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ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA
SUSCETIBILIDADE À INUNDAÇÃO NA
SUB-BACIA DO RIO LUÍS ALVES - SC
FLORIANÓPOLIS, 2012
ANA CAROLINA VICENZI FRANCO
FLORIANÓPOLIS
2012
F825a Franco, Ana Carolina Vicenzi
Análise morfométrica da suscetibilidade à inundação na
Sub-bacia do rio Luís Alves – SC/ Ana Carolina Vicenzi
Franco. – 2012.
101 p. : Il. color. ; 21 cm
Banca Examinadora
Orientadora: _____________________________________________
Doutora Mariane Alves Dal Santo
Universidade do Estado de Santa Catarina
Membro: ______________________________________________
Doutora Amanda Cristina Pires
Universidade do Estado de Santa Catarina
Membro: ______________________________________________
Mestre Luiz Henrique Fragoas Pimenta
Universidade do Estado de Santa Catarina
Florianópolis, 07/12/2012
AGRADECIMENTOS
RESUMO
Quadro 1.1: Ocorrência de inundação no município de Luís Alves por ano e tipo de
inundação. ................................................................................................................. 20
Quadro 2.1: classificação dos desastres naturais segundo o EM-DAT. .................... 30
Quadro 2.2: Tipos de inundações. ............................................................................ 33
Quadro 2.3: Estudos morfométricos recentes no Brasil ............................................ 52
Quadro 2.4: Classificação do Fator de Forma ........................................................... 57
Quadro 2.5: Classificação do Índice de circularidade................................................ 58
Quadro 2.6: Classificação da Densidade de Drenagem............................................ 59
Quadro 2.7: Classificação da Textura Topográfica. .................................................. 60
Quadro 3.1: Valores de gradiente do canal principal encontrados na literatura ........ 76
Quadro 3.2: Valores de coeficiente de compacidade encontrados na literatura........ 78
Quadro 3.3: Classificação do Fator de Forma. .......................................................... 79
Quadro 3.4: Valores de fator de forma encontrados na literatura.............................. 79
Quadro 3.5: Valores de índice de forma encontrados na literatura ........................... 80
Quadro 3.6: Valores do índice de circularidade encontrados na literatura ................ 81
Quadro 3.7: Valores do densidade de drenagem encontrados na literatura ............. 82
Quadro 3.8: Valores do densidade hidrográfica encontrados na literatura................ 82
Quadro 3.9: Valores de textura da topografia encontrados na literatura ................... 83
Quadro 3.10: Valores do Coeficiente de manutenção encontrados na literatura. ..... 84
Quadro 3.11: Valores da Frequência relativa de canais de 1ª ordem encontrados na
literatura .................................................................................................................... 85
Quadro 3.12: Valores de comprimento médio encontrados na literatura .................. 87
Quadro 3.13: Valores da relação de bifurcação encontrados na literatura ................ 87
LISTA DE SIGLAS
Ciclo hidrológico………………………………………………………………………… 36
Gradiente do canal principal…………………………………………………………… 55
Coeficiente de compacidade…………………………………………………………... 56
Fator de forma…………………………………………………………………………… 56
Índice de forma………………………………………………………………………….. 57
Área do círculo…………………………………………………………………………... 57
Perímetro do círculo…………………………………………………………………….. 58
Índice de circularidade………………………………………………………………….. 58
Densidade de drenagem……………………………………………………………….. 58
Densidade hidrográfica…………………………………………………………………. 60
Textura da topografia…………………………………………………………………… 60
Coeficiente de manutenção……………………………………………………………. 61
Frequência relativa dos canais de cada ordem……………………………………… 61
Relação entre o comprimento médio dos canais de cada ordem…………………. 61
Relação de bifurcação………………………………………………………………….. 62
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 13
1.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA ......................................................... 14
1.1.1 As inundações históricas ....................................................................... 17
1.1.2 O desastre de 2008 ............................................................................... 21
1.2 OBJETIVOS ................................................................................................. 26
1.2.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 26
1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 26
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 27
2.1 INUNDAÇÕES ............................................................................................. 32
2.2 CONDICIONANTES DO DESENVOLVIMENTO DE INUNDAÇÕES ........... 35
2.2.1 Condicionantes naturais ........................................................................ 36
2.2.2 Condicionantes antrópicas .................................................................... 41
