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Direito Penal

Lavagem de Dinheiro
EXTENSIVO DPE
CURSO RDP
DIREITO PENAL

Atualizado em 11/03/23

SUMÁRIO
DIREITO PENAL ...........................................................................................................................................................................................................................3
1. HISTÓRICO DA LEI Nº 9.613/1998 .................................................................................................................................................................................. 3
2. AS TRÊS FASES DA LAVAGEM DE DINHEIRO................................................................................................................................................................... 4
2.1 COLOCAÇÃO (PLACEMENT) .................................................................................................................................................................................... 4
2.2 DISSIMULAÇÃO (LAYERING) ................................................................................................................................................................................... 4
2.3 INTEGRAÇÃO (INTEGRATION) ................................................................................................................................................................................ 4
3. GERAÇÕES DA LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO .............................................................................................................................................................. 4

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
3.1 PRIMEIRA GERAÇÃO ............................................................................................................................................................................................... 4
3.2 SEGUNDA GERAÇÃO ............................................................................................................................................................................................... 5
3.3 TERCEIRA GERAÇÃO ............................................................................................................................................................................................... 5

4. BEM JURÍDICO TUTELADO .............................................................................................................................................................................................. 6


4.1 PRIMEIRA CORRENTE: O MESMO BEM JURÍDICO TUTELADO PELA INFRAÇÃO PENAL ANTECEDENTE ............................................................... 6
4.2 SEGUNDA CORRENTE: A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA ........................................................................................................................................ 7
4.3 TERCEIRA CORRENTE: ORDEM ECONÔMICO-FINANCEIRA ................................................................................................................................... 7
4.4 QUARTA CORRENTE: PLURIOFENSIVIDADE ........................................................................................................................................................... 7
5. DA ACESSORIEDADE DO CRIME DE LAVAGEM ............................................................................................................................................................... 8

6. PROCEDIMENTO E COMPETÊNCIA ................................................................................................................................................................................. 8


7. SUJEITOS DO CRIME ....................................................................................................................................................................................................... 9
7.1 SUJEITO ATIVO E PASSIVO ...................................................................................................................................................................................... 9
7.2 AUTOLAVAGEM (SELFLAUNDERING) ..................................................................................................................................................................... 9
7.3 DESNECESSIDADE DE PARTICIPAÇÃO NA INFRAÇÃO ANTECEDENTE .................................................................................................................. 11

8. TIPO OBJETIVO .............................................................................................................................................................................................................. 11


9. TIPO SUBJETIVO ............................................................................................................................................................................................................ 12
9.1 NECESSIDADE DE DOLO ........................................................................................................................................................................................ 12
9.2 TIPO CONGRUENTE ASSIMÉTRICO (OU INCONGRUENTE) .................................................................................................................................. 12
9.3 DOLO EVENTUAL .................................................................................................................................................................................................. 13
9.4 TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA (INSTRUÇÕES DA AVESTRUZ) ..................................................................................................................... 13
10. COLABORAÇÃO PREMIADA ........................................................................................................................................................................................ 15
11. AÇÃO CONTROLADA E INFILTRAÇÃO DE AGENTES .................................................................................................................................................... 15
12. JUSTA CAUSA DUPLICADA .......................................................................................................................................................................................... 15

13. APLICAÇÃO DO ART. 366 DO CPP NA LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS ....................................................................................................................... 17


14. EFEITOS DA CONDENAÇÃO NA LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS ................................................................................................................................. 18
15. MEDIDAS ASSECURATÓRIAS ....................................................................................................................................................................................... 19
15.1 SEQUESTRO ........................................................................................................................................................................................................ 20
15.2 ESPECIALIZAÇÃO E REGISTRO DA HIPOTECA LEGAL .......................................................................................................................................... 20
15.3 ARRESTO PRÉVIO E ARRESTO SUBSIDIÁRIO DE BENS MÓVEIS .......................................................................................................................... 20
16. ALIENAÇÃO ANTECIPADA ........................................................................................................................................................................................... 20
17. CONSELHO DE CONTROLE DE ATIVIDADES FINANCEIRAS (COAF)............................................................................................................................. 21
QUESTÕES PARA FIXAR ..................................................................................................................................................................................................... 22
QUESTÕES PARA FIXAR - COMENTÁRIOS ......................................................................................................................................................................... 24

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Lavagem de Capitais

1. Histórico da Lei nº 9.613/1998

Olá, pessoal. Hoje estudaremos a Lei de Lavagem de Dinheiro, que é a Lei nº 9.613/1998. Essa lei

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
costuma aparecer nas provas da Defensoria Pública Federal, podendo também aparecer nas provas para
Defensoria Pública Estadual.

De início, é bom lembrar que “lavar dinheiro” significa dar uma origem lícita ao dinheiro “sujo”. Ok,
professor. Mas o que é dinheiro sujo?

Dinheiro sujo é aquele obtido a partir de práticas ilícitas, como por exemplo o tráfico de drogas, cor-
rupção passiva, peculato, evasão de divisas, etc. Há centenas de formas de “lavar dinheiro”, as quais estuda-
remos aqui as mais importantes para nossas provas.1

O Brasil ratificou, em 1991, a Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes
(Convenção de Viena), em que se comprometeu a criminalizar a lavagem de capitais oriunda do tráfico ilícito
de drogas. No entanto, não apenas da Convenção de Viena, mas “a incriminação da lavagem de dinheiro,
veiculada pela Lei nº 9.613/98, é resultado de compromisso assumido pelo Brasil no plano internacional, ao
firmar a Convenção de Viena, a Convenção de Palermo (art. 6º) e a Convenção de Mérida (art. 14)”.2

Mas professor, de onde surgiu a expressão “lavagem de dinheiro” ou “lavagem de capitais”, também
visto como “branqueamento de capitais”?

Segundo a doutrina de Renato Brasileiro, “a expressão "lavagem de dinheiro" tem origem nos Esta-
dos Unidos (money laundering), a partir da década de 1920, quando lavanderias na cidade de Chicago teriam
sido utilizadas por gangsters para despistar a origem ilícita do dinheiro. Assim, por intermédio de um comér-
cio legalizado, buscava-se justificar a origem criminosa do dinheiro arrecadado com a venda ilegal de drogas
e bebidas”.3

1 Renato Brasileiro lembra que “a expressão ‘lavagem’ não constitui o ato de lavar o dinheiro utilizando-se água e produtos químicos.
A metáfora simboliza, na verdade, a necessidade de o dinheiro sujo, cuja origem corresponde ao produto de determinada infração
penal, ser lavado por várias formas na ordem econômico-financeira com o objetivo de conferir a ele uma aparência lícita (limpa), sem
deixar rastro de sua origem espúria”.
2 Gonçalves, Victor Eduardo Rios Legislação penal especial esquematizado®/Victor Eduardo Rios Gonçalves e José Paulo Baltazar

Junior. – 3. ed. – São Paulo: Saraiva, 2017. (Coleção esquematizado®/coordenador Pedro Lenza), p.814.
3 Lima, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada: volume único - 4. ed. rev., atual. e ampl.- Salvador: JusPODIVM,

2016, p. 287.

