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Trocas Gasosas nos Seres Multicelulares 

Todos os seres vivos que realizam respiração aeróbia consomem oxigénio


do meio ambiente e produzem, consequentemente, dióxido de carbono, que
expelem para o meio. 

A quantidade de oxigénio necessário depende da quantidade de células que


existem no organismo do ser vivo, e da taxa de respiração celular realizada
pelas mesmas. O volume de um organismo determina a sua necessidade de
oxigénio.

Por outro lado, a quantidade de oxigénio que penetra num organismo depende
da área superficial da espessura da sua superfície de troca (superfícies
espessas impedem a difusão)

Os seres vivos de pequenas dimensões (i.e., paramécias e minhocas)


apresentam a relação área superficial/volume elevada, podendo então obter
o oxigénio de que necessitam através da sua superfície corporal.

Nos seres vivos de maiores dimensões (i.e., ser humano), esta relação é muito
menor, fazendo da sua superfície corporal insuficiente, necessitando de
superfícies respiratórias especializadas em trocas gasosas.

Organismos terrestres → oxigénio do ar atmosférico 


Organismos aquáticos → oxigénio dissolvido na água 
Realização das trocas gasosas no ambiente terrestre

As células, quando expostas ao ar, perdem água, desidratando rapidamente.


A maioria dos animais combate esta adversidade possuindo superfícies
impermeabilizadas, que reduzem as perdas de água (por exemplo: queratina
no revestimento do ser humano e quitina no revestimento dos insetos).
Estas impedem a realização da difusão dos gases com facilidade, por isso,
os animais terrestres têm de possuir superfícies especializadas, não
impermeabilizadas, onde possam realizar as trocas gasosas. 

Os mamíferos, como o ser humano, e as aves têm pulmões situados no


interior dos organismos, o que reduz em grande parte a perda de água
através dos mesmos. 
Os insetos têm um sistema diferente, constituído por tubos, designados
traqueias, que penetram profundamente nos seus organismos, levando o ar até
aos tecidos.

Realização das trocas gasosas no ambiente aquático 

Na água, existe menor quantidade de oxigénio dissolvido que no ar, pois o


oxigénio não é muito solúvel na água. Este oxigénio tem duas fontes: uma
parte vem do ar atmosférico, através da difusão pela superfície aquática, e a
outra parte é originada pelos seres aquáticos fotossintéticos. 

Os níveis de oxigénio dissolvido na água são menores porque: 

 a temperatura também afeta a quantidade de oxigénio dissolvido na


água,
sendo que as temperaturas elevadas tornam o oxigénio menos solúvel na
água; 
 o oxigénio difunde-se muito mais devagar na água do que no ar. 

A escassez de oxigénio na água leva à necessidade de grandes superfícies


respiratórias. Mesmo os seres de reduzidas dimensões têm, muitas vezes,
superfícies de trocas especializadas com áreas grandes. Como não existe
perigo de desidratação, estas superfícies são muitas vezes externas.
Contudo, sendo delicadas, podem ser facilmente danificadas, pelo que
muitos organismos as desenvolveram no interior do seu corpo.

O ar é um melhor meio respiratório que a água porque:

 existe mais oxigénio num determinado volume de ar


 o oxigénio difunde-se mais rapidamente e requer menos trabalho
para ser 
movimentado sobre as superfícies respiratórias 
Trocas Gasosas nos Animais

A maior parte das células dos animais realiza a respiração aeróbica para
satisfazer as suas necessidades energéticas. 
Neste processo catabólico, ocorre o consumo de oxigénio proveniente do
meio, pelo que o fornecimento de este às células tem de ser assegurado.
Deste processo resulta a produção de dióxido de carbono, que terá de ser
expelido do organismo.

Estas trocas gasosas entre o organismo e o meio envolvente são realizadas


por difusão (movimento de substâncias a favor do gradiente de concentração)
através das superfícies respiratórias e a troca de gases realizada nessas
superfícies designa-se hematose. 

As superfícies respiratórias garantem que a quantidade de oxigénio difundido


satisfaz as necessidades do organismo inteiro. 

