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Pedro Julião Eymard

CONSELHOS DE VIDA ESPIRITUAL

Com a permissão dos Superiores

Esta coleção de textos foi retirada das Obras Completas de são Pedro Julião Eymard,
edição impressa, Centro Eucarístico, Ponteranica (Itália)-Nouvelle Cité, Bruyères-le-
Châtel, 2008, 17 volumes. – A Correspondência encontra-se nos volumes II, III e IV.
As citações podem ser consultadas no site www.eymard.org. Cada carta possui uma
classificação específica a partir do índice de documentos para obter a carta em sua
totalidade.
Pelos os textos eymardianos, Congregação do Santíssimo Sacramento, Roma.

Documento ricevuto in Curia Generalizia il 23 novembre 2017

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Introdução

Para conhecer o Padre Eymard e seu carisma, nada melhor do que os escritos que ele nos
deixou. É um grande paradoxo: ele nos deixou uma grande quantidade de documentos até sua morte,
no entanto nada publicado, a não ser as Constituições dos Religiosos do Santíssimo Sacramento, as
das Servas do Santíssimo Sacramento e alguns artigos e notas a respeito de suas obras. Os escritos
publicados sob seu nome após sua morte são obra de um de seus discípulos, Padre Albert Tesnière.
Foi preciso esperar mais de um século e a chegada dos escritos eletrônicos para acessar todos os seus
escritos, muitos dos quais são manuscritos. Eles foram editados em 2006 na web, e dois anos depois,
eles foram impressas. No total são 17 volumes, compreendendo mais de 10500 páginas. Na realidade,
há pouco, os institutos de pesquisa especializados, bibliotecas universitárias, seminários ou institutos
religiosos têm acesso à essa documentação magistral. Quanto ao acesso à documentação eletrônica,
se, por um lado é livre e gratuito, por outro, nos oferece somente uma visão parcial. Se esta edição
monumental permite o acesso à totalidade dos escritos eymardianos, muitos têm valor histórico: notas
pessoais, textos canônicos, esboços de constituições ou estatutos, transcrições de textos, etc.
Deste modo, é muito útil publicar essas coleções que permitem levar sua mensagem a um
público sequioso de conhecer seu pensamento e de se alimentar de seus escritos. Não se pode negar
que Padre Eymard de ser um homem de seu tempo. Sua mensagem continua atual. Na metade do
século XIX a França foi marcada por uma renovação da liturgia, notadamente do culto eucarístico,
suas intuições de fundador fizeram dele um apóstolo, não somente da adoração eucarística, mas
também, um precursor de uma aproximação global do mistério eucarístico, missa e comunhão. Daí o
título que lhe foi atribuído no decreto que inscreveu seu nome no calendário litúrgico da igreja,
“apóstolo eminente da Eucaristia”.
Esta coletânea contém uma seleção de textos retirados de sua correspondência. São 2212
cartas endereçadas a 251 correspondentes. São três volumes na edição das Obras Completas. Nós nos
limitamos às cartas de direção espiritual, cerca de 850. No decorrer de seu ministério, muitas pessoas,
especialmente as mulheres, se confiaram a ele e lhe pediram para que lhes acompanhassem em sua
vida espiritual. Um ministério que se desenvolve principalmente a partir de 1846, quando ele foi
nomeado diretor da Terceira Ordem de Maria. Ele estruturou o pequeno grupo de terciárias que lhe
foi confiado e o desenvolveu através de seus ensinamentos – notadamente suas conferências sobre a
vida interior e a espiritualidade marista – e por seu acompanhamento espiritual. Quando ele deixou
Lyon para La Seyne-sur-Mer em 1851, o correio toma o lugar da conversa. Prossegue mesmo até sua
saída da Sociedade de Maria em 1856 para fundar em Paris a Sociedade do Santíssimo Sacramento.
Outras pessoas solicitarão então seus conselhos. O Padre responde a questões concretas, portanto, nós
imaginamos as perguntas a partir das respostas do diretor que, por questão de descrição, destruiu toda
a correspondência recebida de seus dirigidos.
Os conselhos de Padre Eymard são pessoais. Entretanto, alguns são gerais e podem se destinar,
além de seus destinatários, a muitos outros que encontrarão neles luz e conforto. Eles traçam a rota
tanto de seus dirigidos como seu próprio caminho. Durante seu período marista, seus ensinamentos
são centrados nos princípios fundamentais da vida cristã como concebidos em seu tempo: luta contra
os defeitos, prática das virtudes cristãs, iniciação a uma vida interior pessoal através da oração, do
recolhimento, da acesse, a prática dos sacramentos, confissões, missa, comunhão, a devoção à Virgem
Maria. Ele está à escuta de cada pessoa, discerne à luz do Espírito santo, aconselha com a preocupação
de respeitar a graça e o caminho de cada um. Sua direção é baseada em uma confiança recíproca e
sua espiritualidade se inspira no amor, onde a eucaristia é o sacramento. Esta observação vai se
desenvolvendo à medida que ele descobre, a partir da graça recebida em Fourvière em 1851, sua
missão de fundador. A partir daí, ele não conceberá a vida cristã, senão, eucarística. A graça do “dom
da personalidade”, recebida em Roma em 1865, constitui o ápice de sua vida espiritual. Nós
encontramos os ecos em correspondências endereçadas a alguns privilegiados.

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No prefácio da edição das “Cartas de direção endereçadas a pessoas do mundo, o Padre
Edmond Tenaillon, postulador da Causa da beatificação de Padre Eymard, observa em 1901: “Toda
a direção de Padre Eymard tinha um objetivo único: fazer nas almas a união de vida, de
pensamentos, de sentimentos, de julgamentos com Jesus-Eucaristia.” Em seguida destaca a prudência
deste “sábio diretor” que se adaptou às condições e a graça de cada um, ele acrescentou: “Ele
consultava a graça de cada um, seu apelo particular, a ação especial do Espírito Santo- que sopra
onde quer-; e com respeito à liberdade das almas e à graça de Deus nelas, ele as dirigia suavemente
e fortemente ao santíssimo Sacramento que ele chamava com o justo títulos de ‘Centro de tudo’.”.
Nesta edição, nós reproduzimos o texto da edição das Obras Completas, aliviando um pouco
a apresentação. Cada carta traz um título retirado do corpo da carta e uma introdução que situa o
documento. Nós omitimos as datas no cabeçalho, d que não atas, fórmulas de saudação, conclusões,
e endereços, assim como as considerações de ordem prática que não se relacionam com o tema. A
assinatura é sempre omitida. Os colchetes [...] indicam os cortes que efetuamos. Ao final de cada
carta, nós indicamos em itálico o destinatário, a data e a referência à edição completa. Algumas cartas
apresentam o texto integral da edição.
A escolha dos textos e suas apresentações foi obra de quatro colaboradores: padre Fiorenzo
Salvi para o período de 1828 a 1856, padre Giovanni Moretti de 1856 a 1863, padre Manuel Barbiero
de 1864 a 1866 e eu mesmo de 1866 a 1868, data da morte do Padre.
A escolha foi um pouco subjetiva: algumas cartas foram selecionadas, outras omissas, embora
também fossem interessantes. Trata-se de uma amostra significativa do pensamento de Padre Eymard
e de seu método na arte da direção.
Eu revisei a coleção e estabeleci a lista das correspondentes com uma breve nota bibliográfica.
O índice temático é do padre Salvi.

Padre André GUITTON, sss

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Conselhos de vida espiritual

1 - A felicidade de ser batizado

O Padre Eymard se dirige a sua irmã Marianne, que é também sua madrinha, o dia do aniversário de seu
batismo. “o mais belo dia de minha vida”. Ele recorda fatos ligados a sua infância: sua convalescência depois
de sua experiência no noviciado dos Oblatas de Maria Imaculada em Marselha, onde ele havia se dedicado
com imenso zelo e onde sua saúde ficou comprometida. O batismo representará para ele um ponto de
referência para sua vida cristã, religiosa e sua missão de fundador. É para nós um convite para fazermos
memória de nosso batismo, o dia em que nos tornamos filhos de Deus.

Minhas queridas irmãs,


Não pude resistir hoje ao prazer de lhes escrever duas palavras. Eu rezei ao bom Deus por vocês, por
nosso pai, por nossa mãe, por meu padrinho.
Vocês imaginam por quê! É um dia tão belo para mim, é o mais belo dia de minha vida: é hoje que
eu tive a felicidade de ser batizado. Ah! Se eu tivesse morrido antes, eu estaria agora no céu, rezando
por minha madrinha ainda na terra, encarregada da cruz, num caminho um pouco espinhoso do céu;
mas o Bom Deus não quis e me conservou até hoje neste vale de exílio, de lágrimas e de combates.
Que ele seja bendito! Contanto que no final, cheguemos ao termo, uma vez chegando, o caminho
curto ou longo, fácil ou penoso, nada mais é do que o balanço das graças e das misericórdias de Deus;
o essencial é chegar.
Rezem para que eu chegue, pois eu farei bem para vocês e se vocês chegarem lá primeiro, deixem em
sua passagem um apoio, depois a porta aberta; pelo menos lá, minhas queridas irmãs, não haverá mais
distância, nem separação. Quem diria, há vinte anos, estendido em um leito, condenado à morte por
todos os médicos, que eu viveria mais 15 anos? Se tivesse ao menos utilizado bem! É verdade, que o
Bom Deus me concedeu grandes graças e eu não poderia deixar de reconhecer, em minha vida, os
traços de sua misericórdia e de sua providência, que eu seria ingrato se não o amasse de todo o meu
coração, e não lhe servisse com todas as minhas forças.
Eu lhe devo muito minha querida madrinha, por toda esta vigilância em minha juventude, e por todas
as práticas de piedade que você me sugeriu. Hoje, todo esse tempo de minha juventude se apresenta
de uma maneira particular, e eu vejo nele uma grande graça. Você se recorda quando, sentado em
meu pobre leito a seu lado, nós cantamos a chorar os cânticos de Marselha, certamente aquele de
santa Genoveva, de são José, do caminho da cruz; depois quando lhe acompanhei à confissão (sempre
bem longe). Oh! Tempo bom. Eu amava mais a Deus do que hoje. Desde então, essas fases da vida,
quanta diferença! Esta é a vida do mundo! Quantas pessoas de meu conhecimento que eu estimava e
vi morrer! Ainda bem que me resta você. Que o Bom Deus a conserve ainda um pouco mais.
Eu não sei se é um bom desejo; mas eu acho que a vida é tão preciosa para os corações que trabalham
para o céu e para o reino de amor de um Deus crucificado. [...]

A Marianne Eymard, 5 de fevereiro 1846 (CO 68; II,113)

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2 - Saibamos fazer como os santos

Nesta carta endereçada à Sra. Joséphine Gourd (79 cartas), o Padre Eymard dá seus conselhos para viver a
vida de todos os dias na presença do Senhor, na oração e no serviço da caridade. Mesmo a doença pode se
tornar uma ocasião providencial para nos colocar à disposição para escutar uma vez mais e mais atentamente
ao Senhor. Mas sobre tudo a oração é que nos faz repousar aos pés do Mestre e representa um momento de
graça onde nós encontraremos as energias necessárias para nos doar para uma caridade mais ativa. Eis como
se pode viver a santidade no quotidiano.

[...] É nosso bom Mestre que nos isola algumas vezes pela doença, a fim de ter tempo para falar a
nossa pobre alma, que lhe escapa sempre; um pouco de sofrimento predispõe, admiravelmente, a alma
à graça. Eu lhe desejo, senhora, estas duas horas de repouso aos pés do divino Mestre, a fim de se
reencontrar inteiramente a seus pés e deixar-se preencher pelo seu espírito e amor, para que possa, no
resto do tempo, dedicar-se ao próximo.
Saibamos fazer como os santos: estar primeiramente com Deus, depois com os outros na presença de
Deus. A senhora me diz: “Mas eu não sei! Eu não penso sobre isso!” Mas é fácil, um simples olhar
para Deus presente em nós ou ao redor de nós, um ato interior de oferta, de súplica, de aceitação de
tudo: feliz a alma que vive com Deus, que bela união! O céu por toda parte. Suportemos bem as
dificuldades da vida, da alma, do coração através de nosso amor à santa vontade de Deus; e quando
tudo parecer nos irritar, nos contrariar, tomemos nosso pobre coração nas mãos, sem lhe permitir
examinar o que o contraria, encorajando-o pela disposição de fazer alguma coisa por amor a Deus.
[...]

A Josèphine Gourd, 26 de janeiro de 1851 (CO 239; II,275)

3 - Fazer da santa e amável vontade de Deus a sua regra

As rápidas mudanças de nosso humor nos deixam desconfortáveis. A tentação é agir de acordo com nossos
sentimentos, que nem sempre são positivos, e que, por vezes, nos coloca em uma direção contrária ao
Evangelho. padre Eymard aconselha a não nos deixar influenciar por eles, mas ignorá-los e perseguir sempre
o bem, custe o que custar. Comungar o Cristo, participando da mesa eucarística, meditar e rezar em sua
presença sacramental são atos que alimentam nossa união de vida com ele e nos ajudam a viver como ele e
nele.

Continue a fazer da santa e sempre amável vontade de Deus a sua regra, o seu centro e o fim de todas
as suas ações e seus desejos. Nosso bom Pai que está nos céus, tem sempre os olhos de seu amor
fixados em nós e sua divina Providência prevê e ordena tudo para o nosso bem.
Não se perturbe com essas alterações dos estados da alma; isto vem de Deus que quer que nós nos
exercitemos na prática de algumas virtudes particulares, como a doçura, a paciência, a humildade de
suportar a nós mesmos. Portanto, quando estiver triste, de mau humor, não deixe este sentimento
entrar em seu coração, não faça de conta que não os vê; é uma nuvem passageira que desaparece com
o sol da caridade. Trate isto como uma dor reumática e aja exteriormente de modo habitual.
Entretanto, se isto se prolongar muito, perturbando seu espírito e irritando seu coração, seria bom
falar um pouco com sua boa mãe, mas antes como uma penitência do que como um sentimento do
coração.
Seria sensato não expor a razão aparente para não despertar a antipatia natural; mas se isto lhe
atormenta, diga tudo.
Continue com suas comunhões, pois você é frágil e é preciso viver em Nosso Senhor e recebê-lo, pois
diz o bom Salvador: “Aquele que me come, viverá em mim” [Jo 6,57], “aquele que come o meu corpo
e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele.” [Jo 6,56].

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Vale [mais] ir à santa comunhão com suas misérias do que se distanciar dela por medo ou humildade;
o amor tem mais abandono que respeito, mais confiança que temor. Comungue com o desejo de amar
sempre mais, esta é a melhor das disposições.
Para a meditação, eu lhe aconselho de não se ocupar durante o dia, desejando fazer disto uma regra.
Basta pela manhã, e a meditação da manhã deve girar em torno do Tabernáculo ou ao redor de Jesus
em seu coração, com esta profunda sentença: “Jesus é meu Deus e meu tudo.” [cf. Im 3,34: 4] E, no
trabalho do amor, sempre evite falar, saiba guardar o silêncio aos pés de Jesus, fique feliz em vê-lo,
olhá-lo, ouvi-lo, de estar a seus pés; a verdadeira palavra de amor é mais interior do que exterior.
Vamos! Coragem no caminho do Céu! Caminhemos sempre em meio aos seixos e aos espinhos da
vida do deserto. [...]

A Stéphanie Gourd, 26 de janeiro de 1851 (CO 240; II,276)

4 - Agarrar-se à âncora da vontade de Deus

O que podemos fazer quando nossa alma está na tempestade? Agarrar-se à âncora da vontade de Deus, que
quer sempre e unicamente o nosso bem. As dificuldades são um pouco como o inverno, onde a natureza morta
pode renascer com novo vigor. Desta forma, se a tempestade faz morrer alguma coisa em nós, é para fazer
nascer alguma coisa nova, florescer e dar frutos. É a surpreendente dinâmica pascal: a vida que brota da
morte.

[...] Sua carta me encheu de prazer e pena. O prazer a senhora bem sabe o porquê: eu admiro ver a
senhora grande, forte, dominando todas as ondas e os furores das tempestades para se agarrar
generosamente à âncora da vontade de Deus, a força vem do sacrifício.
Fique certa senhora de que as tempestades duram somente um tempo; é o inverno que purifica o
tempo, mata todos os insetos que destroem as plantas. Parece-me que a alma morre no meio do
sofrimento; é verdade, mas é para renascer das cinzas. A vida de uma alma que ama Deus é uma vida
de morte; coragem então!
À beira de um precipício, não se deve olhar para o fundo, fixar seu olhar para baixo, pode deixar a
cabeça tonta.
Fixe seu coração em Nosso Senhor, e fique certa que ele está com a senhora, contemplando seus
combates e se preparando para coroá-los. [...]

A Franchet, 21 de março de 1851 (CO 250; II,287)

5 - Não paremos no meio do caminho

O caminho da santidade é por vezes semeado de espinhos. O amor sabe como transformar os sofrimentos em
autênticas provas de abandono em Deus. Como o amor conduziu Cristo ao dom de si, até a cruz e ao martírio,
assim o amor será a chama que ilumina nossos sacrifícios. Neste caminho de santidade e de purificação, o
que importa é fazer os passos que se apresentam diante de nós, sem olhar muito adiante. Graças a força da
comunhão sacramental nós podemos percorrer este caminho.

[...] Com frequência eu pedi ao Bom Deus para conservá-la e fortifica-la em seus desejos, de formar
seu espírito de amor e de santidade, pois a senhora foi feita para ele e para nada mais, a não ser ele.
As criaturas podem divertir por um instante o coração, distrair o espírito; preenchê-los, satisfazê-los,
jamais!
Eis o caminho certo e necessário; através do distanciamento de si mesmo, através do sacrifício de
toda criatura. A santidade evangélica não passa de uma imolação, um holocausto, morte e vida unidas

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no amor crucificado. O Senhor lhe chama para ela por meio deste caminho; ela é bem íngreme, por
vezes espinhosa, mas é bom para o amor, Jesus no jardim de tristeza, humilhado em Jerusalém,
subindo sofridamente ao Calvário e se consumindo em seu amor. O amor é sempre um mártir, e a
chama do sacrifício é sempre o amor.
Vamos, minha filha, não paremos no meio do caminho, não olhemos muito para adiante: é um
mistério. Não vivemos na cruz e nos sofrimentos, mas em Jesus com nossa cruz.
Lembre-se que o Bom Deus não pede senão a vontade; o resto, é o campo de combate.
Permita-me, minha filha, repetir uma vez mais, mil vezes, desprezar os relâmpagos e os trovões, eles
não podem lhe atingir, não dê importância a seus sofrimentos; em uma palavra: Comungue. Eis sua
força, sua vitória e sua vida. Um dia sem sol é uma noite de tempestade ou tristeza. [...]
A senhora sofre e sofre muito, é verdade! E eu não ouso pedir a Nosso Senhor para eliminar seus
sofrimentos; parece-me que isto entristeceria Jesus, nosso Mestre. O amor divino nasce sempre na
dor, a união perfeita não acontece, senão na cruz, assim filha, perdoe-me por bendizer seus
sofrimentos e de rezar pela senhora e por sua fidelidade. Basta pedir a Nosso Senhor que a conduza
por este caminho exterior e que se ele quer o coração crucificado, que o exterior seja a expressão de
uma doce caridade e da paz do Espírito Santo; faça disto o seu segredo.
Este pensamento, “Deus quer isto de mim” será mais forte que tudo, nunca a senhora pareceu mais
agradável a Deus do que no momento presente.
Sim, comungue, e comungue como eu lhe orientei; na senhora, o coração é melhor do que a cabeça:
e Deus quer o coração. [...]

A Franchet, 08 de agosto de 1851 (CO 267; II,302)

6 - Seu amor nunca dorme

Nossa vida é como uma barquinha no mar. Quando nós somos balançados pelas ondas, o Senhor que parece
dormir coloca à prova nossa fé. É a maneira que ele escolheu para nos tornar mais fortes e enraizar nossa
vida nele; a árvore que é exposta aos ventos, torna-se mais forte e mais vigorosa e produz frutos saborosos.
A união de vida com o Senhor na Eucaristia nos assegura que o amor de Cristo por nós não dorme nunca.

Acabei de receber sua carta repleta de tristeza e choradeira. Meu Deus! Quantas misérias! Quando
elas serão abrandadas? Pobre barquinha! Como ela está balançando! A margem está distante e o céu
sempre escuro, nenhuma ajuda. Que situação! O que fazer? Se ainda estiver no comando, jogue a
água que entra pouco a pouco na pequena barca, depois, abandone-se à Providência.
Vossa barca está segura, senhora, ela não pode escurecer nem perecer. Não, não, o Bom Deus a
abençoa em todos os momentos do dia, mas a senhora não é ainda uma boa passageira, a senhora tem
muito medo, seu coração esmorece e somente vê céu e deserto. O que deseja? Mas não se culpe muito
por isto; ele sofre, ele está doente, ele se alivia, reclamando um pouco, mas quando ele quiser ir mais
adiante, é preciso dizer-lhe: “Meu pobre coração, tu não és sábio, tu vais desagradar a teu Deus e te
tornarás infeliz por seu amor, tu não irás mais longe e por seu amor, tu sofrerás ainda um pouco”. E
este coração que no fundo é bom se renderá e retornará ao caminho de Jesus, e por toda parte se
agradará e reencontrará a paz e a liberdade com a força e o amor.
Comungue, minha filha; a doença precisa de alimento. Comungue, apesar de suas misérias, elas não
podem tirar a vida do amor divino, elas não fazem, senão prova-la e purifica-la: o fruto que vem de
uma estufa quente é sempre um pouco insípido e a árvore que o produz, bem delicada e bem frágil.
Mas o fruto que recebe vento natural e que amadurece em seu tempo é o melhor. Comungue e Nosso
Senhor será sua força nas grandes provações, nas grandes tentações sempre presentes, eu diria quase
necessário Nosso Senhor Eucarístico; é o momento do combate e se Jesus parece dormir em meio a
tempestade [cf. Mt 8,23-27], não é somente para provar nossa confiança; contente-se, então e
permaneça a seus pés. Seu amor nunca dorme.

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Pobre filha! O que me escreves sobre seus sentimentos, não é nada, a senhora dá muita importância
a isto.
A senhora vive muito voltada para seu coração. Eu gostaria que seu coração vivesse inteiramente no
coração de Nosso Senhor. Eu não posso! O sofrimento é o começo desta vida divina, a fidelidade no
sofrimento é a força e a ligação. Vamos! A senhora ama o Senhor Jesus com todo seu coração, com
todo o seu espírito, com toda a sua vontade, e com todas as suas forças [cf. Mc 12,30]; e o céu e a
terra a abençoarão junto comigo. [...]

A Franchet, 25 de agosto de 1851 (CO 273; II,309)

7 - Alimentar o interior através de sua união com Deus

O padre Eymard acaba de ser transferido para La Seyne-sur-mer, próximo de Toulon. Ele deixa a cidade de
Lyon, que ele ama, bem como a direção da Terceira Ordem de Maria: é para ele um momento doloroso, mas
ele vive este afastamento na fé, na serenidade e no abandono à vontade de Deus. À Sra. Gourd, ele confia o
que está prestes a viver nesse momento delicado de sua vida. Em seguida ele responde a sua carta, ele lhe
oferece conselhos úteis a fim de que ela supere certa negligência nos serviços de Deus: dirigir bem a seus
empregados, vencer a inquietação que a impede de comungar sempre.

Pois bem senhora, nós estamos a quilômetros de distância, separados para sempre, talvez. Isto é a
vida! Vida de exílio e de passagem!
Mas o que nos consola é que nosso bom Pai está entre nós, que sua graça, seu amor, e a mesma
esperança nos unem em seu divino coração.
Eu admito senhora, que agradeci a Deus este distanciamento de Lyon e acredito que é para mim uma
graça; o Bom Deus quis me forçar a viver unicamente para ele.
Em meio aos meus embaraços de Lyon, eu experimentei grande consolação por parte de minhas
filhas. Era preciso o sacrifício: Oh! Que ele seja mil vezes bendito! Tomara que elas o sirvam e o
amem de todo coração, esta será minha felicidade. E a senhora, minha boa filha; a senhora sempre
amará este bom Mestre e o fará amado em meio a seus embaraços e misérias; a senhora dedicará de
bom grado o seu tempo, suas ocupações, seus gostos, e isto por todo o mundo. Mas seu coração será
de Jesus e a abnegação de seu amor; suas cartas sempre me darão prazer, e se eu puder lhe ser útil
daqui, a senhora sabe como desejo o bem de vossa alma, como o da minha.
Voltando a sua carta. A senhora censura sua negligência no serviço de Deus, e suas obrigações para
com seus empregados, a senhora sofre em suas comunhões.
É bem verdade que é preciso combater a negligência no serviço de Deus, porque ela produz
rapidamente a fragilidade espiritual, a repugnância aos sacrifícios; a alma enfraquece, assim como a
planta sem seiva. Sim, combata suavemente, mais fortemente, esta negligência interior: é por este
lado que o demônio quer lhe atacar; economize seu tempo, mas sempre encontre um tempo para Deus;
o contato com o mundo, mesmo com o mundo piedoso, tem isto em comum: usar a força interior da
alma. É preciso fazer, algumas vezes como Nosso Senhor: quando o dia tinha sido muito dedicado ao
próximo, é preciso subir a montanha, e lá na solidão do coração, conversar um pouco com Deus
sozinho [cf. Mt 14,23]. Assim também, minha filha, quando o bom Mestre lhe colocar em um estado
extraordinário de caridade para com o próximo, é preciso tudo deixar por estes pobres; mas eu disse:
“neste estado extraordinário” e quanto mais se gastar exteriormente, mais é preciso alimentar o
interior através de sua união a De
E suas dissipações! Oh! por elas eu não me inquieto, estas são reumatismos que precisam ser
suportados nesta vida. É a miséria de nossa natureza. É humilhante para o coração que deve viver
somente em Deus!
Faça apenas uma coisa, quando sua alma estiver há muito tempo esquecida do Bom Deus: permaneça
docemente a seus pés, com humildade de coração, como uma pobre ovelha que se separou para longe
do pastor.

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Para seus deveres de patroa, se a senhora possui empregados fiéis e devotados, a senhora pode
descansar em relação a eles, entretanto, sempre é preciso o olhar da dona, caso contrário a senhora
vai ralhar muito com eles. Reze por sua casa e pelos que lhe servem.
Quanta as comunhões, não deixe nenhuma por sentimento de culpa, a senhora tem necessidade: seria
muito mal se Nosso Senhor a chama, apesar de suas misérias, a vir para ele, e por humildade a senhora
permanecer longe de sua mesa eucarística. Adiante, minha filha, apesar de suas misérias, adiante com
sua suas misérias e pobrezas: é seu cartão de entrada para o bom Mestre. [...]

A Joséphine Gourd, 18 de outubro de 1851 (CO 282; II,322)

8 - Tirar de nossos defeitos o remédio para corrigi-las

Uma vez experimentada a bondade de Jesus, nós só desejamos viver para ele. Não obstante, e este é o caso
de Stéphanie, a jovem destinatária desta carta, quando seguimos o Cristo, nós podemos viver momentos de
aridez espiritual, sentir o freio colocado pelo amor próprio e pela humilhação e por seus próprios limites.
Que fazer? É preciso aceitar sua situação e se apresentar a Deus verdadeiramente, com confiança e
abandono; e Deus nos fará descobrir seu amor de predileção por seus filhos frágeis e pobres.