2.3 IMPACTOS DAS INUNDAÇÕES ................................................................. 46
2.4 CONTROLE DE INUNDAÇÕES .................................................................. 49
2.4.1 Medidas estruturais ............................................................................... 49
2.4.2 Medidas não-estruturais ........................................................................ 50
2.5 A MORFOMETRIA DA BACIA NO ESTUDO DAS INUNDAÇÕES .............. 50
2.5.1 Área da bacia......................................................................................... 54
2.5.2 Hierarquia fluvial .................................................................................... 55
2.5.3 Gradiente do canal principal .................................................................. 55
2.5.4 Coeficiente de compacidade ................................................................. 56
2.5.5 Fator de Forma ...................................................................................... 56
2.5.6 Índice de Forma (K) ............................................................................... 57
2.5.7 Índice de circularidade ........................................................................... 57
2.5.8 Densidade de drenagem (Dd) ............................................................... 58
2.5.9 Densidade hidrográfica (Dh) .................................................................. 59
2.5.10 Textura da topografia (Tt) ................................................................... 60
2.5.11 Coeficiente de manutenção (Cm) ....................................................... 60
2.5.12 Frequência relativa dos canais de cada ordem .................................. 61
2.5.13 Relação entre o comprimento médio dos canais de cada ordem ....... 61
2.5.14 Relação de bifurcação ou índice de bifurcação .................................. 61
2.6 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................... 62
3 CARACTERIZAÇÃO DA SUB-BACIA DO RIO LUÍS ALVES ..................................... 65
3.1 ASPECTOS GEOLÓGICO-GEOMORFOLÓGICOS .................................... 66
3.2 CÁLCULO DOS PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS ................................ 74
3.2.1 Delimitação da bacia hidrográfica .......................................................... 74
3.2.2 Ordem hierárquica dos canais ............................................................... 75
3.2.3 Gradiente do canal principal (Gcp) ........................................................ 76
3.2.4 Coeficiente de compacidade ................................................................. 78
3.2.5 Fator de Forma ...................................................................................... 79
3.2.6 Índice de Forma (K) ............................................................................... 79
3.2.7 Índice de circularidade ........................................................................... 80
3.2.8 Densidade de drenagem (Dd) ............................................................... 81
3.2.9 Densidade hidrográfica (Dh) .................................................................. 82
3.2.10 Textura da topografia (Tt) ................................................................... 83
3.2.11 Coeficiente de manutenção (Cm) ....................................................... 83
3.2.12 Frequência relativa dos canais de cada ordem .................................. 84
3.2.13 Relação entre o comprimento médio dos canais de cada ordem ....... 85
3.2.14 Relação de bifurcação ........................................................................ 87
3.2.15 Discussão dos resultados................................................................... 88
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 92
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 94
13
1. INTRODUÇÃO
1
Também conhecida como Vale do Itajaí.
2
Schaefer-Santos (2003).
3
http://ciram.epagri.sc.gov.br/mapoteca/
4
Licença do Laboratório de Geoprocessamento/GEOLAB da Universidade do Estado de Santa
Catarina/UDESC.
14
5 2 2 2
Itajaí do Norte (3.315 Km ), Itajaí do Oeste (2.928 Km ), Itajaí-Açú (2.794 Km ), Itajaí do Sul (2.309
2 2 2 2
Km ), Itajaí-Mirim (1.673 Km ), Benedito (1.398 Km ) e Luís Alves (582,02 Km ) (FRAGA & KÖHLER,
1999).
15
dos reinos germânicos foi deliberada e promovida pelo Governo Brasileiro, que
pretendia criar um canal de ligação entre Desterro6 e o Planalto catarinense:
6
Atual Florianópolis.
7
Disponível no sítio eletrônico da Prefeitura Municipal de Luís Alves:
<http://www.luisalves.sc.gov.br/conteudo/?item=27548&fa=5775> Acesso em 03/02/2012.
8
Ver: Santos, 2010.
19
9
Departamento Nacional de Obras e Saneamento.
10
Disponível no sítio eletrônico da Prefeitura Municipal de Luís Alves:
<http://www.luisalves.sc.gov.br/conteudo/?item=27548&fa=5775> Acesso em 03/02/2012.
20
Quadro 1.1: Ocorrência de inundação no município de Luís Alves por ano e tipo de
inundação.
