Você está na página 1de 305

Fazenda e Trabalho na Amazônia,

Mão de Obra nas Guianas:


O Caso de Berbice (1726-1736)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA - UFRR

REITOR EDITORA DA UFRR


Jefferson Fernandes do Nascimento Diretor da EDUFRR
Cezário Paulino B. de Queiroz
VICE-REITOR
Américo Alves de Lyra Júnior CONSELHO EDITORIAL
Alexander Sibajev
Edlauva Oliveira dos Santos
Cássio Sanguini Sérgio
Guido Nunes Lopes
Gustavo Vargas Cohen
Lourival Novais Néto
Luis Felipe Paes de Almeida
Madalena V. M. do C. Borges
Marisa Barbosa Araújo
Rileuda de Sena Rebouças
Silvana Túlio Fortes
Teresa Cristina E. dos Anjos
Wagner da Silva Dias

Editora da Universidade Federal de Roraima


Campus do Paricarana - Av. Cap. Ene Garcez, 2413,
Aeroporto - CEP.: 69.310-000. Boa Vista - RR - Brasil
e-mail: editora@ufrr.br / editoraufrr@gmail.com
Fone: + 55 95 3621 3111

A Editora da UFRR é filiada à:


UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

Fazenda e Trabalho na Amazônia,


Mão de Obra nas Guianas:
O Caso de Berbice (1726-1736)

Lodewijk A.H.C. Hulsman


Maria Odileiz Sousa Cruz
Organizadores

EDUFRR
Boa Vista - RR
2016
SUMÁRIO

CAMINHOS DA AMAZÔNIA
CIRCUM CARIBENHA�����������������������������������������������������������������7

INTRODUÇÃO�������������������������������������������������������������������������������9
Reginaldo Gomes de Oliveira

UMA SOCIEDADE COLONIAL EM EXPANSÃO


O MARANHÃO E O GRÃO-PARÁ DE MEADOS
DO SÉCULO XVII A MEADOS DO
SÉCULO XVIII*�����������������������������������������������������������������������������13
Rafael Chambouleyron
Universidade Federal do Pará

O CASO DE BERBICE; RELATO DE UMA


PESQUISA ARQUIVISTICA�����������������������������������������������������41
Lodewijk Hulsman

POPULAÇÕES INDÍGENAS NA AMAZÔNIA


CARIBENHA: UM ESTUDO DE CASO EM
BERBICE (1726-1736)������������������������������������������������������������������139
Glória Kok

VEREDAS DA(S) GUIANA(S), ÁGUAS E


TERRAS NO ESPAÇO SOCIAL BERBICE
E SEUS NOMES��������������������������������������������������������������������������155
Maria Odileiz Sousa Cruz

ANEXO 1 INVENTÁRIO DE ESCRAVOS E ANIMAIS


DA SOCIEDADE DE BERBICE 1726-1727
(NL-HANA_1.05.05_61.21)���������������������������������������������������������185
ANEXO 2: LIVRO DE CONTABILIDADE DIÁRIO DE
CARGA DO FORTE NASSAU 1726-1727
(NL-HANA_1.05.05_61.12)���������������������������������������������������������235

ANEXO 3: LIVRO DE CONTABILIDADE DIÁRIO DE


CARGA DA FAZENDA MARKAY 1726-1727
(NL-HANA_1.05.05_61.13)���������������������������������������������������������277

ANEXO 4: NOMES DE ESCRAVOS 1726-1736��������������������293

ANEXO 5-NOMES: PROPRIETÁRIO-FAMÍLIA,


PLANTAÇÃO-TOPÔNIMO, RIO-IGARAPÉ
(UBA-OTM: HB-KZL_102-21-03)���������������������������������������������297

OS AUTORES������������������������������������������������������������������������������305
Essa pesquisa foi realizada pelo Grupo de pesquisa

CAMINHOS DA AMAZÔNIA CIRCUM


CARIBENHA

Universidade Federal de Roraima – UFRR; Núcleo


de Pesquisas Eleitorais e Políticas da Amazônia –
NUPEPA. O projeto é financiado pelo CNPq, Edital
014/2013-UNIVERSAL/CNPq-Categ. B.

Líder(es) do grupo: Reginaldo Gomes de Oliveira


Líder(es) do grupo: Maria Odileiz Sousa Cruz

Pesquisador: Maria da Glória Porto Kok


Pesquisador: Rafael Ivan Chambouleyron
Pesquisador: Eliabe dos Santos Procópio

Estudante: José Victor Dornelles Mattioni


Estudante: Sebastian Michael de Freitas

Técnico: Éder Rodrigues dos Santos

Colaborador estrangeiro: Lodewijk Augustinus Henri Christiaan Hulsman

7
INTRODUÇÃO

Compartilhar o conhecimento lançado pelos pesqui-


sadores envolvidos no projeto “Fazenda e Trabalho na
Amazônia, mão de obra nas Guianas: O Caso de Berbice
(1726-1738)” com o público acadêmico e a sociedade, é um
desafio para esse grupo de estudiosos que atua na área da
História Regional das Guianas ou Amazônia Caribenha.
Ao considerar as especificidades do Caso de Berbice,
as reflexões dos pesquisadores do referido projeto torna-
ram-se imprescindíveis para oferecer à comunidade infor-
mações valiosas sobre nossa região do escudo da Guiana. A
paisagem amazônica da área revela povos que falam cinco
línguas nacionais diferentes, além das distintas línguas in-
dígenas e crioulas. A literatura historiográfica nacional nem
sempre mostra essas especificidades históricas e culturais
tão latentes no contexto regional das Guianas.
Sabemos que desde a época pré-colonial, os povos
indígenas mantinham relações de contato por extensas
redes de comércio. Produtos europeus foram encontra-
dos entre os povos indígenas habitantes dos rios Orinoco,
Amazonas, Negro e Mar do Caribe. Esses distintos povos
indígenas estavam interligados na rede de trocas e abri-
ram diferentes possibilidades de intercâmbio comercial
e cultural aos índios mais afastados do litoral. Nesse ce-
nário, os povos Karíb e Arawak, entre outros indígenas,
deslocavam-se na macro-região marcando território com
o comércio e produtos dos holandeses.
Nessa perspectiva, a colônia holandesa situada no
interior do rio Berbice, nas primeiras décadas do século

9
XVIII, era parte do processo de mudança de ocupação que
resultou na criação da denominada Sociedade de Berbice.
Esse processo resultou num acervo documental com im-
portantes dados sobre as relações trabalhistas entre os ho-
landeses e os povos indígenas, nas fazendas gerenciadas
pela Sociedade em Berbice.
O processo de estudo do citado acervo documen-
tal tem fomentado uma atenção aos detalhes do singular
inventário econômico e sociocultural apresentados nesta
obra, de modo a tornar possível um maior intercâmbio
histórico, cultural e científico entre os pesquisadores aca-
dêmicos e a sociedade. A idéia do projeto em discussão,
difundida através da presente publicação, foi a de facilitar
a troca de experiências acadêmicas e integração com es-
pecialistas que desenvolvem estudos sobre o escudo das
Guianas, oportunizando assim um debate criativo sobre o
conhecimento histórico e cultural comum.
A obra é composta por quatro capítulos escritos por
especialistas que elaboraram e mapearam questões teó-
ricas e historiográficas, com destaque para a “Fazenda e
Trabalho na Amazônia, mão de obra nas Guianas: o caso
de Berbice (1726-1738)”. Os autores não tiveram a preten-
são de ser exaustivos, mas a diversidade de temas desta-
cados dá oportunidade aos leitores de um conhecimento
atualizado de importantes aspectos anteriores da nossa
história e cultura amazônica caribenha.
Os artigos tratam sobre: “Uma sociedade colonial em
expansão, o Maranhão e o Grão-Pará de meados do sécu-
lo XVII e meados do século XVIII” chama atenção para o
papel desse Estado Independente do denominado Estado

10
do Brasil, sendo criado na década de 1620, sofrendo trans-
formações geopolíticas durante a fase colonial portuguesa
na América, com destaque para conflitos de povos indíge-
nas que ora eram aliados dos portugueses ora aliados dos
franceses, dando condições administrativas ao Grão-Pará
de alargar seu território amazônico e consolidar a presença
de Portugal na região; o artigo a colônia holandesa de Ber-
bice (1726 a 1736), cujo relato mostra a análise das fontes
consultadas no acervo documental, abordando as relações
trabalhistas entre os holandeses e os povos indígenas nas
fazendas pertencentes à Sociedade de Berbice que, duran-
te o século XVII,ultrapassaram em importância econômica
e cultural a colônia do Essequibo. Por conseguinte, o Forte
Nassau foi eleito como lugar central da contabilidade das
fazendas e armazéns da Sociedade; o tema “populações
indígenas na Amazônia Caribenha: um estudo de caso em
Berbice (1726-1738)” abre outras possibilidades de leitu-
ras das ações indígenas nas fazendas holandesas de Ber-
bice, na interface Guiana Holandesa e Guiana Portuguesa,
colocando em evidência o papel dos povos Arawak e os
holandeses, propagando uma complexa dinâmica de in-
tercâmbios como fluxos de produtos, bens culturais e lin-
guísticos; o artigo “Veredas da Guyana, águas e terras no
espaço social Berbice e seus Nomes” aborda essa dinâmi-
ca sociocultural e ambiental estabelecidas pelas distintas
formas de trocas culturais e linguísticas entre os europeus
(holandeses, ingleses e franceses) e os povos indígenas,
como estratégia facilitadora para os deslocamentos en-
tre o litoral e o interior das Guianas (as fontes consulta-
das mostraram o quanto as línguas europeias, indígenas
e africanas se entrelaçaram na colônia de Berbice durante

11
a primeira metade do século XVIII).A obra apresenta tam-
bém um rico anexo, disponibilizando inventário contábil
do Forte Nassau e da Fazenda Markay, com nome de es-
cravos indígenas (1726-1727).
Aproveito para agradecer a todos os autores que,
sensíveis ao nosso projeto “Fazenda e Trabalho na Ama-
zônia, o caso de Berbice”, deram fundamentos importan-
tes com seus valiosos artigos. Agradecemos também o
Arquivo Nacional (Nationaal Archief) de Haia/ Holanda
pela possibilidade da cópia do acervo documental. Nosso
especial agradecimento à equipe do CNPq (Edital Univer-
sal 2013) que possibilitou o financiamento do projeto e ao
Núcleo de Pesquisas Eleitorais e Políticas da Amazônia
(NUPEPA)-Universidade Federal de Roraima (UFRR) que
abriga projeto em foco.
Para concluir, desejo a todos uma boa leitura e temos
consciência de que a nossa missão foi cumprida.

Boa Vista-RR, janeiro de 2016.

Reginaldo Gomes de Oliveira


Coordenador do Projeto Fazenda e Trabalho na Amazônia,
mão de obra nas Guianas: O Caso de Berbice (1726-1736)

12
UMA SOCIEDADE COLONIAL EM EXPANSÃO.
O MARANHÃO E O GRÃO-PARÁ DE
MEADOS DO SÉCULO XVII A MEADOS
DO SÉCULO XVIII*
Rafael Chambouleyron
Universidade Federal do Pará

O principal objetivo deste texto é chamar a atenção


para a singularidade do território português denominado
Estado do Maranhão ao longo dos séculos XVII e XVIII. Sin-
gularidade que, a meu ver, decorre em grande medida das
especificidades da sua complexa territorialidade, que quero
discutir aqui. De fato, desde a década de 1620, o chamado
Estado do Maranhão foi criado como uma unidade admi-
nistrativa separada e distinta do Estado do Brasil. Pouco
depois da Restauração da coroa portuguesa de 1640, o Con-
selho da Fazenda, por exemplo, reafirmava perante a Coroa
que “o dito Estado do Maranhão o é hoje, de por si, sem
dependência alguma do Estado do Brasil”.1 Escritos pelo
governador Bernardo Pereira de Berredo provavelmente
nos anos 1730, os Anais Históricos do Maranhão também des-
tacavam como as “conquistas do Maranhão e Grão-Pará”
tinham se separado do governo-geral do Brasil “com título
de Estado”(BERREDO, 1749, p. 221§ 515).

Esta pesquisa conta com o apoio do Conselho Nacional de


*

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).


1
Consulta do Conselho da Fazenda ao rei D. João IV. 25 de setembro
de 1641. Arquivo Histórico Ultramarino [AHU], Maranhão (Avulsos),
caixa 2, doc. 130.

13
Do ponto de vista territorial, o Estado do Maranhão
sofre inúmeras transformações ao longo do período colo-
nial (STUDART, 1955). Da sua fundação até meados do
século XVII, incorporava as capitanias reais do Maranhão,
Pará, Gurupá e Ceará, além de capitanias privadas. Em
1656, dele se desvinculou a capitania do Ceará. Até me-
ados do século XVIII, o Estado do Maranhão foi forma-do
por diversas capitanias. Eram capitanias reais o Pará,
Maranhão, Gurupá (na verdade, a fortaleza do Gurupá),
Piauí (a partir de inícios do século XVIII) e São José do Rio
Negro (meados do século XVIII).
As capitanias privadas, que retornaram à Coroa a
partir de meados da década de 1750, eram Cabo do Norte,
Cametá, Caeté e Cumã ou Tapuitapera, todas criadas na
década de 1630.2 Em 1665, foi criada a capitania da Ilha
Grande de Joanes (ilha do Marajó). Houve tam-bém a
tentativa frustrada de efetivação de uma capitania no rio
Xingu, em meados da década de 1680. A capital do Estado
era São Luís, mas em meados do século XVIII, ela se
muda oficialmente para Belém e o território passa a se
chamar Estado do Grão-Pará e Maranhão. Na década
de 1770, desmembrou-se em Estado do Grão-Pará e Rio
Negro e Estado do Maranhão e Piauí.
Boa parte da historiografia brasileira, ainda hoje ex-
cessivamente centrada nos quadros do Estado nacional
não consegue construir um lugar explicativo para o Estado
do Maranhão, inserindo-o, ao invés, em modelos
explicativos construídos a partir do que se considera como as
2
Para além do clássico de António Saldanha de Vasconcelos, sobre
capitanias nas conquistas de Portugal, ver, para a Amazônia:
MIRANDA, 2006; CHAMBOULEYRON, 2010, pp. 82-101; PELEGRIN,
2015, pp. 22-59.

14
áreas dinâmicas da América portuguesa. Nesse sentido,
cristalizou-se na historiografia brasileira e brasilianista a
noção de uma condição periférica do Estado do Maranhão.
Termos como isolamento ou atraso são frequentemente
empregados para definir o desenvolvimento da economia
e sociedade do Estado do Maranhão.
O que quero chamar a atenção aqui é que temos que
apostar em outras matrizes explicativas e superar as fron-
teiras nacionais para entender a complexidade da expe-
riência histórica dessa província setentrional da América
portuguesa. Vou me concentrar aqui no período que vai
de meados do século XVII a meados do século XVIII.

15
Nesse período, o Estado do Maranhão sofre o que
poderíamos denominar de processo de expansão de suas
fronteiras. Esse processo se verifica a oriente e a ocidente
do Estado. Vejamos rapidamente os contextos nos quais se
enquadra o início deste processo
Em primeiro lugar, um quadro mais geral, marcado
pelo declínio do domínio sobre a Índia e pelo deslocamento
do eixo central do império para o Atlântico. Em segundo
lugar, a consolidação da dinastia bragantina, notadamente
durante a regência e o reinado de Dom Pedro II. Esse pro-
cesso está marcado por uma relativa estabilidade política,
e também, como indica Nuno Gonçalo Monteiro, pelo “re-
torno a um modelo bem definido de tomada das decisões
políticas” (MONTEIRO, 2000, p. 130). Em terceiro lugar,
como aponta Vitorino Magalhães Godinho, um considerá-
vel recuo da economia portuguesa do final da década de
1660 até 1693, “prolongada depressão dominada pela crise
do açúcar, tabaco, prata e tráfico de escravos” (GODINHO,
1970, p. 511). Essa crise não significou a retração da ação da
Coroa. O próprio Godinho já chamava a atenção para o fato
de que os portugueses tiveram consciência da crise e da ne-
cessidade de enfrentá-la (GODINHO, 1950, p. 186).
Parte dessas ações voltou-se para as conquistas, caso
do Estado do Maranhão e Pará. Karl Heinz Arenz e Frede-
rik Matos chamam a atenção para a importância de uma
série de medidas tomadas pela Coroa, nesse período, que
denominaram de “pacote socioeconômico”, que certa-
mente criará condições para um movimento de expansão
já na primeira metade do século XVIII (ARENZ & MA-
TOS, 2014, pp. 352-354).

16
Esse novo quadro de finais do século XVII tem uma
série de implicações territoriais.
Por um lado, o que poderíamos identificar com uma
expansão em direção das fronteiras.
Em primeiro lugar, no caso dos vastos sertões
da capitania do Pará, uma economia voltada para
a extração de produtos florestais. Desde o início da
conquista,principalmente no Pará, há um interesse evi-
dente pelos produtos da região, as chamadas “drogas do
sertão”, profundamente marcado pela experiência oriental
de Portugal (CHAMBOULEYRON, 2007, pp. 70-74; CAR-
DOSO, 2010, pp. 9-26). De fato, em diversos momentos ao
longo da segunda metade do século XVII se acreditou que
o Estado do Maranhão pudesse ser uma “nova Índia”, o
que se verificou principalmente com a descoberta do cha-
mado cravo de casca cujo cheiro era semelhante ao do
cravo da Índia (CHAMBOULEYRON, 2014a; CARDOSO,
2015). Por outro lado, a “descoberta” de cacau nas terras
do Pará, pelos portugueses, também a partir de meados do
século XVII, ensejou uma tentativa de reproduzir em ter-
ras paraenses a exitosa experiência castelhana de cultivo e
exploração de cacau, principalmente aquela desenvolvida
na Venezuela (CHAMBOULEYRON, 2014b). Como pode
se ver, a exploração das drogas como o cravo e o cacau,
que se tornaram os principais produtos exportados da re-
gião, estava inspirada não na experiência “brasileira”, mas
sim na experiência oriental (em crise) e na experiência das
Índias de Castela. Ora, a exploração do cacau e do cravo
consolidou um tipo de exploração econômica que signifi-
cou o espraiamento pelos rios e sertões da Amazônia.
Em segundo lugar, a organização de uma lógica de
obtenção de trabalho indígena que pressupunha a expan-
são territorial, por meio de descimentos de índios livres
(para as aldeias missionárias, ou para particulares), das

17
guerras e das expedições de resgates de índios escravos,
formas que se conectavam à exploração das drogas do ser-
tão.3 O grande “celeiro” de mão de obra na região era o
sertão amazônico (inclusive para São Luís e boa parte da
capitania do Maranhão). Cada vez mais, as drogas e os ín-
dios buscavam-se mais longe. As expedições em busca de
trabalhadores indígenas, tal qual as de busca das drogas do
sertão, com as quais se confundiam, aliás, tiveram, portan-
to, uma dimensão territorial fundamental na consolidação
do domínio português, ainda que frágil, sobre a região.
Em terceiro lugar, a condição de fronteira da capitania
do Pará se tornou um problema cada vez mais presente para
a Coroa, e principalmente, autoridades, mas também mora-
dores e missionários. De um lado, a ameaça que se fazia
cada vez mais clara na fronteira noroeste, com a consolida-
ção da presença francesa em Caiena, desde finais do século
XVII. As respostas a essa ameaça serão várias: o acirramen-
to dos conflitos contra alguns grupos indígenas, conside-
rados aliados dos franceses; a tentativa de aliciá-los para o
lado português; a construção de fortalezas; as negociações
diplomáticas que culminarão com a assinatura do Tratado
de Utrecht na década de 1710.4 Mais a oeste, em direção do
3
Ver, por exemplo: SOMMER, 2005; GUZMÁN, 2008; SILVA E
MELLO, 2009a; SILVA E MELLO, 2009b; DIAS, 2009; ARENZ, 2010;
NEVES, 2011; COELHO, 2012; NEVES, 2012; ROCHA, 2013, pp. 187-
240; DIAS., 2014; BOMBARDI, 2014; PELEGRINO, 2015, pp. 60-161;
CHAMBOULEYRON, 2015, pp. 54-71.
4
Para além do primeiro volume do clássico de Arthur Cezar Ferreira
Reis, sobre a fronteira (Reis, Limites e demarcações na Amazônia
brasileira…), a bibliografia é considerável. A pesquisa histórica se
beneficiou da vasta compilação de documentação decorrente das
arbitragens entre o Brasil e a França para definição das fronteiras.
Ver: GOMES, QUEIROZ & COELHO, 1999. Ver, também: CASTRO,
1999; MARIN & GOMES, 2003; REZENDE, 2006; PATELLO, 2010;
BARARUA & CHAMBOULEYRON, 2014.

18
Rio Negro, as missões jesuíticas castelhanas de Maynas se
revelaram um problema (embora àquela altura não tão gra-
ve quanto o do Cabo do Norte), com o aparecimento, em
1689, do religioso jesuíta boêmio a serviço de Castela, padre
Samuel Fritz nas terras que os portugueses consideravam
suas (ALMEIDA, 2003, pp. 113-119; TORRES-LONDOÑO,
2006, pp. 15-43; SILVA, 2007; CAMILO, 2008, pp. 108-113;
MARTINS, 2009; TORRES-LONDOÑO, 2012; DIAS, 2012;
GONZÁLEZ, 2013; DIAS, 2014, pp. 213-219).
Em quarto lugar, em finais do século XVII, a Coroa
determina a divisão do território do Pará em distritos mis-
sionários, repartidos entre as diversas ordens religiosas.
Em termos gerais, os carmelitas ficavam com as aldeias
do Rio Negro; os franciscanos da província da Piedade,
os rios Xingu, Trombetas e Gurebi; aos mercedários, o rio
Urubu; aos franciscanos de Santo Antônio, as terras ao
norte do Amazonas até o Cabo do Norte; coube aos jesuí-
tas os rios que desaguavam na fronteira sul do Amazonas,
o rio Tocantins, Xingu, Tapajós e Madeira.5
Em quinto lugar, o que chamarei de fronteira orien-
tal do Estado do Maranhão. O sul e leste da capitania do
Maranhão e a capitania do Piauí representam igualmente
uma fronteira. Fronteira entre o Estado do Brasil e o Es-
tado do Maranhão, pois o Piauí se incorpora à jurisdição
deste nas primeiras décadas do século XVIII. Mas também
uma fronteira, pois os vastos sertões das duas capitanias
passam a ser ocupados a partir de dois vetores fundamen-
tais: por um lado, uma ocupação mais antiga, da segun-
5
“Para Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho. Sobre mandar
separar distritos e encarregar aos padres de Santo Antonio as missões
do Cabo do Norte”. 19 de março de 1693. Anais da Biblioteca Nacional,
vol. 67 (1948), pp. 142-144; DIAS, 2014, pp. 149-150.

19
da metade do século XVII, vinda principalmente da Bahia
(CABRAL, 1992)6; de outro, uma ocupação comandada de
São Luís pelos governadores do Estado do Maranhão as-
sentada no binômio guerras e sesmarias, que começa a se
configurar já em princípios do século XVIII.
Este vetor decorre da expansão em direção ao les-
te, iniciada a partir da “limpeza” dos sertões da capitania
do Maranhão, principalmente do rio Itapecuru, iniciada já
nos anos 1690. Somente durante o reinado de Dom João V,
os governadores do Estado do Maranhão concederam em
torno de 880 sesmarias nos sertões orientais do Maranhão
e no Piauí, todas elas dedicadas à criação de gado vacum e
cavalar.7 Mais do que isso, distribuíram inúmeras patentes
aos moradores desses sertões legitimando a ocupação já
existente ou a nova ocupação que buscavam garantir.
Assim, além de patentes de postos e ofícios, há vá-
rios postos de ordenanças, que indicam uma fronteira
militar conquistada aos índios; caso de vários moradores
providos em 1727, por João da Maia da Gama: Marçal Cor-
reia Maciel, sargento-mor dos moradores do Itapecuru;
Manuel Gonçalves de Carvalho, sargento-mor da fregue-
sia de Nossa Senhora do Monte do Carmo de Piracuruca;
Antônio Gonçalves George, sargento-mor dos moradores
da freguesia de Santo Antônio de Gurguéia; Antônio Fer-
6
Para uma bibliografia mais recente, que dá conta da expansão do
gado a partir da Bahia, ver: ARRAES, 2012, pp. 99-160. Para uma
perspectiva mais geral, ver: SANTOS 2010.
7
Os fundos que detêm essas cartas são os “Livros de Sesmarias” do
Arquivo Público do Estado do Pará; os Avulsos (do Pará, do Maranhão e
do Piauí), do Arquivo Histórico Ultramarino; e as Chancelarias Régias
(Dom João V) e o Registro Geral de Mercês (Dom João V), do Arquivo
Nacional da Torre do Tombo.

20
nandes de Araújo, capitão dos moradores da freguesia de
Santo Antônio dos Longás.8
O Estado do Maranhão de finais do século XVII e pri-
meira metade do século XVIII é assim, uma sociedade em
plena expansão, processo marcado pela guerra contra os
índios, mas igualmente pelo que poderíamos chamar de
aceleração do assentamento.
Aqui temos duas dinâmicas distintas a leste e a oeste.
A leste parece se constituir uma dinâmica centrada
no binômio guerras e terras. De fato, desde finais do sé-
culo XVII, as autoridades do Estado do Maranhão iniciam
um processo de conquista dos sertões inicialmente do Ma-
ranhão e depois do Piauí. É a partir dos anos 1670 que
a Coroa começa a se mobilizar para tomar o controle da
fronteira oriental do Estado do Maranhão. É a partir desse
período que se sucedem diversos conflitos com os grupos
indígenas que habitavam ou percorriam esses vastos ser-
tões e que, segundo a perspectiva dos portugueses, é cla-
ro, impediam o avanço da lavoura e do gado.
Mas é principalmente na década de 1690, estenden-
do-se até meados do século XVIII que tem lugar uma sé-
rie de conflitos, organizados a partir de São Luís, ou pelos
próprios moradores que haviam se instalado na região,
principalmente no caso do Piauí. Em 1691, combate-se os
índios Caicai e Guarati, guerra reconhecida como justa
pela própria Coroa.Em 1695, nova guerra foi travada no
Mearim e Itapecuru. Entretanto, os ataques do “gentio do
corso” não cessavam e nova incursão foi feita entre 1700 e
1702 (CHAMBOULEYRON & MELO, 2013b).
8
Arquivo Público do Estado do Pará, Sesmarias, Livro 3, ff. 96-96v, 103v-
104, 131-131v

21
Entrado o século XVIII, os ataques se intensificam, no
governo de Dom Manuel Rolim de Moura, mas principal-
mente nos de Cristóvão da Costa Freire e Bernardo Perei-
ra de Berredo. No trabalho de Vanice Siqueira de Melo há
uma sistematização dos vários conflitos contra os índios
empreendido por esses governadores. Não vou entrar em
detalhes sobre essas guerras, que a historiografia clássica,
principalmente do Piauí, já estudou (MELO, 2011).
Vale a pena indicar que a grande maioria dos conflitos
se concentra nas primeiras décadas do século XVIII, coin-
cidindo com o processo de expansão a leste empreendido
pela Coroa e pelos governadores a partir de finais do século
XVII. Por outro lado, é fundamental destacar a perspectiva
apontada por Vanice Siqueira de Melo sobre a complexida-
de desses conflitos. De fato, tratava-se mais do que guer-
ras de extermínio e mera “limpeza” dossertões, já que ha-
via diversos interesses envolvidos nelas: aescravização dos
indígenas num território em que o trabalho dos índios era
fundamental; os interesses dos próprios governadores do
Estado do Maranhão que promoviam ou legitimavam as
guerras como forma de obtenção de índios e de poder polí-
tico. Assim, as guerras serviam também como mecanismos
múltiplos (CHAMBOULEYRON & MELO, 2013a).
A distribuição de sesmarias por parte dos governa-
dores do Estado do Maranhão se multiplicou após os anos
1730, quando os conflitos começam a se tornar mais espar-
sos. Quase 70% das sesmarias concedidas na fronteira orien-
tal do Estado do Maranhão, o foram a partir de 1730. Dessas,
também quase 70% (410 terras) foram concedidas durante o

22
governo de João de Abreu de Castelo Branco, fenômeno que
ainda aguarda sua explicação e seu historiador.9
Fundamental lembrar que, diferentemente do que
ocorria no Estado do Brasil, no Estado do Maranhão, pelo
menos até meados do século XVIII, somente os governado-
res concederam terras ao longo do período colonial. Não há
registro de terras concedidas por capitães-mores, a exemplo
das capitanias do Brasil (excetuando-se alguns casos nas ca-
pitanias de donatários, o que fazia parte das prerrogativas
do senhorio). Assim, podemos falar num processo conside-
ravelmente centralizado nas mãos das autoridades régias,
que comandavam guerras e distribuição de terras, que, é
claro, negociavam seu poder com os grupos locais.
A oeste, uma dinâmica mais complexa se consolida.
A relação entre guerra e assentamento existe, porém não é
direta. Isto porque no Pará se constitui uma outra fronteira
interna, localizada nos diversos rios que deságuam na baía
do Guajará, próximo a Belém, cuja existência começa a se
configurar em finais do século XVII, por meio da posse.
Retomando a ideia de Robert Bartlett para entender
o desenvolvimento da Europa a partir de meados do sé-
culo X, poderíamos falar, com relação às terras mais pró-
ximas à cidade de Belém, numa “expansão interna”, da
qual deriva a consolidação do assentamento europeu nes-
sa região em particular, relacionado, principalmente, com
o desenvolvimento da agricultura.10
Essa ocupação, que se legitima inicialmente com a con-
cessão de umas 100 sesmarias para moradores que já ocupa-
9
Ver nota 7.
10
A “ ‘expansão interna’ – intensificação do assentamento [settlement]
e a reorganização da sociedade na Europa ocidental e central – foi tão
importante quanto a expansão externa” (BARTLETT, 1994, p. 2).