[...] A você sabe todo o bem que eu desejo a sua alma e como eu gostaria que ela fosse toda de seu
divino Esposo.
Oh! Sim, seja toda de Nosso Senhor, como ele é todo seu, sem reservas, sem divisões no coração,
sem outro desejo, a não ser sua amável vontade.
Quando conhecemos bem este bom Jesus, podemos compará-lo a outra coisa? E quando provamos as
delícias de seu amor, pode-se viver sem ele? Oh não! Nunca somos infelizes! A você é feliz, minha
cara filha de estar com este bom Mestre e de querer sempre estar com ele. Esta escolha vale mais do
que todas as coroas e todas as mais belas posições no mundo! Será bem rico aquele para quem Jesus
é tudo.
Mas a você não está contente consigo, a meditação a deixa estéril, fria, ela é sem frutos, o pensamento
de Deus não é natural, o amor próprio a domina, eis aí grandes misérias, e estas misérias a
acompanharão ao longo do deserto da vida. O que fazer?
Corrigir aquilo que é imperfeito e suportar humildemente os efeitos da humilhação. Saber e confessar
diante de Deus e de si mesma, que a você está repleta de amor próprio, que este é seu elemento
natural, que ama pouco, é pouco fervorosa em seu serviço; cobrir-se desses trapos como prova de sua
pobreza e se apresentar a Deus com toda confiança: e então a você transformará o mal em bem e
encontrará graça diante deste Deus de bondade que coloca seu olhar de complacência sobre a criança
e pobre e ama a ponto de elevá-la a seu amor de predileção.
Habituemo-nos, minha cara filha, a retirar de nossos defeitos, o remédio para corrigi-los; não devemos
viver em paz com eles, mas sim viver em paz na humildade.
“Aprendei de mim, diz o Salvador, que sou manso e humilde de coração”. [Mt 11,29]
Para sua meditação, se a você perceber que está vazia e suas faculdades não se ocupam disto, mude
o tema; se estiver em um estado ordinária, faça uma meditação ordinária da Imitação, mas prepare
pelo menos o capítulo e o verso.
Se estiver em um estado extraordinário, escolha um tema semelhante a seu estado, assim, na
desolação, o capítulo 21 do primeiro livro, o 9º, o 11º ou 12º do segundo livro. Na repugnância dos
sacrifícios: os capítulos do amor, os três do céu: 47, 48, 49. Na dissipação: o 1º capítulo do segundo
livro, os primeiros do terceiro.
É preciso tratar nossa alma em seus diversos estados como tratamos um doente desgostoso de tudo.
A grande resolução a tomar é fazer prontamente e por amor os sacrifícios de abnegação que o Bom
Deus nos pedirá no dia e os que nós lhe apresentaremos.
Então, nós só temos uma coisa a fazer, sermos vigilantes no momento dos sacrifícios, ou melhor,
estarmos sempre prontos a dizer a Deus: “Meu coração está pronto, ó meu Deus, para aceitar em tudo

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a vossa santa vontade”. Mas esta vigilância deve ser livre, sem escravidão, sem contenção; é a vigília
do amor, e o amor não se fatiga, ele vigília, dormindo, ele vigília, trabalhando. [...]

A Stéphanie Gourd, 19 de outubro de 1851 (CO 283; II,324)

9 - “Quem me separará do amor de Jesus Cristo? Nada”

Se nós queremos amar Deus e viver para ele, nós devemos nos perguntar a cada instante qual poderia ser sua
vontade, antes mesmo de se colocar a escuta de seu próprio coração e de suas próprias razões. Na consolação
e na desolação, na alegria e na dor, eis aqui o conselho que dá o Padre Eymard: nós devemos amar e sempre
fazer a santa vontade de Deus. Agindo assim, nada nos separará do amor de Jesus Cristo.

[...] O que eu gostaria de pedir a Deus para a senhora é a fidelidade no amor a sua santa e sempre
amável vontade; as consolações ou a desolações, a alegria ou a dor, as criaturas ou a ausência delas
não alterem o estado interior de sua alma; nem as tempestades, nem as variações atmosféricas
produzam somente uma mudança de exercício, de ação, mas a vontade permaneça sempre unida a
santa vontade de Deus. Feliz! Mil vezes feliz a alma que vive desta vida divina! Então, ela
compreende estas palavras ardentes de são Paulo: “Quem me separará do amor de Jesus Cristo?
Nada.” [Rm 8,35]
O fruto desta divina conformação será, primeiramente, a paciência, a igualdade, a paz interior, a força
e a generosidade nas ações. Uma alma que deseja viver de Deus, consulta antes sua santa vontade;
ela teme consultar primeiro seu coração, sua própria razão, seus desafios; e para ela a vontade de
Deus conhecida, é a suprema lei, é sua invariável regra e sua primeira ciência.
Peça, senhora, ao Bom Deus por mim, esta Rainha das virtudes; esta seria a maior graça que a senhora
poderia me fazer.
A senhora quer que eu fale de mim? Minha vida passa e flui como torrente de água com precipitação,
barulho e tumulto; uma casa de educação tem tantos incidentes, visitas! Que o Bom Deus seja bendito!
Eu estou sujeito à habitual renúncia de minha vontade.
Por outro lado, o clima está bom, o céu bonito, a natureza rica e sempre verde, o que faz parecer uma
primavera perpétua. Eu nada digo sobre os habitantes de Midi; eu não os conheço bem. O Bom Deus
tem aí belas almas generosas. Há mais admirar aqui do que do nosso lado, a força e a graça; pois estes
do Sul, com suas cabeças nas nuvens, com seus espíritos leves e corações sensíveis tornam-se santos
e grandes santos. Somente para nós, gente do Norte custa-nos fazer esse tipo; mas quando Deus nos
envia, ele nos dá a graça. [...]

A Natalie Jordan, 22 de janeiro de 1852 (CO 317; II,368)

10 - Salvar as almas pela divina Eucaristia

Senhora Tholin-Bost é uma alma eucarística: ela era engajada na difusão da adoração na casa. O padre
Eymard a encoraja em sua missão. Ele partilha com ela sua convicção da urgência da missão: que a
Eucaristia deve ser colocada novamente no centro da espiritualidade cristã. Ele continua seu ministério junto
aos marinheiros e condenados de Toulon. Ao confirmar sua graça eucarística, ele a convida a compor
meditações sobre o amor de Cristo na Eucaristia, para ajudar as pessoas que a seu redor.

Fiquei muito feliz em saber que a primeira ideia da “adoração doméstica” de Nosso Senhor
eucarístico havia encontrado simpatia em Sua Eminência [o Cardeal Bonald, arcebispo de Lyon], que
ele a havia abençoado e aprovado.

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Agora, é preciso começar a trabalhar rapidamente, salvar as almas pela divina Eucaristia, e despertar
a França e a Europa entorpecidas pelo sono da indiferença, pois ela não conhece o dom de Deus,
Jesus o Emanuel eucarístico. É a tocha do amor que ele traz às almas tíbias e que se julgam piedosas
e não são, porque elas não estabeleceram o seu centro e suas vidas em Jesus no santo Tabernáculo; e
toda devoção que não tem uma tenda diante do Calvário e outra ao redor do Tabernáculo, não possui
uma piedade sólida e nunca fará nada grandioso. Eu acho que nos distanciamos muito da santa
Eucaristia, que não rezamos bastante diante deste mistério de amor por excelência; então as almas
sofrem, elas se tornam sensuais e materialistas, se apegam às criaturas, porque elas não sabem
encontrar suas consolações e suas forças em Nosso Senhor.
A adoração está aumentando em Toulon; se a senhora puder me enviar algumas folhas, eu as
distribuirei entre os nossos fervorosos marinheiros e até na prisão, onde quatro mil prisioneiros
poderiam se tornar bons adoradores, pois na cadeia, há boas almas.
Um pensamento sobre a senhora me vem há vários dias, cara irmã: Nosso Senhor lhe inspirou o
pensamento da adoração doméstica a Jesus eucarístico, seria bom se a senhora escrevesse algumas
meditações sobre o amor eucarístico para seus amigos, para ajudar-lhes a bem santificar esta hora
santa e depois dividir o amor eucarístico em virtudes particulares, em práticas especiais. Eu sugiro
este pensamento; por conseguinte, eu aprovo e abençoo aquilo que tem feito para seus amigos.
Lembre-se de que quando se acende, numa alma, uma centelha eucarística, lança-se em seu coração
um germe divino de vida e de todas as virtudes, e que se basta, por assim dizer, a si mesmo.
Fiquei consolado, cara irmã, sobre o que a senhora me disse sobre sua boa irmã. Oh! Esse coração
ardente tem necessidade de Nosso Senhor! Que felicidade para ela que o mundo não a conhece, e que
ela não caiu em mãos humanas! Eu gosto muito de rezar por seu marido, por seus filhos e, sobretudo,
pela senhora. Não se esqueça de mim em suas orações; eu tenho grandes missões a cumprir e eu sinto
toda minha fraqueza e meus defeitos... A senhora fará bem se for ver Sua Eminência, seria uma forma
de difundir a Obra. Eu aconselharia a lhe escrever para agradecer sua aprovação. Eu dou vivas à
grande cruz do sr. Lagoutte e de seus filhos. Nosso Senhor quer todos para ele. [...]

A Tholin-Bost, 11 de fevereiro de 1852 (CO 325; II,378)

11 - Feliz por ter escolhido este divino Esposo

Antônia Bost, irmã da senhora Tholin-Bost, está decidida a consagrar sua vida a Deus no celibato, renunciado
a tudo no mundo. padre Eymard a encoraja a seguir esta graça e a responder generosamente a sua vocação.
Antônia será feliz por ter escolhido o Cristo como seu divino Esposo, que preencherá sua pobreza e na
comunhão reaquecerá seu coração. Mas existe uma condição: amá-lo sem medidas, sem queixar-se e
aceitando alegremente todos os sacrifícios. Antônia será fiel a este apelo durante toda a sua vida.

Eu recebi com alegria e ação de graças sua cartinha, querida filha e louvei a Nosso Senhor de tê-la
chamado, de tê-la atraído mais e mais para seu serviço e para seu amor, de ter colocado em sua alma
um grande desejo de pertencer a ele.
Pobre filha, o que poderia a você ter de mais terno, mais amável que Jesus? Como a você é feliz de
tê-lo escolhido como seu divino Esposo, ou antes, ter sido escolhida, preferencialmente, a tantas
outras! Oh, no céu, a você conhecerá todas as riquezas, toda a grandeza desta graça!
Para a esposa, é preciso um dote: aquilo que Nosso Senhor quer da você, a pobreza interior. Para
enriquecer uma alma, Nosso Senhor a esvazia; ele quer reinar sozinha e dirige para este alvo todas as
suas flechas. Deixe-se ser atingida: a vida segue a morte, o amor entra pelo sofrimento.
Mas observe o que digo: deixe-se ser atingida, isto é: deixe o Bom Deus realizar, deixe-o virar e
revirar, falar ou calar-se, prová-la ou ausentar-se, prová-la através de suas criaturas ou por ele mesmo.
O que importa! Tomara que a você o ame e seja amada pelo bom Salvador. Ele a ama infinitamente.
Mas, não se afaste da santa comunhão, pois seu coração é frio e suas misérias são grandes. Apresente
seu coração diante do bom Mestre. Que belo pensamento!

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O amor dá sem limites.
O amor dá sem razões.
O amor sofre sem se queixar.
O amor se alegra, cresce no sacrifício.
Eis sua história; mas não esqueça que a natureza não ama o sofrimento, que ela teme o reino de Deus
em nós. Se ela gemer, se ela tiver medo, não é necessário se perturbar, nem brigar, mas dizer-lhe
como o Profeta: “Minha alma, por que te entristeces? Por que te inquietas? Espera em teu Deus, ele
é bom!” [cf. Sl 41,6]. [...]

A Antônia Bost, 11 de fevereiro de 1852 (CO 326; II,379)

12 - Como uma criancinha na barca que o Bom Deus governa

O caminho do discípulo conhece momentos de aridez e de tibieza espiritual. Eles são como o deserto, a
passagem providencial para chegar; quando e como Deus quiser, a terra prometida. O padre Eymard
encoraja Stéphanie, ela não deve se surpreender com a aridez que ela estará prestes a viver; ela deve
persevera com a certeza que Deus, um dia, a libertará do deserto e que ele transformará as nuvens em chuva.
Ele lhe oferece uma bela imagem: que ela vive como uma criancinha na barca que Deus conduz.

Estou em vias de responder, minha filha em Nosso Senhor, com algumas palavras a sua carta. Eu lhe
agradeço pelas orações que faz por mim. Eu preciso que minhas filhas rezem por minhas
necessidades: elas são grandes, bem grandes!
Peça por mim um pouco mais de amor de Deus e de sua amável Cruz.
Continue minha filha, a servir a Deus por Deus simplesmente, que seu serviço passe a frente de nossos
prazeres; que a fidelidade de realizar sua santa vontade seja a primeira de todas as nossas virtudes, o
primeiro ato de nossa divina caridade. Não esqueça nunca que o amor do Jardim das Oliveiras e do
Calvário é maior que a glória do Tabor; que permanecer fiel a Jesus triste, solitário, abandonado é
próprio das almas perfeitas: da santíssima Virgem, de são João, de santa Madalena. Não se perturbe
com sua secura e com sua aridez espiritual; é o deserto da terra prometida; é a fornalha da purificação.
Então, amemos o Bom Deus mais que a nós mesmos. Mas o que lhe faz sofrer são suas meditações
áridas acompanhadas do sono. É o frio de suas comunhões.
Continue sempre. E um belo dia, Nosso Senhor, contente de sua paciência, a ouvirá e mudará as
nuvens em chuva benfazeja.
Quando a você se encontrar neste estado de fragilidade, ao invés de querer refletir e considerar as
verdades, realize atos das virtudes de fé, de confiança, de humildade, de amor, como se estivesse bem
contente. Quanto mais frios e secos forem seus atos, mais perfeitos serão, porque eles serão
desprovidos de amor próprio.
A você faria bem, nestes momentos de aridez, escolha um capítulo da Imitação, semelhante a suas
distrações no momento e ler para que calmamente penetre sua alma; experimente meditá-los.
Para a santa comunhão, siga seus atos, quando não puder fazer melhor, mas minha filha, nunca a
acomodação da mente, nunca a violência do coração, isto só servirá para a agitação, fatigar sua alma
e tirá-la deste estado de paz e de recolhimento que vale mais que tudo. Seja com uma criancinha na
barca que o Bom Deus governa. Ao bom Deus o cuidado do dia de amanhã, a você cabe estar pronta
para realizar sua santa vontade.
Adeus querida filha, que Nosso Senhor seja sempre o centro de sua vida, sua alegria, seu Esposo [...].

A Stéphanie Gourd, 13 de fevereiro de 1852 (CO 330; II,385)

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13 - Servir a Deus pela fidelidade do amor

A senhora Franchet vive aquilo que vivem todos aqueles que fazem uma profunda experiência espiritual e
desejam, muitas vezes, que seu amor por Deus seja acompanhado de sentimentos positivos, de repouso e de
paz interior da alma. Quando isto não acontece, reclamam e ficam prisioneiros de um tipo de “sensualismo
espiritual”. Nesta carta o Padre Eymard revela o amor de que procura a si mesmo e indica o caminho para
avançar: servir a Deus com um amor fiel e não pela paz ou repouso da alma que podem resultar.

[...] Sua última carta me trouxe imenso prazer, foi uma das melhores que a senhora me escreveu, e
espero que a minha também a alegre.
O que faz a sua última carta? Ela pinta admiravelmente sua alma agonizante, sofredora, seus desejos,
suas necessidades. Em seguida a obra da graça na senhora; a atração divina se manifesta nela através
de suaves nuvens. Veja o que observei: o Bom Deus quer afastá-la, não do mundo, a senhora já está
afastada, mas de si mesma, deste sensualismo espiritual que devora seus bons propósitos e esteriliza
as imensas graças.
O coração sofre, ele não diz o bastante a Deus, e ao distanciar-se de Deus, ele não faz, senão aumentar
a ferida. Seu coração não sabe ainda amar sofrendo sozinho a Deus somente, contudo isto é o que
Nosso Senhor quer da senhora.
A senhora ama Deus, o temor de não amá-lo, faz com que pergunte muito às criaturas se a senhora o
ama e [aqueles são] 1 e quais as formas de amá-lo mais; há no fundo um amor que se procura. A
senhora tem a alma forte e repleta de grandes coisas; a senhora gostaria de trazer ao serviço de Deus
essas necessidades de seu coração; e o Bom Deus não quer os ímpetos, as violências, os generosos
sentimentos de seu coração, ele quer a fragilidade, o isolamento, o sofrimento, resumindo, a morte e
a vida.
O mal na senhora não está no espírito, na imaginação, nos sofrimentos exteriores, nos sofrimentos do
próximo, não, não... O mal está no coração, que tudo quer sacrificar, exceto o sentimento doce e suave
do amor divino.
Vamos! Minha cara irmã, dê a Nosso Senhor o lugar central, ele que já é o alicerce. É preciso
discrição; as condições do vencedor serão duras, aparentemente, mas magníficas e suaves para a
alma...
A conclusão prática: Servir a Deus por fidelidade de amor e não pela paz e repouso do amor. Servir
a Deus contra si mesma, seja seu grande prazer, sua grande consolação, seu mais vivo desejo de
agradá-lo nos estados de provação; a senhora sabe que o soldado é maior no campo de batalha, o
amor de sacrifício é maior do que o amor contemplativo.
Lembre-se de que Nosso Senhor paralisa as criaturas, a fim de forçá-la a ir até ele sozinha; nestas
provações, conte com Deus somente.
Veja minha querida irmã, que era preciso que sua alma fosse muito cara para mim, a ponto de lhe
dizer tudo isto.
Sim, ela me é cara! Ela está aos pés da cruz, mas eu a vejo, não sobrecarregada, não abatida, mas em
pé com a santa Virgem [cf. Jo 19,25], a fim de se aproximar mais de perto de seu divino filho. [...]

A Franchet, 16 de maio de 1852 (CO 357; II,415)

1
A concisão da expressão obscurece o sentido. Nossa interpretação supõe uma pontuação de Eymard depois de “criaturas”
(um ponto ou uma vírgula, sempre confundidas em Eymard que não faz o mesmo uso que nós.) O texto traz muito.

13
14 - Bem-aventurado por ter sido chamado a seguir o Cordeiro sem mancha

Stéphanie comunica ao Padre Eymard sua decisão de viver para o Cristo, com um coração sem divisões, como
seu único Esposo. O Padre se alegra: ela escolheu “a melhor parte”. Ela segue os passos e o exemplo de
muitas Virgens que consagraram suas vidas para o Cristo no início da Igreja. Jesus, diz padre Eymard, fará
com que ela prove as delícias de seu amor, come ele fez a Santa Catarina de Senna. As virtudes que devem
guiá-la nesta nova forma de vida são a fidelidade e a doçura.

Acabei de ler sua carta, minha cara filha; ela me consolou de um tão longo silêncio. Eu dizia a mim
mesmo: minhas filhas me esqueceram ou elas se encontram em grande sofrimento, eu não posso,
senão, rezar, é reconfortante saber que elas amam a Deus e o servem de todo coração e, sobretudo, a
você, minha cara filha!
Foi dito da casta amante do Salvador, que ela havia escolhido a melhor parte [Lc 10,42]; e a você
também, a você tem a melhor parte, o mais nobre Esposo, o mais perfeito e o mais amável; conserve-
o bem e seja sempre fiel; é a mais bela homenagem que a você poderia oferecer-lhe, a maior prova
de amor que poderia lhe dar. A você seria rica, segundo o mundo, teria belos partidos, a você dirá a
Nosso Senhor: Eu vos amo mais que tudo isto, meu coração não terá outro Mestre, outro Esposo,
outro Rei, a não ser vós.
Pense nos heroicos combates das virgens dos primeiros séculos da Igreja, a estas magnânimas virgens
romanas que se despojaram de seus bens, de seus títulos, da vida para não perder a aréola da
virgindade.
Não se deixe seduzir pela ternura ou pelas lágrimas; ninguém pode lhe pedir tamanho sacrifício, e em
nenhuma posição da vida, a você é obrigada a fazer isto. Não se deixe perturbar pelo bem aparente
ou real que a você poderia adquirir nesta posição... O melhor bem é seguir Jesus e a você é bem-
aventurada de ter sido chamada a seguir o Cordeiro sem mancha e a cantar um dia o cântico misterioso
[cf. Ap 14, 3-4].
A você é como Catarina de Senna; faça um santuário em seu coração e Jesus fará com que prove de
todas as delícias de seu amor.
A você é pobre! Louve a Deus; o pobre que quer entregar e entrega sua pobreza terá duas
recompensas. Contudo, quando a Divina Providência lhe der, receba com reconhecimento, fidelidade
e amor. Eis suas belas e amáveis virtudes.
Fidelidade a Deus, a suas divinas inspirações, sempre pronta a dizer com Samuel: Senhor, eis me
aqui. [1 Sam3,4]; com São Paulo: Senhor, o que queres que eu faça? [At 22,10]; com Nosso Senhor:
Meu coração está pronto, ó meu Deus, para cumprir vossa vontade. [cf. Lc 22,42].
Fidelidade para fazer o sacrifício interior, para aceitar aquilo que lhe é contrário e isto por amor a
Deus. Fidelidade em seus exercícios de piedade. Prefira fazê-lo com sua mamãe, isto valerá muito.
Mas entretenha seu coração com contínua ação de graças. Este modo de glorificar a Deus lhe tornará
os sacrifícios mais suaves, porque será uma oportunidade de provar a Deus seu amor.
Doçura, e doçura filial, não fraqueza. Você tudo pode em seu coração, porque é amada; mas quando
se trata do mérito de uma questão, dê uma resposta decisiva, mesmo que lhe custe. Quanto ao resto,
seja boa, atenciosa, gentil; um dia você precisará de seu amor para falar de Deus e da salvação. Se
Deus a faz esperar este milagre é porque lhe quer fazer um bem maior e a você ganhará mais. [...]

A Stéphanie Gourd, 18 de julho de 1852 (CO 366; II,427)

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15 - Eu permaneço em Jesus e Jesus permanece em mim

A Eucaristia foi a grande paixão da vida de Padre Eymard. Deus lhe concedeu o dom de penetrar nas
profundezas deste mistério, de compreender a força de transformação e de revelar a seus contemporâneos.
Nesta carta ele revela a intensidade e a fé que ele experimenta no momento da celebração da Eucaristia, que
o transforma progressivamente no Cristo: “Não sou eu que vivo em mim, é Jesus que vive em mim”. (Gl 2,20)
Ele partilha esta fé com a senhora Tholin-Bost, ela também fortemente atraída por este especial amor para
com o mistério da Eucaristia.

Eu venho, minha cara filha, expressar os meus votos, meus desejos aos pés de nosso divino Mestre,
oferenda que eu renovo todos os dias às 7 horas, quando tenho a honra e a felicidade de ser Jesus
Cristo Padre sobre o altar de amor e sobre o calvário místico. Eu peço a Jesus que reine e viva na
senhora com toda a plenitude de seu espírito e seu amor. Ah! Como o céu deve se alegrar, como a
santíssima Trindade deve escutar com complacência quando uma alma cristã grita: Não, não sou eu
que vivo, é Jesus que vive em mim [cf. Gl 2,20]. Sua verdade velada ou luminosa vive em meu espírito,
suas virtudes e seus sofrimentos ganham vida em minha imaginação; seu coração coroado de
espinhos, aberto pela lance, ardente de amor, seu coração divino absorve, penetra, anima meu
coração, os estigmas sagrados de seu corpo se imprimam em meu corpo como selo divino de sua
aliança eterna comigo. Sua vontade é a regra, a vida, o instinto de minha vontade. Eu permaneço em
Jesus e Jesus permanece em mim. [cf. Jo 15,4]
Sempre que houver lugar para o sofrimento, um sentimento, um desejo, uma afeição na senhora, ó
meu Deus, deixe-me no calvário da vida. Eu tenho o tempo para desfrutar, eu quero sofrer convosco,
eu não ouso dizer por vós; pois bem, por vós, ó fogo devorador e que tudo consome!
Eis aí minha filha o que devemos pedir a Nosso Senhor, para estar em sua graça e seu amor, peça-lhe
por mim. Oh! Como preciso! Eu sinto necessidade de dormir um pouco mais para me refazer, à noite,
algumas horas no dia. A alma sofre, ela se perde em uma vida muito exterior. [...]

A Tholin-Bost, 9 de fevereiro de 1853 (CO 400; II,464)

16 - Ter sua alma sempre nas mãos de Deus

Padre Eymard está nas águas da estação termal de Mont-Dore para convalescer. Ele continua a receber seu
correio e lá responde. Madame Joséphine Gourd lhe descreve o momento difícil que ela está prestes a viver
física e espiritualmente. O Padre Eymard dá prova de uma grande capacidade para compreender as situações,
grande sabedoria e equilíbrio, e lhe oferece conselhos: ele necessita de repouso para recuperar-se física e
espiritualmente, é preciso acolher Jesus como um amigo e como um esposo; será que ele que indicará o que
é preciso fazer para ultrapassar este momento difícil.

[...] Eu venho até a senhora, minha cara filha; estas insônias, este abatimento do espírito, esta pouca
memória, tudo denota um enfraquecimento de sua saúde; desta forma, quando puder, por obediência,
procure dormir um pouco, isto é essencial da vida física; faça como uma boa ação, mas seja fiel.
A santa missa, o caminho da cruz, o rosário, as orações vocais; mas mantenha sempre sua alma entre
as mãos de Deus, como uma criança à disposição amorosa de seu bom Pai e que lhe agradar em tudo.
Seja indiferente a todas as coisas e somente ame aquilo que Deus ame e só escolha aquilo que lhe dá
prazer.
A senhora é bem pobre, é verdade, bem miserável; o que fazer? É sua condição, como aquela do
pobre é mendigar e sofrer e, sobretudo, fazer as pazes com seus trapos e ter paz consigo mesmo. Faça
assim, e em meio a todo este cortejo de pobreza, mantenha a calma e um pouco da alegria da alma.
Veja como Nosso Senhor a ama, ele quer habitar em sua casa, não como na casa de Zaqueu, mas
como Maria sua divina Mãe. Ocupe-se deste bom mestre, como a senhora se ocuparia de uma amiga

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que iria visita-la, e isto ainda não seria o suficiente, ocupe-se de Jesus como o Esposo divino de seu
coração, e este pensamento tudo aquilo que deve ser feito. [...]

A Joséphine Gourd, 26 de agosto de 1855 (CO 525; II,584)

17 - Prepare-se para este santo estado (de casamento) como uma boa cristã

O Padre Eymard nutre uma profunda amizade pala família Jordan, especialmente a Natalie Jourdan. Sua
filha Mathilde comunica ao Padre Eymard seu noivado com Paul Giraud. Segundo os desígnios da
Providência, escreve-lhe o Padre Eymard, este encontro manifesta a vontade de Deus, traçando assim o
caminho que ele espera e excluindo os outros possíveis. Ele a convida a se preparar bem para este grande
passo e se dispor a viver o casamento como o caminho de santidade pensado por Deus para eles.

Eu recebi, somente ontem, sua charmosa carta. Eu louvei a Deus. Sua divina Providência a tudo
conduz para o seu bem maior, e para o bem de todos. O que me ocorreu foi a impressão desde o dia
em que tive a honra de ver a todos em Uriage. Eu rezei a Deus par que ele manifestasse a sua vontade
através da reconciliação. Tudo foi feito desta forma: que ele seja louvado!
Para você, não há necessidade de examinar o mérito da questão, mas sim, preparar-se para este santo
estado como uma boa cristã, rezando a santíssima Virgem, sua mãe, para prepara-la e o daquele que
o céu lhe escolheu [reze também] são José, o protetor e o modelo das famílias cristãs, mas, sobretudo
ao Arcanjo Rafael cuja missão junto a Tobias e Sara.
Quanto aos sofrimentos interiores, aos sentimentos espirituais da vida religiosa... Tudo isto não
passam de sofrimentos naturais e honram seu estado.
Mais tarde, eu lhe oferecerei alguns conselhos que poderão ser-lhe úteis e a tornará ainda mais feliz.
Que Deus a cumule de bênção!

