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POR TODAS AS NOITES

Por todas as noites que eu estiver ao teu lado, eu me


lembrarei de todas as noites que desejei que estivesse
comigo. Lembrar-me-ei das noites em que abraçando o
travesseiro o inundava com lágrimas diante de uma solidão
que não parecia ter mais fim, diante de uma angustia que me
fustigava sem misericórdia. Por todas as noites em que estarei
te abraçando meu amor, e sentindo teu calor, me lembrarei
das noites de frio e desespero que assaltavam meu coração
com incertezas tão cruéis e inimagináveis que me levavam a
uma extrema apatia que aos poucos me adoecia. Por todas as
noites em que repousarei minha cabeça em teus seios macios
para dormir feliz, me lembrarei de cada noite que não
consegui dormir sentindo a sua ausência a me consumir pouco
a pouco, assim como cupim na madeira, devorando-a por
dentro. Devorando a minha vontade de viver, devorando a
minha sanidade, a minha razão de ser e de existir. Por todas
as noites em que eu sentir a tua pele macia a me esquentar
em nosso leito de felicidade, me lembrarei dos lençóis fora do
lugar, desarrumados pela minha inquietação, do revirar para
lá e para cá, te procurando, mas não te achando, onde minhas
mãos tateavam a esperança, mas nada a encontrava. Por
todas as noites em que eu sentir o teu perfume a inundar o
nosso quarto de alegria, eu irei lembrar das madrugadas
insossas diante de um aparelho de TV, assistindo sem vontade
alguma algum filme reprisado pela undécima vez. Por todas as
noites em que eu sentir as tuas mãos desgrenhando meus
cabelos, eu irei lembrar das noites passadas em devaneios,
num tédio absurdo, alternadas por visitas, sem sentido, a
geladeira, procurando algo que substituísse a minha opressão.
Por todas as noites em que teus pés encostarem-se aos meus,
eu irei me lembrar das noites com os meus pés descobertos e
com meias grossas, tentado desesperadamente se esquentar,
mas sem conseguir. Das noites onde tudo congelava inclusive
minha alma, que sucumbia ante as incertezas que se
apresentavam diante de mim. Por todas as noites em que você
me acordar para pedir um copinho de água, eu irei me lembrar
das noites em que ouvia o galo cantar da minha janela sem ter
a mínima chance de pegar no sono, das manhãs que eu não
precisava acordar, por que não era preciso. Por todas as
noites em que você olhar pra mim e sorrir, eu vou lembrar de
cada noite em que minha vontade era tomar todos os
calmantes do mundo e pelo menos descansar um pouco, pelo
menos amanhecer com menos olheiras, deixar de parecer um
zumbi no dia seguinte. Por todas as noites em que dormirmos
de “conchinha”, eu vou lembrar das noites em que dormi
abraçado por um polvo, cujos tentáculos me apertavam o
peito fazendo meu coração bater mais forte, onde minha
respiração parecia falhar, onde quando o sono chegava era
entrecortado por pesadelos infindos. Por todas as noites em
que eu tocar teus lindos cabelos eu irei me lembrar das noites
onde minhas mãos ficavam perdidas no vazio de sonho
impossível. Onde minhas mãos se rececavam diante da idéia
de ter apenas uma cama vazia para sempre. Por todas as
noites em que sentir teus lábios me desejando bons sonhos,
eu irei me lembrar das noites raras onde tinha o consolo de
sonhar com o amor, de sonhar com lugares nossos, com
momentos paradisíacos, pois no fundo do meu inconsciente
estava escrito que qualquer lugar seria um paraíso se você
estivesse ao meu lado. Por todas as noites em que você me
abraçar expremidinho, eu irei me lembrar das noites sem
aconchego, sem razão de viver e de existir, das noites na
frente de um computador pessoal frio que só podia me
emprestar seus serviços a fim de eu compor mais uma poesia
que fizesse me sentir ao menos mais vivo. Por todas as noites
em que eu ouvir você me dizer que me ama, eu vou me
lembrar de cada noite em que desejei ouvir você, mesmo que
fosse praquejando comigo. Ouvir tua voz, cada som que
saísse, cada palavra dita. Das noites em que desejei ficar
conversando com você amenidades até o dia amanhecer. Por
todas as noites em que estivermos juntos nesta cama
preparada para o nosso amor, eu vou me lembrar de todas as
noites sem carinho, sem amor, que eu tive que passar. Por
todas as noites em que teus olhos olharem para os meus, me
lembrarei de todas as noites que avermelharam meus olhos e
me fizeram sentir todas as dores corporais que se pode sentir
tendo sobre si o peso da sofreguidão.E por todas as noites que
estarei com você, quero me lembrar de todas aquelas em que
você não estava, só para lembrar a minha alma que nunca
mais a nossa cama irá ficar vazia. Por que quando você for
para a cama eu vou também, ficar com você, amar você, beijar
você, sonhar com você. E quando o dia amanhecer olhar para
o lado ver teu rosto e sorrir para Deus e agradecer.
Por todas as noites então serei teu e tu serás minha. Por todas
as noites que ainda tivermos para sermos felizes pelo resto
das nossas vidas.

(Um poema de William Vicente Borges)

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