terra. Além disso, quando ocorrem


os eventos adversos, as políticas de governo são em geral de caráter emergencial e
eleitoreiro, sem considerar a complexidade do problema. Mattedi et. al. (2009:17)
sintetizam o que está discutido acima, quando consideram que a destruição pós-
impacto verificada no desastre de 2008 no Vale do Itajaí

foi sendo incubada socialmente por ações cotidianas através da


ocupação do espaço e dos recursos naturais, o que nos permite
afirmar que os desastres que comoveram a opinião pública nacional
e internacional foram o produto de escolhas políticas e, portanto,
“foram construídos socialmente” (grifo dos autores).

O planejamento da drenagem nos municípios deve ser visto como parte do


planejamento urbano, integrado aos planos de saneamento, uso do solo e
transportes, de forma conjunta entre todos os municípios que compõem a bacia
hidrográfica e onde for possível, adotando ações preventivas para o controle de
inundações (CANHOLI, 2005). Segundo Mattedi et. al. (2009), a não incorporação
das áreas de risco no zoneamento urbano e a flexibilização da legislação ambiental
– a exemplo do novo Código Florestal – amplia substancialmente o risco de
ocorrência de desastres.
O entendimento do funcionamento da bacia hidrográfica do rio Itajaí-Açú – e
de todos os seus tributários, em sua complexidade, é fundamental para um
planejamento baseado não apenas em critérios econômicos ou de potencialidades,
mas principalmente, baseado no entendimento e respeito às condicionantes naturais
de desenvolvimento. Trabalhos geomorfológicos e morfométricos sobre a sub-bacia
do rio Luís Alves são escassos. É nesse contexto que se justifica a necessidade do
presente trabalho, que pretende gerar algumas informações que sirvam de subsídio
para outros trabalhos científicos, bem como para a gestão e o planejamento
territorial desta sub-bacia.
Para uma gestão integrada de riscos da bacia hidrográfica, é necessário que
o planejamento territorial da mesma seja efetuado considerando as diferentes
(porém articuladas) escalas do território. Portanto, o planejamento ao nível municipal
(Planos Diretores, por exemplo), deve considerar, quando for o caso, que há
26

municípios à montante e à jusante, e que qualquer intervenção neste ou naqueles


municípios pode ter impactos positivos ou negativos uns sobre os outros.
Como contribuição para a compreensão das inundações na sub-bacia do rio
Luís Alves, e frente aos problemas apresentados considera-se necessário investigar
como se dá o escoamento das águas superficiais durante eventos de precipitação
intensa na sub-bacia do rio Luís Alves. Dessa forma, os questionamentos que
orientam a pesquisa proposta são: quais são as características geométricas da sub-
bacia do rio Luís Alves? E, frente aos aspectos morfométricos, qual a suscetibilidade
da sub-bacia aos eventos de inundação?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Entender qual o comportamento morfométrico da sub-bacia do rio Luís Alves e sua


contribuição para o desenvolvimento de cheias, como subsídio à análise das áreas
suscetíveis à inundação na sub-bacia do rio Luís Alves.

1.2.2 Objetivos Específicos

1. Caracterizar morfometricamente a sub-bacia do rio Luís Alves;


2. Investigar a suscetibilidade morfométrica da sub-bacia aos eventos de
inundação.
27

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com a Política Nacional de Defesa Civil (SNDF, 2007), estudos


epidemiológicos apontam os desastres naturais como responsáveis por danos muito
maiores que aqueles desencadeados por guerras. Apenas em 2011 os desastres
naturais causaram a morte de 30.770 pessoas, fizeram 244,7 milhões de vítimas e
deixaram um prejuízo financeiro recorde de 366,1 bilhões de dólares em todo o
mundo (GUHA-SAPIR et. al., 2012). Somente as inundações nos Estados Unidos
provocam prejuízos estimados em dois bilhões de dólares ao ano. Além dos danos
materiais a edificações, redes de distribuição de energia, água e gás, fábricas e
colheitas, os desastres também provocam danos que não são mensuráveis do ponto
de vista monetário, tais como perdas humanas, epidemias, traumas psicológicos
pós-evento, além de danos a ecossistemas. Na cidade de São Paulo, durante o
período de verão, os casos de leptospirose associados às inundações chegam a
centenas, e a taxa de mortalidade associada atinge 1/5 dos casos (CANHOLI, 2005).
O Brasil aparece em sétimo lugar no ranking mundial dos dez países com
maior número de eventos reportados em 2011 (GUHA-SAPIR et. al., 2012). De
acordo com CEPED (2012), os desastres naturais no Brasil aumentaram quando
comparadas as décadas de 1990 e 2000. Do total de 31.909 desastres registrados
no país nas últimas duas décadas, 8.671 (27%) ocorreram na década de 1990,
enquanto 23.238 (73%) foram registrados na década de 2000. Os dados mostram
uma diferença substancial no número de eventos entre as décadas comparadas,
sugerindo um aumento de 73% no número de casos. Entretanto, embora nas últimas
décadas a ocupação desordenada tenha contribuído para o aumento da
vulnerabilidade das populações dos municípios brasileiros, aumentando também o
número de casos, esse resultado deve ser interpretado como o reflexo do
fortalecimento do Sistema de Defesa Civil no Brasil, tornando os registros mais
frequentes e os dados cada vez mais confiáveis.
De acordo com Castro (2002:57) os desastres podem ser entendidos como o
“resultado de eventos adversos15, naturais ou provocados pelo homem, sobre um
ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e

15
Evento adverso: Ocorrência desfavorável, prejudicial, imprópria. Acontecimento que traz prejuízo,
infortúnio. Fenômeno causador de um desastre (CASTRO, 2007:77).
28

conseqüentes prejuízos econômicos e sociais”. Alguns autores e organismos


consideram que para que um evento seja considerado desastre, deve superar a
capacidade de resposta local, necessitando auxílio externo (EM-DAT16,
MARCELINO, 2008).
Portanto, para o desastre se realizar se faz necessária a interação de alguns
elementos: uma população humana em situação de vulnerabilidade, exposta a um
evento adverso que implique em danos e prejuízos cuja capacidade de resolução
supere a capacidade de resposta daquela população.
Além dos conceitos de desastre e evento adverso, serão também usados
neste trabalho os conceitos de risco, dano e vulnerabilidade, sendo adotados
aqueles conceitos propostos por Castro (2002), e definidos a seguir:
Risco: Medida de danos ou prejuízos potenciais, expressa em termos de
probabilidade estatística de ocorrência e de intensidade ou grandeza das
conseqüências previsíveis. Relação existente entre a probabilidade de que uma
ameaça de evento adverso ou acidente determinados se concretize, com o grau de
vulnerabilidade do sistema receptor a seus efeitos (CASTRO, 2002:162).
Dano: Medida que define a intensidade ou severidade da lesão resultante de
um acidente ou evento adverso. Perda humana, material ou ambiental, física ou
funcional, que pode resultar, caso seja perdido o controle sobre o risco. Intensidade
das perdas humanas, materiais ou ambientais, induzidas às pessoas, comunidades,
instituições, instalações e/ou ecossistemas, como conseqüência de um desastre
(PNDC, 2007:53).
Vulnerabilidade: Condição intrínseca ao corpo ou sistema receptor que, em
interação com a magnitude do evento ou acidente, caracteriza os efeitos adversos,
medidos em termos de intensidade dos danos prováveis. Relação existente entre a
magnitude da ameaça, caso ela se concretize, e a intensidade do dano conseqüente
(PNDC, 2007:188).
A classificação de desastres adotada oficialmente no Brasil divide-os em
relação à sua intensidade, evolução ou origem. Quanto à evolução, dividem-se em
desastres súbitos ou de evolução aguda (terremotos, deslizamentos, erupções

16
EM-DAT é uma base de dados internacional sobre desastres administrado pelo CRED - Centre for
Research on the Epidemiology of Disasters, da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. A base
de dados pode ser acessada pelo endereço <http://www.emdat.be/>.
29

vulcânicas, entre outros), desastres de evolução crônica ou gradual (seca, erosão,


poluição ambiental, entre outros) ou desastres por somação de efeitos parciais
(ligados a doenças, acidentes de trânsito, acidentes do trabalho, entre outros)
(CASTRO, 2002).
Quanto à intensidade classificam-se em quatro níveis: nível I – desastres de
pequena intensidade (acidentes), nível II - desastres de média intensidade, nível III -
desastres de grande intensidade e nível IV - desastres de muito grande intensidade
(CASTRO, 2002).
Do ponto de vista do fenômeno de origem, estes podem ser classificados
como naturais, humanos ou mistos. Os desastres humanos são aqueles que têm no
Homem o agente e autor, ou seja, são provocados pela ação ou omissão humana.
Os desastres mistos ocorrem em situações em que a ação humana é intensificadora
de desastres naturais, ou quando um fenômeno adverso natural atua sobre uma
área degradada por ação humana, provocando um desastre (CASTRO, 2002).
Os desastres naturais são conceituados como “aqueles provocados por
fenômenos e desequilíbrios da natureza e produzidos por fatores de origem externa
que atuam independentemente da ação humana” (CASTRO, 2002:57). Estão,
portanto associados a eventos relacionados com a atuação de forças endógenas
(agentes internos) ou exógenas (agentes externos) atuantes no planeta. Dessa
forma, algumas classificações dos desastres naturais em função do tipo de evento
gerador são encontradas na literatura.
Marcelino (2008) apresenta uma tabela adaptada de Tobin & Montz (1997,
apud MARCELINO, 2008), dividindo os eventos em Meteorológicos, Hidrológicos e
Geológicos. Já o Centre for Research on the Epidemiology of Disasters - CRED
classifica os desastres naturais em cinco sub-grupos e doze tipologias principais,
conforme o Quadro 2.1.
Nas duas classificações acima citadas as inundações são consideradas
eventos de origem hidrológica. De acordo com Bich et. al., (2011) nas duas últimas
décadas, mais de 400 milhões de pessoas foram diretamente afetadas por
inundações por ano, em todo o mundo. Os desastres naturais de origem hidrológica
(inundações e movimentos de massa) corresponderam a 52,1% das ocorrências no
mundo em 2011, afetando 139,8 milhões de pessoas (57,1% do total de pessoas
30

afetadas por desastres), sendo responsáveis também por 20,4% das mortes e
19,3% do total de danos (GUHA-SAPIR et. al., 2012).

Quadro 2.1: classificação dos desastres naturais segundo o EM-DAT.


SUBGRUPO DEFINIÇÃO TIPOLOGIA PRINCIPAL
Geofísicos Eventos provocados por fenômenos Terremotos
geofísicos. Vulcanismo
Movimentos de massa
(seco)
Meteorológicos Eventos causados por processos Tempestades
atmosféricos de curta duração (entre
minutos a alguns dias) e ocorrência
circunscrita as micro e mesoescala.
Hidrológicos Eventos causados por desvios no ciclo Inundações
hidrológico e/ou transbordamento de Movimentos de massa
corpos d’água causados pela ação dos (úmido)
ventos.
Climatológicos Eventos causados por processos Temperaturas
climáticos de longa duração extremas
(variabilidade climática intra-estações a Secas
multi-decadal) e de ocorrência Incêndios florestais
circunscrita às meso e macroescalas.
Biológicos Desastres causados pela exposição de Epidemias
organismos vivos a germes e substancias Infestação de insetos
tóxicas Estouro de animais
(boiadas, manadas,
etc)
Fonte: livre tradução da tabela disponível no sítio eletrônico do EM-DAT.

Segundo o CEPED (2012) os registros históricos de desastres naturais no


Brasil indicam as estiagens/secas e inundações bruscas/alagamentos como as
tipologias mais comuns no país. As inundações bruscas e alagamentos aparecem
em segundo lugar como tipologias mais recorrentes, totalizando 21% dos desastres
registrados no país nas duas últimas décadas. As inundações graduais
correspondem a 12 % do total de desastres registrados no período mencionado,
figurando em terceiro lugar. A Figura 2.1 apresenta a espacialização dos registros de
inundação brusca e alagamentos por mesorregião no Brasil, mostrando Santa
Catarina e Rio Grande do Sul como os estados mais afetados por esse tipo de
evento (CEPED, 2012). Na figura apresentada a bacia hidrográfica do rio Itajaí está
31

destacada pela seta vermelha, por se distinguir como uma das três mesorregiões
com maior número de registros de inundação brusca e alagamentos no país.

Figura 2.1: Desastres naturais causados por inundação brusca e alagamento no Brasil no
período de 1991 a 2000.

Bacia do
Rio Itajaí

Fonte: CEPED, 2012.

A maioria das cidades brasileiras enfrenta problemas relacionados às


enchentes e inundações, principalmente aquelas que apresentam núcleos
habitacionais de baixa renda ocupando as várzeas dos rios (IPT, 2007). Do total de
70 municípios brasileiros com maior número de ocorrências entre 1991 – 2010, 34
(ou seja, em torno de 48% do total) estão situados em Santa Catarina, sendo que os
sete primeiros são catarinenses (Chapecó, Canoinhas, Tangará, Concórdia, Seara,
Abelardo Luz e Itá) (CEPED, 2012).
32

2.1 INUNDAÇÕES

As inundações, também chamadas cheias ou enchentes, são um problema


conhecido da Humanidade há milhares de anos, e já no mundo antigo os egípcio
aprenderam a monitorar e se beneficiar das cheias do rio Nilo (GILLINGS, 2010).
Segundo Botelho (2011), as primeiras interferências antrópicas sobre os cursos
d`água em ambiente urbano no Brasil parecem datar do século XVII, e foram
realizadas nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. De acordo com a autora, com
o aumento da demanda por áreas úteis, os rios – especialmente os meândricos -
passaram a ser tratados como um problema ao crescimento das cidades.

O aumento das áreas urbanizadas e, conseqüentemente,


impermeabilizadas, ocorreu a partir das zonas mais baixas, próximas
às várzeas dos rios ou à beira-mar, em direção as colinas e morros,
em face da necessária interação da população com os corpos
hídricos, utilizados como fonte de alimento e dessedentação, além de
via de transporte (CANHOLI, 2005:15).