A Mathilde Jordan, 5 de novembro de 1855 (CO 533; II,590)

18 - Uma esposa tem três deveres a cumprir

O Padre Eymard havia prometido a Mathilde de oferecer-lhe algumas reflexões e conselhos para viver
cristãmente seu casamento. O amor conjugal é abençoado por Deus e muitos esposos e esposas tornaram-se
santos e modelos de santidade para toda a Igreja. Ele relembra os três principais deveres de uma esposa: o
amor por Deus, o amor por seu esposo e o amor por sua própria casa. O Padre Eymard não esquece de
oferecer algumas sugestões para o bom funcionamento da casa, ele une a sabedoria do Evangelho àquela que
vem da experiência.

A você me concedeu a honra de me informar sobre seu casamento com o senhor seu primo. Eu louvei
a Deus de todo o meu coração. Desde Uriage, pareceu-me que Deus o desejava e eu tive a confiança
que sua divina Providência providenciaria todas as coisas.
A você, então, irá entrar neste santo estado do matrimônio. Entre com o pensamento de que Deus a
quer lá e com a confiança de que a você construirá santamente sua salvação. É a santidade que faz a
sublimidade do estado. Ó quantos santos o estado do matrimônio deu ao céu? E quão grandes e nobres
virtudes embelezaram suas vidas. Imite sua piedosa mãe. Copie suas virtudes e já terá dado um passo
para a perfeição deste estado diante de Deus e da Igreja.
A confiança que a você sempre me deu provas, e a afeição que tenho por sua querida família,
permitem-me oferecer-lhe alguns conselhos, conselhos que eu lhe havia prometido.
Uma esposa tem três deveres a cumprir: sua celestial coroa quer estas três florezinhas.

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A primeira deve ser para com Deus e para com a santa igreja. Desde seus primeiros dias em sua nova
posição, é preciso regrar os deveres de piedade cristã, a fidelidade as suas orações, aos sacramentos.
Quando uma jovem árvore é transplantada para um novo terreno, é preciso ser regada...
Sem dúvida, sua piedade não deve ser aquela de uma jovem pessoa livre de seus meios e ainda no
leito da devoção, ela deve ser uma piedade forte e esclarecida, uma piedade de virtude, onde o fim é
a santificação de seus deveres e regrados por eles.
Quanto aos sacramentos, a você não poderá participar com frequência devido a seus afazeres de casa,
visitas, mas quando tudo estiver calmo, em ordem, aproxime-se deste Deus de bondade, que é a
doçura e força da virtude, da vida e de felicidade de uma alma cristã.
Seu secundo desejo, o primeiro é para com Deus, é para com seu esposo que Deus lhe deu. Cerque-o
de estima, de afeição, de devotamento, eis o santo dever de uma esposa cristã. Se quiser que a amizade
seja feliz e duradoura, que o respeito e a estima, a doçura e a condescendência sejam como flores
abençoadas, tome como regra, que nunca falte o respeito e a caridade para com seu esposo, pois ele
deve ser sua glória e sua honra. Não creia jamais no que lhe disser uma língua satânica.
O terceiro dever é aquele do seu interior, de sua missão, se Deus lhe der filhos, de educa-los a você
mesma e sob seus olhos. Imite sua casa, dirija seus empregados, não deixe que eles a governem. É
preciso uma confiança cordial neles, mas nunca cega e absoluta. Observe seus deveres, mostre-lhes
o bem e o mal para que eles a sirvam com afeição e consciência. Será preciso acompanhar as despesas
da casa. É um erro quando os domésticos são os ecônomos de uma casa. Mas eu não entrarei nestes
detalhes. Sua mãe será mais hábil do que eu.
A você receberá e fará visitas: isto é certo. A cortesia e a conveniência bastam. Ame a sua casa e será
feliz. Uma esposa só tem um amigo, seu esposo.
Eu paro por aqui e prometo rezar muito pela você e por seu querido esposo que desejo conhecer
melhor e que já amo por todo o bem que se diz dele e que eu já o considero da mesma forma que a
sua família.
Que Deus a cubra com suas bênçãos! E que o céu ratifique tudo aquilo que a você deseja, em Jesus e
Maria.

A Mathilde Jordan, 3 dezembro 1855 (CO 536; II,593)

19 - O sol da verdade e do amor brilhará pela senhora

A senhora Franchet está em vias de atravessar provações interiores: ela crer ter perdido o amor de Deus. Na
verdade, as provações e os sofrimentos vividos tornaram mais forte a busca de Deus, mesmo se ela está
assustada por causa de seus sentimentos. “O sol da verdade e do amor brilhará pela senhora” responde-lhe
padre Eymard. É um convite para nós também, a reconhecer a presença de Deus mesmo nas dúvidas, na
aridez. A fadiga do caminho nos obriga a colocar algumas questões importantes e a encontrar as respostas.
Se nós acreditamos ter perdido o amor de Deus por nós ou em nós, isto indica que seu amor vive em nós e
Deus está prestes a fazer nascer em nós uma nova criatura.

[...] A senhora encontra-se em um mar assustador, sozinha, abandonada e a senhora tem medo, sua
pequena barca está agitada. O demônio e sua fraqueza lhe dizem: não pode escapar, tudo está perdido!
Oh não! Tudo não está perdido, a senhora não perecerá. Todas as suas violências e tempestades
interiores não destruíram ainda a necessidade de amar a Deus, ao contrário, elas o revelam, elas lhe
assustam. A senhora ama o Bom Deus, é certo. O Bom Deus a ama como sua filha, não pode duvidar.
Apenas ele a deixa um pouco mais de tempo no deserto, a fim de que experimente o antigo amor do
Egito, e para lhe fazer suspirar espiritualmente pela verdadeira terra prometida. Mas eu digo, sua
grande dor é não poder amar Deus como ele quer e a senhora tenta... Estas censuras interior a matam,
o mundo a atrai e a repugna, tudo o que a senhora ouve, lê, medita não basta para seu coração sofredor
e agonizante. Pois bem! Um pequeno retiro devolverá a paz, a ordem...

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Vamos Senhora, seria mal parar neste caminho, retome seu coração em suas mãos, reaproxime-se
humildemente de Nosso Senhor, suporte com paciência seus aparentes rigores.
O sol da verdade e doa amor brilhará pela senhora ainda mais. [...]

A Franchet, 22 a 23 junho 1856 (CO 596; III,40)

20 - Deixe o passado a sua bondade e santifique o presente

A destinatária desta carta reclama de uma doença que já dura muito tempo e que torna insensíveis seu corpo
e seu espírito; o Padre Eymard lhe sugere adorar as cruzes cotidianas, pequenas ou grandes, elas são
oportunidades que Deus lhe oferece para fortificá-la e fazê-la crescer no amor. É preciso deixar as lágrimas
e as tristezas no passado e santificar o momento presente. Em todas as situações é preciso ver a Providência
divina que toma conta de nós e nos alimenta através das mãos da caridade.

Estou respondendo prontamente sua carta minha cara filha. Eu fiquei aflito de saber que a senhora
está sofrendo, mas isto porque Deus quer, adore esta pequena cruz ou esta grande cruz, que seu amor
lhe oferece a fim de torná-la maior em seu amor e no céu.
Veja em tudo a divina Providência que lhe alimenta através das mãos da divina caridade. Eu
compreendo que a natureza sofre por estar à disposição da caridade, mas sua piedade e seu amor de
Deus tornarão esta aparente humilhação aparente, gloriosa e amável. Assim, minha cara filha, nada
de lágrimas ou tristezas, é Deus que quer assim e a senhora será agradável a seus olhos. Deixe o
passado a sua bondade e santifique bem o presente. A vida passa rápido e quando ela passou por
Deus, o presente é mais doce e futuro mais bonito. Coragem, então e confiança...
Reze sempre por mim. Eu sou agradecido por isto, pois eu necessito muito.
Que Deus a abençoe, a console e fortifique.
Tudo por Nosso Senhor.

A Giguet, 20 julho 1856 (CO 610; III,57)

21 - Que sua divina bondade aperfeiçoe em nós aquilo que começou

Stéphanie vive um momento delicado no discernimento de sua vocação; o Padre Eymard a exorta a bem
interpretar seus próprios sentimentos e aqueles que, aparentemente bons, possam influenciar a liberdade de
suas escolhas. Esta jovem moça, finalmente, resolveu seu dilema interior entre escolher o amor por Jesus à
proposta de um homem e ao amor próprio. O Padre Eymard expressa o desejo de são Paulo aos Filipenses:
que o Senhor a preencha de alegria e que aperfeiçoe nela a obra começada. Diante de sua saúde frágil, ele a
convida a encontrar um bom equilíbrio entre trabalho, oração e repouso. É para nós um encorajamento para
viver a verdade em nós e ao redor de nós sem perder de vista o amor de Deus.

Que Deus seja bendito e glorificado para sempre, querida filha, da vitória que ele a concedeu em sua
divina misericórdia. Este dia foi belo no céu, amável Jesus, seu divino Esposo. A você começou a
compor seu dote em seu coração e como eu lhe disse, é doce para alma poder dizer a Jesus: eu vos
amei e vos amo mais que toda criatura e mais do que a mim mesma.
A graça que Nosso Senhor lhe concedeu me encheu de alegria e de consolação; que sua divina
bondade aperfeiçoe na você aquilo que tão bem começou [cf. Fl 1,6]
Despreza todo retorno, evite qualquer exame, abstenha-se mesmo em suas orações da consideração
dessa pessoa. Junte-a com todos os outros e a esqueça se possível. Se a você se confiar a Deus
pensando somente nele, Deus se lembrará disso.

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O que está feito, está feito, abandone-se a Deus. Mas, querida filha, deixe-me lhe dizer com
simplicidade: aprecie as graças e as virtudes de Jesus Cristo nos homens, mas sem permitir ao seu
coração muito humano de contemplá-los e muito menos se apegar.
Desconfie dos homens piedosos que podem esconder um objetivo particular e outros interesses. A
cortesia, as boas maneiras, a piedade podem ser o meio de ganhar a estima, a confiança para ir mais
além como a você viu acontecer.
Guarde em sua alma esta grande máxima: que uma virgem cristã não deve procurar fazer a felicidade
de uma criatura estrangeira, ela deve deixar sem pena, sofrer os corações terrenos que querem
dominá-la e tirar-lhe sua coroa. Ó minha querida filha, quantas pessoas, eu vi, de coração sensível,
espírito elevado, vontade generosa que se tornaram escravas por medo de ferir, se tornaram culpados
de uma maneira passiva e depois livre e voluntariamente. Para você querida filha, seja ciumenta de
seu coração, um Deus a quer só e inteiramente.
Quanto a sua saúde, durma o necessário. Seja vigilante durante o dia com seus exercícios e deveres,
a fim de que a noite, na hora de descansar, esteja livre.
Extraordinariamente, pode-se passar um dia com menos, mas é melhor substituir o que falta; mas na
balança do sono ou da meditação, o que escolher? Se o corpo estiver cansado e a alma desmoronada,
é melhor escolher o repouso; se for apenas um pequeno mal-estar que a atividade seja facilmente
dissipada, é necessário tentar a ação.
Suporte-se miserável, pobre, estéril, é seu estado, mas seja e doe-se a Deus sem cessar, é sua riqueza.
Faça seus exercícios espirituais para agradar a Deus, é tudo.
Adeus, boa filha, reze sempre pelo pequeno grão de mostarda [cf. Lc 13,19] semeado na terra a fim
de que ele germine nas bênçãos celestes, e creia sempre em Nosso Senhor.

A Stéphanie Gourd, 5 agosto 1856 (CO 613; III,60)

22 - Para a obra de Deus as provas são uma graça

Na amizade é importante saber comunicar os frutos que a fé produz em nós. Com a senhora Jordan, com a
qual mantém uma longa amizade e de quem é diretor espiritual, o Padre Eymard partilha os desafios que está
enfrentando como fundador. Para a obra de Deus, a prova e a desilusão são benéficas, porque nos obrigam
a fundamentar o nosso agir unicamente nele. Reconhece, portanto, a intervenção do Senhor nas dificuldades
que está enfrentando a pequena Congregação do SS. Sacramento, nascida há pouco. Esta é como o grão de
trigo sepultado na tumba com Cristo, assim não se sabe quando e como o Senhor o fará germinar, ele está
certo de que \Deus o fecundará e abençoará.

Senhora e caríssima irmã em Nosso Senhor, a verdadeira amizade não está ligada nem à forma, nem
às circunstâncias da vida: essa é uma e sempre a mesma em Deus e por Deus. Por isto não me passou
nunca pela cabeça colocar a sua amizade entre aquelas não importantes.
Para a obra de Deus a prova e, sobretudo, a desilusão são uma graça; a glória de Deus entra em jogo
e a pobre humanidade só mostra a sua pobreza, a sua miséria e o seu nada. Como é bom apoiar-se
somente em Deus e em ninguém mais que nele. Nós não somos dignos deste favor, mas vocês têm
sido almas amigas e santas que nos ajudam, favorecendo à Divina Providência, mas aquelas que nos
provaram são uma graça de luz, de santa liberdade e de grande abandono em Deus.
São Paulo dizia aos primeiros cristãos perseguidos: “Não combateram ainda até o sangue” [Hb,
12,14]. Como estamos longe dos apóstolos e do grande alma de Jesus!
Todavia Nosso Senhor nos concede uma grande graça, a de amar a nossa solidão e a nossa vida
escondida, soterrada como Jesus no sepulcro e o grão de trigo. [cf. Jo 12,24].
São Francisco de Sales disse à Santa Giovana de Chantal quando decidiu fundar a congregação da
visitação: “Não vejo uma brecha para obra, mas estou certo de que Deus a deseja”. Eu posso dizer a
mesma coisa: não sei quando esta pequena semente germinará e se tornará fecunda e quando as boas
vocações virão, mas estou convencido de que um dia Deus abençoará.

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Reze muito por nós, cara irmã, também nós fazemos de bom grado pela senhora, pois está sempre
voltada para a glória de Deus e para a caridade ao próximo. [...]
Tivemos já algumas celebrações promissoras: dois batismos de adultos e algumas primeiras
comunhões. Todo os dias, damos um passo a diante para o objetivo; por isto só agradeço a Deus.

A Natalie Jordan, 28 novembro 1856 (CO 641; III,89)

23 - Ir a Deus através do deserto e do sacrifício

O Padre Eymard oferece conselhos práticos e para a vida espiritual de Stéphanie, que escolheu se consagrar
ao Senhor, permanecendo em família. Ela deve ter uma caridade especial para com sua mãe idosa. Exorta-a
a aceitar serenamente a própria família humana e a seguir sempre adiante, porque o Senhor nos atrai para
si e nos guia também através do deserto de nossa fragilidade. Portanto, compreensão e caridade para com a
pessoa idosa, mas também cuidado de si mesma.

Seja o anjo da guarda de sua boa mãe, irmã de caridade, médico, enfim, seja amiga e filha afetuosa.
Esteja sempre atenta às necessidades dela. Mas é indispensável que a querida mamãe lhe obedeça.
Na hora de ir ao leito, retire-lhe o acento, se hora de tomar o medicamento, interrompa os afazeres e
visitas se possível: a mamãe primeiro que tudo. Mas seja muito gentil, previdente, amável e esta é a
flor da caridade, e o bálsamo da verdadeira virtude.
Quanto a esta proximidade, não importa; a você está agora curada e pode ver, analisar, formar uma
opinião. E seja grata ao bom Jesus por tê-la conservado para seu amável serviço.
Quando a caridade a chama para ajudar aos pais, Jesus quer que se encontre lá e lá permaneça
contente. Mas como seu coração e seu pensamento dependem da você, dirija-se de tempos em tempos
e sempre ao divino tabernáculo.
A distração, a esterilidade... considere como doença natural e tenha coragem para continuar. E o bom
Deus que deste modo quer obrigá-la a ir até ele através do deserto e do sacrifício. É o caminho certo.
Quanto a cantoria, seria melhor evitar devido a sua garganta, mas se a distrai, torna-se uma recreação.
Grato pelas felicidades cristãs e eucarísticas. Seja sempre toda de Deus. Dê tudo pelo tudo, no geral
ou no particular: este é o meu desejo para a você cara filha.

A Sthéphanie Gourd, 25 janeiro 1857 (CO 649; III,100)

24 - Virá também este lindo dia para a senhora

Com muita ternura, o Padre Eymard exprime à senhora Tholin-Bost a sua proximidade por ocasião
da morte de sua mãe. Uma ligação profunda os unia. Sua mãe morreu no Senhor, cabe a nós
prepararmo-nos para o encontro com o Senhor. A lembrança de nossos caros defuntos é iluminada
pela esperança e pela certeza de revê-los e reencontrá-los em Deus. Como o Cristo, também nós
somos chamados a passar do calvário para a ressurreição.

Ainda sobre o calvário, cara filha, e um calvário muito doloroso e triste. Sua querida mamãe morreu
entre seus braços, esta doce mamãe, objeto de todo o seu afeto, que merecia tanto títulos. Ela morreu
como uma boa cristã na graça e no amor de Deus, assistida por sua dileta filha e pelo conforto da
religião, morreu em paz na alegria do Senhor. Que grande conforto, que grande esperança! Depois
do calvário vem a ressurreição e a ascensão de Jesus. O seu espírito, pobre filha, seguiu a boa mãe no
caminho do amor e o fez de propósito; tereis um encontro no céu. Neste belo dia, reunirá também
para ela, quando a terra recuperando a terra e a morte sua parte, Jesus vai unir eternamente em sua
glória, em sua vida, a ele mesmo. É necessário, no entanto, esperar um pouco ainda, é necessário

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sofrer ainda, amar com o holocausto de si mesmo e fazer conhecer, amar e servir Jesus com a loucura
da cruz e do amor.
Uno-me a sua oração por sua ótima mãe, mas também por sua saúde ou melhor de sua fraqueza.

A Tholin-Bost, 17 feveriro1857 (CO 662; III,111)

25 - Viver a cruz em união com Jesus Cristo

A senhora Matagrin vive um momento de profunda tristeza pela doença de seu pai, a qual dedica agora toda
sua energia. O Padre Eymard a encoraja a levar sua cruz em união com Jesus Cristo e a encontrar sua
consolação nesta dedicação ao pai, encontrando assim a cura a nível corporal e espiritual, só para a glória
de Deus. Nas provações da vida a luz nos vem da participação na cruz de Cristo e a consolação de viver,
mesmo no momento da cruz – com a sua mesma caridade e misericórdia.

Soube que está vivendo um momento muito triste, porque o seu bom e querido papai está muito
doente. Recomendei ambos a Nosso Senhor, porque compreendo quanto esta cruz é pesada e
dolorosa. Seja forte, querida filha, seja grande na cruz com Nosso Senhor. É o momento de beijar sua
adorável mão em seus desígnios, no tempo da provação como no tempo da consolação.
Que sorte para seu pai, poder ter a sua presença ao redor dele e receber da senhora a assistência
espiritual e corporal! A senhora será duplamente premiada por ter curado seu pai. Pense em sua alma,
no paraíso. Eu sei que a senhora o fez, mas se Deus quiser para si esta bela alma, orne-a, ame-a para
a glória de Deus. Hoje iniciaremos uma novena pela recuperação dele, se for para o bem da alma, e
para a senhora, cara filha, para que Deus a sustente e a console nestes dias de sofrimento e de dor.
Como estamos próximo, ajudarei a carregar a cruz. De qualquer modo, rezemos muito.

A Fanny Matagrin, 29 outubro 1857 (CO 713; III,158)

26 - Deus é vida

Na família da senhora Grandville ocorreu a morte de uma criança. A morte escreve Padre Eymard é contrária
ao amor, todavia, mesmo diante do túmulo se abre o céu luminoso da fé. É a partir desta consoladora certeza
que nós podemos viver no Senhor a comunhão de vida com todos aqueles que nos foram caros, reencontrar
filhos e amigos, porque Deus é a vida eterna. Na adorável Eucaristia Jesus está conosco e antecipa na terra
o Paraíso da comunhão com ele e com os nossos queridos. Guia-nos no caminho para o céu como a nuvem e
a coluna de fogo guardaram os hebreus no deserto.

Recebi, antes de deixar Paris, a dolorosa e edificante notícia da morte de seu anjinho, que Deus veio
buscar porque era digno do paraíso, o companheiro de seu bom pai. Sim, as lágrimas sobre um túmulo
são sempre amargas, pois a morte é algo triste e que se opõe ao amor. Mas o céu sobre um túmulo é
algo celeste, consolador e atraente. Viver no seio de Deus é reencontrar lá os filhos, os amigos. Deus
é a vida e a felicidade da vida. Esta morte entristeceu a mãe, compreendo bem. A Virgem
experimentou estes dois sentimentos no Calvário e no sepulcro, um faz a virtude do outro. Oh! Se
nós não tivéssemos aqui em baixo a adorável Eucaristia, Emanuel, Jesus conosco, a terra seria muito
triste, a vida muito dura e o tempo demasiado longo. Devemos agradecer a bondade de Deus por nos
ter deixado este paraíso de amor, este Jesus velado, esta coluna de nuvem e de fogo no deserto.
Um sentimento piedoso expresso pelo Papa João XXII diz que a almas dos justos fazem o seu paraíso
ao redor de Jesus no SS. Sacramento, formando a sua corte. Seu anjinho permanecerá na paróquia
onde morreu e ao lado de sua querida mãe e da senhora ele será feliz. Que pensamento consolador!
Apresente, por favor, minhas condolências a esta mãe, pela qual rezo com todo o coração.

A Antoinette de Grandville, 12 junho 1859 (CO 836; III,287)

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27 - O reino interior de Deus no homem

Até mesmo as férias podem representar uma grande oportunidade para reencontrar a si mesmo, para meditar
a santa Escritura e a viver mais intensamente a comunhão com o Senhor. O Padre Eymard traça para Natalie
um belo percurso espiritual. Utilizando-se de muitas referências bíblicas ele a exorta a aprofundar a própria
relação com Deus e a deixar-se transformar sempre mais em seu amor. “Comece por viver com Deus e com
Deus nela porque Jesus disse: ”Se uma alma observa a minha palavra, meu Pai a amará e nós viremos a ela
e permaneceremos nela” (Jo 14,23)”.

A você pediu para adiar para depois das férias o relatório de seus projetos, de seus desejos e projetos.
Espero que até novembro me envie algumas flores desta bela árvore!
Aprecio seu estado presente, o caminho traçado, o apostolado do exemplo, uma vida em Deus mais
constante. A você faz bem. Comece a viver com Deus e com Deus em si porque Jesus disse : “ Se
uma alma observa a minha palavra, meu Pai a amará e nós viremos a ela e faremos morada nela” [Jo
14,23] E disse ainda: “ Quem me ama será amado pelo meu pai e eu também o amarei e me
manifestarei nele” [Jo 14,21]
Um dia disse aos seus apóstolos fatigados pelo ministério: “Venham descansar um pouco em um local
afastado” [Mc 6,31]. São Lucas recorda que mesmo Nosso Senhor se retirava sozinho na montanha
para rezar toda a noite.
O Espírito Santo nos salmos diz pela boca de Davi: “Escutarei o que diz Deus, o Senhor dentro de
mim” [Sl 85,9].
Relembro tudo isto querida filha para dizer-lhe: continue a cultivar a vida interior, viva sua vida
interior, domine-se, concentre-se do exterior para o interior, esqueça este mundo. Em suma, retire-se
com Jesus para dentro de seu próprio coração onde ele inspira sua alma e fala a linguagem interior
que só o amor escuta e entende. É dentro de nós que o Espírito Santo reza e geme através de gemidos
de amor inenarráveis [cf. Rm 8,26]. O Reino de Deus de que tanto se fala nas sagradas Escrituras é o
reino interior de Deus no homem, quando ele reina na inteligência com a fé, no coração com amor,
no corpo com a mortificação das paixões.
Comporte-se com Jesus como faz com um hóspede amigo, amado, soberano. Não o deixe muito só,
encontre uma forma de trocar com ele uma palavra em meio às ocupações, de oferecer-lhe um buquê
de amor e agora o bom Mestre permanecerá a vontade consigo e a esperará com alegria.
Esteja disponível para com todos que venham visita-la durante as férias; seja cordial e afável no doar-
se, também no sacrifício sem retorno a si mesma, e ainda no encontro com os amigos aos quase
procurará conduzi-los para o bom Mestre. É desejável que empenhe-se de coração para com estas
boas almas para que se elevem ao alto.
Nós sempre vivemos a mesma vida, e experimentamos a mesma felicidade. A partir do momento em
que a você experimentou, sabe bem que nada é mais desejável na terra que os corações puros,
generosos e separados de tudo que não seja Deus.

A Natalie Jordan, 19 agosto 1859 (CO 861; III,313)

28 - Doar-se àquele que tudo doou

A nova Congregação das Servas do Santíssimo Sacramento, fundada por Padre Eymard tem poucos meses de
vida. Por ocasião da festa da Apresentação de Maria no Templo, escreve-lhes esta carta para que a
consagração delas se torne sempre mais uma oferta pura do próprio espírito, do próprio coração, da própria
vontade, do próprio corpo. O segredo da consagração está na doação total a Ele que se doou primeiro e que
continua a se doar na Eucaristia. E assim, Cristo se torna Mestre, Rei, Esposo de vida.

Queridas filhas, apresentei-as a Nosso Senhor juntamente com a Virgem, a fim de que como ela,
tornem-se boas e fiéis servas de Jesus.

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Ofertei o seus espíritos para que sejam um com o espírito de Jesus, doce e humilde de coração como
o bom Mestre, simples e reto como sua verdade, recolhidas a seus pés como a Madalena para escutá-
lo e acolher com alegria a sua palavra, guardada com respeito e com reconhecimento, nutrindo suas
almas com faria a Virgem.
Ofertei o seus corações, de modo que somente o Senhor, rei e o único esposo, reine para sempre.
Ofertei as suas vontades, para que aceitem alegremente a dele, desejando unicamente servi-lo, e
encontrando a única felicidade em fazê-lo.
Ofertei o seus corpos, para que sejam como vítimas santas, vivas e agradáveis aos olhos dele, com a
modéstia e a mortificação dos sentidos.
Deste modo, com uma piedade e um amor sem condições e sem medidas, ofereceu-se a Mãe divina.
Como ela foi agradável a Deus! Como se tornou um sacrifício de suave perfume!
Doem-se definitivamente e inteiramente a Jesus, minhas caras filhas, e serão verdadeiras servas do
SS. Sacramento. O dom de si é a única prova de amor genuíno e tudo aquilo que Deus exige. Ele
disse: “Filho meu, dá-me o teu coração” [cf. Pr 23,26]. “Tu amarás o Senhor teu Deus com todo teu
coração, com toda a tua alma e com toda a tua força” [Dt 6,5]: eis o primeiro e o maior dos
mandamentos, que está na base de nossa vida e de todo o nosso fim, de um modo ou de outro.
O que é mais doce que doar-se a Jesus como ele se doou a todos nós?
Porque somos assim inconstantes, miseráveis e ingratos para com o bom Mestre? Ele só nos pede o
dom de nós mesmos para nos tornar felizes e para poder se doar a nós.
Que podemos fazer a nossa natureza se não santificá-la e divinizá-la em Jesus? Sei que é fácil doar-
se a Jesus em geral, custa sim imolar-se todo dia para sua glória e fazer morrer a cada instante a
própria vontade por seu amor, mas porque nos custa muito é que nos tornamos verdadeiros
adoradores.
Queridas filhas, lembrem-se sempre que no passado foram muito generosas com parentes e amigos e
ainda mais consigo mesmas; por isso quando algo lhes custar muito, repitam: “Não faço para Jesus o
que faço para o mundo e para minha satisfação?”.
Examinem-se sempre para identificar em vocês aquilo que não foi dado a Jesus, aquilo que ainda não
pertence a ele e restituir ao bom Mestre o amor que lhes deu.
Considerem-se ignorantes, estrangeiras, miseráveis até que Jesus no SS. Sacramento seja o único
bem, o único prazer, a única alegria, porque ele não as tem inteiramente. Ele não reina soberano em
vocês. Ah! Se pertencêssemos inteiramente a Jesus, ele seria o pensamento fixo de nosso coração, e
o único modelo de nossa vida. Só então, nossa vida será bela, doce e forte! Será a mesma vida de
Jesus.
Aqui [em Marselha] nós procuramos propagar o fogo de Jesus e já contamos com um grande número
de agregados.