23
vam as terras no final do século XVII, boa parte deles plan-
tadores de cacau e também de cana de açúcar, não decorre
do conflito com os índios (CHAMBOULEYRON, 2010, pp.
101-114). Ao contrário da fronteira leste, a região dos rios
próximos a Belém já se encontrava “pacificada” havia muito
tempo, já que os portugueses haviam ocupado esse espaço
desde meados da segunda década do século XVII.
Por outro lado, em sua imensa maioria, diferentemen-
te dos sertões do Maranhão e do Piauí, ocupavam original-
mente boa parte dessas terras grupos Tupi, com os quais,
dada a sua larga experiência na costa do Brasil, ao longo do
século XVI, os portugueses conseguiam lidar por meios que
não fossem somente o conflito (BONILLO, 2015).
Assim, a fronteira da ocupação do Pará, por meio da
agricultura, a partir das décadas finais do século XVII, não
se configura necessariamente por meio do conflito armado
contra dos grupos indígenas, como ocorre com a ocupa-
ção dos sertões do Itapecuru, do Mearim, do Munim e,
depois do Iguará, Parnaíba e rios do Piauí.Essa fronteira
interna paraense, relativamente próxima a Belém – outra
diferença significativa com a fronteira oriental – também
se expande a partir de inícios do século XVIII. Ao longo do
reinado de Dom João V, pouco mais de 800 sesmarias são
distribuídas a moradores, que, em sua grande maioria se
diziam residentes em Belém.11Do mesmo modo que para
a fronteira leste, o número de concessões é provavelmente
maior, já que de 1707 até a década de 1720, só temos os re-
gistros de confirmação, guardados nos fundos da Chance-
laria Régia e do Registro Geral de Mercês, do Arquivo Na-
cional da Torre do Tombo, em Lisboa. Além disso, a primeira
metade do século XVIII assiste ao início de uma tentativa
11
Ver nota 7.

24
mais sistemática de exploração de recursos florestais como
a madeira (BATISTA, 2008; BATISTA, 2013).
Ora, o desenvolvimento de uma ocupação de base
agrícola está intimamente conectado ao processo de expan-
são em direção à fronteira oeste do Estado do Maranhão.
Em razão do despovoamento causado por epidemias e in-
tensa exploração da mão de obra indígena, nas regiões mais
próximas a Belém,os sertões do Rio Negro, que lindavam
com as missões castelhanas jesuíticas, se tornarão o prin-
cipal alvo das jornadas portuguesas de devassamento do
sertão em busca de drogas e de índios (GONZÁLEZ, 2012).
A eliminação da barreira estabelecida pelos índios Manao
no Rio Negro, na segunda metade da década de 1720, pos-
sibilitará uma significativa expansão, pelos rios da região,
das tropas de resgate e de guerra e das canoas que busca-
vam as drogas do sertão (atividades que muitas vezes se
confundiam), que recentemente André dos Santos Pompeu
denominou de “monções amazônicas” (POMPEU, 2015).
Significativamente, mais de dois terços das ses-
marias distribuídas pelos governadores se concentram
no período posterior à “abertura” do Rio Negro.12 Isso
porque, do ponto de vista de uma dinâmica econômica
mais ampla, esse movimento centrífugo não se explica
senão também em função da constituição de uma base
agrícola, por duas razões fundamentais.
De um lado, é o cultivo da mandioca e da cana de
açúcar (que se acelera em finais do século XVII) que forne-
cerá dois elementos indispensáveis em qualquer jornada
ao sertão: farinha e aguardente. De outro lado, as jornadas
12
Ver nota 7.

25
permitem o descimento de índios livres que comporão a
população das aldeias missionárias e de escravos e tam-
bém índios livres que trabalharão nas terras dos brancos,
fruto da expansão de finais do século XVII.
Assim, extrativismo e lavoura se complementam no
mundo amazônico, pois a expansão pelos sertões em bus-
ca de drogas e índios só é possível em razão da agricultu-
ra, que por sua vez só é possível graças ao tráfico indígena
que sustenta a atividade agrícola. Em texto recente, Nírvia
Ravena e Rosa Acevedo Marin defendem uma comple-
mentaridade entre abastecimento e extrativismo, constru-
ída principalmente a partir das aldeias missionárias (RA-
VENA & MARIN, 2013). Também Camila Loureiro Dias
refere-se a um “circuito fechado” que conecta a zona agrí-
cola à região de coleta das drogas do sertão e de obtenção
de trabalhadores (DIAS, 2014, p. 292).
Não se trata, entretanto, de um circuito fechado.
Justamente o período de expansão agrícola é também um
período de expansão da lavoura do cacau e também do
café, produtos que tinham como principal mercado a Eu-
ropa. Por outro lado, temos que lembrar que muitos dos
produtos cultivados e coletados, como o açúcar, o cacau,
o cravo e o algodão (no Maranhão), serviram de moeda
corrente até meados do século XVIII, quando foram intro-
duzidas as primeiras levas de moeda metálica na região
(LIMA, 2006). Os produtos coletados nos sertões (cravo,
salsaparrilha, cacau, copaíba) e também cultivados (ca-
cau e café) serão exportados para a Lisboa13 e, também,
13
Em 1749, por exemplo, o cacau representou pouco mais de 22% das
receitas de entrada dessa alfândega. Já outros produtos amazônicos,
como salsa, copaíba e cravo representaram pouco mais de 4%. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo. Alfândega de Lisboa – Casa da Índia,
Cobrança de Direitos, Receita por entrada, livro 143.

26
reexportados para portos como Baiona, Livorno, Londres
e Hamburgo.14Configurou-se, portanto, uma complexa
dinâmica econômica em que se entrelaçavam a fronteira
agrícola e a fronteira da expansão oeste. O que implicava
uma sociedade e economia em que se conectavam, portan-
to, o sertão, a roça e o ultramar.
Podemos afirmar que o Estado do Maranhão estava
na encruzilhada das Américasem razão das implicações
territoriais que essa expansão ensejou.
De um lado, a expansão oriental, conectou de maneira
mais eficaz o Estado do Maranhão e seus centros de poder,
notadamente São Luís, ao Estado do Brasil. Por mais que a
historiografia insista, com razão, na existência de “dois Ma-
ranhões” desconectados, um ao sudeste, do gado, e outro
no litoral, a ofensiva por meio das guerras empreendidas a
partir de São Luís, seguidas da distribuição de terras e de pa-
tentes e cargos, permitiu conectar a capital do Estado do Ma-
ranhão (São Luís) aos vastos sertões orientais do Maranhão e
Piauí. Ora, a capitania do Piauí tinha um papel fundamental
de conexão histórica com a Bahia e também com as Minas
Gerais, principalmente por meio do gado
Em seu pedido de sesmaria, no rio Gurguéia, repro-
duzido na concessão da terra dada em 1727 Antônio Pi-
nheiro de Carvalho pedia um sítio “para nele fazer as suas
boiadas que deita todos os anos para as Minas Gerais”.15
Já o provedor do Piauí, Manuel Pinheiro de Carvalho, em
1704, informava que os moradores do Piauí “mandam os
14
Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Alfândega de Lisboa – Casa da
Índia, Cobrança de Direitos, Receita por saída, livro 4.
15
Arquivo Público do Estado do Pará, Sesmarias, Livro 3, ff. 99-100v.

27
seus efeitos” para a Bahia, sendo menos perigoso remeter o
rendimento dos dízimos da capitania do Piauí, de Salvador
para a Bahia, do que enviá-los a São Luís e de lá a Belém.16
O Piauí era também passagem do chamado “ca-
minho do Brasil”, cujo descobrimento é insistentemente
buscado pelas autoridades e moradores a partir de finais
do século XVII, e constitui uma outra faceta do processo
de expansão da sociedade do Estado do Maranhão. Não
sem razão, um antigo governador do Estado do Mara-
nhão, muito influente nas políticas da Coroa com rela-
ção a esse território, opinava, em 1700, que a distribuição
de terra entre moradores da Bahia era o melhor meio de
“apartar os tapuias daquelas terras”.17
Assim, apesar das diferenças que cada vez mais mar-
cavam os sertões do gado em relação ao que a historiografia
denominou de ocupação litorânea, o espraiamento dos cur-
rais pelos sertões do Maranhão e do Piauí, movimento ao
mesmo tempo oriundo do Maranhão e da Bahia, permitiu a
conexão entre os dois Estados ao longo da primeira metade
do século XVIII. Permitiu, do mesmo modo, uma relação
entre litoral (São Luís) e sertão que a historiografia tende
sempre a separar, em razão de ter incorporado como consti-
tuidor da “brasilidade” um modelo explicativo construído
no início da República (CHAMBOULEYRON, 2013).
A oeste, a expansão da sociedade colonial, por meio
das fortalezas, das tropas de resgate, de guerra, dos des-
cimentos de índios, das canoas em busca de drogas, dos
16
A carta de Manuel Pinheiro de Carvalho, datada de 4 de setembro de
1704 está em: “Consulta do Conselho Ultramarino a Dom Pedro II”. 3
de outubro de 1705. AHU,Maranhão (Avulsos), caixa 10, doc. 1079.
17
O parecer de Gomes Freire de Andrade encontra-se anexo a: “Ofício
de Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho”. São Luís, 4 de
setembro de 1700. AHU, Maranhão (Avulsos), caixa 10, doc. 1006.

28
sertanejos (como se dizia à época), como vimos, permitiu
o espraiamento pelos sertões e rios da Amazônia.
A experiência castelhana do cacau ensejou a intensa
exploração do cacau, cultivado e colhido nos sertões, a
ponto de ele ter se tornado o principal produto da eco-
nomia paraense até meados do século XIX. A expansão
pelos sertões e rios da Amazônia em busca de drogas e
de índios colocou os portugueses em contato com diver-
sas fronteiras e diversos povos, tanto indígenas como
europeus (holandeses no Rio Branco; espanhóis no Rio
Negro; franceses no Cabo do Norte).
Trabalhos recentes têm apostado, justamente, na com-
preensão desses espaços de conexão e circulação que se tor-
naram os territórios da fronteira amazônica, abandonando
um relato da historiografia clássica centrado excessivamente
na construção de uma soberania luso-brasileira.18 A histo-
riografia sobre a Amazônia deixa de lado, assim, um relato
quase que de inevitável de integração ao mundo brasileiro e
passa a explorar o significado das conexões e das circulações
da fronteira. Inclusive, inserindo nesse relato um lugar para
os grupos indígenas que também se relacionavam com euro-
peus de diversas nações de acordo com seus interesses
No Estado do Maranhão de meados do século
XVIII se cruzavam, portanto, a América portuguesa ao
leste e ao sudeste, e as Américas francesa, holandesa e
castelhana, ao longo de toda a fronteira noroeste e oes-
18
Ver, por exemplo: GUZMÁN, 2006; HULSMAN, 2011; GOMES, 2011;
COLLOMB & BEL, 2014. Há um interessante e recente dossiê publicado
em Procesos. Revista Ecuatoriana de Historia, dedicado exclusivamente
à “Amazonía transfronteriza”. Ver: http://revistaprocesos.ec/ojs/
index.php/ojs

29
te; perpassando todas elas estavam as múltiplas e com-
plexas “Américas indígenas”. É também a partir dessas
diversas fronteiras e experiências que devemos compre-
ender as vicissitudes do Estado do Maranhão.
A importância do cacau e a forma como ele se de-
senvolveu na Amazônia portuguesa revela o papel de-
sempenhado por outras experiências coloniais, como a
castelhana, para a compreensão dos caminhos trilhados
no Estado do Maranhão. Ora a lógica de produção agrí-
cola do Maranhão e do Pará foi compreendida por muito
tempo a partir da experiência do açúcar do Estado do
Brasil. Certamente, a experiência das fazendas das co-
lônias holandesas, como as de Berbice, nas quais houve
uma significativa presença de escravos indígenas, é de
fundamental importância para compreender os cami-
nhos da organização do mundo rural e do trabalho com-
pulsório de índios e africanos nas fazendas amazônicas.
Não há como isolar as fazendas do Pará das fazen-
das das Guianas, por exemplo, em grande medida porque
elas compartilhavam dos mesmos trabalhadores, de ter-
ritórios com características próximas, e se beneficiavam,
inclusive, dos mesmos circuitos de comércio do interior
da Amazônia. A história do Brasil, definitivamente, deve
incorporar um relato territorial menos teleológico, pro-
curando compreender que implicações essas múltiplas
conexões tiveram para entender a própria diversidade e
heterogeneidade do Brasil de hoje.

30
Fontes

Arquivo Histórico Ultramarino.

Os Avulsos (do Pará, do Maranhão e do Piauí).

Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Alfândega de Lisboa – Casa da Índia, Cobrança de Direi-


tos, Receita por entrada.
As Chancelarias Régias (Dom João V) e o Registro Geral
de Mercês (Dom João V).

Arquivo Público do Estado do Pará.

Sesmarias.

Referências

ALMEIDA, André Ferrand de. “Samuel Fritz and the Mapping


of the Amazon”. Imago Mundi, vol. 55 (2003).

ARENZ, Karl Heinz & MATOS, Frederik Luiz Andrade de.


“‘Informação do Estado do Maranhão’: uma relação sobre
a Amazônia portuguesa no fim do século XVII”. Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, nº 175 (2014).

ARENZ, Karl-Heinz. Del’Alzette à l’Amazonie: Jean-Philippe


Bettendorff et les jésuites em Amazonie portugaise (1661-
1693). Saarbrücken: Éditions universitaires européennes, 2010.

ARRAES, Damião Esdras Araújo. Curral das reses, curral


de almas: urbanização do sertão nordestino entre os
séculos XVII e XIX. Dissertação de mestrado, São Paulo,
Universidade de São Paulo, 2012.

31
BARARUA, Marcus Vinicius Valente & CHAMBOULEYRON,
Rafael “Cabo do Norte: conflitos e territorialidade (XVII-XVIII)”.
Revista Estudos Amazônicos, vol. X, nº 1 (2014), pp. 255-278.

BARTLETT, Robert. The making of Europe. Conquest,


colonization and cultural change, 950-1350. Londres:
Penguin Books, 1994.

BATISTA, Regina Célia Corrêa. Dinâmica Populacional e


Atividade Madeireira em uma vila da Amazônia: A Vila de
Moju 1730-1778. Dissertação de mestrado, Belém, Universidade
Federal do Pará, 2013.

BATISTA, Regina Célia Corrêa. Atividade madeireira no


Estado do Maranhão e Grão-Pará na primeira metade do
século XVIII. Monografia de graduação, Belém, Universidade
Federal do Pará, 2008.

BERREDO, Bernardo Pereira de. Annaes historicos do Estado do


Maranhaõ, em que se dá notícia de seu descobrimento, e tudo o
que mais nelle tem succedido desde em que foy descuberto até
o de 1718. Lisboa: Na Officina de Francisco Luiz Ameno, 1749.

BOMBARDI, Fernanda Aires. Pelos interstícios do olhar do


colonizador: descimentos de índios no Estado do Maranhão
e Grão-Pará (1680-1750). Dissertação de mestrado, São Paulo,
Universidade de São Paulo, 2014;

BONILLO, Pablo Ibáñez. “Historia de dos islas: los mitos


coloniales de la Isla Brasil y la Isla Guayana”. Memorias.
Revista digital de historia y arqueología desde el Caribe
colombiano. Ano 11, nº 26 (2015). http://dx.doi.org/10.14482/
memor.26.7046.

CABRAL, Maria do Socorro Coelho. Caminhos do gado. Conquista


e ocupação do Sul do Maranhão. São Luís: SIOGE, 1992.

32
CAMILO, Janaína Valéria Pinto. A medida da floresta: as
viagens de exploração e demarcação pelo ‘País das Amazonas’
(séculos XVII e XVIII). Tese de doutoramento, Campinas,
Universidade Estadual de Campinas, 2008.

CARDOSO, Alírio. “Especiarias na Amazônia portuguesa:


circulação vegetal e comércio atlântico no final da monarquia
hispânica”. Tempo, nº 37 (2015). Doi: 10.1590/TEM-1980-
542X2015v213701

CARDOSO, Alírio. “Outra Ásia para o império: fórmulas para


a integração do Maranhão à economia oceânica (1609-1656)”.
In: ALONSO, José Luis Ruiz-Peinado & CHAMBOULEYRON,
Rafael (orgs.). T(r)ópicos de história: gente, espaço e tempo na
Amazônia (séculos XVII a XXI). Belém: Açaí, 2010, pp. 9-26.

CARVALHO, Antonio de Albuquerque Coelho de. Sobre


mandar separar distritos e encarregar aos padres de Santo
Antonio as missões do Cabo do Norte”. 19 de março de 1693.
Anais da Biblioteca Nacional, vol. 67 (1948).

CASTRO, Adler Homero Fonseca de. “O fecho do império:


história das fortificações do Cabo do Norte ao Amapá de hoje”.
In: GOMES, Flávio dos Santos (org.). Nas terras do Cabo do
Norte: fronteiras, colonização e escravidão na Guiana brasileira
(séculos XVIII-XIX). Belém: EdUFPA, 1999, pp. 129-193.

CHAMBOULEYRON, Rafael. “Indian Freedom and


Indian Slavery in the Portuguese Amazon (1640-1755)”. In:
DONOGHUE, John & JENNINGS, Evelyn P. (orgs.). Building
the Atlantic Empires: Unfree Labor and Imperial States in the
Political Economy of Capitalism, ca. 1500-1914. Leiden: Brill,
2015, pp. 54-71.

CHAMBOULEYRON, Rafael. “Cacao, Bark-clove and


Agriculture in the Portuguese Amazon region, Seventeenth
and Early Eighteenth Century”. Luso-Brazilian Review, 51,
nº 1 (2014a): 1-35.

33
CHAMBOULEYRON, Rafael. “‘Como se hace en Indias de
Castilla’: El cacao entre la Amazonía portuguesa y las Indias
de Castilla (siglos XVII y XVIII)”. Revista Complutense de
Historia de América, vol. 40 (2014b), pp. 23-43.

CHAMBOULEYRON, Rafael. “A prática dos sertões na


Amazônia colonial (século XVII)”. Outros Tempos, vol. 10, nº
15 (2013), pp. 79-99.

CHAMBOULEYRON, Rafael. Povoamento, ocupação e


agricultura na Amazônia colonial (1640-1706). Belém: Açaí/
Centro de Memória da Amazônia-UFPA/PPHIST-UFPA, 2010.

CHAMBOULEYRON, Rafael. “As especiarias da Amazônia”.


BR História, nº 1 (2007).

CHAMBOULEYRON, Rafael & MELO, Vanice Siqueira de.


“Governadores e índios, guerras e terras entre o Maranhão
e o Piauí (século XVIII)”. Revista de História (USP), nº 168
(2013a), pp. 167-200.

CHAMBOULEYRON, Rafael & MELO, Vanice Siqueira de.


“Índios, engenhos e currais na fronteira oriental do Estado
do Maranhão e Pará (século XVII)”. In: MOTTA, Márcia &
SERRÃO, José Vicente & MACHADO, Marina (orgs.). Em terras
lusas: conflitos e fronteiras no Império português. Vinhedo:
Horizonte, 2013b, pp. 231-259.

COELHO, Geraldo Mártires. Nos passos de Clio:


peregrinando pela Amazônia colonial. Belém: Editora
Estudos Amazônicos, 2012.

COLLOMB, Gérard & BEL, Martijn van den (orgs.). Entre deux
mondes, Amérindiens et Européens sur les côtes de Guyane.
Paris: Éditions du CTHS, 2014.

34
DIAS, Camila Loureiro. L’Amazonie avant Pombal. Politique,
Economie, Territoire. Tese de doutorado, Paris, Ecole des
Hautes Etudes en Sciences Sociales, 2014;

DIAS, Camila Loureiro. “Jesuit Maps and Political Discourse:


The Amazon River of Father Samuel Fritz”. The Americas, vol.
69, nº 1 (2012), pp. 95-116.

DIAS, Camila Loureiro. Civilidade, cultura e comércio: os


princípios fundamentais da política indigenista na Amazônia
(1614-1757). Dissertação de mestrado, São Paulo, Universidade
de São Paulo, 2009.

GODINHO, Vitorino Magalhães. “Portugal and her empire,


1680-1720”. In: John S. Bromley (org.). The new Cambridge
modern history. Cambridge: CUP, 1970, vol. IV.

GODINHO, Vitorino Magalhães. “Problèmes d’économie


atlantique. Le Portugal, les flottes du sucre et les flottes de l’or
(1670-1770)”. Annales. Économies, Sociétés, Civilisations, vol.
5, nº 2 (1950).

GOMES, Flávio dos Santos & QUEIROZ, Jonas Marçal de &


COELHO, Mauro Cezar (orgs.). Relatos de fronteiras: fontes
para a história da Amazônia – séculos XVIII e XIX. Belém:
Editora Universitária, 1999.

GOMES, Flávio. “Migrações, populações indígenas e etno-


gênese na América Portuguesa (Amazônia Colonial, s. XVIII)”.
Nuevo Mundo Mundos Nuevos, 2011. http://nuevomundo.
revues.org/60721;

GONZÁLEZ, Juan Sebastián Gómez. “Invasores portugueses y


reacciones jesuíticas en la disputa por una frontera americana.
Maynas, 1700-1711”. In: CÁRDENAS, Ana Catalina Reyes,
GUZMÁN, Juan David Montoya e GONZÁLEZ, Sebastián Gómez
(orgs.). El siglo XVIII americano. Estudios de Historia Colonial.
Medellín: Universidad Nacional de Colombia, 2013, pp. 85-123;

35
GONZÁLEZ, Sebastián Gómez. “Contra um enemigo infernal.
Argumentos jesuíticos en defensa de la Amazonia hispánica:
provincia de Maynas, 1721-1739”. Fronteras de la Historia, vol.
17, nº 1 (2012), pp. 167-194.

GUZMÁN, Décio de Alencar. “A colonização nas Amazônias:


guerras, comércio e escravidão nos séculos XVII e XVIII”.
Revista Estudos Amazônicos, vol. III, nº 2 (2008): 103-39;

GUZMÁN, Décio de Alencar. “Encontros circulares: guerra e


comércio no Rio Negro (Grão-Pará), séculos XVII e XVIII”. Anais
do Arquivo Público do Pará, vol. 5, tomo 1 (2006), pp. 139-65;

HANSON, Carl. Economia e sociedade no Portugal barroco,


1668-1703. Lisboa: Dom Quixote, 1986.

HULSMAN, Lodewijk. “Swaerooch: o comércio holandês com


índios no Amapá (1600-1615)”. Revista Estudos Amazônicos,
vol. VI, nº 1 (2011), pp. 178-202;

LIMA, Alam da Silva. Do “dinheiro da terra” ao “bom dinheiro”.


Moeda natural e moeda metálica na Amazônia colonial (1706-
1750). Dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal
do Pará, 2006.

MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo & GOMES, Flávio dos Santos.


“Reconfigurações coloniais: tráfico de indígenas, fugitivos
e fronteiras no Grão-Pará e Guiana francesa (séculos XVII e
XVIII)”. Revista de História, nº 149 (2003), pp. 69-107.

MARTINS, Maria Cristina Bohn. “Missionários, indígenas e


a negociação da autoridade Maynas no diário do Pe. Samuel
Fritz”. Territórios e Fronteiras, vol. 2, nº 2 (2009), pp. 124-144.

MELO, Vanice Siqueira de. Cruentas guerras: índios e


portugueses nos sertões do Maranhão e Piauí (primeira
metade do século XVIII). Dissertação de mestrado, Belém,
Universidade Federal do Pará, 2011.

36
MIRANDA, Elis de Araújo. Representações da Amazônia:
paisagens e imagens de Cametá (PA). Tese de doutorado, Rio
de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006;

MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas. “A consolidação da


dinastia de Bragança e o apogeu do Portugal barroco: centros
de poder e trajetórias sociais (1668-1750)”. In: TENGARRINHA.
José (org.). História de Portugal. Bauru/São Paulo/Lisboa:
EdUSC/EdUNESP/Instituto Camões, 2000.

NEVES, Tamyris Monteiro. “O lícito e o ilícito: a prática dos resgates


no Estado do Maranhão na primeira metade do século XVIII”.
Revista Estudos Amazônicos, vol. VII, nº 1 (2012), pp. 253-273.

NEVES, Tamyris Monteiro. Entre salvar almas para Deus e gerar


lucro para a Fazenda real: a empresa dos resgates. Monografia
de graduação, Belém, Universidade Federal do Pará, 2011.

PATELLO, Cecília Cunha dos Santos. “Que se observe


inviolavelmente a dita disposição”: as relações entre Portugal
e França após o Tratado de Utrecht (1713-1727). Monografia de
graduação, Belém, Universidade Federal do Pará, 2010;

PELEGRINO, Alexandre de Carvalho. Donatários e poderes


locais no Maranhão seiscentista (1621-1701). Dissertação de
mestrado, Niterói, Universidade Federal Fluminense, 2015.

POMPEU, André José Santos. “Monções amazônicas: avanço e


ocupação da fronteira ocidental amazônica (Segunda metade do
Séc. XVII)”.Anais do XXVIII Simpósio Nacional de História
(Florianópolis, 27 a 31 de julho de 2015). http://www.snh2015.
anpuh.org/site/anaiscomplementares.

RAVENA, Nírvia, MARIN, Rosa Elisabeth Acevedo. “Teia de


relações entre índios e missionários a complementaridade vital
entre o abastecimento e o extrativismo na dinâmica econômica
da Amazônia Colonial”. Varia Historia, vol. 29, nº 50 (2013),
pp. 395-420.

37
REZENDE, Tadeu Valdir de Freitas. A conquista e a ocupação
da Amazônia brasileira no período colonial: a definição das
fronteiras. Tese de doutorado, São Paulo, Universidade de
São Paulo, 2006.

ROCHA, Rafael Ale. A elite militar no Estado do Maranhão:


poder, hierarquia e comunidades indígenas (século XVII). Tese
de doutorado, Niterói, Universidade Federal Fluminense, 2013.

SANTOS, Márcio Roberto Alves dos. Fronteiras do sertão


baiano: 1640-1750. Tese de doutorado, São Paulo, Universidade
de São Paulo, 2010.

SILVA E MELLO, Márcia Eliane Alves da. “O Regimento das


Missões: poder e negociação na Amazônia portuguesa”. Clio,
vol. 27, nº 1 (2009a): 46-75;

SILVA E MELLO, Márcia Eliane Alves da. Fé e império: as


Juntas das Missões nas conquistas portuguesas. Manaus:
EdUA, 2009b, pp. 243-317;

SILVA, Úrsula Andréa de Araújo. Corpo e fronteira: O


diário de Samuel Fritz e a conquista do espaço amazônico.
Dissertação de mestrado, Natal, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, 2007.

SOMMER, Barbara A. “Colony of the sertão: Amazonian


expeditions and the Indian slave trade”. The Americas, vol. 61,
nº 3 (2005), pp. 401-28;

STUDART, Filho Carlos. Fundamentos geográficos e históricos


do Estado do Maranhão e Grão-Pará com breve estudo sobre a
origem e evolução. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1955.

38
TORRES-LONDOÑO, Fernando. “Visiones jesuíticas del
Amazonas en la colonia: de la misión como dominio espiritual
a la exploración de las riquezas del rio vistas como tesoro”.
Anuario Colombiano de Historia Social y de la Cultura, vol.
39, nº 1 (2012), pp. 183-213.

TORRES-LONDOÑO, Fernando. “Trabalho indígena na


dinâmica de controle das reduções de Maynas no Marañón do
século XVII”. História, vol. 25, nº 1 (2006), pp. 15-43.

