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25/02/2022 10:36 Petrobras não pretende, de imediato, repassar aumento aos combustíveis | Empresas | Valor Econômico

Empresas

Petrobras não pretende, de imediato, repassar


aumento aos combustíveis
Estatal sinaliza que vai esperar um pouco antes de tomar decisão; vai monitorar
invasão da Ucrânia, mas não vê, por ora, riscos no abastecimento

Por André Ramalho e Gabriela Ruddy — Do Rio


25/02/2022 05h02 · Atualizado há uma hora

A Petrobras sinalizou ontem que não responderá de imediato à intensificação da


alta do petróleo, decorrente da invasão da Ucrânia pela Rússia, e que vai observar
um pouco mais o comportamento da commodity antes de decidir sobre o reajuste
dos combustíveis no Brasil. A companhia também afastou riscos ao abastecimento
do mercado doméstico, diante dos temores de que o conflito Leste Europeu
desequilibre o fluxo de óleo e gás natural no mundo.

Ante a escalada das tensões geopolíticas, o barril de petróleo do tipo Brent,


referência global, chegou a atingir ontem pela manhã o patamar de US$ 100. Foi a
primeira vez que a commodity superou a barreira desde 2014. Depois de o
presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciar a intenção de liberar a reserva
estratégica de petróleo americana, se necessário, para proteger os consumidores do
impacto do aumento dos preços, o barril desacelerou e fechou o dia a US$ 95,42,
alta de 1,45%.

A valorização da commodity pressiona diretamente os preços dos combustíveis no


Brasil - que já convive com uma inflação dos derivados. Segundo dados mais
atualizados da Triad Research, empresa de pesquisa de mercado, o litro da gasolina
era comercializado, em média, a R$ 6,787 no país, no dia 23, enquanto o litro do
diesel S10 custava R$ 5,766, nas bombas. O encarecimento dos combustíveis é alvo
de intensa politização na corrida eleitoral de 2022.

O diretor de comercialização e logística da estatal, Claudio Mastella, descartou


qualquer mudança na política de preços da petroleira, alinhada desde 2016 ao
comportamento dos preços internacionais do petróleo e derivados. Ele reforçou,
contudo, que a companhia evita repassar as volatilidades conjunturais aos
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25/02/2022 10:36 Petrobras não pretende, de imediato, repassar aumento aos combustíveis | Empresas | Valor Econômico
consumidores. A petroleira está há 44 dias sem mexer nos preços nas refinarias. O
executivo afirmou que a desvalorização do dólar ante o real ajudou a compensar
parte do aumento do petróleo desde janeiro e permitiu à empresa manter os preços
inalterados no período.

A consultoria Stonex estima que existe espaço, hoje, para um reajuste de 7,8% (R$
0,28 por litro) nos preços do diesel vendido pela Petrobras nas refinarias. No caso da
gasolina, a alta estimada é de 8,1% (R$ 0,26 por litro), se considerada a defasagem
dos preços da estatal para a paridade internacional.

Mastella disse que a companhia vai precisar observar o mercado e do câmbio por
mais tempo antes de realizar novos movimentos. “Tivemos um pico hoje [quinta-
feira] de preços que ainda não estabilizou. O mercado todo está observando o que
está acontecendo, tentando avaliar as consequências e extensão da crise”,
comentou, na coletiva de imprensa sobre os resultados financeiros de 2021.

“A Petrobras está monitorando em detalhe a evolução dessa crise na Ucrânia, mas


até o momento ela está restrita àquela região. Por conta disso, dada a situação que
estamos vendo hoje, não vemos impacto na segurança de atendimento aos nossos
clientes aqui no Brasil, que são atendidos primeiro, em grande parte, pela nossa
própria produção e uma pequena parcela por importação, mas de origens distantes
da região de conflito”, completou.

O diretor de refino e gás natural da Petrobras, Rodrigo Silva, disse que o cenário
também não traz riscos de ruptura às importações brasileiras de gás natural liquefeito
(GNL), mas que os custos com regaseificação devem ter um impacto“significativo”.

A Rússia é a maior fornecedora de gás natural da Europa. Esta semana, a Alemanha


suspendeu a certificação do gasoduto Nord Stream 2, construído pela estatal russa
Gazprom para levar gás da Rússia direto aos alemães. A medida foi uma das mais
importantes entre as sanções impostas por países europeus contra o governo russo,
em resposta à invasão da Ucrânia. A expectativa e que a Europa recorra às
importações de GNL de outros países, sobretudo de grandes produtores como os
EUA, e que o balanço de oferta e demanda fique mais apertado.

Os executivos da Petrobras também comentaram sobre potenciais impactos da alta


dos preços do petróleo sobre o planejamento estratégico da companhia. O diretor
de desenvolvimento da produção, João Henrique Rittershaussen, disse que não vê
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espaços, no curto prazo, para antecipações de projetos. A companhia tem 15
plataformas previstas para começar a operar até 2026. “Não há espaço para mudar
o plano de produção nos próximos três a quatro anos”, afirmou o executivo, em
teleconferência com analistas e investidores.

Ele ainda disse que ainda falta uma clareza maior sobre qual será o impacto da
valorização do petróleo sobre a inflação de custos dos fornecedores. A indústria
global de óleo e gás, como um todo, tem sentido os efeitos do aumento dos custos,
diante do desarranjo das cadeias produtivas após a eclosão da pandemia e da alta
da commodity. “Em nossas análises acreditamos que, para ter um aumento nos
preços de equipamentos e serviços, precisaríamos ter uma perspectiva de que
vamos permanecer com preços altos por um longo período”, afirmou.

Eventuais mudanças no plano de negócios da companhia só serão discutidas no


âmbito da revisão do planejamento plurianual - que costuma ser atualizado no fim
do ano. O diretor financeiro, Rodrigo Araújo, afirmou que, mesmo com a expectativa
de aumento da geração de caixa, a estatal segue focada em investir apenas em
novos projetos de exploração e produção de óleo e gás que sejam rentáveis com o
barril a US$ 35.

Ele disse, ainda, que a companhia pode avaliar uma distribuição extraordinária de
dividendos ao final do ano, dependendo do cenário de preços no mercado em 2022.
A empresa encerrou 2021 com um lucro líquido acumulado de R$ 106 bilhões e se
comprometeu a pagar um valor recorde de R$ 101,4 bilhões aos acionistas, relativo
ao exercício do ano passado.

Em função da volatilidade do mercado, Araújo disse ainda que é impossível


antecipar, neste momento, quando a empresa retomará os planos de avançar com
a oferta secundária das ações da Braskem, em conjunto com a Novonor (ex-
Odebrecht). A operação estava prevista para janeiro, mas foi adiada, segundo
Araújo, devido às dificuldades trazidas pelo ambiente de mercado “bastante
desafiador”. “O que temos feito é avaliar melhor momento de mercado.”

Diretor financeiro da estatal, Rodrigo Araújo, diz que, mesmo com perspectiva de geração de caixa forte, empresa só
investirá em projeto resiliente a preços baixos — Foto: Divulgação

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