Às Servas do Santíssimo Sacramento, 21 novembro 1859 (CO 894; III,344)

29 - O livro do amor divino

Esta carta aborda um tema muito caro a Padre Eymard: a beleza da montanha e do céu é um convite para
contemplar a proximidade de Deus mesmo, é o livro do amor do Criador pela criatura; todos os outros livros
reconduzem a esta única fonte. A luz que emana da natureza é a chave para compreender a criatura e a Deus.

Invejei as suas belas e encantadoras montanhas, estas escadas que conduzem ao céu. Do alto dos
montes o céu é mais belo e a alma mais próxima a Deus.
A você leu muitos belos livros, mas há um excelente e sempre novo, aquele que Deus escreveu em
cada planta e em cada grão de areia e dentro de si mesma. É o livro do amor divino. Honre este livro
estupendo e acrescente algumas páginas de admiração e reconhecimento. Leia nele todos os outros
livros e os interprete a sua luz, e terá em mãos, as chaves do conhecimento das criaturas e de Deus
mesmo.
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Se soubesse o quanto Deus a ama, seria orgulhosa, quase arrogante. Se conhecesse a sua graça pessoal
quanto seria rica! Vamos filha querida, nada de choro ou de se rastejar no seguimento de um rei tão
bom como o rei do amor, Jesus.
À medida que a prisão tomba em ruínas, o prisioneiro deve se alegrar porque sua reclusão está
próxima do fim. Mas procure não chegar antes de mim ao Pai Celeste. Ajude-me, pois devo ainda
fazer muitas coisas.

A Natalie Jordan, 19 julho 1860 (CO 971; III,416)

30 - O coração de Jesus torna-se a nossa morada

A destinatária desta carta inicia, com a tomada do hábito, o caminho que a conduzirá definitivamente no
serviço de Deus e do próximo através da vida consagrada. A vocação religiosa é um dom, uma graça que com
a profissão religiosa se torna um estado de vida permanente. O Padre Eymard encoraja a ir. Jenny a seguir
a voz do Senhor com confiança. Ele amadurecerá aquilo que começou e introduzirá no coração, onde
encontrou aceitação e cumprimento, o amor por Deus e a caridade para com o próximo.

Querida irmã em Nosso Senhor, agradeço tardiamente a sua carta e alegro-me com a grande graça de
sua vocação e de sua tomada de hábito. O acontecimento me encheu de prazer, um prazer que será
maior ainda quando receber a graça completa e perpétua da profissão religiosa.
A você escolheu a melhor parte, minha boa irmã, porque uniu as duas vidas de Jesus, as duas mãos
do amor, as duas graças da perfeição. Deus seja mil vezes bendito e agradecido.
E como Deus sempre quer completar aquilo que começou com bondade, tenha confiança no futuro.
Além do mais, nada tem a desejar mais, pois tem a Eucaristia e o cenáculo, o apostolado e o amor.
Permaneça fiel a esta boa e amável graça, cresça na humildade e na morte de Jesus para chegar à
porta de seu divino coração. Qual coração não se abre, senão com a morte de nós mesmos, ajudada
por nós mesmos. Mas a lança que deve abrir este coração é uma flecha, mas uma flecha como aquela
de santa Teresa e de santa Juliana que fere o coração de Jesus e o abre para que possamos entrar; que
ele seja sua morada.

À irmã Jenny Gaudioz, 31 dezembro 1860 (CO 1008; III,448)

31 - Deus nos ajuda na luta

A senhora Chanuet, viúva, com filhos encaminhados na vida (Michel entrou na Congregação do SS
Sacramento) e agora deseja consagrar-se ao Senhor através das Servas do SS Sacramento. Mas, em seu
coração havia dúvidas e resistências. O Padre Eymard a exorta a procurar unicamente a vontade do Senhor.
Ele a conhece há muitos anos, a encoraja e lhe conta sobre sua experiência, as interrogações, o sofrimento e
as dúvidas quando deveria deixar os Maristas para fundar a sua nova Congregação. Relembra que se as suas
vocações são diversas, elas têm em comum o mesmo objetivo: seguir Jesus Cristo.

Enfim, eis-me aqui! Mas como é possível acontecer? Não sei dizer, mas certamente o meu silêncio
não me deixou mudo diante de Nosso Senhor e o seu pensamento e o seu sacrifício estão sempre
presentes. O que me faz concluir que é uma coisa boa, muito boa diante do Senhor.
O que a senhora prova, experimenta-o todos aqueles que experimentam todos aqueles que procuram
e desejam só a Deus. A sua vontade é muito atraente, mas não totalmente clara para procurar paz e
confiança. Em alguns momentos de graça tudo é radiante, belo, sedutor, mas depois sobrevêm os
sofrimentos, a ansiedade e por fim a agitação: temor, medo, tudo se revela. É o jardim das Oliveiras
do sacrifício.

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Oh! Quanto eu sofri desde estado! Não tanto pelas dúvidas sobre a vocação, mas pela minha
indignidade e pela minha presunção. Pedia para morrer antes de ir contra a vontade de Deus. Mas
Deus vem em nosso auxílio neste estado de luta. No próprio íntimo há uma força potente, superior a
habitual. Depois no momento da graça, esquece-se o que se sofreu, ama-se, deseja-se o sacrifício,
aceita-se tudo e se quer tudo como Deus quer e porque ele quer.
É necessário, no entanto, não abrir a porta para a dúvida, para a ideia de que uma vida vale outra, e
orientar o próprio coração para aquilo que há de mais perfeito e de mais glorioso para Nosso Senhor.
A indiferença é o início da infidelidade. Deus guarda!
Quando pensamento, boa mamãe, se voltar para os filhos que abandona com a emoção que
acompanha, faça um buquê de flores. Pense em Abraão, na Virgem, em Nosso Senhor.
Quando a dificuldade vier, sacrificando a sua liberdade, suas comodidades, cante aleluia mesmo que
seja quaresma, é a vítima de agradável odor, o verdadeiro Isaac. Quanto maior o sacrifício, Maior a
vitória.
Deseja vir logo, venha à sombra da palmeira divina que nutre e protege a alma que está solitária a
sombra de seus pés. Fora da grande caminhada de Nosso Senhor, só existem vocações passageiras.
Esteja sempre, ao menos com o coração, com o espírito, com a vida; em sua casa estará como em
missão, realizando um serviço provisório.

A Camille Chanuet, 6 março 1862 (CO 1101; III,531)

32 - Feliz a alma que é do Senhor

Esta carta retoma o tema da anterior. Novamente o Padre Eymard partilha com a senhora Chanuet a sua
experiência pessoal. Sentia-se indigno do chamado do Senhor para a vocação Eucarística e viveu uma luta
interior que perdurou cinco anos. Os conselhos que lhe dá revelam a sua dimensão espiritual e sua grande
humanidade. Anuncia-lhe as mudanças que a sua escolha provocará em sua relação com sua filha Émilie e
Marguerite e com os filhos Michele Amédée. Seguir o chamado do Senhor é como um martírio e exige o dom
total de si.

Venho dizer-lhe uma palavrinha sobre o prazer que me trouxe as suas cartas. A senhora compreende
a grandeza do dom da graça que Nosso Senhor quis fazer em sua vida, apesar de se reconhecer
indigna; com efeito, quem é digno da vocação eucarística? pela qual se vive a vida dos anjos,
permanece-se com a adorável pessoa de Nosso Senhor, torna-se dele seu pela imolação de mim. Oh!
Como eu tive medo de ser indigno desta graça, quanto a desejava! Quanto temia ser rejeitado por
Deus! Cinco anos se passaram assim, em meio ao medo uma grande alegria interior. A atração
eucarística tornou-se uma força sobrenatural que me fez compreender a felicidade de experimentá-la
e caminhada para as cruzes: era este o pensamento: só fazemos uma vez na vida este sacrifício de
deixar tudo, é preciso fazê-lo bem, vale o martírio, é o Batismo do amor. Oh! feliz a alma que se doa
a Nosso senhor e nada mais a não ser ele! É justo, uma serva se doa ao serviço, uma esposa ao esposo,
uma adoradora a Deus da Eucaristia que será o bom Mestre, um grande Rei, um divino esposo.
Como a senhora é feliz, boa mãe de fechar-se para a vida terrena através do sacrifício do amor! De
viver aos pés de Jesus, depois de ter servido a ele no próximo. A cada um o seu tempo.
Conforta-me em ver suas boas filhas, apesar da dor e das perdas que a sua partida ocasionará a este
pobre coração, entrar na graça e na glória de Nosso Senhor, de se doar a ele, de oferecer-lhe tão
grande sacrifício. Elas receberão, ainda neste mundo, o cêntuplo [cf. Mt 19,29] o que a senhora
receberá, pois pode-se dizer que o sacrifício delas é maior do que o da senhora.
Pobre Émilie! * Eu compreendo suas lágrimas, sua dor, ela é tão boa filha, se ela é tão boa mãe! Mas
seu coração a seguirá e se tornará ainda mais religiosos. Daqui a senhora lhes será muito útil, pois ela
lhe verá e seu irmão Michel. Oh! não ela não perderá nada, ela sempre terá os dois.

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A boa senhora Marguerite também vê o Bom Deus e o bendiz em tudo, ela tem razão. Nosso Senhor,
porque ela o ama, ele a recompensará por este imenso sacrifício. Ele lhe mostrará a grandeza de seu
amor. Ela cresceu e agora sabe onde alcançar força e luz, na comunhão.
E o bom Amédée? Este é o que mais perde, ou melhor, o que mais ganhará, pois compreendo o vazio
que a senhora deixará para a senhora Blanche que deverá lhe substituir. Mas virão vê-la e a
encontrarão aqui aos pés do santíssimo Sacramento, seu pensamento não poderá separar-se de seu
bom Mestre; amando a mãe, adorará o divino Rei a quem ela serve. Sua lembrança será uma missão
perpétua no meio dos seus.
Então boa mãe, Páscoa se aproxima, o belo dia do amor, das núpcias eucarísticas da entrada no Paraíso
de Jesus. [...]
* Émilie, Michel, Marguerite são os filhos da Sra. Chaunet

A Camille Chanuet, 2 abril 1882 (CO 1111; III,539)

33 - A Eucaristia! Eis o centro, a vida e a morte

Marie, filha da condessa de Fégely de Vivy (suíça), é uma leiga que vive uma intensa vida eucarística. Ela é
engajada também nas obras de caridade. O Padre Eymard lhe fala da força que vem da Eucaristia e que é
capaz de plasmar naqueles que se deixam atrair pelo amor de Deus. Ele a encoraja a viver este amor, que
ilumina toda a sua existência; ele a exorta também a não ter medo de fazer do Senhor e do amor por ele um
amor exclusivo e nupcial, se isto corresponder à vontade de Deus. O amor pelo próximo é autêntico se deixar
o primeiro lugar para a glória de Deus.

[...] Ame-o [Nosso Senhor], sirva-o realmente, este bom Rei e divino Esposo de seu coração! Não é
justo que ele tenha alguma alma que o mundo considere grande e deseje conquistar...
Gostaria que ele tivesse a mais bela coroa do mundo, a mais rica sorte nupcial, e vê-la como é, toda
de Jesus, Rei do amor e a você sua serva real e esposa eterna. Jesus, bom Mestre, tem poucas almas
escolhidas, poucas servas reais! É preciso que a você valha por mil e o sirva por dez mil, através de
uma fervorosa e generosa piedade eucarística.
A Eucaristia! Eis, boa senhorita o seu centro, sua vida, sua morte. É o Emanuel presente pessoalmente;
é preciso ser sua companhia fiel. Ame a vida por causa da divina Eucaristia, assim como amamos o
céu por Deus e não por si.
Que seu amor divino seja o critério da lei, da virtude, da caridade e, sobretudo, o critério divino para
julgar, estimar, desprezar, desejar, combater em conformidade com sua graça de amor. Sim seja pura
da pureza dos raios do sol, pois todos os dias o divino sol se levanta na você. Os raios do céu iluminam
a lama como as flores, mas não se contamina. Eles não se unem à infecção, nem as trevas, mas as
dissipa. Partem todos da mesma fonte.
Assim devem ser os raios luminosos de sua pureza. Que parta do sol da verdade e do amor de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Que não haja nuvem, nem obstáculos enquanto se dirige para si e para os outros.
Que seja visível como os raios, mas não tangíveis, para que ninguém possa contaminá-la com o toque
impuro ou imperfeito.
É o raio que faz reluzir a beleza das flores. Que a pureza seja a beleza e a bondade de todas as virtudes.
Oh! Sim, seja bem pura, pois Deus só se une à pureza, e segundo o grau de pureza, como a afinidade
entre dois corpos. Não seja orgulhosa, mas zelosa desta pureza, que é a mais bela coroa do amor
divino.
Todas as ameaças do demônio como do mundo são dirigidas contra a pureza de uma esposa de Nosso
Senhor.
A você encontrará até mesmo Padres que serão mais zelosos com o bem do próximo que para
conservar e aperfeiçoar uma esposa de Jesus Cristo. Desconfie daqueles que só falam da salvação do
próximo e esquecem que em primeiro lugar está a glória de Nosso Senhor . Há Padres que imaginam

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estar fazendo uma grande ação ao casar uma esposa de Jesus ou que quer ser. Que Nosso Senhor a
guarde, a fortifique e a possua para sempre!

A Marie de Fégely de Vivy, 4 abril 1862 (CO 1113; III,542)

34 - Ler um pouco mais a sagrada escritura

O que Padre Eymard recomenda é importante para todo cristão: quando estamos esgotados ou estressados,
como dizemos atualmente, é preciso ter coragem de parar todas as atividades e procurar a solidão, para
entrarmos em nós mesmos e tentar compreender aquilo que estamos vivendo. É preciso deixar-se esclarecer
pela Santa Escritura. Este princípio é a base de uma vida de oração e de amor. O Padre Eymard não
respondeu algumas cartas por estar na solidão com o Senhor, como Moisés na montanha, e assim encontrar
as respostas diretamente do Senhor.

Bendigo o seu tempo de solidão; nada faz melhor bem a uma alma esgotada. De tempos em tempos,
faça isto, é o retiro do soldado. Faz-se isto não para recuar, mas sim para avançar: dedicar-se à vida
interior, à vida de recolhimento, às leituras, como a da Sagrada Escritura, a você deveria lê-la mais
frequentemente e comprar a Bíblia de Carrières. Lembre-se deste princípio de vida: A você não será
feliz no serviço de Deus, senão com uma vida interior de oração e amor.
Para isto, não é necessário que deixe a presidência, mas isto a ajudará a exercitá-la melhor. Quando
o bom Deus não a quiser no serviço ao próximo, ele mesmo a tirará. Eu a desejo mais adoradora, uma
vez que ainda não é o bastante!
Você Agarithe [Monavon] me escreveu pelo menos três cartas, e eu não respondi nenhuma porque
em minha solidão eu queria estar com Deus a sós, como Moisés no alto da montanha! [cf. Ex 24,2].
Uma frase bem colocada é como um cabelo bem crespo.
Bem querida filha, não me julgue assim tão frágil.

A Natalie Jordan, 4 dezembro 1863 (CO 1323; III,711)

35 - Confiar na oração

Padre Eymard dá conselhos acerca da oração, ela está lá “toda poderosa”. Ele convida sua correspondente
a não abandonar suas “velhas preces”, mesmo que ela pratique a prece litúrgica das horas, prece da Igreja,
é “a melhor”.

[...] Tenha grande confiança na oração. Ela é a força que Deus nos deu. Através dela, a você alcança
a salvação desta querida alma que Deus lhe deu, e de todos os seus. “ “Pedi e receberei”, disse Nosso
Senhor [Mt 7,7]
Não lhe oriento a deixar suas velhas preces, são velhas amigas, mas as matinas são as melhores preces
da manhã e as completas as da noite. Não façamos outras, estas são as da Igreja.
Vale um pouco de liberdade para o espírito. Seja você mesma com o Bom Deus. Somente alimente
bem seu espírito com santos pensamentos e boas leituras. [...]

A Mathilde Giraud-Jordan, 4 janeiro 1864 (CO 1332; IV,15)

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36 - O dom de si mesmo ao bom Mestre

Padre Eymard, nesta carta, antecipa os temas que farão parte do tema do Retiro de Roma em 1865: o reino d
Deus em nós, “o dom de si mesmo”, o Cenáculo verdadeiro e o Cenáculo interior. Estes temas representam
uma importante evolução em seu pensamento eucarístico. Natalie Jordan será a primeira beneficiária daquilo
que Padre Eymard vive em seu retiro de Roma.

Enfim, boa e querida senhora, estou um pouco desocupado, e posso estar mais disponível para os
amigos do Bom Deus. Que vida a minha! Ela é toda fragmentada, toda esfarrapada Se pelo menos
Nosso Senhor recebê-la em sua glória! O fato é que no mundo sempre perdemos, é preciso dar e nada
receber. Oh! Como é bom estar no Tabor da Eucaristia! Lá não existe corpo visível, os sentidos estão
mortos ou acorrentados.
O que lhe desejo neste ano? A você bem sabe, o reino Eucarístico de Nosso Senhor em você. Observe
bem que eu não disse a devoção, a virtude, o amor, mas o reino, o dom de si mesma para este bom
Mestre para ser sua propriedade, seu campo, seu coração sua vida, e até mesmo sua morte. É preciso
ir lá, caso contrário, será como a madeira que fica bem próximo ao fogo; pode se desprender, pode
chorar, pode se aquecer, mas ela não queima a não ser que esteja dentro do fogo, absorvida por sua
força. Avante! A você sabe bem que para acender um vela é preciso levá-la diretamente ao fogo, ela
não se acende na corrente de ar.
E para mim o que me desejar? O amor de meu Mestre? Mas creio que o amo, seu Paraíso? ainda não;
ainda tenho muito a sofrer; casas, Lyon? Deseje-me o verdadeiro Cenáculo, e depois o Cenáculo
interior; então estarei contente. [...]

A Natalie Jordan, 8 janeiro 1864 (CO 1334; IV,17)

37 - Observar sempre as inefáveis bondades de Deus em nós

O Padre Eymard convida sua correspondente a servir Nosso senhor com alegria e com amor. Compreender
todas as coisas através “do prisma” da bondade de Deus é o remédio contra a tristeza natural e espiritual.

Pois bem Senhora, eu lhe digo para servir Nosso Senhor com alegria, é necessário experimentá-lo. O
que há de mais doce que servir por amor? E o amor produz alegria e devotamento; nada mais justo.
A senhora está na graça de Deus como no oceano: a sua ação de graças deve ser contínua. Observe
sempre a bondade inefável de Deus em sua vida, sua mão paternal, providencial e amável até mesmo
nos pequenos sacrifícios que ele lhe pede. Observe todas as coisas através do prisma divino, e tudo
terá uma bela cor. Saiba que a melancolia mata o corpo e o espírito, a melancolia espiritual mata o
coração e a piedade. Eu sei que existe uma boa melancolia, mas mesmo esta, eu não desejo para a
senhora. Eu prefiro pensar na senhora no coração de Jesus como são João que a seus pés como
Madalena...
Para ser sempre feliz com Nosso Senhor, fuja de si mesma. Fora de Deus, sinta-se como uma
estrangeira. Seja simples, mas aquela simplicidade que vê as coisas na bondade de Deus. Como tudo,
então, torne-se amável!

A Camille d’Andigné, 19 janeiro 1864 (CO 1342; IV,23)

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38 - Sua missão não terminou

A senhora Lepage ficou viúva, sem filhos e o Padre Eymard, que a acompanha espiritualmente, recorda a
santidade de seu esposo. Encoraja-a a encontrar, agora, tudo no Senhor. Juntamente com Antonia Bost, estão
vivendo a experiência de um Cenáculo de vida Eucarística no mundo. “Seja sempre apóstola de Deus da
Eucaristia”. É esta a missão de fogo, de luz e de santidade que o Padre Eymard a confia. A Eucaristia é seu
alimento, o “pão da vida”. Jo 6,35 “um grande projeto”; Ao final desta carta recomenda às suas orações;
trata-se do projeto de uma comunidade em Jerusalém, que não se realizará.

Eu esperava vê-la pelo meio do ano, mas percebo que devo desistir. Entretanto, ficarei feliz em saber
da senhora e de sua querida família e de seu santo esposo que o céu a invejava. Ele lhe deve algo,
uma vez que a senhora já deu a sua contribuição para a coroa [de santidade]. Eis a verdadeira amizade;
ela é para sempre. Como esse corte tão profundo lhe mostra a vaidade de tudo que passa, da felicidade,
do tempo! Ah! Nós somos felizes por conhecer Nosso Senhor e de encontrar tudo nele.
Certamente, sua missão não terminou, resta-lhe conquistar aquilo que foi começado em sua família e
que a senhora verá, eu espero, para a glória de Deus.
Seja sempre a apóstola do Deus da Eucaristia, é uma missão de fogo em torno daqueles que estão
frios, de luz para aqueles que não creem, de santidade para a alma adoradora. Jesus disse: “Eu sou o
pão da vida” [Jo 6,35].
Como é verdadeiramente bom Deus que se fez conhecer, amar e receber a divina Eucaristia! Que
coisa pode desejar mais a alma que tem fome?
Recomendo ao seu amor por Nosso Senhor um grande projeto que teremos para a sua maior glória.

A Lepage, 24 janeiro 1864 (CO 1344; IV,25)

39 - Uma esposa d Jesus deve viver de Jesus

Depois de recordar sua temporada em Saint-Bonnet em outubro de 1863, onde ele trabalhou na redação das
Regras de Vida de seus Institutos, o Padre Eymard fala da comunhão. Ele se alegra por saber que a sta.
Zénaïde continua suas comunhões . A comunhão é viver de Jesus; é Jesus e seu amor que precisamos olhar e
não nós mesmos. A comunhão nos faz entrar como em uma relação conjugal com o Cristo.

A você é agora minha Betânia, e me parece que eu sou a sua. A você foi tão boa para mim! Saint
Bonnet foi para mim a montanha de Deus , onde um árduo trabalho tornou-se tão fácil e amável.
Obrigada por sua caridade.
Amo os seus como se fossem meus. Saint-Bonnet é um belo sonho de paz e de trabalho! Mas quando
e como? Eu não sei, o bom Mestre não me permite ver o meu futuro, eu amo viver cada dia em seus
braços.
A você me alegrou ao dizer que continuas suas comunhões. Continue sempre, uma esposa de Jesus
deve viver de Jesus.
Não olhe muito para o que você traz, mas para o amor que recebe e que se doa. A santa comunhão é
a virtude das virgens.
Seja sempre boa, gentil, amável e devotada para com os seus, sobretudo, para sua boa e santa mãe. O
que me disse sobre suas amigas me entristeceria se não conhecesse a sua generosidade. Eis cara filha,
onde termina tudo o que é pessoal, toda amizade. Não se angustie muito: o Senhor a ama como é e a
quer toda para ele com paz no coração. Continue a ser gentil com elas e não se lamente nem com elas
nem com Deus.

A Zénaïde Blanc de Saint-Bonnet, 4 junho 1864 (CO 1402; IV,69)

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40 - Necessitamos mais de amor do que de virtudes

Esta carta é uma direção espiritual. A senhora Grandville tem um novo diretor para seu acompanhamento
espiritual e nele, encontrou compreensão e alimento para a sua alma. O Padre Eymard lhe oferece conselhos
para compreender suas misérias, os seus pecados, a sua comunhão morna e o seu caráter.

Estou muito contente que esteja sendo orientada pelo rev. do Richard. Agradeço cordialmente a Nosso
Senhor. Finalmente é compreendida e, sobretudo, nutrida e não sempre condenada.
Sim, sim, para a senhora é preciso mais alimento do que para outros, mais força que privações mais
amor do que virtudes! Por conseguinte a senhora é a pobre mas, bem reconhecida pelo bom Mestre.
Receber e agradecer, eis a sua parte.
“Mas as minhas misérias?” É o título da pobre do Bom Deus.
“Mas os meus pecados?” É o seu título para a grande misericórdia que perdoa uma vez e sempre; e
como uma boa mãe que perdoa mil vezes por dia porque sua pobre criança é frágil e miserável.
Mas as comunhões mornas podem ser más? Mornas! Algumas vezes, mas a água morna antes foi
quente. Não deixe amornar, pois ela não provocará o vômito do pecado. [cf. Ap 3,16]
Má? Nunca
Mas meu caráter? Meus maus exemplos? É verdade que a senhora não é boa e que não é perfeita.
Para isto, eu aconselho a suportar a primeira e não discutir a segunda. Suponha nos outros um pouco
de caridade. Depois de tudo, a humildade dirá: Eu não sou um modelo de doçura, procurarei ser com
paciência e algumas vezes na reparação.
Saiba que os espinhos são úteis na flor, e que alguns defeitos exteriores protegem a piedade e guardam
o coração.
Oh! Como desejo que seja uma pequena hóstia de amor em seu pequeno tabernáculo!

A Antoinette de Grandville, 7 agosto 1864 (CO 1433; IV,94)

41 - Amar nosso bom Mestre porque ele tem por nós um grande amor

Nestes conselhos de vida espiritual o Padre Eymard insiste muito no amor de Deus e convida a sua
correspondente a observar sempre o amor de Deus, a se colocar neste amor e se libertar de seus pecados e
de seus terrores que nascem da consciência de sua própria pobreza, mas que podem impedir o progresso
espiritual.

Eu percebo que a tempestade lança seus trovões em sua cabeça, e que sua cabeça está perturbada e
que o desânimo está logo em sua porta se Deus não guardasse a entrada. Entendo que o céu não a
encoraja, porque a ideia do Purgatório assombra o caminho e que a justiça divina traz medo. assim,
eu não lhe direi: Sirva a Nosso Senhor porque o céu é belo, mas : Ame nosso bom Mestre porque ele
é amável e porque ele tem por você um grande amor, que ele a criou por amor, guiada por amor e
garantida a eternidade pela misericórdia de seu amor.
É preciso que esqueça absolutamente de si na questão do serviço de Deus, porque o seu olhar faz
virar o coração, entretanto, o seu coração ama o Bom Deus e o ama soberanamente. As criaturas fora
de Deus são miseráveis e más! E a senhora faz bem em estar livre ,mas trabalhe para se livrar dos
terrores, que não são um mal, pois provêm de um bom sentimento, aquele de não estar em desacordo
com Deus, de não desagradá-lo e de não se separar dele. Tudo isto é muito bom. Mas se estes temores
a impedem de comungar, de ser fiel a seus deveres de estado e a seus exercícios piedosos, eles não
serão bons e lhe farão mal. Além disso, a senhora sabe nesta situação tão dolorosa é necessário
comportar-se como se estivesse em uma tempestade: reza-se, abandona-se à misericórdia de Deus;
ou ainda quando se tem uma fortíssima enxaqueca, se diz: “Deus meu, a ofereço a ti, pois vem de ti”.
Que Nosso Senhor coloque sempre mais confiança em seu coração! [...]

A Camille d’Andigné, 7 agosto 1864 (CO 1434; IV,95)

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42 - Caminhe para seu reino interior

O Padre Eymard felicita sua dirigida porque finalmente, ela começou a caminhar para o reino interior. O
silêncio e a solidão da alma são os lugares onde melhor se conhece a Deus e provamos seu amor.

