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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ESCOLA DE BELAS ARTES _ CURSO DE DESIGN DE MODA


TURMA/SEMESTRE 2022/2 _ MIRANDA. Mirra

FIGURINO:
A Moda na Sétima Arte

BELO HORIZONTE,
MINAS GERAIS
Resumo

Abstract
MODA, FIGURINO e CINEMA
Quando se fala em figurino é possível observar personagens e personalidades inteiras
através apenas do vestuário desses, mesmo sem a pessoa o ator ou a atriz, a vestimenta
específica traz consigo toda aquela persona embutida em uma figura imagética que compõe
plasticamente o espaço como uma sombra humana.
É comum ao pensar na cinderella lembrar-se do seu vestido rodado azul, dos seus
sapatinhos feitos de cristal ou das roupas maltrapilhas que ela usava cotidianamente, o mesmo
acontece na memória ao citar Edward Mãos de Tesoura, Kill Bill, ou a Rainha de Copas _com
seu penteado exclusivo_; os figurinos excêntricos, os acessórios, as marcas, objetos,
penteados e maquiagens que exaltam as personalidades e características dos indivíduos das
fábulas, são essas as primeiras impressões e as que restam dessas figuras.

O figurino traz significados e expressões da identidade autoral e própria dos seres


lúdicos interpretados em desenhos, escritas etc. Esse tem estreitas relações com a moda
podendo usar dela para contextualizar personagens ou influenciar ela através da relação entre
obra e espectador. _ seja esta cinematográfica, teatral, performática etc._
“A moda revela-se como o espelho dos grandes movimentos da
humanidade, revoluções científicas, sociais, culturais e tecnológicas, sendo
também o cinema uma grande vitrine dessas ocorrências e
transformações.” (BATTISTI, Francisleth 2009)

Essas revoluções científicas, sociais, culturais e tecnológicas percebidas no cinema


através do vestuário têm o proposito não só de exaltar os arquétipos do personagem, explicar
o sentido da trama ou evidenciar o recorte histórico em que estão situados os acontecimentos
da estória, mas também explicitamente completar a persona concebendo sua individualidade,
seus gostos, suas peculiaridades, singularidades, ideais compondo assim todo o perfil
psicológico das figuras.
A indumentária então, está tão diretamente ligada ao personagem que faz parte desse,
sem o sapato de cristal ela não seria cinderella, sem o exagerado traje vermelho e as
referências diretas a vestimenta da Rainha Elizabeth, não seria tão infame a personalidade da
Rainha de Copas.
“Partimos agora para a relação que a moda e o cinema têm, são ambos
vendedores de representações, de sonhos e fantasias. Então o cinema deixa
de ser apenas uma referência de moda e comportamento e passa agora a ser
também uma indústria vendedora de moda. O cinema revolucionou o
sistema da arte (KORNIS, 1992), tornando-se a vitrine desejada pelas
grandes marcas. O figurino da personagem do filme transformou-se no
sonho de consumo. Porém sonho de consumo de estilo de vida, e não
apenas da vestimenta em si.” (BATTISTI, Francisleth 2009)

É comum perceber o comportamento de refletir, tomar como referência e apropriar-se


das ações, gestos e atitudes dos personagens de fábulas, crônicas e ficções que cativam cada
indivíduo. A singularidade dos gostos pessoais e as infinitas possibilidades de estilos/estéticas
permeiam obras cinematográficas que contemplam os sentidos audiovisuais da percepção
sensorial humana, relacionando música, sonoplastia, paralaxes, imagem e ritmo, imagem e
tempo, sentimento e sensações. Dentro dos arquétipos e gêneros como: terror, comédia,
romance, ação, ficção, aventura, suspense etc. o cinema, assim como a moda, atua de maneira
a segregar minuciosamente as tribos estéticas de acordo com seus valores de gostos,
particularidades, comportamentos, classes e personalidades.
“[...] a moda se define como um processo de semiose resultante das
relações lógicas que se estabelecem durante o processo de criação,
produção, divulgação e consumo dos produtos sígnicos que compõem a
indumentária. Por outras palavras, moda é semiose ou ação sígnica”.
Moreira (2009)

