Você está na página 1de 4

Trocas gasosas nos seres multicelulares

→As trocas gasosas que os organismos multicelulares estabelecem com o meio estão ligadas a
processos metabólicos como a respiração celular e a fotossíntese, o que constitui um fator
fundamental para o equilíbrio dos ecossistemas.

2.1-Trocas gasosas nas plantas


→Estas são mais intensas nos órgãos fotossintéticos (em especial nas folhas- garantir a
fotossíntese). Para além disso todas as células vivas de uma planta realizam trocas gasosas
necessárias à respiração aeróbia (consumindo O2 e libertando CO2).

→Uma das adaptações das plantas aos ambientes terrestres foi a existência de revestimentos
que reduzem perdas de água para o exterior. Esses revestimentos, como a cutícula de natureza
lipídica que recobre a epiderme das folhas, dificultam também a difusão de O2 e CO2.

→Nas folhas, as trocas gasosas efetuam-se através dos estomas, estruturas da epiderme
constituídas por 2 camadas de células fotossintéticas, as células estomáticas/guarda, que
delimitam uma pequena abertura, o ostíolo. Através dos estomas que também ocorre perda
de água por transpiração (processo responsável pelo movimento da seiva bruta no xilema das
plantas).

→Os movimentos de abertura e fecho dos estomas regulam as trocas de gases e a


transpiração e são condicionados pela variação do estado de turgescência das células-guarda,
o qual, por sua vez é controlado em grande parte pelo transporte ativo do ião K+, a partir de
células adjacentes.

Entrada do ião K+ para as células-guarda por transporte ativo→ aumento da pressão osmótica
→entrada de água por osmose→ turgescência das células-guarda →abertura do estoma

Saída do ião K+ das células-guarda por difusão facilitada→ diminuição da pressão osmótica
→saída de água por osmose→ plasmólise das células-guarda→ fecho dos estomas
→De entre os fatores ambientais que condicionam a abertura e fecho dos estomas salientam-
se a luz, humidade atmosférica, variação da temperatura, vento e teor em água no solo.

2.2-Trocas gasosas nos animais


→Nos animais, as trocas gasosas estão relacionadas com a respiração celular (são + intensas
quanto maior for a taxa metabólica do organismo).

 Nos animais invertebrados mais simples (hidra, planária), a totalidade das células
encontra-se em contacto com o meio externo ou muito próxima dele, logo as trocas
gasosas resultantes destes ocorrem por difusão direta.
 Nos animais + complexos, a maior parte dos tecidos encontra-se muito afastada do
meio externo (o que dificulta a troca de gases com as células). Nestes organismos a
troca de gases ocorre através de superfícies respiratórias (tecidos especializados onde
os gases se difundem entre o meio externo e interno).
-Em alguns invertebrados (insetos), estas superfícies estão associadas a trocas diretas.
-Porém na maior parte dos animais, as trocas gasosas realizam-se com a intervenção
de um fluido circulante que transporta os gases das superfícies respiratórias até às
células, ocorrendo assim difusão indireta dos gases entre o meio externo e as células.
Nestes animais, hematose é o termo usado para designar a troca de gases que se
verifica ao nível das superfícies respiratórias entre o meio externo e o sangue,
distinguindo-se das trocas gasosas que ocorrem ao nível dos tecidos.

Características das superfícies respiratórias

→Nos animais, a difusão de gases ocorre através das membranas plasmáticas das células das
superfícies respiratórias. (gases difundem-se de um meio onde a pressão parcial é mais alta
para meios onde esta é mais baixo, obedecendo ao gradiente de concentração)
→As superfícies respiratórias apesar de diferentes (pulmões ou brânquias), possuem algumas
características comuns facilitadoras da difusão como:
 Pequena espessura- corresponde a uma única camada de células, o que favorece a
rápida difusão dos gases;
 Grande área- permite uma elevada de difusão de gases, uma vez que o volume das
trocas é diretamente proporcional à área da superfície respiratória;
 Humedecimento- que favorece a dissolução dos gases necessária à sua difusão
através das membranas celulares;
 Vascularização- a extensa rede de capilares que contacta com as superfícies
respiratórias, aumenta a rapidez da difusão indireta. (esta está ausente nos insetos,
por não ocorrer nestes difusão indireta)

Diversidade de estruturas respiratórias

→A diversidade de estruturas respiratórias está relacionada com o seu grau de complexidade,


nomeadamente com as necessidades metabólicas, e com a natureza do meio em que vivem.
Tegumento
-Em animais invertebrados (minhoca/ anfíbios), as trocas gasosas ocorrem através do tecido
que reveste a superfície do corpo, ou seja, do seu tegumento.
-Nestes animais existe um processo de hematose cutânea, que corresponde à difusão indireta
de gases entre o exterior e o sangue, que percorre a rede de capilares que irriga a pele do
animal.
-Habitat húmido e a produção glandular de muco ao nível do tegumento, favorece a
humidificação desta superfície respiratória.
-A conjunção destes processos varia com as condições ambientais, permitindo manter taxas
metabólicas ajustadas a períodos de hibernação ou de atividade.