Ano Inundação gradual Inundação brusca
Primavera Verão Outono Inverno Primavera Verão Outono Inverno
1983 x x
1984 x
1985 x
1987 x
1989 x
1998 x
2001 x
Fonte: Hermann (2005).
Figura 1.3: Inundação de 1970 no município de Luís Alves, casa de Gelson Wust.
11
Disponível no sítio eletrônico da Prefeitura Municipal de Luís Alves:
<http://www.luisalves.sc.gov.br/conteudo/?item=28797&fa=5775&PHPSESSID=fe1unjl2l1mo1q25qckl
91a1d2> Acesso em 03/02/2012.
21
12
Foram registrados 500 mm em apenas dois dias em Blumenau (MATTEDI et. al., 2009).
22
Figura 1.4: Distribuição dos municípios que decretaram situação de emergência e estado de
calamidade pública em novembro de 2008.
13
Disponível no sítio eletrônico da Defesa Civil de Santa Catarina:
<http://www.desastre.sc.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=219:celesc-investe-r-
12-milhao-para-restabelecer-toda-a-energia-em-luis-alves&catid=2:energia&Itemid=17> Acesso em
03/02/2012/
24
14
Segundo EPAGRI (2009), 85% dos pontos onde ocorreram deslizamentos a cobertura florestal
nativa havia sido substituída por plantações de pínus/eucalipto ou banana, ou ainda apresentavam
solo exposto ou em fase inicial de regeneração da vegetação.
25
1.2 OBJETIVOS
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
15
Evento adverso: Ocorrência desfavorável, prejudicial, imprópria. Acontecimento que traz prejuízo,
infortúnio. Fenômeno causador de um desastre (CASTRO, 2007:77).
28
16
EM-DAT é uma base de dados internacional sobre desastres administrado pelo CRED - Centre for
Research on the Epidemiology of Disasters, da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. A base
de dados pode ser acessada pelo endereço <http://www.emdat.be/>.
29
afetadas por desastres), sendo responsáveis também por 20,4% das mortes e
19,3% do total de danos (GUHA-SAPIR et. al., 2012).
destacada pela seta vermelha, por se distinguir como uma das três mesorregiões
com maior número de registros de inundação brusca e alagamentos no país.
Figura 2.1: Desastres naturais causados por inundação brusca e alagamento no Brasil no
período de 1991 a 2000.
Bacia do
Rio Itajaí
2.1 INUNDAÇÕES
17
Há ainda as inundações provocadas pela ação humana, como quando da ruptura de diques e
reservatórios, por exemplo (DÍEZ-HERRERO et al., 2009).
18
Surface flooding ou inland flooding.
33
Não
Inundações ou zonas aclinais)
relacionados
naturais Hidrogeológicos (surgências
à rede fluvial
ou variações no nível
freático)
Marés altas ou marés de
Relacionadas
sizígia
à ação das
Bores (planícies de maré,
marés
montante de rios)
Inundações
Tempestades, ciclones
costeiras
(origem meteorológica)
Ondas Tsunamis (sísmicos,
vulcânicos, deslizamentos
submarinos)
Induzidas Obstáculos ao fluxo da água, impermeabilização do solo,
ou desflorestamento
agravadas
Manejo inadequado de estruturas hidráulicas
Antrópicas Rupturas e Reservatórios (lagos, reservatórios)
vazamentos Condutos (aquedutos, drenagens)
Fonte: Díez-Herrero et al. (2009).
34
O rio pode ser entendido como um “corpo de água corrente confinada num
canal” (SUGUIO & BIGARELLA, 1990:3), e constitui uma das etapas do ciclo
hidrológico. Este, por sua vez, é definido por Drew (1989) como um sistema
complexo de circulação da água, que consiste em diferentes armazenagens de água
(rios, lagos, água subterrânea, oceano, seres vivos, nuvens, entre outros), ligadas
por transferências (precipitação, evaporação, condensação), e cujo tempo para o
desenvolvimento de cada processo se apresenta variável (ver Figura 2.3).
Portanto, o ciclo hidrológico representa o conjunto de processos de circulação
da água na superfície terrestre, cujas principais fases são: precipitação, infiltração,
evaporação, transpiração19, escoamento superficial e escoamento subterrâneo,
sendo seu balanço expresso pela seguinte equação (SUGUIO & BIGARELLA,
1990:4):
19
A evaporação e a transpiração juntas constituem a evapotranspiração.