Suas últimas cartas me trouxeram grande prazer. Finalmente caminha para aquele reino interior que
lhe desejo há tanto tempo. A você ama o silêncio, a solidão da alma que é o santuário de Deus, onde
ele sussurra oráculos amorosos aos seus. Ame-o e em pouco tempo e irá conhecer Deus com sua luz
e provará a essência de sua bondade e imitará o seu espírito de amor. Nesta escola nós sempre estamos
recomeçando porque sempre estamos em uma nova verdade. Entramos nas profundezas da ciência e
da verdade de Deus. Eu lhe peço, faça orações em silêncio, contemple, una-se a Nosso Senhor: é a
única verdade. O resto é um labor penoso e difícil, ela trabalha muito: aqui é Deus quem trabalha
nela, é a roseira celeste que penetra com doçura; pois a você envelhece e caminha rápido para Deus,
e através do caminho mais curto e que redobra as forças.

A Natalie Jordan, 30 setembro 1864 (CO 1453; IV,109)

43 - Aplicar-se no santo recolhimento

É de Roma, onde ele foi tratar de assuntos do Cenáculo, que Padre Eymard escreve a sua correspondente. Ele
convida a se aplicar “ao santo recolhimento” considerando-o como a raiz da árvore. Ele dá igualmente as
indicações para trabalhar no recolhimento na vida comum.

A senhora tem razão: trabalhar no santo recolhimento; é a raiz da árvore, a vida das virtudes, e do
amor divino. A dissipação do espírito faz mal ao coração, porque o espírito voa por todos os lugares,
se distrai com tudo, preocupa-se com mil pequenas bobagens, deixa o coração secar, não alimenta-o
com bons pensamentos, a memória não lhe relembra mais a presença de Deus; a imaginação se distrai
e distrai o espírito com suas loucas invenções. Então este pobre coração se reduz a sentimentos
piedosos de Deus, e como não está bem enraizado em Deus, pleno de seu amor, vivendo do Espírito
Santo, ele se inquieta logo e se distrai.
Então querida filha, é preciso aplicar-se ao santo recolhimento, vivendo da lei de Deus, de sua
verdade, dos dons de sua bondade, dos testemunhos incessantes do seu amor. É preciso centrar-se em
Deus, fazer dele sua morada, afim de que espírito de Nosso Senhor substitua o nosso mal espírito e
se torne luz, a alegria, e a vida de seu coração.
Para o serviço de Deus, é preciso todos os dias reparar as forças. Consegue-se isto através de um
prolongado retiro, mas quando isto não é possível, é preciso dirigir sua oração, suas leituras
espirituais, seus pequenos sacrifícios , para o único ponto de renovação em seu interior, segundo o
movimento da graça. Ao invés de oito horas, coloque-se quinze horas, e lembre-se que o melhor de
sua alma depende da facilidade em se recolher em Deus. O resto é uma mera aplicação prática. é
como a planta que retira sua vida da raiz e a raiz a retira da terra. Então coragem! Recolha todas as
manhãs nas m]aos, todas as manhãs ela cai para você.
Eu a abençoo em Nosso Senhor.

A Mathilde Giraud-Jordan, 3 dezembro 1864 (CO 1495; IV,143)

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44 - O Senhor chama a uma maior vida interior

O Padre Eymard oferece conselhos a Natalie Jordan acerca de sua responsabilidade como presidente de uma
obra, e sobre a vida interior, uma vida que pede mais generosidade e energia. Ele utiliza a imagem do Êxodo
do povo de Israel no momento da saída do Egito: passa-se por um momento de dificuldades antes de chegar
a uma vida nova sob a condução de Deus.

A você deseja deixar seus pobres e a presidência? Quando o Bom Deus não lhe quiser mais, ele a
colocará na impossibilidade de continuar. Espere, sem criá-la; e trabalhe porque esta é a graça e o
trabalho presente.
Lembre-se que é preciso forçar as pessoas, mesmo piedosa, mesmo os Padres a fazer o bem que não
é missão pessoal deles. É preciso fazer com a mulher do Evangelho: incomodar o juiz para que a
justiça seja feita. [cf. Lc 18,3]
Um segundo conselho: quando uma alma de dedica a aumentar a vida interior, ela necessita mais de
generosidade e de energia do que aquelas que são devotadas, sacrificadas na caridade e nos deveres
exteriores que alimentam por elas mesmas a atividade natural e têm a graça da força.
Mas a vida interior, por nos colocar continuamente em luta contra nós mesmos, acaba por cansar
nossa pobre virtude, nossa energia natural; e se não tomarmos cuidado, reduziremos os exercícios
interiores. O espírito tem medo, o coração vacila e a vontade diz: é muito penoso estar sempre lá a se
superar, a se mortificar em tudo. Entretanto boa filha, é preciso fazê-lo, esta é a condição de vida de
recolhimento a qual Nosso Senhor a chama. Há um doloroso momento para deixar o Egito, atravessar
o Mar Vermelho, mas uma vez no deserto, sob as assas de Deus [cf. Ex 19,4 ] como os pintinhos de
Nosso Senhor [cf. Mt 23,37], respira-se um outro ar, vive-se uma outra vida e cremos em suas
palavras tão conhecidas: Meu julgo é suave e meu fardo é leve. [Mt 11,30]. Dizemos mesmo: não
acredito que foi tão doce fazer sacrifícios por Deus.
Vá a confissão para obter a santa absolvição; se lhe derem uma boa palavra, acolha, de outro modo
será Deus mesmo que dirá.
O essencial é conseguir encontrar a própria vida em Deus.

A Natalie Jordan, 17 dezembro 1864 (CO 1507; IV,157)

45 - Desejo vê-las crescer

As Servas do Santíssimo Sacramento começaram, há pouco tempo, a sua vivência comunitária e religiosa em
Angers (26 maio 1864). Elas são oficialmente uma família religiosa. O Padre Eymard lhe dirige os votos:
crescer em virtude, em santidade, na verdadeira vida religiosa... ser boas adoradoras, alcançar a perfeição
eucarística. A vida religiosa e eucarística exige, segundo Padre Eymard, a virtude da caridade. “Sejam as
verdadeiras filhas prediletas de Nosso Senhor! É a graça de vocês, sua lei, sua vida: o amor eucarístico”.

Eu desejo um feliz ano novo a vocês minhas queridas filhas em Nosso Senhor e que sempre se
apresentem a mim em sua divina caridade e glória.
É de Roma que eu lhes desejo, da cidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, onde reside seu Vigário, o
centro da unidade católica.
Eu já lhes enviei, queridas irmãs, belas graças de Roma! Em 17 de novembro, em minha audiência
com sua Santidade, eu não as esqueci. Vocês receberam indulgências tão preciosas que lhe concede,
sobretudo, no dia de seus votos.
O Santo Padre lhes concedeu com grande bondade apesar dele mesmo ter proibido de lhe apresenta
qualquer folha para assinar; viram como Deus as ama.
O que desejar para vocês, queridas irmãs, depois da graça real e fundamental que receberam no dia
da Festa de Corpus Christi [26 maio 1864]; a de suas vidas religiosas, da exposição perpétua, o
cenáculo, enfim! Ah! bem queridas irmãs se compreendessem como eu, qual graça as reuniu em

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comunidade! quanto é difícil instituir uma nova família religiosa, sem nada mais além do desejo de
vocês e o meu nada; vocês agradeceriam continuamente a Nosso Senhor!
Eu não diria meu Nunc dimittis ainda, se for a vontade de Deus, mas fazer crescer uma plantinha que
Deus abençoou, e que tem um belo lugar na santa Igreja.
Eu desejo vê-las crescer, não em número, mas em virtude, em santidade, na verdadeira vida religiosa.
Sem dúvida, vocês trabalham com todas as forças para se tornarem boas religiosas, para serem boas
adoradoras, mas minhas irmãs, ainda há um caminho a fazer para chegar através das virtudes até Deus
da perfeição eucarística!
Que a caridade eucarística reine entre vocês: é a primeira virtude de Nosso Senhor, e a alma da vida
religiosa. Que cada uma estime sua irmã mais que a si mesma e como diz são Paulo, olhe-a como sua
superiora em virtude e em mérito. [cf. fl 2,3]; que cada uma veja em sua irmã somente as graças, os
méritos, o amor e a bondade de Deus, e em si própria, as misérias e pecados e ela será sempre caridosa.
Não lhes digo: suportem-se, pois isto é muito pouco; mas amem-se, pois vocês formam a família
amável de Nosso Senhor. Sejam felizes no serviço da santidade de suas irmãs, como no corpo, um
membro é feliz no serviço do outro.
Vocês formam a corte do grande Rei; sejam sempre generosas entre si. Que as boas maneiras, com
uma linguagem honrosa, diferenciem suas vidas comuns e fraternas.
Vocês estão na casa de Nosso Senhor. Sejam felizes nesta santa casa, em seu serviço, em tudo o que
fizerem para ele; o amor fará isto, mas o amor de coração, um amor real que se tornará delicado como
a cera diante do fogo.
Minhas filhas, sejam as filhas prediletas de Nosso Senhor! É a graça, a lei de suas vidas: o amor
eucarístico!
Deus lhes dê um grande coração. Entreguem-se a ele. Entrem nesta fornalha ardente. Algumas vezes
a natureza grita, a criatura faz sofrer: tudo isto é excelente, porque o coração caminha rápido para
Deus e para seu Bom Mestre. Isto seria um grande mal, se qualquer coisa nos desse mais prazer fora
de nossa vocação e de Nosso Senhor.
Eu as abençoou de todo coração, queridas filhas. Que Deus as proteja, as faça crescer em sabedoria e
na virtude de seu amor, e eu serei contente.

Às Servas do Santíssimo Sacramento, 27 dezembro 1864 (CO 1511; IV,160)

46 - O dom interior de si é o verdadeiro dom

O Padre Eymard inicia em 25 de janeiro o seu retiro em Roma. O conselho que oferece é fruto do que ele está
prestes a meditar: fazer a Deus o dom de si, do interior, que é “o verdadeiro dom”. O Retiro de Roma será
marcado pelo tema do dom de si, do interior.

Tenho rezado por vocês e os seus, pois é necessário conhecer Nosso Senhor em sua própria luz,
através de seu próprio amor.
Por isto, é preciso dar ao bom Mestre sem reservas interiores; o exterior é dele há longo tempo.
Mas o dom interior de si é o verdadeiro dom, pois desde que Nosso Senhor é o mestre do campo a
cultivar, da árvore a enxertar. Ele é o Salvador, mas pela escolha das graças de santificação pela via
do despojamento, da renúncia primeiramente e depois através da vivência de sua vontade.
Enfim, ele é o Deus do coração, o esposo da alma e da vida, a esposa vem depois sob a lei divina
deste celeste esposo.
Eis o que foi trabalhado durante seu retiro, e aquilo que deve ser cultivado no momento com cuidado
e, sobretudo, com recolhimento durante a primeira semana depois da saída, quando do retorno a
casa[...] – falta a última folha.

A Lepage, 4 fevereiro 1865 (CO 1528; IV,178)

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47 - Deus nos ama pessoalmente com um amor benevolente

Isto que Padre Eymard comunica à condessa d’Andigné é fruto do retiro de Roma: uma descoberta mais
profunda do amor de Deus. Dez dias depois escreve uma meditação sobre o Deus amor. “ Deus nos ama
pessoalmente com um grande amor de benevolência, e com amor infinito e eterno” Ele desenvolverá,
sobretudo, o amor de benevolência. Esta carta não é somente a mais longa desta coletânea, mas a mais
importante de toda a correspondência de Padre Eymard. Ele fala de uma grande riqueza que encontrou e que
florescerá mais tarde em 21 de março, com o “dom de sua personalidade” expresso sob a forma de voto
perpétuo. A carta que se segue, endereçada a Mathilde, desenvolve esta riqueza.

Permita-me fazer-lhe participar de uma grande riqueza que encontrei e espero que a senhora possa
colher bons frutos.
Deus nos ama pessoalmente com um amor benevolente, com um amor infinito e eterno. O amor
benevolente consiste em querer puramente e exclusivamente o bem e o melhor para a pessoa amada.
Em Deus, o amor benevolente é pessoal; Deus ama uma pessoa, a ama como se fosse filha única,
porque seu amor é um e infinito.
Todos os atributos divinos de Deus que estão à disposição do amor benevolente em uma alma, em
um espírito são a sabedoria divina que escolheu e que melhor convém ao bem e ao atual estado desta
alma querida; a prudência divina aplica seus meios de santificação; a força divina nos ajuda, nos
sustenta, nos defende; a misericórdia tem sempre o coração de uma boa mãe, pronto a perdoar, a nos
reerguer, pois uma criança tem dois inimigos: sua fraqueza e sua covardia, eu diria suas loucuras e
presunções; a providência divina combina todos os acontecimentos do tempo e circunstâncias, as
ocorrências, ao redor desta querida alma como o centro de um movimento celeste e terrestre, afim de
tudo a sirva em seu fim sobrenatural. Por isto existem pessoas para nos exercitar, nos fazer sofrer
afim de que nos lembremos de que este é o exílio, o tempo da expiação, do amor crucificado com
Jesus Cristo nosso bom salvador; outras para nos servir de guia no meio do caminho, porque Deus
substitui o anjo Rafael, Moises, Josué; outras são um espelho onde vemos nossas misérias, as más
disposições de Adão; outras são um livro de santa vida; outras os pobres de Deus. A Imitação disse:
“Não existe nenhuma criatura tão pequena nem tão miserável que não represente, neste mundo, a
bondade de Deus” [cf. Im 2,4:14]. os pecadores, eles mesmos, não nos mostram a bondade de Deus
que lhes faz o bem material, que os convida, os espera com o perdão nas mãos?
É a divina providência que não somente coloca em nosso caminho as criaturas que devem nos fazer
exercer alguns atos de virtude, mas ele determina ainda em sua divina bondade para a alma, o estado
do corpo, sofrendo ou com boa saúde, porque está é a condição para glorificar Deus naquele
determinado dia: é a previsão do dia feita pela Providência.
Os estados naturais da alma são regulados pela amável providência de acordo com as graças que Deus
dá e as obras que vai pedir. Às vezes, dará mais vitalidade à mente, às vezes ao coração, sempre de
acordo com sua vontade que é a dona da casa a serva de Deus.
Os estados de vida espiritual são certamente objeto da direção da providência divina que são as
verdadeiras condições da santificação. Da grande lei da vida: é preciso ir segundo a direção do vento
da graça, honrar Deus através de seus estados naturais e sobrenaturais, servir-se de todos os meios
que a divina providência nos coloca nas mãos e em nossa passagem, perceber em tudo esta santa e
amável vontade ao redor de nós e em nós, agir segundo sua direção, consultar sua inspiração, oferecer-
lhe a primeira intenção de tudo, render-lhe homenagem em toda surpresa, em tudo reencontrá-la,
reconhece-la em toda parte, imaginá-la quando não se vê ou não se entende, ela ama se esconder
porque ama a obediência da fé e o amor da devotamento.
A conclusão é fácil.
O melhor estado é o meu estado presente para glorificar a Deus
A melhor graça é aquela do momento presente
A lei do dever é aquela que o amor inspira e que o amor realiza. Recorde bem esta frase de Nosso
Senhor que se encontra no discurso da Ceia: Eu amo meu Pai [cf. Jo 14,31], Eu cumpro sua vontade
e permaneço em seu amor [cf. Jo 15,10].

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Isto posto, vêm as dificuldades.
1. Se eu estou seguro que Deus me ama, como me diz, eu serei mais feliz!
A senhora pode estar certa de que Deus a ama e deste amor benevolente, a sua vida é a prova contínua
da bondade, de segurança!
2. Mas que me garante que Deus me ama?
Ele mesmo presente na senhora. Será que não sente que sua alma pertence a ele e somente deseja
estar com ele? Ele não é o único bem, o único Deus, o único desejo, o único prazer de seu coração?
Todo o seu sofrimento não é, senão o temor de desagradá-lo ou de tê-lo entristecido? Não daria tudo
no mundo para comprar seu amor, seu prazer, não pecar para não ofendê-lo nem para ir para o
Purgatório, coisa que tanto a preocupa? Se, portanto Deus pessoalmente, verdade, eu não quero dizer:
então a senhora ama Deus acima de tudo, isto é a mesma coisa.
3. Mas quem me garante que ele me perdoou?
Sua humilde confiança, sua fé na misericórdia divina. Querer ter certeza neste mundo, seria já estar
no céu. Espere! É preciso ter humildade, confiança, abandono, um pouco de lama na caminhada, nós
dizemos que estamos a caminho e que é necessário que seja o mendigo de Deus, o pobre de Deus, e
lhe deve seu perdão, sua graça e o céu.
4. Mas se Deus me ama, por que estou triste, desolada, negligenciada por ele?
A senhora não está triste, nem desolada, nem negligenciada. Olhe ao seu redor. Quantos bens, quantos
modos de servir a Deus. Quanta segurança que os outros não têm. A senhora é instruída, tem fé,
devoção, os meios de alimentar essa devoção. O que lhe falta? Tudo e nada.
Tudo, porque a senhora está ainda nesse mundo de misérias e que não goza de Deus, mas há combate,
guerra em si, do velho Adão contra Jesus Cristo, da natureza contra o espírito de Jesus Cristo. É o
combate, não nos alegramos em um campo de batalha. Depois, tudo lhe falta fora de Deus, fora de
seu sentimento, fora da paz que sua bondade nos dá de tempos em tempos, isto é bom sinal; é a
proteção contra o espírito e os prazeres do mundo e das criaturas, é o suspiro do amor de Deus, e isto
é bom
5. Mas eu me desencorajo e me desespero!
É sua provação, e também um pouco de sua natureza no sobrenatural. Seria agradável a Deus se
conseguisse torná-la sobrenatural, isto é honrar a Deus em sua fragilidade, em sua miséria, em seu
abandono. Faça isto neste tempo de Paixão de Jesus Cristo. É a graça e a virtude do momento.
Contudo, escute meu conselho: Ainda que a alma se nutra deste estado de sofrimento interior ela não
deverá se tornar dependente dele; observe estas três regras a seguir:
1º Nunca deixar seus deveres de piedade, nem a santa comunhão por causa destes estados.
2º Evitar pensar que isto é fruto de alguma falta secreta, de algum desprazer de Deus, que lhe
abandonou, que lhe puniu: esta e a sua tentação.
3º Fazer deste estado algo positivo do amor de Deus, homenagem a sua vontade, isto é assuma a
virtude contrária e honrando o estado que encontra em Nosso Senhor.
A carta está para terminar e agora concluo com estas palavras reais:
Permaneça, não no amor, pois isto seria uma constante causa de mil tentações: eu amo? Eu sou
amada? Permaneça na casa da divina e paternal bondade de Deus como uma criança que nada sabe,
que nada faz, gasta tudo, mas vive nesta doce bondade.
Eu lhe abençoo em Nosso Senhor.

A Camille d’Andigné, 4 março 1865 (CO 1538; IV,186)

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48 - “Não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim”

Na noite de 8 de abril de 1865, o Padre Eymard, retornando de Roma, onde ele fez o voto de sua personalidade,
chega a casa da família Jordan e partirá no dia 11 pela manhã. No decorrer destes dois dias de repouso e
conversação, Sra. Giraud-Jordan recebe orientações espirituais que ela anota, como se ele lhe houvesse
ditado. Depois, o próprio Padre Eymard completa estas notas, acrescentando outras orientações. (CO1797)
Trata-se aqui da questão da “vida de união” com Jesus Cristo, que está em cada um de nós “um nascimento
e um crescimento espiritual”. Nós percebemos que o Padre Eymard atinge uma nova etapa em seu caminho
espiritual. Oh se pudéssemos compreender... através do dom de sua personalidade, ele se configura ao Cristo
e entra na noite do espírito. Sua correspondência revela um novo tom.

A senhora foi chamada para uma vida de união com Nosso Senhor. É ele mesmo que quer lhe dirigir
e deseja habitar em seu coração.
O homem nada pode por si só. Ele está inclinado ao mal e cometerá todos os crimes se Deus não o
sustentar. Como o ramo não pode carregar os frutos sozinho, sem estar ligado ao tronco da vinha,
assim, nós não podemos dar bons frutos se não permanecermos ligados a Jesus Cristo. [cf. Jo 15,4]
Se pudéssemos compreender estas palavras de São Paulo: “Não sou mais eu que vivo, é Cristo que
vive em mim”. [Gl 2,20]; e esta outra: “É preciso que Cristo cresça em mim até o estado do homem
perfeito” [Ef 4,13]. Sim, Jesus Cristo tem em cada homem um nascimento e um crescimento
espiritual. Ele que glorificar seu Pai em cada um de nós. Digamos com são João Batista: “É preciso
que ele cresça e que eu diminua”. [Jo 3,30]. Mas para que ele permaneça em nós, é preciso que nós
permaneçamos nele; é preciso responder ao seu apelo.
Demos a ele não somente o nosso coração, mas o nosso espírito. Deus não pede este sacrifício de
todos os homens: é muito difícil. Ele pede somente os seus corações. “Meu filho, dá-me teu coração”.
[Pr, 23,26]
Só a um pequeno número ele pede o seus espíritos, suas inteligências, seus julgamentos: “Todo aquele
que quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga”. [Mt 16,24]. Dar o
coração é fácil, mas dar seu pensamento, seu julgamento, sua inteligência, eis aí o sacrifício mais
duro; é se esfolar vivo. Custa-nos muito. Não se pode compreender o pensamento de Deus, mas depois
que luz que ele nos dá. Sua sabedoria se mostra de modo claro.
Como chegar a esta união divina? Digo-lhe liberdade na escolha dos meios, ou melhor, sirva-se de
tudo para atingir. Que tudo lhe fale de Deus, e fale para Deus sobre todos aqueles com que se
relaciona, rezando por aqueles que não o conhecem, e pedindo para que se assemelhe às pessoas
virtuosas, não para ser mais bonita, mas melhor para servir.
Que o pensamento de Deus não seja uma abstração. Coloque sempre o coração à frente. Ofereça
sempre uma oração de louvor e ação de graças. Repita sem cessar: Como Deus é bom! Só ele é bom!
Sirva-se também de meios materiais para pensar em Deus e se dê uma penitência quando falhar.
Nosso corpo deve ser tratado como escravo [cf. 1Cor 9,27]
Não seja indecisa. Tome resoluções concretas. Decida combater por duas ou três semanas o mesmo
defeito, ou praticar a virtude oposta, mas sempre é possível praticar atos concretos e pedi-la a Deus.
É preciso ver em tudo, mesmo nos pequenos acontecimentos da vida, a vontade de Deus, e se deixar
dirigir por ela com amor.
Para a oração, escolha um livro que lhe agrade, e leia até que uma ideia a domine, a fim de evitar a
preguiça espiritual que impede o conhecimento de Deus e de si mesma.
Desconfie também da tentação do zelo, que faz com que pensemos nos outros e negligenciemos a nós
mesmos.

A Mathilde Giraud-Jordan, [abril] 1865 (CO 1547; IV,199)

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49 - Deus nos ama muito

Deus como “um esposo ciumento” se esforça para ser o nosso único bem. Deus nos despoja para nos revestir
de suas graças de misericórdia. O Padre Eymard assegura a sua correspondente do amor de Deus, e a convida
a se abandonar a sua misericórdia e permanecer fiel.

Respondo agora sua carta. Você seria digna de amor ou de ódio? Objeto de amor e de misericórdia,
certamente. Você se dá conta de que querendo ou não, o bom Mestre se comporta com você como
um marido ciumento. Priva-a de tudo para ser seu único bem. Priva-a da virtude, da capacidade de
trabalhar, para ser sua única virtude e sua ação.
Ora, este é um princípio seguro quando Deus despoja uma alma é porque ele quer revesti-la com suas
graças d misericórdia, depois despojará de si mesma e você, neste último estágio, terá medo até das
boas obras e não mais poderá encontrar a confiança, senão no abandono e na infinita misericórdia de
Deus e nos infinitos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Deus a ama muito. Ele sempre possuiu seu coração. Você sempre sofreu. Ele lhe deu um justo juízo
que sempre lhe preservou e uma consciência severa que a tem sustentado. Você se sente bem
miserável e pobre em suas orações e preces. É verdade que quando envelhecemos, o sentimento
natural se renova e sobrenatural se atenua dia após dia, para dar lugar ao espírito de pura fé e da
fidelidade da virtude. Você está lá. Seja fiel e sempre materialmente fiel em suas práticas de piedade,
o tanto que sua saúde e suas forças lhe permitam e Deus ficará contente. O caráter é o mesmo; é
natural, é mesmo necessário.
Se a paz fosse perfeita em nós, o que seria do combate cotidiano das virtudes. Não faça nunca a paz
com seus defeitos de caráter, mas ame este caráter que deve constituir o seu mérito e a sua força. Se
possível, prepare a confissão pela manhã. Esta preparação torna-se um hábito. Será maior a ação de
graças.
O recolhimento deve ser bem difícil, sobretudo o recolhimento da consciência e seus atos, isto
depende da monotonia de sua vida, de seu estado um pouco adoentado e também um pouco
preguiçoso. Tenha uma vida simples, despreze aquilo que não for claro e preciso como uma tentação.
Resigne-se a servir Deus através do coração somente. O coração herda o que as outras faculdades
perdem, e Deus quer o coração, ele está sempre a nossa disposição. Nosso caminho para o paraíso,
deseje este céu, sempre repetindo: Adveniat Regnum tuum [Que venha teu reino. Mt 6,10]

A Adèle de Revel de Nesc, 22 abril 1865 (CO 1552; IV,203)

50 - Colocar sempre sua

Em um momento de grande provação que atinge a família d’Andigné, o Padre Eymard convida a ter confiança
em Deus, a se abandonar a sua divina bondade, a se unir ao Senhor, e a” viver dele, nele e por ele” [cf.
doxologia da messe]. Adorar, amar e louvar em todo lugar, em toda situação, em toda condição de vida, eis
as três instruções a sua orientanda.

Eu sei que a senhora é grande e forte nas grandes ocasiões, e que saberá se colocar acima da fraqueza
e do sofrimento; a senhora tem feito isto neste momento.
Coloque sua confiança em Deus, abandone-se inteiramente a sua divina bondade que nunca falha.
Deixe, por favor, o futuro a Deus. Agradeça-lhe o presente, e espere que tudo se realize para sua
maior glória.
A senhora percebe como é bom estar firmemente unida a Nosso Senhor, de viver dele, nele e por ele.
Ele nunca nos falta. Ele é sempre nosso bom Pai e bom Salvador; os homens, ao contrário, mesmo os
mais úteis e os mais determinados, ou são estéreis ou ausentes. Deus fica conosco, o divino Emanuel
está com a senhora. Adore-o bem em todos os locais de sua casa, em todas as suas obras, louve-o em

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todos os estados interiores, oriente sempre o seu coração ao divino Tabernáculo, e para este divino
amante dos anjos, este prisioneiro eucarístico do amor ficará contente.
Eu a coloco todos os dias sobre a patena e lhe ofereço, a senhora e os seus, a Deus o pai por Nosso
Senhor.

A Camille d’Andigné, 25 outubro 1865 (CO 1657; IV,284)

51 - A floração do amor no deserto

Quando uma pessoa vive em união com Jesus Cristo, ele deve passar “por todos os estados de Nosso Senhor
e todos os seus sacrifícios” até chegar ao monte da ascensão. É uma expressão de amor. A “paz íntima”, que
a pessoa vive é uma indicação que o caminho é o bom. Esta é a convicção que exprime o padre Eymard.

Coloco aos pés de nosso bom e comum Mestre todos os desejos e votos de nossa união em seu serviço
e para sua grande glória.
É preciso que sua alma, unida a Nosso Senhor por sua graça, experimente diversas provações; pois a
alma, esposa do tempo através da eternidade, para alcançar o monte glorioso da ascensão, deve
percorrer todos os estados de Nosso Senhor e todos os seus sacrifícios; é a floração do amor em meio
ao deserto. Mas a senhora atravessa guiada pela coluna eucarística. Aquilo que me diz sobre a íntima
paz de sua alma me mostra que trabalha em união. isto é bom.
Seja sempre simples e afetuosa na oração a Nosso Senhor; a sua alma necessita, porque não devemos
gozar nada neste mundo, é preciso encontrar a compensação e a força no colóquio divino, seguindo
fielmente o movimento da graça e a moção interior do Espírito Santo.