O processo crescente de urbanização vigente hoje implica na


impermeabilização das várzeas pelo avanço das áreas construídas. Além disso, a
prática comum de retificação e canalização dos rios em áreas urbanizadas tem
contribuído grandemente para o desenvolvimento de inundações (CANHOLI, 2005).
Para o Europpean Community Directive 2007/60/EC, as enchentes ou
inundações (flood/inundation) são consideradas de forma abrangente como todo
“recobrimento temporário pela água de terras não normalmente cobertas por água”
(DÍEZ-HERRERO et al., 2009:17). Segundo os autores, existem dois tipos de
inundação de origem natural17: as inundações de superfície ou continentais18 – em
que a água cobre porções interiores aos continentes, e as inundações costeiras –
que ocorrem quando as águas do mar invadem regiões litorâneas.
As inundações continentais podem ser originadas pelo transbordamento de
cursos d’água, pelo alagamento de planícies ou áreas endorréicas não conectadas

17
Há ainda as inundações provocadas pela ação humana, como quando da ruptura de diques e
reservatórios, por exemplo (DÍEZ-HERRERO et al., 2009).
18
Surface flooding ou inland flooding.
33

ao sistema de drenagem, ou pela acumulação da chuva que flui sobre a superfície.


Além destes fatores, as surgências ou elevações do lençol freático também podem
causar cheias e constituem as inundações de origem hidrogeológica. As inundações
costeiras podem ser causadas pelo aumento do nível do mar durante condições
climáticas adversas (maré meteorológica, vendavais, ciclones, furacões entre outros
fenômenos), fortes variações de maré (sizígia e quadratura), variações barométricas
ou como conseqüência de tsunamis (DÍEZ-HERRERO et al., 2009). O Quadro 2.2
traz a classificação das tipologias de inundação adotadas pelo Instituto Geológico y
Minero de España.

Quadro 2.2: Tipos de inundações.


Inundação torrencial
(inundações bruscas e
elevação rápida)
Elevação fluvial (incremento
Relacionados
gradual no nível da água)
à rede fluvial
Rompimentos em barragens
naturais (lagos, diques
Inundações
naturais)
continentais
Channel rifts (other runoff)
Endorreísmo (precipitação
local, escoamento para lagos
TIPOS DE INUNDAÇÕES

Não
Inundações ou zonas aclinais)
relacionados
naturais Hidrogeológicos (surgências
à rede fluvial
ou variações no nível
freático)
Marés altas ou marés de
Relacionadas
sizígia
à ação das
Bores (planícies de maré,
marés
montante de rios)
Inundações
Tempestades, ciclones
costeiras
(origem meteorológica)
Ondas Tsunamis (sísmicos,
vulcânicos, deslizamentos
submarinos)
Induzidas Obstáculos ao fluxo da água, impermeabilização do solo,
ou desflorestamento
agravadas
Manejo inadequado de estruturas hidráulicas
Antrópicas Rupturas e Reservatórios (lagos, reservatórios)
vazamentos Condutos (aquedutos, drenagens)
Fonte: Díez-Herrero et al. (2009).
34

. Na literatura brasileira, quatro conceitos associados ao fenômeno das cheias


são apresentados e discutidos a partir das diferentes características comuns a cada
tipologia: inundação, enchente, alagamento e enxurrada.
Para Tucci (1997a:621) “as enchentes ocorrem quando a precipitação é
intensa e a quantidade de água que chega ao rio é superior à sua capacidade de
drenagem, resultando na inundação das áreas ribeirinhas”. O mesmo autor traz um
conceito muito similar para inundação, afirmando ainda que as inundações podem
ocorrer por conta da dinâmica fluvial natural ou pela ação antrópica
(impermeabilização de superfícies e canalização de rios):

a inundação ocorre quando as águas dos rios, riachos, galerias


pluviais saem do leito de escoamento devido à falta de capacidade
de transporte de um desses sistemas e ocupa áreas onde a
população utiliza para moradia, transporte, (ruas, rodovias e
passeios), recreação, comércio, indústria, entre outros (TUCCI,
2003:45).

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT, 2007) e


Castro (2002), assumem a enchente como a elevação do nível da água de um rio
em razão do aumento de sua vazão. Já a inundação se daria quando essa vazão
supera a capacidade de descarga do rio, extravasando para as áreas marginais – e
que segundo Castro (2002) é decorrente de drenagem deficiente. A Figura 2.2
resume o entendimento dos fenômenos pelo IPT (2007).

Figura 2.2: Perfil esquemático dos processos de enchente e inundação.

Fonte: IPT, 2007.


35

O termo enxurrada se diferencia dos outros dois pela magnitude do evento,


sendo chamada de inundação brusca por Marcelino & Goerl (2005). Para o IPT
(2007:94) a enxurrada caracteriza um “escoamento superficial concentrado e com
alta energia de transporte”. Castro (2002) acrescenta que a enxurrada é fenômeno
resultante de chuvas fortes. Por fim, o termo alagamento é usado pelo IPT (2007) e
por Castro (2002) para se referir à água acumulada em uma determinada área, em
decorrência de precipitação e drenagem deficiente, não parecendo haver relação
com canais fluviais. Tucci (2003) usa o termo como sinônimo de inundação (em
áreas urbanizadas).
Excetuando-se o conceito de alagamento apresentado pelo IPT (2007) e por
Castro (2002), todos os conceitos implicitamente assumem que as cheias estão
relacionadas aos canais fluviais, e, portanto, estão atreladas às características
físicas e dinâmicas das bacias hidrográficas.
Para o desenvolvimento do presente trabalho assumiu-se a terminologia
proposta pelo IPT (2007) e por Castro (2002), já adotadas pela Secretaria Nacional
de Defesa Civil e que vem sendo amplamente divulgada pelo IPT nas capacitações
de técnicos das prefeituras municipais no Brasil.

2.2 CONDICIONANTES DO DESENVOLVIMENTO DE INUNDAÇÕES

Os fatores condicionantes do desenvolvimento de inundações podem ser de


origem natural ou antrópica. Os fatores de origem natural podem ser divididos em
climático-meteorológicos, geológico-geomorfológicos, flúvio-hidrológicos e
oceanográficos (SOUZA, 2005). Entre os fatores naturais que contribuem para o
desenvolvimento ou intensificação das inundações estão àqueles relacionados com
a topografia da bacia de drenagem, como o gradiente da encosta, o tipo de rede
fluvial, o tamanho e forma da bacia, regime pluviométrico, além da geologia local,
tipos de solos e cobertura vegetal (DÍEZ-HERRERO et al., 2009). Os fatores de
origem antrópica se caracterizam por intervenções diretas ou indiretas da atividade
humana sobre a bacia hidrográfica, caracterizando-se por modificações na rede de
drenagem, no uso e ocupação de áreas marginais aos rios, alterações da dinâmica
sedimentar da bacia e balanço sedimentar costeiro (SOUZA, 2005).
36

2.2.1 Condicionantes naturais

A água, dentre os agentes modeladores do relevo, é o agente morfogenético


mais ativo na esculturação da paisagem (CHRISTOFOLETTI,1974). Está
intimamente ligada ao desenvolvimento dos sistemas fluviais, sendo o meio de
atuação de três processos geomorfológicos: erosão, transporte e deposição de
sedimentos, cuja atuação resulta no perfil de equilíbrio dos rios dentro da bacia
hidrográfica, definindo o padrão dos canais, sua velocidade, largura, extensão e
profundidade (BOTELHO, 2011).

Os meandros formados pelos rios não são, por assim dizer,


“caprichos” da natureza. Eles se formam porque o rio precisa dissipar
a energia acumulada nos trechos de maior declive, a montante.
Quando adentram áreas de baixa declividade, suas águas meandram
ou divagam, sendo o processo de deposição o predominante. Ao
retificar o trecho do baixo curso de um rio, é preciso lembrar que não
apenas esse trecho está sendo alterado, mas o rio como um todo
(BOTELHO, 2011).

O rio pode ser entendido como um “corpo de água corrente confinada num
canal” (SUGUIO & BIGARELLA, 1990:3), e constitui uma das etapas do ciclo
hidrológico. Este, por sua vez, é definido por Drew (1989) como um sistema
complexo de circulação da água, que consiste em diferentes armazenagens de água
(rios, lagos, água subterrânea, oceano, seres vivos, nuvens, entre outros), ligadas
por transferências (precipitação, evaporação, condensação), e cujo tempo para o
desenvolvimento de cada processo se apresenta variável (ver Figura 2.3).
Portanto, o ciclo hidrológico representa o conjunto de processos de circulação
da água na superfície terrestre, cujas principais fases são: precipitação, infiltração,
evaporação, transpiração19, escoamento superficial e escoamento subterrâneo,
sendo seu balanço expresso pela seguinte equação (SUGUIO & BIGARELLA,
1990:4):

Precipitação = escoamento + infiltração + evapotranspiração (1)

19
A evaporação e a transpiração juntas constituem a evapotranspiração.
37

Figura 2.3: Representação esquemática do ciclo hidrológico e pontos de intervenção


humana.

Fonte: Drew (1989).

A fase terrestre do ciclo hidrológico é constituída pela bacia hidrográfica


(SILVEIRA, 1997). Christofoletti (1974:81) e Suguio & Bigarella (1990:13) a definem
como uma área de drenagem de um rio ou sistema fluvial, enquanto Lima (2005:27)
vê a bacia de drenagem como uma “rede em que as ligações são feitas através de
nós, a qual pode ser analisada sob dois aspectos: topológico e morfométrico. O
38

primeiro relaciona-se a interconexões do sistema, enquanto o segundo envolve


comprimento, forma da área, relevo e orientação”.
Silva et al. (2007:105) chamam a atenção para os aspectos
hidrossedimentológicos decorrentes do funcionamento da bacia: “é a área da
superfície terrestre que drena água, sedimentos e materiais dissolvidos para uma
saída comum, num determinado ponto (ou seção) de um canal fluvial”. Da mesma
forma o IBGE (2009:93) define a bacia como “a superfície de coleta e o recipiente de
armazenagem da precipitação, configurando o sistema através do qual a água e os
sedimentos são transportados para o oceano ou lago interior”.
Portanto, pode-se considerar a bacia de drenagem como uma porção da
superfície terrestre cujos limites estão definidos por altos topográficos, constituída
em sua superfície por vertentes e cursos d`água inter-relacionados, que drenam
água, sedimentos e materiais dissolvidos, até um ponto de cota mais baixa e que
constitui o ponto final da drenagem – dentro daquela bacia, também chamado de
exutório. Além disso, cabe ressaltar que a bacia hidrográfica é um sistema aberto e,
portanto, recebe e perde energia e matéria para outros sistemas. Suas
características físicas e processos associados variam espacialmente e são definidos,
principalmente, pela inter-relação entre o clima dominante numa região (regime e
intensidade pluviométrica) e a geologia local, sendo constantemente ajustados em
resposta às variações de entrada e saída de energia no sistema (CUNHA &
GUERRA, 2000). Entre os fatores condicionantes do desenvolvimento de
inundações relacionados à bacia hidrográfica encontram-se a topografia da bacia,
seu tamanho e forma, a geologia local, o tipo de rede fluvial, o tipo de solo, a
cobertura vegetal, entre outros.
A topografia da bacia relaciona-se com a variação vertical de temperatura e
precipitação, de forma que em regiões úmidas, quanto maior a altitude, menor a
temperatura e maior a precipitação. Além disso, o gradiente topográfico tem
influência sobre a velocidade da drenagem, de forma que quanto mais acentuado o
gradiente, maior será também o poder erosivo das águas na bacia (SUGUIO &
BIGARELLA, 1990).
O tamanho ou área da bacia pode ser definido como a porção da superfície,
em projeção horizontal, incluída entre os divisores de água, e em morfometria, é um
elemento básico para o cálculo de outros fatores morfométricos (VILLELA &
39

MATTOS, 1975). O tamanho da bacia está intimamente relacionado ao


desenvolvimento de inundações na medida em que a área de captação de
precipitação implica em volume de água a ser escoado dentro da bacia. Assim, a
área da bacia é diretamente proporcional ao tempo total de duração da inundação e
ao tempo de elevação das águas (SOUZA, 2005).
A forma da bacia tem influência sobre o tempo de distribuição das águas
superficiais (SUGUIO & BIGARELLA, 1990), favorecendo ou não o desenvolvimento
de inundações. Bacias de grandes rios tendem a ter forma de pêra ou leque,
enquanto bacias menores tendem a ter formato variado e dependente de
características geológicas do terreno (VILLELA & MATTOS, 1975).
O regime pluviométrico é importante para a configuração do padrão de
drenagem regional. A intensidade pluviométrica definirá em conjunto com a litologia
e a topografia a quantidade de água a ser escoada superficialmente, bem como o
tipo de escoamento (SUGUIO & BIGARELLA, 1990).
A litologia tem influência sobre a capacidade de infiltração. As rochas
sedimentares permeáveis favorecem a infiltração, bem como áreas de domínio de
rochas ígneas altamente fraturadas, diminuindo o escoamento superficial. As
estruturas geológicas, tais como planos de acamadamento das rochas sedimentares
e as direções dos falhamentos e planos de foliação são também importantes por
estarem relacionadas com a topografia, forma da bacia e o padrão de drenagem –
ou tipo de rede fluvial (SUGUIO & BIGARELLA, 1990).
As redes fluviais podem ser classificadas de acordo com o padrão geométrico
da drenagem, sendo os tipos principais (ver Figura 2.4): dendrítico, em treliça,
retangular, paralelo, radial, anelar e irregular (SUGUIO & BIGARELLA, 1990). A
geometria da rede de drenagem tem influência sobre o tempo de escoamento,
relacionando-se ao tempo decorrido entre a precipitação na cabeceira mais distante
e a chegada daquela porção de água ao exutório da bacia.
A capacidade de infiltração de um solo é um dos fatores contribuintes para o
desenvolvimento de cheias, sendo muito importante no controle do escoamento
numa bacia hidrográfica. Os fatores que controlam a capacidade de infiltração do
solo são a textura, a estrutura do solo (horizontes e espessura do solo), a cobertura
vegetal, as estruturas biológicas, a umidade do solo e as condições da superfície
(SUGUIO & BIGARELLA, 1990). Se o solo possuir alta capacidade de absorção de
40

água, a infiltração será grande e menos água tenderá a escoar pela superfície.
Entretanto, solos com baixa capacidade de absorção promoverão maior escoamento
superficial, acelerando a circulação da água dentro da bacia e contribuindo para a
acumulação das águas em cotas mais baixas. Solos rasos tenderão a saturar mais
rapidamente e consequentemente o escoamento superficial será maior. A
compactação do solo está relacionada à sua textura, influenciando na capacidade do
solo em absorver a água da chuva.