Devem:
 ser húmidas, para permitir a dissolução dos gases, necessária à sua
difusão 
 ser finas, constituídas apenas por uma camada de células epiteliais 
 ser muito vascularizadas, para aumentar a rapidez das trocas entre
os meios interno 
e externo 
 possuir uma área grande relativamente ao volume dos órgãos em que
se
situam 

Difusão Direta e Difusão Indireta 

Difusão direta - ocorre diretamente entre a superfície respiratória e as


células, sem intervenção de um fluido de circulante (de transporte)
 exemplo: hidra, planária e insetos 

Difusão indireta - ocorre entre a superfície respiratória e o fluido


circulante, e as trocas gasosas designam-se por hematose.
esta forma de difusão desenvolveu-se à medida que o volume dos 
animais foi aumentando, tornando-se a área superficial insuficiente para
permitir a difusão direta com todas as células do organismo
 exemplo: anelídeos e vertebrados 
Tegumento como Superfície Respiratória 
 
Difusão direta 
Animais sem sistema respiratório 

As trocas de gases através da superfície corporal ocorrem em alguns animais


terrestres e aquáticos com elevada relação superfície/volume corporal.

Esta condição resulta num contacto direto da maioria das células com o
meio externo, facto que possibilita a troca direta entre ambos os meios.

Este tipo de trocas encontra-se nas hidras e planárias.

Difusão indireta 
Hematose cutânea 

Alguns animais, como as minhocas, podem utilizar como superfície


respiratória o seu tegumento, não tendo para a realização das trocas
gasosas uma superfície específica. 
Neste tipo de troca gasosa, os gases difundem-se entre a superfície do
corpo do animal e o sangue, ocorrendo, portanto, difusão indireta.

Este tipo de hematose é possível graças à abundante vascularização


existente por debaixo dessa superfície, o tegumento, mantida constantemente
humedecida.

Existem outros animais que também realizam este tipo de hematose, como, por
exemplo, as lombrigas e as rãs.
Traqueias como Superfície Respiratória 

Difusão direta
Hematose traqueal 

O gafanhoto, e outros insetos, possuem um sistema respiratório com difusão


direta, designado por sistema traqueal.
Este sistema é constituído por uma rede de tubos - traqueais e traquíolas -
ligados a sacos que contêm ar, que se vão ramificando até se encontrarem
em contacto com as células, para onde transportam o ar diretamente,
ocorrendo a hematose.

As extremidades mais finas das traqueias – traquíolas – são fechadas e


contêm um fluido, que, quando o animal está ativo e necessita de utilizar mais
oxigénio, passa para as células do seu corpo, permitindo aumentar a taxa
de difusão do oxigénio.

As contrações da musculatura corporal do animal funcionam como um fole,


bombeando e expulsando o ar dos túbulos.

O oxigénio difunde-se direta e rapidamente através das traqueias, sem


intervenção de um sistema de transporte, o que permite ao animal elevadas
taxas metabólicas.

O facto de este sistema se ramificar para o interior do corpo dos animais,


minimiza as perdas de água, uma adaptação do animal ao meio terrestre.

Não há interação com o fluido de transporte, porque a difusão é direta. Este


só transporta os nutrientes e não os gases (no caso dos insetos).
Brânquias como Superfície Respiratória 

Difusão indireta
Hematose branquial

Existem dois padrões básicos de brânquias:


 externas, expansões vascularizadas do epitélio projetadas para o
exterior,
como no caso dos axolotes 
 internas, constituídas por uma enorme quantidade de lamelas
ricamente 
vascularizadas, como no caso dos peixes ósseos 

Os peixes são animais aquáticos e realizam a sua hematose através de


brânquias. As brânquias são extensões da superfície corporal e estão, no
caso dos peixes ósseos, inseridas em cavidades designadas por cavidades
branquiais que comunicam com o exterior através da fenda opercular, e que
estão protegidas por uma placa óssea - o opérculo.

Cada brânquia é suportada por um arco ósseo – arco branquial – e é


constituída por duas fiadas de filamentos branquiais, que são subdivididos
em inúmeras lamelas branquiais.