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2. As três fases da lavagem de dinheiro

A doutrina costuma dividir a lavagem de dinheiro em três fases ou etapas, segundo o De acordo com
o Grupo de Ação Financeira sobre Lavagem de Dinheiro (GAFI), sendo elas: a) Colocação (placement); b)
Dissimulação (layering) e c) Integração (integration ou recycling). Vamos entender cada uma.

2.1 Colocação (placement)

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Nessa primeira fase há a separação (física) do dinheiro dos autores do crime.

Ex.: aplicação no mercado formal através de depósitos em banco, remessa ao exte-


rior através de laranjas, transferências para paraísos fiscais, etc.

2.2 Dissimulação (layering)

Para a doutrina, “nessa fase são realizados diversos negócios ou movimentações financeiras, a fim de
impedir o rastreamento e encobrir a origem ilícita dos valores. De modo a dificultar a reconstrução da trilha
do papel (paper trail) pelas autoridades estatais, os valores inseridos no mercado financeiro na etapa anteri-
or (colação) são pulverizados através de operações e transações financeiras variadas e sucessivas, no Brasil e
em outros países, muitos dos quais caracterizados como paraísos fiscais, que dificultam o rastreamento dos
bens. São exemplos de dissimulação: transferências eletrônicas, envio do dinheiro já convertido em moeda
estrangeira para o exterior via cabo”.4

2.3 Integração (integration)

Na última fase, como os bens já possuem aparência lícita (ex.: imóveis adquiridos com o dinheiro
lavado), estes são incorporados ao sistema econômico.

Por fim, é importante lembrar que NÃO é necessária a ocorrência destas três fases para que o delito
de lavagem esteja consumado, basta que ocorra apenas uma (RHC 80.816/SP).

3. Gerações da Lei de Lavagem de Dinheiro

3.1 Primeira geração

Parte da doutrina trabalha com as gerações da Lei de Lavagem de Dinheiro. Como lembra Renato
Brasileiro, “após a Convenção de Viena, as primeiras leis que incriminaram a lavagem de capitais traziam
apenas o tráfico ilícito de drogas como crime antecedente, razão pela qual ficaram conhecidas como legisla-
ções de primeira geração”.

4Lima, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada: volume único - 4. ed. rev., atual. e ampl.- Salvador: JusPODIVM,
2016, p.291.

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A ideia originária era coibir a lavagem de dinheiro apenas do tráfico de drogas. Não se tinha pensado
na possibilidade de lavagem de dinheiro tendo como crime antecedente outro que não o tráfico de drogas. É
claro que hoje, por exemplo, há diversos crimes antecedentes que podem ser pensados, como organização
criminosa, corrupção passiva, evasão de divisas, entre outros.

3.2 Segunda geração

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Percebeu-se que que a lavagem de capitais também estava sendo utilizada para dissimular a origem
de valores obtidos com a prática de outras infrações penais além do tráfico de drogas, o que fez ampliar o rol
de crimes antecedentes (dando origem às leis de segunda geração).

De fato, a Lei nº 9.613/98, quando de sua vigência (1998), se enquadrava em lei de segunda geração,
tendo em vista que houve a ampliação dos crimes antecedentes (não apenas os delitos de tráfico de drogas):

"Embora o narcotráfico seja a fonte principal das operações de lavagem de dinhei-


ro, não é sua única vertente. Existem outros ilícitos, também de especial gravidade,
que funcionam como círculos viciosos relativamente à lavagem de dinheiro e à
ocultação de bens, direitos e valores" (Exposição de Motivos, nº 21)”
3.3 Terceira geração

Contudo, a Lei nº 12.683/12 realizou uma grande modificação na Lei de Lavagem de Capitais, alte-
rando substancialmente o rol de crimes antecedentes. Na verdade, agora passou a prever que a lavagem de
capitais estará caracterizada quando houver a ocultação ou dissimulação da natureza, origem, localização,
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamen-
te, de infração penal. Portanto, agora não há mais um rol de crimes antecedente, dando origem a terceira
geração.

Nesse sentido Brasileiro:

Como se percebe, seguindo a tendência internacional de progressiva ampliação da


abrangência da lavagem de capitais, houve a supressão do rol taxativo de crimes
antecedentes, figurando, em seu lugar, a expressão "infração penal", que, doravan-
te, passa a abranger até mesmo as contravenções penais (v.g., jogo do bicho). Co-
mo a lei não estabelece qualquer restrição, as infrações penais podem ser de qual-
quer espécie, aí incluídos crimes de natureza comum, eleitorais, militares, contra a
ordem tributária, etc.5

Veja, portanto, como ficou o art. 1º da Lei de Lavagem de Dinheiro após a redação dada pela Lei nº
12.683/12:

5 Ibidem, p. 289.

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Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimen-


tação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indire-
tamente, de infração penal. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)


II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
III - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
IV - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
V - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
VI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
VII - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
VIII - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

Em resumo, agora estamos diante da terceira geração da Lei de Lavagem de Dinheiro. Para ficar mais
claro, trago uma tabela que resume as três gerações:

GERAÇÕES DA LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS


PRIMEIRA GERAÇÃO SEGUNDA GERAÇÃO TERCEIRA GERAÇÃO
São aquelas que trazem apenas Estabelecem um rol das deno- São aquelas que admitem qualquer
o delito de tráfico de drogas minadas infrações penais ante- infração penal como antecedente. É,
como infração penal antece- cedentes, das quais se pode atualmente, o caso da Lei nº
dente. lavar dinheiro. Era o caso da Lei 9.613/1998.
de Lavagem de Dinheiro no
Brasil até a Lei nº 12.683/12. Ex.: Espanha, Argentina e Brasil.

4. Bem jurídico tutelado

Você sabe qual é o bem jurídico tutelado pela Lavagem de Capitais? Como tudo no direito, temos
algumas correntes sobre o tema (pelo menos quatro), as quais estudaremos agora.

4.1 Primeira corrente: o mesmo bem jurídico tutelado pela infração penal antecedente

Para essa primeira corrente, o objetivo da presente lei é resguardar o mesmo bem jurídico protegido
pela infração penal antecedente. Por exemplo, o tráfico de drogas afeta a saúde pública. Portanto, a punição
da lavagem de dinheiro relativa ao tráfico de drogas, protegeria o bem jurídico “saúde-pública”. No entanto,
conforme explica Renato Brasileiro, trata-se de posição minoritária:

(...) Cuida-se de posição minoritária, vez que, adotada a criminalização de um com-


portamento que incide sobre um bem jurídico já afetado e lesionado por uma con-
duta anterior, a punição pelo segundo crime estaria fundada na afetação do mes-
mo bem já lesionado, o que caracterizaria um indesejável bis in idem. De mais a
mais, per força do princípio da consunção, estaria inviabilizada a punição da auto-
lavagem, que ocorre quando o autor da lavagem também é o responsável pela in-

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fração antecedente, porquanto, para ele, de duas uma, ou o branqueamento seria


considerado mero exaurimento da infração antecedente, ou esta seria absorvida
pela lavagem em virtude da progressão criminosa.6

4.2 Segunda corrente: a administração da justiça

Para essa segunda corrente, o bem a ser protegido é a administração da justiça (da mesma forma

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que o favorecimento real – art. 349 do Código Penal). Não é essa a posição que prevalece.