39
O CASO DE BERBICE; RELATO DE UMA
PESQUISA ARQUIVISTICA
Lodewijk Hulsman1

Introdução

Esta pesquisa histórica foca-se na temática mão de obra


no contexto das fazendas da Amazônia colonial, com desta-
que para as Guianas em particular. As Guianas constituem
um espaço singular na Amazônia por vários motivos, pois,
desde a pré-história conhecem uma dinâmica regional e são
marcadas por uma natureza característica dentro da região
(BOOMERT, 1984, 1987; WILLIAMS, 2003; GALLOIS, 2005;
ROSTAIN, 2008; NEVES, 2008; PORTO, 2010; OTCA, 2011;
CRUZ, HULSMAN, OLIVEIRA, 2014).
O entendimento das dinâmicas do desenvolvimen-
to socioeconômico e histórico do Norte do Brasil e das
Guianas como parte da Amazônia e América do Sul con-
tinua sendo uma preocupação das diversas áreas do co-
nhecimento, por exemplo, da arqueologia, antropologia,
linguística, economia e da história.2 De modo particular,
o papel das fazendas no desenvolvimento econômico
da Amazônia colonial se desenvolveu desde 2000 numa
área da pesquisa histórica na qual o trabalho indígena se
destacou como temática (COELHO, 2005; CHAMBOU-
LEYRON, 2006, 2010; GUZMÁN, 2008; CUNHA, 2009;
1
Pesquisador e professor da Universidade Federal de Roraima,
pesquisador da Universidade de Amsterdam.
2
Para uma visão histórica ver o artigo “Uma sociedade colonial em
expansão. O Maranhão e o Grão-Pará de meados do século XVII a
meados do século XVIII” de Rafael Chambouleyron nessa publicação.

41
ROLLER, 2015), a despeito de uma visão mais ampla so-
bre essa realidade ser dificultada pela ausência de fontes
referentes à primeira metade do século XVIII.
O problema central abordado nesta proposta parte
do princípio de que houve um fluxo constante da mão
de obra indígena, especialmente escravos, da Amazônia
para a costa das Guianas no século XVIII, sinalizado na
literatura, porém, quase não existe pesquisa sobre a parti-
cipação indígena nas fazendas das Guianas, em particular
nas Guianas Holandesas onde na época se concentravam
a maior quantidade de fazendas (WHITEHEAD, 1988; FA-
RAGE, 1991, HEMMING, 2007, OLIVEIRA, 2011).
Essa pesquisa é de natureza arquivística, cujas con-
sultas são fontes neerlandesas (manuscritos inéditos) que
documentaram o emprego da mão de obra indígena nas
fazendas da Sociedade de Berbice (Sociëteit van Berbice) no
período 1726-1736. A fonte básica do estudo é a contabi-
lidade das fazendas documentando o investimento em
trabalho, trabalho escravo e trabalho contratado. De um
lado o estudo focaliza a população escrava, identificando
a participação indígena no contexto da escravidão nas fa-
zendas. De outro lado procura mapear o investimento em
relações comerciais e trabalhistas com indígenas indepen-
dentes. Esses manuscritos holandeses foram parcialmente
traduzidos em português, disponibilizando assim para a
comunidade de historiadores brasileiros um acervo que
ficou fora de alcance pela barreira linguística.
O estudo é apresentado com um esboço da geografia
e arquelogia de Berbice, seguida por um resumo histórico
da colônia neerlandesa. As fontes arquivisticas são contex-

42
tualizadas antes na análise da pesquisa que está dividida em
duas partes. A primeira parte é dedicada à análise dos dados
dos inventários que documentam a presença da população
escrava nas fazendas da Sociedade de Berbice. O objeto da
análise da segunda parte é mapear o comércio europeu com
indígenas pelas contabilidades diárias das fazendas. Os ane-
xos apresentam fontes primárias traduzidas em português.

Berbice geográfico e pré-histórico

O rio Berbice está situado no leste da República Co-


operativa de Guyana3, doravante chamada de Guyana. O
rio corre do platô das Guianas, nascendo nas terras altas
da região Rupununi, para o norte por 595 quilômetros an-
tes de cair no oceano Atlântico. O rio Canje se junta com
o Berbice no delta, que está obstruído por bancos. O rio
Berbice pode ser navegado por uma distância de 160 qui-
lômetros antes de aparecer uma aglomeração de corredei-
ras que obstruem a navegação na parte alta do rio, cenário
esse que está sujeito a alterações conforme a estação.
Ao leste do rio Berbice corre o Rio Corantyne ou Co-
rantijn4 que separa Guyana da República do Suriname. Ao
oeste corre o rio Essequibo, o maior rio na costa entre os
deltas dos rios Amazonas e Orinoco, que nasce nas monta-
nhas Acarai na fronteira da Guyana com Brasil, e atravessa
um percurso de 1010 km para o norte antes de desembocar
no oceano Atlântico.
3
A República Cooperativa da Guyana nasceu quando a colônia
chamada Guiana Inglesa ganhou sua independência em 1966. A
Guiana Inglesa começou em 1814 quando as colônias neerlandesas de
Berbice, Demerary e Essequibo foram cedidas para Grã Bretanha.
4
A ortografia do topônimo na Guyana é Corantyne e no Suriname
Corantijn, mas como a matéria se trata do rio Berbice, que está situado
na Guyana, se adota a ortografia guyanense.

43
Imagem 1 - mapa da Guyana.

Num passado distante os rios Uraricoeira e Takutu, que


hoje desaguam no Rio Branco, corriam para o Atlântico num
rio proto-Berbice que incorporou os rios Essequibo, Berbice

44
e Courantyne. Esse processo geológico está relacionado com
o fenômeno geológico chamado de Takutu Graben que se es-
tende aproximadamente da cidade de Boa Vista no Brasil por
quase 300 km adentro da Guyana. A zona montanhosa na
região do Rupununi se destaca por inundações sazonais que
ligam as bacias amazônica e atlântica, formando assim um
caminho aquático que junta a costa Atlântica com o interior
(SOUZA; ARMBRUSTER; WERNEKE, 2012: 31-32).
Esses rios passam pelas três zonas que caracterizam
a paisagem da Guyana: uma faixa costeira pantanosa for-
mada largamente por sedimentos aluviais, depois uma
zona de colinas de areia branca intercaladas com aflora-
mentos rochosos de 150 a 250 quilômetros e por último a
zona montanhosa que faz parte do platô das Guianas. O
clima da Guyana é tropical com duas estações chuvosas
entre dezembro e fevereiro e entre abril e agosto.
A população moderna da região de Berbice se con-
centra principalmente na faixa costeira, em particular
na cidade de New Amsterdam, com aproximadamente
30.000 habitantes. Administrativamente a área está divida
em regiões como Mahaica-Berbice, Alto Demerara-Berbice
e Berbice Oriental-Corentyne. Ela faz fronteira com o Oce-
ano Atlântico ao norte, Suriname ao leste, com o Brasil ao
sul e as regiões, Alto Takutu-Alto, Essequibo, Potaro-Sipa-
runi no interior e com Demerara-Mahaica na costa (BEAIE
2002: 51). As ruinas do Forte Nassau, centro da colônia da
Sociedade de Berbice em 1725, hoje são distantes, quase
perifericas. A colônia holandesa na época dessa pesquisa,
estava situado mais no interior na zona das savanas inter-

45
mediarias. Esta região se destaca dentro da arqueologia na
Amazonia pela antiguidade das evidencias de agricultura.

A Pré-História de Berbice

O conhecimento da pré-história da Guyana ainda é


fragmentado e muito recente, pois, a pesquisa arqueológica
do interior só começou na segunda metade do século XX. A
visão da Amazônia como um ambiente que não permitia o
desenvolvimento de sociedades complexas que reinava até
esse tempo, foi gradualmente abandonada em favor de uma
perspectiva que procurava entender melhor as formas espe-
cíficas das sociedades pré-históricas na Amazônia. Estudos
revelaram, por exemplo, a existência de terra preta como um
fenômeno antropogênico que possibilitava uma agricultura
intensiva. Nas Guianas foram descobertos vestígios de socie-
dades que construíram sambaquis e outras obras de grande
extensão. As primeiras pesquisas arqueológicas no rio Ber-
bice se concentraram na zona média, situado atrás da faixa
pantanosa no litoral. Na última década do século passado
áreas com terra preta foram descobertas próximo de Dubu-
lay, um sítio localizado no meio do rio Berbice. Os arqueó-
logos estimaram que o sítio tenha sido habitado desde 5.000
anos AC e que houve uma intensificação da agricultura local
por volta de 1800 AC (WHITEHEAD, HECKENBERGER;
SIMON, 2010).
Os arqueólogos encontraram restos de cerâmica e con-
cluíram que o Dubulay site é um dos lugares mais antigos da
Amazônia, fora os sítios arqueológicos descobertos nos sam-
baquis. A presença extensiva de terra preta sugere que Berbi-

46
ce tenha sido um dos primeiros lugares conhecidos onde so-
ciedades adotavam uma forma de agricultura intensiva que
possibilitava a acumulação de surplus, considerado essencial
para o desenvolvimento de sociedades complexas.
Nas savanas intermediárias, perto da velha colônia
holandesa de Berbice, foram observados campos elevados,
testemunhando uma técnica de agricultura que já havia
sido observada em outras áreas das Guianas. Whitehead,
Heckenberger e Simon sugerem que essa área possa ter sido
habitada por sociedades como os Arawak, desde o final da
pré-história, e a comparam com outras ocupadas também
por culturas Arawak como a savana Mojo na Bolívia e no
Alto Xingu no Brasil (WHITEHEAD, HECKENBERGER;
SIMON, 2010).

Imagem 2 - Campos elevados perto do rio Berbice (Foto: cortesia George Simon).

47
Berbice hoje e antes

A cidade de New Amsterdam, a moderna capital da


região de Berbice, foi construída depois da rebelião de 1763
quando africanos liderados por Coffy quase conseguiram
dominar a colônia neerlandesa.5 A população escrava havia
crescido passando de 1.400 para 3.883 (NETSCHER, 1888:
191). Depois da rebelião a colônia velha virou periferia e o
centro se deslocou à beira mar, ou seja, na Nieuw Amsterdam
e por volta de 1780 a população escrava chegou a mais de
5.000 (NETSCHER, 1888: 247). No período posterior chegou
a crescer aproximadamente até 21.000 em 1814, quando a
colônia se tornou parte da Guiana Inglesa.
O período de 1720-1740 era com efeito o começo da
transformação das velhas colônias zelandesas que foram
entre as primeiras estabelecidas na costa das Guianas, e que
um século mais tarde como a Guiana Inglesa superariam a
colônia Suriname. O arquivo da Sociedade de Berbice nes-
se período documenta então o início dessa transformação.
Em 1727 havia um século de convivência de neerlandeses,
indígenas e africanos, formado assim um modus vivendis
singular para a região. Os arquivos pesquisados documen-
tam assim a situação da velha colônia no interior que era
o resultado da aliança batavo-arawak contra os espanhóis
no século XVI. O impacto do investimento no final do sé-
culo XVIII causou a transformação da região resultando no
abandono dessa velha colônia no interior (KRAMER, 1991).

5
Para a construção de Nieuw-Amsterdam: BOSMAN, 1994. A literatura
sobre a rebelião de 1763 é extensa, razão pela qual se recomenda ver:
KARS, 2009, 2013.

48
Imagem 3 - um mapa que, datado aproximadamente de 1740, retrata as
fazendas na colônia de Berbice. A lista registra 93 fazendas particulares no
rio Berbice e 20 fazendas particulares no rio Canje, perfazendo um total de
113 fazendas particulares. As fazendas da Sociedade são bem maiores do
que as fazendas particulares. Acima, no meio, à direita está situada a fazenda
Pereboom na confluência do rio Wiruni com o rio Berbice. O Fort Nassau está
retratado na ribeira à direita do rio Berbice ao lado direito da imagem (ver
Anexo 5 para uma transcrição dos proprietários e fazendas).

49
Cortesia da Biblioteca da Universidade de Amsterdam (UBA-OTM: HB-
KZL_102-21-03).

50
2.2 Resumo Histórico da Colônia Holandesa no Rio Berbice

A colônia holandesa no rio Berbice, de 1725 a 1740, es-


tava envolvida em um processo de mudança que resultou
na transferência da propriedade para uma empresa privada
chamada Sociëteit van Berbice, que nesse resumo será nomi-
nada como Sociedade de Berbice. Desse modo, o objetivo
do presente resumo é orientar o leitor para um entendimen-
to global do contexto que proporcionou a criação do acervo
documental, cujas fontes oferecem dados para a pesquisa
das relações trabalhistas entre holandeses, indígenas e afri-
canos nas fazendas ou plantages da Sociedade em Berbice.

2.2.1 - A República Neerlandesa e a Colonização

Vale notificar que, para o leitor ter um entendimento


geral da complexidade da colonização holandesa, é im-
portante que se mostre como estava a organização da Re-
pública Neerlandesa. A República era formada por uma
federação de sete províncias, cada uma com um conselho
de estado.6 Desses sete conselhos de Estado, o da Provín-
cia da Holanda era muito mais poderoso que os outros
por administrar a área com as cidades mais populosas e
grande parte da economia da República. A sede dos Esta-
dos da Holanda era em Haia, situado ao lado da sede dos
Estados Gerais que era o conselho supremo da República.
Os Estados Gerais eram formados por deputados dos con-
selhos dos sete estados. À parte dos Estados Gerais estava
o “Stadhouder” que comandava o exército e a marinha da
6
A União de Utrecht formada em 1580 é geralmente considerada como
o primeiro passo à formação da República Neerlandesa (ISRAEL,
1998: 199).

51
República e a depender da sua capacidade política, exercia
mais ou menos influência sobre a administração da Repú-
blica (ISRAEL, 1998: 276-284).
A organização colonial da República caracterizou-se
por ser de iniciativa privada. Os Estados Gerais dividiram
o mundo em dois hemisférios, o Oriente e o Ocidente, e em
1602 emitiram uma patente para a Companhia das Índias
Orientais (VOC), uma empresa dividida em seis câmaras
independentes e financiada com capital privado de seus
respectivos acionistas (ISRAEL, 1998: 321-322). A Compa-
nhia das Índias Ocidentais (WIC) foi fundada só em 1621
porque os termos da trégua entre a República e o Rei da
Espanha, entre 1609 e 1621, expressamente proibiram essa
fundação (ISRAEL, 1998: 326).
Berbice estava situado no continente da América e
assim se encontrou na área patenteada pela WIC. Esta, por
sua vez, estava dividida em cinco câmaras que eram ad-
ministradas por colégios de acionistas chamados “bewin-
dhebbers”. Cada um desses colégios enviou delegados
para o conselho dos dezenove (XIX), o qual se reunia uma
ou duas vezes por ano para formular o plano geral da em-
presa. No conselho de XIX sentava um deputado dos Es-
tados Gerais. A câmara de Amsterdam estava muito mais
poderosa do que as outras, mas tinha como principal com-
petidora a câmara da Zelândia. A província da Zelândia
tinha a segunda frota mercantil após a frota da província
da Holanda. Durante o século XVII, a dominância econô-
mica da Holanda cresceu enquanto o poder econômico da
Zelândia diminuiu (ISRAEL, 1998: 944-946).
A patente da WIC era temporária e devia ser renova-
da pelos Estados Gerais. A patente implicava que os dire-
tores da WIC administravam todo comércio da República
para o Atlântico (fora das águas européias) e do Pacífico

52
até as Ilhas Filipinas. Os diretores das cinco câmaras vi-
giavam as águas para que nenhum mercador, partindo da
Holanda, comercializasse na sua área, embora controlar
o comércio ilegítimo fosse uma tarefa difícil até o século
XVIII. Ao longo do século XVII, a situação econômica da
WIC se deteriorou e a patente só foi renovada em 1674, de-
pois de uma drástica reorganização para reduzir os gastos
da empresa que na prática estava falida e só continuou por
conta de crédito público (ISRAEL, 1998: 949-951).
A câmara da WIC Zelândia ficou em 1621 com a ad-
ministração dos pequenos postos coloniais situados no del-
ta dos rios Amazonas e Essequibo, as quais foram fundadas
por mercadores zelandeses anteriormente. A WIC Zelân-
dia, com efeito, se considerou dona do comércio holandês
na costa das Guianas e a expansão de interesses da câmara
de Amsterdam, durante os séculos XVII e XVIII, gerou con-
flitos prolongados dentro da WIC que exigiu a intervenção
dos Estados Gerais. A conquista da colônia inglesa Surina-
me em 1667 por zelandeses resultou na Sociedade de Su-
riname, que em 1680 se constituiu numa empresa privada
dominada por Amsterdam; àquela foi seguida pela posse
da colônia de Berbice em 1720 através da Sociedade de Ber-
bice, outra empresa de Amsterdam. A única colônia nas
Guianas administrada diretamente pela WIC em 1720 foi
a do Essequibo, menor que Berbice, porém gerenciada pela
Câmara da Zelândia. A colônia do Essequibo expandiu de-
pois de 1750, especialmente com o desenvolvimento da co-
lônia Demerary, também administrada pela WIC Zelândia.
Durante o século XVIII o tráfico de africanos escravi-
zados era uma das principais fontes de renda para a WIC.
A perda de suas possessões na costa da África, no final do

53
século XVIII, foi o golpe final para a companhia que termi-
nou suas atividades em 1792. O governo holandês então
administrou suas possessões (GOSLINGA, 1985: 1-43).

2.2.2 - A Colônia Holandesa de Berbice

A colônia de Berbice em 1627 foi criada pelo mer-


cador Abraham van Pere de Vlissingen, que era diretor
da WIC e recebera uma patente para fundar essa colônia
como um patronato (NETSCHER, 1888: 57). Essa colônia
era uma das duas colônias holandesas na costa das Guia-
nas que foi legitimada pelo tratado de Münster em 1648.
A colônia do Essequibo era a mais velha, fundada antes de
1621, e depois administrada pela WIC Zelândia que tam-
bém foi contemplada por esse tratado.
Uma forma preferida para estimular a colonização
pela WIC era a concessão de patronatos para pessoas priva-
das. O patronato implicava que uma pessoa ou companhia
de pessoas recebessem a concessão para fundar uma colô-
nia na área patenteada da WIC. As obrigações dos patrões
variavam um pouco em contratos diferentes impostos
pelas câmaras da Zelândia e de Amsterdam, mas em ge-
ral, incluíam cláusulas obrigando a transferência de uma
quantia de colonos à instituição de um conselho de colo-
nos da colônia, e o pagamento de impostos sobre o comér-
cio com a colônia, incluindo licenças para equipamento de
navios. O patrão em compensação recebia a possessão, às
vezes hereditária, da colônia (GROL, 1942: 24-56).
A colônia de Berbice, como propriedade particu-
lar da família Van Pere, se desenvolveu durante o sécu-
lo XVII ultrapassando a colônia do Essequibo da WIC. A

54
situação na costa das Guianas mudou durante a segun-
da metade do século XVII, quando ingleses provindos de
Barbados fundaram uma colônia no Suriname. As guerras
entre holandeses, franceses e ingleses, durante o período
1650-1700, resultaram em uma divisão territorial na cos-
ta das Guianas entre espanhóis, holandeses, franceses e
portugueses. A colônia holandesa na Caiena ficou com os
franceses, enquanto a colônia do Suriname, logo depois
da sua fundação, evoluiu para a maior colônia na costa e,
apesar de sofrer pela transferência da Inglaterra para Ho-
landa em 1667, foi em 1700 o principal centro da Guiana
holandesa superando as colônias de Essequibo e Berbice
(CRUZ; HULSMAN; OLIVEIRA, 2014: 86-93).

2.2.3 - Relações entre Holandeses e Indígenas no Berbice

A legislação da WIC relativa à população indígena


das Américas baseou-se no discurso da República Neer-
landesa para justificar a rebelião contra o Rei Habsburgo
da Espanha, que era retratado como um tirano desuma-
no por reprimir seus súditos. Em relação aos índios, nesse
discurso se contestava que os holandeses eram vítimas da
tirania do Rei da Espanha, numa situação igual aos povos
indígenas escravizados nas Américas.
O objetivo da WIC era então estabelecer alianças com
os povos indígenas e a legislação exigiu que todos respei-
tassem a população indígena proibindo expressamente de
maltratar ou escravizar índios dentro da área patenteada
pela WIC. O contrato de Abraham van Pere com a WIC
em 1627, confirmando o patronato de Berbice, estipulava
que “os naturais” não podiam ser molestados.7 Entretanto,
7
NL-HaNA_1.05.01.01_41_ff. 32–38.

55
a realidade colonial não atendia a essa situação, como na
maioria das colônias européias nas Américas. Os agentes
coloniais geralmente não respeitavam a legislação da me-
trópole nas Américas ibéricas, assim como também não,
nas Américas holandesas (GOSLINGA, 1985: 558-563).
A fundação da colônia de Berbice, igualmente como a
do Essequibo, pode ser atribuída em grande parte à alian-
ça firmada no final do século XVI entre o povo Arawak,
hoje denominado de Lokono, e os holandeses. Os Arawak
dessa região tinham se aliado aos espanhóis nas colônias
de Cubágua e Ilha de Margarida, na Venezuela, desde o
início do século XVI. Essa aliança sofreu problemas pelos
esforços de espanhóis como Antonio de Berrio para firmar
o domínio espanhol no vale do Orinoco. Com a chegada
de ingleses e holandeses no final do século XVI, muitos po-
vos indígenas optaram por se aliar aos recém-chegados e se
postaram contra os espanhóis (WHITEHEAD, 1988; 82-83).
O relato de Gelein van Stapels de 1629 coloca os Ara-
wak como os principais aliados dos holandeses em Berbice
e define que os Caribes do rio Corantijn eram seus princi-
pais inimigos. O centro da colônia era situado na conflu-
ência dos rios Wiruni e Berbice, local que aparece depois
no período 1725-1738 como “Plantage de Pereboom”. A
maioria dos colonos vivia em aldeias indígenas rio acima,
onde procuravam plantar tabaco (WALLENBURG, BRI-
GHT, HULSMAN, BEL, 2015). Para o período entre 1630-
1665 existem poucas fontes e quase não há informação so-
bre as relações dos holandeses com a população indígena.
As fontes mostram que desde 1640 havia problemas
na colônia do Essequibo com o tráfico de índios escra-
vizados para as colônias européias nas ilhas caribenhas.

56
Ao que tudo indica, navios sequestravam índios na costa
e os vendiam como escravos, por exemplo, para a colô-
nia holandesa na ilha de St. Eustatius, que também era
um patronato, assim como Berbice, da família Van Pere e
Van Rhee (HULSMAN, 2009: 138).
O comércio de urucum, chamado de “orleaan” ou
“oriane” pelos holandeses, era uma atividade importante
para a economia do Essequibo e Berbice. Feitores compra-
vam o urucu dos índios e embalavam o produto em barris
para serem exportados para a pátria. O comércio de urucu
era tão importante que foi declarado monopólio da WIC
no Essequibo quando essa colônia foi reorganizada em
1657. O regulamento para Nova Zelândia, que incluiu a
colônia velha de Essequibo, estipulava que era estritamen-
te proibido aos colonos de cultivar ou produzir urucu.
Urucu era também um tipo de exportação importante da
colônia de Berbice, contudo, não se dispõe de fontes deta-
lhadas documentando essa atividade, constando apenas
as exportações para Zelândia (HULSMAN, 2009: 225-226).
Paralelo ao comércio, relatos ingleses sobre as hos-
tilidades nas Guianas durante a segunda guerra anglo-
-batavo (1665-1667) indicam que os Arawak apoiaram
os holandeses militarmente e lutaram contra as forças
inglesas. O comandante de Berbice expulsou os ingleses
que haviam conquistado Essequibo, constando ainda nos
relatos batalhas entre ingleses do Suriname e holandeses
apoiados por Arawak em volta do rio Courantyne (HAR-
LOW 1925: 199-222; HULSMAN 2009: 155; BEL, HULS-
MAN, WAGENAAR, 2014: 55-56).
Na sequência temporal, o primeiro relato detalhado
sobre Berbice data de 1670 e foi escrito por Adriaan van
Berkel que detalhou uma situação onde os Arawak conti-

57
nuaram como aliados principais dos holandeses nessa co-
lônia. O centro da colônia havia sido mudado da confluên-
cia do rio Wiruni e Berbice para rio abaixo onde havia uma
fortaleza chamada Fort Nassau. A maioria das fazendas
continuava na mesma área onde os holandeses se encon-
traram em 1629, rio acima e beirando o rio Canje. A cana
cultura ainda estava incipiente, havia apenas cinco enge-
nhos na época. Berkel escreveu sobre escravos indígenas,
dizendo que os índios estavam orgulhosos demais para
serem escravizados. A quantia de escravos africanos ain-
da estava limitada a trinta escravos para a fazenda maior
e uma dúzia para as outras duas. Berkel escreveu que os
holandeses mantiveram um comércio com as aldeias indí-
genas vizinhas que providenciaram alimentos e serviços
(BEL, HULSMAN & WAGENAAR 2014).
Berbice alcançou sua maior extensão no período em
que Berkel visitou a colônia, depois de 1674 a colônia di-
minuiu. Sanders visitou Berbice em 1722 depois sua ex-
ploração do alto Corantyne. Sanders tinha sido enviado
pelo governador de Suriname para explorar o interior das
Guianas em consequência do relato de Gerrit Jacobsz que
havia viajado ao Rio Branco em 1720. O relato de Sanders
indica a importância de Berbice nas redes de comunicação
entre a Costa Atlântica e a bacia Amazonense no século
XVIII. O mapa feito por Sanders retrata a posição difícil da
colônia de Berbice, empurrada no Oeste pela colônia do
Suriname que havia tomada possesão do banco oriental
do rio Courantyne, enquanto o rio Demerara estava toma-
do pela colônia da WIC Zelândia no Essequibo, que con-
testou a fronteira oriental (HULSMAN, 2012).

58
Imagem 4 - Mapa do Berbice em 1722 feito por Sanders (NL-HaNA_4.
VELH_576A).

2.2.4 - A Sociedade de Berbice

Berbice sofreu vários ataques durante a Guerra da


Sucessão e só conseguiu evitar uma destruição maior por
pagar um resgate para os corsários franceses que amea-
çaram a colônia em 1712. Parte desse resgate consistia em
uma carta de crédito a ser paga pela família Van Pere na
Holanda. Os corsários franceses faziam parte de um con-
sórcio comercial e quando os delegados da França via-
jaram para assistir o Congresso de Utrecht, evento onde
as potências européias orquestraram a sucessão da coroa
espanhola, e alguns representantes foram encarregados,
enquanto missão, de encaixar a carta de crédito no evento.

59
A família Van Pere recusou pagar a carta de crédito,
alegando insuficiência de dinheiro, mas os representan-
tes franceses conseguiram vender a colônia para merca-
dores em Amsterdam. A transferência administrativa da
propriedade da colônia concretizou-se no cartório de um
tabelião em Amsterdam na data de 13 de setembro 1713
(NETSCHER, 1988: 158-159). Entretanto, a transferência
efetiva dessa colônia demorou muitos anos.
Em 1714 Van Hoorn e seus sócios firmaram um con-
trato com a WIC, aprovado pelos Estados Gerais, para
contratar a compra de 250 escravos de Ardra para a colô-
nia. A WIC manteve o monopólio de providenciar africa-
nos escravizados, e os donos da colônia podiam comprar
escravos de outras partes, entretanto, a WIC não cumprir
o contrato. A transferência definitiva dos franceses para
Van Hoorn e seus sócios foi assinada em 24 de outubro
1714. A WIC não conseguiu se livrar, mas os novos donos
estavam também sem dinheiro e a colônia estava em difi-
culdade (NETSCHER, 1888: 159-160).
Os mercadores de Amsterdam então resolveram for-
mar a Sociedade de Berbice para juntar capital visando a
emissão de ações. Esse modelo não era novidade na cos-
ta das Guianas porque a colônia do Suriname também era
administrada por uma Sociedade com acionistas. Duas das
três colônias holandesas na costa das Guianas eram então
administradas por Sociedades privadas, patenteadas pela
WIC e pelos Estados Gerais. Somente a colônia do Essequi-
bo era governada diretamente pela câmara da Zelândia. As
duas sociedades do Suriname e Berbice estavam sediadas
em Amsterdam. A presença dessas empresas nas Guianas
holandesas foi uma expressão do declínio do poder da Ze-

60
lândia na região. A Sociedade de Berbice foi fundada em
setembro 1720. Um inventário acompanhando a fundação
registrou os bens da Sociedade (NETSCHER, 1888: 162).

1. 895 escravos (masculino, feminino e criança)


2. 6 fazendas de açúcar e 2 de cacau
3. 1 fortaleza grande chamada Fort Nassau, 2 fortalezas
secundárias e 4 postos, todos armados.
4. 1 igreja e 1 forja com todos os suprimentos necessários
ao funcionamento.