No interior de cada lamela branquial, existe uma rede de capilares


sanguíneos, sendo com o sangue que circula nestes capilares que se realiza a
hematose. A difusão dos gases é assim indireta.

Mecanismo de contracorrente:

As brânquias são muito eficazes na realização da hematose, porque possuem


grande área de superfície, são bastante finas e irrigadas, e porque o
sentido de circulação da água é sempre contrário ao sentido de circulação
do sangue.

Nas lamelas, o sangue circula em sentido oposto ao da passagem da água


na cavidade opercular. 
Este mecanismo de contracorrente garante o contacto do sangue,
progressivamente mais rico em oxigénio, com a água, cuja pressão parcial de
oxigénio é sempre superior àquela que existe no sangue.
Daqui resulta a manutenção de um gradiente que assegura a difusão.

Este mecanismo de contracorrente é tão eficaz que o sangue retira da água


mais de 80% do oxigénio dissolvido transportado.
Pulmões como Superfície Respiratória 

Os vertebrados terrestres realizam as trocas gasosas através de pulmões.


Estes, apesar de terem estruturas semelhantes (conjunto de tubos e sacos)
não têm o mesmo grau de complexidade nos vários grupos, a subdivisão
pulmonar vai aumentando dos anfíbios para os répteis e destes para os
mamíferos.

Difusão indireta 
Hematose pulmonar

Nas aves

Nas aves, o sistema respiratório é constituído por pulmões, que por sua vez
são constituídos por um conjunto de tubos, designados por parabrônquios,
onde ocorre a hematose. 

Associado aos pulmões existe um conjunto de sacos aéreos, em posição


anterior e posterior:
 tornam o corpo mais leve
 constituem reservas de ar
 contribuem para a dissipação do calor 
 não participam na hematose

No organismo das aves, o ar entra para os sacos aéreos posteriores e só


depois passa para os pulmões, destes vai para os sacos anteriores e, por fim,
para o exterior. 

Ciclos respiratórios de uma ave:


 1ª inspiração: o ar desloca-se para os sacos aéreos posteriores
 1ª expiração: o ar desloca-se dos sacos aéreos posteriores para os
pulmões
– ocorre hematose
 2ª inspiração: o ar que estava nos pulmões passa para os sacos
aéreos
anteriores; sacos aéreos posteriores recebem novo ar
 2ª expiração: o ar que inicialmente entrou sai agora dos sacos aéreos
anteriores para o exterior da traqueia; o ar que estava nos sacos aéreos
posteriores passa para os pulmões

Este mecanismo é muito eficaz, pois o ar passa unidirecionalmente pelos


parabrônquios, onde ocorre a hematose, havendo uma renovação completa
do ar, não existindo, desta forma, ar residual nos pulmões das aves -
ventilação contínua 
Nos seres humanos 

Os pulmões 

O sistema respiratório é constituído pelas vias respiratórias e pelos pulmões.

As vias respiratórias (fossas nasais, faringe, laringe, traqueia e brônquios)


permitem não só o trajeto do ar nos dois sentidos, entre o interior e o exterior
dos pulmões, mas também o progressivo aquecimento do ar e a retenção
de partículas em suspensão.

Os pulmões, localizados na caixa torácica, são elásticos e constituídos por


milhões de alvéolos, que garantem uma área de hematose várias vezes
superior à superfície do corpo. Esta superfície respiratória, recoberta de muco,
está separada do sangue apenas pela fina membrana dos capilares
sanguíneos. 

No sistema respiratório do ser humano, os pulmões enchem e esvaziam


periodicamente, permitindo a renovação do ar que se encontra dentro dos
alvéolos, e a troca gasosa entre estes e o sangue dos capilares que os
envolvem. 

São as contrações dos músculos do diafragma e intercostais que permitem o


aumento do volume da caixa torácica, a expansão dos pulmões e a entrada
de ar nestes (inspiração), e é o relaxamento dos mesmos músculos que
permite a diminuição do volume da caixa torácica e a saída de ar dos
pulmões (expiração). 

Mesmo que a expiração seja forçada, os alvéolos não esvaziam


completamente, pelo que nos pulmões existe sempre uma quantidade de ar
que é designado por residual.

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