37
água, a infiltração será grande e menos água tenderá a escoar pela superfície.
Entretanto, solos com baixa capacidade de absorção promoverão maior escoamento
superficial, acelerando a circulação da água dentro da bacia e contribuindo para a
acumulação das águas em cotas mais baixas. Solos rasos tenderão a saturar mais
rapidamente e consequentemente o escoamento superficial será maior. A
compactação do solo está relacionada à sua textura, influenciando na capacidade do
solo em absorver a água da chuva.
sua vez o material carregado pelas águas superficiais vai se depositar no leito dos
rios, nas partes mais baixas da bacia, promovendo seu assoreamento e diminuindo
a capacidade de escoamento do canal, contribuindo para a formação de inundações.
A cobertura vegetal promove ainda a interceptação, que se trata da diminuição da
quantidade e velocidade de água que chega ao solo. Um considerável volume de
água que precipita e é retido na copa das árvores pode evaporar antes de chegar ao
solo. A Figura 2.5 apresenta o plantio em topos de morros na microbacia do
Ribeirão do Baú, um dos principais tributários do Luís Alves, e exemplifica o que foi
discutido acima. O solo exposto disponibiliza material que chega aos canais fluviais
pela ação do escoamento superficial quando ocorre precipitação.
20
Duas inundações ocorreram no período: 1992 e 1997, contribuindo para a intensificação do
processo erosivo (SANTOS & FRIEDENREICH, 2002).
.
44
Figura 2.6: Comparação de hidrogramas para uma área antes e depois da urbanização.
21
Leopold (1968, apud TUCCI, 1997b) cita que a vazão máxima na bacia pode aumentar em até sete
vezes, por conta do aumento do escoamento e impermeabilização da superfície.
22
O que, em minha opinião, implica na participação de todos, ou quase todos os cidadãos da cidade.
45
Figura 2.7: Modificações na cobertura vegetal de uma bacia - plantio de bananeira em linha
sobre encosta, município de Luís Alves. 21/09/11.
Figura 2.8: Interrupção das vias de transporte pela destruição de uma ponte em Luís Alves,
2008.
Figura 2.9: Destruição de moradias e aumento do nível de base local como conseqüência da
ação combinada de deslizamentos seguidos por corrida de lama e inundação, 03/2009.
23
“Lei do número de canais”, “Lei do comprimento dos canais”, “Lei da área da bacia de canais”, “Lei
da declividade dos canais” (HORTON, 1945).
24
Além de Horton e Sthraler, Christofoletti (1974) cita ainda Scheidegger e Shreve.
52
Onde:
Acp = amplitude altimétrica do canal principal (m)
Ccp = comprimento do canal principal (m)
F = A/L2 (4)
Sendo:
F = Fator de Forma
A = Área da bacia (Km2)
L = comprimento do eixo maior da bacia (Km)
57
K = P/2√ΠA (5)
Sendo:
K = Índice de Forma
P = Perímetro da Bacia (Km)
A = Area da Bacia (Km2)
Área do círculo:
Ac = ΠR2 (6)
Onde:
Ac = Área do Círculo (Km2)
R = Raio do Círculo (Km)
58
Perímetro do círculo:
P = 2 ΠR (7)
Onde:
P = Perímetro do Círculo (Km)
R = Raio do Círculo (Km)
Ic = A/Ac (8)
Onde:
A = área da sub-bacia a conhecer (Km2)
Ac = área da bacia de perímetro igual (Km2)
Dd = L/A (9)
Onde:
Dd = Densidade de Drenagem (Km/Km2)
L = Comprimento Total dos Rios (Km)
A = Área da Bacia (Km2)
59
25
O estudo utilizou cartas nas escalas 1:50.000, 1:250.000 e 1:500.000.