Outras possessões da Sociedade incluíam várias na-


vegações fluviais, 281 cavalos para as moendas, 524 cabeças
de gado, ovelhas e porcos. A Sociedade possuía também 2
navios, 1 em Amsterdam e o outro à caminho de Berbice
que pretendia carregar 850 barris de açúcar. Além disso, em
Berbice esperavam um estoque de 700 barris de açúcar, uma
quantidade de cacau, corante de urucu e outras exportações
para transportação. O inventário não informou sobre as fa-
zendas particulares em Berbice as quais superavam o nú-
mero das fazendas da Sociedade (NETSCHER, 1888: 163).
O comandante de Berbice chamado Anthony Tierens
recebeu ordens para fazer 8 ou 10 novas fazendas de açúcar
com 1.200 novos escravos que lhe seriam enviados. Ade-
mais, recebeu ordens de adiantar a cultura do cacau, anil,
algodão e especialmente o café que recentemente havia sido
introduzido na área. A Sociedade encontrou novas dificul-
dades quando a WIC reclamou a colônia como dependência
em 1720, exigindo pagamento de impostos. As negociações
demoraram até 1732 quando pela mediação da prefeitura
de Amsterdam foi emitida uma nova patente em dezembro
1732 pelos Estados Gerais (NETSCHER, 1888: 167).

61
A sociedade continuava com a obrigação de comprar
escravos da WIC, mas ganhou certa liberdade para equi-
par navios para a colônia, uma vez que pagava uma soma
anual de 600 florins que lhe outorgava o direito, porém,
considerando que toda comunicação da colônia seria ex-
clusivamente com Holanda. Os diretores da Sociedade re-
solveram demitir Anthony Tierens e nomearam Bernhard
Waterham, um ex-militar, como novo comandante e com
ordens de fazer um inventário detalhado. As ordens de
Waterham incluíram o estímulo à criação de gado e o pro-
jeto de incentivo à população indígena para a cultura de
café, anil e baunilha. Os diretores exigiram também uma
administração detalhada da população de escravos espe-
cialmente em relação às taxas de nascimento e mortalida-
de (NETSCHER, 1888: 170-171).

2.2 O Arquivo da Sociedade de Berbice

2.2.1 - Documentação e Descrição das Fontes: O Contexto do


Acervo Documental

A prática da administração colonial na República


Neerlandesa baseou-se na administração das companhias
mercantis que se desenvolveram no século XVI. A base des-
sa administração era registrar os investimentos em merca-
dorias, salários e gastos e o retorno em forma de venda de
produtos importados. No final do empreendimento o ba-
lanço era fechado e o saldo dividido entre os investidores.
Esse sistema se modificou durante o século XVII com a ex-
pansão colonial da República. Com o desenvolvimento das
companhias operando com capital gerado por acionistas o
caráter temporário dessa administração se transformou em

62
permanente. A Sociedade de Berbice deixou um extenso
acervo de documentação chamado Archief van de Sociëteit
van Berbice, 1720-1795 guardado no Nationaal Archief em
Haia na Holanda, que é a principal fonte dessa pesquisa.8
Na administração da Sociedade de Berbice podem-se
distinguir três categorias de documentos.
Em primeiro lugar está a administração da diretoria
na cidade de Amsterdam, com sua sede numa casa no ca-
nal chamado Singel. Nela não só se reuniram os diretores,
mas também foram vendidos os produtos coloniais por
meio de leilão. Havia sete diretores no conselho dos quais
cinco eram escolhidos diretamente pelos acionistas. O re-
gistro do investimento dos acionistas e a contabilidade fa-
zem parte dessa administração, junto aos livros onde as
resoluções da diretoria estão registradas. A correspondên-
cia com os Estados Gerais e outras instituições governa-
mentais, como a municipalidade de Amsterdam também
fazem parte dessa administração.
Em segundo lugar se encontram os registros da cor-
respondência enviada da Holanda para a colônia em Berbi-
ce, apontando a administração dos empregados que foram
contratados, listas da carga enviada e recebida e, papeis di-
versos que documentaram as atividades da diretoria.
A terceira categoria de documentos está formada por
correspondência que foi enviada de Berbice e que entrou
em Amsterdam. Essa coleção é a fonte principal desse pro-
jeto, chamada de ‘Missiven van ambtenaren en instellingen
uit Berbice, met bijlagen, aan de Directie in Amsterdam’ ou
‘Overgekomen Brieven en Papieren’ e consiste de 186 inven-
tários de formato e padrão similar. Essa pesquisa se con-
8
NL-HaNA_1.05.05.

63
centra nos primeiros 6 inventários do período 1726-1736.9
Cada conjunto de papeis enviados contém uma tábula
especificando a embarcação e data de partida de Berbice
com um índice dos papeis. Em geral cada pasta contém
uma carta ou em alguns casos diversas cartas do Gover-
nador relatando os acontecimentos na colônia para a di-
retoria. Também podem ter cartas dos principais oficiais
como supervisor-geral, o secretário fiscal, o engenheiro e
o contador. Existem também nótulas das reuniões do Go-
vernador e do conselho da colônia, além de cartas com re-
querimentos dos empregados da Sociedade e moradores
para a diretoria em Amsterdam. Há ainda listas com uma
variedade de informações, por exemplo, do carregamento
dos navios, dos nomes e salários dos empregados, pessoas
que entraram e saíram, necessidades como medicamentos,
estoques na forja, no estaleiro, na casa do tanoeiro, etc. O
que interessa especificamente para esta pesquisa são os re-
latos detalhados sobre as fazendas da Sociedade. Esses re-
latos consistem de um inventário geral das propriedades
da Sociedade como os prédios com seus pertences e uma
descrição dos escravos. Junto a esses inventários foram
enviados relatórios sobre cada fazenda acompanhados
com cartas dos diretores individuais. Esses relatórios das
fazendas contêm um diário especificando as atividades
e uma contabilidade de gastos em cada fazenda. O Forte
Nassau funcionava como o centro da Sociedade em Berbi-
ce e lá se administrava o geral da colônia.
Os documentos do primeiro período de 1726-1736 se
encontram misturados e com o tempo será possível de re-
9
Missiven van ambtenaren en instellingen uit Berbice, met bijlagen,
aan de Directie in Amsterdam. 1726 – 1736; NL-HaNA_1.05.05_61-66.

64
constituir parcialmente a ordem original. Os papeis foram
enviados uma ou duas vezes por ano com um dos navios
da Sociedade que partiu de Berbice para Holanda. Nos
anexo dessa publicação está disponível uma seleção dos
documentos traduzidos do primeiro maço da coleção.10
Dessa contabilidade duas categorias de documentos
são de interesse especial para essa pesquisa. Em primeiro
lugar interessam os inventários detalhados dos escravos
nas fazendas da Sociedade. A segunda categoria de do-
cumentos são as contabilidades das fazendas individuais.
Os dirigentes das fazendas eram empregados contratados
pela Sociedade, que os obrigou de manter uma contabili-
dade diária das atividades e dos gastos.
Deve ser claro que essa documentação conta uma
história que pode e deve ser ofensiva para ler. As catego-
rias históricas refletem atitudes que hoje universalmente
são rejeitadas, resultado da exploração de mão-de-obra
escrava. A despeito do registro, seu reflexo é sim parte de
uma história amazonense e caribenha que traz informa-
ções raras sobre as relações entre europeus, africanos e os
povos indígenas nas fazendas das Guianas. Reitera-se que
essa documentação permite observar de forma detalhada
a organização do trabalho assim como também destacar
histórias individuais de pessoas que figuram muitas vezes
como uma massa anônima na historiografia.

10
Ver os anexos 1, 2 e 3.

65
2.2.2 Os inventários

Imagem 5 - página do inventário da fazenda Pereboom do ano 1727.11

Dentro dos papeis da Sociedade se encontram quatro


inventários para o período 1726-1736. Nesses inventários
estão registrados aproximadamente 3.500 nomes de pes-
soas escravizadas, representando uma população escra-
va que girava em torno de 1.450 indivíduos.12 A coleção
possibilita ao leitor de acompanhar essa população duran-
te aproximadamente 10 anos. Os escravos indígenas são
11
Todas as imagens dessa seção retratam documentos no inventário
NL-HaNA_1.05.05_61.
12
O inventário de 1736 é uma lista geral que especifica apenas as
quantidades totais das diferentes categorias de escravos em cada
fazenda da Sociedade, sem detalhar os nomes das pessoas.

66
minoria no total dessa população. Os dados totais foram
lançados num database, ainda em processo de construção,
entretanto, o inventário traduzido em português do ano
1727 está disponibilizado no anexo 1 nessa publicação.
Esses inventários foram confeccionados por uma co-
missão chefiada pelo comandante da colônia. Os inven-
tários de cada fazenda registram a data da vistoria e os
membros da comissão, incluídas outras informações, por
exemplo, a quantidade de cavalos e gado, ou a quantidade
e qualidade das panelas e ferramentas para a produção
de açúcar. Para os primeiros anos se encontram também
listas gerais. No penúltimo inventário de 1735, todos os
objetos dentro das casas das fazendas são listados, as casas
dos escravos também são registradas nesse inventário; às
vezes separando as casas dos escravos africanos e as dos
escravos indígenas. Na fazenda Vlissingen, por exemplo,
do total de 34 moradias havia 6 moradias indígenas, onde
viviam 4 homens e 5 mulheres com 8 crianças.13

Nome e aliás

Os escravos são listados pelos nomes pessoais. Um


problema que ainda não foi resolvido é quanto à ortografia
que varia muito. Assim que as pessoas são listadas geral-
mente na mesma ordem em inventários seguintes, podem
ser facilmente identificadas as variações ortográficas. Para
nomes pessoais históricos em holandês não existe uma
uniformidade ortográfica, razão pela qual o processo de
atribuir uma ortografia fixa aos nomes no data base ainda
é arbitrário. A ortografia dos nomes holandeses é relevan-
13
NL-HaNA_1.05.05_64.14. Menos de três pessoas por casa parece
pouco, talvez outros indígenas agregados estavam alojados também
nessas moradias.

67
te porque a maioria dos escravos indígenas consta com
nomes originários dessa língua, ao contrário aos escravos
africanos que figuram muitas vezes com nomes africa-
nos.14 A ortografia desses nomes, por enquanto, não faz
parte do projeto, mas poderá potencializar muito o valor
dos dados, ainda mais se estiverem aliados à pesquisa no
campo da migração formada por africanos escravizados.
Às vezes, se registra um “aliás” para o nome da pessoa,
por exemplo, Adjouba alias Irape, Diange alias Boelonge.15

Identidade Racial, Sexo, Idade e Procedência

Os escravos aparecem em categorias como africanos e


indígenas, o que facilita a identificação. Outras categorias na
listagem são o sexo, por exemplo, na imagem 5 do inventário:
Mans Negros Oude, escravos “africanos masculinos velhos”
(escravos que já estavam presentes na fazenda); Per Rijk Ha-
gerop aangebrachte Mans “homens negros trazidos pelo navio
negreiro do Capitão Rijk Hagerop”; Van Curacao aengebrachte
wijven “mulheres africanas trazidas de Curaçao”; Indiaenen
“índios masculinos”; Indiaeninnen “mulheres indígenas”; Ne-
gros Jongens “rapazes africanos”; Negros Meijsjes “moças afri-
canas”. As categorias de masculino adulto, feminina adulta,
rapaz, moça e crianças foram listadas separadamente.16 Pelas
listas de venda de escravos em Berbice é possível deduzir
que homens e mulheres adultos deviam ter aproximada-
mente entre 15 e 36 anos, os rapazes e as moças entre 8 e 14
anos e as crianças menos de 8 anos (BALAI 2011: 153).
14
Ver também “Veredas da Guyana, águas e terras no espaço social
Berbice e seus Nomes” de Maria Odileiz Souza Cruz nessa publicação.
15
Ver anexo 1 para outros exemplos, há 11 casos.
16
Ver anexo 1.

68
A maioria dos escravos africanos era agrupada pelo
nome do navio escraveiro. Alguns escravos africanos fo-
ram registrados como “velho” (oude) e deviam já estar
presentes antes do primeiro fluxo de escravos comprados
pela Sociedade. As crianças com menos de 8 anos foram
registradas com as mães. Frequentemente os nomes das
mães eram registrados com os rapazes e as moças e, oca-
sionalmente, nomes de filhos registrados com as mães. Re-
cém-nascidos (bebê) era uma categoria separada, onde se
registrou os bebês com nome da mãe e identidade racial.
As taxas de nascimento aparentemente interessavam aos
diretores e foram calculadas separadas nas listas gerais.

Ocupação

Algumas vezes se registra uma ocupação, nos pri-


meiros inventários isso é muito raro, e em geral só consta
meesterknegt que quer dizer principal ou “mestre servo, co-
mandante de escravos”. No inventário de 1726 só há uma
referência de ocupação para um escravo indígena chama-
do de Adam, criança de cristão (Forte Nassau, assistente de
ferreiro, criança cristã), classificado como servente do fer-
reiro. Nesse aspecto Berbice parece diferente de Suriname
onde a classificação por ocupação era um aspecto impor-
tante na valorização dos escravos individuais na adminis-
tração das fazendas (OOSTINDIE, 1989: 104-106).

Estado Físico

As indicações sobre o estado de saúde dos escravos é


uma categoria que posa vários problemas. Uma categoria
frequentemente é abreviada como makk que corresponde

69
ao conceito holandês de manq ou manquerend usado para
indicar que o escravo está com um problema temporário.
Quando o escravo definitivamente se torna incapacitado
está qualificado como onbequaem, “inválido”. Outra cate-
goria é oud, velho no sentido de uma pessoa com muitos
anos, palavra diferente de oude, no sentido de ser um es-
cravo já presente na fazenda, fato já mencionado anterior-
mente. Nessa categoria de estado físico se registra também
cegueira e perda de partes do corpo como mão ou braço.
As doenças encontradas são pokken, watersuchtig ou sim-
plesmente doente. Algumas abreviações como pom conti-
nuam incertas, assim como gebr ou gebrooken que também
estão sendo pesquisadas para uma melhor compreensão.

Mortalidade

Os mortos são registrados como uma categoria se-


parada, mas geralmente sem minutar a causa da morte;
algumas vezes se registra informações físicas como doen-
ça ou idade avançada, velhice. Os recém-nascidos mortos
constam como uma parte importante dos casos.

Outras Informações

Uma indicação especial era a de Christen kind “criança


de cristão”. Isso remete para uma criança nascida da união
entre uma escrava e um europeu, registrada na categoria
outras informações. Os holandeses tratavam crianças nas-
cidas dessas uniões como escravas. Um exemplo é o filho
do comandante Groenewegel do Essequibo de nome Amos,
que só ganhou sua alforria em 1691 pelo comandante S. Bee-
ckman que o sucedeu no comando (HULSMAN, 2013: 115).
Há casos como o da escrava indígena Dirkie classificada

70
como criança cristã com uma criança cristã na fazenda Peere-
boom em 1727.17 Outra categoria relevante para a pesquisa
é a indicação nieuw ingecogt “comprado recentemente”, que
se aplica exclusivamente para escravos indígenas.
Ao lado desses inventários detalhados há também
três listas gerais dos escravos da Sociedade na colônia de
1727, 1729 e 1736. Essas listas detalham as categorias de es-
cravos de descendência africana e indígena, especificando
homens, mulheres, adolescentes, crianças e recém nasci-
dos, além de indicar pessoas saudáveis, doentes, incapaci-
tadas e mortas. Nesse item a pesquisa está focalizada nos
anos de 1726 e 1727, citando principalmente o inventário
61 do arquivo da Sociedade de Berbice.18

2.2.3 A contabilidade individual das fazendas

Imagem 6 - Forte Nassau (NL-HaNA_4.VEL_1663A).


17
Ver anexo 1.
18
NL-HaNA_1.05.05_61.

71
A contabilidade central das fazendas da Sociedade foi
feita no Forte Nassau, onde estavam situados os armazéns
da Sociedade. Em 1735 havia à parte do Forte Nassau, um
total 13 fazendas e 3 postos da Sociedade. O Forte era o cen-
tro da colônia onde ficava o corpo principal dos empregados.

Imagem 7 - planta do Forte Nassau em 1743. As legendas: A. Forte


Nassau; B. Horta; C. Cavalariça; D. Loja do tanoeiro; E. Ferraria
grossa; F. Armazém; G. Cozinha para a guarnição; H. Ferraria fina.
As moradias dos escravos não são representadas (NL-HaNA_4.
VEL_1579).

O Governador, o comandante militar, o engenheiro e


o secretário formavam o governo. A força militar no forte
contava com 1 sargento, 5 cabos e 23 soldados. Havia 1 mé-
dico com seu assistente e 1 escrivão. O Constabel era encar-
regado com a administração e distribuição dos suprimen-

72
tos. Para os suprimentos líquidos havia um oficial especial,
o bottelier. Ademais, ficaram no forte 7 artesãos como car-
pinteiros e 1 tanoeiro. O total dos empregados europeus da
Sociedade no Forte em 1735 somava 49 pessoas. Nas fazen-
das ficaram 40 pessoas no serviço da sociedade, tendo sido
registrados em 1735 um total de 89 empregados. 19 Prova-
velmente havia mais europeus porque alguns empregados
eram casados, como está atestado pela diretoria de várias
fazendas através do registro das viúvas.20
A contabilidade das fazendas individuais é composta
principalmente por três tipos de documentação. A primeira é
a coleção das cartas dos diretores das fazendas, chamada de
plantagebrieven “cartas das fazendas”. Os empregados da So-
ciedade que foram nomeados para dirigir as fazendas eram
obrigados a relatar por carta os principais acontecimentos
aos diretores na Holanda. Essas cartas estão espalhadas entre
outros papeis e por enquanto não foram trabalhadas.
A segunda documentação consiste de diários de-
talhando o trabalho feito pelos escravos dia por dia. A
tendência dos dirigentes parece ter sido para limitar a in-
formação. As entradas são muitas vezes repetitivas, por
exemplo, als voren, como a entrada anterior. As entradas
não detalham a identidade racial dos escravos e apesar de
claramente ser uma coleção de interesse, foi selecionada
para priorizar inicialmente a terceira categoria da docu-
mentação. Essa terceira categoria é a contabilidade do car-
19
NL-HaNA_1.05.05_63 lista de empregados. A população europeia
da colônia em 1762 somava 346 pessoas.
20
Em 1735 há vários exemplos: Elisabeth de Feer, viúva do ex-diretor van
Weeningen que gerenciava a fazenda Oost-Souburg, a viúva do David
van Balk que gerenciava a fazenda Markay e a viúva do diretor Van
Doorn que gerenciava a fazenda Vlissingen (NL-HaNA_1.05.05_64).

73
gazoen, que remete ao estoque das ferramentas e outros
objetos como têxtil e contas de vidro que serviam como
uma espécie de moeda. A contabilidade desses objetos de-
talha o dia a dia, o motivo da compra e o que foi pago.

A Contabilidade Diária do Fort Nassau21

Imagem 8 - página do livro da contabilidade diária do Forte Nassau.

Na imagem 8 se mostra um exemplo da contabili-


dade diária do Forte Nassau. Há de se lembrar que isso
corresponde à contabilidade individual do Forte e à parte
21
Ver anexo 1.

74
dessa contabilidade existem outros livros que documen-
tam a administração geral das atividades da Sociedade na
colônia. Essa contabilidade funciona como um jornal re-
gistrando a data da entrada, uma descrição do pagamento,
por exemplo, um serviço ou uma compra. Depois registra
a quantia da unidade e uma descrição da unidade que fo-
ram pagos. Há também registro do valor da unidade paga
em florim, a moeda da Holanda.22 O valor total dos gastos
por dia sempre é somado nas três últimas colunas. Esse
último valor se soma em cada página para chegar ao valor
total no fim do período da contabilidade.23
Na tabela 1 a seguir se vê as primeiras duas entradas
da imagem 8, do dia primeiro de maio de 1726. A primeira
entrada é de dois facões grandes como instrumento de tra-
balho para os escravos. Em geral os escravos indígenas são
especificados, a entrada de escravos sem outra designação
indica que são de descendência africana. Na quarta coluna
consta o valor individual do facão, 14 schellingen e na quin-
ta coluna o valor agregado que é um florim e 8 schellingen.
No mesmo dia consta a compra de caranguejo e
churrasco (barbekot), carne ou peixe grelhado, pagos com
uma faca e três cachos de contas. Nas últimas três colunas
tem o valor total do dia em florim, schelling e duit.

22
A moeda da Holanda à época era o florim o qual era dividido em 20
schellingen e o schelling era dividido em 16 duiten.
23
Ver anexo 1.

75
76
17260501 escravos para trabalhar 2 facão grande 14 1:08:00
caranguejo e churrasco 1 faca 0:01:08
3 contas cacho 1 0:03:00
espelho dou-
escrava indígena 1 0:08:00 2 0 8
rado

17260503 caranguejo 1 pano pardo 0:04:06


escrava indígena para comprar uma ca-
1 enxada 0:13:00
noa pequena
3 faca 1,25 0:04:08
3 contas cacho 1 0:03:00
1 4 14
Tabela 1 - Mostrando as primeiras entradas da imagem 8
Dois dias depois está registrada uma nova compra
de caranguejo, dessa vez paga com um pano pardo. No
mesmo dia se paga 1 enxada, 3 facas e 3 cachos de contas
para uma escrava indígena para comprar uma canoa pe-
quena. O sentido dessa entrada não é muito claro. Poderia
a escrava vender uma canoa para seus donos? Parece mais
provável que ela funcionasse como intermediária numa
compra de outros indígenas.

A Contabilidade da Fazenda Markay

Markay era uma das fazendas mais importantes na


colônia e sua contabilidade já era diferente no livro do
Forte Nassau, mostrado na imagem 8. Esse modelo da
contabilidade se encontra em outros livros das fazendas
individuais da Sociedade de Berbice. Ela era feita da mes-
ma maneira como no Forte Nassau, por entrada diária,
mas o registro dos objetos era diferente. Essa contabilida-
de também registra o cargasoen recebido e o inventário fi-
nal quando o livro devia ser fechado.
O livro da contabilidade da fazenda Markay, cuja
amostra está na imagem 9, aponta que a contabilidade
dos objetos era feito num quadrado onde as categorias
de objetos constavam acima de cada coluna. As primeiras
colunas são reservadas para ferramentas de trabalho, in-
dicadas como ferramentas de negro; nessas se encontram
machados grandes e pequenos, fações e enxadas. O res-
to da folha está dividido em colunas onde se encontram
categorias como machados grandes, médios e pequenos,
facões grandes, médios e pequenos etc.
Algumas destas categorias são difíceis de serem defi-
nidas como a diferença entre ‘ferro de mandioca’ e ‘enxó de
mandioca’. A faca com 5 pregos indica um tipo de faca que

77
está considerada como boa mercadoria pelos índios. A cate-
goria Tawajes é de um objeto desconhecido, por enquanto,
mas se trabalha com a hipótese de ser um tipo de conta de
vidro. Os berimbaus de boca, instrumento musical popular
na Europa à época da idade média, parece que durante um
bom tempo foram considerados como uma mercadoria pe-
los povos indígenas, uma vez que constam em muitas listas.

Imagem 9 - página da contabilidade das ferramentas da fazenda Markay de


1726.

78
As categorias de mercadorias acima das colunas na
imagem 9 são representadas na tabela a seguir.

Holandês Português Holandês Português


Negro Enxó de Enxó de
Cassave dissels
houwelen Negro mandioca
Machado de
Negro bijlen Spiegel swart Espelho preto
Negro
Negro
Facões grande Espelho
Capmessen Spiegel verguld
de Negro dourado
groot
Negro Espelho de
Facões de Negro Spiegel bleck
Capmessen flandes
Machado
Bijl groot Schaarmessen Navalha
grande
Machado
Bijl middel Schaaren Tesoura
intermediário
Machado Faca com 5
Bijl klein 5 nagel messen
pequeno pregos
Cordas de
Capmes groot Facão grande Bossen coralen
miçanga
Capmes Facão
Tawajes Tawajes
middel intermediário
Berimbau de
Capmes klein Facão pequeno Trompen
boca
Ferro de
Cassavi bijtels
mandioca
Tabela 2 - categorias de mercadorias no livro da contabilidade da fazenda
Markay.

As entradas acima mostram as categorias das mer-


cadorias registradas e abaixo segue a indicação dos me-
ses de agosto e setembro (1726) do livro de contabilida-
de de Markay:

79
Data Holandês Português
Aan de slaven, para os escravos e para
1726 08 03
voor katoen habas algodão e habas
Voor een Roode pela compra de uma escrava
1726 08 05 slafinne en ‘t scheppen vermelha e pago para remar
na t’fort betaalt ao Fort Nassau
aen de indiejaennen van para os índios da fazenda e
1726 08 11
de plantagie en slaven os escravos
voor potten en vis en para vasilhas de poteria e
1726 08 13 aan nieuwe slafinne tot peixe e para um pano [tanga]
een lap para a nova escrava
Aen de nieuwe slafin
para a nova escrava, para uma
voor en hanmat en aan
1726 08 21 rede e para os escravos e para
slaven en aan de indie-
os índios da fazenda
jaenen van de plantagie
Aan de slaven en aen de
para os escravos e para os
indiaenen van de plan-
1726 08 24 índios da fazenda e para ca-
tagie en voor kraben ge-
ranguejo
geeven
1726 08 28 voor potten gegeeven para vasilhas de poteria
Aan de Indiaen die de
kaart heeft omgedragen para o índio que trouxe a car-
1726 09 11 of de tijt van de kanse ta para o rio Canje e distribuí-
rijse en aan de slaven da para os escravos
gegeeven
Aan de Gras cappers
1726 09 14 para os cortadores de grama
gegeeven
Aan de slaven en voor para os escravos e para fran-
1726 09 15
hoenders en vis go e peixe
Tabela 3 - Entradas no livro da contabilidade da Fazenda Markay.

Uma diferença importante do livro da contabilida-


de de Forte Nassau diz respeito a ausência de têxtil como

80
uma categoria. Pela administração central dá para inferir
que o têxtil para fazer roupa era distribuído nas fazen-
das a partir do Forte, mas aparentemente as fazendas não
eram providas desse estoque por um motivo ainda des-
conhecido, talvez econômico.
Observando essas entradas se nota logo que quase to-
das são compostas pelo menos de dois postos de contabili-
dade, portanto, ocultando o que foi pago para cada posto em
separado. Parece que os dirigentes das fazendas tentavam
escapar do controle dos diretores. Algumas das entradas an-
teriores merecem esclarecimentos a partir de comentários in-
dividuais. A entrada de 3 de agosto indica que foram gastos
1 facão de negro grande, 1 faca de negro juntamente com 1
faca de 5 pregos e 2 cordas de miçanga para os escravos e
para pagar algodão e habas, provavelmente aos índios.24
A entrada 5 de agosto registra a compra de uma escra-
va vermelha, talvez a moça indígena chamada de Willemijn
que consta no inventário de 1727 como comprada recente-
mente na fazenda Markay (vide anexo 1). Não consta quem
vendeu a moça, mas a fazenda Markay estava situada perto
do lugar chamado Acawaaise Poort “a Porta Akawaio” onde
costumava se fazer comércio com índios Akawaio vindo do
interior. A entrada inclui o pagamento para o serviço de
remar ao Fort Nassau e soma 1 enxó de negro, 7 machados
grandes, 7 facões grandes, 1 espelho preto e 1 espelho dou-
rado, 2 tesouras e 3 facas de 5 pregos. Uma entrada de 9 no-
vembro de 1726 registra o pagamento de 2 facas de 5 pregos
e 3 cordas de miçanga para remar até a fazenda Aan de Berg,
24
Habas é uma palavra Lokono (Arawak) que indica uma cesta para
guardar comida (PATTE, 2011: 86).