4.3 Terceira corrente: ordem econômico-financeira

A terceira corrente, amplamente majoritária (explica Renato Brasileiro) na doutrina brasileira, en-
tende-se que a lavagem de dinheiro funciona como obstáculo à atração de capital estrangeiro, o que afeta o
equilíbrio do mercado, a livre concorrência, as relações de consumo, a transparência, o acúmulo e o reinves-
timento de capital sem lastro em atividades produtivas financeiras lícitas, turbando o funcionamento da
economia formal e o equilíbrio entre seus operadores. Representa, enfim, um elemento de desestabilização
econômica. Trata-se, portanto, de crime contra a ordem econômico-financeira.7

4.4 Quarta corrente: pluriofensividade

Para essa corrente, a lavagem ofende mais de um bem jurídico (ordem econômico-financeira e a
administração da justiça). No entanto, Renato Brasileiro aponta que tal proposta esvazia o conteúdo teleoló-
gico da norma:

(...) Por abdicar da indicação do bem jurídico tutelado, esta proposta de pluriofen-
sividade esvazia o conteúdo teleológico da norma, deixando de contribuir para a
orientação da aplicação da lei penal.8

Contudo, José Paulo Baltazar entende ser essa corrente a mais acertada:

(...) Mais acertado, em nosso modo de ver, é considerar o crime como pluriofensi-
vo (TRF4, AC 19997103001155-3, Germano, 1ª T., u., 18/12/2000), atingindo a or-
dem econômica, a administração da justiça e o bem jurídico protegido pela infra-
ção penal antecedente.

6 Ibidem, p. 294.
7 Lima, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada: volume único - 4. ed. rev., atual. e ampl.- Salvador: JusPODIVM,
2016, p.294/295.
8 Ibidem, p. 295.

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5. Da acessoriedade do crime de lavagem

Você já ouviu falar que o crime de lavagem de dinheiro é acessório? Creio que sim. Isso acontece
porque o crime de lavagem está ligado a um crime antecedente (chamado também crime acessório, diferido,
remetido, sucedâneo, parasitário ou consequencial).

De fato, a condenação pela infração antecedente não é pressuposta para a condenação pelo crime

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de lavagem (contudo, a comprovação da infração penal antecedente nada mais é que uma questão prejudi-
cial homogênea, ser resolvida pelo magistrado na ação penal).

É por isso que, para fins de tipificação da lavagem, o fato anterior precisa ser típico e ilícito, contudo,
dispensável a comprovação a respeito da culpabilidade ou da punibilidade da infração penal antecedente
(acessoriedade limitada).

É o que estabelece o art. 2º, § 1º, da Lei nº 9.613/98:

"A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da infração penal
antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido
ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal anteceden-
te."

Além disso, segundo o art. 2º, inciso II da mesma lei, os crimes de lavagem de dinheiro independem
do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo
ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e julgamento.

Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:

II - independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ain-


da que praticados em outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes pre-
vistos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e julgamento; (Redação
dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

6. Procedimento e competência

Segundo o art. 2º, inciso I da Lei de Lavagem de Capitais, o processo e o julgamento dos crimes pre-
vistos neta lei obedecem às disposições relativas ao procedimento comum dos crimes punidos com reclusão,
da competência do juiz singular.

Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:

I – obedecem às disposições relativas ao procedimento comum dos crimes punidos


com reclusão, da competência do juiz singular;

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Outra coisa importante, é que muitas pessoas acham que o crime de lavagem de dinheiro necessari-
amente será de competência da Justiça Federal, o que não é verdade. Por isso, o tema de lavagem é impor-
tante não apenas para DPU, mas também para a Defensoria Estadual.

O art. 2º, inciso III, alíneas “a” e “b”, traz as hipóteses em que o crime de lavagem será de compe-
tência da Justiça Federal:

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:

III - são da competência da Justiça Federal:

a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira,


ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas;

b) quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal.

Vamos entender melhor.

Imagine que Pedro pratique tráfico de cocaína dentro de sua cidade (não se tratando de tráfico
transnacional). Com o lucro obtido com o tráfico, Pedro “lavava” esse dinheiro em uma empresa de fachada,
para dar aspecto lícito aos valores. Neste caso, a competência para julgar o crime de lavagem de dinheiro (e
também o de tráfico de drogas) não é da Justiça Federal, pois não foi praticado, em tese, em uma das situa-
ções previstas no art. 2º, inciso II da Lei de Lavagem de Capitais.

7. Sujeitos do crime

Inicialmente, é bom lembrar que o crime de lavagem é comum, podendo ser praticada por qualquer
pessoa. O sujeito passivo, no entanto, depende da teoria adotada:

7.1 Sujeito ativo e passivo

Se, por um lado, eu entendo que o bem jurídico tutelado é a ordem econômico-financeira, o sujeito
passivo do delito será a coletividade. N’outro giro, entendendo tratar-se de crime contra a Administração da
Justiça, neste caso o sujeito passivo será o Estado.

Além disso, a Lei de Lavagem de Capitais somente prevê a responsabilidade penal da pessoa física.

7.2 Autolavagem (selflaundering)

A autolavagem acontece quando o sujeito ativo do crime antecedente (ex.: tráfico de drogas) é o
mesmo do crime de lavagem de dinheiro. Neste caso, o crime de lavagem de dinheiro praticado pelo trafi-
cante não seria um post factum impunível? Pois é. Parte da doutrina tradicional entende não ser possível a

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punição do autor da infração penal antecedente (no nosso exemplo, tráfico de drogas) em concurso material
com o delito de lavagem de capitais, justamente por tratar-se de bis in idem.

Nesse sentido lembra Renato Brasileiro:

“Parte da doutrina nacional assevera não ser possível a punição do autor da infra-
ção antecedente em concurso material com o delito de lavagem de capitais. De

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maneira análoga ao que acontece no delito de receptação, do qual não podem ser
sujeito ativo o autor, coautor ou partícipe do crime antecedente, para o autor da
infração precedente o aproveitamento do produto auferido configuraria mero
exaurimento impunível, integrando-se ao próprio objetivo desejado (meta optata)
da atividade delituosa. A título de exemplo, costuma-se citar a hipótese em que o
agente compra bem imóvel depois de obter vantagem indevida, mediante a prática
de corrupção passiva (art. 317 do CP). O agente registra a propriedade no próprio
nome, passando a residir no local. Em tal situação, não seria possível a punição por
lavagem, eis que a ocultação dos valores obtidos com o crime antecedente, pelo
menos para o seu autor, estaria inserida no curso normal do desenvolvimento da
intenção do agente, configurando o denominado fato posterior não punível (post
factum).”9 (GRIFOS NOSSOS).