Moda é semiótica e expressa em si a conceitualização e contextualização das


necessidades humanas_ cotidianas, mentais, físicas, sentimentais etc._ é então uma
capacidade da observação que constrói uma memória e um momento constante de novidades e
perspectivas dos indivíduos e do organismo coletivo entre as etnias e o global.
O modo como se comporta, penteia-se os cabelos, os formatos das unhas, as tatuagens,
as modificações corporais, as cores, as silhuetas, flores ou navalhas, costumes e hábitos, a
moral, a estética e as opiniões pessoais estão tão profundamente conectadas ao modo de se
vestir quanto a ligação do ser com a individualidade.
As tendências, a viralização de um comportamento, de uma forma de usar o casaco, de
penteados específicos compreendem o caráter da moda em que _de forma massificada e
disseminada_ os indivíduos de um grupo social, de uma cultura ou por consequência a
globalização repetem padrões e qualificam valores a produtos e objetos definindo o
interessante, desejado, atraente, certo ou bom conforme os momentos e influências na
personalidade coletiva ou independente.
“O conceito da aparência está ligado as duas situações distintas: uma delas
vincula-se à necessidade de o sujeito [personagem] edificar uma imagem
que corresponda a seus anseios, e a outra, por sua vez, à forma por
intermédio da qual esse indivíduo é percebido.” Castilho (2004, p.58)

A roupa, a maquiagem, os adereços e objetos utilizados no e pelo corpo têm sentidos


determinados que conectam a pessoa ou o personagem, a sua situação de vida ou narrativa.
Não limitada a ser um veículo para decodificar um texto representando arquétipos e
direcionando estéticas através da imagem do vestuário, porém dialogando entre as
representações e percepções. Essa paralaxe que vai da essência às diferentes faces da moda é
um sentido de memória que guarda a ideologia da relação entre indumentária e perspectiva, a
relatividade dos gostos, das percepções e dos seres em contraponto a cativação e padronização
das massas manipuladas.

Gloria Swanson em Tonight or Never usando um figurino


confeccionado pela criadora de moda Coco Chanel

Relacionar algum criador de moda à sétima arte é uma porta de entrada para relacionar
o cinema, a moda e o figurino. Seria moda as criações de alta costura que são vendidas por
valores altíssimos para as pessoas da alta sociedade? As repetições incansáveis de estilos e
tendências entre as mídias sociais e grupos? Ou seria a escolha individual de autoexpressão
que as pessoas tomam cotidianamente no momento de se vestirem para atravessarem o dia? É
moda aquilo que ganhou visibilidade e viralizou? Talvez seja moda por ter sido
confeccionado de maneira minuciosa e artística? Ou a moda é estabelecida por demonstrar
opiniões e sentimentos?
O figurino, composto pelos trajes, chapéus, sapatos, bolsas, objetos, penteados,
acessórios e todos os tipos de itens que alteram a aparência visual do corpo; é o elo entre a
moda e o cinema, relação essa que age de maneira polivalente, afetando-se reciprocamente. O
cinema como vitrine ou criador de tendências, como história e representação ou como
idealização e divisão de arquétipos age de forma a validar a associação entre comportamento,
gostos e jeito de se usar artigos da indumentária, assim como as relações entre vestuário e
política, trajes e cultura, indumentária e corpo coletivo.
“As roupas, como um elemento menor na hierarquia da linguagem
cinematográfica, funcionam principalmente para reforçar as ideias da
narrativa. Ocasionalmente, um adereço colocado propositadamente como
suporte, pode surgir na materialização da narrativa, pode começar como
uma parte de um conjunto e mais tarde servir para fazer avançar a
narrativa. “CONCEIÇÃO, Daniela (2010).

entre o cinema e a moda não só por uma


estilista de alta costura atuar como
figurinista, mas por estreitar as relações
entre figurino e moda, a capacidade de um
figurino se tornar um objeto de moda está
ligado ao comportamento do consumidor,
se como filha do industrialismo e do
capitalismo a moda é uma ferramenta de
criação de desejo de consumo, os figurinos
fazem parte da venda de padrões estéticos
e personalidades que além do modo de se
vestir e dos adornos usados, empregam
comportamentos, hábitos, formas de agir e
O trabalho de Chanel como figurinista nos se portar.
filmes da década de 30 marca o vínculo

Na década de 50 outro estilista que foi de vestir e nos comportamentos de


também figurinista foi o Hubert de indivíduos da modernidade.
Givenchy, o Francês fez o figurino de um
dos filmes mais conhecidos sobre moda até
a atualidade. O vestido usado por Audrey
Hepburn criou e marcou a tendência
atemporal do “pretinho básico” artigo que
pode ser encontrado em vários guarda-
roupas da contemporaneidade.
A disseminação do estilo elegante e
provocativo estreado por um repertório
ousado e clichê romântico no filme, marca
a persona que ainda influencia nas formas