Figura 2.4: Padrões de redes de drenagem mais comuns.

Fonte: Lima (2006).

A presença de cobertura vegetal auxilia na capacidade de infiltração de um


solo, diminuindo o escoamento superficial. Suas raízes perfuram o solo promovendo
a infiltração, e conseqüentemente protegendo-o da erosão. Solos expostos têm seus
poros selados por finas partículas de silte e argila carregadas pela água superficial,
diminuindo a capacidade de infiltração, aumentando o escoamento das águas pela
superfície e promovendo a erosão superficial (SUGUIO & BIGARELLA, 1990). Por
41

sua vez o material carregado pelas águas superficiais vai se depositar no leito dos
rios, nas partes mais baixas da bacia, promovendo seu assoreamento e diminuindo
a capacidade de escoamento do canal, contribuindo para a formação de inundações.
A cobertura vegetal promove ainda a interceptação, que se trata da diminuição da
quantidade e velocidade de água que chega ao solo. Um considerável volume de
água que precipita e é retido na copa das árvores pode evaporar antes de chegar ao
solo. A Figura 2.5 apresenta o plantio em topos de morros na microbacia do
Ribeirão do Baú, um dos principais tributários do Luís Alves, e exemplifica o que foi
discutido acima. O solo exposto disponibiliza material que chega aos canais fluviais
pela ação do escoamento superficial quando ocorre precipitação.

Figura 2.5: Modificações na cobertura vegetal, microbacia do Ribeirão do Baú.

Foto: Elisa Volker dos Santos, 2011.

2.2.2 Condicionantes antrópicas

Os fatores antrópicos que favorecem/intensificam o desenvolvimento de


inundações em bacias hidrográficas podem ser classificados em dois grupos: os de
42

impacto direto - ou que representam modificações sobre os canais de drenagem, tais


como mudanças na vazão e/ou geometria dos canais fluviais (construção de
barragens, transposição de rios, retilinizações, canalizações, extração de areia ou
argila) e os de impacto indireto.
Estes são constituídos por aquelas modificações indiretas sobre os usos da
bacia hidrográfica, tais como desmatamento ou modificações na cobertura vegetal,
impermeabilização do solo - seja pela urbanização ou compactação do solo por
pastagens (DÍEZ-HERRERO et al., 2009). “A ocupação caótica e o uso inadequado
do solo provocam a redução da capacidade de armazenamento natural dos deflúvios
e estes, por sua vez, demandarão outros locais para ocupar” (CANHOLI, 2005:21).

2.2.2.1 Condicionantes antrópicas de impacto direto

As Condicionantes antrópicas de impacto direto são obras de engenharia ou


atividades de extração mineral que tem impacto sobre a geometria da drenagem, ou
que modificam o balanço sedimentar da bacia de forma direta. Estas medidas
estruturais, a exemplo das retilinizações de rios geralmente possuem uma
efetividade limitada e pontual, transferindo o problema das inundações para jusante,
aumentando a velocidade dos rios, seu potencial erosivo e consequentemente a
carga de sedimentos transportada (GUERRA, 2003).

“As limitações das ações públicas atuais, em muitas cidades


brasileiras, estão indevidamente voltadas para medidas estruturais
com visão pontual. A canalização tem sido extensamente utilizada
para transferir a enchente de um ponto na bacia, sem que sejam
avaliados os efeitos a jusante, ou os reais benefícios das obras”
(TUCCI, 1997b:6).

Santos e Friedenreich (2002) conduziram trabalho de investigação sobre as


transformações geomorfológicas e fluviais induzidas pela canalização de um trecho
do Rio Itajaí-Açu em seu baixo curso, na divisa entre os municípios de Blumenau e
Gaspar. Após as grandes enchentes de 1983 e 1984, o trecho em questão sofreu
retificação e alargamento do canal em 1986, provocando alterações na dinâmica
geomorfológica. Segundo os autores,
43

O escorregamento das margens do rio Itajaí-Açu passa a constituir


um sério problema sócio-ambiental a partir das enchentes de 1983,
ou seja, antes mesmo da canalização do rio Itajaí-Açu. Essa forma
de intervenção direta na calha fluvial do rio Itajaí-Açu agrava o
processo de erosão das margens (SANTOS & FRIEDENREICH,
2002:6).

A análise conduzida pelos autores revela que no período 1992-1998 houve


um recuo de 52 m da margem por erosão lateral, numa média de 10 m por ano20. O
canal passou a sofrer um processo de retificação induzida pela ação erosiva da
margem convexa, resultando em alargamento do canal e consequente aumento da
velocidade média do escoamento (SANTOS & FRIEDENREICH, 2002).
As modificações na calha do rio Itajaí-Açu e nas bacias tributárias à montante
da foz do rio Luís Alves podem implicar no desenvolvimento de cheias nesta bacia,
sendo um exemplo do impacto das intervenções humanas sobre a bacia
hidrográfica. O trecho retilinizado encontra-se a montante da foz do rio Luís Alves.
Assim, quando ocorrem eventos de precipitação intensa ou prolongada, os trechos
retilinizados aceleram o escoamento, diminuindo o tempo de concentração e
aumentando o pico de cheia, transferindo as águas das partes mais altas da bacia
para a planície do baixo curso em menor tempo – provocando inundação mais cedo
nesse compartimento do relevo. Desta forma, as águas da bacia do Luís Alves são
impedidas de escoar até que o nível do rio Itajaí diminua, conseqüentemente
transferindo/agravando a inundação para montante do rio Luís Alves.

2.2.2.2 Condicionantes antrópicas de impacto indireto

A urbanização é uma das condicionantes antrópicas de impacto indireto e tem


influência sobre o balanço hídrico da bacia hidrográfica. A impermeabilização
provocada pelo aumento das áreas urbanas promove a redução da infiltração, da

20
Duas inundações ocorreram no período: 1992 e 1997, contribuindo para a intensificação do
processo erosivo (SANTOS & FRIEDENREICH, 2002).
.
44

evapotranspiração, do escoamento subterrâneo e do nível do lençol freático,


aumentando o volume de água escoada superficialmente21, antecipando os picos de
inundação, e, modificando, desta forma, o hidrograma da bacia, condicionando o
desenvolvimento de inundações em áreas onde antes o fenômeno não era tão
freqüente. Na Figura 2.6 Tucci (2006) apresenta uma comparação entre os
hidrogramas de uma área antes e depois da urbanização. Por ela percebe-se que o
pico de cheia é mais alto e adiantado para a área após a urbanização, ilustrando o
processo comentado acima.

Figura 2.6: Comparação de hidrogramas para uma área antes e depois da urbanização.

Fonte: Tucci (2006)

Outro impacto está relacionado com a qualidade das águas superficiais,


decorrente da lavagem das superfícies da cidade pela precipitação (TUCCI, 1997b;
ANDRADE FILHO et al., 2000). Uma cidade que não tem implantada uma política
efetiva de gerenciamento de resíduos sólidos22 também acaba contribuindo para
aumentar o problema das inundações na sua região, e até mesmo em municípios
situados a montante e jusante na bacia. O lixo que se acumula na rede de drenagem
- quando esta é existente - provoca a perda de seu potencial de escoamento e até

21
Leopold (1968, apud TUCCI, 1997b) cita que a vazão máxima na bacia pode aumentar em até sete
vezes, por conta do aumento do escoamento e impermeabilização da superfície.
22
O que, em minha opinião, implica na participação de todos, ou quase todos os cidadãos da cidade.
45

mesmo o total entupimento das galerias pluviais, dificultando o escoamento das


águas e provocando alagamentos na cidade (ANDRADE FILHO et al., 2000;
BOTELHO, 2011). De acordo com Tucci (1997b), o modelo de desenvolvimento
urbano adotado no Brasil tem contribuído para o “aumento significativo na freqüência
de inundações, na produção de sedimentos e na deterioração da qualidade da
água”. Há ainda os impactos decorrentes de modificações na cobertura vegetal (ver
Figura 2.7).

Figura 2.7: Modificações na cobertura vegetal de uma bacia - plantio de bananeira em linha
sobre encosta, município de Luís Alves. 21/09/11.

Foto: Maria Paula Casagrande Marimon.

No exemplo da fotografia, observa-se uma encosta onde são plantadas


bananeiras em linha, promovendo a condução das águas da chuva em sentido
vertical sobre a encosta, sem obstáculos, de forma que o poder erosivo das águas é
potencializado. Agravando o quadro, foi realizado um corte na encosta configurando
um talude de acentuada declividade, e logo à frente do talude há uma edificação. A
46

área verde no primeiro plano é margem de rio. O material sedimentar carregado


encosta abaixo pela ação das águas pluviais vai sendo depositado na calha do rio,
diminuindo seu potencial de drenagem. Por fim, em caso de precipitação intensa,
toda a encosta pode deslizar obstruindo o canal de drenagem e, dependendo da
configuração da bacia hidrográfica, provocando inundação à montante.

2.3 IMPACTOS DAS INUNDAÇÕES

Para Díez-Herrero et al., (2009), pode-se considerar os impactos das


inundações a partir de quatro fatores: profundidade da inundação, velocidade do
fluxo, energia do fluxo e o aporte de sedimentos.
Entre os impactos causados pela profundidade da água pode-se citar o
isolamento do solo das condições aeróbias que, dependendo do tempo de
recobrimento e da profundidade da água, implica em perda de sua capacidade
suporte para a vegetação e determinadas culturas, além da perda das culturas
vegetais também pela submersão. Além disso, a estrutura de edifícios pode ser
afetada pela modificação de propriedades físicas do solo, bem como alguns serviços
essenciais podem ser interrompidos pela submersão, tais como linhas de
transmissão elétrica, redes de comunicação, gasodutos, rodovias, estradas (ver
Figura 2.8), aeroportos, entre outros (DÍEZ-HERRERO et al., 2009).
A velocidade do fluxo pode carregar ou destruir bens e pessoas, causando
impactos diretos ou indiretos (relacionados ao transporte de sedimentos) (DÍEZ-
HERRERO et al., 2009). Segundo os autores, velocidades menores que 1,0 m/s são
capazes de mover veículos e equipamentos, enquanto velocidades que excedem
esse valor já são capazes, a determinada profundidade, de carregar pessoas.
A energia da corrente pode provocar a erosão do leito e das margens dos
canais de escoamento, levando à instabilidade de encostas e movimentos de
massa, que conseqüentemente provocam danos às pessoas e ao patrimônio (DÍEZ-
HERRERO et al., 2009).
47

Figura 2.8: Interrupção das vias de transporte pela destruição de uma ponte em Luís Alves,
2008.

Foto: Paulo Roberto Witolawski.

O aporte de sedimentos trazidos pela corrente (seixos, cascalho, areia, silte e


argila) podem causar danos à pessoas e bens materiais por impacto, além de
provocar mudanças físicas no fluido, alterando sua viscosidade e densidade – o que
aumenta sua capacidade de erosão e transporte, e reduzindo sua velocidade,
podendo se transformar numa corrida de lama ou detritos (ver Figura 2.9) (DÍEZ-
HERRERO et al., 2009).
Além dos impactos físicos, observáveis sobre bens materiais ou vidas
humanas e animais, há também outro aspecto relacionado ao impacto psicológico
que os eventos adversos em geral exercem sobre as pessoas que vivenciaram
situações extremas. Santos (2010) aborda o medo pós evento provocado pela
inundação em Itajaí no ano de 2008. Segundo o autor, os moradores relatam medo
e até pânico durante a inundação, enquanto as águas subiam, e posteriormente, nos
meses seguintes, a cada chuva, o medo da inundação se repetir se fazia e faz
presente.
48

Figura 2.9: Destruição de moradias e aumento do nível de base local como conseqüência da
ação combinada de deslizamentos seguidos por corrida de lama e inundação, 03/2009.

Foto: Ana Carolina Vicenzi Franco.

Sevegnani et al. (2009) descrevem as situações que levam ao aumento do


estresse durante a convivência dentro dos abrigos, levando pessoas ao consumo de
álcool e drogas, outras a estados de apatia, choro compulsivo e depressão.
Segundo os autores, em 2008 os gerentes de abrigos do Vale do Itajaí receberam
recomendação da Defesa Civil Nacional para que

as pessoas fossem alojadas de tal forma que os membros da mesma


família ficassem juntos, de preferência perto de vizinhos, para dar a
sensação de segurança; que servissem café coletivamente, porque
seu aroma evoca lembranças acolhedoras; que deixassem que os
flagelados mantivessem consigo pequenas lembranças tais como
fotografias, bonecas, uma peça de roupa, ou relógios de parede, por
exemplo, pois “estes objetos são representações simbólicas do que
precisa ser reconstruído”. Recomendou também, que as pessoas
fossem estimuladas a voltar às suas atividades, caso possível, pois a
ocupação traz novo ânimo, importante na superação da crise (grifo
dos autores).
49

2.4 CONTROLE DE INUNDAÇÕES

O controle de inundações, de acordo com ABRH (1995 apud TUCCI, 1997b) e


Tucci (1995, apud TUCCI, 1997b) deve ser realizado com base nos seguintes
princípios: a bacia hidrográfica deve ser considerada em sua totalidade, e não
apenas em pontos isolados; os cenários de análise devem considerar o
desenvolvimento futuro da bacia hidrográfica; deve-se evitar a transferência das
inundações para jusante; deve-se priorizar a adoção de medidas não-estruturais
para o controle das áreas ribeirinhas; e por fim “o controle de inundações deve ser
estabelecido através do Plano Diretor de Drenagem Urbana administrado pelos
municípios, com o apoio técnico dos estados” (TUCCI, 1997b:9). Tradicionalmente, o
controle de inundações se dá pela implementação de medidas classificadas em
estruturais e não-estruturais (CANHOLI, 2005).