81
que é mais próxima de Markaij do que do Fort Nassau. O pa-
gamento da escrava deve provavelmente ser então o enxó,
os machados, facões e espelhos. O serviço de remar era na
época exclusivamente feito pelos índios com suas canoas.
A entrada de 13 de agosto mostra que os holandeses
compravam poteria dos índios. O gasto de 17 cordas de
miçanga para een lap, 1 pano, para a nova escrava Wille-
mijn, indica que as escravas indígenas vestiam tanga de
miçanga, traje comum a muitos povos indígenas até os
dias de hoje. A entrada de 21 de agosto registra o gasto
de 1 facão grande de negro e 1 machado pequeno com 2
facas para a compra de 1 rede para a nova escrava e para
os escravos e os índios da fazenda. As ferramentas gran-
des provavelmente foram o pagamento para a rede, mas
não consta quem foi que vendeu a rede.
O registro de 11 de setembro mostra o pagamento
para um índio que trouxe uma carta para o rio Canje, pro-
vavelmente uma ação que esteja ligada à pesca local, pois
há registros posteriores. O pagamento em 14 de setembro
para os cortadores de grama mostra que os índios fizeram
este serviço o qual era necessário para alimentar os cava-
los locomovedores da moenda. A compra de frango dos
índios em 15 de setembro indica que os mesmos adotaram
a criação desses animais importadas da Europa e abastece-
ram os holandeses em troca de pagamento.
A contabilidade indica que os objetos registrados era
de fato a moeda da terra. As fazendas compravam regu-
larmente alimentos como carne de caça, peixe, galinha,
cassava, batatas e frutos. Os provedores não estão sendo
especificados, mas no relato de Berkel de 1670 está descrito
que esses alimentos eram comprados nas aldeias vizinhas

82
das fazendas. As fazendas compravam também outras ne-
cessidades advindas dos indígenas como algodão, poteria,
redes e canoas. Um produto especial é vergifhout “madei-
ra venenosa”, usada para pescar na forma indígena, hoje,
uma espécie de timbó. Serviços eram regularmente con-
tratados pelas fazendas, por exemplo, remar canoas, cor-
tar grama para alimentar os cavalos, manter guarda e tam-
bém para capturar e retornar escravos africanos foragidos.
Os pagamentos frequentemente são especificados
com a entrada: “pago para um índio que faz serviço aqui.”
Isso pode indicar que existiam dois tipos de relações com
pessoas que providenciavam mão de obra para as fazen-
das, um tipo com pessoas das aldeias vizinhas e outro com
índios livres vivendo nas fazendas, ambos pagos. As en-
tradas, que registram objetos distribuídos para os escravos
ou para uma escrava vermelha, indicam que houve for-
mas de pagamento para as pessoas consideradas escravas,
como as contas para fazer a tanga de Willemijn. Em geral
pode se inferir do inventário de 1735 que os escravos rece-
beram as ferramentas necessárias para seu trabalho e que
guardavam estas ferramentas nas suas casas.
A entrada de pagamento para índios que prestavam
serviço nas fazendas é uma indicação sobre a presença de
trabalhadores indígenas voluntários como veremos adiante.
A presença da população de escravas indígenas sem maridos
pode ter sido um fator para atrair jovens machos indígenas,
e podia explicar o nascimento de crianças classificadas como
indígena em locais onde só havia mulheres indígenas.
Nos anexos 2 e 3 se encontram as traduções da contabi-
lidade do Fort Nassau e da Fazenda Markay para os anos de
1726 a1727. O livro de contabilidade do Fort Nassau é mais
extenso e completo do que o livro da Fazenda Markay, indi-

83
cando a posição do Forte como centro talvez por ter também
uma fiscalização mais rigorosa. Parece que as expedições do
comércio com os colonos espanhóis no rio Orinoco eram or-
ganizadas a partir do Forte como se verá no parágrafo 2.4.2.

2.3 Os Inventários em Análise

2.3.1 Aspectos Gerais

É pertinente observar dois aspectos deste acervo do-


cumental. O primeiro é que a documentação só registra as
fazendas da Sociedade de Berbice e não informa sobre as
113 fazendas, número aproximado, privadas da colônia.25
O segundo aspecto pertinente às fontes consultadas diz
respeito à formação desse acervo. Os diretores da Socie-
dade em Amsterdam obrigavam os dirigentes da colônia
ultramarina de providenciar uma administração detalha-
da com o objetivo de controlar e economizar. É evidente
que este controle servia principalmente aos investidores
em detrimento das oportunidades de lucro para os empre-
gados coloniais. Um exemplo é o descontentamento dos
diretores com o comandante Anthony Tierens e a subs-
tituição do mesmo por Bernhard Waterham, citado ante-
riormente. Outro exemplo é a tendência de colocar mais
de um posto em cada entrada da contabilidade dos objetos
distribuídos pelas fazendas individuais, que já foi citado
como uma possível tentativa de dificultar o controle dos
diretores. O aumento dos registros nos inventários duran-
25
Em 1762, a colônia contou com uma população de 346 europeus,
244 escravos indígenas e 3.833 africanos escravisados, em total 4.423
pessoas. Essas pessoas trabalhavam em 11 fazendas da Sociedade e 64
fazendas privadas (NETSCHER, 1888: 191). Ver também a conclusão
para uma análise desses dados.

84
te o período pesquisado indica que os diretores exigiam
cada vez mais detalhes dos seus subalternos. Os dados das
fontes devem assim ser observados com um olhar crítico.

2.3.2 A População Escrava da Sociedade de Berbice

população escrava
1600
1400
1200
1000
Pessoas

800
600
400
200
0
1727 1729 1736
indígenas 187 197 210
africanos 1228 1227 1279

Gráfico 1 - População escrava da Sociedade de Berbice nos anos 1727,


1729 e 1736.26

Os dados gerais da população escrava da Sociedade de


Berbice mostram que a intenção dos diretores de aumentar
a população com 1.200 novos escravos africanos não se rea-
lizou. A população, avaliada em quase 900 pessoas em 1720,
aumentou para 1.489 em 1736, menos do que previsto, mas
um aumento de mais de 50%. O gráfico 1 mostra que o ta-
manho e a composição da população escrava ficou estável
durante os dez anos em que foram documentados.27
O gráfico 2 mostra a força de trabalho composta de
adultos e adolescentes. Crianças e recém nascidos forma-
26
Os dados dos gráficos nessa secção: NL-HaNA_1.05.05_61, 62, 64.
27
NL-HaNA_1.05.05_61, 62, 64.

85
vam uma parte considerável da população escrava como
era comum em outras sociedades similares da época.28
Aproximadamente um quarto da população total perten-
cia a essa categoria (1727: 23%; 1729: 25%; 1736: 26%). Isso
corresponde com os dados no trabalho de Oostindie sobre
fazendas no Suriname (OOSTINDIE, 1989: 228).

força de trabalho
2000
1500
Pessoas

1000
500
0
1727 1729 1736
população total 1415 1424 1489
força de trabalho 1096 1067 1099

Gráfico 2 - população total e força de trabalho nos anos 1727,1729 e 1736.

O gráfico 3 mostra a percentagem das pessoas como


força de trabalho que foram qualificadas como indispos-
tas. Nessa categoria pertencem pessoas doentes, velhas
e incapacitadas. A percentagem flutua por volta de 10%
(1727: 11%; 1729: 10%; 1736: 12%). Essa percentagem é bai-
xa comparada aos dados de Oostindie para o Suriname
onde se estima a percentagem em 15% (OOSTINDIE, 1989:
112). Deve se notar que nessa contabilidade dos escravos
28
Homens e mulheres adultos deviam ter aproximadamente entre 15
e 36 anos, os rapazes e as moças entre 8 e 14 anos e as crianças menos
de 8 anos (BALAI, 2011: 153).

86
não está indicada quantos escravos indígenas estão indis-
postos. No inventário detalhado de 1727 tem um escravo
índio velho e outro indisposto por exemplo.

força de trabalho
100%

50%

0%
1727 1729 1736

indisposto disposto

Gráfico 3 - percentagem de pessoas (in)dispostos para trabalhar nos anos


1727, 1729 e 1736.

As categorias de doenças são ainda difíceis de tra-


duzir.29 No período documentado não há referência a ne-
nhum tipo de epidemia.

29
Ver também o parágrafo 2.3.5.

87
2.3.3 A população escrava de origem africana

população escrava africana


600
500
pessoas

400
300
200
100
0
homem mulher rapaz moça criança bebê
1727 477 404 70 13 221 43
1729 462 386 67 17 249 46
1736 524 393 39 24 272 27

Gráfico 4 - a população escrava africana da Sociedade nos anos 1727,


1729 e 1736.

O gráfico 4 mostra a divisão por sexo e idade da po-


pulação de escravos africanos entre os anos 1727 e 1736. Há
uma leve predominância de homens que aumenta em 1736,
resultado da preferência de compra por escravos masculinos.

população escrava africana por categoria


45%
40%
35%
30%
Pessoas

25%
20%
15%
10%
5%
0%
homem mulher rapaz moça criança
1727 40% 34% 6% 1% 19%
1729 39% 33% 6% 1% 21%
1736 42% 31% 3% 2% 22%

Gráfico 5 - divisão percentual da população escrava africana por categoria


em 1727, 1729 e 1736.

88
Enquanto a diferença entre homens e mulheres de des-
cendência africana é mínima, a disparidade entre rapazes e
moças é marcante. Nota-se uma diferença acentuada da po-
pulação escrava africana composta mais por adolescentes do
sexo masculino do que feminino, representada no gráfico 5.
A predominância de crianças masculinas entre os afri-
canos pode ser explicada pela política da WIC que na época
monopolizou o comércio escravista, e só embarcou crianças
masculinas, barrando crianças femininas, que rendiam me-
nos dinheiro quando vendidas no mercado. O navio negrei-
ro Leusden, por exemplo, trouxe em 1724 um armasoen, como
os holandeses chamavam um carregamento de africanos es-
cravizados, somando 314 pessoas. Foram especificadas como
182 homens, 100 mulheres e 32 rapazes. Não foram registra-
das moças (BALAI, 2011: 155). Isso explica a disparidade en-
tre rapazes e moças da África nos inventários de Berbice.
O gráfico 5, em 1736, mostra que a taxa de nascimen-
to natural já corrigiu esse desequilíbrio porque a diferença
entre a população das moças e rapazes de descendência
africana era de apenas 1%. A taxa de mortalidade entre
a população escrava de descendência africana retradada
no gráfico 6 era elevada. A mortalidade alta de 7% no ano
1727 pode ser o resultado da viagem recente de uma gran-
de parte dessa população. A mortalidade de 4% nos anos
de 1729 e 1736 corresponde aproximadamente com os
dados de Oostindie para o Suriname (OOSTINDIE, 1989:
132). A mortalidade em relação à taxa de nascimento será
discutida sob uma perspectiva comparativa com a popu-
lação escrava indígena no parágrafo 2.3.5.

89
mortalidade de africanos
100%
80%
percentual

60%
40%
20%
0%
1727 1729 1736
vivos 1321 1281 1335
mortos 93 54 56

Gráfico 6 - Taxa de mortalidade da população escrava de descendência


africana nos anos 1727, 1729 e 1736.

Os inventários oferecem um vasto acervo de in-


formação sobre a população escrava de origem africana
que pode servir para estudos paralelos ou comparati-
vos. Os escravos estão agrupadamente listados com o
nome do capitão ou do navio negreiro que chegaram.
Isso possibilita traçar o ponto de partida dessas pessoas
porque muitas viagens podem ser encontradas no data-
base do slavevoyages. 30
O navio negreiro Leusden, por exemplo, fez diversas
viagens da Àfrica para as Guianas entre 1724 e 1738 antes
do seu terrível naufrágio no rio Marowijne em 1738 que
resultou na morte de quase 700 africanos presos à bordo
(BALAI, 2011) O registro de Berbice documenta a passa-
gem de alguns imigrantes não voluntários trazidos por
este navio durante o período de dez anos. Outros navios
30
www.slavevoyages.org

90
são o Vrijheid e o Duijnvliet. O capitão Veltz, chamado de
Feltz, tinha aparentemente o hábito de fazer sexo com as
mulheres que trazia em seu barco, isto porque foram re-
gistradas duas mulheres com crianças dele em 1735.31

2.3.4 A População Escrava de Origem Indígena

população escrava indígena da Sociedade de Berbice


90
80
70
60
Pessoas

50
40
30
20
10
0
homem mulher rapaz moça criança bebê
1727 25 85 12 10 43 12
1729 26 83 12 14 50 12
1736 31 83 3 2 80 11

Gráfico 7 - a população escrava indígena nas fazendas da Sociedade de


Berbice por categoria nos anos 1727, 1729 e 1736.

O gráfico 7 mostra que a composição da população


escrava indígena nas fazendas da Sociedade de Berbice
difere radicalmente da composição da população escra-
va de descendência africana representada anteriormente.
Enquanto os escravos masculinos africanos formam uma
31
Escrava Grita 1735 da fazenda Markay; escrava Adjubba da fazenda
Peereboom 1735 (NL-HaNA_1.05.05_ 64.7). Veltz, Christiaan, mestre
dos navios: Maria, 1734; Beschutter, 1735, ambos trazendo escravos da
costa oeste do Golfo da Guiné, na época chamada de Costa de Ouro
(www.slavevoyages.org).

91
maioria, dominam as mulheres ameríndias na população
escrava indígena. Em 1727 as mulheres formam 64% da
população escrava indígena, embora em 1729 diminuam
para 62%, mas já em 1736 atingem 70% da população.

população escrava indígena por categoria


80%
70%
60%
percentagem

50%
40%
30%
20%
10%
0%
homem mulher rapaz moça
1727 19% 64% 9% 8%
1729 19% 62% 9% 10%
1736 26% 70% 2% 2%

Gráfico 8 - população escrava indígena por categoria nos anos de 1727,


1729 e 1736.

A predominância de escravas indígenas pode ser ex-


plicada pela divisão de trabalho entre homens e mulheres
nas sociedades indígenas, onde mulheres se ocupam prin-
cipalmente com a agricultura o que explica a preferência
para a compra de mulheres como escravas. O gráfico 8
mostra que a taxa de nascimento de crianças masculino
e feminino é mais ou menos igual. Não se pode explicar
por que a taxa de nascimento não corrigiu a disparidade
entre a categoria sexo dos escravos, uma vez que a escra-
vidão indígena já havia se estabelecido bem mais cedo em
Berbice há um século. Uma possibilidade pode ser que ra-

92
pazes indígenas tenham sido vendidos. Vale lembrar que,
ao redor das fazendas da Sociedade, havia muitas outras
particulares com demandas por mão de obra escrava.

Gráfico 9 - a população escrava por fazenda em 1736 com a quantidade de


escravos indígenas em números.

93
No gráfico 9 se mostra, individualmente por fazen-
das, a divisão da população escrava africana e indígena em
1736. As fontes consultadas documentam a presença con-
tínua de uma população escrava indígena nas fazendas da
Sociedade de Berbice no período 1726-1736. A concentra-
ção maior estava no Forte Nassau (54), Oost-Zouburg (26) e
Markay (23), porém escravos indígenas estavam presentes
em quase todas as fazendas, salve as quase extintas fazen-
das de Hogelande, Elizabeth e Debora e as duas pequenas
fazendas de café de Kerk e a nova fazenda Den Bergh.

Imagem 10 - detalhe de mapa de Berbice de 1740 mostrando as


fazendas da Sociedade de leste pra oeste: 1.Savonette, 2. Oost-Zouburg,
3.Hardenbroek, 4. Markay, 5. Peereboom, 6. Cornelia Jacoba, 7. De
Kerck, 8. Vlissingen, 9. West-Zouburg, 10. Johanna, 11. Fort Nassau, 12.
Hooft-plantage, 13. Dageraet, 14. Hogelande, 15. Elizabeth (deserto), 16.
Debora (deserto) (OTM_KZL_-100-13-05_1).

Enquanto a falta da catequização conservou os nomes


indígenas da população livre, como mostra o exemplo an-
terior, ocorreu um desenvolvimento oposto com os nomes
dos escravos indígenas nos inventários. Os nomes dos es-
cravos indígenas no ano 1727 são listados em ordem alfa-
bética no Anexo 4 na coluna NAME; a coluna FREQ mostra
a frequência com que o nome aparece e a coluna ALIÁS,

94
mostra outras ortografias do mesmo nome. A maioria dos
nomes é de origem holandesa, por exemplo, nomes como
Sannetje, Sara ou Piet. Nomes clássicos como Piramus (rei de
Troja), Diana ou Cupido também são populares.
Coenarie, Iroenie, Jacoe, Jakanirae, Kabita, Kaquarie, Ma-
jaekes, Maquame, Poeita, Thisseve e Tielielie, Vette Kinde pa-
recem nomes indígenas. Cariba parece um nome dado por
europeus, para uma análise desses nomes vê a contribui-
ção “Veredas da Guyana, águas e terras no espaço social
Berbice e seus Nomes” de Maria Odileiz Sousa Cruz nessa
publicação. Em geral, pode se lembrar que os nomes dos
escravos indígenas são mais frequentes de origem euro-
peia do que os nomes dos escravos de origem africana.
A presença de crianças classificadas como indígenas
nas fazendas onde só há uma população feminina de es-
cravas indígenas evoca perguntas, por exemplo: a referên-
cia de uma moça escrava indígena chamada Maytie, que
é filha de Marietje, uma negra velha. As relações entre
escravos africanos e indígenas que viviam aparentemen-
te separadas nas suas casas merecem estudo. As fazendas
talvez funcionassem nesta época como um lugar onde se
agregaram europeus, africanos e indígenas em uma forma
de dinâmica ainda pouco conhecida.
O caso do índio Ante que foi parar na justiça por aban-
donar uma escrava indígena na Fazenda particular chamada
de De Vrijheid revela a complexidade das relações. O dono
da fazenda Vrijheid reclamou que Ante havia dormido com
uma escrava índia sua e que ele correu risco porque a escrava
podia estar grávida do índio que a abandonou, por isso, esta-
va com direito de prender o índio na sua fazenda.32
32
NL-HaNA_1.05.05_63.14, f. 20-23.

95
O índio Ante, aliás Joericariquamme, foi chamado
perante o conselho e perguntado por que ele abandonou
uma escrava africana chamada Drioke33 na fazenda West
Zouburg e se mudou para a de Vrijheid; ele respondeu
que foi com seus amigos para uma festa dos índios na Oost
Zouburg e ali foi convidado para vir morar na Vrijheid e
assim foi que ele se juntou com a escrava indígena. Disse
que ele estava primeiro com a escrava negra na West Zou-
burg, mas ela era ainda pequena para ele, depois ele ficou
com a escrava índia na Vrijheid, mas antes já estava com
uma mulher na aldeia. Perguntado por que ele não havia
retornado à canoa, o fuzil e a camisa florida que ele rece-
beu, ele disse que foi proibido pelo Senhor Chaille, diretor
da fazenda West Zouburg, de retornar à de Vrijheid e que
ele deixou a canoa à beira do rio e perto da igreja. Depois
disse que ele gostou mais da sua mulher na aldeia, ape-
sar de ele querer ficar na fazenda Vrijheid, mas o Senhor
Chaille não permitiu e por isso ficou com seus amigos na
West Zouburg. O conselho decidiu que ele devia devolver
o pagamento recebido e ficar no Forte Nassau.
O caso de Ante não era isolado. Assim, como não ha-
via nenhuma forma de missão religiosa ou igreja entre a
população de escravos na colônia de Berbice, também não
existia algo como um casamento formal.34 Aparentemente
isso resultava em muitas mães abandonadas porque o go-
verno de Berbice publicou em 1738 uma lei que declarou
33
Em 1735 há registro de uma moça africana chamada Dieroke na
fazenda West Souburg.
34
A igreja na colônia de Berbice era Reformada e só se ocupava com
a população europeia. A missão dos Moravianos que pregava aos
índios e africanos só começou em 1738, muito contra a vontade da
população européia de Berbice.

96
que aquele plantador que contratasse um trabalhador in-
dígena e que tivesse abandonado uma escrava com crian-
ça dele, devia voltar aquele índio ao primeiro aviso do
plantador, que era dono da escrava ou ele seria punido.35
A presença de crianças escravas resultante da união
entre europeus e escravas é outro aspecto da agregação
de pessoas em Berbice. Como escrito anteriormente, a in-
dicação dessas pessoas era a de Christen kind “criança de
cristão”. Os holandeses tratavam crianças nascidas dessas
uniões como escravas. Alguns escravos indígenas adul-
tos também são classificados como criança de cristão. Nos
anos de 1727-1735 constam 9 crianças indígenas classifi-
cadas como cristãos e 3 crianças africanas. No livro das
alforrias, que começa em 1735, encontram-se sete casos de
alforria de mães e crianças indígenas contra um caso de
uma criança africana, indicando uma predominância de
uniões de europeus com mulheres indígenas.36
Para o momento, pode-se concluir que a população de
escravos indígenas da Sociedade de Berbice é uma minoria
comparada com a população escrava africana, porém, uma
minoria substancial e contínua, em visto o registro cons-
tante da presença de escravos indígenas em quase todas as
fazendas. Lembrando que a grande maioria da população
escrava indígena é constituída por mulheres. Ademais, os
escravos indígenas são apelidados muitas vezes por nomes
holandeses e estabelecem relações duráveis resultando em
alforria mais frequentemente do que os africanos.

35
NL-HaNA_1.05.05_219: f. 38-39.
36
NL-HaNA_1.05.05_327.

97
2.3.5 Nascimento e mortalidade da população escrava em
Berbice

população indígena escrava adulto e criança


100%
80%
percentual

60%
40%
20%
0%
1727 1729 1736
criança 55 62 91
força de trabalho 132 135 119

Gráfico 10 - A população escrava indígena com as categorias separadas


adultos e adolescentes, força de trabalho, crianças e recém nascidos para os
anos 1727, 1729 e 1736.

A taxa do nascimento da população escrava de ori-


gem indígena medida pela presença de crianças com me-
nos de 8 anos e bebês estava 29% em 1727, 31% em 1729 e
43% em 1736. Lembramos que a taxa de nascimento para a
população escrava de origem africana nesses anos foi mui-
to mais baixo: 1727: 23%; 1729: 25%; 1736: 26%.

98
escravos nascidos e mortos em Berbice 1727-1736

morto índio
nascido índio
morto afro
nascido afro

0 20 40 60 80 100
nascido afro morto afro nascido índio morto índio
1736 27 56 11 4
1729 46 54 12 9
1727 43 93 12 9

Gráfico 11 - comparação entre as taxas de nascimento e mortalidade das


populações escravas de origem africana e indígena para os anos 1727,
1729 e 1736.

O gráfico 11 representa a taxa de nascimento e mor-


talidade das duas populações. Enquanto o saldo das duas
taxas da população africana é negativo, se nota que o saldo
da população indígena é positivo. Esse resultado é apoia-
do pela quase ausencia de registros de doenças na popu-
lação escrava indígena. Os registros no anexo 1 se limitam
a uma pessoa em 1727 na fazenda West Souburg: Kabita
Indisposta. Em 1729 há Martijntje, uma mulher indígena na
fazenda Oost Souburg classificada como Pokk. e Kees no
Forte Nassau com um braço classificado como Pom; Manq.
Em 1735 encontram-se na fazenda Oost Souburg Clara
indisposta e Francijntje classificada como manq., Kees na
fazenda Markay indisposto, Bartel na fazenda Vlissingen
indisposto, na fazenda West Souburg Susanna indisposta e
Neeltje manq. Manq continuava vivo. O aumento para sete
pessoas indígenas indispostos em 1735 é grande.

99
Mesmo assim se nota uma diferença marcada quando se compara o quadro dos

100
doentes na população escrava de origem africana com a população escrava indígena no
gráfico 12 a seguir.

Gráfico 12 - comparação entre as taxas de doença - populações escravas de origem africana e indigena para os anos
1727, 1729 e 1736.
Os dados quantitativos onde se compara as popu-
lações escravas indígenas e de origem africano são raros,
e se trata em Berbice de uma população relativamente li-
mitada de escravos indígenas. Isso contraria o argumento
histórico que a mortalidade indígena obrigava os euro-
peus a introduzir escravos africanos na região, suscitando
assim um convite para estudos mais detalhados sobre essa
hipótese. O gráfico 13 mostra que a população escrava in-
dígena cresceu em relação à população escrava africano
durante o período 1727-1736.

população escrava da Sociedade 1727-1736


100%

95%

90%
indígenas
85%
africanos
80%

75%
1727 1729 1736

Gráfico 13 - crescimento da população escrava indígena no período 1727-1736.

2.3.6 A População Escrava nas Fazendas Privadas

A presença de escravos indígenas nas fazendas pri-


vadas continua sendo desconhecida, apesar do registro de
venda dessa categoria de escravos junto às fazendas da So-
ciedade para particulares, oportunidade na qual se confirma
a existência de escravos indígenas. Um censo de 1762 sobre
a população escrava na colônia registrava 1.121 africanos e
40 indígenas nas 11 fazendas da sociedade, enquanto nas

101
84 fazendas particulares havia-se 2.622 escravos africanos e
204 escravos indígenas somando em total em 3.833 escravos
africanos e 244 escravos indígenas juntamente com 346 eu-
ropeus (NETSCHER, 1888: 191).37 Naquele ano, a população
escrava indígena atingiu apenas 5% do total de indivíduos.
Kramer calculou a população de 1762 em 203,5 escra-
vos indígenas, quase similarmente ao Netscher, também
baseado no mesmo censo do imposto. Nesse censo para o
pagamento de imposto por cabeça equivalia duas crianças
de 3 a 10 anos por 1 escravo adulto (KRAMER, 1991: 59-60).
A partir deste cálculo e contando que o censo de imposto
deve ser menos exato do que os inventários pesquisados, a
população escrava da Sociedade manteve-se estável, mas a
participação indígena havia diminuído. Em 1762 registrou-
-se então 29% da populaçao escrava de Berbice nas fazen-
das da Sociedade e 71% nas fazendas privadas. A quantida-
de média de escravos nas 11 fazendas da Sociedade era 105
pessoas e nas 84 fazendas privadas 34. Isso provavelmente
porque as fazendas particulares retradas no mapa de ima-
gem 4 de 1740 eram menores que as fazendas da Sociedade.
Portanto, seria razoável estimar a população escrava
nas 113 fazendas de Berbice, no período em que se trabalha
aqui, em 3.555 pessoas correspondendo a 71% da população
escrava total, mas isso daria uma população total de 5.007 es-
cravos, mais que os 3.833 de 1762, o que parece improvável.38
Assumimos por enquanto que a populaçao escrava total de
Berbice em 1736 era de 3.000 à 4.000, estimando estarem pre-
sentes nas fazendas particulares entre 1.550 à 2.550 pessoas.
37
Os totais do cálculo de Netscher não batem: 1.121 + 2.622= 3.743.
38
A população de 1.452 /29 * 100= 5.007.

102
A percentagem de escravos indígenas nas fazendas da
Sociedade em 1736 girava em torno de 19% pois, se assumin-
do uma participação parecida nas fazendas particulares da-
ria uma população de 295 à 485 pessoas indígenas escraviza-
das e 1.255 à 2.066 pessoas africanas escravizadas. O total das
pessoas indígenas escravizadas em Berbice no ano de 1736
provavelmente pudesse estar entre 480 à 670 pessoas.

2.4 A Contabilidade Diária em Análise

2.4.1 Observações Gerais

A contabilidade individual do Forte e das fazendas


oferece informações detalhadas sobre relações econômicas
dos europeus com a população escrava - africana e indíge-
na -; e com a população indígena nas aldeias vizinhas, além
do comércio regional com outros indígenas, por exemplo,
com os Akawaio. A contabilidade sugere que a distribui-
ção de objetos para os escravos era uma parte essencial
à organização do trabalho escravo. Os escravos viviam
em casas separadas aparentemente isoladas da fazenda,
onde guardavam suas ferramentas, incluído objetos como
machados que podiam servir de arma. Isso sugere que os
gerentes das fazendas usavam os objetos como uma forma
de controlar a população escrava. A distribuição de objetos
como as contas de vidro, que não podem ser classificadas
como necessidades para trabalhar, reforça essa impressão,
assunto esse que merece mais estudo posteriormente.39
Para uma discussão sobre escravidão e sistemas de negociação ver:
39

SCHWARTZ, 1992: 45-48.

103
Vale notar que Oostindie descreve que no Suriname
se distribuía chapéus, pano, facas, tesouras etc uma vez
por ano ou até menos (OOSTINDIE, 1989: 153). Encontra-
mos na contabilidade do Forte Nassau e Markay várias
referências de distribuição de objetos durante o ano.40 Pa-
rece que a distribuição de artefatos para se vestir estava
centralizada no Forte Nassau enquanto outras necessi-
dades como ferramentas de trabalho eram distribuídas a
partir do estoque individual das fazendas.
O fluxo do comércio das fazendas com as aldeias indí-
genas vizinhas se caracteriza em primeiro lugar por objetos
como madeira para flecha, cêra e pau de timbó (madeira
venenosa para pescar). Os índios também vendiam regu-
larmente algodão para as fazendas, assim como seus pro-
dutos manufaturados como canoas, redes, corda e poteria
que eram essenciais às fazendas. Outro fluxo são os produ-
tos alimentícios, por exemplo, carne de caça, em forma de
carne de veado ou porco selvagem, peixe, caranguejo, mas
também frutas como abacaxi e limão; Wakaijse ou Ackeweys-
se noten, nozes Akawaio que provavelmente parece ser a
castanha do Pará. Salvo esse fluxo de produtos extrativis-
tas, também há produto agricultável como batatas, além de
ovos e galinhas. Uma categoria especial é a das bebidas in-
dígenas de teor alcóolico como belterie e barnou.
A entrada de pagamento para índios que prestavam
serviço nas fazendas é uma indicação de que havia presen-
ça de trabalhadores indígenas voluntários. A presença da
população de escravas indígenas sem maridos era um fator
40
Anexo 1, Forte Nassau: 17260708, distribuído para os escravos;
17260809, para os escravos na igreja 20,5 tecido zaans por aulna;
17260828 para as moças indígenas e escravas, 45 libras de contas.