A moda nos cinemas era não apenas uma consequência do marketing, mas uma
conexão entre a indumentária e o ambiente social, cultural, individual e local o qual se
encontra qualquer indivíduo, isto é, a nacionalidade terá um efeito em cima dos gostos
da maior parte dos cidadãos contidos em uma determinada semelhança cultural que é
marcada principalmente pela linguagem.
A miscigenação cultural provocada pela globalização promove mudanças nas
escolhas de auto cultura pessoal, instigando a individualidade através daquilo que se
permite identificar como semelhante, dos símbolos e signos selecionados para se
expressar ou comunicar algo através do uso de determinados adornos, objetos e artigos
do vestuário.
A influência do cinema na vida cotidiana contemporânea vai além do momento
de entretenimento pessoal, para uma identificação intima e psicológica de cada pessoa
referindo se aos gostos e escolhas relativas à perspectiva individual. O gênero
preferido, a admiração por um tipo específico de produção audiovisual ou uma história
incansável de se assistir; são as maneiras de perceber a influência no comportamento,
nas escolhas de estética, de padrões de beleza, nas silhuetas, nas decorações e em
diversos outros pontos que remetem a interferência causada pelas obras
cinematográficas nos modos e na moda.
O cinema como criador de tendências, como vitrine de marketing e como
memória da história está diretamente vinculado a moda não só pelas semelhantes
facetas, mas pela necessidade intrínseca da ligação entre personagem, tempo,
comportamento e vestuário criando uma estreita linha entre o vestuário do figurino e o
vestuário de moda. Linha essa que se separa pelos objetivos e assemelha-se pelos
signos vivendo em um pêndulo da relação paradoxal que comunica e mostra uma
linguagem artística e psíquica.
“O que existem em comum entre moda e cinema? Ambos são midiáticos,
além de tocar na sensibilidade das pessoas, gerar empregos e promover o
entretenimento. Mas o principal é que a moda e cinema se influenciam
mutualmente, em que as duas linguagens lançam tendências e
comportamentos.” COSTA, Grace (2017)

Collen Atwood
Como ressalta (Landis 2004:3): O designer de figurinos, que pode também ser
chamado de figurinista, tem como função escolher ou criar todo o guarda-roupa
presente na narrativa. Este pode ser desenhado pelo mesmo e pela sua equipa, ou
escolhido e alterado de acordo com as necessidades e opções existentes. A sua tarefa é
de interpretar, desenvolver e criar, através de roupas e acessórios, determinados
personagens, nos seus aspectos do colectivo ou individuais, de forma a transmitir para
quem assiste à película uma identidade, mas também um carácter e um tipo de
personalidade distintas nos diferentes personagens.
A personalidade dos personagens, no universo
imaginários das tramas, nas estéticas
representadas, dada sua posição social,
carácter psicológico e individualidades afetava
profundamente as criações de Collen que
muda toda sua singularidade de traços,
composição, cores e formas de acordo com
cada entidade caracterizada com seus
próprios arquétipos, símbolos e signos.

A semiótica da criação de um figurino é similar


a concepção de uma personalidade por um
ilustrador, gerando por meio da imaginava
uma mente, suas escolhas, vontades e postura
_determinada maneira de agir perante outras
pessoas_ as relações entre a indumentária e o
ambiente social, as influências pessoais, a
narrativa e a estória da figura, o conjunto
através do universo e do personagem que
contextualiza os seres da ficção é percebida
nas mudanças dos padrões de traços e assim o
desenho carrega consigo uma gama de ideias
que constituem a obra como um todo.
Collen Atwood Costume para Charlize Theron em SWATH

Collen Atwood como artista e designer contribui para a moda como criadora étnica,
dando vida a culturas completamente lúdicas e universos extraordinários que afetam a forma
de ser, pensar e agir do público, por conseguinte afetando sua maneira de se vestir e adornar-
se.
Sua contribuição para o figurino, a volatilidade de suas criações e a coerência entre os
aspectos da obra e o figurino são diferenciais que fazem de Atwood uma referência,
atualmente sua últimas criações para a série “Wednesday” da Netflix encontram os olofotes
das redes sociais e, mediante a viralização do seriado cativa as vontades do público, afetando
e intervindo mais uma vez a forma como as pessoas se vestem cotidianamente, seus gostos e
atitudes.
As intenções distanciam moda de figurino, que se aproximam em suas capacidades
expressivas, no carácter artístico e no poder de persuasão midiático de seus artigos. O figurino
é a moda na sétima arte, este sendo coerente a um momento histórico ou excêntrico a
vestimenta cotidiana tem assim como a moda a capacidade de servir como memória e
arquivar sentimentos e pensamentos de uma comunidade ou indivíduo, servindo como palco
para o romance da condição humana.
Referências

CONCEIÇÃO, Daniela. O figurino da Ficção cinematográfica, Universidade


Técnica de Lisboa, 2010.

COSTA, Grace. Discussões entre cinema e moda: Da alta costura ao prêt-à-porter.

BATTISTI, Francisleth. Moda e Figurino: Unilateralidade, 2009.

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