Traqueias (insetos)
-As traqueias são os tubos de maior diâmetro, comunicam com o exterior por orifícios
chamados espiráculos, e ramificam-se em tubos mais finos, as traquíolas, que contactam com
as células e estabelecem trocas gasosas por difusão direta.
-A difusão do 02, desde o exterior até às células, ocorre devido há diferenciação de pressão
parcial deste gás.
-Alguns insetos (gafanhotos) recorrem a processos de ventilação ativa que permitem a
movimentação de ar no sistema traqueal, fazendo-o chegar rapidamente às extremidades
onde ocorre a difusão. Este processo depende da ação de músculos que provocam a
compressão e distensão das traqueias ou dos sacos de ar.
-As trocas diretas permitem uma boa oxigenação celular, e consequentemente elevadas taxas
metabólicas. O sistema circulatório não contribui para esta eficiência, uma vez que o fluido
circulante não efetua troca de gases.
NOTA: a localização interna da traqueia e o controlo da abertura e fecho dos espiráculos,
minimizam a perda de água que ocorre a partir das superfícies respiratórias, contribuindo para
a adaptação dos animais aos ecossistemas terrestres.

Brânquias (animais aquáticos)


-Nos animais aquáticos, as trocas gasosas ocorrem através das brânquias, um processo
designado por hematose bronquial. Estas podem ser extensões do tegumento (brânquias
externas) ou estar localizadas no interior do corpo (brânquias internas).
-Em alguns peixes (truta), as brânquias estão localizadas lateralmente na zona da cabeça,
protegidas pelo opérculo (este possui uma fenda opercular que abre para o exterior). As
brânquias são constituídas pelos filamentos branquiais, onde se inserem finas lamelas por
capilares.
-A água entra pela boca do animal e sai pela fenda opercular, banhando as brânquias nesse
trajeto. Durante o contacto da água com os filamentos branquiais, o oxigénio difunde-se para
os capilares existentes nas lamelas branquiais, ocorrendo, simultaneamente, a difusão do CO2
para a água. A água ao banhar as brânquias, esta vindo da boca desloca-se no sentido
contrário ao movimento do sangue nas lamelas branquais, saindo pela fenda opercular.
NOTA: o movimento contracorrente da água com o sangue permite a manutenção de um
gradiente de concentrações de gases entre os dois meios, o que garante a sua difusão ao longo
de toda a extensão desta superfície respiratória.
Pulmões (animais terrestres)
-Estes são os principais órgãos de hematose, apresentam um grau de complexidade variável
que pode ser relacionado com a taxa de metabolismo dos diferentes grupos de animais.
-Nos anfíbios, os pulmões são muito simples, apresentando-se como expansões da traqueia
em forma de sacos compartimentados. Já as aves e os mamíferos possuem pulmões com uma
área de superfície respiratória significativamente maior e mais vascularizada, bem como
processos de ventilação mais eficazes.
 Nos mamíferos, a superfície respiratória corresponde à parede dos alvéolos
pulmonares que se encontram na extremidade dos bronquíolos (finos canais que
conduzem o ar desde os brônquios). A ventilação dos alvéolos é garantida através de
processos de inspiração e expiração, que mantêm um fluxo bidirecional de ar através
das estruturas condutoras do sistema respiratório.
 Nas aves, os pulmões são constituídos por estruturas tubulares- os parabrônquios-,
onde ocorre a hematose. Os pulmões encontram-se ligados a sacos aéreos que
possibilitam o fluxo contínuo e unidirecional de ar, sempre renovado, através dos
parabrônquios. Nesses canais, o ar movimenta-se em sentido diferente ao da
circulação sanguínea, num mecanismo de corrente cruzada que torna a hematose das
aves altamente eficaz e capaz de satisfazer a elevada atividade metabólica que se
observa nestes.

Você também pode gostar