2.4.1 Medidas estruturais

As medidas estruturais são essencialmente obras de engenharia, implantadas


com o objetivo de prevenir ou corrigir os problemas relacionados às inundações,
Dividem-se em medidas intensivas e extensivas (CANHOLI, 2005).
As medidas intensivas podem ser classificadas em quatro tipos, em função do
objetivo a que se prestam: acelerar, retardar, desviar ou tornar resistente a
inundações. Assim, as canalizações, retificações, taludes marginais, cortes de
meandros, entre outras, constituem obras que tem por objetivo acelerar o
escoamento, diminuindo ou resolvendo a inundação localmente. As barragens e
reservatórios de uma forma geral, bem como as medidas de restauração de rios, têm
a função de retardar o escoamento fluvial, aumentando o tempo de concentração na
bacia e diminuindo o pico de cheia a jusante dessas estruturas. Para desviar o fluxo
são utilizados canais de desvio e túneis de derivação. Para tornar uma estrutura
urbana - tal como um edifício - à prova de inundações, é lançada mão de técnicas
pontuais de engenharia (CANHOLI, 2005).
Por se tratarem de obras de engenharia, possuem custo elevado. De acordo
com Walesh (1989, apud CANHOLI, 2005), o custo estimado para implantação de
50

medidas estruturais de proteção contra inundações em 1/3 da bacia onde se situa a


cidade de Denver (EUA) corresponde ao custo de proteção de 2/3 da bacia por
medidas não estruturais. Outro inconveniente desse tipo de medida é citado por
Tucci (2002, apud CANHOLI, 2005), que aponta que uma vez implantadas, as
medidas estruturais podem induzir a ocupação de áreas de risco pela criação na
população de uma falsa sensação de segurança.

2.4.2 Medidas não-estruturais

As medidas não estruturais relacionam-se à prevenção de inundações através


do disciplinamento do uso da terra, minimização dos danos pela previsão dos
eventos e reassentamento de populações que vivem em áreas de risco, e por
sistemas de alerta e evacuação (ANDRADE FILHO et. al, 2000). Para Canholi
(2005), as medidas não-estruturais podem se apresentar mais eficazes, com impacto
de longo prazo e custos muito menores, configurando-se dessa forma como mais
vantajosas. Segundo o autor, as medidas não estruturais mais adotadas são as
“ações de regulamentação do uso e ocupação do solo; educação ambiental voltada
ao controle da poluição difusa, erosão e lixo; seguro-enchente; e sistemas de alerta
e previsão de inundações” (CANHOLI, 2005:26)

2.5 A MORFOMETRIA DA BACIA NO ESTUDO DAS INUNDAÇÕES

De acordo com Díez-Herrero et al. (2009), a análise de risco de inundação


(flood hazard) pode ser realizada usando-se uma série de procedimentos e técnicas
combinadas e complementares que podem ser agrupadas em três abordagens
metodológicas: métodos históricos e paleohidrológicos, métodos geológico-
geomorfológicos, métodos hidrológico-hidráulicos e métodos botânico-ecológicos.
Observações qualitativas sobre a rede de drenagem já haviam sido feitas no
século XV, quando Leonardo da Vinci descreveu a existência de relação entre os
rios e o aprofundamento de seus vales (CHRISTOFOLETTI, 1971). Em meados de
1841, Alexandre Surrel definiu leis gerais da morfologia fluvial, estabelecendo as
51

noções de nível de base e descontinuidade na evolução e sendo o primeiro a


apontar a relação entre morfogênese e cobertura vegetal (BUSS, 2011).
As primeiras interpretações descritivas das redes de drenagem podem ser
atribuídas a Playfair (1802, apud HORTON, 1945) que a partir de observações
visuais estabeleceu a Lei das Confluências Concordantes, fazendo a seguinte
afirmação:

Cada rio consiste em um tronco principal, alimentado por um certo


número de tributários, sendo que cada um deles corre em um vale
proporcional ao seu tamanho, e o conjunto forma um sistema de
vales comunicantes com declividades tão perfeitamente ajustadas
que nenhum deles se une ao vale principal em um nível demasiado
superior ou inferior: circunstância que seria infinitamente improvável
se cada vale não fosse obra do rio que o ocupa (PLAYFAIR, 1802,
apud CHRISTOFOLETTI, 1971a).
.

Inspirado pelos estudos de Playfair, Horton (1945) inverteu o sistema de


classificação de canais vigente na Europa na época e estabeleceu leis empíricas
fundamentais23 propondo alguns parâmetros morfométricos, como a razão de
bifurcação e razão entre comprimentos médios. Strahler (1957), entre outros24,
promoveu modificações no sistema de classificação de Horton (1945), facilitando o
ordenamento dos canais, de forma que seu método é até hoje o mais utilizado.
Scheiddeger (1970) demonstrou que independentemente de se adotar o sistema de
classificação dos canais de Horton ou Strahler, o valor da Relação de Bifurcação
será o mesmo.
Uma revisão mais detalhada sobre os pioneiros dos estudos morfométricos no
século XX no Brasil e no mundo pode ser encontrada no trabalho de Christofoletti
(1971).
De acordo com Souza (2005), diversos autores têm observado correlações
entre parâmetros morfométricos de bacias de drenagem e suas características
hidrológicas. Assim, a área, a forma, a hipsometria da bacia, o comprimento e a
declividade do canal principal têm sido associados como importantes na
determinação do tempo de duração do pico de cheia (PATTON, 1988 apud SOUZA,

23
“Lei do número de canais”, “Lei do comprimento dos canais”, “Lei da área da bacia de canais”, “Lei
da declividade dos canais” (HORTON, 1945).
24
Além de Horton e Sthraler, Christofoletti (1974) cita ainda Scheidegger e Shreve.
52

2005). A área da bacia, a declividade e a densidade da rede de drenagem


relacionam-se com a descarga máxima de uma inundação (HORTON, 1945 apud
SOUZA, 2005); o comprimento dos canais, a forma da bacia, o gradiente topográfico
bem como a litologia e as estruturas têm influência sobre a intensidade do
escoamento e descarga (HACK, 1957 apud MORISAWA, 1962 apud SOUZA, 2005).
Para Souza (2005:48), os parâmetros morfométricos mais relacionados ao
desenvolvimento de inundações são:

(...) ordem hierárquica da bacia, número e freqüência de canais totais


de primeira ordem, tamanho da bacia (área e perímetro totais),
comprimento do canal principal (ou da bacia), forma da bacia, fator
forma e índice de circularidade, declividade do canal principal e
declividade da bacia, densidade hidrográfica e densidade de
drenagem, densidade de confluências e relação de bifurcação, taxa
de relevo e rugosidade do relevo.

Recentemente, no Brasil, diversos autores têm desenvolvido estudos


morfométricos em bacias hidrográficas, em diferentes regiões do país, utilizando
uma gama variada de variáveis morfométricas. Alguns destes trabalhos são
apresentados no Quadro 2.3:

Quadro 2.3: Estudos morfométricos recentes no Brasil


Referência Bacia Parâmetros morfométricos
hidrográfica
Milani e Canali Rio Matinhos (PR) Comprimento médio dos canais de cada ordem,
(2000) densidade de drenagem, densidade hidrográfica,
amplitude altimétrica, cálculo da cota máxima,
relação de relevo do complexo hidrográfico,
gradiente do canal principal
Santos (2001) Rio Turvo Sujo Perímetro, área, coeficiente de compacidade, fator
(MG) de forma, declividade mínima, declividade média,
declividade máxima, declividade média dos cursos
d’água, declividade entre a foz e a nascente,
declividade de equivalência entre áreas, declividade
equivalente constante, altitude mínima, altitude
média, altitude máxima, altitude mediana, ordem dos
cursos d’água, comprimento do curso d’água
principal, comprimento total dos cursos d’água,
densidade de drenagem, extensão média dos
escoamento superficial
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.
53

Quadro 2.4: Estudos morfométricos recentes no Brasil


Referência Bacia Parâmetros morfométricos
hidrográfica
Alves e Castro Rio Tanque (MG) Perímetro, área, comprimento do canal principal,
(2003) diferença de altitude, comprimento total dos canais,
número de canais, distância vetorial do canal
principal, ordem da bacia, densidade de drenagem,
densidade hidrográfica, relação de relevo,
coeficiente de manutenção, gradiente de canais,
índice de circularidade, índice de sinuosidade
Schaefer- Rio Luís Alves Perímetro, área, densidade de drenagem, coeficiente
Santos (2003) (SC) de compacidade, fator de forma, densidade
hidrográfica, declividade média, extensão do
percurso superficial, sinuosidade do curso d’água,
ordem dos cursos d’água
Souza (2005) 32 bacias costeiras Ordem hierárquica, forma da bacia, fator forma,
do litoral de São comprimento do canal principal, área da bacia, área
Paulo da bacia na encosta, área da bacia na planície
costeira, perímetro da bacia, freqüência de canais
totais na encosta, freqüência de canais totais na
planície costeira, freqüência de canais de 1ª ordem,
declividade média do canal principal, densidade
hidrográfica total, densidade hidrográfica na encosta,
densidade hidrográfica na planície costeira,
densidade de confluências total, densidade de
confluências na encosta e densidade de
confluências na planície costeira.
Cardoso et al. Rio Debossan (RJ) Perímetro, área, coeficiente de compacidade, fator
(2006) de forma, índice de circularidade, declividade
mínima, declividade média, declividade máxima,
altitude mínima, altitude média, altitude máxima,
ordem da bacia, densidade de drenagem
Reckziegel e Rede de drenagem magnitude da rede de drenagem, comprimento total
Robaina entre os rios dos canais de escoamento, densidade da drenagem,
(2006) Jaguari e Ibicuí coeficiente de manutenção , densidade hidrográfica,
(RS) altimetria, declividade, comprimento de vertente,
formas do relevo e unidades de relevo
Tonello et al. Rio Cachoeira das Perímetro, área, coeficiente de compacidade, fator
(2006) Pombas (MG) de forma, índice de circularidade, padrão de
drenagem, orientação, declividade mínima,
declividade média, declividade máxima, declividade
média do curso d’água principal, altitude mínima,
altitude média, altitude máxima, comprimento do
curso d’água principal, comprimento total dos cursos
d’água, densidade de drenagem, ordem dos rios
Vestena et al. Rio Caeté (SC) Ordem da bacia, área da bacia, perímetro da bacia,
(2006) comprimento da bacia, índice de compacidade, fator
de forma, densidade de drenagem, densidade de
rios, densidade de segmentos da bacia,
comprimento total dos cursos fluviais, número total
de segmentos
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.
54

Quadro 2.5: Estudos morfométricos recentes no Brasil


Santos (2007) rio das Bicas (MA) Ordem da bacia, número de canais totais, número de
canais de cada ordem, área da bacia, comprimento
da bacia, relação entre o comprimento do rio
principal e área da bacia, densidade de rios,
densidade de drenagem, densidade de segmentos,
índice de circularidade, fator de forma, coeficiente de
manutenção
Santos e três bacias Hierarquia fluvial, área da bacia, perímetro da bacia,
Sobreira hidrográficas da número de canais, comprimento dos canais,
(2008) região do Alto Rio densidade de drenagem, densidade hidrográfica,
das Velhas (MG) índice de forma, índice de sinuosidade, coeficiente
de manutenção, extensão do percurso superficial,
textura topográfica, gradiente de canais, relação de
relevo, altitude máxima dos cursos d´água, altitude
mínima dos cursos d´água, altitude média dos
cursos d´água
Machado et al. Rio Jacuípe, (BA) área da bacia, comprimento da bacia, freqüência dos
(2011) canais de 1° ordem, comprimento dos canais,
comprimento do canal principal, densidade de
drenagem, coeficiente de manutenção, hipsometria,
declividade, orientação das vertentes, coeficiente de
rugosidade, perfil topográfico, padrões de drenagem
Conorath Rio Cachoeira (SC) Ordem da bacia, hierarquia fluvial, área da bacia,
(2012) perímetro da bacia, comprimento do canal principal,
comprimento total da rede de drenagem, índice de
circularidade, fator de forma, densidade de
drenagem, índice de sinuosidade
Lira et al. Igarapé Amaro Ordem da bacia, área da bacia, perímetro da bacia,
(2012) (AC) forma da bacia, comprimento do canal principal,
relação de bifurcação, índice de sinuosidade, relação
entre o comprimento médio dos canais de cada
ordem, densidade de rios, densidade de drenagem,
amplitude Altimétrica, relação de relevo, índice de
rugosidade
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

A seguir são descritos os parâmetros morfométricos utilizados na


caracterização da sub-bacia do rio Luís Alves.

2.5.1 Área da bacia

Strahler (1964) define a área da bacia de uma determinada ordem como a


área total projetada sobre um plano horizontal, da área de contribuição de
escoamento para a determinada ordem, e incluindo todos os tributários de ordem
inferior. A área da bacia “é o elemento morfométrico que determina em relação às
55

condições fisiográficas locais, a magnitude das trocas de matéria e energia da bacia


com as áreas do entorno” (ZÃVOIANU, 1985, apud Souza, 2005:49). Sendo assim,
ela representa a área de captação disponível e, portanto, quanto maior a área, maior
poderá ser o volume de precipitação entrando no sistema bacia hidrográfica.
Schumm (1956, apud STRAHLER, 1957) afirma que a área da bacia cresce
exponencialmente com a ordem dos canais. Além disso, quanto maior a área da
bacia, maior o número de canais de 1ª ordem, e maior o perímetro da bacia
(ZÃVOIANU, 1985, apud Souza, 2005).