60
Dh = N/A (10)
Onde:
Dh = Densidade Hidrográfica (rios/Km2)
N = Número Total de Rios
A = Área da Bacia (Km2)
Sendo:
Tt = Textura da Topografia
Dd = Densidade de Drenagem (Km/Km2)
Onde:
Fr = Frequência Relativa (%)
Nu = Número de canais da ordem que se quer conhecer
Nt = Número total de canais
Lm = Lu/Nu (14)
Onde:
Lm = Comprimento médio dos canais de cada ordem fluvial (Km)
Lu = Soma dos comprimentos de todos os segmentos da ordem que se quer
conhecer (Km)
Nu = Número de segmentos desta mesma ordem
Horton (1945), a relação de bifurcação varia entre 2 para bacias planas a suave
onduladas, a 3 ou 4 para bacias montanhosas ou altamente dissecadas. É calculada
pela equação:
Rb = Nu/“Nu+1” (15)
Onde:
Rb = relação de bifurcação
Nu = número de segmento de determinada ordem
“Nu+1” = número de segmentos de ordem imediatamente superior
26
http://ciram.epagri.sc.gov.br/mapoteca/
63
27
Dados obtidos das cartas IBGE 1:50.000.
66
O município de Luís Alves é o único que possui sua sede administrativa e seu
território inteiramente dentro dos limites da sub-bacia, ocupando uma área total de
260,081 Km2. De acordo com dados do IBGE (2010), o município possui 10.438
habitantes.
A Figura 3.8 é uma fotografia aérea da sub-bacia do rio Luís Alves, onde é
possível observar morros de topos convexos, com evidências de processos erosivos
que contribuem com material da encosta para o assoreamento das calhas dos rios
(assinalado pela seta 1), um vale fluvial em “V” (assinalado pela seta 2), e mais a
frente (assinalado pela seta 3) uma planície fluvial mais ampla.
A Figura 3.9 apresenta o potencial hidrológico do solo da bacia do Itajaí.
Destacado em preto, apresenta-se o contorno da sub-bacia do Rio Luís Alves,
evidenciando a muito baixa e baixa capacidade de armazenamento nas áreas que
correspondem às planícies, e a média capacidade nas áreas montanhosas. Assim,
verifica-se que a média capacidade de armazenamento parece corresponder às
áreas compreendidas por rochas enderbíticas do Complexo Granulítico Luís Alves,
sobre os quais se desenvolvem solos classificados como argissolos e cambissolos.
A muito baixa a baixa capacidade está associada ao domínio dos sedimentos de
origem aluvial, lacustre e coluvionar, com ocorrência principal de solos tipo
gleissolos e cambissolos. Essa situação, aliada ao baixo gradiente das planícies
fluviais e sob condição de precipitação prolongada implica no rápido encharcamento
do solo e escoamento superficial, resultando em inundações.
71
Figura 3.6: Triangular Irregular Network (TIN) da sub-bacia do rio Luís Alves/SC
Figura 3.7: Feições que evidenciam o canal original meandrante e o canal atual do rio Luís
Alves, retilinizado, 04/11.
Figura 3.8: Encostas e vales fluviais na sub-bacia do Rio Luís Alves, 04/11.
Uma vez que as planícies aluviais do rio Luís Alves e de alguns de seus
tributários foram extensamente modificadas pela rizicultura, com a abertura de uma
rede de canais de drenagem, retilinização dos canais principais das microbacias
tributárias do baixo curso e corte de vários meandros, a delimitação das microbacias
nesse compartimento ficou prejudicada. A base cartográfica não oferece escala30
adequada para delimitação dos limites das microbacias na planície, e o traçado
natural dos rios foi modificado, em alguns casos unindo os canais de drenagem das
microbacias antes de sua chegada ao rio Luís Alves, em outros até realizando uma
“transposição de bacias”. Assim, para algumas microbacias, mostrou-se impossível a
28
ArcGIS 10.0 da ESRI™.
29
Disponível em <http://ciram.epagri.sc.gov.br/mapoteca/> Acesso em 02/09/2011.
30
A equidistância das curvas de nível de 20 em 20 metros impossibilita a definição dos limites de
bacias em áreas com baixo gradiente.
75
Tabela 3.1: Área, perímetro, comprimento vetorial do canal principal e amplitude altimétrica
do canal principal
Parâmetro morfométrico Valor
Área (Km2) 582,00
Perímetro (Km) 128,01
Comprimento vetorial canal principal (Km) 56,44
Amplitude altimétrica canal principal (m) 405,00
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.
Tabela 3.2: Número de canais de cada ordem e comprimento dos canais de cada ordem.
Ordem Nº de canais Comprimento dos canais (Km)
1 809 704,05
2 212 216,89
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.