Trata-se de tese importante para nossas provas de Defensoria Pública. Segundo Delmanto, “a puni-
ção do autor do crime antecedente pelo delito de lavagem configuraria um autêntico bis in idem, pois a lava-
gem funcionaria como mero exaurimento do delito precedente”.10

No entanto, Renato Brasileiro lembra que o STF tem precedentes no sentido de que o crime de lava-
gem de capitais não funciona como mero exaurimento da infração antecedente, já que a Lei nº 9.613/98 não
exclui a possibilidade de que o ilícito penal antecedente e a lavagem de capitais subsequente tenham a
mesma autoria, sendo aquele independente em relação a esta.11

O STJ também entende que embora a tipificação da lavagem de capitais dependa da existência de
uma infração penal antecedente, é possível a autolavagem, isto é, a imputação simultânea, ao mesmo réu,
do delito antecedente e do crime de lavagem, desde que sejam demonstrados atos diversos e autônomos
daquele que compõe a realização do primeiro crime, circunstância em que não ocorrerá o fenômeno da
consunção. A autolavagem (self laundering/autolavado) merece reprimenda estatal, na medida em que o
autor da infração penal antecedente, já com a posse do proveito do crime, poderia simplesmente utilizar-se
dos bens e valores à sua disposição, mas reinicia a prática de uma série de condutas típicas, a imprimir a
aparência de licitude do recurso obtido com a prática da infração penal anterior. Dessa forma, se for confir-
mado, a partir do devido processo legal, que o indivíduo deu ares de legalidade ao dinheiro indevidamente

9 Ibidem, p. 303.
10 Apud Renato Brasileiro, op.cit, p. 303.
11 STF, Plenário, lnq. 2.471/SP, Rei. Min. Ricardo Lewandowski, 29/09/2011.

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recebido, estará configurado o crime de lavagem de capitais. STJ. Corte Especial. APn 989-DF, Rel. Min. Nan-
cy Andrighi, julgado em 16/02/2022 (Info 726).12

Vale lembrar que na Itália e na França a lavagem de capitais é considerada post factum impunível.
Em provas mais avançadas (subjetiva e oral), é importante citar!

7.3 Desnecessidade de participação na infração antecedente

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Mais uma vez vale lembrar que a participação na infração antecedente NÃO é condição para que se
possa ser sujeito ativo do crime de lavagem de capitais. Portanto, é possível que, ainda que o agente não
tenha qualquer ligação com o crime antecedente, responda pela lavagem. Mas uma coisa é certa: o crime
antecedente precisa existir, pois como vimos, a lavagem é crime acessório.

8. Tipo objetivo

Leia atentamente o que estabelece o art. 1º da Lei de Lavagem de Capitais:

Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimen-


tação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indire-
tamente, de infração penal. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº
12.683, de 2012)
§ 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens,
direitos ou valores provenientes de infração penal: (Redação dada pela Lei nº
12.683, de 2012)

I - os converte em ativos lícitos;

II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em


depósito, movimenta ou transfere;

III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros.

§ 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei nº 12.683,
de 2012)

I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores proveni-


entes de infração penal; (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

12
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Na autolavagem não ocorre a consunção entre a corrupção passiva e a lavagem
de dinheiro. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a2f94d8e28139ce8120147d24fe3b8f6>. Acesso
em: 11/03/2023

11
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II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua


atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei.

§ 3º A tentativa é punida nos termos do parágrafo único do art. 14 do Código Pe-


nal.

§ 4º A pena será aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se os crimes de-

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
finidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada, por intermédio de organiza-
ção criminosa ou por meio da utilização de ativo virtual. (Inserido pela Lei nº
14.478/2022)

Atenção ao §4º acima, inserido pela Lei nº 14.478/2022, conhecida como Marco Legal das Cripto-
moedas. Essa Lei também trouxe novas alterações à Lei de Lavagem de Capitais, como o art. 9º, parágrafo
único, inciso XIX e art. 10, inciso II, além do art. 12-A e seus parágrafos.

Dando continuidade, é bom saber que o STF entendeu, em um caso concreto, que não configura o
crime de lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98) a conduta do agente que recebe propina decorren-
te de corrupção passiva e tenta viajar com ele, em voo doméstico, escondendo as notas de dinheiro nos
bolsos do paletó, na cintura e dentro das meias. Também não configura o crime de lavagem de dinheiro o
fato de, após ter sido descoberto, dissimular (“mentir”) a natureza, a origem e a propriedade dos valores.
STF. 1ª Turma. Inq 3515/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/10/2019 (Info 955).13

Outro ponto importante, que também chegou até o STF, está ligado à dosimetria de pena na lava-
gem de dinheiro. O Supremo decidiu que se a lavagem de dinheiro envolveu valores vultosos, neste caso a
pena-base poderá ser aumentada (na circunstância judicial “consequências do crime”) tendo em vista que,
neste caso, considera-se que o delito violou o bem jurídico tutelado de forma muito mais intensa do que o
usual. STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2017 (Info 866).

9. Tipo subjetivo

9.1 Necessidade de dolo

No Brasil, o elemento subjetivo dos crimes de Lavagem de Dinheiro da Lei nº 9.613/98 é o dolo. Não
há lavagem de capital culposa.

9.2 Tipo congruente assimétrico (ou incongruente)

Renato Brasileiro aponta que ao contrário do tipo penal do art. 1º, § 1º, da Lei nº 9.613/98, que faz
menção expressa ao elemento subjetivo especial "para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou

13 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não configura o crime de lavagem a conduta do agente que esconde as notas de dinheiro
recebido como propina nos bolsos do paletó, na cintura e dentro das meias. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4cf0ed8641cfcbbf46784e620a0316fb. Acesso em: 27/08/2021.

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valores provenientes de infração penal", as figuras delituosas constantes do caput e do § 2º do art. 1º da Lei
nº 9.613/98 silenciam acerca desse “dolo específico”. Por isso, parte da doutrina entende que a tipificação
dessas figuras delituosas demanda apenas o dolo de ocultar ou dissimular os bens oriundos das infrações
antecedentes.14

9.3 Dolo eventual

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Um questionamento importante que a doutrina tem feito é o seguinte: o crime de lavagem pode ser
cometido apenas com dolo direto? Ou seja, nas situações em que o agente DEVIA SABER ser os produtos de
infração penal antecedente, por exemplo, não comete o crime de lavagem?