2.5.2 Hierarquia fluvial

Segundo Strahler (1964), a rede hidrográfica se divide em segmentos


individuais de rio, estando cada segmento situado entre duas confluências. O
ordenamento dos rios é realizado a partir da atribuição da ordem 1 aos rios que não
possuem tributários, ou seja, são nascentes; a ordem 2 é atribuída ao rio formado
pelo encontro de dois rios de primeira ordem; este rio, por sua vez, só se torna de
terceira ordem ao encontrar outro segmento de segunda ordem. A confluência de
rios de ordens diferentes não altera o grau de ordenamento. De acordo com Souza
(2005), a hierarquia fluvial indica o grau de ramificação da bacia, sendo importante
na determinação da velocidade com que a água escoa até o exutório. Assim, a
descarga aumenta em relação exponencial com o aumento da ordem hierárquica do
canal.

2.5.3 Gradiente do canal principal

O gradiente do canal principal é a relação entre sua amplitude altimétrica e o


seu comprimento, sendo seu resultado expresso em graus ou porcentagem. Está
relacionado com energia potencial do rio, e consequentemente seu poder erosivo. A
equação para o cálculo do gradiente do canal principal é apresentada a seguir:

Gcp = Acp/Ccp x 1000 (2)


56

Onde:
Acp = amplitude altimétrica do canal principal (m)
Ccp = comprimento do canal principal (m)

2.5.4 Coeficiente de compacidade

O coeficiente de compacidade ou índice de Gravelius é utilizado para


determinar a forma das bacias hidrográficas, sendo, assim como o Índice de
circularidade, relacionado com um círculo (VILLELA & MATTOS, 1975). O
coeficiente de compacidade tem valor mínimo 1,0, correspondendo a bacias
perfeitamente circulares. Quanto mais próximo da unidade, maior a tendência ao
desenvolvimento de cheias. Representa a relação entre o perímetro e a área da
bacia, e é calculado pela equação:

Kc = 0,28x P/√ A (3)


Onde:
P = perímetro da bacia (Km)
A = área da bacia (Km2)

2.5.5 Fator de Forma

O fator de forma relaciona a forma da bacia com um retângulo. Valores de


fator de forma baixos exprimem bacias de forma alongada, sendo portanto menos
sujeitas a inundações do que bacias de mesmo tamanho, mas com fator de forma de
maior valor (VILELLA e MATTOS, 1975). É calculada pela equação:

F = A/L2 (4)
Sendo:
F = Fator de Forma
A = Área da bacia (Km2)
L = comprimento do eixo maior da bacia (Km)
57

Quadro 2.6: Classificação do Fator de Forma


Valores do Fator de Forma Qualificação da bacia
1,00 – 0,75 Sujeita a inundações
0,75 – 0,50 Tendências medianas
< 0,50 Não sujeita a inundações
Fonte: Adaptado de Conorath (2012).

2.5.6 Índice de Forma (K)

De acordo com Christofoletti (1971), o Índice de Forma expressa a relação


entre o perímetro e a área da bacia, sendo que quanto mais próximo da unidade,
maior a tendência à bacia possuir formato circular, apresentando tendência a cheias.
É calculado pela equação:

K = P/2√ΠA (5)
Sendo:
K = Índice de Forma
P = Perímetro da Bacia (Km)
A = Area da Bacia (Km2)

2.5.7 Índice de circularidade

De acordo com Christofoletti (1974), o índice de circularidade foi proposto


com o objetivo de eliminar a subjetividade na caracterização da forma da bacia. Para
o cálculo do Índice de circularidade é necessário obter o valor da área do círculo de
perímetro igual ao da bacia em questão. Assim, para conhecer o índice de
circularidade de determinada bacia deve-se aplicar as equações da área do círculo e
do perímetro do círculo, apresentadas a seguir:

Área do círculo:
Ac = ΠR2 (6)
Onde:
Ac = Área do Círculo (Km2)
R = Raio do Círculo (Km)
58

Perímetro do círculo:
P = 2 ΠR (7)
Onde:
P = Perímetro do Círculo (Km)
R = Raio do Círculo (Km)

O índice de circularidade é dado pela fórmula:

Ic = A/Ac (8)
Onde:
A = área da sub-bacia a conhecer (Km2)
Ac = área da bacia de perímetro igual (Km2)

O Ic apresenta valores entre 0 e 1, sendo que quanto mais próximo da


unidade, mais próxima da forma circular será a bacia, sendo também mais propensa
ao desenvolvimento de cheias.

Quadro 2.7: Classificação do Índice de circularidade


Valores do Índice de Circularidade Qualificação da bacia
Escoamento moderado e pequena
= 0,51
probabilidade de cheias rápidas
Bacia mais alongada, favorecendo o
<0,51
escoamento.
Bacia circular, favorecendo os processos
>0,51
de inundação (cheias rápidas)
Fonte: Adaptado de Alves e Castro (2003).

2.5.8 Densidade de drenagem (Dd)

A densidade de drenagem relaciona o comprimento total dos rios com a área


da bacia hidrográfica. É calculada pela equação:

Dd = L/A (9)

Onde:
Dd = Densidade de Drenagem (Km/Km2)
L = Comprimento Total dos Rios (Km)
A = Área da Bacia (Km2)
59

A densidade de drenagem é uma das variáveis morfométricas mais


importantes, e representa o grau de dissecação topográfica da bacia. Uma vez que
relaciona o comprimento dos canais com a área da bacia, este parâmetro expressa a
quantidade de canais disponíveis para o escoamento, de forma que quanto mais
canais presentes na bacia, mais rápido a água precipitada atinge o exutório. É
dependente de fatores como precipitação, declividade das vertentes, tipo de solo,
geologia, e cobertura vegetal, sendo a resposta ao ajuste entre a precipitação e os
outros fatores. Além disso, a densidade de drenagem tem influência sobre o
escoamento e o transporte de sedimentos dentro da bacia hidrográfica
(CHRISTOFOLETTI, 1981). Áreas com alta densidade de drenagem apresentam
maior tendência a sofrer com processos erosivos, demandando manejo mais
atencioso no que se refere ao uso do solo (Machado et al., 2011).
Segundo Beltrame25 (1994), a densidade de drenagem na fachada atlântica
catarinense varia entre 1,38 Km/Km2 e 1,95 Km/Km2. A mesma autora compilou
trabalhos de Vilella e Matos (1975) e do Atlas de Santa Catarina (GAPLAN, 1986),
elaborando o Quadro 2.8, que apresenta uma classificação para os valores de
densidade de drenagem.

Quadro 2.8: Classificação da Densidade de Drenagem


Valores da Dd (Km/Km2) Qualificação Dd
< 0,50 baixa
entre 0,50 e 2,00 mediana
entre 2,01 e 3,50 alta
> 3,50 muito alta
Fonte: Beltrame (1994).

2.5.9 Densidade hidrográfica (Dh)

Este parâmetro morfométrico foi definido por Horton (1945:283) e constitui a


relação existente entre o número de canais e a área da bacia hidrográfica. Destina-
se a comparação da freqüência de cursos de água existentes em uma área, de
tamanho padrão. É calculado pela fórmula:

25
O estudo utilizou cartas nas escalas 1:50.000, 1:250.000 e 1:500.000.
60

Dh = N/A (10)

Onde:
Dh = Densidade Hidrográfica (rios/Km2)
N = Número Total de Rios
A = Área da Bacia (Km2)

2.5.10 Textura da topografia (Tt)

Este parâmetro representa o grau de entalhamento e dissecação da


bacia hidrográfica. Silva et al. (2007) reproduzem de Christofoletti (1969, apud SILVA
et al., 2007) uma tabela de interpretação da Textura da Topografia, apresentada a
seguir:

Quadro 2.9: Classificação da Textura Topográfica.


Razão da textura média Classe de textura topográfica
Abaixo de 4,0 Grosseira
Entre 4,0 e 10,0 Média
Acima de 10,0 Fina
Fonte: Silva et al. (2007).

A textura da topografia é calculada pela equação:

Log Tt = 0,219649 + 1,115 log Dd (11)

Sendo:
Tt = Textura da Topografia
Dd = Densidade de Drenagem (Km/Km2)

2.5.11 Coeficiente de manutenção (Cm)

Proposto por Schumm (1956, apud CHRISTOFOLETTI, 1974), o coeficiente


de manutenção representa a área mínima necessária para manutenção de um metro
de escoamento. É calculado pela equação:
61

Cm = 1/Dd x(1000) (12)


Onde:
Dd = Densidade de Drenagem (Km/Km2)

2.5.12 Frequência relativa dos canais de cada ordem

A freqüência relativa do número de canais de cada ordem pelo número de


canais totais é dada pela equação:

Fr = Nu/Nt (x100) (13)

Onde:
Fr = Frequência Relativa (%)
Nu = Número de canais da ordem que se quer conhecer
Nt = Número total de canais

2.5.13 Relação entre o comprimento médio dos canais de cada ordem

Este parâmetro reflete o comprimento médios dos rios em cada ordem


hierárquica, sendo relacionado ao tamanho da bacia e seus aspectos geológicos. É
calculado pela equação:

Lm = Lu/Nu (14)

Onde:
Lm = Comprimento médio dos canais de cada ordem fluvial (Km)
Lu = Soma dos comprimentos de todos os segmentos da ordem que se quer
conhecer (Km)
Nu = Número de segmentos desta mesma ordem

2.5.14 Relação de bifurcação ou índice de bifurcação

A relação ou índice de bifurcação foi definida por Horton (1945) e representa


a relação entre o número total de segmentos de uma certa ordem e o número total
de segmentos (canais, rios) de ordem imediatamente superior. De acordo com
62

Horton (1945), a relação de bifurcação varia entre 2 para bacias planas a suave
onduladas, a 3 ou 4 para bacias montanhosas ou altamente dissecadas. É calculada
pela equação:

Rb = Nu/“Nu+1” (15)

Onde:
Rb = relação de bifurcação
Nu = número de segmento de determinada ordem
“Nu+1” = número de segmentos de ordem imediatamente superior

2.6 MATERIAIS E MÉTODOS

Para o desenvolvimento do presente trabalho optou-se pela adoção de


procedimentos pertencentes ao conjunto de métodos geológico-geomorfológicos,
utilizando-se a análise sistêmica como abordagem teórica e a morfometria fluvial
como metodologia de análise da sub-bacia hidrográfica.
A morfometria fluvial é uma metodologia quantitativa que pode ser definida
como o estudo geométrico da bacia hidrográfica, a partir de seus aspectos linear,
areal e hipsométrico (LIMA, 2006). De acordo com Souza (2005), diversos autores
têm relacionado os parâmetros morfométricos das bacias de drenagem com seu
comportamento hidrológico, evidenciando, portanto, a sua suscetibilidade ao
desenvolvimento de inundações.
Para realizar a análise morfométrica da sub-bacia foi necessário obter as
informações da rede de drenagem, curvas de nível e pontos cotados pela articulação
das cartas Pomerode (SG.22-Z-B-IV-2), Luís Alves (SG.22-Z-B-V-1), Blumenau
(SG.22-Z-B-IV-4) e Gaspar (SG.22-Z-B-V-3), do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE, escala 1:50.000, disponíveis no sítio do Centro de Informações
de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina –
CIRAM/EPAGRI26. O trabalho foi realizado em meio digital com auxílio do software
ArcGIS 10.0 (ESRI), seguiu as etapas ilustradas no fluxograma metodológico (ver
Figura 2.10), a saber:

26
http://ciram.epagri.sc.gov.br/mapoteca/
63

1. Os arquivos em formato shapefile obtidos do sítio do CIRAM/EPAGRI


foram tratados (correção da rede de drenagem, junção das curvas de
nível de cartas distintas);
2. Em seguida, foi realizada a delimitação das microbacias e a hierarquia
fluvial;
3. A partir dos arquivos curvas de nível e pontos cotados foi gerado um
TIN da sub-bacia do rio Luís Alves;
4. Identificado o canal principal, este dado foi cruzado com o TIN da sub-
bacia, gerando o perfil topográfico do canal principal.
5. De posse destes dados foi realizada a extração das variáveis
morfométricas, conforme metodologia apresentada no subcapítulo
anterior.
6. A suscetibilidade morfométrica ao desenvolvimento de inundações foi
analisada pela avaliação conjunta dos dados morfométricos extraídos,
análise geomorfológica complementar e observações de campo.

Figura 2.10: Fluxograma metodológico adotado na pesquisa.

Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.


64

Foram determinados os valores de 17 parâmetros morfométricos: área da


bacia, perímetro da bacia, ordem hierárquica (segundo Strahler), comprimento do
canal principal, amplitude altimétrica do canal principal, gradiente do canal principal,
coeficiente de compacidade, fator de forma, índice de forma, índice de circularidade,
densidade de drenagem, densidade hidrográfica, textura da topografia, coeficiente
de manutenção, frequência de canais de cada ordem, comprimento médio dos
canais de cada ordem e relação de bifurcação.
Os mapas de geologia e geomorfologia apresentados no capítulo 3 foram
elaborados a partir da vetorização de cartas 1:200.000 de autoria de Fornari (2010)
para a geologia, e IBGE (2004a), 1:250.000 para a geomorfologia, e posterior
recorte dos temas vetorizados com o polígono da sub-bacia do Luís Alves.
Para evitar a confusão entre os conceitos de microbacia, sub-bacia e bacia
hidrográfica, adotou-se neste trabalho o termo bacia para a rede de drenagem do rio
Itajaí, sub-bacia para o rio Luís Aves e microbacia quando em referência a seus
tributários.
65

3 CARACTERIZAÇÃO DA SUB-BACIA DO RIO LUÍS ALVES

A Sub-bacia Hidrográfica do Rio Luís Alves está situada na porção Centro-


Norte da Vertente Atlântica de Santa Catarina e se constitui numa das sub-bacias do
Rio Itajaí (ver Figura 3.1). Possui área total de 582,00 Km2, representando 3,85% da
área total da bacia do Itajaí. Esta sub-bacia drena o território dos municípios de Luís
Alves, São João do Itaperiú, Barra Velha, Piçarras, Ilhota, Navegantes e
Massaranduba. A foz do Rio Luís Alves está situada no baixo curso do Rio Itajaí, a
aproximadamente 14 km em linha reta da costa. A amplitude altimétrica da sub-bacia
é de 825 metros, variando entre 5m até 830m27. Apresenta temperatura anual média
de 20°C, umidade relativa do ar em torno de 85% e pluviosidade anual de 1.800 mm
(SANTOS & RIZZI, 2010).