A Tholin-Bost, 19 janeiro 1866 (CO 1710; IV,321)

52 - Esquecer-se de si mesma no amor de Nosso Senhor

A condessa d’Andigné divide a sua vida entre o castelo da Isle-Briand em Lyon-d’Angers (Maine e Loire),
durante a bela estação e a sua residência em Paris, no inverno. A capela do castelo se beneficiava da presença
do Santíssimo sacramento. Nesta carta, o padre Eymard faz uma comparação entre a vida da condessa e a
passagem do Evangelho onde jesus é acolhido por Marta e Maria em Betânia (cf. Lc 10,38-42). Exorta-a a
fazer de Deus seu único centro de vida, a acreditar em seu amor e a pertencer inteiramente a ele.

Mas Deus a quer em sua morada de Isle como Marta e Maria em sua Betânia. A senhora é sua sacristã
respeitosa e devotada, sua Maria a seus pés, algumas vezes sobre seu coração, sempre em seu amor.
Ele a quer sozinha para que não pertença mais a si mesma, mas a ele. Ele deseja ser o meio , o elo,
orientando sua vida para ele, eis porque tudo aquilo que a senhora gostaria de ter como meio de
edificação, de instrução, de segurança, está ausente: pequena perda! depois a senhora se volta direto
para jesus e se torna mais unida, concentrando-se em seu serviço, em seu amor, em sua divina
vontade.
Nosso grande desejo para a senhora, e estou seguro d que aumentará a glória de Deus, mas também
a sua virtude. [Desejo] que esqueça a si própria no amor de Nosso Senhor; que considere pouco o que
sofre. Mas, sobretudo, que não se apegue a um amor sensível, à paz e à doçura d seu amor.
Deus me ama: eis uma verdade. Ele só quer em tudo o meu bem, eu pertenço somente a ele; minha
miséria é meu título, minha pobreza é minha riqueza, minhas imperfeições são minhas necessidades
de graça.
Eis cara senhora o que precisamos colocar em prática e verá o reino de Deus em sua vida.

A Camille d’Andigné, 5 março 1866 (CO 1752; IV,359)

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53 - Contemplar a bondade de Deus em nossas vidas

O Padre Eymard aconselha sua correspondente a “trabalhar no santo recolhimento”, isto é, a viver em
permanente comunhão de vida, de união e de amor com Deus. O recolhimento nos faz contemplar
continuamente o amor de Deus por nós.

Eis aí, querida filha, em sua pequena Nazaré; seja bem feliz e para isto, coloque Jesus, Maria e José
e seja a serva fiel.
Trabalhe no santo recolhimento, ou seja, viva em comunhão de vida, de união e de amor com Deus e
com Nosso Senhor. O recolhimento encontra sua fonte mais no coração do que na mente.
Pense continuamente na bondade de Deus, nas graças recebidas, seu amor presente, suas promessas
divinas de sempre estar ao seu lado.
Sua força vem do coração. Por isto o bom Deus a resgatou e protegeu. Mas o coração deve sofrer por
Deus e com Jesus, a cruz é o combate do amor, e sua glória.
Sim, ame o Bom Deus! O resto conta tão pouco! Ame-o como ele a ama, como ele lhe permite amá-
lo.

A Eulalie Tenaillon, 12 março 1866 (CO 1755; IV,362)

54 - Entrar na divina morada do amor

Com muito ardor, o padre Eymard convida Madre Marguerite a abandonar-se à misericórdia de Deus, que
se tornará para ela fonte de paz. Respondendo à pergunta da madre sobre como praticar o caminho da cruz,
oferece-lhe indicações todas inspiradas pelo sentimento de amor e de ação de graças. Convida-a a ajuntar-
se a outras.

Ao deixar este mundo eu só me arrependerei de não ter servido bem ao bom Mestre, de ter sido
preguiçoso e negligente; depois percebo que toda a força é colocada na confiança e na misericórdia
de Deus e no abandono a sua divina bondade.
Oh! Como a nossa virtude parece feia e nossas boas obras miseráveis!
Abandone-se nas asas desta divina misericórdia, deste amor tão compassivo, desta caridade , desta
caridade tão terna e sua paz aumentará com a sua confiança. Sim, é preciso trabalhar, rezar, fazer
todas as obras cristãs porque Deus as comanda e deseja; mas antes disto, é preciso fazer como uma
criança que volta da escola para seus pais: gozar da bondade e do amor deles maior do que tudo.
A senhora me pediu alguns pensamentos para o caminho da cruz. Eis alguns:
1º Pater: Adore a chaga sagrada do pé esquerdo de Nosso Senhor, suas dores, os passos que ele fez
para procurar sua ovelha desgarrada; beije esta divina chaga como Madalena e as santas mulheres da
ressurreição.
2º Pater: Adore a chaga do pé direito de Nosso Senhor, beije-a com respeito e amor, este pé é o que
traçou o bom caminho do céu, que se cansou a lhe procurar para que viesse até ele.
3º Pater: Adore a chaga da mão esquerda do Salvador, esta mão do coração, que tomou a sua para lhe
conduzir e sustentar. Beije-a com afeição esta divina mão; receba o sangue divino que dela escorre
para purifica-la.
4º Pater: Adore a chaga da mão direita de Jesus, esta mão que a sustento em sua fraqueza, protegeu
dos perigos e nos combates; beije-a com ação de graça, coloque sobre sua cabeça, sobre sua boca.
5º Pater: Adore a chaga profunda do sagrado coração de Jesus; entre nesta divina chaga, afim de que
a água que dela escorre a purifique e o sangue a santifique; beije esta divina chaga, respire esta chama
tão bela e tão viva. Entre nesta divina morada, permaneça lá.
Eis uma ideia: ajunte-se a outras.

À Madre Marguerite Guillot, 14 março 1866 (CO 1758; IV,364)

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55 - O coração se oferece e se doa de mil modos

As doenças são momentos de recolhimento da alma em Deus. A senhora Gourd está doente e padre Eymard
a encoraja a viver a própria doença em união com o Cristo, que vem assim visita-la. Convida-a também a
abandonar-se à santa vontade de Deus.

A senhora está doente, querida filha, mesmo depois de sua carta! É Jesus Crucificado que vem visita-
la com um fragmento de sua cruz. Acolha-o bem, porque a senhora é neste momento o pequeno jardim
que ele cultiva com afeto.
Todas estas pequenas doenças são momentos de recolhimento da alma em Deus, em sua santa
vontade, juntamente com Jesus Crucificado. A oração é a oferta amorosa do sofrimento, as preces são
jaculatórias, mas como a mente está fraca e sonolenta, ocorre que o coração substitua tudo e que se
ofereça e se doe de mil modos.
Acredite-me querida filha, suas orações nos momentos de aridez e de impotência são maiores para
Deus. A senhora se colocará diante de Deus como pobre, enferma e a criança que nada exprime, mas
sabe amar.
Saiba cara filha que durante a convalescência a tentação natural é a excitação nervosa e a impaciência:
são os espinhos da natureza. Sim, permaneça perto de Nosso Senhor para ser doce e humilde de
coração como ele. [cf. Mt 11,29]
Abandone-se à santa vontade de Deus em sua vida, sabe que esta a grande lei de vida, sua graça e
única virtude, mas ela é a mãe de todas as outras; ela é a virtude soberana de Jesus.

A Joséphine Gourd, 16 março 1866 (CO 1766 ; IV,373)

56 - Deus nos reservou para ele e por ele

O Padre Eymard, nesta carta, dá três regras de conduta: Fazer tudo para agradar a Deus, realizar todas as
coisas com simplicidade e viver um pouco mais tendo Deus como centro. Relembra que Deus ama com amor
terno e infinito.

Guarde bem estas três regras de conduta que eu lhe darei.


1ª regra: Fazer tudo para agradar a Deus; que esta seja a sua intenção geral e particular nas ações; esta
regra é mais sentimento que um pensamento atual, ela se alia a tudo e lhe permite agir com
simplicidade, a intenção geral basta, entretanto, quando houver alguma coisa mais sofrida a fazer, um
sacrifício que nos custe muito, então, uma intenção mais particular fará muito bem à alma; agradar a
Deus é amar aquele que ele ama, é querer aquilo que ele quer, é também rejeitar tudo aquilo que é
mal.
2ª regra: Realizar tudo com simplicidade, isto é fazer tudo com espírito de liberdade interior, pensando
no tanto que Deus quer e pelo tempo que ele quer; com espírito de paz, realizando as coisas com
ordem, uma depois a outra, com moderação e paciência, trabalhando para bem fazer , mas não para
se desvencilhar rapidamente.
3ª regra: Viver mais em Deus, como centro e nada lhe será obstáculo, nada lhe distrairá, sempre estará
na presença de Deus que tudo vivifica, que tudo vê e que dirige a alma em todos os seus caminhos.
O bom Deus a amou, querida filha! Ele a reservou para si e isto apesar de tudo. Ele a ama com amor
eterno e infinito. Permite sua aridez, isto porque este é o estado que o bom Mestre reserva para as
almas empenhadas em serviços exteriores para tê-las unidas a ele através do sofrimento interior, e
assim pelo espírito puro da fé.
Caminhe sempre; a estrada é boa porque é Deus que traçou. Uma vez que participou da missa, fez a
adoração e rezou o rosário, se Deus lhe permitir algumas preocupações exteriores, tudo está bem,
quando estiver livre, retorne as suas atividades.

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Adeus boa filha, em Nosso Senhor. Eu a abençoo. Eu estou contente que seu divino Mestre foi
recolocado em seu divino tabernáculo. Ame-o intensamente e ele permanecerá com prazer, e apesar
de tudo, o seu amigo de Betânia.

A Stéphanie Gourd, 16 março 1866 (CO 1767; IV,374)

57 - A vida é tudo na união da alma em Deus

Mathilde Giraud-Jordan enviou ao padre Eymard o relatório das orientações espirituais que ele tinha dado
de viva voz por ocasião de sua visita em abril 1865 9cf. CO 1547). O padre lhe responde na mesma folha e
escreve: “Coloque em prática estas sugestões filha minha, elas me parecem conveniente em seu caso”. É
importante ressaltar que estes conselhos, mesmo depois de tanto tempo, ainda conservam toda sua validade.
O padre Eymard a convida a tornar-se uma pessoa mais interiorizada, a viver em comunhão de vida com
Deus. De modo muito simples, desenvolve alguns temas de sua espiritualidade em sintonia com a graça
recebida em Roma em 21 de março 1865: o recolhimento interior, a vida de união com Deus e avida interior.

Coloque em prática estas sugestões, filha minha, elas me parecem conveniente em seu caso. É
evidente que é a raiz que dá a vida e a robusteza da árvore, mas ela permanece escondida, pois deve
trabalhar escondida e em paz.
Para obter uma grande potência, o vapor ou o gás vêm condensados: agora a explosão deflagra com
grande intensidade.
O mesmo acontece na vida espiritual: as virtudes, as obras exteriores, não devem ser, senão os ramos,
como também a oração vocal. Mas a vida desta obra está no recolhimento, na união da alma com
Deus. É o seu alimento, a sua luz e a sua força. Eis porque deve se aproximar de Deus na oração,
escutá-lo mais do que falar, recolher-se em louvor a seus pés, ao invés de prestar-lhe atos de
dedicação, pois a alma se distancia de seu estado de recolhimento e se perde em sentimentos estranhos
a si mesma.
A atividade da alma é nosso inimigo. Ela parece aquecer a piedade, mas este fervor não é fictício e
extenuante. A verdadeira atividade espiritual é aquela que se desenvolve em Deus ou ao redor de
Deus, porque a alma por meio da caridade se une ao seu fim e a sua graça imediata. Eis porque nada
é mais ativo do que o poder do que o verdadeiro amor de Deus.
Aplique-se em ser interior, minha filha, isto é a viver com Deus, a trabalhar na sociedade de Deus, a
ser feliz em Deus.
Então a sua luz será o motivo, a inspiração de seus pensamentos e a regra de seus julgamentos.
Siga a divina Providência, como seguindo o trajeto de sua bondade pessoal, e se surpreenderá ao se
descobrir como objeto de preocupação de Deus.
Esta visão de Providência, de bondade e de amor é a maior felicidade da alma e nos traz sentimentos
sempre novos. É um pouco como o céu!
guarde seu espírito para Deus e que seu coração seja o fruto, porque Deus é lei e a medida do amor
de virtude.
Eu lhe enviarei também um livrinho com aquele de sua mãe. Eu sempre penso que ela está em Calet.
Agradeço ao bom Deus aquilo que me disse. A senhora vê a realização da Palavra do Profeta:
“Coloquei em Deus minha confiança e não serei envergonhado” [Sl 30,2].
Adeus, eu a abençoo em Nosso senhor”.

A Mathilde Giraud-Jordan, maio 1866 [?] (CO 1797; IV,397)

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58 - O coração deve sempre pertencer a Deus

O que dizer a uma pessoa cuja doença se prolonga? O padre Eymard convida a Sra. Gourd a descobrir o
sentido de seu estado, a deixar-se conduzir pela divina Providência, a obedecer ao médico e a se abandonar
a Deus.

Deus a tocou com a ponta de sua cruz. Você sofre já a longo tempo; aproveite bem. É o purgatório
deste mundo, porem mais santificante e mais glorioso para Deus que o outro.
O estado de sofrimento vem sempre de Deus. É o estado que ele escolheu para nosso maior bem e
para nos conceder algumas grandes graças particulares.
Deixe-se conduzir pela Divina Providência e tome os remédios destinados a sua doença, obedeça ao
médico.
Sim nos tratamentos termais é preciso comer gordura. Quando estamos sendo guiados, temos de
aceitar as consequências.
Dizem que as água termais fazem bem à alma, é possível, mas nunca ao coração. Que seu coração
seja sempre de Deus através da pureza de coração, pela afeição a seu amor, pela confiança em sua
divina misericórdia. Dirija sempre suspiros de amor para bom Mestre. Estes suspiros são para a alma
aquilo que a respiração é para o coração; elas são sua vida.
Não faça outras orações a não ser aquelas determinadas. Elas bastam. [...]
Coragem cara filha, ame sempre Nosso Senhor que tanto a ama.

A Joséphine Gourd, 18 junho 1866 (CO 1810; IV,408)

59 - Pertencer completamente ao Senhor

Esta carta apresenta alguns conselhos muito simples, concretos e ditados pelo bom senso. A vida espiritual
passa pelo corpo, pela dieta, mesmo pelo café, pelo sono e finalmente por um retiro de renovação. Segue um
programa de exercícios espirituais que orientam a vida cotidiana.

Respondo a sua última carta. Graças dou a Deus por conhecê-lo bem. Se pudesse se desembaraçar de
todas as suas misérias espirituais como seria feliz! Mas é preciso carrega-las querida filha, pois são
as bagagens de viagem neste mundo! É preciso tirar vantagem delas.
Começo por dizer: Guarde seu regime e tome café sem escrúpulos; não se preocupe se perde peso,
continue sem mais nem menos o que está fazia. Procure dormir, pois a falta de sono a enerva. É uma
necessidade para você.
Para o espiritual, seria bom fazer um retiro de renovação, é preciso fazer em sua casa, quando tiver
oportunidade. Eu lhe fornecerei o tema. Parece-me que isto lhe faria bem, uma vez que faz tempo que
se encontra em sua vida comum.
Faça sempre o essencial;
Assista à santa Missa;
Faça a comunhão cotidiana;
Sua adoração de uma hora;
Recite o rosário
Faça o exame de consciência, à tarde, por três minutos
Uma pequena leitura de uma hora, a não ser que tenha ouvido alguma instrução
Para a vida interior, caminhe com Deus, trabalhe com ele e por sua glória. Faça sempre aspirações a
Deus, sobretudo, na hora de dormir.
Seja paciente consigo mesma nesta pobre doente e enferma, procure manter a alegria, contente ou
não, é o seu dever.

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Parece-me que sua alma está carente de alimento, que não está se ocupando de Deus na oração como
deveria. Vá à oração com um pensamento fixo, pois Nosso Senhor lhe ajudará a progredir, ou lhe
dará outro melhor que havia preparado.
Lembre-se que a caridade filial deve ser sua primeira virtude de família. Quanto aos nervos, as
pequenas emoções, isto não é nada, tome um calmante diante de Deus e recomece a caminhar.
Eu a abençoo!
Seja toda de Nosso Senhor, mas através do coração e das intenções.

A Stéphanie Gourd, 29 junho 1866 (CO) 1812; IV,409)

60 - A solidão leva a alma para Deus

Natalie Jordan divide sua vida entre Lyon e a casa de campo de Calet. O padre Eymard a convida para
aproveitar a solidão e o silêncio para rezar, escutar Deus e contemplar o céu. Mas a igreja é um lugar apto
para rezar e conversar com Deus. Ela é membro da Agregação do Santíssimo sacramento, e assim sendo, ela
faz parte da família eucarística: que ela se unisse à adoração dos religiosos.

A solidão dirige as almas puras e simples para Deus, a senhora desfruta desta solidão em Calet, entre
o céu e terra, a senhora pode rezar, escutar Deus, contemplar o céu.
O silêncio do campo recolhe naturalmente a alma; e quando sabemos ler em cada criatura o bem que
Deus fez para o homem e para sua glória; quantos suspiros apaixonados nós podemos dirigir ao autor
de cada uma dessas criaturas, a Deus. Mas é na igreja, talvez sozinha, na calma e no silêncio, que a
alma deve rezar conversar com Nosso Senhor! A senhora é sua primeira adoradora, é preciso ser fiel.
A senhora é nossa em Nosso Senhor, é necessário que se uma as nossas adorações.
Depois, a senhora está começando a envelhecer como eu; é preciso apresar-se para garantir o bilhete
de viagem e fazer uma homenagem a Deus.

A Natalie Jordan, 9 julho 1866 (CO 1820; IV,416)

61 - Sepultados junto com Jesus

São muitas as provações que Virginie Danion está vivendo por ocasião da fundação da Sociedade de Ação de
graças, talvez pelas atitudes de P. Bazire, seu diretor. O p. Eymard a convida à humildade e à confiança. Este
tema de ser sepultado com Cristo lhe é familiar, tendo vivido ele mesmo.

Deus a chamou para uma grande graça de santidade; o seu estado atual, as suas graças recebidas, o
amor que Deus lhe deu provas, você diz bem [melhor] que todas as outras coisas.
Seja, portanto, muito santa, boa filha, mas santa ao modo de Jesus, seu mestre e esposo. Você se
encontra no caminho que ele tanto amou e que foi o último de sua vida e de seus passos. Este período
de misérias e de tribulações presentes a coloca um pouco mais aos pés da cruz, e é um grande bem,
obriga-lhe a ser mais humilde que zelosa, mais com Deus do que com as criaturas, mais desprezada
do que estimada: é algo divino.
É o tempo de ser sepultada com Jesus, de se esconder no fundo do porão durante a tempestade.
O meu conselho é que deixe a caridade serva da humildade, que guarde o silêncio, somente fale a
Deus e a seu diretor, não se inquiete, nem com as injustiças, nem com as calúnias, nem perseguições
presentes, mesmo as passadas; mas, mais generosa que Jó diga: Que Deus seja glorificado! [cf. Jó
1,21]. Não fixe o coração e o espírito no sofrimento, mas na glória de Deus, que jorra de suas feridas
e de suas dores.
A Virginie Danion, 1º novembro 1866 (CO 1863; IV,445)

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62 - A comunhão cotidiana

O P. Eymard pede a sua dirigida para comungar todos os dias e, se seu confessor pensar diferente, que ela
mude de confessor. Diante de seus escrúpulos, ele lhe relembra a sua consagração: “Você pertence a Deus,
totalmente a Deus, e sempre a Deus”. Não se julgue com base em suas virtudes, mas tendo o olhar no coração
de Nosso Senhor: ele nos convida a sua mesa.

Continue, continue sempre a comungar cotidiana. Deixe este confessor se necessário. Primeiro que
tudo: a vida, e o alimento espiritual e divino da vida que nos foi dado.
Você sabe por experiência que tem mais necessidade de força que de moral, de graça que de virtude,
de amor que de devoções. Portanto, deixe de lado os escrúpulos e a perplexidade, e avance com o
vento favorável ou contrário, mas neste caso é preciso confiar em Deus e avançar.
Você pertence a Deus, toda a Deus, sempre a Deus, portanto, é necessário viver de Deus, descansar
em deus e se alegrar em deus. Como fazer isto, a não ser através da santa comunhão?
Portanto, é preciso comungar, mas com o olhar no coração de Nosso Senhor que a chama, a voz da
obediência que lhe diz: Vá, não considerando suas ações ou virtudes. Então se esconda numa gruta
no deserto e chore por ainda viver.
Escreva-me, informando se está melhor e que seguiu minhas orientações, pois eu a conheço melhor
que ninguém.
A Antonia Bost, 12 fevereiro 1867 (CO 1914; IV,486)

63 - Viver na ação de graças

Ecoando as palavras do pregador que a convidou a “viver na ação de graças”, o padre Eymard não pode
deixar de encorajar a Sra. Lepage, que se confia a sua orientação espiritual e lhe escreve: “Seja feliz em Deus
e naquilo que ele lhe mandar em sua infinita bondade”.

Concordo com aquele pregador que dizia que era necessário evitar a tensão do espírito e uma virtude
sacrificante: é preciso viver a ação de graça, aquilo que supõe uma alma que se alegra com os dons e
com os benefícios do Senhor.
Quanto à senhora, a sua vida consiste em entregar-se completamente a Deus e um pouco à caridade
para com o próximo.
Seja feliz em Deus e naquilo que ele lhe mandar em sua infinita bondade.
O amor é forte, nada recusa a Deus e lhe oferece com alegria aquilo pede ou deseja.
Entre por este caminho de graça.
A Lepage, 17 março 1867 (CO 1927; IV,495)

64 - Trabalhar pela glória do bom Mestre

Virginie Danion, que se dedica ao serviço da obra eucarística, traz em si o desejo de fundar um instituto
religioso eucarístico com o fim específico da ação de graça. O padre Eymard a encoraja a passar para a
ação, superando as dificuldades. Ela dispõe de todos os elementos necessários; é o momento de fazer nascer
este instituto. A Sociedade nascerá no ano seguinte, mas depois da morte do padre Eymard. Ele lhe pede
orações, pois está atravessando a provação da noite do espírito.

Parece-me que o bom Mestre está fazendo morrer o grão de trigo [cf. Jo 12,24] e que o grão está
germinando, porque está completamente morto para o mundo. Foram necessários cortes e mortes para
fazê-lo morrer; é preciso que ele cresça agora.

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Eu compreendo bem que sua solidão e seu desgosto pelo mundo; estas tempestades, quando o vendo
chega, faz o barco avançar rapidamente.
O que fazer? Sua obra de ação de graça? Ela é bela e digna de sua vida e de sua morte. Mas é preciso
um centro de vida, e a Mauron você não passa de uma operária, uma simples unidade. É preciso que
se torne Instituto Religioso: é tempo. Quem sabe Deus não chamou a si o seu piedoso e venerável
padre para ele a fim de lhe dar maior liberdade?
Eu estou convencido, disto, pois em Mauron, seja em família, seja na cidade, não vejo muito futuro
nem desenvolvimento. É necessário que se dedique à obra sem demora, pois o sol está se pondo. Tudo
está favorecendo: a finalidade da Sociedade, Jesus Hóstia, a lei da Sociedade, os meios, as
características; o momento é apropriado, o que falta então? Que ir. Anne, que dorme em Mauron, e
que se consome em uma pequena gota d água, saia de seu sono e de sua pequena prisão, e disse ao
bom mestre: Vós tendes necessidade de uma porteira, de uma comissária, de uma pobre serva; pois
aqui está um pobre serva, mas que é toda vossa. Para onde devo ir, por onde devo começar? Com
qual estilo exterior. Eis aí as perguntas que devem ser respondidas.
É preciso trabalhar para a glória do bom Mestre, é tempo; é preciso pedir ao bom Mestre para sofrer
e morrer pela obra de Ação de graça.
Reze por mim. Minha alma está triste, ela precisa de um pouco de repouso aos pés de Deus; mas não
sei onde encontrá-lo; ou como ter tempo.

A Virginie Danion, 26 junho 1867 (CO 1979; IV 532)

65 Estar onde Deus quer

Sobrinha de Camille Jordan, Edmée escolheu viver o celibato. Depois ficará encarregada da educação dos
filhos de sua irmã, Isabelle que faleceu aos 42 anos. Nesta carta, o padre Eymard a confirma o estado de vida
por ela escolhido. Traça três regras: a primazia do amor de Deus, o espírito de piedade nutrido pela prática
da meditação, a confiança total no Senhor. “O seu futuro é Deus e Deus que a ama”.

Escrevo-lhe da casa de sua ótima tia, onde li sua carta. Respondo categoricamente e como sabe que
sou franco, responderei com franqueza.
Sim, aceito ser seu diretor espiritual, mas agora que sua irmã está casada e bem casada, você tem o
direito de escrever sem intermediários a sua orientação, e como pensa e se encontra diante de Deus e
de si mesma.
É minha firme convicção de que deve refutar cada tarefa, cada obra que limite a sua liberdade e guarde
sua independência como guarda seu coração para Deus que é e será seu bem.
Você está onde Deus quer, por conseguinte onde se encontra o bem a fazer, com a graça que a precede,
a acompanha e a segue. Assim, você não perdeu seu tempo, ao contrário, ele está bem empregado.
Esforce-se em manter estas três condições:
A lei do amor de Deus seja sempre a regra e o motivo de seu amor para com o próximo, segundo a
hierarquia dos desejos.
Que o espírito de piedade lhe ajude a ficar acima de todos os deveres. Alimente bem seu coração,
aprendendo de Deus, o seu espírito, praticando a meditação, a sua vontade, pela abnegação. Eis a lei
para adquirir e alimentar sua santidade.
Guarde sempre o espírito de seu coração. Nada de tristeza, nada de preocupações com o futuro. Seu
futuro é Deus e Deus que a ama. Você pertence a ele, você é consagrada a ele. Trabalhe e durma
tranquila na barca de Jesus. Respondo eu o resto.
Eu recebi com alegria as notícias de suas irmãs e de toda a sua família. Eu vejo que o bom Deus a
abençoa abundantemente. É assim que a divina Providência provê àqueles que se confiam a sua
bondade paterna.
Eu a abençoo.
A Edmée Brenier de Montmorand, 12 julho 1867 (CO 1985; IV,536)
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66 - Entre os braços da misericórdia de Jesus.

A senhora Camille Chanuet, nascida Crozet, mãe do padre Michel Chanuet, sacramentino, em 1862 entrou
para as Servas do Santíssimo Sacramento. Em 7 de julho de julho de 1867, durante uma temporada em família
por razões de saúde, pronuncia os seus votos perpétuos. Agravando-se seu estado de saúde, seu filho, Michel
vai para perto dela em 21 agosto 1867. O padre Eymard envia esta carta para a mamãe, convidando-a a ao
santo abandono entre os braços da misericórdia de Jesus. Morre em 23 de agosto.

Cara mãe e irmã em Nosso Senhor, gostaria de ter acompanhado o seu querido e nosso queridíssimo
filho; seria para mim um grande conforto vê-la, abençoá-la e a rezar pela senhora; sempre está
presente diante de Nosso Senhor e não paro de rezar pela senhora. Abandone-se, querida irmã
Camille, ao amor que ele lhe dá: isto é grande e absolutamente misericordiosos. Tudo aquilo que ele
tem feito no curso de sua vida, sobretudo, ao final, dão provas de seu amor.
Combata o terror que lhe afligem com o santo abandono nos braços da misericórdia de Jesus, seu
bom Mestre.
A senhora é sua serva, tudo lhe doou, a senhora é toda dele consagrada; ele a tomou para seu serviço,
e a crucificou com ele, como não repousar em seus braços como uma criança bem amada! A senhora
irá para o céu, boa irmã Camille. Para mim, eu peço que trabalhe um pouco mais, contudo é perfeito
dizer: “Que venha o teu reino, que seja feita tua santa vontade” [Mt 6,10].
O padre parte. Só tenho tempo para abençoá-la e de dizer, querida mãe e boa filha em Nosso Senhor.