104
que motivava atrair jovens machos indígenas, e explica o
nascimento de crianças classificadas como indígena em lo-
cais onde só havia mulheres indígenas. Esse fluxo de traba-
lhadores deve ter sido muito importante para as fazendas
da Sociedade e das particulares. Um exemplo é a competi-
ção para conseguir esse trabalho indígena conforme descri-
to anteriormente no caso de Ante no parágrafo 2.3.4.
Os registros dos pagamentos para serviços como cor-
tar capim para os cavalos, levar pessoas ou mensagens por
canoa, servir como guarda, retornar escravos foragidos,
indicar árvores valorosas no mato, sugerem que as fazen-
das funcionavam também como centros regionais onde
indígenas entravam e saiam para trabalhar.
As indicações principais para comércio regional são os
negócios com os Akawaio, por exemplo, a compra de peixe
salgado do rio Canje e o comércio com assentamentos colo-
niais da Espanha no Orinoco, que será discutido a seguir.

2.4.2 A Contabilidade Diária do Forte Nassau

Comércio com o Orinoco

O valor total dos gastos na contabilidade diária do For-


te Nassau em 1 de abril de 1726 até 31 de março de 1727 é de
1.926 fls. O salário de um empregado regular era por volta
de 85 fls. ao ano, valor estimado. Mais que a metade desse
valor era gasto no comércio regional com os espanhóis no
rio Orinoco. O diário registra duas viagens de um europeu
acompanhado de um grupo de indígenas com esse fim.41 Os
gastos dessas viagens são representados no gráfico abaixo.
Ver anexo 2: Gerard Aching: 17260613, 17260725, 17260727; Christan
41

Gesner: 17260807, 17261009, 17261013.

105
comércio Forte Nassau-Orinoco 1726-1727
1500
valor em florim

1000
500
0
cavalos e serviço
gastos total
copaíba indígena
florim 946 32 62 1040

Gráfico 14 - gastos em florins com o comércio no Orinoco.

O gráfico 14 mostra claramente que os dois produ-


tos principais eram cavalos para mover as moendas e óleo
de copaíba. Outros gastos foram o pagamento dos índios,
mantimentos e taxas pagas para os espanhóis. Esse comér-
cio com efeito era considerado contrabando por parte do
governo colonial espanhol, mas parece ter sido difícil de
combater, provavelmente devido a posição periférica dos
colonos espanhóis na região do Orinoco. Os objetos troca-
dos nesse comércio constarão no próximo gráfico, o qual
mostra que a moeda principal era o tecido mensurado em
aulna, El, uma medida velha de aproximadamente 0,69 m.
O valor total do tecido que mensurava 2.306 metros era de
669 fls., sendo 64% do gasto total.

106
Gráfico 15 - principais categorias de produtos pagos no Orinoco 1726-1727.

O total do gasto em tecido por aulna no Forte Nassau


para esse ano era 797 fl., o que quer dizer que quase 84%
do valor gasto em tecido era para os espanhóis no Orino-
co. Os outros valores principais pagos para os cavalos e
a copaíba eram de 1.973 facas e 251 libras de contas. Vale
lembrar que a maior parte dos outros gastos era pago para
os índios de Berbice que fizeram as duas viagens com Ge-
rard Aching e com Christian Gesner.42

Frequência de Gastos

O gráfico 16 a seguir mostra a frequência das entradas


na contabilidade diária do Forte Nassau organizada por ca-
tegoria. Esse gráfico representa a quantidade de compras e
não o valor das compras, ele retrata principalmente as pe-
quenas compras do cotidiano. O valioso comércio com os
Ver anexo 2: Gerard Aching: 17260613, 17260725, 17260727; Christan
42

Gesner: 17260807, 17261009, 17261013.

107
espanhóis do rio Orinoco está classificado como “outros”,
visto ser pouco frequente, junto com os pagamentos aos eu-
ropeus pela pintura da igreja por Jan Godfriedt Surijtser,
ou para costurar cartuchos pelo Constabel.43 A categoria es-
cravos indica a freqüência das entradas documentando a
distribuição de objetos para esses, seja em forma de ferra-
mentas de trabalho ou de outros objetos como miçanga.

frequência das entradas por categoria 1726-1727


Forte Nassau

outros
escravos
serviço indígena
comércio indígena

0 50 100 150 200 250 300

comércio serviço
escravos outros
indígena indígena
frequencia 258 79 43 30

Gráfico 16 - frequência das entradas na contabilidade do Forte Nassau por


categoria.

Neste gráfico que retrata o comércio por freqüência


domina então o comércio indígena. Esse comércio pode ser
dividido em gastos com objetos, com alimentos e com ou-
tras compras. Enquanto 125 entradas documentam a com-
pra de objetos, 121 documentam a compra de alimentos.

43
Ver anexo 2: 17261023; 17260621.

108
Compra de Alimentos

A frequência das compras de alimentos registrados no


diário de Forte Nassau no período 1726-1727 está represen-
tada no gráfico 17 abaixo. A frequência mostra o cotidiano,
mas não representa o valor das compras. Um valor impor-
tante era o peixe do rio Canje por ser salgado pelos índios,
por exemplo, em 4 de dezembro de 1726, quando foi pago
um valor de mais que 100 fls. Através de vários objetos, fa-
zendo mais que 11% do valor total gasto fora do comércio
com o Orinoco.44 Há ainda referência ao caju, chamado de
ietappels que também era vendido localmente.

Gráfico 17 - frequência de gastos com alimentos por categoria 1726-1727


Fort Nassau.

44
Ver anexo 2: 17261204.

109
Compra de Objetos

Gráfico 18 - frequência de entradas documentando comércio de objetos no


Forte Nassau.

O gráfico 18 acima mostra a divisão dos objetos


trocados nas fazendas pelos holandeses com indígenas.
A cera e o algodão serviam provavelmente para ilumi-
nação e foram as compras mais frequentes. As cordas, em
parte, serviam para pendurar as redes. Poteria também
é uma compra relativamente frequente. Dentro da cat-
egoria cestaria há vários objetos com nomes indígenas
por exemplo manari e habaes. Manari provavelmente
é uma cestaria para expremer cassave, o que se chama
hoje de tipiti (PATTE, 2011: 158). Habaes ou habas é uma
cesta para guardar comida (PATTE, 2011: 86). Curiosas

110
são as entradas de compra de redes para os escravos
indígenas, pois parece ser uma compra relativamente
cara que talvez fossem mediadas pelas escravas indíge-
nas. Entre objetos diversos figuram animais como pa-
pagaios, 1 tigrinho, 1 criança de anta e macacos chama-
dos de kabonemaatje, provavelmente, o macaco saimiri.
Essa categoria também inclui goma (ottegom) e piet ou
pita, uma planta da família das agaváceas usada para
extrair fibras. Vale observar que o objeto mais valioso
era a canoa, tendo o corjaal como forma de pagamento
fosse para uma canoa pequena ou grande.45 A rede era a
compra mais valiosa depois da canoa.

Pagamento de serviços

O pagamento por serviços no período 1726-1727 no


Forte Nassau está representado no gráfico 18 a seguir . A
categoria serviço indígena não está especificada nas entra-
das, depois dessa categoria a mais frequente é a do serviço
de remar. Outro serviço pertinente está o de carregar cartas,
lançado como correio. Outros pagamentos também vistos
como serviços incluiam as beijuseiras de brootwijven, ex-
premer mandioca de cassave e capturar escravos fugidos.

45
Ver anexo 2: 17260503; 17260826; 17270104; 17270219.

111
frequência entradas serviço indígena 1726-1727 Forte Nassau

outro
captura escravo fugitivo
índios orinoco
mandioca serviço
correio
remar
serviço indígena

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Gráfico 19 - frequência de entradas com serviços indígenas

Valores e Categorias de Mercadoria

Tendo visto os objetos e serviços que foram adqui-


ridos no Forte Nassau, o foco recái agora para as merca-
dorias que circulavam como moeda para pagar as diver-
sas compras. No gráfico 20 abaixo estão representados os
principais valores por categoria de mercadoria que foram
gastas no período 1726-1727 junto ao Forte Nassau.

Gráfico 20 - valor das mercadorias pagas no Forte Nassau em 1726-1727.

112
No Forte Nassau o tecido em aulna era cotado como
principal por seu valor no comércio com os espanhois do
rio Orinoco. Ao lado do tecido em aulna pagavamentos
também eram efetuados com panos. O valor dos tecidos no
gráfico acima consiste de 797 fl. em tecido por aulna e 57 fl.
em tecido por pano. Os 44% representam um valor de 854
fl., mas parte desse valor 669 fl. era destinado ao comércio
com o Orinoco, deixando assim um valor de 185 fl. para a
distribuição de tecido para os escravos e para o comércio
indígena. O valor de 57 fl. para 233 panos soma aproxima-
damente 3% do valor total gasto no período, e indica uma
categoria de objetos que foi pago muitas vezes para índios.
Das contas foram registradas 347 libras entre as quais
251 foram pagos pelos cavalos e copaíba, deixando 96 li-
bras, aproximadamente 50 kilos de contas que foram distri-
buídos entre os escravos e pagos para o comércio indígena
pelo valor de 38, 5 florim. Também foram gastos 741 cachos
de contas pelo valor de 37 fl., principalmente no comércio
indígena. As contas têm nomes diferentes são difíceis de
identificar como tawasje e karbee.46 O valor total das contas
usadas como pagamento em Berbice soma 75,5 fl.
Das 2.268 facas registradas 1.973 foram gastos com o
comércio no Orinoco, deixando 293 facas distribuídas em
Berbice com um valor de aproximadamente 22 fl. As 106 en-
xadas com um valor de 69 fl. foram usadas principalmente
para o trabalho e quase não constam no comércio indígena.47
46
A denominação cassoeren, encontrada em outros manuscritos
holandeses do século XVII, não está presente na documentação de
Berbice (HULSMAN 2009: 338).
47
Exemplos de enxada no comércio indígena podem ser encontrados
na tabela 1 no parágrafo 2.2.3, ou na compra de peixe salgado do rio
Canje no Anexo 2 17261204.

113
No categoria outros se encontram objetos como 4 ferros
de casave com um valor de 3 fl, 8 enxó de canoa com um
valor de 4,75 fl., 54 espelhos de tipos diferentes com um valor
de 12, 5 fl., 39 tesouras com um valor de 4 fl., 59 navalhas com
um valor de 6 fl. e 40 berimbaus de boca entre outros objetos.
Os valores principais distribuídos em Berbice foram
os dos machados e facões. Nototal 198 tipos de machados
diversos eram pagos no valor de 144 fl. Parte desses macha-
dos entrou nos gastos do comércio com o Orinoco, mas prin-
cipalmente como pagamento para os índios de Berbice que
participaram nas expedições. Os machados grandes eram os
mais requisitados, 141 exemplares por um valor de 105,75 fl.
O total de 213 facões correspondente ao valor de 145
fl. foram gastos pela contibilidade do Forte Nassau. O gas-
to de facões com o Orinco era de 33,75 fl, mas os machados
foram pagos principalmente para os índios de Berbice. Os
facões também vieram em formatos diversos, como facão
grande, médio ou pequeno, facão de trabalho grande ou
médio. Parcelas desses facões servia para o trabalho dos
escravos e outra parte para o comércio.

2.4.3 A Contabilidade Diária da Fazenda Markay

A população da fazenda Markay em 1727 consistia


de 121 escravos e 5 europeus, em total 126 pessoas, me-
nos do que no Forte Nassau onde se registrou uma po-
pulação de 172 escravos e 49 empregados da Sociedade,
totalizando 221 pessoas no mesmo ano. Markay perten-
cia ás 6 maiores fazendas da Sociedade e estava situada
mais no interior do que Forte Nassau.
A grande diferença entre a contabilidade diária do
Forte Nassau e as das Fazendas, como a de Markay, é a
ausencia total de referências à distribuição de pano ou te-

114
cido. Outra diferença é a forma de entrar os objetos por
quantidade em coluna como mostrado na imagem 9 no
parágrafo 2.3.3. No gráfico 21 a seguir se mostra o valor
por categoria das mercadorias gastas no período 1726-
1727 na Fazenda Markay.48

Gráfico 21 - valor por categoria de mercadoria na fazenda Markay.

O valor maior está empenhado com machados e fa-


cões conforme como foi registrado no Forte Nassau, per-
fazendo um total de 150 machados diversos e 116 facões
diversos.49 Os gastos com contas foram lançados no for-
mato de: 303 cachos de contas, 8 libras de contas e 94 ve-
zes consta a entrada de gasto em tawasje. Pelo registro dá
48
Ver anexo 3 para os dados. As quantidades dos objetos foram
calculadas com os valores registrados no Forte Nassau para o mesmo
período.
49
Foram registradas as seguintes ferramentas. Machado de trabalho:
36; Machado grande: 77; médio: 11; pequeno: 26. Facão de trabalho:
grande 49; pequeno: 23. Facão grande: 28; médio: 8, pequeno: 8.

115
para calcular que o peso total foi de 30 libras ou 15 kilos
de contas e 4 libras ou 2 kilos de tawasje. No total foram
distribuídas 143 facas e 15 enxadas. Na categoria “outras”
há 27 espelhos diversos, 21 navalhas, 49 tesouras, 2 ferros
de cassave e 3 berimbaus de boca. Os gastos de Markay
correspondem a grosso modo com os de Nassau onde a
moeda principal era machados, facôes, facas e contas.
No próximo gráfico 22 há indicações dos gastos junto
aos objetos registrados por categoria e frequência. Vale e
lembrar que as entradas no diário da contabilidade de Ma-
rkay são quase sempre multiplas e por isso difícil de sepa-
rar em categorias. O resultado geral mostra que 37% das
entradas registram a distribuição de objetos na fazenda, 29
% a compra de objetos, 22% a compra de alimentos e 12 % o
pagamento de serviços. Essa imagem confirma a predomi-
nancia de compra de objetos sobre a compra de alimentos
registrada na contabilidade diária doForte Nassau

Frequência de gastos

Gráfico 22 - frequência de entradas de gastos na fazenda Markay por


categoria.

116
Compra de alimentos

O gráfico 23 a seguir registra a compra de alimen-


tos. Uma comparação com o Forte Nassau se destaca a
compra de galinha e batatas. O peixe salgado por índios
no rio Canje representa , como no Forte Nassau, um im-
portante gasto.50

Gráfico 23 - frequência de gastos em alimentos na fazenda Markay.

Beltierie e pernou são nomes para bebida fermentada


produzida pelos indígenas. Estavam incluídos nessa lis-
ta carne de veado, suína e de caça, além da castanha do
Pará, esta denominada como “nozes akawaios”. Snoperij é
provavelmente a palavra snoeperij, que em holandês quer
dizer comer doce, mas o sentido aqui ainda não é tão claro.

50
Ver Anexo 3 17261129.

117
Compra de objetos

Segue o gráfico 24 com frequência das categorias de


objetos comprados.

frequência de gastos em objetos Markay 1726-1727


25
20
15
10
5
0

Gráfico 24 - frequência de gastos em objetos na fazenda Markay.

Nesta fazenda se nota que a compra de poteria é re-


lativamente mais frequente que no Forte Nassau, porém
a compra de cera e algodão é menos frequente. Manari
está ausente.

Pagamento de serviços

Para completar o gráfico 25 retrata os serviços que


foram pagos em Markay.

118
Gráfico 25 - frequência de gastos em serviços na fazenda Markay.

Há várias categorias de serviços presentes nesssa


fazenda que não estão registradas no Forte Nassau. Os
cortadores de grama, por exemplo, providenciam alimen-
tação para os cavalos que trabalham na moenda. Outro
serviço consiste na indicação do nome de uma árvore va-
liosa como cedro. A entrada de pagamento aos índios do
posto da guarda também é ausente em Forte Nassau.
Um valor importante registrado apenas uma vez e
por isso não se destaca no gráfico remete ao peixe do rio
Canje que era salgado por índios, por exemplo, em 29 de
novembro de 1726 está registrado o pagamento de 40 ma-
chados, 15 facões, 31 cachos de contas, 25 facas e muitas ou-
tras mercadorias para os índios que pescaram no rio Canje,
parecido com o pagamento de 4 de dezembro de 1726 no
Forte Nassau. A categoria de “serviço indefinido” dos ín-
dios nessa fazenda, assim como no Forte Nassau, se consti-
tuia no serviço pago com mais frequencia. Remar consta no
Markay, como no Forte Nassau, um pagamento frequente.

119
Comparando alguns dos gastos principais do Forte
Nassau com os da Fazenda Markay se percebe algumas
diferenças. No gráfico 26 a seguir estão representadas as
quantidades de machados, facões, cachos de contas, fa-
cas e enxadas.

Gráfico 26 - comparação em quantidades de alguns produtos gastos no Forte


Nassau e fazenda Markay.

Na categoria facas foram deduzidas 1.973 das 2.268


facas registradas, as quais foram alocadas com o comércio
no Orinoco, deixando 293 facas gastos no local. Os cachos
de contas, machados e facões gastos com o comércio no
Orinoco não foram deduzidos porque foram pagos para
os índios de Berbice. Observa-se que na contabilidade
consta só um tipo de faca, enquanto tem quatro tipos de
machados e cinco tipos de facões.
A quantidade de machados e facões envolvidos no
comércio em Markay é relativamente alta, visto o Forte

120
Nassau ser o centro bem maior do que essa com 64% da
população dos dois juntos. Do total dos produtos registra-
dos nas duas contabilidades 59% consta no Forte Nassau
e 41% na fazenda Markay. O percentual do total dos pro-
dutos gastos nas duas contabilidades resulta respectiva-
mente em 57 % dos machados gastos no Forte Nassau e 43
% gastos em Markay, além dos 65% de facões em Nassau
contra 35% em Markay. A proporcionalidade de cacho de
contas é muito maior no Forte Nassau, 71% contra 29 % em
Markay. Em Nassau 67% das facas contra 33% em Markay
e 85% das enxadas contra 15 % respectivamente. Talvez o
gasto em forma de pano no Forte Nassau tenha contribu-
ído em parte para essa diferença e, possivelmente parte
dos gastos dos machados em Markay tenha sido compra-
da no Forte Nassau com pano. Em geral se gastou mais no
Forte Nassau do que em Markay. Mais pesquisas acerca
da contabilidade diária de outras fazendas são necessárias
para se ter um entendimento melhor dessas variações.
Ao final deve-se observar que o comércio de armas
de fogo está completamente ausente na contabilidade. No
caso de Ante se registra a entrega de um fuzil, na conta-
bilidade da pólvora de 1735 várias entradas registram a
distribuição de pólvora para índios atestando a presença
de armas de fogo. A completa ausência de registros de en-
trega dessas armas na contabilidade enquanto se registra
a distribuição de pólvora é difícil de explicar.

2.4.4 A compra de escravos

A preferência por escravas indígenas se mostra pelas


entradas na contabilidade das fazendas que documentam

121
a compra de escravos. A compra de uma nova escrava,
provavelmente a chamada de Willemijn, já foi menciona-
da na análise das fontes no parágrafo 2.3.3. O inventário
de 1727 lista a compra de seis escravas indígenas, duas
mulheres e quatro moças.51 Uma outra escrava chamada
Galate aparece como falecida no inventário de 1729 com a
observação de que foi comprada em 1727. Em 1729 foram
compradas uma mulher, quatro moças e três rapazes.52
Em 1735 só uma mulher e uma moça.53
O livro da contabilidade da Fazenda Hardenbroe-
ck registra a compra das escravas Lisabeth e Maria dos
Akawaio. O caso da compra da Maria é particular porque
os holandeses encomendaram uma escrava em 17 de ju-
nho 1726 e já pagaram aos Akawaio, figurando assim um
exemplo de pagamento aos índios em formato de crédito,
cuja prática era muito comum no comércio dos holande-
ses com índios na América do Norte (WATERMAN 2008).
Outro caso parecido está registrado em 1735 quando um
índio recebe pagamento adiantado na fazenda Savonette
para comprar uma escrava.54 Na fazenda Markay foi re-
gistrado crédito para a compra de três escravas pelos Aka-
waio em 1724, pois, no ano seguinte em 1725 entraram
dois escravos um rapaz e uma moça.55 A compra da es-
crava Lisabeth dos Akawaio também é especial porque o
livro da contabilidade registra que os holandeses ficaram
51
NL-HaNA_1.05.05_61.21
52
NL-HaNA_1.05.05_62.32.
53
NL-HaNA_1.05.05_64.7., 64.14.
54
NL-HaNA_1.05.05_63.03.
55
NL-HaNA_1.05.05_61.13.

122
devendo duas navalhas e duas facas para os Akawaio.56
Os Akawaio parecem então ser importantes fornecedores
de escravos indígenas mantendo uma relaçao de crédito
com os holandeses, também parecida com as relações re-
gistradas na América do Norte.57
Contudo, os Akawaio não eram os únicos índios a
vender escravos para os holandeses em Berbice. O caso do
índio Terille que parece ser morador muito próximo da
fazenda Savonette merece atenção por mostrar demandas
para escravas indígenas. O caso entrou no conselho de jus-
tiça e por isso ficou bem documentado.58
Terille vendeu uma escrava indígena ao director Be-
cker da Savonette no dia 4 de setembro 1735 e recebeu 8
machados como pagamento adiantado. Terille disse que
precisava da escrava por alguns dias para ela ajudar sua
esposa a fazer bebida e Becker concordou, prometendo o
resto do pagamento quando a escrava fosse entregue. Te-
rille já havia dito ao Becker que Lourens van Weeningen
também estava interessado em comprar a mesma escrava.
No dia seguinte, 5 de setembro na fazenda Savonette apa-
receu Willem Mentz, o escravo principal da fazenda Nieu-
we Caracas onde Lourens van Weeningen trabalhava, e
Becker perguntou se Lourens ou o diretor Senhor Teller
não vieram, pois ele queria anunciar aos dois que ele já
havia comprado a escrava. Willem disse que não havia ne-
56
NL-HaNA_1.05.05_61.16.
57
1726 06 02 compra de uma escrava dos Akawaio na Fazenda West
Souburg; 1726 06 29 compra de duas escravas na mesma Fazenda, uma
das escravas foi dada à Fazenda Dageraat (NL-HANA_1.05.05_61.03).
58
NL-HaNA_1.05.05_63.14: ff. 23-28; f. 43.

123
cessidade porque eles já sabiam. Em seguida Lourens na
noite de 6 de setembro, com ajuda do negro carpinteiro da
fazenda Markay, roubou a escrava indígena.
Ouvido pelo conselho de justiça Lourens disse que
não sabia do pagamento feito por Becker, mas que ele pa-
gou aos índios pela escrava 7 aulnas de algodão estampa-
do com flores, dois cachos de contas de vidro e três aulnas
de linho branco. O governador depois visitou a Fazenda
Savonette para investigar o caso e no dia 23 de outobro Te-
rille foi ouvido junto ao seu cunhado. Terille declarou que
ele havia vendido a escrava ao Becker, mas que Lourens
tomou a escrava e ameaçou de bater no índio Siewirijcae.
Perguntado por que ele aceitou o pagamento de Lourens,
Terille respondeu que não fez nada e nem tocou nos bens.
O conselho concordou e após o julgamento do Governa-
dor ficou definido que Lourens devia entregar a escrava
ao Becker e pagar os custos do processo. O índio Terille
devia retornar o pagamento a Lourens.59

59
O dono da fazenda Nieuwe Caracas, Sr. Teller, enviou uma carta
para Holanda datada de 3 dezembro de 1735, apelando contra o
veredito do conselho, alegando que Lourens era menor de idade
(NL-HaNA_1.05.05_ 63.5) .

124
2.6 Conclusão

As fontes consultadas indicam que há uma presença


constante de indígenas escravizados, principalmente femi-
ninas, embora essa população seja uma minoria do total de
escravos da Sociedade de Berbice. A população de escravos
da Sociedade montava aproximadamente 1.450 pessoas du-
rante o período 1726-1736. A maioria da população escra-
va total era de descendência africana 82%, em 1727 e 81%
em 1736. A população escrava indígena cresceu de 18% em
1727 para-19 % em 1736, formando aproximadamente um
quinto da população escrava total da Sociedade.
Não há dados sobre o tamanho da população escra-
va nas 113 fazendas particulares, no parágrafo 2.3.6 ava-
liamos essa população em 1.255 à 2.066 pessoas africanas
escravizadas e de 295 á 485 pessoas indígenas escraviza-
das. Com efeito é bem possível que nas fazendas priva-
das, que eram menores do que as da Sociedade, se encon-
trassem proporcionalmente mais indígenas na população
escrava do que os 19% encontrados nas estabelecimentos
da Sociedade. O total de pessoas indígenas escravizados
no Berbice em 1736 se estimava provavelmente entre 480
à 670 pessoas (2.3.6). A população escrava indígena mos-
trou um crescimento populacional durante o período pes-
quisado ao contrário da população escrava africana.
O fluxo de novos escravos indígenas registrado nas
fazendas da Sociedade não era alto. Os inventários regis-
tram a compra de seis escravos em 1727, sete escravos em
1729 e dois escravos em 1736. Esse número sugere que nem

125
todas as compras foram registradas. A venda na fazenda
Savonette da escrava indígena pelo índio Terille ao Becker
por 8 machados em setembro 1735, por exemplo, não consta
no livro de contabilidade diária de Savonnette.60 Portanto,
pode se assumir que parte do comércio de escravos indíge-
nas nas fazendas da Sociedade ficou fora da administração.
O fluxo de escravos nas fazendas particulares não foi tam-
bém incluído nos registros porque no período 1727-1736
não havia um censo dos escravos particulares.
As fontes sugerem que parte do comércio de es-
cravos era regional e outra parte local. O caso de Terille
mostra um comércio local e a contabilidade diária mostra
um comércio regional principalmente com os Akawaio. O
contexto regional das populações indígenas na Amazônia
caribenha descrita por Glória Kok destaca o comércio de
escravos indígenas para as Guianas holandeses. Os Aka-
waio parecem então serem importantes fornecedores de
escravos indígenas mantendo uma relaçao de crédito com
os holandeses, similares às relações registradas na Améri-
ca do Norte. Crédito também fazia parte do comércio de
escravos indígenas dentro da colônia como mostra o caso
de Terille, que documenta também a complexidade das
relações trabalhistas. A contínua predominância de mu-
lheres indígenas na população escrava das fazendas da
Sociedade ainda é difícil de explicar.
Glória Kok sugere na sua contribuição que no Surina-
me essas escravas trabalhavam principalmente no serviço
60
NL-HaNA_1.05.05_64. Há também a possibilidade de que tenha
sido uma compra particular de Becker; vale lembrar que a população
escrava particular dos funcionários não aparece nos inventários da
Sociedade.

126
doméstico.61 A presença de mulheres indígenas no serviço
doméstico é confirmada pelas evidencias registradas no li-
vro de alforria da colônia por ocasião das relações íntimas
entre essas escravas e europeus.62 O inventário de 1735 re-
gistra, por exemplo, a venda de uma criança cristã da Tan-
netje, escrava indígena, no Forte Nassau.63 O comprador
era Jan Valck, o secretário da Colônia, e o pai da criança
era chamado de Cornelis.64 Jan Valck partiu para Holanda
em 1738 e comprou a alforria da Tannetje, sob a condição
de que se ele voltar e casar de novo, ela ficaria com a viú-
va caso ele morresse.65 Uma outra carta de alforria para a
escrava indígena Philida tem também a condição que de
ela ser livre, mas sem poder partir.66 Esses dados sugerem
que as escravas recebiam sua alforria dentro uma relação
doméstica.
Contudo o serviço das escravas indígenas não se li-
mitava para o doméstico, elas habitavam também no Ne-
gorije, o assentamento onde se situavam as moradias dos
escravos.67 As referências de pagamento para espremer
mandioca, para beijuseiras as ‘mulheres de pão’68, e para

61
Ver: Populações indígenas na Amazônia caribenha: um estudo de
caso em Berbice (1726-1738).
62
NL-HaNA_1.05.05_327.
63
NL-HaNA_1.05.05_64.7.
64
NL-HaNA_1.05.05_327 alforria para Cornelis em 15 de agosto 1735.
65
NL-HaNA_1.05.05_327 alforria para Tannetje em 17 de maio 1738.
66
NL-HaNA_1.05.05_327 alforria para Philida e sua filha Johanna em
30 de agosto 1741.
67
Ver parágrafo 2.2.2.
68
Brootwijven em holandês.

127
preparar bebidas alcoólicas tradicionais69 sugerem que as
mulheres indígenas mantiveram atividades tradicionais
da cultura indígena dentro do conjunto das fazendas.70
Outra sugestão já lançada anteriormente, é que as
escravas indígenas serviam como intermediadoras no en-
torno das comunidades indígenas vizinhas, negociando
serviços e compras. A contabilidade documenta que as
fazendas estavam diariamente envolvidas no comércio lo-
cal e regional. A entrada repetida de ‘para uma escrava
indígena para comprar’ na contabilidade trata principal-
mente de redes e canoas, produtos mais valiosos, e talvez
indique um papel intermediário na compra.71
As escravas indígenas também intermediaram nas
relações das fazendas para contratar o serviço de índios. A
pesquisa indica que as relações com a população indíge-
na eram muito importante para o funcionamento das fa-
zendas europeias. A presença de palavras indígenas como
habas e manari nos registros holandeses documenta que es-
sas relações eram dialéticas. As fontes indicam que existia
uma força de trabalho de jovens índios no formato alea-
tório e ambulante. Os fazendeiros, fossem da Sociedade
privados, competiam pelo serviço desses índios como foi
descrito anteriormente no caso de Ante, que recebeu 1 ca-
noa, 1fuzil e 1 camisa colorida para entrar no serviço. Essa
imagem de força de trabalho indígena ambulante combina
muito bem com a imagem retratada na pesquisa recente-
69
NL-HaNA_1.05.05_61.13.
70
Ver anexo 1.
71
Aan een indiaense slavin tot het koopen van een hangmat 17270112;
aan een slavin tot het koopen van een coriaer 17260503 no Anexo 1.