Renato Brasileiro admite o dolo eventual nos seguintes termos:

“Portanto, o delito de lavagem restará configurado quer quando o agente tiver co-
nhecimento de que os valores objeto da lavagem são provenientes de infração pe-
nal (dolo direto), quer quando, ainda que desprovido de conhecimento pleno da
origem ilícita dos valores envolvidos, ao menos tenha ciência da probabilidade des-
se fato - suspeita da origem infracional-, agindo de forma indiferente à ocorrência
do resultado delitivo (dolo eventual).”15

No mesmo sentido Baltazar:

“(...) É suficiente que o dolo atinja a existência da infração penal antecedente, não
se exigindo que o lavador conheça especificamente como se deu a conduta anteri-
or. Admitir o dolo eventual implica, ainda, admitir a ocorrência do crime quando o
lavador do dinheiro não tem a certeza de que o objeto da lavagem é produto de
atividade criminosa, mas assume o risco de que os bens tenham origem criminosa,
com base no indicativo dado pelas circunstâncias do fato.16

Contudo, na prática, um grande problema será distinguir o dolo eventual da culpa consciente (esse
último, por ausência de previsão legal, é indiferente penal, já que não existe lavagem de dinheiro na sua
modalidade culposa, seja culpa consciente ou inconsciente).

9.4 Teoria da cegueira deliberada (instruções da avestruz)

Eu sei que você deve estar achando que esse nome é mais uma daquelas teorias loucas inventadas
para deixar o concurseiro ainda mais tenso. É quase isso mesmo, rs. Contudo, como sua utilização aconteceu
na prática, é preciso entendê-la com calma. E o RDP vai ajudar você com todos os detalhes! :D

14 Op.cit, p.320.
15 Op.cit, p. 321.
16 Op.cit, p. 821.

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Nós vimos que o crime de lavagem de dinheiro exige necessariamente uma infração penal antece-
dente. Neste caso, se o agente desconhece a existência dessa infração antecedente e não age com dolo, não
há punição pelo crime de lavagem de dinheiro, porque não há esse delito na modalidade culposa.

Na prática, muita das vezes acontece de o indivíduo (terceiro responsável pela lavagem) busque, a
todo custo, ignorar a origem ilícita dos valores. Imagine o seguinte: em Fortaleza-CE, o dono da loja de carros
recebeu em seu estabelecimento 12 homens com um milhão de reais em notas de cinquenta reais (dinheiro

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vivo), todas dentro de sacolas plásticas, querendo comprar à vista todos os carros da loja, em dia posterior
ao assalto do Banco Central na cidade de Fortaleza.

Neste caso, o dono da loja vendeu os veículos e deliberadamente “fechou os olhos” (daí o nome
“cegueira deliberada”) para a origem do dinheiro. Esse exemplo não foi ficção, e de fato aconteceu na cidade
de Fortaleza no caso do “assalto” ao Banco Central. Nesse sentido Renato Brasileiro:

“(...) No Brasil, a teoria da cegueira deliberada foi efetivamente utilizada para fun-
damentar as condenações por lavagem de capitais nos autos do Processo Criminal
nº 2005.81.00.014586- 0, relativo à subtração da quantia de R$ 164.755.150,00
(cento e sessenta e quatro milhões, setecentos e cinquenta e cinco mil, cento e
cinquenta de reais) do interior do Banco Central do Brasil localizado na cidade de
Fortaleza/CE, cuja sentença em I" instância foi proferida pelo Juiz Federal Danilo
Fontenelle Sampaio. Referida teoria foi utilizada como fundamento para a conde-
nação de dois empresários, proprietários de uma concessionária de veículos, pela
prática do crime do art. 1°, V e VII,§ 1º, I,§ 2º, I e IL da Lei 9.613/98, em virtude de
terem recebido a quantia de R$ 980.000,00 (novecentos e oitenta mil reais), em
notas de cinquenta reais em sacos de náilon, pela compra de 11 (onze) veículos,
dentre eles 03 (três) Mitsubishi L200, 02 (dois) Mitsubishi Pajero Sport, e 01 (um)
Pajero Full, sendo que os acusados teriam recebido a quantia sem questionamen-
to, nem mesmo quando a quantia de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil re-
ais) foi deixada pelo intermediário para "futuras compras", tendo também se abs-
tido de comunicar às autoridades responsáveis a movimentação suspeita.”17

Contudo, o TRF-5 reformulou a sentença condenatória, por entender, em resumo, que “a transposi-
ção da doutrina americana da cegueira deliberada (willful blindness), nos moldes da sentença recorrida, bei-
ra, efetivamente, a responsabilidade penal objetiva; não há elementos concretos na sentença recorrida que
demonstrem que esses acusados tinham ciência de que os valores por ele recebidos eram de origem ilícita
(...)”.18

Ah, e por fim, o nome “instruções da avestruz” dá-se porque esse animal, em determinadas situa-
ções de medo, enterra a cabeça na areia (metáfora aplicada quando o terceiro responsável pela lavagem não
tem o interesse em saber a origem do dinheiro).

17 Op.cit, p. 327.
18 TRF/5, 2º Turma, ACR 5520/CE, Rei. Desembargador Federal Rogério Fialho Moreira, j. 09/09/2008, DJ 22/20/2008.

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10. Colaboração premiada

A colaboração premiada (causa de diminuição de pena), na Lei de Lavagem de Capitais, está prevista
no § 5º do art. 1º nos seguintes termos:

§ 5º A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime


aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a

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qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe
colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que
conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores
e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime. (Reda-
ção dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

Portanto, percebe-se que 3 (três) benefícios distintos podem ser concedidos ao colaborador na Lei
de Lavagem de Dinheiro:

1. diminuição de pena de um a dois terços e fixação do regime inicial aberto ou


semiaberto:
2. substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos:
3. perdão judicial como causa extintiva da punibilidade

Por consequência, basta que a colaboração produza um dos três efeitos previstos na lei:

1. Apuração das infrações penais


2. identificação dos demais coautores e partícipes
3. localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

11. Ação controlada e infiltração de agentes

O Pacote Anticrime, como ficou conhecida a Lei nº 13.964/2019, incluiu um novo parágrafo ao art. 1º
da Lei de Lavagem de Dinheiro, a fim de admitir a utilização de ação controlada e infiltração de agentes:
§ 6º Para a apuração do crime de que trata este artigo, admite-se a utilização da
ação controlada e da infiltração de agentes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

No entanto, o instituto da ação controlada já tinha previsão na própria Lei de Lavagem de Dinheiro
(art. 4º-B), e em outras leis, como na Lei de Drogas (art. 53, II) e na nova Lei das Organizações Criminosas
(arts. 8º e 9º).

12. Justa causa duplicada

Você já ouviu falar em justa causa duplicada? Ela está presente na Lei de Lavagem de Capitais e é
bem simples. Vamos lá!