Figura 3.1: Localização da sub-bacia do rio Luís Alves.

Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

27
Dados obtidos das cartas IBGE 1:50.000.
66

O município de Luís Alves é o único que possui sua sede administrativa e seu
território inteiramente dentro dos limites da sub-bacia, ocupando uma área total de
260,081 Km2. De acordo com dados do IBGE (2010), o município possui 10.438
habitantes.

3.1 ASPECTOS GEOLÓGICO-GEOMORFOLÓGICOS

A geologia da Sub-bacia do Rio Luís Alves se apresenta extremamente


complexa, ocorrendo litologias ígneas e metamórficas do embasamento cristalino, o
chamado Complexo Luís Alves e que datam de aproximadamente 2.7 Ba
(Arqueano), além de rochas sedimentares do Grupo Itajaí, e sedimentos recentes,
principalmente cascalhos, areias, sedimentos síltico-argilosos, aluvionares e
coluvionares, datados do Holoceno (AUMOND, 2006). A Figura 3.2, elaborada a
partir da digitalização e vetorização do Mapa Geológico do Cráton Luís Alves
(FORNARI, 2010) ilustra a diversidade de litologias presentes na área da sub-bacia.

Figura 3.2: Mapa Geológico da Sub-bacia do Rio Luís Alves.

Fonte: Adaptado de Fornari (2010).


67

Geomorfologicamente a sub-bacia apresenta três compartimentos distintos de


relevo (Ver Figura 3.3). As Serras do Leste Catarinense, ocupando em torno de 65%
da área total da sub-bacia, ocorrem sobre os terrenos do Cráton Luís Alves. Neste
compartimento estão presentes morros de topos convexos, com algumas
ocorrências de topos estreitos e alongados, densidade de drenagem média e fina,
aprofundamento das incisões de fraco a médio e apresentam predominância de
argissolos e cambissolos.

Figura 3.3: Mapa Geomorfológico da Sub-bacia do Rio Luís Alves

Fonte: Adaptado de IBGE (2004a).

Os Morros e Colinas do Médio e Baixo Itajaí-Açú, ocupando 17,96% da área


total, desenvolvem-se sobre as rochas do Cinturão Dom Feliciano, ocorrendo morros
de topos convexos com densidade de drenagem fina a média e médio
aprofundamento das incisões (IBGE, 2004a). Também predominam tipos de solo
argissolo e cambissolo. As Planícies e Rampas Colúvio-Aluviais constituem os
modelados de acumulação, formadas pelos Sedimentos Quaternários (SANTOS,
68

2006) totalizando 16,97% da área total da sub-bacia. Compõem este compartimento


do relevo os terraços fluviais, as planícies fluviais e os terraços flúvio-lacustres
(IBGE, 2004a), classificados como solos tipo gleissolos, neossolos e organossolos.
Algumas destas planícies fluviais são do tipo alveolar, como é o caso da área onde
está situada a sede do município de Luís Alves, no Braço Serafim, ou o Ribeirão
Máximo.
A Figura 3.4 mostra a localização de dois perfis transversais da microbacia do
Ribeirão Máximo, localizada no município de Luís Alves, assinalados por A – A’ e B
– B’. Distando em torno de 1,1 Km, os perfis (Figura 3.5) comparam o estreitamento
da planície alveolar do Ribeirão Máximo, que no referido trecho é da ordem de 400
m. Aproximadamente 1,5 Km a jusante do perfil B – B’ a morfologia do vale volta a
apresentar forma de “V”, fechando a planície. Esta é uma condição geomorfológica
que tipicamente propicia o desenvolvimento de inundações.
Dois padrões de rede de drenagem são identificados na sub-bacia do rio Luís
Alves: dendrítico e retangular. O padrão dendrítico reflete a diversidade de tipos de
estruturas, o conjunto de foliações com fraturamento superimposto, sendo
encontrado sobre as áreas montanhosas. O padrão retangular é também encontrado
sobre áreas montanhosas, apresentando forte controle estrutural em alguns locais e
refletindo o padrão de canais fluviais do tipo retilíneo (ver Figura 3.6). Nas planícies
o padrão de canal fluvial é meandrante. Entretanto, muitas áreas de cultivo tiveram
sua drenagem meândrica desfigurada, com a retilinização dos cursos d’água para
aumento da área produtiva, sendo esse um fator agravante para o desenvolvimento
de inundações a jusante do ponto retilinizado.
Além disso, se as margens dos rios não forem adequadamente protegidas,
ocorre o solapamento das margens para dentro do curso d’água, diminuindo a
capacidade de escoamento do canal, e contribuindo para a formação de inundações.
A Figura 3.7 apresenta um trecho do baixo curso do rio Luís Alves (assinalado pela
seta nº 1) que foi retilinizado. À direita do rio atual observa-se os meandros (seta nº
2) que constituíam o canal original do Luís Alves. Na sub-bacia a mata ciliar está
ausente na maioria das áreas de cultivo.
69

Figura 3.4: Hipsometria da microbacia do Ribeirão Máximo/SC.

Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.


70

Figura 3.5: Perfil transversal do Ribeirão Máximo/SC.

Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

A Figura 3.8 é uma fotografia aérea da sub-bacia do rio Luís Alves, onde é
possível observar morros de topos convexos, com evidências de processos erosivos
que contribuem com material da encosta para o assoreamento das calhas dos rios
(assinalado pela seta 1), um vale fluvial em “V” (assinalado pela seta 2), e mais a
frente (assinalado pela seta 3) uma planície fluvial mais ampla.
A Figura 3.9 apresenta o potencial hidrológico do solo da bacia do Itajaí.
Destacado em preto, apresenta-se o contorno da sub-bacia do Rio Luís Alves,
evidenciando a muito baixa e baixa capacidade de armazenamento nas áreas que
correspondem às planícies, e a média capacidade nas áreas montanhosas. Assim,
verifica-se que a média capacidade de armazenamento parece corresponder às
áreas compreendidas por rochas enderbíticas do Complexo Granulítico Luís Alves,
sobre os quais se desenvolvem solos classificados como argissolos e cambissolos.
A muito baixa a baixa capacidade está associada ao domínio dos sedimentos de
origem aluvial, lacustre e coluvionar, com ocorrência principal de solos tipo
gleissolos e cambissolos. Essa situação, aliada ao baixo gradiente das planícies
fluviais e sob condição de precipitação prolongada implica no rápido encharcamento
do solo e escoamento superficial, resultando em inundações.
71

Figura 3.6: Triangular Irregular Network (TIN) da sub-bacia do rio Luís Alves/SC

Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.


72

Figura 3.7: Feições que evidenciam o canal original meandrante e o canal atual do rio Luís
Alves, retilinizado, 04/11.

Foto: Maria Paula Casagrande Marimon.

Figura 3.8: Encostas e vales fluviais na sub-bacia do Rio Luís Alves, 04/11.

Foto: Maria Paula Casagrande Marimon.


73

Figura 3.9: Capacidade de armazenamento de água no solo da Bacia do rio Itajaí-açú –


destaque para a Sub-bacia do rio Luís Alves.

Fonte: Braun et. al. (2007).

No que se refere à cobertura florestal, a sub-bacia está situada no domínio da


Floresta Ombrófila Densa Montana, sendo que pouco ou quase nada restaram da
cobertura original. A maior parte da bacia é ocupada por floresta em regeneração ou
atividades agropecuárias e silvicultura. Vibrans (2003) investigou a evolução da
cobertura vegetal na bacia hidrográfica do rio Itajaí durante o século XX,
identificando um incremento nas áreas florestais em regeneração naquela bacia,
sendo a mesma tendência identificada para a sub-bacia do rio Luís Alves. Esta
informação é positiva do ponto de vista do regime hidrológico, entretanto o autor
chama a atenção para a necessidade de investigação sobre o papel da floresta
secundária na interceptação, evapotranspiração e infiltração da bacia, uma vez que
as áreas hoje em regeneração foram possivelmente exploradas pela agricultura e
tiveram, portanto as características do solo modificadas.
74

3.2 CÁLCULO DOS PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS

Para realizar a extração dos dados necessários ao cálculo dos parâmetros


morfométricos foi necessário unir em ambiente SIG28 quatro cartas IBGE na escala
1:50.000: Pomerode (SG.22-Z-B-IV-2), Luís Alves (SG.22-Z-B-V-1), Blumenau
(SG.22-Z-B-IV-4) e Gaspar (SG.22-Z-B-V-3). As cartas foram obtidas do sítio
eletrônico29 do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de
Hidrometeorologia de Santa Catarina – CIRAM/EPAGRI, em formato shapefile. As
informações utilizadas foram as curvas de nível com espaçamento de 20 m, os
pontos cotados e a rede hidrográfica. As cartas acima citadas datam de 1981.
Assim, o traçado dos rios na planície foi corrigido com base em uma imagem
CBERS, de forma a atualizar o padrão de drenagem modificado pela atividade
humana desde a confecção das cartas do IBGE. Uma vez que o padrão geométrico
dos rios e o comprimento dos canais possuem influência sobre as condições
hidrológicas da bacia, considerou-se pertinente realizar a correção da drenagem.
Entretanto, sabe-se que a escala de análise adotada impõe diversas dificuldades ao
trabalho, como exposto a seguir.

3.2.1 Delimitação da bacia hidrográfica

Uma vez que as planícies aluviais do rio Luís Alves e de alguns de seus
tributários foram extensamente modificadas pela rizicultura, com a abertura de uma
rede de canais de drenagem, retilinização dos canais principais das microbacias
tributárias do baixo curso e corte de vários meandros, a delimitação das microbacias
nesse compartimento ficou prejudicada. A base cartográfica não oferece escala30
adequada para delimitação dos limites das microbacias na planície, e o traçado
natural dos rios foi modificado, em alguns casos unindo os canais de drenagem das
microbacias antes de sua chegada ao rio Luís Alves, em outros até realizando uma
“transposição de bacias”. Assim, para algumas microbacias, mostrou-se impossível a

28
ArcGIS 10.0 da ESRI™.
29
Disponível em <http://ciram.epagri.sc.gov.br/mapoteca/> Acesso em 02/09/2011.
30
A equidistância das curvas de nível de 20 em 20 metros impossibilita a definição dos limites de
bacias em áreas com baixo gradiente.
75

aplicação do conceito de bacia hidrográfica em sentido estrito, sendo considerado


como o exutório da microbacia todo o perímetro de contato daquela planície com o
rio Luís Alves.
A delimitação da sub-bacia do rio Luís Alves foi realizada a partir das curvas
de nível, pontos cotados e da rede de drenagem. Do polígono gerado foram
extraídos os parâmetros área da sub-bacia e seu perímetro, sendo obtidos os
valores de 582 Km2 e 128,01 Km, respectivamente. Realizou-se ainda a delimitação
das principais microbacias contribuintes do rio Luís Alves. Além disso, mediu-se o
comprimento vetorial do canal principal, medido em linha reta entre a
desembocadura do rio Luís Alves até sua cabeceira mais distante, no Braço Direito
de Santa Luzia, obtendo-se o valor de 56,44 Km, e a amplitude altimétrica do canal
principal, sendo igual a 405 m (ver Tabela 3.1).

Tabela 3.1: Área, perímetro, comprimento vetorial do canal principal e amplitude altimétrica
do canal principal
Parâmetro morfométrico Valor
Área (Km2) 582,00
Perímetro (Km) 128,01
Comprimento vetorial canal principal (Km) 56,44
Amplitude altimétrica canal principal (m) 405,00
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

3.2.2 Ordem hierárquica dos canais

A hierarquia fluvial foi definida conforme metodologia de Strahler (1957). A


sub-bacia do rio Luís Alves é uma bacia de 6ª ordem, com 1.169,17 km de canais
distribuídos em 1.098 canais. O número de canais em cada ordem, o número total
de canais, o comprimento total de canais de cada ordem e o comprimento total da
rede de drenagem podem ser verificados na Tabela 3.2. O mapa da hierarquia fluvial
da sub-bacia do rio Luís Alves pode ser verificado na Figura 3.10 e no Anexo 1.

Tabela 3.2: Número de canais de cada ordem e comprimento dos canais de cada ordem.
Ordem Nº de canais Comprimento dos canais (Km)
1 809 704,05
2 212 216,89
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.
76

Tabela 3.2: Número de canais de cada ordem e comprimento dos canais de cada ordem.
Ordem Nº de canais Comprimento dos canais (Km)
3 53 108,97
4 18 72,03
5 4 44,15
6 1 23,16
Total 1098 1169,17
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

3.2.3 Gradiente do canal principal (Gcp)

O gradiente do canal principal é calculado pela equação:

Gcp = Acp/Ccp x 1000 (16)


Onde:
Acp = amplitude altimétrica do canal principal (m)
Ccp = comprimento do canal principal (m)

Gcp = 405 /56440 x 1000


Gcp = 7,17%

Para efeito de comparação, os valores de gradiente do canal principal


encontrados na literatura são apresentados no Quadro 3.1.

Quadro 3.1: Valores de gradiente do canal principal encontrados na literatura


Autor Bacia hidrográfica Gradiente do canal principal
Milani e Canali (2000) Rio Matinhos (PR) 4,37%
Santos e Sobreira Córrego Carioca (MG) 0,13%
(2008) Córrego do Bação (MG) 0,09%
Ribeirão Carioca (MG) 0,06%
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.
77

Figura 3.10: Hierarquia fluvial da sub-bacia do rio Luís Alves/SC.

Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.


78

O perfil topográfico do Rio Luís Alves (ver Figura 3.11) foi gerado a partir da
interpolação no ArcGIS entre o TIN da sub-bacia do Rio Luís Alves e a polilinha
correspondente ao canal principal. O perfil do rio Luís Alves apresenta-se côncavo,
tendo sua nascente em encostas de alta declividade, e corre em sua maior extensão
sobre áreas de baixa declividade, as planícies aluviais.

Figura 3.11: Perfil topográfico do Rio Luís Alves.

Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

3.2.4 Coeficiente de compacidade

O coeficiente de compacidade da sub-bacia do rio Luís Alves apresentou


valor igual a 1,486, tal como descrito a seguir:

Kc = 0,28x P/√ A
Onde:
P = perímetro da bacia em Km
A = área da bacia em Km2

Assim, para a sub-bacia do Rio Luís Alves:


Kc = 0,28x128,01/√582,00
Kc = 1,486

Quadro 3.2: Valores de coeficiente de compacidade encontrados na literatura


Autor Bacia hidrográfica Coeficiente de
compacidade
Villella e Mattos (1975) Ribeirão do Lobo (SP) 1,47
Santos (2001) Rio Turvo Sujo (MG) 1,95
Schaefer-Santos Alto curso do Rio Luís Alves (SC) 1,67
(2003
Cardoso et al. (2006) Rio Debossan (RJ) 1,58
Vestena et al. (2006) Rio Caeté (SC) 1,36
Tonello et al. (2006) Rio Cachoeira da Pombas (MG) 1,57
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.
79

3.2.5 Fator de Forma

É calculada pela equação:

F = A/L2 (17)
Sendo:
F = Fator de Forma
A = Área da bacia
L = comprimento do eixo maior da bacia

Assim:
F = 582,00/32,872
F = 582,00/1080,44
F = 0,538

Quadro 3.3: Classificação do Fator de Forma.


Valores do Fator de Forma Qualificação da bacia
1,00 – 0,75 Sujeita a inundações
0,75 – 0,50 Tendências medianas
< 0,50 Não sujeita a inundações
Fonte: Adaptado de Conorath (2012).

Quadro 3.4: Valores de fator de forma encontrados na literatura.


Autor Bacia hidrográfica Fator de forma
Santos (2001) Rio Turvo Sujo (MG) 0,019
Schaefer-Santos (2003 Alto curso do Rio Luís Alves (SC) 1,07
Souza (2005) 32 bacias do litoral paulista 0,11 > 1,84
Cardoso et al. (2006) Rio Debossan (RJ) 0,3285
Vestena et al. (2006) Rio Caeté (SC) 0,661
Tonello et al. (2006) Rio Cachoeira da Pombas (MG) 0,409
Conorath (2012) 11 sub-bacias do rio Cachoeira (SC) 0,144 > 0,888
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

3.2.6 Índice de Forma (K)

É calculado pela equação:

K = P/2√ΠA (18)
Sendo:
K = Índice de Forma
80

P = Perímetro da Bacia
A = Area da Bacia

Assim,
K = 128,01/2√Πx582,00
K = 128,01/85,523
K = 1,496

Quadro 3.5: Valores de índice de forma encontrados na literatura


Autor Bacia hidrográfica Índice de forma
Córrego Carioca (MG) 1,55
Santos e Sobreira (2008) Córrego do Bação (MG) 1,69
Ribeirão Carioca (MG) 1,45
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

3.2.7 Índice de circularidade

Para calcular o Índice de circularidade da sub-bacia do rio Luís Alves é


necessário obter o valor da área do círculo de perímetro igual ao da sub-bacia.
Sendo a área da sub-bacia igual a 582,00 Km2 e seu perímetro 128,01 Km, e
sabendo que a área de um círculo é dada pela equação:

Ac = ΠR2 (19)
Onde:
Ac = Área do Círculo
R = Raio do Círculo

E que seu perímetro é calculado por:

P = 2 ΠR (20)
Onde:
P = Perímetro do Círculo (Km)
R = Raio do Círculo (Km)

Então,
128,01 = 2 ΠR
R = 20,373 Km

Aplicando-se na fórmula da área:


Ac = ΠR2
Ac = Π(20,373)2
81

Ac = 1304,00 Km2

O índice de circularidade é dado pela fórmula:

Ic = A/Ac (21)
Onde:
A = área da sub-bacia do Rio Luís Alves (Km²)
Ac = área da bacia de perímetro igual (Km²)

Assim,
Ic = A/Ac
Ic = 582,00/1304,00
Ic = 0,446

Quadro 3.6: Valores do índice de circularidade encontrados na literatura


Autor Bacia hidrográfica Índice de circularidade
Alves e Castro (2000) Rio Tanque (MG) 0,3411
Cardoso et al. (2006) Rio Debossan (RJ) 0,3985
Tonello et al. (2006) Cachoeira das Pombas (MG) 0,397
Santos (2007) Rio das Bicas (MA) 0,44
Conorath (2012) onze sub-bacias do rio 0,247 > 0,330
Cachoeira (SC)
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

3.2.8 Densidade de drenagem (Dd)

A densidade de drenagem relaciona o comprimento total dos rios com a área


da bacia hidrográfica. É calculado pela equação:

Dd = L/A (22)

Onde:
Dd = Densidade de Drenagem (Km/Km2)
L = Comprimento Total dos Rios (Km)
A = Área da Bacia (Km²)

Assim,

Dd = 1169,17/582,00
Dd = 2,008 Km/Km2
82

Quadro 3.7: Valores do densidade de drenagem encontrados na literatura


Autor Bacia hidrográfica Densidade de
drenagem (Km/Km2)
Milani e Canali (2000) Rio Matinhos (PR) 1,01
Alves e Castro (2000) Rio Tanque (MG) 4,92
Schaefer-Santos (2003) Alto curso do Rio Luís Alves (SC) 2,08
Vestena et al. (2006) Rio Caeté (SC) 1,949
Cardoso et al. (2006) Rio Debossan (RJ) 2,36
Machado et al. (2011) rio Jacuípe (BA) 0,852
Conorath (2012) onze sub-bacias do rio Cachoeira 2,004 > 5,734
(SC)
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

3.2.9 Densidade hidrográfica (Dh)

É calculado pela fórmula:

Dh = N/A (23)

Onde:
Dh = Densidade Hidrográfica (rios/Km2)
N = Número Total de Rios
A = Área da Bacia (Km2)

Assim, para a sub-bacia do Rio Luís Alves:

Dh = 1098/582,00
Dh = 1,885 rios/Km2

Quadro 3.8: Valores do densidade hidrográfica encontrados na literatura


Autor Bacia hidrográfica Densidade hidrográfica
(rios/Km2)
Milani e Canali (2000) Rio Matinhos (PR) 0,33
Alves e Castro (2000) Rio Tanque (MG) 2,61
Schaefer-Santos Alto curso do Rio Luís Alves 2,80
(2003) (SC)
32 bacias costeiras do litoral 0,72 > 3,81
Souza (2005)
de São Paulo
Vestena et al. (2006) Rio Caeté (SC) 1,538
Córrego Carioca 19,08
Santos e Sobreira
Córrego do Bação 20,17
(2008)
Ribeirão Carioca 14,76
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.
83

3.2.10 Textura da topografia (Tt)

Este parâmetro representa o grau de entalhamento e dissecação da bacia


hidrográfica. É calculado por:

Log Tt = 0,219649 + 1,115 log Dd (24)

Sendo:
Tt = Textura da Topografia
Dd = Densidade de Drenagem (Km/Km2)

Desta forma,
Log Tt = 0,219649 + 1,115 log 2,008
Log Tt = 1,6374127084729817
Tt = (10) 1,6374127084729817
Tt = 43,392

Quadro 3.9: Valores de textura da topografia encontrados na literatura


Autor Bacia hidrográfica Textura da Topografia
Córrego Carioca (MG) 11,6
Santos e Sobreira
Córrego do Bação (MG) 11,3
(2008)
Ribeirão Carioca (MG) 9,5
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

3.2.11 Coeficiente de manutenção (Cm)

Proposto por Schumm (1956, apud CHRISTOFOLETTI, 1974), o coeficiente


de manutenção representa a área mínima necessária para manutenção de um metro
de escoamento. É calculado pela equação:

Cm = 1/Dd x(1000) (25)


Onde:
Dd = Densidade de Drenagem (Km/Km2)

Então, para a sub-bacia do rio Luís Alves,

Cm = 1.000.000/2,008 x(1000)
84

Cm = 4.980,079 m/m2

Quadro 3.10: Valores do Coeficiente de manutenção encontrados na literatura.


Autor Bacia hidrográfica Coeficiente de
manutenção (m/m2)
Alves e Castro (2000) Rio Tanque (MG) 203,25
Reckziegel e Robaina Rede de drenagem entre os 69.930,06
(2006) rios Jaguari e Ibicuí, (RS)
Santos (2007) Rio das Bicas (MA) 383,14
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

Quadro 3.11: Valores do Coeficiente de manutenção encontrados na literatura.


Bacia hidrográfica Coeficiente de
Autor
manutenção (m/m2)
Córrego Carioca (MG) 175,5
Santos e Sobreira
Córrego do Bação (MG) 178,2
(2008)
Ribeirão Carioca (MG) 209,1
Machado et al. (2011) Rio Jacuípe (BA) 1173,47
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

3.2.12 Frequência relativa dos canais de cada ordem

A freqüência relativa do número de canais de cada ordem pelo número de


canais totais é dada pela equação:

Fr = Nu/Nt (x100) (26)

Onde:
Fr = Frequência Relativa (%)
Nu = Número de canais da ordem que se quer conhecer
Nt = Número total de canais

Assim, temos para os canais de 1ª Ordem:


Fr1 = Nu/Nt (x100)
Fr1 = 809/1098 (x100)
Fr1 = 73,68%

E para as ordens seguintes:

Fr2 = 212/1098 (x100)


Fr2 = 19,31%

Fr3 = 53/1098 (x100)


85

Fr3 = 4,83%

Fr4 = 18/1098 (x100)


Fr4 = 1,64%

Fr5 = 4/1098 (x100)


Fr5 = 0,36%

Fr6 = 1/1098 (x100)


Fr6 = 0,09%

Os valores de freqüência relativa de canais de cada ordem da rede


hidrográfica da sub-bacia do rio Luís Alves são apresentados na Tabela 3.3:

Tabela 3.3: Frequência relativa de canais de cada ordem


Ordem dos canais Frequência de canais (%)
1ª 73,68
2ª 19,31
3ª 4,83
4ª 1,64
5ª 0,36
6ª 0,09
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

Quadro 3.12: Valores da Frequência relativa de canais de 1ª ordem encontrados na


literatura
Autor Bacia hidrográfica Frequência relativa de
canais de 1ª ordem (%)
32 bacias costeiras do estado
Souza (2005) 67,5 > 97,8%
de São Paulo
Reckziegel e Robaina Rede de drenagem entre os
63,1
(2006) rios Jaguari e Ibicuí, (RS)
Machado et al. (2011) Rio Jacuípe (BA) 53,6%
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

3.2.13 Relação entre o comprimento médio dos canais de cada ordem

Este parâmetro reflete o comprimento médios dos rios em cada ordem


hierárquica, sendo relacionado ao tamanho da bacia e seus aspectos geológicos. É
calculado pela equação:
86

Lm = Lu/Nu (27)

Onde:
Lm = Comprimento médio dos canais de cada ordem fluvial (Km)
Lu = Soma dos comprimentos de todos os segmentos da ordem que se quer
conhecer (Km)
Nu = Número de segmentos desta mesma ordem

Assim, para os rios de 1ª Ordem,

Lm1 = Lu/Nu
Lm1 = 704,05/809
Lm1 = 0,87 km

Para as outras ordens:

Lm2 = Lu/Nu
Lm2 = 216,89/212
Lm2 = 1,02 km

Lm3 = Lu/Nu
Lm3 = 108,97/53
Lm3 = 2,05 km

Lm4 = Lu/Nu
Lm4 = 72,03/18
Lm4 = 4,00 km

Lm5 = Lu/Nu
Lm5 = 44,15/4
Lm5 = 11,04 km

Lm6 = Lu/Nu
Lm6 = 23,16/1
Lm6 = 23,16 km

Os valores do comprimento médio dos canais de cada ordem da rede


hidrográfica da sub-bacia do rio Luís Alves são apresentados na Tabela 3.4:

Tabela 3.4: Comprimento médio dos canais de cada ordem


Ordem dos canais Comprimento médio (Km)
1ª 0,87
2ª 1,02
3ª 2,05
4ª 4,00
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.
87

Tabela 3.4: Comprimento médio dos canais de cada ordem


Ordem dos canais Comprimento médio (Km)
5ª 11,04
6ª 23,16
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

Quadro 3.13: Valores de comprimento médio encontrados na literatura


Autor Bacia comprimento médio dos canais (Km)
hidrográfica 1ª ordem 2ª ordem 3ª ordem
Milani e Canali (2000) Rio Matinhos (PR) 3,01 1,96 1,5
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

3.2.14 Relação de bifurcação

É calculada pela equação:

Rb = Nu/“Nu+1” (28)

Onde:
Rb = relação de bifurcação
Nu = número de segmento de determinada ordem
“Nu+1” = número de segmentos de ordem imediatamente superior

Assim,

Rb = Nu/“Nu+1”
Rb = 4/1
Rb = 4,000

Quadro 3.14: Valores da relação de bifurcação encontrados na literatura


Autor Bacia hidrográfica Relação de bifurcação
Vestena et al. (2006) Rio Caeté (SC) 4,00
Lira et al. (2012) Igarapé Amaro (AC) 2,00
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.
88

3.2.15 Discussão dos resultados

A sub-bacia do Rio Luís Alves apresenta 6ª ordem de grandeza na escala


1:50.000, 582,00 km2 de área e perímetro igual a 128,01 Km. Apresenta densidade
de drenagem de 2,008 Km/Km2, caracterizada como alta, e densidade hidrográfica
de 1,885 rios/ Km2. A relação entre os dois índices (Dd > Dh) sugere controle
estrutural na bacia. A Tabela 3.5 apresenta os parâmetros morfométricos calculados
para a sub-bacia do Rio Luís Alves.