76
Tabela 3.2: Número de canais de cada ordem e comprimento dos canais de cada ordem.
Ordem Nº de canais Comprimento dos canais (Km)
3 53 108,97
4 18 72,03
5 4 44,15
6 1 23,16
Total 1098 1169,17
Elaboração: Ana Carolina Vicenzi Franco.
O perfil topográfico do Rio Luís Alves (ver Figura 3.11) foi gerado a partir da
interpolação no ArcGIS entre o TIN da sub-bacia do Rio Luís Alves e a polilinha
correspondente ao canal principal. O perfil do rio Luís Alves apresenta-se côncavo,
tendo sua nascente em encostas de alta declividade, e corre em sua maior extensão
sobre áreas de baixa declividade, as planícies aluviais.
Kc = 0,28x P/√ A
Onde:
P = perímetro da bacia em Km
A = área da bacia em Km2
F = A/L2 (17)
Sendo:
F = Fator de Forma
A = Área da bacia
L = comprimento do eixo maior da bacia
Assim:
F = 582,00/32,872
F = 582,00/1080,44
F = 0,538
K = P/2√ΠA (18)
Sendo:
K = Índice de Forma
80
P = Perímetro da Bacia
A = Area da Bacia
Assim,
K = 128,01/2√Πx582,00
K = 128,01/85,523
K = 1,496
Ac = ΠR2 (19)
Onde:
Ac = Área do Círculo
R = Raio do Círculo
P = 2 ΠR (20)
Onde:
P = Perímetro do Círculo (Km)
R = Raio do Círculo (Km)
Então,
128,01 = 2 ΠR
R = 20,373 Km
Ac = 1304,00 Km2
Ic = A/Ac (21)
Onde:
A = área da sub-bacia do Rio Luís Alves (Km²)
Ac = área da bacia de perímetro igual (Km²)
Assim,
Ic = A/Ac
Ic = 582,00/1304,00
Ic = 0,446
Dd = L/A (22)
Onde:
Dd = Densidade de Drenagem (Km/Km2)
L = Comprimento Total dos Rios (Km)
A = Área da Bacia (Km²)
Assim,
Dd = 1169,17/582,00
Dd = 2,008 Km/Km2
82
Dh = N/A (23)
Onde:
Dh = Densidade Hidrográfica (rios/Km2)
N = Número Total de Rios
A = Área da Bacia (Km2)
Dh = 1098/582,00
Dh = 1,885 rios/Km2
Sendo:
Tt = Textura da Topografia
Dd = Densidade de Drenagem (Km/Km2)
Desta forma,
Log Tt = 0,219649 + 1,115 log 2,008
Log Tt = 1,6374127084729817
Tt = (10) 1,6374127084729817
Tt = 43,392
Cm = 1.000.000/2,008 x(1000)
84
Cm = 4.980,079 m/m2
Onde:
Fr = Frequência Relativa (%)
Nu = Número de canais da ordem que se quer conhecer
Nt = Número total de canais
Fr3 = 4,83%
Lm = Lu/Nu (27)
Onde:
Lm = Comprimento médio dos canais de cada ordem fluvial (Km)
Lu = Soma dos comprimentos de todos os segmentos da ordem que se quer
conhecer (Km)
Nu = Número de segmentos desta mesma ordem
Lm1 = Lu/Nu
Lm1 = 704,05/809
Lm1 = 0,87 km
Lm2 = Lu/Nu
Lm2 = 216,89/212
Lm2 = 1,02 km
Lm3 = Lu/Nu
Lm3 = 108,97/53
Lm3 = 2,05 km
Lm4 = Lu/Nu
Lm4 = 72,03/18
Lm4 = 4,00 km
Lm5 = Lu/Nu
Lm5 = 44,15/4
Lm5 = 11,04 km
Lm6 = Lu/Nu
Lm6 = 23,16/1
Lm6 = 23,16 km
Rb = Nu/“Nu+1” (28)
Onde:
Rb = relação de bifurcação
Nu = número de segmento de determinada ordem
“Nu+1” = número de segmentos de ordem imediatamente superior
Assim,
Rb = Nu/“Nu+1”
Rb = 4/1
Rb = 4,000
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
relação a outras áreas do Vale do Itajaí, já densamente ocupadas. Dado que nesta
sub-bacia a ocupação é esparsa, há maior liberdade de ação na implementação de
medidas de controle, sejam estruturais, não recomendadas, quanto medidas não
estruturais, estas sim de implementação fundamental.