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No Processo Penal, para que o magistrado receba uma ação penal, é preciso que esteja presente um
suporte probatório mínimo que deve lastrear toda e qualquer acusação penal (é isso que a doutrina chama
de justa causa). Até aí tudo bem! Mas o que seria, então, a justa causa duplicada na Lei de Lavagem de Capi-
tais?

Fácil, professor!

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
É que, em se tratando de crimes de lavagem de dinheiro, não basta demonstrar a presença de lastro
probatório quanto à ocultação de bens, direitos ou valores. É preciso mais!

Mais o quê?

Além da demonstração da presença de lastro probatório quanto à ocultação de bens, direitos ou va-
lores, o Ministério Público precisa instruir a denúncia (peça inicial criminal) com suporte probatório demons-
trando que tais valores são provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal, tal qual disposto no
art. 1º, caput, da Lei nº 9.613/98, com redação determinada pela Lei nº 12.683/12. Por isso que é “duplica-
da”, entendeu?!

Inclusive, o art. 2º, § 1º, da Lei nº 9.613/98 é muito claro em asseverar que a denúncia “será instruí-
da com indícios suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos
nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal
antecedente”.

Além disso, em julgado recente, o STJ entendeu que na denúncia pelo crime de lavagem de dinheiro,
não é necessário que o Ministério Público faça uma descrição exaustiva e pormenorizada da infração penal
antecedente, vejam:
PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. MEMBRO DE TRIBUNAL DE CON-
TAS ESTADUAL. PRELIMINAR. DELAÇÃO ANÔNIMA. NULIDADE. INOCORRÊNCIA.
TEMA 990 DE REPERCUSSÃO GERAL. CONTROVÉRSIA JURÍDICA. DISTINÇÃO. SO-
BRESTAMENTO DO PROCESSO. INDEFERIMENTO. DENÚNCIA. REQUISITOS. ART. 41
DO CPP. LAVAGEM DE DINHEIRO. ART. 1º DA LEI 9.613/98. CRIME ANTECEDENTE.
PECULATO. ART. 312 DO CP. APTIDÃO. JUSTA CAUSA. ART. 395, III, DO CPP. LASTRO
PROBATÓRIO MÍNIMO. PRESENÇA. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. ART. 397 DO CPP. INVI-
ABILIDADE. RECEBIMENTO. 1. (...) 8. A aptidão da denúncia relativa ao crime de la-
vagem de dinheiro não exige uma descrição exaustiva e pormenorizada do suposto
crime prévio, bastando, com relação às condutas praticadas antes da Lei
12.683/12, a presença de indícios suficientes de que o objeto material da lavagem
seja proveniente, direta ou indiretamente, de uma daquelas infrações penais men-
cionadas nos incisos do art. 1º da Lei 9.613/98. 9. Na presente hipótese, a denún-
cia contém a correta delimitação dos fatos e da conduta do acusado em relação à
suposta prática do crime do art. 1º da Lei 9.613/98, não havendo, por consequên-
cia, prejuízo a seu direito de ampla defesa. 10. A justa causa corresponde a um las-
tro mínimo de prova, o qual deve ser capaz de demonstrar a pertinência do pedido

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condenatório e que está presente na hipótese em exame, consubstanciada em do-


cumentos obtidos na residência do acusado por meio de busca e apreensão; de-
poimento de testemunha e dados obtidos mediante a quebra de sigilo bancário
devidamente autorizada. 11. Na circunstância de a denúncia ser apta para ensejar
a instauração do processo penal, o exame de forma antecipada do mérito da pre-
tensão punitiva depende da demonstração indiscutível, inquestionável, dos pres-
supostos que autorizariam a absolvição do acusado, cuja ocorrência deve, pois,

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
prescindir de produção probatória. 12. O tipo penal do art. 1º da Lei 9.613/98 é de
ação múltipla ou plurinuclear, consumando-se com a prática de qualquer dos ver-
bos mencionados na descrição típica e relacionando-se com qualquer das fases do
branqueamento de capitais (ocultação, dissimulação; reintrodução), não exigindo a
demonstração da ocorrência de todos os três passos do processo de branquea-
mento (...) (APn 923/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado
em 23/09/2019, DJe 26/09/2019)

Para além disso, o STF tem entendimento de que o mero recebimento de valores em dinheiro não
tipifica o delito de lavagem, seja quando recebido pelo próprio agente público, seja quando recebido por
interposta pessoa. STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904). Con-
tudo, nesse mesmo julgado, entendeu o STF que pratica lavagem de dinheiro o sujeito que recebe propina
por meio de depósitos bancários fracionados, em valores que não atingem os limites estabelecidos pelas
autoridades monetárias à comunicação compulsória dessas operações.

13. Aplicação do art. 366 do CPP na Lei de Lavagem de Capitais

Veja o que estabelece o art. 366 do Código de Processo Penal:

Art.366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advoga-
do, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz
determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o ca-
so, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art.312. (Redação dada
pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)

Contudo, essa regra prevista no CPP não se aplica nos crimes de lavagem de dinheiro, de acordo com
o art. 2º, § 2º, da Lei nº 9.613/98, com redação dada pela Lei nº 12.683/12:

§ 2º No processo por crime previsto nesta Lei, não se aplica o disposto no art. 366
do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), de-
vendo o acusado que não comparecer nem constituir advogado ser citado por edi-
tal, prosseguindo o feito até o julgamento, com a nomeação de defensor dativo.
(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

O legislador fundamentou a não aplicação do art. 366 do CPP na Lei de Lavagem de Dinheiro da se-
guinte forma:

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"Trata-se de medida de política criminal diante da incompatibilidade material exis-


tente entre os objetivos desse novo diploma legal e a macrocriminalidade repre-
sentada pela lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores oriundos
de crimes de especial gravidade. A suspensão do processo constituiria um prêmio
para os delinquentes astutos e afortunados e um obstáculo à descoberta de uma
grande variedade de ilícitos que se desenvolvem em parceria com a lavagem ou a
ocultação". (item 63 da Exposição de Motivos 692/MJ).”

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Contudo, em nossas provas para Defensoria Pública, é importante que tenhamos uma visão crítica
desse instituto. Não se pode justificar, portanto, o combate à macrocriminalidade como manobra para viola-
ção da garantia da ampla defesa (art. 5º, LV, da CF/88). Por isso, é perfeitamente possível a alegação de in-
constitucionalidade do presente dispositivo.

O Professor Renato Brasileiro, inclusive, entende que “em que pese o teor do citado dispositivo, pa-
rece-nos ser plenamente possível a aplicação do art. 366 do CPP aos processos criminais referentes à lava-
gem de capitais. Isso em virtude de verdadeira inconstitucionalidade de que padece o dispositivo do art. 2º,
§ 2º, da Lei nº 9.613/98. De fato, em prol de uma maior efetividade no combate à lavagem de capitais, não
se pode desprezar a aplicação do preceito do art. 366, consectário lógico da garantia da ampla defesa (art.
5º, LV, da CF/88). Trata-se, assim, o art. 2º, § 2º, da Lei nº 9.613/98, de mais um exemplo de norma que
ganhou vigência com sua publicação, mas que não possui validade.19

14. Efeitos da condenação na Lei de Lavagem de Capitais

Os efeitos da condenação estão presentes no art. 7º da Lei 9.613/98.