À Ir. Camille do Santo Sacramento, 21 agosto 1867 (CO 2006; IV,555)

67 - Na oração, Deus nos alimenta

Nesta carta de conforto espiritual, o padre Eymard repete quase como um refrão o verbo “alimentar”: “A
alma se alimenta de Deus”; “na oração, Deus nos alimenta”; “na comunhão, somos nós a alimentarmos Deus
dos nossos sofrimentos”. Convida também à senhora Lepage a alimentar a sua oração com o reconhecimento
– e a desfrutar de Deus e de sua bondade. É a autêntica espiritualidade eymardiana.

Alegro-me com sua boa disposição, de seu estado e, sobretudo, da decisão que tomou de ser fiel ao
seu regulamento. Assim está bem.
A regra de vida é como a dieta corporal: observe-a, pois assim sua alma estará sempre contente
quando bem alimentada de Deus. É na oração onde encontraremos a paz silenciosa, a calma, o repouso
que é sempre mais sensível quando se faz a santa comunhão.
Quando se reza, é Deus que nos alimenta, quando se comunga, somos nós que a alimenta Deus com
o pão do sofrimento e com o fruto laborioso da virtude, isto explica porque até nós sofremos depois
da santa comunhão.
Quando a senhora está na alegria, recolhida, unida a Deus e a sua bondade, alimente a sua oração de
reconhecimento e desfrute de Deus e de sua bondade. Mas quando vier a aridez, tire água do poço,
água de esperança, e se sua alma sofre, tome o sofrimento como de tema de sua oração, a fim de
torná-lo sobrenatural, principalmente se forem sofrimentos e problemas.
Estou feliz de ver o afeto recebido em sua chegada; é necessário entreter-se como fez; há paz e bem
assim.
A Lepage, 27 agosto 1867 (CO 2010; IV,557)

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68 - Princípios de vida espiritual - O Rochedo de Saint-Romans

Dentre as inúmeras cartas de padre Eymard para a Sra. Natalie Jordan, esta carta é uma das mais preciosas.
Não somente por ser pródiga em conselhos e princípios espirituais, mas por revelar a graça que recebeu no
Calvário de Saint-Romans quando era jovem vigário em Chatte. O 4º princípio onde desenvolve a oração de
contemplação é um resumo de sua espiritualidade e constitui o fruto maduro de sua experiência mística da
qual ela é a única confidente. Esta carta revela o profundo vínculo que o une a família Jordan, como se fosse
a sua família , e em particular a Natalie, a sua “velha filha”.

Faz tempo que não recebo notícias suas e, de certo modo, fico feliz, porque isto prova que a senhora
está bem, que a alma está bem alimentada e caminha em boa estrada.
A senhora me entendeu bem; a recapitulação que me fez de meus conselhos está exata, entretanto
permita que eu os retome:
1º Princípio:
A fidelidade na observância da própria regra de vida é a primeira das virtudes. É bom insistir: a dieta
é a condição da boa saúde.
2º Princípio:
É necessário colocar a frente a virtude da fidelidade na prática dos atos exteriores de sua regra, isto
é, realizá-los no tempo, local segundo as circunstâncias que os acompanham. Nisto consiste o
sacrifício da virtude. Outros devem ser praticados respeitando as regras naturais, isto é como um ato
moral com as suas qualidades normais. Nisto consiste a perfeição. Quando, por exemplo, a senhora
tiver feito a meditação segundo a regra prescrita, lido o autor determinado no tempo pré-estabelecido
e com a devida atenção, então a senhora fez uma ótima leitura.
Deixa a Deus o sucesso espiritual, os sentimentos de graça a receber. A senhora deve apenas semear,
plantar, se preferir, Deus pede que tenha o empenho, deixando para ele o sucesso.

Aspire às virtudes fortes, mais abnegação do que esforço. A doçura vem da força, mas nem sempre a
força da doçura.
4º Princípio:
Quando reza, preocupe-se em alimentar-se de Deus, mais do que purificar-se e humilhar-se. Para tal
fim, alimente sua alma com a verdade personificada na bondade de Deus, com sua ternura, com seu
amor pessoal. O segredo da autêntica oração consiste em ver a ação e o pensamento de Deus em seu
amor por nós. Então a alma surpreendida exclama: Quanto és bom Meu Deus, o que posso fazer por
ti? O que posso fazer para te agradar?
Mas para chegar esta oração de vida, é preciso trabalhar muito, esquecer-se de si e não se procurar na
oração. É necessário, sobretudo, simplificar o trabalho da mente, um olhar simples nas verdades de
Deus. O segredo deste olhar simples consiste em considerar desde o início as coisas sob o aspecto da
bondade de Deus para com o homem, dos motivos de tais graças, de quanto isto custou a Nosso
Senhor.
Quando uma alma tem a felicidade de encontrar este lado bom, a oração é uma contemplação deliciosa
e transcorre rapidamente. Filha, como desejo que experimente Deus assim! Este por muito tempo foi
meu rochedo de Saint-Romans.
Mas percebo que perdi o fio da meada e não recapitulei as ideias da outra carta, mais a senhora
apreciará mais me escutar do que reler suas próprias notas.
Creia-me não seja zelosa por dever, aspira, ao contrário, à vida interior para atrair o amor divino. Nós
temos muito a caminhar, é justo que escolhamos a mais rápida, isto é a do amor, que tudo dá sem
interesse.
Sempre relembro a vista a Lyon; a senhora sempre teve em mim mais um amigo do que um padre. A
alegria de revê-la depois de tanto tempo, fez com que eu recordasse minha família. Além disso, tinha
o coração sofrido que se alegrou ao reencontrando minha velha filha.

A Natalie Jordan, 27 agosto 1867 (CO 2011; IV,558)

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69 - Servir a Deus com fidelidade e generosidade

Um convite a Mathilde para ser constante no tempo da provação e da aridez espiritual. Para isto, perseverar
na oração, apesar das dificuldades, manter-se em calma e em paz, a degustar Deus em si mesma. Relembra-
lhe a dupla lei da oração e da prática da santa vontade de Deus: alcançar o puro amor e fazer as coisas para
agradar a Deus.

Primeiro que tudo, recordo-lhe que quando se recebe uma grande graça de renovação interior, no
princípio tudo parece fácil e amável pois estamos experimentando as impressões doces e amáveis da
graça; mas depois vem o momento da provação. É um grande choque. No início, ou se faz muito ou
não se faz o suficiente. Se fazemos muito, acabamos por desanimar na primeira infidelidade: e isto é
fruto do amor próprio. Se não fazemos o suficiente, a amarga reprovação não nos vem da consciência,
mas do demônio que quer insinuar que tudo acabou, pois somos infiéis.
Mas a senhora me dirá: eu comunguei como lhe havia prometido, e eu fiz aquilo que o senhor me
havia pedido, ou pelo menos que eu pude. Se tiver feito tudo aquilo que pôde, então tudo está bem
perante Deus.
Mas, eu não sou Deus!... Por sorte! A senhora pensaria ser santa!
No inverno, nos aquecemos ao trabalhar. A senhora está no inverno. Trabalha mais não chega a suar
e isto é perigoso, porque se cansa.
Recorde-se que no serviço de Deus, é necessário fidelidade e generosidade, mas não a força. A força
é Deus!
Mas a senhora não consegue rezar como desejava, na calma e sozinha. Infelizmente, porque a senhora
não conseguiu começar nem terminar esta oração. Esforce-se para alcançar esta meditação na calma
e na paz, a fim de degustar Deus em si.
Segunda norma: a generosidade em cumprir a santa vontade de Deus em nós, mediante o desprezo de
si mesma, o amor ao dever – o que é o amor puro? É fazer aso coisas para agradar a Deus.
Tem pressa em ser transformada interiormente em Deus? E exteriormente? Seja senhora de si,
comande com autoridade a sua velha natureza, e domine-se para que possa viver do espírito de Nosso
Senhor.
Não lhe digo nada sobre o que tanto a preocupa e a deixa inquieta... Tanto são os motivos para se
preocupar!
Recorde-se sempre desta norma: quando a preocupação vem depois que cumprimos uma norma, trata-
se de uma tentação. Quando vem concomitante com uma ação, em si é boa ou teve início com uma
boa intenção, deve-se concluir, apesar da preocupação. Se a inquietação vem primeiro, deve-se
suspender a ação ou formar um bom princípio fundado no dever ou na obediência, ou em uma virtude,
etc e ir adiante.
A Mathilde Giraud-Jordan, 27 agosto 1867 (CO 2012; IV,560)

70 - Alimentar-se do Senhor pela manhã para a inteira jornada

Sthéphanie havia deixado sua mãe há pouco tempo. O padre Eymard conforta a senhora Gourd convidando-
a a aceitar esta momentânea separação como a vontade de Deus. Que ela se dedique a seus afazeres com toda
confiança e de acordo com suas forças, mas também com toda liberdade, libertando-se até da igreja para
assumir sua missão de “serva adoradora do Santíssimo Sacramento”.

É necessário sempre adorar os desígnios misericordiosos e amorosos do bom Mestre, e ver nesta
momentânea separação o bem de sua glória no próximo. A alma deseja viver aos pés de Deus, e ele
dá a cada um uma missão. A senhora sabe cara filha, que a santa e providente vontade de Deus é a
melhor norma de nossa vida e também a mais segura. É necessário que a senhora se encontre com
sua filha, pois são duas existências em uma só.

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Ocupe-se de seus afazeres materiais confiando nas luzes e nas forças do momento, mas sem esforço
mental e, sobretudo, sem se cansar muito, fazendo só aquilo que está dentro de suas forças e que lhe
pareça prudente.
Alimente, pela manhã, sua alma para a inteira jornada.
Na igreja, recorde-se de que é somente a serva adoradora do santíssimo Sacramento, não se ocupando
de outras coisas ou de si. O amor puro glorifica a bondade e a ternura de Deus em si e em nós.

À Joséphine Gourd, 27 agosto 1867 (CO 2013 ; IV,561)

71 - É preciso esquecer-se de si no verdadeiro amor

Stéphanie acolhe os seus sobrinhos: é a santa vontade de Deus no momento. É preciso renunciar à própria
tranquilidade para cuidar dos familiares, esquecer-se de si no verdadeiro amor.

Eis aí Thorins como instrutora de seus sobrinhos. Devo dizer-lhe: Deus quer isto. A caridade vai
dominar sua vida exterior, é a virtude do momento. O bom Deus sempre sabe como nos colocar no
caminho da renúncia.
Você pensava que viveria calma e solitária junto a sua boa mãe, e então o bom Deus lhe aparta e lhe
dá o barulho e muita ocupação: Que ele seja louvado. Quanto mais se ocupar com as coisas externas,
mas deverá preencher seu interior com Jesus.
Quando estiver com Jesus não pense em outra coisa, ocupe-se somente dele. Pouco de si para Jesus
e muito de Jesus para você, em você e por você. É preciso esquecer-se de si no verdadeiro amor,
atingir a verdadeira união em Nosso Senhor através do íntimo sentimento do coração. Assim, não nos
fatigamos e nos une a todos.
Domine o exterior como senhora, orientando o leme para a santa vontade de Deus no momento.
Abençoo-a querida filha.
A Stéphanie Gourd, 27 agosto 1867 (CO 2014; IV;562)

72 - Desfrutar de Deus, de suas graças e de seu tabernáculo

Em algumas poucas linhas, o p. Eymard traça o ideal de uma vida adoradora. Ele convida a senhora
d’Andigné a desfrutar de Deus. Desfrutar significa não querer, senão a ele, significa viver através dele e com
ele, aos seus pés, em seu coração, em sua divina pessoa. Desenvolve estes diferentes aspectos e conclui:
Permanecer unido a Jesus, em Jesus, significa ser sua serva adoradora. O seu comentário sobre Jo 6,56 se
inspira em Roma em 1865, o dom da personalidade.

Você é feliz em sua casa de campo, com seu Hóspede divino, a calma, a solidão de sua adoração,
plenitude da graça e do amor de Nosso Senhor! Que Deus lhe conceda mais e em abundância.
Desfrutar de Deus, de sua graça, de seu Tabernáculo, de seu Mestre tão bom. Desfrutar significa não
querer, senão a ele, significa viver através dele e com ele, aos seus pés, em seu coração, em sua divina
pessoa.
A seus pés, escutando como Maria [cf. Lc 10,39]: é o pão da vida e da inteligência; é o alimento da
alma que reconforta toda pessoa; é a oração do silêncio, do olhar, da alegria de estar sob a influência
deste solo divino.
Em seu coração, na santa Comunhão, ou quando o seu coração sofre, ou quando a sua alma está triste.
Quando Jesus parece morto, o seu Coração não morre, mas conserva o sangue ardente mesmo depois
da morte.
Em sua divina Pessoa: Jesus disse: “Quem me come, permanece em mim e eu nele”. [cf Jo 6,56].
Bela e divina comunhão de vida! Permanecer unido a Jesus, em Jesus, significa ser sua serva
adoradora.
A Camille d’Andigné, 28 agosto 1867 (CO 2016; IV;563)

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73 - Com a comunhão, Jesus vai se formando dentro de nós

Palavras de encorajamento para a senhora de Grandville, preocupada com o estado de saúde de sua irmã.
Padre Eymard a exorta a ser fiel à comunhão frequente. Não vamos à comunhão porque somos dignos, mas
por uma necessidade vital. É esta “a sua única virtude, porque é Jesus que vais se formando dentro de você”.
Daí a certeza de que: “quanto mais sou pobre, mais tenho necessidade de Deus”. Diante do desencorajamento
e da tentação da paralisia, confie-se inteiramente à bondade do Senhor na “santa pobreza do amor”.

Quando me falou de sua irmã, de sua fraqueza, de seu temor de perdê-la, de ver esta bela flor escolhida
pelo céu, tudo isto me preocuparia se não tivesse a esperança de que Deus a conservará conosco ainda
por um tempo. Ela nada perderá em permanecer conosco; reze e eu rezarei também para que retarde
o chamado dela. Reconheço que seria uma grande tristeza para a senhora, pois ela é tão boa e sua
alma ganha ao viver junto dela.
A senhora me disse que se arrasta no serviço de Deus, mas é melhor arrastar-se que cair ao chão.
Apoie-se na santa comunhão; esta é a vida e sua única virtude; digo única porque é Jesus que vai se
formando dentro da senhora. Considere a santa comunhão como um dom de bondade e misericórdia
de Deus, um convite à sua mesa de graças, porque a senhora é pobre, débil e sofredora; então a senhora
irá à comunhão com alegria.
Não fale de responsabilidades com Nosso Senhor, mas de ação de graças; é melhor. Parta deste
princípio: quanto mais eu sou pobre, mas eu preciso de Deus.
A senhora me deixaria feliz se fizesse isto que lhe aconselho.
“Eu a vejo desencorajada, triste, um pouco impaciente com todos, a senhora vai ao dever por
obrigação, ao estado de graça através da consciência. Como gostaria que todas essas névoas se
distanciassem da senhora. Que todos estes arrependimentos cessassem; que todo o cansaço se
revigorasse. Mas como conseguir isto? Jesus é bom, doce e amável, ele me ama, ele me quer para ele,
mas através da confiança, da santa pobreza de amor”.

A Antoinette de Grandville, 7 outubro 1867 (CO 2039; IV,579)

74 - Jesus ornou a sua cruz com as flores do Paraíso

O P. Eymard reconforta sua filha espiritual que está prisioneira da tristeza. É bom meditar sobre a Paixão do
Senhor, mas não como modelo de expiação e de penitência, mas piedosamente “como prova do amor que ele
sente por ela e por todos nós”.

É certo, cara filha, que possui a melhor parte e deve guardá-la com cuidado; trata-se da realeza do
amor de Jesus que deve ornar todos os dias através de sua fidelidade e, sobretudo, através da alegria
do serviço de Deus.
Combata a tristeza que eu chamo de orgânica e a tentação que dificulta a confiança e o santo
abandono.
Asseguro-lhe que Deus lhe quer muito bem, que a senhora também o ama; é certo que a senhora não
deseja senão ele.
Medite a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, não como modelo de expiação e de penitência, mas
como prova do amor que ele sente pela senhora e por todos nós. O amor de Jesus ornou a cruz
inseparável de cada dia, sua aspereza e seus horrores; o amor de Jesus floresceu sua cruz com as flores
do Paraíso.
A Lepage, 10 outubro 1867 (CO 2044; IV,583)

50
75 - Seja antes de tudo uma filha de oração

O P. Eymard encoraja a senhora Jordan a aumentar sua fidelidade na oração e a cultivar aquela que nasce
do amor, uma oração “que agrada Deus, [que] se alimenta de Deus- esta graça de educação da alma através
da graça, através dele mesmo”.

A Sra. me deu grande alegria ao dizer: Com a graça de Deus eu permanecerei fiel. Sim, é preciso
permanecer fiel, há muitas deserções! É tempo de fechar ao redor de Jesus, nosso Mestre. Procure,
boa filha, aproximar-se mais dele, e permanecer em seu serviço.
A força é a virtude do soldado, o amor da criança, o devotamento dos apóstolos e dos religiosos.
Cultive essas três virtudes; que seja sua Trindade de vida. A força vem do amor, ame muito, então, o
amor vem do fogo da oração, mas de uma oração sua, afetuosa, recolhida, que agrada a Deus, se
alimenta de Deus, aspira sempre a verdade, a bondade e o amor de Deus, pois a chama que se diminui,
perde a luz, e vais se apagando. Eu só desejo ver na senhora uma coisa: o desejo, a fome, a felicidade
da oração em Nosso Senhor! Verei uma bela chama. Um estômago que não se habitua aos alimentos,
não digere, não sente fome, está doente. A Sra. me falará de sua oração, da graça que educa a alma
mediante a graça, mediante Deus mesmo. Será o maior prazer que poderás me dar.

A Natalie Jordan, 14 outubro 1867 (CO 2049; IV,587)

76 - Jesus na Eucaristia: centro, graça, conforto

A Sra. d’Andigné é “a mais afortunada dentre todos os católicos leigos”. Na capela particular de seu castelo
de Isle au Lion d’Angers, ela participa todos os dias da santa missa e pode se recolher, como desejar, em uma
adoração prolongada, longe dos ruídos e da agitação da cidade. O Senhor é seu “centro eucarístico”, sua
casa, um “Cenáculo permanente de vida eucarística”. As nuvens passam, mas “o sol não muda sua natureza”.

Agradeço sua carta. Eu a esperava. Eu louvo a Deus porque a senhora tem a posse do divino
Tabernáculo, a Sra. é a mais feliz dentre os católicos leigos, a Sra. tem o que há de mais celeste e de
divino neste mundo, pode ir, quando quiser, visitar Nosso Senhor em pessoa. Tem também a santa
missa cotidiana, tem a piedade de amor, e Jesus como seu centro eucarístico, sua graça, sua lei, sua
consolação, seu mundo no mundo: o que se pode desejar de melhor! Ame sua casa, esta Betânia de
Nosso Senhor, este Cenáculo permanente da vida eucarística!
Eu a encontro bem feliz: pelo menos, ninguém a perturba quando está aos pés de Jesus! Permaneça
como ele quer, como ele a encontra: o estado da alma é o pensamento, a oração, o amor espontâneo;
diante de Deus, precisamos ser nós mesmos. Deus muda o tempo pra fazer variar os trabalhos, os
produtos da terra, ora, a nossa alma é a terra da graça.
Mantenha sempre presente o espírito do amor divino e a diversidade de seus deveres, de suas
atividades e suas motivações interiores.
O sol não muda sua natureza quando as nuvens o encobrem.
Peço que não se incomode com as nuvens negras. Que estas nuvens negras não lhe façam mal. Sendo
negras, são más e vêm do demônio. A senhora se comporta como a sensitiva [em botânica: mimosa
pudica]! Atinge-se muito facilmente sua alma.
Sei bem que não podemos estar sempre na alegria do céu, mas podemos permanecer sempre na
obediência a Nosso Senhor e na espera do retorno do sol que não tarda.

À Camille d’Andigné, 11 novembro 1867 (CO 2075; IV,608)

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77 - Encontrar Deus nas diversas atividades da vida

De retorno a sua casa de campo de Calet, onde havia ido para descansar, Mathilde reencontra em Lyon suas
atividades. O padre Eymard sugere uma proposta de força e recolhimento para a jornada nas orações da
manhã e para que encontre Deus nas várias atividades de sua vida. A liturgia da Igreja lhe permite variar os
argumentos da meditação. É importante associar estes temas à comunhão que seguirá e que deve ser o centro,
a inspiração e o fim de toda a vida espiritual.

Li atentamente a sua breve carta. A senhora está adquirindo a qualidade ou o defeito de sua boa mãe,
que é o de dizer tanto com tão poucas palavras.
Não se inquiete por se sentir dispersa no espírito e na vida em seu retorno de Calet. Não é algo
estranho. Em Saint Romans estava em um local quente, enquanto agora está exposta a tantos ventos.
Todavia, deve se adequar a esta nova e habitual situação. Como conseguir? Com as jaculatórias
frequentes e com a sua oferta renovada no curso das atividades. Mas o essencial, e que ninguém pode
substituir, consiste no fato de unir força e recolhimento para a jornada durante a oração matinal. Esta
é a primeira e absoluta condição de vida espiritual, porque Deus assim desejou que para a Sra. a vida
espiritual fosse o complemento e o resultado de sua vida exterior e de seus deveres de dona de casa.
Nisto não há o que se queixar, pois para ser boa, a senhora é obrigada a viver mais abundantemente
de Deus: feliz necessidade!
Para as orações, dê-lhe a primazia.
Para os temas das orações, seria bom variá-los para evitar o desgosto de um alimento sempre repetido.
Proponho variar conforme os tempos litúrgicos.
No Advento, medite sobre a preparação para a festa de Natal, e depois sobre as festas sucessivas.
Na Quaresma: sobre a paixão. A senhora possui os livro “Relógio da Paixão” de santo Afonso Maria
de Liguori; “Meditações sobre a Paixão” do padre Alleaume, Jesuíta; “Pensamentos e Condições
sobre a Paixão, em 3 volumes.
Eis aqui outro plano:
Domingo, medite sobre o céu [Cap, 47,48, 49 – Imitação}.
Segunda-feira, sobre a lei do amor de Deus. Amarás o Senhor teu Deus, com toda a tua alma, com
todo o teu coração [Mt 22,37], com todos os sentidos e com todas as tuas obras. Sobre a lei, considere
a graça de amor recebida como prova do amor de Deus por nós, as nossas promessas de amor; e
depois nossas infidelidades e negligências. Será como um ponto de partida para a semana.
Na terça-feira, sobre a vida interior, que consiste:
1º seguir em si mesma os movimentos da graça;
2º Adorar nosso Senhor com todas as nossas faculdades;
3º Louvar, amar e abraçar a santa vontade de Deus para nós, conhecida ou que virá.
Na quarta-feira vida exterior, sobre o modelo da santa família de Nazaré nas obrigações, no zelo.
Na quinta-feira, sobre a Eucaristia;
Na sexta-feira, sobre a Paixão;
No sábado, sobre a santa Virgem Maria.
Procure associa a meditação à santa comunhão que deve ser o centro, a inspiração de toda a vida
espiritual.
Seja sempre gentil e amável para os de casa, santa e dignas para os de fora, virtuosa para si e terna
para Deus; eis aí suas quatro virtudes cardeais.

A Mathilde Giraud-Jordan, 14 novembro 1867 (CO 2078; IV,610)

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78 - Deus nos ama com um amor pessoal

Ao olhar muita as próprias misérias, corre-se o risco de desanimar. É preciso percorrer outra estrada:
contemplar o amor pessoal e misericordioso de Deus par conosco. “Não se recolha em si mesma, mas em sua
divina bondade- a senhora não desfruta de Deus o suficiente em si mesmo”.

Eu li a sua carta de retiro, eu respondo com toda simplicidade.


1º Deus a ama com um amor especial e todo misericordioso; ele lhe concede muitas graças, ele lhe
quer só para si; mas seu amor é contrariado pelas suas miséria muito presentes que esfriam seu
coração e a agitam, não poderia ser de outra forma. Porque sua pobre alma está sempre submersa em
remorsos e culpas, é preciso mudar o caminho, este que a senhora escolheu é muito espinhoso. Eu
concordo com que disse que está retrocedendo, mas não deve desanimar ou se sentir desolada.
Creia-me: coloque-se à parte com Deus, observe um pouco mais sua bondade e sua divina
Providência. Parta de seu amor tão grande quanto maior for a nossa indignidade. Deus a ama por ser
pobre e infiel, merece a nossa gratidão; este é o meio para se reerguer e retomar o ânimo. E é isto que
a senhora deve fazer imediatamente; verá as suas faltas a partir da misericórdia de Deus que em si
mesma.
Recolha-se não em si e nem em suas ações, mas nesta divina bondade, pelo menos terá um céu mais
puro e um sol mais vivificante. A senhora não desfruta o suficiente de Deus em si mesma.

A Antoinette de Grandville, 8 dezembro 1867 (CO 2084; IV,615)

79 - Fazer cada coisa como Deus quer

Nesta carta em que anuncia a próxima visita, o padre Eymard expressa sua proximidade espiritual com estas
duas mulheres, mãe e filha. Ao mesmo tempo recorda a ligação de ambas ao Senhor e as convida a deixarem-
se “guiar pela sua suave e santa vontade”.

Rezo muito por vocês e desejo muito revê-las. Em pouco tempo o Mestre mi dará esta satisfação.
Enquanto isto, as encontro em Nosso Senhor, no qual sempre estão presentes.
Vocês pertencem a ele assim como ele a vocês. Façam aquilo que ele diz e que lhe agrada. Deixem-
se guiar por sua suave e santa vontade, considerem as exigências de seus estados e da vida como a
expressão atual de sua divina vontade, e as exigências dos deveres e as conveniências de suas
situações como sinais de sua santa vontade.
Toda a vida de uma alma de Deus está nestas duas normas: Deus quer ou Deus não quer. A perfeição
de cada coisa consiste em fazer cada coisa como Deus quer e no espírito de Deus.
A melhor graça é de nosso estado interior, que torna a nossa forma ou a nossa lei de ação. Consultem-
na sempre.

A Joséphine Gourd e sua filha Stéphanie, 8 dezembro 1867 (CO 2085; IV 616)

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80 - Pertencer inteiramente de Deus e para Deus

Retomando o assunto da carta anterior, o padre Eymard recorda que é necessário ter uma confiança absoluta
em Deus: “Comungue, reze, aja como a pobre de Deus e Deus suprirá em sua misericórdia aquilo que falta.
– Vá a Deus através de tudo o que se apresenta. – Concentre sua vida espiritual em seu coração”.
Verdadeiramente a santidade é obra de Deus em nós.

Comungue, reze, aja como a pobre de Deus e Deus suprirá em sua misericórdia aquilo que falta. Que
Deus a abençoe e conduza pela mão!
Distinga o que vem de Deus, da razão, da imaginação, de um resto de escrúpulo ou do demônio, e
julgue cada coisa por sua regra e princípio.
Vá a Deus através de tudo o que se apresenta, sem se prender a nada, a não ser a sua santa vontade e
seu prazer. A oportunidade de praticar uma virtude se apresenta, aproveite para agradar a Deus, mas
não faça disso uma ocupação; é uma visita de um mensageiro celeste somente.
Concentre sua vida espiritual no coração, no desejo de ser toda de Deus e para Deus. Quanto ao
espírito, à inteligência, à memória, à reflexão, deixe-as à porta do santuário do amor divino. Não
combata diretamente as suas distrações, divagações da imaginação. Encare-as como estrangeiros ao
seu desejo de amar e servir a Deus, e então não se perturbe, nem se inquiete, o coração atrairá todas
as faculdades para Deus.