Tabela 3.5: Parâmetros morfométricos da sub-bacia do Rio Luís Alves


Parâmetro morfométrico Fórmula Valor
Área da bacia (Km2) - 582,00
Perímetro (Km) - 128,01
Ordem hierárquica (Strahler, 1952) - 6
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

Tabela 3.6: Parâmetros morfométricos da sub-bacia do Rio Luís Alves


Parâmetro morfométrico Fórmula Valor
Número de canais total - 1098
Número de canais 1ª ordem - 809
Número de canais 2ª ordem - 212
Número de canais 3ª ordem - 53
Número de canais 4ª ordem - 18
Número de canais 5ª ordem - 4
Número de canais 6ª ordem - 1
Comp. total rede drenagem (Km) - 1169,17
Comp. total canais 1ª ordem (Km) - 704,05
Comp. total canais 1ª ordem (Km) - 216,89
Comp. total canais 1ª ordem (Km) - 108,97
Comp. total canais 1ª ordem (Km) - 72,03
Comp. total canais 1ª ordem (Km) - 44,15
Comp. total canais 1ª ordem (Km) - 23,16
Comp. vetorial canal principal (Km) - 56,44
Ampl. altimétrica canal principal (m) 405
Amplitude altimétrica sub-bacia (m) - 825
Gradiente do canal principal (%) Gcp = Acp/Ccp x 1000 7,17
Coeficiente de compacidade Kc=0,28 x P/√A 1,486
Fator de forma F = A/L2 0,538
Índice de forma K = P/2√ΠA 1,493
Índice de circularidade C = A/Ac 0,446
Densidade de Drenagem (Km/Km2) Dd = L/A 2,008
Densidade Hidrográfica (rios/Km2) Dr = N/A 1,885
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.
89

Tabela 3.6: Parâmetros morfométricos da sub-bacia do Rio Luís Alves


Parâmetro morfométrico Fórmula Valor
Textura da topografia Log Tt = 0,219649 + 1,115 log 43,392
Dd
Coeficiente de manutenção (m2) Cm = 1/Dd x (1000) 4980,079
Frequência de canais de 1ª ordem (%) Fr = Nu/Nt x (100) 73,679
Frequência de canais de 2ª ordem (%) “ 19,307
Frequência de canais de 3ª ordem (%) “ 4,826
Frequência de canais de 4ª ordem (%) “ 1,639
Frequência de canais de 5ª ordem (%) “ 0,364
Frequência de canais de 6ª ordem (%) “ 0,091
Comp. médio canais de 1ª ordem (Km) Lm = Lu/Nu 0,870
Comp. médio canais de 2ª ordem (Km) “ 1,023
Comp. médio canais de 3ª ordem (Km) “ 2,056
Comp. médio canais de 4ª ordem (Km) “ 4,001
Comp. médio canais de 5ª ordem (Km) “ 11,037
Comp. médio canais de 6ª ordem (Km) “ 23,16
Relação de bifurcação Rb = Nu/“Nu+1” 4,00
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.

A relação de bifurcação encontrada para a sub-bacia do rio Luís Alves indica


relevo montanhoso, corroborando com o valor de Textura topográfica encontrado
para a mesma sub-bacia (43,392), classificando-a como de textura topográfica fina.
A maior parte (73,679%) dos canais da sub-bacia são de primeira ordem, entretanto
seu comprimento médio é de apenas 0,870 Km, indicando grande área de captação
com elevada declividade e pequena extensão a ser percorrida pela água até os
canais de ordens superiores.
A área da bacia, alta densidade de drenagem, relevo montanhoso, presença
de planícies alveolares ou planícies fluviais estreitas, aliados à alta pluviosidade
anual, são fatores naturais que contribuem para o desenvolvimento das inundações
observadas nesta sub-bacia.
Entretanto, alguns parâmetros importantes para avaliação da suscetibilidade
ao desenvolvimento de inundações indicam propensão mediana à ocorrência de
inundações. O índice de circularidade encontrado (0,44) aponta tendência para uma
bacia de forma mais alongada, favorecendo o escoamento das águas. A mesma
tendência é encontrada nos valores dos parâmetros coeficiente de compacidade
(1,486), fator de forma (0,538) e índice de forma (1,493).
Este resultado pode ser atribuído à forma da sub-bacia do rio Luís Alves e
como as microbacias tributárias se encontram organizadas. A sub-bacia tem formato
90

próximo de um triângulo, aninhando dezenas de bacias com formatos variados,


diferentes índices de dissecação, densidade de drenagem e usos do solo, e,
portanto, respostas diferentes no tempo de concentração em cada uma delas.
É importante ressaltar que, por conta do tamanho da sub-bacia e das
características distintas entre as áreas montanhosas e as planícies, dados
morfométricos que se refiram à totalidade da bacia representam a média dos
valores, sendo, portanto relativizáveis. Assim, deve-se entender os valores de
coeficiente de compacidade, fator de forma, índice de forma e índice de circularidade
como representativos da área total da bacia, e, neste caso, não parecem dar conta
de explicar a ocorrência de inundações nesta sub-bacia como um todo, uma vez que
a inundação acontece na escala das microbacias.
O Luís Alves corre em planícies estreitas limitadas por morros até
aproximadamente a altura da confluência com o Braço Serafim (4ª ordem),
perfazendo até este ponto em torno de 21 Km, e já configurando a esta altura um rio
de 5ª ordem. Neste ponto a planície assume largura um pouco maior, sendo,
entretanto logo à frente, fechada novamente pela topografia.
Seu perfil topográfico pode ser dividido em três compartimentos distintos,
onde predominam processos geomorfológicos com diferentes contribuições para o
desenvolvimento de inundações: entre a cabeceira e os primeiros mil metros de
canal o rio possui alta declividade, predominando alta velocidade de escoamento e,
portanto alto potencial erosivo. No setor seguinte, o rio corre sobre o domínio das
montanhas, configurando um perfil de pequenas planícies (algumas alveolares)
interrompidas por desníveis mais acentuados, com desenvolvimento de cachoeiras
em alguns pontos. Neste setor há uma alternância de processos de escoamento
mais lentos e rápidos. Por fim, o rio chega ao domínio dos sedimentos quaternários,
assumindo um traçado meândrico na tentativa de dissipar sua energia. Neste
compartimento, o nível do rio encontra-se subordinado à contribuição dos rios de
montante e também ao nível do rio Itajaí, bem como a influência das marés.
O Homem modifica algumas das características naturais do sistema de
drenagem com o objetivo de obter vantagens econômicas imediatas. Assim,
inúmeros rios de planície, principalmente aqueles até a terceira ordem, foram
retilinizados para dar lugar aos campos de arroz, que ficam submersos por um
determinado período do ano, criando uma situação de controle do lençol freático de
91

forma a mantê-lo elevado durante alguns meses, impedindo o escoamento das


águas destinadas ao cultivo do arroz. Essa situação cria uma condição para o
agravamento de um evento de inundação, não significando que seja uma atividade
condenável na sub-bacia, entretanto deve ser planejada considerando a
suscetibilidade natural daquela sub-bacia.
92

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados alcançados permitem afirmar que existe uma suscetibilidade


natural da sub-bacia do rio Luís Alves ao desenvolvimento de inundações.
Entretanto, o uso do solo sem observação dos critérios geomorfológicos de
ocupação contribui fortemente para agravar o problema, uma vez que potencializa a
suscetibilidade dos elementos do meio físico e aumenta a vulnerabilidade das
populações.
A morfometria é uma metodologia que tem por objetivo estabelecer
comparações matemáticas entre bacias hidrográficas. É útil quando dados
hidrológicos são ausentes, entretanto, para obter resultados mais confiáveis, deve
ser analisada em conjunto com outros métodos geomorfológicos. A dinâmica das
águas na sub-bacia do rio Luís Alves deve ser estudada em uma escala de detalhe
para fornecer respostas menos generalistas sobre o problema, entretanto, os dados
levantados permitem tecer algumas considerações que podem servir de subsidio ao
planejamento territorial.
Embora não tenha sido este o objetivo desta monografia, observou-se durante
a correção da rede de drenagem sobre a imagem CBERS que algumas
características morfométricas da sub-bacia (e das microbacias) foram alteradas. A
extensão de muitos canais foi reduzida pela retilinização dos rios. Como
conseqüência, há uma transferência do pico de inundação para as áreas a jusante
dos pontos retilinizados, impactando aquelas áreas (povoados, plantações, entre
outras atividades e estruturas). Foram identificados também muitos vales secos,
possivelmente devido à completa retirada da vegetação dos morros adjacentes.
Além de retrair a rede de drenagem, a exposição do solo nessas áreas aumenta a
disponibilidade de material superficial a ser carregado pelas chuvas e depositado
nas calhas dos rios de planície, provocando assoreamento e agravando o problema
das inundações. Além da retilinização, as áreas de planície ocupadas por cultivo são
ocupadas em toda a sua extensão disponível até a calha do rio, ou seja, a Área de
Preservação Permanente Mata Ciliar, obrigatória por Lei, não está sendo respeitada.
O controle de inundações numa sub-bacia é complexo, pois envolve inúmeras
variáveis. Entretanto, a sub-bacia do rio Luís Alves apresenta uma vantagem em
93

relação a outras áreas do Vale do Itajaí, já densamente ocupadas. Dado que nesta
sub-bacia a ocupação é esparsa, há maior liberdade de ação na implementação de
medidas de controle, sejam estruturais, não recomendadas, quanto medidas não
estruturais, estas sim de implementação fundamental.
Pelo exposto acima, e com base na recente Lei 12.608/12, pode-se afirmar
que a gestão de riscos deve integrar o planejamento territorial da sub-bacia, de
forma integrada entre os municípios cujo território está inserido nos limites da sub-
bacia. O planejamento do uso do solo deve ser feito em observância às dinâmicas
do meio físico, de forma a não ampliar o seu impacto sobre o desenvolvimento de
inundações.
O traçado natural dos rios na planície cultivada deveria ser reconstituído e as
Áreas de Proteção Permanente marginais aos cursos d’água deveriam ser
demarcadas e recuperadas, em observância à legislação ambiental. Assim, com a
recuperação das matas ciliares (com plantio de espécies nativas), seria possível
diminuir o aporte de sedimentos para os corpos d’água, evitando o assoreamento e
perda do potencial de escoamento dos canais, permitindo ainda a recomposição da
diversidade de fauna na sub-bacia.
Por fim, a gestão de riscos geoambientais só será efetiva quando for
assumida como um compromisso de toda a sociedade, dos gestores públicos às
instituições tais como escolas, igrejas, universidades, meios de comunicação,
organizações não-governamentais, entre outras, aos cidadãos comuns. A gestão de
riscos deve ser incorporada em todas as instâncias do planejamento público e
privado, e, principalmente, nos projetos pedagógicos escolares, de forma a oferecer
às próximas gerações uma formação para a prevenção, preparação e resposta aos
eventos adversos, aumentando assim a resiliência das populações.
94

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ANEXO 1
ORDENAMENTO FLUVIAL DA SUB-BACIA DO RIO LUÍS ALVES/SC
700000,000000 710000,000000 720000,000000

400
0
30

300

300
400
400
400

30
400

0
200
400 SAO JOAO DO ITAPERIU
500

300

0
30
0

300
40
0 20

400

200
7050000,000000

7050000,000000
200

200
200 20

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30

300

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300

200
200 SAO JOAO DO ITAPERIU

200
20
400

200
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30

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20
0 200
20

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200 200

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20

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0

20
200 10
200

20
200

0 400 0 100
20 BARRA VELHA

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300

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200
400 100
20

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20
300

200
0
20
MASSARANDUBA

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0 100
20 200 0

40
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7043000,000000

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0

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0 0
30 200 20
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0 20 200 300
300

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100

100
200 LUIZ ALVES
200
PICARRAS
200 200
400

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200

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40

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7036000,000000
NAVEGANTES
0

100
30

100
0

0
50

100
30
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500
500

300
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200

0
30 200
0 100
30 200
100
200

20
0

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ILHOTA
300
300
0

0
40
200
300

200

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100 200
7029000,000000

7029000,000000
0
20

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0 100
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0
10

$
0
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0 30
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400 0
300

0 1.200 2.400 4.800 7.200 9.600


Metros

700000,000000 710000,000000 720000,000000

PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS DA SUB-BACIA DO RIO LUÍS ALVES/SC

Curvas de nível principais


Curvas de nível secundárias

Limite entre municípios


O presente trabalho tem por objetivo avaliar a contribuição da
morfometria para o desenvolvimento de inundações na sub-bacia
hidrográfica do rio Luís Alves, situada na porção nordeste do estado de
Santa Catarina. Tributário do rio Itajaí-Açú, o rio Luís Alves apresenta 6a
ordem de grandeza na hierarquia fluvial de Strahler, drenando uma área
de 582,00 Km2 situada sob um regime de precipitação anual de 1800 mm.
Os resultados do trabalho indicam que o desenvolvimento de inundações
na sub-bacia do rio Luís Alves possui uma contribuição morfométrica,
embora o uso do solo sem observância de critérios geomorfológicos de
proteção ambiental contribua grandemente para agravar o problema. A
presença, em muitas microbacias, de planícies alveolares ou planícies
fluviais estreitas, aliada ao alto índice pluviométrico anual são outros
fatores que contribuem para a suscetibilidade natural da sub-bacia.
Entretanto, a gestão de riscos na sub-bacia poderá ser bastante eficiente
se forem implantadas medidas não estruturais para o controle de
inundações, integrando a gestão de riscos e o planejamento territorial.

Orientadora: Mariane Alves Dal Santo

Florianópolis, 2012

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