CAPÍTULO III
Dos Efeitos da Condenação

Art. 7º São efeitos da condenação, além dos previstos no Código Penal:

I - a perda, em favor da União - e dos Estados, nos casos de competência da Justiça


Estadual -, de todos os bens, direitos e valores relacionados, direta ou indiretamen-
te, à prática dos crimes previstos nesta Lei, inclusive aqueles utilizados para prestar
a fiança, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé; (Redação
dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

II - a interdição do exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza e de


diretor, de membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas jurí-
dicas referidas no art. 9º, pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade apli-
cada.

19 Op.cit, p. 387.

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§ 1º A União e os Estados, no âmbito de suas competências, regulamentarão a


forma de destinação dos bens, direitos e valores cuja perda houver sido declarada,
assegurada, quanto aos processos de competência da Justiça Federal, a sua utiliza-
ção pelos órgãos federais encarregados da prevenção, do combate, da ação penal
e do julgamento dos crimes previstos nesta Lei, e, quanto aos processos de compe-
tência da Justiça Estadual, a preferência dos órgãos locais com idêntica função. (In-
cluído pela Lei nº 12.683, de 2012)

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
§ 2º Os instrumentos do crime sem valor econômico cuja perda em favor da União
ou do Estado for decretada serão inutilizados ou doados a museu criminal ou a en-
tidade pública, se houver interesse na sua conservação. (Incluído pela Lei nº
12.683, de 2012)

O inciso II provavelmente é o mais importante para o nosso estudo, tendo em vista que a interdição
do exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza e de diretor, de membro de conselho de ad-
ministração ou de gerência das pessoas jurídicas referidas no art. 9º, pelo dobro do tempo da pena privativa
de liberdade aplicada.

Por fim, lembre que os efeitos da condenação previstos no Código Penal (art. 91) também são apli-
cáveis aos crimes de Lavagem de Dinheiro, inclusive o confisco alargado de bens (art. 91-A).

Apenas a título de aprofundamento, é bom lembrar que o art. 17-D da Lei de Lavagem determina o
afastamento de servidores públicos de suas funções em caso de indiciamento por crimes de lavagem de
dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores. Pois bem!

Em novembro de 2020 o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a inconstitucionalida-


de do artigo 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613/1998). A decisão foi tomada por maioria de
votos no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4911.

No julgamento, prevaleceu o voto do ministro Alexandre de Moraes, para quem a determinação de


afastamento automático do servidor investigado, por consequência única e direta desse ato administrativo
da autoridade policial, viola os princípios da proporcionalidade, da presunção de inocência e da igualdade
entre os acusados.

15. Medidas assecuratórias

Brasileiro ensina que “as medidas cautelares reais têm como objetivo assegurar o confisco como
efeito da condenação, garantir a futura indenização ou reparação à vítima da infração penal, o pagamento
das despesas processuais ou das penas pecuniárias ao Estado, sendo úteis, ademais, para fins de se evitar
que o acusado se locuplete indevidamente da prática delituosa”.20

20 Op.cit, p. 395.

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Nesse sentido, veja o que estabelece o art. 4º da Lei de Lavagem de Dinheiro:

Art. 4º O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante repre-


sentação do delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em 24 (vinte e qua-
tro) horas, havendo indícios suficientes de infração penal, poderá decretar medi-
das assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou acusado, ou exis-
tentes em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou pro-

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
veito dos crimes previstos nesta Lei ou das infrações penais antecedentes. (Reda-
ção dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

Aliás, o STJ já entendeu que é possível a interposição de apelação, com fundamento no art. 593, II,
do CPP, contra decisão que tenha determinado medida assecuratória prevista no art. 4º, caput, da Lei nº
9.613/98 (Lei de lavagem de Dinheiro), a despeito da possibilidade de postulação direta ao juiz constritor
objetivando a liberação total ou parcial dos bens, direitos ou valores constritos (art. 4º, §§ 2º e 3º, da mesma
Lei). STJ. 5ª Turma. REsp 1.585.781-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 28/6/2016 (Info 587).

Pois bem. Agora veremos as medidas cautelares patrimoniais passíveis de decretação pelo magistra-
do.

15.1 Sequestro

O sequestro deverá recair sobre bens (móveis ou imóveis) que sejam produto indireto da infração
antecedente ou do crime de lavagem de capitais. Neste caso, o objetivo principal é assegurar o efeito da
condenação de perda do produto da infração.

15.2 Especialização e registro da hipoteca legal

A especialização e registro da hipoteca legal recai apenas sobre bens imóveis. O seu objetivo precí-
puo, diferente do sequestro, é assegurar a reparação do dano causado pelo delito.

15.3 Arresto prévio e arresto subsidiário de bens móveis

O arresto prévio recai apenas sobre bens imóveis e o segundo sobre bens móveis. A finalidade é pre-
servar o efeito da sentença de tornar certo o dever de reparar o dano causa.

16. Alienação antecipada

Com a nova redação dada pela Lei nº 12.683/2012, fora positivada na Lei de Lavagem de Capitais a
alienação antecipada de bens (móveis ou imóveis), direitos ou valores constritos em razão de medida caute-
lar patrimonial ou que tenham sido apreendidos, na hipótese de haver perda do valor econômico pelo de-
curso do tempo (Art. 4º, § 1º).

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Art. 4º, § 1º Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor dos


bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou deprecia-
ção, ou quando houver dificuldade para sua manutenção. (Redação dada pela Lei
nº 12.683, de 2012)

Ainda em 2012, o Código de Processo Penal também passou a prever a alienação antecipada com a
Lei nº 12.694, de 2012.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Art. 144-A. O juiz determinará a alienação antecipada para preservação do valor
dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou de-
preciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção. (Incluído pela Lei
nº 12.694, de 2012)

Com isso, a alienação antecipada poderá ser feita em relação a qualquer processo criminal, indepen-
dentemente da natureza do delito.

17. Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF)

O COAF - Conselho de Controle de Atividades Financeiras está vinculado hoje ao Ministério da Fa-
zenda
Art. 14. É criado, no âmbito do Ministério da Fazenda, o Conselho de Controle de
Atividades Financeiras - COAF, com a finalidade de disciplinar, aplicar penas admi-
nistrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades
ilícitas previstas nesta Lei, sem prejuízo da competência de outros órgãos e entida-
des.

§ 1º As instruções referidas no art. 10 destinadas às pessoas mencionadas no art.