A Joséphine Gourd [sem data: 1867?] (CO 2086; IV,617)

81 - Nosso Senhor nos quer feliz com ele

A destinatária desta carta confiou ao padre Eymard quanta tristeza espiritual está vivendo. Ele a convida a
considerar o privilégio de ter a presença sacramental do Senhor em sua capela privada. “A senhora caminha
em companhia de Nosso Senhor, permanece com ele, fique contente”. Supere a provação e se abra à
confiança. Diante da tentação de ceder ao desencorajamento pensando no juízo de Deus, faz esta
surpreendente afirmação: “Nosso Senhor a quer muito bem para permitir que seja feliz sem ele e fora dele”.

Escrevo lhe algumas linhas neste lindo dia. Lia atentamente a sua carta, e notei que sua alma está um
pouco triste e estéril diante de Nosso Senhor. Esta é a condição desta pobre vida de exílio e de miséria.
É preciso esperar. O sol do paraíso não brilha todo o tempo, mas sempre há luz suficiente para ver e
seguir o caminho estreito que vai se alargando pela alma fiel.
A senhora caminha em companhia de Nosso Senhor, permanece com ele, fique contente! Com a
senhora está Jesus Salvador que opera a sua salvação; o mesmo Jesus, juiz futuro que a senhora tanto
teme, que lhe causa medo, apesar de tudo, trabalha com a senhora, associa-se a sua vida e as suas
ações. Julgando a senhora, julgará a si mesmo, e por isso será bom e sempre bom. Não o considere,
portanto, duro e severo, coisa que não ousaria fazer com um coração amigo e fiel.
Ficaria contente se se servisse do caminho espinhoso e dos momentos feios do percurso para melhor
encontra Nosso Senhor. Apreciamos o fogo quando estamos com frio, assim amamos mais ao bom
Mestre quando passamos por momentos ruins.
É preciso que o caminho da terra prometida não seja muito belo e amável para que não nos apeguemos
ao deserto e ao percurso.
Nosso senhor a que tanto bem que não que não permitirá que a senhora seja feliz sem ele e fora dele.
A sua seria mais natural se tivesse a simpatia da vida. Deixe Nosso Senhor agir e o siga com amor e
agradecimento de tudo.

A Camille d’Andigné, 8 de dezembro 1867 (CO 2087; IV,618)

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82 - Decidir-se a amar Deus por si mesmo

O padre Eymard deseja à senhora de Grandville que “Jesus se torne o seu divino centro divino”. Muito
facilmente, de fato, vivemos por nós mesmos, para nós mesmos. “Mas é uma vida muito negativa”, escreve.
Ele a encoraja a viver uma vida centrada em Deus, na contemplação de sua perfeição, de sua divina e infinita
bondade. E conclui com esta exortação: “Este é o tempo de viver de Jesus para só glorificarmos a ele”.

Que Jesus se torne o seu centro divino, eis, em uma palavra, os meus votos, mas um centro absoluto
e universal, inspirador dos pensamentos e dos desejos, o motivo da ação, da lei do amor, o critério
dos sacrifícios.
Desejo tanto vê-la viver de Deus.
Meu Deus, querida filha, quanto nós vivemos de nós mesmos, solitários, e para nós mesmos; mas é
uma vida muito negativa, porque estamos preocupados quase que unicamente com nossos pecados e
com nossas faltas, com nossas imperfeições. Isto me crucifica tanto.
Quando amaremos nosso Deus por ele mesmo! Quanto sua divina perfeição será a doce ocupação de
nossas orações! Sua divina bondade, o sentimento habitual de nossa afeição, seu amor em sua vida e
seus mistérios, a ocupação habitual de nossa piedade. Infelizmente, nós sempre ocupados com nós
mesmos e do pobre mundo! Apesar disto, o fogo celeste arde! Este é o tempo de viver d Jesus para
glorificar somente a ele. Procure em seu retiro do mês, ocupar-se destes pensamentos.

A Antoinette de Grandville, 26 dezembro 1867 (CO 2092; IV,623)

83 - Procurar o conhecimento de Deus, a ciência de Jesus Cristo

Em algumas linhas, o P. Eymard exorta Mathilde, de quem é orientador espiritual, a combater a tibieza do
espírito. Ao final, o que importa é adquirir “a ciência de Jesus Cristo”, que ele resume em poucas palavras:
“Conhecer, é a vida, Deus luz, verdade, depois Deus caridade”.

A. É preciso conhecer as fontes da tibieza do espírito.


A primeira é pior, é a dissipação do espírito, muita vida exterior. Tudo desliza sobre ele. É a semente
caída à beira do caminho. [cf. Mt 13,4]
O remédio é conduzir o espírito a refletir normalmente mediante algumas leituras ou meditações
sérias, com objetivo de prender sua atenção. É preciso mais verdade do que sentimentos piedosos: é
preciso reavivar o sentimento através da ação. O trabalho da verdade é para recuperar a atenção, a
reflexão, enfim a devoção.
A segunda fonte da tibieza do espírito é o tédio do espírito. Esta doença só é curada pelo amor de
Deus crescente em nós, pois é no desânimo que ela se fundamenta.
A terceira fonte é a preguiça do espírito que teme ver a verdade.
A quarta fonte é contrariar a graça, a atração do momento. O espírito está fechado e aturdido. É
preciso ceder à necessidade e a luz do momento. Se temer não fazê-la e sair do caminho, não se é
nem natural nem espiritual. O que fazer? Seguir a graça. Tornar-se familiar ao espírito da verdade
que a graça de Deus nos oferece. Para consegui-la e torná-la habitual é preciso de oito a quinze dias,
mas é preciso que aquela verdade se torne o centro da piedade e que tudo se dirija para ela.
Procure o conhecimento de Deus, a ciência de Jesus Cristo, o pensamento habitual de algumas
virtudes e terá um centro de força e de consolação. Nosso Senhor disse: a vida eterna consiste em
conhecer o único Deus e aquele que foi enviado, Jesus Cristo. [Jo 17,3]. Então conhecer é viver: Deus
luz, verdade e depois Deus caridade.
B. Como, cotidianamente, nós perdemos as nossas forças espirituais e como nossas práticas
espirituais não passam de um sustento para o momento, de tempos em tempos, devemos realizar
alguns exercícios de reparação, alguns que nos forneçam algumas reservas de forças para o

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extraordinário da vida. Trata-se de fazer uma revisão semanal ou mensal, a fim de avaliarmos em
qual situação nos encontramos.
Esta revisão traz as graças, os deveres, os pecados, as virtudes.
É o exame da situação; é preciso que a senhora o faça.
Sobretudo, arme-se de boa vontade fundada na graça de Deus, mas também na sua vontade, firmada
em Deus e, se necessário, contra se mesma.

A Mathilde Giraud-Jordan, [início] 1868 (CO 2132; IV,652)

84 - No silêncio de Deus, tecer louvores.

Existe uma grande afinidade espiritual entre o padre Eymard e a condessa d’Andigné. Ela lhe confessa que
sofre de uma grande aridez espiritual, e ele lhe diz que compreende o seu estado interior; ele há mais de um
ano, experimenta a noite espiritual. “Sofre-se muito com esta esterilidade, desta paralisia da alma e do
silêncio de Deus”. Ele a anima, lembrando-lhe o privilégio de ter a sua capela privada: “A senhora, ao menos,
tem a solidão de sua capela isolada”; “a senhora tem Nosso Senhor só para si”, e “eu tenho apenas o tempo
de vê-lo e não estou tranquilo”. Esta carta de confidência íntima reflete o seu último retiro de São Maurício
onde evoca, “o silêncio de Nosso Senhor” e seu estado de desolação espiritual (cf. NR 45,14; V,399).

Entendo o seu estado interior, um pouco por analogia, e diante de Deus a acompanho muito
sinceramente e muito de perto, porque se sofre muito com esta esterilidade, com esta paralisia da
alma com o silêncio de Deus. A senhora, pelo menos, tem a solidão e a sua capela isolada onde só se
ouve o eco da própria oração e os seus gemidos, enquanto eu estou privado disso. A senhora tem
Nosso Senhor só para si, e ele a acolhe sempre bem, a protege e a abençoa como hóspede de seu
Cenáculo. Eu, ao contrário, tenho apenas o tempo de vê-lo e não estou tranquilo.
Sofro mais do que a senhora, mas mantenha a qualquer custo, Nosso Senhor em seu Cibório de ouro
e de fogo. Se ele a deixar, siga-o, mas guarde-o. Há um grande segredo interior que quero
compartilhar: Combata a febre interior, esquecendo-se de si mesma e dos outros, e teça o louvor a
Nosso Senhor e procure agradar seu coração atraído por sua graça, com a alegria de seus méritos e da
Virgem Maria e dos santos. Torne-se bela e boa e veja a si mesma com complacência e se reconheça
nele.
A Camille d’Andigné, 15 maio 1868 (CO 2166; IV,676)

85 - Último trecho do caminho

Última carta a sua fiel confidente, onde deixa pressentir o término do caminho da vida. Exorta-a a aprofundar
a solidão da casa de campo de Calet, para “desfrutar e respirar Deus”. Ocupe o seu tempo com a meditação,
a oração, a contemplação da natureza tão bela e radiante na primavera; e depois com o trabalho interior,
que nunca termina, para adquirir a doçura do coração. Todos os conselhos que semeiam um terreno bem
preparado. Ele está assoberbado de trabalho. Os dois dias de calma que se permite no noviciado de São
Maurício para atualizar a correspondência não passam de uma breve pausa. Sabemos que em pouco tempo
ele falecerá.

E agora venho à senhora, cara filha. Eis que está imersa na solidão e bem próxima de Deus, pois está
mais presente a si mesma, mais atenta a si mesma. Abra bem as portas e janelas para retirar a fumaça
da cidade e das pessoas e poder assim respirar em Deus.
Leia muito no começo até que sua alma possa viver da verdade, seu coração possa se deleitar e sua
vida fecundar sob este bom sol da graça; mais pela manhã e à tarde, meia hora de oração afetuosa.

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Depois admire as belas estrelas, as flores e frutos do campo que trabalham sob a lei divina da
Providência.
Agora, boa filha, é preciso trabalhar na doçura do coração. Jesus disse: “Aprendam de mim que sou
manso e humilde de coração”. [Mt 11,29]
Se eu não soubesse de suas misérias, eu diria que se esforçasse para ser sobrenatural, porque de
tempos em tempos a natureza se rebela loucamente. Ah! O miserável amor próprio, como é traidor!
Não como alcançar a paz senão pela guerra, façamos então a guerra.
Adeus, minha querida e boa filha. Ficamos velhos e devemos nos apressar para aproveitá-la a lâmpada
que ilumina o último trecho do caminho.
Este pensamento me dominou esta manhã em minha adoração. Estamos chegando ao fim da vida e
ainda nos divertimos com coisas de pouco valor.
Abençoo-a com todo amor de Nosso Senhor,
A Natalie Jordan, 19 maio 1868 (CO 2169; IV,679)

86 - Os raios passam, o sol permanece

Carta testamento a Mathilde onde evoca a fundação da Congregação do SS. Sacramento em Paris no ano de
1856: é obra de Deus, e dele somente. Convida Mathilde a rezar por sua família religiosa e pelo seu “pobre
superior”. Os santos são um reflexo da bondade do Senhor, como os raios do sol. Mas eles passam, “enquanto
o sol permanece”. “E este sol a senhora recebe todos os dias”. Seja esta a sua riqueza e a sua força.

Não pude lhe escrever antes, e agora o faço daqui do noviciado, aonde vim passar alguns dias para
me preparar para a festa da Ascensão. É o dia em que me coloquei em retiro em Paris para examinar
aos pés de Nosso Senhor se ele me queria para trabalhar na obra do Santíssimo Sacramento. Era 1856,
em 1º de maio.
É a ascensão para mim! Pois eu não merecia que Nosso Senhor me olhasse e me escolhesse para uma
obra tão bela, tão grande, e que precisaria de um santo, de um sábio e de um príncipe ao serviço de
tão grande Mestre.
Já faz onze anos deste então. Quantas graças recebidas, e quanto insuficiência de minha parte!
Nosso Senhor quis provar mais uma vez que ele é tudo, é ele que faz tudo e que o mais miserável e o
mais vil instrumento em suas mãos é o que ele prefere.
Por isso, querida filha, no dia da Ascensão, é necessário rezar muito pela Sociedade do SS.
Sacramento e pelo seu pobre superior.
Senti muito pela morte de seu parente Sr. [Émile] Giraud. Não obstante sua morte repentina, devemos
acreditar em sua salvação, ele teve tempo de se recomendar a Deus, pois teve consciência do perigo
por oito quilômetros. Um ato de contrição bastaria e numa situação como aquela fez bem. O incidente
aconteceu no mês de Maria, tão venerada por sua mãe. É certo rezar muito por ele, e eu o faço por
ser seu parente e porque o conhecia.
A senhora encontrou o Monsenhor Mermillod! É uma graça e ter desfrutado de sua companhia.
Agradeça a Deus. Os santos que refletem a doçura e a bondade de Deus são a prova da excelência do
sol, do qual eles são os raios, mais os raios passam, o sol permanece e o sol a senhora recebe todos
os dias. A senhora é rica e forte, mas precisamos cuidar das virtudes.
Faça-o bem querida filha, e tome como virtude real a fidelidade do serviço a Jesus.
Sirva-o através da doação e não por sentimentos. Sirva-o com seus sacrifícios, então a senhora o
amará verdadeiramente. Eu a abençoo-a como ela a ama.

A Mathilde Giraud-Jordan, 19 maio 1868 (CO 2170; IV,680)

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87 - Permanecer na luz da bondade de Deus

Em algumas linhas, o padre recorda a Edmée, consagrada ao Senhor, os grandes princípios que constituem
a “regra de direção”, e que devem guiar cada escolha de consagrada. Convida-a a nutrir-se do Senhor, a
permanecer “antes de tudo na luz da bondade de Deus, e não só em sua doçura”, “estudar Nosso Senhor”
até ficar extasiada. Edmée saberá fazer frutificar os conselhos do seu diretor especial.

A sua cara tia [Sra. Jordan] me deu conhecimento de sua carta. Li-a diante de Nosso Senhor e agradeci
pelas graças que lhe foram concedidas. Vejo que ele é o seu diretor de amor e de Providência.
Deixe-se guiar interiormente pelo divino Espírito e exteriormente por sua paterna Providência
segundo a sua graça e o seu dom total. Repita sempre o introito do terceiro domingo da quaresma
[Tenho meus olhos voltados para o Senhor], Sl 25,15.
Recorde-se sempre destas orientações
1. Quando a alma se dá a Deus, como a sua se deu, o serviço de Deus se torna um estado permanente,
o amor virginal de Nosso Senhor se torna a lei suprema do coração e da glória de Deus, objetivo de
todas as ações, não é legítima e agradável a Deus, senão pela lei dos deveres ou pela fidelidade a seu
espírito interior que nos inspira o bem maior.
2. Uma vez o dom oferecido, o voto feito, a regra de vida determinada, todas as graças exteriores
devem ser subordinadas àquele estado e àquela regra. Todas as obras exteriores valem como atuação
deste estado, se lhe forem contrárias devem ser postas de lado. Deus não se contradiz. De uma árvore,
espera-se que produza os frutos de sua espécie.
3. Uma vez que é dada uma direção de princípios para uma alma e esta direção nada mais é que a
aplicação da lei e de regras de sua vocação espiritual e pessoal, ela não deve ser submetida à decisão
do primeiro momento. Se Deus muda o estado, a vocação, somente então a direção de princípios
cessa. Contudo, como não se pode nunca mudar os desígnios de Deus para uma alma, não se deve
tornar-se escravo de um estado que não foi escolhido, de uma regra dada, pois Deus é sempre o Deus
do coração. Em uma situação diferente, é preciso iniciar com a oração, examinar o espírito novo,
julgá-lo, obedecê-lo se possível e tornar-se luz e santidade.
4. Enfim, peço a Deus que a faça compreender bem a seguinte regra: em seu estado e pelo que a
conheço você deve ser o último juiz de Deus a propósito das obras e das coisas que lhe sejam
sugeridas, porque em muitas coisas você é levada pela graça e por sua avaliação, porque não deve dar
nem prometer como se fosse livre, porque como esposa de Jesus, Jesus deve dar a última palavra.
Por isso você se comportou bem diante do Monsenhor Delaplace.
Escute agora um pequeno conselho: nutra-se de Nosso Senhor, do seu espírito, da sua virtude, de sua
verdade evangélica, da contemplação de seus mistérios. Não se afaste dele; ele disse: “Se
permanecerdes em mim e minha palavra permanecer em vós, tudo aquilo que pedires vos será dado”.
[Jo 15,7]
Não se coloque nos raios, mas no sol e terá todos os raios.
Aproveite tudo o que lhe dá o pão da vida, a vida de Jesus, e nada lhe abaterá. Suas faltas e pecados
serão purificados como a ferrugem de uma espada jogada ao fogo desaparece subitamente.
Permaneça mais na luz da bondade de Deus do que em sua doçura. A luz é o conhecimento de sua
perfeição, das razões do amor, de seus dons, de sua manifestação no homem.
Fique feliz quando Jesus lhe mostrar a razão de sua bondade, de seu amor, de suas virtudes e
principalmente das provações e sacrifícios que impõe às almas que ama.
Estude, querida filha, Nosso Senhor, e procure descobrir seus segredos, o porquê de seu coração e
será feliz.
Caminhe sempre em direção ao seu coração. Dê ao próximo as chamas de seu coração devotado, mas
mantenha o coração em Jesus e nada terá a perder ou a temer.
Quando me escrever, faça-o com aquilo que lhe vier ao pensamento, com simplicidade sempre, pois
amamos a luz da manhã.
Eu a abençoo em Jesus, nosso centro comum e Mestre.

A Edmée Brenier de Montmorand, 19 maio 1868 (CO 2171; IV,681)


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88 - Tomar nosso lugar no banquete do filho de Deus

A carta faz alusão à presença de Antonia Bost que vive com a destinatária, e que é igualmente dirigida por
padre Eymard. Ele a encoraja a perseverar na fé, mesmo não experimentando nenhuma consolação. Pede que
ela permaneça fiel à comunhão cotidiana: o Senhor a espera, tome seu lugar na festa dos filhos de Deus. Esta
carta, a última que ele lhe endereça, menos de 3 meses antes de sua morte, se caracteriza por uma visão de
eternidade: “Cantando sempre o amor do tempo e da eterna Pátria”.

Penso que sua saúde esteja indo bem, salvo alguns pequenos espinhos, que protegem as flores do
Paraíso.
A senhora me disse, em sua última carta, que não vem experimentando nenhuma consolação em seus
exercícios de piedade, tão pouco eu. É o tempo de servir a Deus, pela fidelidade, devotamento e amor.
Se não tiver, querida filha, consolações, a senhora tem o que vale melhor, a força e a paz de Deus;
guarde esse bem a todo custo, pois elas estão sobre as ondas do mar e as nuvens deste mundo.
Mas nunca abandone a santa comunhão cotidiana, isto seria abandonar o seu lugar de família na festa
dos filhos de Deus.
Para isto, não precisa olhar para sua indignidade, nem sua esterilidade, sua fraqueza, mas sim o
convite amoroso do bom Mestre e a companhia de sua boa Mãe. Aproxime-se sempre da santa Mesa,
sempre que esteja em condições de andar, apesar dos sofrimentos. É sinal de alguém a espera; e a
senhora voltará como o paralítico de Siloe.
Sempre o coração no alto, sempre o espírito leve para o sofrimento, mas sempre capaz de cantar ao
amor do tempo e da pátria eterna.
Mil coisas de Deus e de família à Srta. Antonia.
Ei abençoo ambas.
A Lepage, 20 maio 1868 (CO 2172; IV,683)

89 - Agir por pura fé na misericórdia de Deus.

O padre Eymard conforta mais uma vez a Sra. d’Andigné em meio as suas provações interiores. Exorta-a a
agir com fé na misericórdia de Deus, em sua bondade e força. Deus a ama de uma maneira especial e o
privilégio de sua presença eucarística é um grande favor. “A Sra. o tem, a Sra. o possui”. Considere como é
grande o Mestre.

Não se preocupe com minha carta. Foi esquecida: Deus quis assim. Ela falava de cruz, a senhora já
tem muitas.
Sabe o que se faz quando se está no meio de uma tempestade? Esforçamo-nos para manter a cabeça
fora da água e fechamos os olhos quando a onda vem. Mantenha o coração orientado para Deus, feche
os olhos para não ver as ondas e grite para Deus: certamente verá. Quando tudo sofre e tudo faz sofrer,
agradeça a Deus que a purifica e santifica servindo-se das criaturas e que, de algum modo, a coloca
em condições de reparar por si e pelos outros.
Mas o essencial, que não se deve atenuar, está no agir por pura fé na misericórdia, na bondade e na
força de Deus; está no serviço dele, por sua vontade e sua glória, pela abnegação de seu bem estar,
de seu contentamento, de sua doçura, de seu serviço e de suas consolações, da certeza suave de que
a ama com um amor de contentamento. A Sra. foi privilegiada, mas vale mais dar que receber.
Vê como o bom Mestre é bom! Ele permanece ao seu lado, embora queiramos nos afastar. Admiro o
modo como tem sabido defender e obter o dom que supera todos os outros. Conserve-o e não se
inquiete com as dificuldades e as situações futuras.
A senhora tem a senhora o possui; esqueça o resto! Pense apenas desfrute de sua posse e saberá
defender-se.
A Camille d’Andigné, 29 maio 1868 (CO 2178; IV,689)

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90 - Viver como religiosa do amor de Jesus

Adèle Martel fez uma experiência no Carmelo, mas a sua missão é estar no mundo onde vive como consagrada
no celibato. O padre Eymard oferece-lhe alguns conselhos, como: “a oração antes de tudo”. Termina a carta,
deixando transparecer com discrição a desolação espiritual na qual se encontra, recomendando-se as suas
orações “porque necessito muito”.

Não se desencoraje de me escrever, mesmo que eu não responda logo. Pelo menos respondo rápido
diante de Deus, rezando de modo particular por sua situação e pelas necessidades assinaladas em sua
carta. Escreva-me sempre aquilo que pensa de modo simples e espontâneo.
Talvez, eu não lhe ensine nada que a Srta. não saiba; quero dizer que saberá mais, ouvindo-o
repetidamente.
É bom, de tempos em tempos, dar-se conta da própria alma porque o demônio não pode se esconder
nas dobras e vincos, a natureza não tem tempo de adormecer e a graça aumenta, pois é mais conhecida.
Existe uma grande lei de santidade, sempre verdadeira, sempre boa e sempre poderosa. É a lei da
santa vontade de Deus em nós. Nesta divina vontade se encontra a graça especial que nos santifica e
esta graça especial é ligada a cada hora, a cada ação, passada a hora, o tempo da ação, esta graça
termina.
Agora, escute meus conselhos, cara filha:
Você é a religiosa do amor de Jesus. O Carmelo foi o lugar desta vocação pessoal: comporte-se de
acordo com a significação deste belo nome!
Um mestre alimenta sua serva: Comungue todos os dias. O que será o seu trabalho se não se alimenta
do pão da vida? Coma para poder trabalhar.
Se é a esposa de Jesus, conserve-se fiel. Console-se e fortifique-se nele, e atribua a ele a glória de
tudo.
Seja sempre disponível para os deveres, gentil com os pais e amigos, contenta com tudo, pois Deus a
quer assim.
Mas a oração primeiro que tudo: é a provisão matinal do maná do céu, a palavra de ordem para todo
o dia e assim fazendo, terá uma boa jornada. Reze por mim; preciso tanto!
Eu a abençoo eucaristicamente em Nosso Senhor,

A Adèle Martel, 29 maio 1868 (CO 2179; IV,690)

91 - Confiar em Deus para o futuro

O padre Eymard exorta a sua correspondente, que a acompanha espiritualmente, a confiar no futuro deixando
para trás o passado. “Durma tranquila nas mãos da divina Providência”! a misericórdia do Senhor é um
“segundo batismo” Com delicadeza, exorta-a a responder ao amor do Senhor: “Seja jovem no amor a Nosso
Senhor”. Você é a amada de Nosso Senhor. Rejubile-se em sua divina bondade.

Gostaria de saber que está gozando saúde; para que isso aconteça, evite emoções; evite dores dos
outros, seja um pouco mais forte contra os ventos e tempestades exteriores.
Mas o que eu mais desejo é que sua alma seja confiante em Deus para o futuro. Durma tranquila nas
mãos da Divina Providência! Seja zelosa no serviço ao bom Mestre, sendo a virgem de seu coração
e a feliz serva de seu amor. Seja severa com o passado, proibindo o livre olhar, os pensamentos fixos,
a cólera, mesmo que justa. O batismo apaga tudo, o segundo batismo acrescenta um mérito a mais.
Deve fazê-lo a qualquer custo, Você sabe o quanto sua alma sempre me foi muito cara e que pedi a
Deus a sua proteção para melhor servi-lo.
Seja jovem no amor a Nosso Senhor, recupere a alegria da primavera de sua vida. Você é branca, por
que escurecer esta bela flor? Você é amada por Nosso Senhor. Não chore, alegre-se em sua divina
vontade.

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Que Deus a proteja e seja tudo para você.

A Adèle Julhien, 14 junho 1868 (CO 2191; IV,700)

92 - Amar muito Nosso Senhor

A solidão de Padre Eymard, na opinião da Sra. de Grandville, não tem limites. Como ele poderia esquecer “a
amizade das primeiras horas”, no início da fundação? Ele a acompanhou constantemente, convidando-a a
não desanimar nunca. Esta é a 105ª carta a ela endereçada (o maior número endereçado a uma leiga) é a sua
última que escreve, contendo a mesma mensagem. A idade diz, “é a morte gradual e é preciso resignar-se!
Mas o coração não envelhece, ele rejuvenesce”. Ele está a caminho de La Mure, onde vai descansar um pouco
e pretende ira a La Salette. Na realidade, ele não irá ao santuário mariano; em 1º de agosto de 1868, ele
morre em La Mure. “Existem virtudes que não se encerram, senão no último suspiro” escreve ele. Com a
idade de 92 anos, em 21 de novembro de 1889, a senhora de Grandville será a primeira testemunha no
Processo informativo de Paris para a beatificação de padre Eymard.

Finalmente, recebo notícias suas; agradeço a Deus porque as tenho.


Não esquecemos as amizades das primeiras horas, a senhora se encontrava em Paris quando iniciamos
a obra.
Vejo que se lamenta sempre das velhas misérias, é preciso livrar-se delas assim que for possível, pois
elas tornam o caminho par o céu mais longo e mais penoso e sem nenhuma utilidade para este mundo.
Existem virtudes que só se encerram no último suspiro; são elas: a mortificação, a doçura, a paciência
e a abnegação. Portanto, todos os dias é preciso fazê-las crescer, é preciso cultivá-las de novo. A
fidelidade é a mesma virtude; e levantar-se é o mesmo que curar-se.
Não ceda ao desânimo, pois isto seria ingratidão e orgulho espiritual; caminhe sempre com obediência
e com a confiança de chegar à meta celeste.
Mais os anos avançam, mais enfraquece a natureza: é a morte gradual e é preciso resignar-se. Mas,
felizmente, o coração não envelhece, esse, ao contrário, rejuvenesce, trazendo proveito àqueles que
perdem as outras faculdades.
Ame muito a Nosso Senhor, sim eu rezarei por sua piedosa e amada filha, para que o céu a conserve
ainda.
Eu vim aqui para ver os doentes; sofro de um reumatismo que me obriga a repousar algumas semanas;
daqui irei encontrar minha irmã doente em La Mure d’Isère, e de lá irei à Senhora de La Salette, onde
não me esquecerei da senhora.
Abençoa de todo coração em Nosso Senhor.

À Sra. Antoinette de Grandville, 19 de julho 1868 (CO 2211; IV,713)

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