Pelo exposto acima, e com base na recente Lei 12.608/12, pode-se afirmar
que a gestão de riscos deve integrar o planejamento territorial da sub-bacia, de
forma integrada entre os municípios cujo território está inserido nos limites da sub-
bacia. O planejamento do uso do solo deve ser feito em observância às dinâmicas
do meio físico, de forma a não ampliar o seu impacto sobre o desenvolvimento de
inundações.
O traçado natural dos rios na planície cultivada deveria ser reconstituído e as
Áreas de Proteção Permanente marginais aos cursos d’água deveriam ser
demarcadas e recuperadas, em observância à legislação ambiental. Assim, com a
recuperação das matas ciliares (com plantio de espécies nativas), seria possível
diminuir o aporte de sedimentos para os corpos d’água, evitando o assoreamento e
perda do potencial de escoamento dos canais, permitindo ainda a recomposição da
diversidade de fauna na sub-bacia.
Por fim, a gestão de riscos geoambientais só será efetiva quando for
assumida como um compromisso de toda a sociedade, dos gestores públicos às
instituições tais como escolas, igrejas, universidades, meios de comunicação,
organizações não-governamentais, entre outras, aos cidadãos comuns. A gestão de
riscos deve ser incorporada em todas as instâncias do planejamento público e
privado, e, principalmente, nos projetos pedagógicos escolares, de forma a oferecer
às próximas gerações uma formação para a prevenção, preparação e resposta aos
eventos adversos, aumentando assim a resiliência das populações.
94
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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n. 5. p. 849-857. Viçosa: 2006.
ANEXO 1
ORDENAMENTO FLUVIAL DA SUB-BACIA DO RIO LUÍS ALVES/SC
700000,000000 710000,000000 720000,000000
400
0
30
300
300
400
400
400
30
400
0
200
400 SAO JOAO DO ITAPERIU
500
300
0
30
0
300
40
0 20
400
200
7050000,000000
7050000,000000
200
200
200 20
400
40
0
200
0
10
0
400
20
100
400
100
0
20
0
0
30
300
20
300
200
200 SAO JOAO DO ITAPERIU
200
20
400
200
0
30
10
0
0
20
0 200
20
10
100
0
300
20
200 200
0
0
20
20
400 200 10
300 0
20
0
20
0
200
0
200
40
20
0
0
0
20
200 10
200
20
200
0 400 0 100
20 BARRA VELHA
200
300
300
200
400 100
20
0
20
300
200
0
20
MASSARANDUBA
200
300
0
0 100
20 200 0
40
400 10
400
200
100
100 100
200
300
0
10
0 0
30 10 100
0
20
0
0
40
200 20 100
30
300 200
0
0
200
200
200
20
100
0
300 10
20
300
0
200
100
200 100
0
300
20
100
200
300 0
7043000,000000
7043000,000000
10
10 100
300 0
0
100
300
40
100
0 0
30 200 20
0
0 20 200 300
300
40
100
100
200 LUIZ ALVES
200
PICARRAS
200 200
400
100
100
300
100
200
0
30
0
40
500
400
40 0
40
400
0 0
30
0
400
50
500
300
400
500
0
50
40
0
0
40
0
50
60
400
0
0
40 400 50
0
100
400
600
10
400 0 100
0
50 200
0
50
0
100
40
600
100
200
0
0
10
30
40
600
0 100
0
60
400
0 0
40 60
500
0
700
0
0
40
10
40
400
0
400
40
7036000,000000
7036000,000000
NAVEGANTES
0
100
30
100
0
0
50
100
30
60
0
10
100
0
500 0
700
30 200
0
70
600
40
0 100
0
70
0
10
0
40
100
200
600
200
50
0 100
0 300
10
700
500
600
20
600
500
300
40
300
0
300
500
500
300
500
200
0
30 200
0 100
30 200
100
200
20
0
400
40
ILHOTA
300
300
0
0
40
200
300
200
300
100 200
7029000,000000
7029000,000000
0
20
200
200
100
100
0 100
30
0
10
$
0
200
10
0
0 30
30
300
30
400 0
300
Florianópolis, 2012