9º, para as quais não exista órgão próprio fiscalizador ou regulador, serão expedi-
das pelo COAF, competindo-lhe, para esses casos, a definição das pessoas abrangi-
das e a aplicação das sanções enumeradas no art. 12.

§ 2º O COAF deverá, ainda, coordenar e propor mecanismos de cooperação e de


troca de informações que viabilizem ações rápidas e eficientes no combate à ocul-
tação ou dissimulação de bens, direitos e valores.

§ 3o O COAF poderá requerer aos órgãos da Administração Pública as informações


cadastrais bancárias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades suspei-
tas. (Incluído pela Lei nº 10.701, de 2003)

Art. 15. O COAF comunicará às autoridades competentes para a instauração dos


procedimentos cabíveis, quando concluir pela existência de crimes previstos nesta
Lei, de fundados indícios de sua prática, ou de qualquer outro ilícito.

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QUESTÕES PARA FIXAR


Questão 01
A doutrina costuma dividir a lavagem de dinheiro em três fases, sendo elas: a) colocação; b) dissimulação; e
c) integração.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
CERTO ERRADO

Questão 02
Segundo a lei nº 12.683/12, o crime de lavagem de dinheiro consiste em ocultar ou dissimular a natureza,
origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,
exclusivamente do crime de tráfico de drogas.

CERTO ERRADO

Questão 03
A doutrina majoritária considera como bem jurídico tutelado pelo crime de lavagem de capitais, a adminis-
tração da justiça.

CERTO ERRADO

Questão 04
O crime de lavagem de capitais é marcado pela acessoriedade limitada.

CERTO ERRADO

Questão 05
Segundo a lei de lavagem de capitais, o processo e julgamento dos crimes previstos na lei é regido por um
procedimento específico.

CERTO ERRADO

Questão 06
O processo e o julgamento do crime de lavagem de capitais serão da competência da Justiça Federal, quando
praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em detrimento de bens, serviços
ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas.

Questão
CERTO07 ERRADO

O STF entendeu, em um caso concreto, que não configura o crime de lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº
9.613/98) a conduta do agente que recebe propina decorrente de corrupção passiva e tenta viajar com ele,
em voo doméstico, escondendo as notas de dinheiro nos bolsos do paletó, na cintura e dentro das meias.

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CERTO ERRADO

Questão 08
A teoria da cegueira deliberada foi criada para as situações em que um agente finge não enxergar a ilicitude
da procedência de bens, direitos e valores com o intuito de auferir vantagens. Desta forma, a teoria busca
punir o agente que se coloca, intencionalmente, em estado de desconhecimento ou ignorância, para não

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
conhecer detalhadamente as circunstâncias fáticas de uma situação suspeita.

CERTO ERRADO

Questão 09
Em que pese seja autorizada a ação controlada nos crimes de lavagem de capitais, a lei não admite a infiltra-
ção de agentes.

CERTO ERRADO

Questão 10
Um dos efeitos da condenação por crimes presentes na lei de lavagem de capitais é a interdição do exercício
de cargo ou função pública de qualquer natureza e de diretor, de membro de conselho de administração ou
de gerência das pessoas jurídicas referidas no art. 9º, pelo triplo do tempo da pena privativa de liberdade
aplicada

CERTO ERRADO

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GABARITO
1.C 2.E 3.E 4.C 5.E
6.C 7.C 8.C 9.E 10.E

QUESTÕES PARA FIXAR - COMENTÁRIOS


Questão 01

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
A doutrina costuma dividir a lavagem de dinheiro em três fases, sendo elas: a) colocação; b) dissimulação; e
c) integração.
GAB: C. São exatamente as três fases da lavagem de dinheiro elencadas pela doutrina, como vimos.

Questão 02
Segundo a lei nº 12.683/12, o crime de lavagem de dinheiro consiste em ocultar ou dissimular a natureza,
origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,
exclusivamente do crime de tráfico de drogas.
GAB:E. A lavagem de dinheiro pode decorrer da prática de qualquer infração penal (art. 1º da lei nº
12.683/12).

Questão 03
A doutrina majoritária considera como bem jurídico tutelado pelo crime de lavagem de capitais, a adminis-
tração da justiça.
GAB: E. Segundo Renato Brasileiro, a doutrina majoritária entende que o bem jurídico tutelado é a ordem
econômico-financeira.

Questão 04
O crime de lavagem de capitais é marcado pela acessoriedade limitada.
GAB: C. O crime de lavagem de capitais está ligado a um crime antecedente, por isso é tido como um crime
acessório. O crime antecedente precisa ser típico e ilícito, por isso a acessoriedade é limitada.

Questão 05
Segundo a lei de lavagem de capitais, o processo e julgamento dos crimes previstos na lei é regido por um
procedimento específico.
GAB: E. O art. 2º da lei nº 12.683/12, o processo e julgamento dos crimes previstos na lei obedecem às dis-
posições relativas ao procedimento comum dos crimes punidos com reclusão, da competência do juiz singu-
lar.

Questão 06
O processo e o julgamento do crime de lavagem de capitais serão da competência da Justiça Federal, quando
praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em detrimento de bens, serviços
ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas.
GAB: C. Previsão do art. 2º, III, alínea “a”, da lei nº 12.683/12.

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Questão 07
O STF entendeu, em um caso concreto, que não configura o crime de lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº
9.613/98) a conduta do agente que recebe propina decorrente de corrupção passiva e tenta viajar com ele,
em voo doméstico, escondendo as notas de dinheiro nos bolsos do paletó, na cintura e dentro das meias.
GAB: C. STF. 1ª Turma. Inq 3515/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/10/2019 (Info 955).

Questão 08

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
A teoria da cegueira deliberada foi criada para as situações em que um agente finge não enxergar a ilicitude
da procedência de bens, direitos e valores com o intuito de auferir vantagens. Desta forma, a teoria busca
punir o agente que se coloca, intencionalmente, em estado de desconhecimento ou ignorância, para não
conhecer detalhadamente as circunstâncias fáticas de uma situação suspeita.
GAB:C. É exatamente o que preleciona a teoria da cegueira deliberada.

Questão 09
Em que pese seja autorizada a ação controlada nos crimes de lavagem de capitais, a lei não admite a infiltra-
ção de agentes.
GAB: E. O art. 1º, §6º, da lei nº 12.683/12, admite tanto a ação controlada, quanto a infiltração de agentes.

Questão 10
Um dos efeitos da condenação por crimes presentes na lei de lavagem de capitais é a interdição do exercício
de cargo ou função pública de qualquer natureza e de diretor, de membro de conselho de administração ou
de gerência das pessoas jurídicas referidas no art. 9º, pelo triplo do tempo da pena privativa de liberdade
aplicada
GAB: E. Segundo o art. 7º, II, da lei de lavagem de capitais, o referido efeito é aplicado pelo dobro do tempo
da pena privativa de liberdade aplicada.

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