128
mente publicada por Heather Roller que estuda a mobili-
dade de trabalhadores indígenas nas aldeias da Amazônia
portuguesa na época Pombalina (ROLLER, 2015).
Essa força de trabalho com grande mobilidade
continua sendo um detalhe importante para as Guianas
contemporâneas e é um tema de pesquisa que pode ser
aprofundado no contexto de estudos comparativos. Uma
impressão geral sugere que a participação de trabalho es-
cravo indígena é menor do que na Amazônia portugesa
e que a participação econômica indígena independente é
maior, porém novas pesquisas são necessárias para apro-
fundar essa hipótese.72
Uma temática interessante para se comparar com a
Amazônia portuguesa é a circulação de objetos que serve
como moeda. Tudo indica que as sociedades indígenas na
Amazônia portuguesa compartilhavam as mesmas prefe-
rências pelas mercadorias como machados, facões e contas
de vidro. Um aspecto importante nesse contexto é a circu-
lação de objetos dentro das Guianas e o contexto maior de
Amazônia. Vale lembrar que há muitas referências na lite-
ratura histórica sobre a circulação de mercadorias holan-
desas entre as sociedades indígenas na Amazônia desde
que Padre Acuña encontrou ferramentas no rio Solimões
em 1640 (FARAGE 1991; BOS, 1998; HEMMING, 2007).
O papel dos Lokono de Berbice nessas redes continua
largamente desconhecido. Os arquivos da Sociedade docu-
72
Aparentemente havia também mulheres indígenas livres nas
fazendas, em Forte Nassau se registrava em 1735 duas índias livres
chamadas Cariba e Erininge (NL-HaNA_1.05.05_64.4) e em 1736 de
Cicelia e Eriningje (NL-HaNA_1.05.05_65.1).

129
mentam que os índios viajaram duas vezes por ano para
o rio Orinoco acompanhado por um europeu, para trazer
cavalos e copaíba. O relato de 19 povos indígenas de Jephta,
um pajé Lokono convertido pelos Moravianos em 1748,
mostra que os Lokono conheciam a população das Guianas
indo desde a Guiana Francesa até o Alto Orinoco; Jephta
também identificou os Manao que viveram no rio Ama-
zonas e fala de outros povos Arawak além do rio ( BOS,
1998: 113- 218). O conhecimento dos Lokono testemunha
a participação deles nas redes regionais (VIDAL, 2000). Os
Akawaio aparecem na contabilidade holandesa como arti-
culadores do interior. O fluxo dos objetos e as formas de
troca ainda continuam mal documentados e a pesquisa da
contabilidade desses objetos no contexto das Guianas ho-
landesas pode contribuir para um melhor entendimento.
Um aspecto desse fluxo é a composição dos valores
que serviam para o comércio da população indígena com
os fazendeiros europeus em Berbice. Enquanto se nota que
o tecido é uma moeda importante nessas relações, deve
se constatar que a predominância de tecido como moeda
de troca na colônia de Berbice é muito menor do que na
Amazônia portuguesa onde as fontes apontam que o pa-
gamento principal consta como vara de tecido. Parece que
as sociedades indígenas no Berbice preferiam ferramentas
e contas. Entre ferramentas especialmente os machados e
facões são importante como moeda. A presença de contas
de vidro é constante e precisa ser mais pesquisada, por
isso, várias referências sobre tipos de contas ainda con-
tinuam obscuras por se desconhecer os tipos de contas,
como os termos tawasje ou karbee.

130
É pertinente também aprofundar sobre o resultado
do crescimento populacional de escrava indígena que pa-
rece superar aquela da população escrava de origem afri-
cana. Parece também que a população indígena em Berbice
é muito menos atingida por doenças do que a população
de origem africana.
As fontes pesquisadas se limitaram a uma parte pe-
quena do total das fontes disponíveis, portanto mais pes-
quisas são necessárias e as conclusões formuladas aqui
devem ser consideradas preliminares.

Fontes e Bibliografia

Nationaal Archief, Den Haag, Nederland

NL-HaNA_1.05.05 Archief van de Sociëteit van Berbice, 1720-1795.

Mapa

NL-HaNA_4.VEL_576A Schetskaart van Guiana tusschen de


Corantijn en Demeraray-rivieren.

NL-HaNA_4.VEL_1663A Verschillende gezigten op het fort zoo


van de rivier als aan de landzyde.

NL-HaNA_4.VELH_1579 Plan van de Platte grond van alle de


wooningen en erven, staande tusschen het fort Nassauw tot aan het
huys de Dageraad in Rio de Berbice. 1743. Manuscript. Groot 0.465 -
0.695 El. Schaal van 50 Rijnlandse roeden = 148 strepen. Vervaardigd
door Leonard van der Pypen. Gezw. Landm. Met aanwijzingen.

Universiteits Bibliotheek Amsterdam, Nederland

131
OTM: HB-KZL 102.21.03. Naaukeurige platte grond van den
staat en den loop van Rio de Berbice : met derzelver plantagien in de
Geoctrojeerde Colonie de Berbice gelegen / gemeeten en getekent door
last en op kosten van de Ed. Ag. Heeren Directeuren van de Colonie
door den Ingenieur Jan. Daniel Knapp; en in ’t koper gebragt door
Hend. de Leth in de Visscher te Amsterdam. Schaal [ca. 1:110.000],
Editie [2e dr.] [na 1742].

OTM: HB-KZL 100-13-05_1. Nieuwe gemeten kaart van de Colonie


Berbice: met der zelver plantagien en de namen der bezitters / in het ligt
gebragt door Reinier & Iosua Ottens, Kaartverkopers te Amsterdam.
Schaal [ca. 1:100.000] Amsterdam Reinier & Iosua Ottens, 1740.

Bibliografia

BALAI, L.W. Het slavenschip Leusden: over de slaventochten


en de ondergang van de Leusden, de leefomstandigheden
aan boord van slavenschepen en het einde van het
slavenhandelsmonopolie van de WIC, 1720-1738. Amsterdam:
Universiteit van Amsterdam, Dissertation, Faculty of Social
and Behavioural Sciences, 2011.

BEAIE, Sonkarley Tiatun. “Chapter 3: National Redistribution


and Internal Migration” 2002 Population and Housing Census
- Guyana National Report. Bureau of Statistics. p.51.

Archived from the original (PDF) on 2 September 2012. http://


www.statisticsguyana.gov.gy/pubs/Chapter3_Population_
Redistribution_Internal_Migration.pdf consulted 26 january 2016.

BEL, Martijn van den, Lodewijk HULSMAN & Lodewijk


WAGENAAR. The Voyages of Adriaan van Berkel to Guiana;
Amerindian-Dutch Relationships in 17th Century Guyana.
Leiden: Sidestone press: 2014.

132
BOOMERT, Arie. Gifts of the Amazons: “green stone” pendants
and beads as item of ceremonial exchange in Amazonia and the
Caribbean, Antropologica 67: 33-54, 1987.

BOOMERT, Arie. The Arawak Indians of Trinidad and coastal


Guiana, The Journal of Caribbean History 19 (2): 123-188, 1984.

BOS, Gerrit. Some recoveries in Guiana Indian ethnohistory.


Amsterdam, 1998.

BOSMAN, L. Nieuw Amsterdam in Berbice (Guyana):


de planning en bouw van een koloniale stad, 1764-1800.
Hilversum: Verloren, 1994.

CHAMBOULEYRON, Rafael. “„Duplicados clamores: queixas


e rebeliões na Amazônia colonial. (Século XVII)”. Projeto
História, São Paulo, n.33 (dez. 2006).

CHAMBOULEYRON, Rafael. Povoamento, ocupação e


agricultura na Amazônia colonial (1640-1706). Belém: Ed. Açaí/
Programa de Pós-graduação em História Social da Amazônia
UFPA) /Centro de Memória da Amazônia (UFPA), 2010.

COELHO, Mauro Cezar. Do sertão para o mar. Um estudo sobre


a experiência portuguesa na América, a partir da Colônia: o
caso do diretório dos índios (1751-1798). São Paulo, Tese de
Doutorado (História), Universidade de São Paulo, 2005.

CRUZ, Maria Odileiz Sousa; HULSMAN, Lodewijk A.H.C.;


OLIVEIRA, Reginaldo Gomes de. A Brief Political History of
the Guianas; from Tordesillas to Vienna. Boa Vista: Editora
UFRR, 2014.

CUNHA, Ana Paula Macedo. Engenhos e engenhocas: a


atividade açucareira no Estado do Maranhão e Grão-Pará (1706-
1750). Belém, Dissertação de Mestrado (História), Universidade
Federal do Pará, 2009.

133
FARAGE, Nádia. As Muralhas dos Sertões: os povos indígenas
no rio Branco e a colonização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991

GALLOIS, Dominique Tilkin ed. Redes de relações nas


Guianas. São Paulo, 2005.

GOSLINGA, Cornelis Ch. The Dutch in the Caribbean and in


the Guianas 1680-1791. Assen, 1985.

GROL, G.J. De grondpolitiek in het West-Indische domein


der Generaliteit. Den Haag, 1934-1942.

GUZMÁN, Décio de Alencar. A colonização nas Amazônias:


guerras, comércio e escravidão nos séculos XVII e XVIII, Revista
Estudos Amazônicos Vol. III, n° 2, 2008: 103-139.

HARLOW, V.T. ed. Colonising expeditions to the West Indies


and Guiana, 1623-1667. London, 1925.

HEMMING, John. Ouro Vermelho: A Conquista dos Índios


Brasileiros. Trad. Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São
Paulo: Edusp (Série Clássicos, 27), 811p, 2007

HULSMAN, Lodewijk, A.H.C. Nederlands Amazonia; handel


met indianen 1580-1680. Universiteit van Amsterdam (UVA)
Amsterdam, 2009.

-------------. De Guiaansche Compagnie; Nederlanders in


Suriname; 1604-1617. OSO, tijdschrift voor Surinamistiek en
het Caraïbisch gebied, jrg. 29, nr. 2, Leiden, 2010.

-------------. Rotas das Guianas: uma viagem do Suriname ao


Rio Branco em 1718, OLIVEIRA, Reginaldo Gomes de & IFILL,
Melissa. Dos caminhos históricos aos processos culturais entre
Brasil e Guyana. Boa Vista: EDUFFR, 2011.

134
ISRAEL, Jonathan I. The Dutch republic. Oxford, 1998.

KARS, M. Policing and Transgressing Borders: Soldiers, Slave


Rebels, and the Early Modern Atlantic. New West Indian
Guide 83, no. 3/4 (2009).

KARS, M. Wij beleven hier droevige tyden’: Europeanen,


indianen en Afrikanen in de Berbice slavenopstand, 1763-1764.
ENTHOVEN, Victor; HEIJER, Henk den; JORDAAN, Han
(eds.) Geweld in de West: een militaire geschiedenis van
de Nederlandse Atlantische wereld, 1600-1800. In Caribbean
Series 33, Leiden: Brill, 2013: 183-216.

KRAMER, K. Plantation development in Berbice from 1753


to 1779: the shift from the interior to the coast. In New West
Indian Guide/ Nieuwe West-Indische Gids 65 (1991), no: 1/2,
Leiden: 51-65.

NETSCHER, P.M. Geschiedenis van de koloniën Essequebo,


Demerary en Berbice, van de vestiging der Nederlanders
aldaar tot op onzen tijd. Nijhoff, ’s-Gravenhage, 1888.

NEVES, Eduardo Goés. Ecology, Ceramic Chronology and


Distribution, Long-term History and Political Change in the
Amazonian Floodplain, in SILVERMAN, Helaine and William
H. Isbell. Handbook of South American archaeology. New
York, 2008: 359-380.

OLIVEIRA, Reginaldo Gomes de. A presença holandesa na


Amazônia caribenha entre os séculos XVI e XVII: da Costa
Selvagem ao Rio Branco, OLIVEIRA, Reginaldo Gomes de
& IFILL, Melissa. Dos caminhos históricos aos processos
culturais entre Brasil e Guyana. Boa Vista: EDUFFR, 2011.

OOSTINDIE, Gert. Roosenburg en Mon Bijou: twee


Surinaamse plantages, 1720-1870. Caribbean series / Koninklijk
Instituut voor Taal-, Land- en Volkenkunde. Dordrecht [etc.]
Foris Publications, 1989.

135
OTCA. Agenda estratégica de cooperação amazônica aprovada
na X Reunião de Ministros de Relações Exteriores do TCA
Novembro 2010. Brasília, 2011.

PATTE, Marie-France. La langue arawak de Guyane,


Présentation historique et dictionnaires arawak-français et
français-arawak. Paris, IRD Éditions, 2011.

PORTO, Jadson Luís Rebelo & Durbens Martins Nascimento.


Interações fronteiriças no platô das guianas: Novas
construções, novas territorialidades. UFA, Macapá, 2010.

ROLLER, Heather F. Amazonian Routes; Indigenous Mobility


and Colonial Communities in Northern Brazil. Stanford, 2015.

ROSTAIN, Stéphen. The Archaeology of the Guianas: An


Overview, in SILVERMAN, Helaine and William H. Isbell.
Handbook of South American archaeology. New York, 2008:
279-302.

SCHULT, C. Een noodzakelijk bondgenootschap; De rol van


de indianen in de kolonies Essequibo en Demerary, 1770-
1800. MA Thesis, Leiden University. Leiden, 2014.

SCHWARTZ, Stuart B. Slaves, Peasants and Rebels:


reconsidering Brazilian slavery. Illinois: University of
Illinois, 1992.

SOUZA, Lesley S. de; ARMBRUSTER, Jonathan W.; WERNEKE,


David C. The influence of the Rupununi portal on distribution
of freshwater fish in the Rupununi district, Guyana. Cybium,
2012, 36(1): 31-43.

VIDAL, Silvia M. ‘Kuwé Duwákalumi: The Arawak Sacred


Trade Routes of Migration, Trade and Resistance’, Ethnohistory
47: 3-4, American Society for Ethnohistory, 2000: 635-667.

136
WALLENBURG, Martin van; BRIGHT, Alistair; HULSMAN,
L.A.H.C.; BEL, Martijn van den. ‘The Voyage of Gelein van
Stapels to the Amazon River, the Guianas and the Caribbean,
1629–1630’. Hakluyt Journal online, edition January 2015.

WATERMAN, Kees-Jan.`To Do Justice to Him & Myself`.


Evert Wendell`s Account Book of the Fur Trade with Indians
in Albany, New York, 1695-1726. Philadelphia: American
Philosophical Society, 2008, 310 p.

WHITEHEAD, Neil L. Lords of the tiger spirit: a history of the


Caribs in colonial Venezuela and Guyana. Dordrecht: Foris
Publications, 1988.

WHITEHEAD, Neil L.; HECKENBERGER, Michael J.; SIMON,


George. Materializing the Past among the Lokono (Arawak) of
theBerbice River, Guyana. Antropológica, 2010 TOMO LIV n°
114: 87-127.

WILLIAMS, Denis. Prehistoric Guiana. Miami, 2003.

137
POPULAÇÕES INDÍGENAS NA AMAZÔNIA
CARIBENHA: UM ESTUDO DE CASO EM
BERBICE (1726-1736)
Glória Kok1

Introdução

“Terra de muitas águas” ou “terra de muitos rios”


é o que significa o termo “Guyana”em língua Arawak.
Compreende a região situada no litoral Atlântico Norte,
entre os rios Orinoco e o Amazonas, infiltrando-se até o rio
Negro (OLIVEIRA, 2011: 20). O rio Branco é considerado o
caminho fluvial mais importante da costa para o interior.
Na Amazônia caribenha viviam diversos grupos in-
dígenas que falavam línguas do tronco Karib e Arawak,
entre os quais os principais são: Makuxi, Patamona, Pe-
mon, WaiWai, Ingarikó, Taurepang, que falavam língua
do tronco Karib; Wapichana e Atarai, que ocupavam o
território desde os tempos pré-coloniais, falantes do tron-
co linguístico Arawak. Como bem observa Nádia Farage,
esse “cipoal” de etnônimos talvez corresponda mais à ló-
gica da conquista européia e da ação colonial que classifi-
ca os grupos nativos de modo fragmentário do que pro-
priamente ao mosaico étnico ameríndio pré-colonial, cujas
fronteiras eram fluidas, multiculturais e multilinguísticas.
Assim, dentro dessa lógica,“um só etnônimo pode enco-
brir vários grupos étnicos e, reversamente, vários etnôni-
mos podem estar sendo utilizados nas fontes para desig-
nar um mesmo grupo étnico” (FARAGE, 1991: 19).
1
Doutora em História pela Universidade de São Paulo, pesquisadora
pós-doutora do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.

139
Os documentos da pesquisa “Fazenda e trabalho na
Amazônia, mão de obra nas Guianas: o caso de Berbice
(1726-1738)”, desenvolvida pelo Núcleo de Pesquisas Elei-
torais e Políticas da Amazônia (NUPEPA), da Universida-
de Federal de Roraima (UFRR), abrem novas miradas so-
bre a história indígena e a história econômica da região da
Amazônia caribenha. Pretende-se, portanto, iluminar as
ações dos povos indígenas da região, incluindo a popula-
ção de escravos indígenas que trabalhavam nas fazendas
holandesas de Berbice, de 1726 a 1736, na interface Guiana
Holandesa e Portuguesa.

1 Redes pré-coloniais

No período pré-colonial, os grupos indígenas esta-


vam conectados por extensas redes de comércio. O muira-
quitã, uma pequena escultura de pedra polida, com figu-
ras humanas e animais, tinha como um dos seus centros
de produção a foz do rio Trombetas, mas foram encontra-
dos ao norte de Manaus, no Orinoco, nas Guianas e em
ilhas do Caribe. Segundo Eduardo Góes Neves, as popu-
lações amazônicas estavam integradas em redes de trocas
de artefatos, informações, pessoas e alianças de guerra,
que possibilitavam o intercâmbio entre culturas bastante
afastadas umas das outras (NEVES, 2006:70).
Baseado nos estudos de Taylor, Lathrap e Porro,
Fernando de Almeida analisa a existência de dois tipos
de redes pré-coloniais: a primeira relacionada a grupos ri-
beirinhos, especializada em trocas de longa distância, que
comercializariam objetos desde as terras altas andinas até

140
a Amazônia Central, como os Piro, os Conibo e os Omá-
gua, e outra rede que conectaria os grupos ribeirinhos e os
grupos do interflúvio. Os documentos do Projeto Berbice
também apontam para outras redes que comunicam gru-
pos da costa do Atlântico aos grupos ribeirinhos. Durante
o período colonial, todas essas redes foram interrompidas
e/ou alteradas (ALMEIDA, 2013: 97).
Os europeus que navegaram pelos rios da Amazônia
nos séculos XVI e XVII aludiram à existência de caminhos
fluviais que conectavam aldeias e “províncias” distantes
numa vasta rede ameríndia de comércio intertribal de ob-
jetos, idéias e pessoas. Mesmo antes da presença europeia
os artigos europeus já circulavam pelas redes indígenas de
comércio, por meio do escambo, madeiras, urucum, algo-
dão e outras especiarias da floresta.
O antropólogo Neil Whitehead analisa os objetos de
ouro que circulavam nas sociedades nativas como itens da
elite e que faziam parte de um comércio de longa distân-
cia com outros líderes nativos. O uso de artefatos de ouro,
conhecidos como guanin e caracoli, assim como de escultu-
ras polidas em madeira cumpriram o papel de validação
da autoridade política e social das estruturas políticas da
elite das regiões caribenhas e ao norte da América do Sul
(WHITEHEAD, 2009: 5).

2 A conquista holandesa

A conquista europeia nas Guianas, como em outras


regiões da Amazônia, desestruturou a vasta rede de inter-
câmbio entre os povos indígenas e estabeleceu uma nova

141
orientação dos fluxos de produtos, com a participação de
novos agentes, além dos grupos indígenas: europeus, in-
termediários (indígenas ou não-indígenas) emekoros (ne-
gros fugidos).
David Sweet refere-se a uma categoria social muito
atuante nas redes coloniais que chamou de transfrontiers-
men, da qual muitos mestiços faziam parte. Era formada
basicamente por desertores e homens envolvidos na coleta
de drogas do sertão e no apresamento de escravos indí-
genas, que também serviam de guias para a entrada das
tropas de resgate nos vales dos rios Branco e Japurá.
No mapa do rio Courantyne, publicado por Hul-
sman, são visíveis as mudanças nas paisagens coloniais:
postos de soldados para “vigiar os índios”, “florestas e ár-
vores que são cortadas”; aldeia indígena “com índios que
fogem dos portugueses [...], completamente diferentes dos
índios locais”, quilombos de negros fugidos que vivem no
rio Suriname, além das aldeias indígenas que permanece-
ram, como as dos Intoniaanen [Tunayana] e dos Macrubo
que se autodenominam Waiwai (HULSMAN 2011).
A violência dos contatos gerou guerras coloniais.
A partir daí, a paisagem regional, o mosaico étnico e a
densidade populacional mudaram radicalmente. Como
resultado, novas aglomerações, isto é, grupos menores
fragmentados no espaço colonial amazônico se forma-
ram na região, processo denominado de “tribalização”
(FERGUSON AND WHITEHEAD, 2005: 3).
As guerras também provocaram expropriação das
terras indígenas, escravização das populações nativas, de-

142
população, epidemias e migrações para refúgios nas flo-
restas. Por outro lado, emergiram novas rotas e agentes de
comércio, nas quais os holandeses, comerciantes de longo
curso, tiveram um papel fundamental.
Do final do século XVI até a primeira metade do sé-
culo XVIII, os holandeses controlaram a região dos rios
Orinoco, Negro, Branco e Courantyne, com a ajuda de
aliados indígenas. O Suriname, conquistado em 1667,
tornou-se, por volta de 1700, o principal centro holandês.
Tanto a fundação da Colônia de Berbice, em 1627, cria-
da pelo mercador Abraham van Pere de Vlissingen, dire-
tor da Companhia das Índias Ocidentais (WIC), como a
da Colônia de Essequibo, anterior a 1621, foram possíveis
graças à aliança entre os povos Arawak, hoje conhecidos
como Lokono, e os holandeses.
Novas redes de comércio de produtos indígenas e
europeus foram criadas nesse período. Os intermediários
eram encarregados da redistribuição das mercadorias.
Assim, os Boni e Ndjuka forneciam os artigos europeus
(facas, machados de ferro, espingardas, panos, espelhos
e miçangas) aos Wayana e Tiriyó, em troca de produtos
indígenas e especiarias. Os Wayana negociavam com os
Aparai e Wajãpi cães de caça, redes de algodão e plumá-
ria. Os Tiriyó relacionavam-se com os Pianokoto e outros
grupos a oeste do rio Trombetas, tais como os Makuxi e
Xarumã, dos quais obtinham cães de caça e curare. Os Pia-
nokoto negociavam com os Waiwai que possuíam vários
laços comerciais com os Wapixana, Atroari e Taruma ao
norte e com outros grupos nas cabeceiras dos rios Trom-
betas e Mapuera (BARBOSA, 2005: 64).

143
O novo contexto estabeleceu uma diferenciação entre
os “índios do rio”, que ocupavam os cursos dos grandes
rios, mais próximos das fontes de artigos europeus, como
no caso dos Wayana e Aparaí; e os “índios da floresta”,
mais distantes das fontes de produtos europeus e, por-
tanto, com necessidade de um número maior de interme-
diários para adquiri-los. Produziu-se, assim, uma cadeia
assimétrica de produtores e recebedores dos artigos euro-
peus. Muitos grupos foram capturados e escravizados. Os
próprios Akawaio, conforme analisa Christopher Carrico,
foram escravizados no Suriname e capturados por plan-
tadores e por Caribes na Guiana para serem vendidos no
Suriname (BARBOSA. 2005: 67)
A partir do século XVII, os holandeses abriram fa-
zendas para o cultivo de cana-de-açúcar (o mais lucrativo
produto de exportação da Colônia holandesa), cacau, café,
índigo e outros produtos nos rios Essequibo, Mazaruni e
Cuyuni. Com a organização das colônias holandesas, es-
cravos indígenas foram substituídos por produtos da flo-
resta no intercâmbio de artigos europeus, apesar da legis-
lação da WIC proibir terminantemente a escravização das
populações indígenas das Américas.
Grandes viajantes e comerciantes, os Manao ocupa-
vam o rio Negro. Antes da chegada dos europeus, man-
tinham uma rede de trocas de urucu, ralos de mandioca
e outros produtos com os grupos indígenas dos rios Soli-
mões e Japurá, atravessavam o canal Casiquiare e faziam
trocas com os Muiscas e outros povos da Colômbia.
Segundo Hemming, a partir do século XVII, os Ma-
naus auxiliaram os escravistas portugueses na captura de

144
escravos indígenas. Em meados do século XVII, os Manao
entraram em contato com os povos do rio Branco, que
mantinham intercâmbios com os holandeses da Guiana,
para os quais forneciam escravos indígenas. Os índios
capturados na bacia do Amazonas, segundo Schomburgk,
eram levados, entre outros destinos, para o Suriname. Es-
clarece Hulsman, que “a escravidão dos índios no Surina-
me era, pelo regulamento oficial, limitada aos índios que
viviam fora da colônia, mas somente em 1793 foi abolida
oficialmente” (HULSMAN, 2011: 57).
Segundo Décio de Guzman, David Sweet encontrou
evidências do envio de 18 Tropas de Resgates, entre 1697
e 1749, para os rios Negro, Branco, Solimões e Japurá, com
objetivo de capturar escravos indígenas.
Pela aliança com os holandeses, em 1723, o rei de Por-
tugal autorizou uma “guerra justa”, porque os Manao “im-
pedem a propagação da Fé, continuamente roubam e assal-
tam meus vassalos, comem carne humana e vivem como
selvagens, desafiando as leis da natureza [...] esses bárbaros
estão cheios de armas e munições, algumas das quais lhes
foram dadas pelos holandeses” (HEMMING, 2011: 108).
De acordo com as informações de Rogério de Pateo, as
tropas arrasaram as aldeias de Kari´na e Lokono, na região
de Essequibo, vendendo os sobreviventes aos brancos.
Os Manao passaram então a atacar as missões por-
tuguesas do rio Negro, escravizando os índios aldeados
e vendendo-os aos holandeses. “Seu principal líder, Aju-
ricaba, ostentava uma bandeira holandesa em sua canoa
quando os portugueses o prenderam. Atado em ferros,
atirou-se na água. A aldeia fortificada de Ajuricaba foi ata-

145
cada, centenas de índios foram recrutados para as missões
e outros foram escravizados (HEMMING, 2011: 108 e 109).
Depois da expedição punitiva de 1728, o governa-
dor enviou Belchior de Moraes que reivindicou ter ata-
cado e escravizado quarenta e cinco aldeias e matado
20.800 pessoas. Basta dizer que no início do século XVIII,
as margens do rio Negro, no passado populosas, encon-
travam-se vazias. Para Décio de Guzmán, “O envio de
tropas de guerras e resgates para o Rio Negro, junto à
derrota de Ajuricaba e de todas que o seguiam, cumpria
a tarefa de bloquear o contato holandês com os índios
dessa área” (GUZMÁN, 2008:118).
Estima o padre João Daniel que até 1750 tenham “sa-
ído, só do Rio Negro perto de três milhões de índios es-
cravos, como consta dos registros [sic]” (DANIEL, 2004:
314). Dos Rios Solimões e do Rio Branco, nas décadas de
1730 e 1740, foram escravizados numerosos Caribes, Sa-
pará, Wapixana e Macuxi, que viviam em suas margens
(GUZMÁN, 2008: 125). “Vários grupos teriam buscado
refúgio nas cabeceiras dos rios Negro, Uaupés e Içana”
(ANDRELLO, 2013: 4).
De acordo com Collomb e Dupuy, os Kali´na faziam
expedições para captura de escravos para serem vendidos
em Paramaribo, onde as mulheres e crianças constituíam
a principal força de trabalho doméstico. As expedições pu-
nitivas (razzias) eram conduzidas na Guiana e Suriname
até a segunda metade do século XVIII contra os Tiriyó, os
Wayana e os Emerillon, com o apoio dos colonos holande-
ses (COLLOMB e DUPUY, 2009: 120).

146
Além dos Kali´na e dos Manao, os Omágua, que vi-
viam no Alto Solimões, também faziam intercâmbio com
os holandeses. Segundo Reginaldo Gomes, possuíam ob-
jetos dos Países Baixos, como facas, machados, sal e armas
(GOMES, 2011: 22 e 23).
Desde o século XVII, os holandeses abriram fazendas
para o cultivo de cana-de-açúcar (o mais lucrativo produto
de exportação da Colônia holandesa), cacau, café, índigo
e outros produtos nos rios Essequibo, Mazaruni e Cuyuni.
Por volta de 1715, o Suriname possuía cerca de 200
propriedades com 12.000 escravos (GOMES, 2012: 38).
Certamente, muitos desses escravos vieram da região do
Rio Negro, capturados pelos Manaus.

3 População indígena em Berbice (1726-1738)

A colônia holandesa no rio Berbice, no período de


1726 a 1738, contava com aproximadamente 130 fazendas
de proprietários europeus, em torno das quais formou-
-se uma constelação de aldeias Arawak responsável pelo
abastecimento da população de Berbice. Forneciam uma
gama variada de alimentos, como caça, peixe, frutas, ba-
tatas, ovos, algodão, além de produtos que eram exporta-
dos para Holanda, como o tabaco e o urucum. Além disso,
os Arawak foram importantes fornecedores de escravos e
apoiaram militarmente os holandeses contra os ingleses
(HULSMAN, 2015: 10).
A Sociedade de Berbice foi fundada em 1720. Em seu
inventário constam 895 escravos, 6 fazendas de açúcar e 2
fazendas de cacau, o Forte Nassau, 2 fortalezas, 1 igreja e 1

147
forja, além de outros bens. A documentação analisada foi re-
alizada pela administração colonial que registrou os inves-
timentos em mercadorias, salários e gastos operados pela
Sociedade de Berbice e a contabilidade de cada fazenda.
Entre as mercadorias, nota-se um intenso intercâm-
bio de objetos entre os grupos indígenas independentes e
os holandeses. Objetos de ferro (machados, facões, enxós,
cordas, navalhas, facas e espelhos) e miçangas eram tro-
cados por escravos indígenas, alimentos, cerâmica, redes,
canoas, algodão, “madeira venenosa” utilizada para pes-
ca, o timbó, e serviços variados (remo, cortador de grama,
levar coisas e pessoas, manter guarda, capturar e retornar
escravos africanos foragidos).
É inegável a importância dos objetos de ferro para o
escambo de escravos indígenas, os pagamentos de servi-
ços aos índios e como instrumentos de trabalho. Dada a
importância atribuída ao ferro, cada fazenda de Berbice
possuía o seu próprio estoque de ferramentos.
Das 131 fazendas registradas, apenas 18 pertenciam
à Sociedade de Berbice, cuja população escrava indígena
somava cerca de 200 pessoas. A análise de Hulsman indica
uma porcentagem crescente do número de mulheres: “Em
1727 as mulheres formam 64% da população escrava indí-
gena, em 1729, 62%, e em 1736, 70%” (HULSMAN: 2.3.4:
gráfico 8).
O que isso significa? Que tipo de trabalho ou de rela-
ção social essas mulheres indígenas realizavam?
O predomínio das mulheres entre a população escra-
va indígena, ao contrário do que ocorreu com a população

148
de escravos africanos, sugere algumas hipóteses: a mão de
obra feminina no cultivo das roças para produzir alimen-
tos, tradicionalmente utilizada entre os grupos indígenas,
nos trabalhos domésticos e na realização de tecidos que
serviam como pagamento aos índios.
Na América Portuguesa, o Regimento das Missões do
Estado do Maranhão e Grão-Pará (1686-1757) regulamen-
tava a distribuição de mão de obra aos moradores: os je-
suítas teriam direito a terça parte de todos os índios para
seu sustento e metade dos índios da aldeia deveria estar
disponível aos moradores em troca de um pagamento fei-
to em tecidos de algodão “grosseiro”, produzidos por eles.
Curiosamente, quilômetros de tecido eram negociados pelo
Forte Nassau, mas principalmente para o comércio com os
assentamentos coloniais da Espanha no rio Orinoco.
A população escrava das fazendas da Sociedade de
Berbice concentrava-se, sobretudo, no Forte Nassau (54),
na fazenda Oost-Zouburg (26) e na fazenda Markaay (23)
(HULSMAN 2.3.4: gráfico 9). Trocados por machados, fa-
cas, navalhas e tecido de algodão, os escravos indígenas
faziam parte do comércio regional entre os grupos Aka-
waio e os holandeses.
Outro ponto relevante dos dados da população in-
dígena que vivia nas fazendas é o alto número de mulhe-
res indígenas com filhos. No inventário da fazenda Oost-
-Zouburg, feito em 22 de agosto de 1727, das 11 mulheres
escravas índias, 7 tinham filhos. No inventário da Fazenda
Markay feito em 20 de agosto de 1727, das 9 mulheres lis-
tadas, 7 tem uma duas ou três crianças, sendo uma delas

149
criança cristã, uma denominação provavelmente atribuída
ao filho de europeu. Em 1726, foram contabilizadas 3 nas-
cimentos.No inventário do Forte Nassau, de 30 de agos-
to de 1727, foram contabilizados 9 escravos índios, entre
os quais 2 na categoria Christian child, “criança cristã”: Jan
van Kouwenhoven e Adam assistente de ferreiro; 15 mulheres
escravas, das quais 8 com filhos, 3 moços indígenas e 5
moças indígenas entre as quais Tannetje,“criança cristã”.
No ano anterior, foram contabilizados 5 nascimentos de
crianças indígenas.
Tais dados sugerem o perfil de uma população jo-
vem de mulheres escravas nas fazendas da Sociedade de
Berbice, que, provavelmente, estabeleciam uniões com os
índios e africanos escravos e com os colonos.
O “Livro de Contabilidade Diário Fort Nassau 1726-
1727”, que consta no anexo 2 detalha as mercadorias que
entraram e os respectivos pagamentos.
As populações indígenas prestavam serviços varia-
dos ao Forte: entregavam peixes, carne de veado salgada,
“jovem burro do mato” (anta), cestas, passarinhos, igua-
nos, pão de mandioca (atribuição feminina), caranguejos,
galinhas, papagaios, ovos, tartarugas, macacos, churrasco,
camarão, vasilhas, abacaxi, pita, cordas, buriti, cera, pau
de timbó, canoa, peneiras, tipiti, goma, algodão, barril de
Copaíba, com cerca de 160 litros, além dos escravos. Eram
remadores, cortadores de grama, cultivavam batata, leva-
vam correspondências pelos rios Courantyne, Demerara
e Essequibo, faziam redes, conduziam os holandeses em
viagens ao rio Orinoco para trazer cavalos. Trabalho de

150
europeus como costurar costuravam cartuchos e a pintura
na igreja por Jan Godfriedt Surijtser era pago por 5 con-
tas cacho e 3 enxadas, indicando a importância da ´moeda
indígena´para os europeus.
Embora existissem duas categorias distintas com re-
lação à classificação holandesa dos índios, os “escravos
ou escravas para trabalhar” e os “servidores indígenas”,
ambas eram remuneradas com os mesmos produtos que
circulavam pelo mercado regional: panos pardo e branco,
espelhos, navalhas, facas, facões, enxadas, machados, te-
souras e berimbaus de boca.
O livro de contabilidade do Forte Nassau, portanto,
permite uma análise fina tanto do fluxo de mercadorias da
Amazônia caribenha como ilumina a importância dos gru-
pos indígenas para a manutenção da colônia holandesa de
Berbice, seja por meio do trabalho (escravos ou livre), seja
pela produção e circulação de produtos que navegaram pe-
los rios da Amazônia e pelo Atlântico Norte no século XVII.

Bibliografia

ALMEIDA, Fernando Ozorio de. A Tradição Polícroma no Alto


Rio Madeira. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da
Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor
em Arqueologia, 2 volumes, São Paulo, 2013.

ANDRELLO, Geraldo. Escravos, descidos e civilizados: índios


e brancos na história do rio Negro. In: SAMPAIO, Patrícia
Melo e COELHO, Mauro Cezar (orgs.). A Atlântico Equatorial:
sociabilidade e poder nas fronteiras da América portuguesa.
Revista de História, São Paulo, no 168, janeiro/junho 2013.

151
COLLOMB, Gérard e DUPUY, Francis. Imagining Group,
Living Territory: A Kali´na and Wayana View of History.
In: WHITEHEAD, Neill and ALEMÁN, Stephanie (eds.).
Anthropologies of Guayana.Cultural Spaces in Northeastern
Amazonia. Tucson: The University of Arizona Press, 2009.

CRUZ, Maria Odileiz Sousa and LODEWIJK, Hulsman (orgs.).A


Brief Political History of the Guianas.Boa Vista: UFRR, 2014.

DANIEL, João, SJ. Tesouro descoberto no Máximo Rio


Amazonas. 2 volumes. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004.

FARAGE, Nádia. As muralhas dos Sertões: os povos indígenas


no rio Branco e a colonização. Rio de Janeiro: Paz e Terra e
ANPOCS, 1991.

GALLOIS, Dominique TilkinGallois (org.). Redes de relações


nas Guianas. São Paulo: Associação Editorial Humanitas,
Fapesp, 2005.

GUZMÁN, Décio de Alencar. A colonização nas Amazônias:


guerras, comércio e escravidão nos séculos XVII e XVIII. Revista
de Estudos Amazônicos, vol. III, no 2, 2008, p. 103-139.

HEMMING, John. Fronteira Amazônica. A Derrota dos Índios


Brasileiros. Tradução Antonio de PaduaDanesi. São Paulo:
Edusp, 2009.

________________Árvore dos rios. A História da Amazônia.


Tradução André Luis Alvarenga. São Paulo: Senac, 2011.

HULSMAN, L.A.H.C. Rotas das Guianas: uma viagem do


Suriname ao Rio Branco em 1718, OLIVEIRA, REGINALDO
GOMES DE & MELISSA IFILL. Dos caminhos históricos
aos processos culturais entre Brasil e Guyana, Boa Vista:
EDUFFR, 2011.

152
NEVES, Eduardo Góes. Arqueologia da Amazônia. Rio de
Janeiro, Zahar, 2006.

OLIVEIRA, Reginaldo Gomes e IFILL, Melissa (orgs.). Dos


caminhos históricos aos processos culturais entre Brasil e
Guyana. Boa Vista: UFRR, 2012.

___________________e JUBITHANA-FERNAND, Andrea. Dos


caminhos históricos aos processos culturais entre Brasil e
Suriname. Boa Vista: UFRR, 2014.

SWEET, David. G. A Rich Realm of nature destroyed: the


middle Amazon valley, 1640-1750. Madison: Tese de doutorado,
University of Wisconsin, 1974.

WHITEHEAD, Neil (editor). Histories and Historicities in


Amazonia.Nebrasca: University of Nebrasca Press, 2003.

________________and ALEMÁN, Stephanie (eds.).


Anthropologies of Guayana.Cultural Spaces in Northeastern
Amazonia. Tucson: The University of Arizona Press, 2009.

153
VEREDAS DA(S) GUIANA(S), ÁGUAS E TERRAS NO
ESPAÇO SOCIAL BERBICE E SEUS NOMES
Maria Odileiz Sousa Cruz1

Introdução

Na constância do viver em sociedade, o homem ar-


bitrária ou motivadamente opta por nomear os espaços, a
natureza, os territórios de uso seu ou de outros. Na terra
das águas, Guiana(s),2 o circuito que abriga mundos flu-
viais é formado pela costa atlântica, subindo o Orinoco
(Venezuela), atinge o rio Negro e ao chegar à foz do rio
Amazonas (Brasil) fecha a região como um grande elo
geo-historigráfico. Nessa macro região, os rios se entre-
laçam e se dividem em fluxos aquáticos com nomes que
se espraiam à terra firme e se consolidam como parte do
meio ambiente e dos grupos sociais, sejam com os mesmos
nomes, com adequações às línguas locais ou com nomes
diferentes. Se por um lado, a região da(s) Guiana(s) se re-
configurou com a chegada dos europeus, a dinâmica desse
encontro se estabeleceu a partir das mais diversas formas
de intercâmbios como fluxos de produtos, bens culturais
e linguísticos. Pois, no conjunto de nomes regionais espe-
1
Professora do Programa de Pós-graduação em Letras(UFRR). Dedica
suas pesquisas à documentação de línguas da família Karib e do
Português como línguas de contato. Email:odileiz@mandic.com.br.
2
O termo Guiana(s) refere-se ao moderno conjunto dos cinco países
Brasil, Venezuela, Guyana, Suriname e França, os quais compõem a
histórica Ilha da Guiana (CRUZ, 2009; CRUZ, HULSMAN e OLIVEIRA,
2014). De forma específica, Guyana no presente texto remete à
República Cooperativa da Guyana.

155
cialmente dos rios, esses foram absorvidos pelos europeus
- em destaque ingleses, holandeses e franceses -, e funcio-
nou muito bem como estratégia facilitadora para os deslo-
camentos inter-regionais.
Na Guyana, os principais rios Cuyuni, Mazaruni, Ba-
rima, Essequibo, Demerara e Berbice juntam-se aos rios do
Suriname (Courantyne, Coppename, Suriname e Maroni)
e aos do Departamento Ultramarino da França (Mana, Sin-
namary e Oyapoque). Muitos desses nomes, por exemplo,
Suriname, Oyapoque, Guiana representam denominações
atribuídas aos povos e línguas indígenas à época do con-
tato (CRUZ, 2009).
De outro modo, esses e outros nomes regionais têm
causado impacto nas diferentes línguas de todos os conti-
nentes quando são absorvidos pelas classificações científi-
cas. Por exemplo, no contexto da botânica os nomes indi-
cam sua respectiva origem do lugar como se vê em Carapa
guianensis,3 Cecropia surinamensis, Heloisis cayennensis, Pa-
rahancornia amapa espécie de plantas; pode ser também um
tipo de camarão originário da Amazônia como Macrobra-
chium amazonicum, mostrando esse último e os exemplos
que seguem uma relação entre botânica e zoologia Pachira
aquatic e Alouatta seniculus (animal-planta), Attalea maripa
(planta-inseto ou planta), Myleus pacu (planta-peixe); ou
como mostra Nores (1999:483-484) sobre as classificações
de pássaros e sua diversidade na área do presente estu-
3
No conjunto desses termos científicos, o segundo nome sublinhado
remete ao lugar de origem, isto é, a um topônimo; já nos demais
exemplos, todos os termos sublinhados são de origem indígena e
remetem alternadamente à plantas e animais.

156
do, ou seja, espécies encontradas em toda área da Guiana
Pachyramphus surinamus, Phylloscartes flaveolus amazonus,
Lophotriccus vitiosus guianensis ou de forma mais específica
como subespécies de pássaros originados na área Bolívar
(Venezuela) Pteroglossus rupurumii, Pteroglossus aracari ro-
raimae, Tangara schrankii venezuelana, Lampropsar tanagri-
nus guianensis, e por último, pássaros originados na área
Imeri (Amazonas) como Crypturellus casiquiare, Thalurania
furcata orenocensis. Essas classificações mostram que os no-
mes dos lugares ao serem indexados à forma de catalo-
gar plantas, animais, peixes, pássaros e difundidos com o
mesmo termo entre diferentes línguas do mundo, as taxes
remetem à inerente interdisciplinaridade entre botânica e
toponímia e linguística (CRUZ, 2013).
Isto sugere que o ato de nomear pode ser uma ques-
tão de alta complexidade, mas também revelador uma vez
que os nomes indicados são remissivo a um lugar, povo,
objeto, planta, animal, dentre outros. Por isso, se pergunta
se diante da complexidade social e das múltiplas línguas
autóctones e alóctones distribuídas entre os cinco países,
seria possível constituir uma historiografia de nomes na
Guiana a partir do caso Berbice.
Vale lembrar que estudos sobre historiografia de no-
mes podem abranger várias correntes teóricas e metodoló-
gicas. Para o presente contexto, enfoques interdisciplinares
(historiografia, linguística, toponímia) são considerados
nessa abordagem por viabilizarem uma leitura inédita so-
bre a região em foco. Como bem defende Japiassu (1994),
o conceito interdisciplinar se forma a partir de “uma in-
terpenetração” ou “interfecundação” entre as disciplinas,

157
“...indo desde a simples comunicação das
idéias até a integração mútua dos conceitos
(contatos interdisciplinares), da epistemolo-
gia e da metodologia, dos procedimentos,
dos dados e da organização da pesquisa.
É imprescindível a complementação dos
métodos, dos conceitos, das estruturas e
dos axiomas sobre os quais se fundam as
diversas disciplinas. O objetivo utópico do
interdisciplinar é a unidade do saber [...]”
(JAPIASSU, 1994:2).

Agrega-se ao pensamento do autor o entendimento


de que a toponímia, não seja considerada per si, e que a
historiografia consegue contribuir com uma reflexão ao
presente estudo a partir da percepção regional, a qual
se projeta em muitas outras partes do planeta quando se
exercita a necessidade de nomear.
O alvo deste capítulo é desenhar uma historiogra-
fia para os nomes que estão indexados à documentação
do projeto Fazenda e trabalho na Amazônia, mão de obra nas
Guianas: O Caso de Berbice (1726-1738) de modo a possibili-
tar uma leitura regional dantes nunca considerada.

1 Hibridismos em Berbice

A começar pela historicidade do próprio nome Ber-


bice que passou por diversos registros de viajantes como
Walter Ralegh, o qual em 1594 identificou uma aldeia
chamada Beribise>Berbise ou como rio Berbice (FISHER,
1609), Berebisse (HARCOURT, 1613), Berbice (TATTON,
1615) e (P.DU VAL, 1654), conhecido assim até o presen-
te (CRUZ, 2009). O nome Berbice, de etimologia incerta,
parece remeter ao Dutch Crioulo Berbice, língua falada

158
no curso desse rio, mais especificamente na Colônia Du-
tch estabelecida no final do século XVIII. Trata-se de um
crioulo de base Neerlandesa junto ao qual foram agrega-
dos falares da costa da Guyana, mas também de palavras
de origem do Oeste africano e do lado Oriental do Ijo, hoje
como parte do delta nigeriano (HOLLOS e LEIS, 1989: 10)
e parte do Congo.
A documentação sobre a Sociedade de Berbice (So-
ciëteit van Berbice) aponta que no período de 1726-1736 es-
tavam reunidos em suas fazendas, indivíduos falantes de
várias línguas indígenas provavelmente das famílias Kari-
be e Aruwak, africana(s), do Dutch Crioulo Berbice e das
línguas europeias sendo as mais representativas o Neer-
landês e Francês. O que se chama de hibridismos aqui, não
implica necessariamente na configuração de processos lin-
guísticos stricto sensu, mas sim na incorporação de nomes
oriundos das línguas supracitadas e respectivas culturas
junto a uma documentação oficial de base europeia (Com-
panhia das Índias Ocidentais-WIC).
Importa comentar que o registro geográfico do mapa
da Sociedade foi realizado por um alemão4 que escrevia
em holandês e tentava grafar os nomes locais a partir
das línguas indígena, crioula, africana e, talvez por isso
a justificativa das variações gráficas5 como em Kapoeri ~
Kapoerie “nome de riacho”. Não obstante, a variação se
4
Aliás, outros alemães também foram responsáveis pelo registro da
extensa documentação de Berbice ao longo dos anos, aparecendo assim
uma variedade de dialetos europeus compartilhada entre zelandeses,
neerlandeses, cuja temática ainda merece mais investigação.
5
Vide comentários gerais sobre nomeações e grafias indígenas brasileiras
em Emmerich e Leite (1981: 29-35), cuja discussão não se distancia da
mesma problemática encontrada nessa documentação de Berbice.

159
aplicava ainda aos nomes europeus, por exemplo, Kreek
“riacho” aparece com muitas formas abreviadas diferen-
temente Kr. kr. K., K, Krk. Os nomes pessoais, por sua vez,
também aparecem com formas diferentes, às vezes com
duas ou até três variações, a despeito de serem referentes
a pessoas distintas: Elisabeth~Elisabet~Eliesabeth ou como
Magdalena~Magdalenen, Susanna~Susanne, Caatje~Caetje.
Vale dizer que à época não prevalecia padrão de escrita,
mas sim de realização fonética e que via de regra nomes
próprios não obedecem a normas fonológicas.

2 Uma colônia de nichos

Por quase 100 anos, a Colônia de Berbice esteve sobre


o domínio dos holandeses, os quais agiam nas áreas dos
rios desde o Corentyne ao Orinoco, mas também do rio Ne-
gro e por último do rio Branco, conforme já foi anunciado
em capítulos anteriores. A Sociedade de Berbice reuniu um
tipo de registro documental sobre o qual pairam muitas dú-
vidas, mas ainda assim, trata-se de um inventário singular
dada a riqueza de detalhes. Por volta de 1740, a colônia de
Berbice registrou um conglomerado de 93 fazendas no rio
Berbice e 20 no rio Canje, perfazendo um total de 113 fa-
zendas conforme consta no mapa impresso, imagem 3 no
parágrafo 2.1 do artigo de Hulsman, além das 11 fazendas
da Sociedade de Berbice (Sociëteit van Berbice) ,
O presente recorte está direcionado ao conjunto de no-
mes que revela o quanto as línguas se entrelaçavam àquela
época, fossem através dos topônimos, das mercadorias, ali-
mentos, mas principalmente através do registro de nomes
das pessoas que habitavam a colônia. Não fica muito claro

160
a que grupos pertenceriam os indígenas e os africanos, já
os europeus eram passíveis de identificação, portanto, as
categorizações aqui presentes são de caráter exploratório.
A historiografia dos nomes seguirá uma ordem cro-
nologia diferenciada em cada bloco visto a organização
possível dos dados. Assim aparecem os nomes das famí-
lias proprietárias das fazendas (plantações) atrelados aos
rios, riachos ou igarapés. Na sequência estão os nomes das
fazendas e possíveis origens toponímicas ao lado dos no-
mes das águas, no caso dos riachos e igarapés que assu-
mem o registro do local, isto é, nomes indígenas. Todas
estas informações são analisadas dentro da temporalidade
entre 1726 até 1736. Quando se tratam de nomes pessoais
os registros são alterados mediante as possibilidades de
agrupamentos das informações, por exemplo, para nomes
de escravos e indígenas são usadas as referências de 1727,
1729 e 1735. Por últimos estão elencados um conjunto de
nomes de ferramentas que estão presente até hoje no con-
texto historiográfico das Guianas.

2.1 Nomes das famílias proprietárias das fazendas

No presente item estão os registros das famílias pro-


prietárias das fazendas (plantações) com respectivas origens,
e dos rios, riachos ou igarapés.6 Ao lado dos nomes das famí-
lias estão os nomes das fazendas e riachos que revelam ser
verdadeiros topônimos. Os dados da Tabela 1 foram extraí-
dos do Anexo 5 e figuram abaixo apenas como uma amostra
que aponta na direção de intercâmbios multilíngues visto
6
Nomes entre chaves como Dan[ie]l indica uma tentativa de
recompor o registro do nome próprio. Números entre parênteses
como (2) presentes na coluna Origem indicam que a fazenda tem
mais de um proprietário.

161
serem identificados como sendo europeu, indígena e possi-
velmente africano, conforme amostra a seguir:7

Tabela 1 - Nome Família e Origem


Nome Família Origem
1 D. Roos. en Dan[ie] van Eys Neerlandês (2)
2 Sal[omo]n Dedel Neerlandês
3 Pieter Bernard Neerlandês
4 Herm Berewout Neerlandês
Will[em]m. Gid[eon]n. Deutz en
5 Neerlandês (2)
Corn[eli]s van Eyk
6 G. Teller Neerlandês
7 Ph. Broer Neerlandês
8 M. Testas H van I. Cossart Espanhol, Francês (2)
9 Dav[id] Dubois Francês
10 Iac Boulé Francês
11 Will[em] Röelt Neerlandês
12 Iean Pierre St. Martin Francês
13 Guill Mottet Francês
14 Pierre Vivier Francês
15 Iac Voordaagh en Piet Schrik Neerlandês (2)
16 I. C. Bakker. Neerlandês
17 Iac. Mottet. Francês
18 Gode F. Neubaur. Alemão
19 G. W. Gillot. Francês
Adr. Van Aldewaerelt W. Bus en L. Belga-Neerlandês-
20 Michel. Francês (3)
21 M. van der Horst.* Neerlandês
22 Theoph Cazenove. Francês
23 R D. De Gennes Francês

7
A representação (2) indica que a fazenda tem mais de um proprietário.
Na coluna Fazenda-topônimo os números em parêntese indicam o
número das fazendas no mapa da Sociedade de Berbice (Anexo 5).
* A partir d´aqui as fazendas ficam localizadas no rio Canje, porém
continuam sendo parte da colônia de Berbice.

162
Às famílias proprietárias das fazendas era possível
acumular mais de uma fazenda, com até mais de um dono,
por exemplo, Van Eys (1), Corns van Eyk (5), Schrik (15) e
outras que se encontram no Anexo 5. as quais somam um
total de 23% do conjunto das fazendas da Colônia de Ber-
bice. Os demais proprietários, conforme amostra acima e
no anexo supracitado (Dedel, Bernard, Berewout, Teller,
Broer, Testas, Cossart, Dubois, Boulé, Roelt, Martin, Mot-
tet, Bakker, Vivier, Neubaur, Gillot, Bus, Michel, Horst,
Cazenove, Gennes) estavam registrados como único dono
ou dividiam uma única propriedade com outra família.
Paralelo a isso, as famílias que detinham o maior núme-
ro de fazendas se concentrava nas mãos dos neerlandeses
61, franceses 40 além de 04 em parceria com proprietários
neerlandeses, 03 fazendas de propriedade comuns aos ne-
erlandeses e belgas, 02 em sociedade entre neerlandeses e
alemães, 03 de propriedade alemã com único proprietário
e 02 suíças, considerando o conjunto das 113 fazendas.
Em formato amostral no banco de dados de famílias
holandesas registradas entre 1947 e 2007 cujos nomes coin-
cidem com os da documentação de Berbice é possível en-
contrar os Dedel que estão no litoral e leste da Holanda, os
Bernard que estão espalhados em quase todas as provín-
cias, enquanto os Teller se concentram mais no centro oeste
do país. As famílias Broer e Bakker estão em quase todas as
regiões da Holanda e são as mais numerosas. Nomes como
Berewout e Röelt não constam nem em lista holandesa ou
francesa (Cf. http://www.meertens.knaw.nl/nfb/).
Já quanto aos nomes das famílias de origem francesa
que estão cadastrados entre 1891 a 1915 e que podem arbi-
trariamente ser associados à documentação de Berbice ele

163
podem ser localizados em diversas partes da França, por
exemplo: os Cossart constam ao norte do país juntamente
com os Dubois e ao que tudo indica parecem estar na re-
gião onde ocorreu o conflito da igreja reformada. Segundo
Hulsman (em comunicação pessoal) pode ser que famílias
francesas possam ter mudado para Holanda e de lá para
Berbice motivados pelos conflitos religiosos. A família
Boulé está ao norte e Martin ao centro já Mottet ao sul, Vi-
vier no centro sul, Gillot no centro oeste e norte, Michel ao
noroeste e sul da França. E família Gennes que so aparece
como registro único ao sul do país provavelmente não seja
de origem francesa (Cf. www.geopatronyme.com).
Este cenário remete a uma possibilidade de inter-
câmbios linguísticos invejável para uma região do interior
das Guianas, ainda mais quando se pensa na população
indígena local e a africana que se agregou as estas fazen-
das, a diversidade linguística e o contato entre os falantes
devem ter gerado mosaicos sociolinguísticos de alta com-
plexidade, porém de difícil identificação.

2.2 Nomes das fazendas

Os nomes das fazendas que na realidade são verda-


deiros topônimos trazem na sua expressiva maioria no-
mes europeus (de lugares= Zeelandia, Bretagne e nomes
pessoais= Magdalena, Abigael, Theodora, Maria Henriet-
ta, D´Isabella Maria, Philis Burgh, De Geertruy, Aurora), e
raros nomes indígenas, como se vê nos exemplos a seguir:

164
Tabela 2: Nomes das Fazendas e Origem toponímica
Fazenda Origem toponímica
1 Oudshoorn topônimo de uma aldeia neederlandesa
2 Altenklingen topônimo ligado à cidade de Alsace, Alemão
3 Maasstroom topônimo neederlandês ligado ao rio Mass
topônimo ligado à Lituania, parte da antiga
4 De Stat Dantzig Polônia
5 Nova Caza topônimo ligado a termos do Espanhol
topônimo ligado à região da Bretagne,
6 Petite Bretagne França
7 De Nieuwe Caracas topônimo ligado aos índios Caracas, atual
capital da Venezuela

Por amostra, os nomes acima ao serem analisados a


partir da terminologia de Dick (1990) indicam que: Maass-
troom é um orotopônimo por estar ligado ao rio Mass na
Holanda; Nova Caza e De Nieuwe Caracas são cronoto-
pônimos por indicar cronologia através de adjetivo Nova
e Nieuwe com respectivas grafias atreladas ao português
e holandês; já os elementos determinados Caza e Caracas
remetem à língua espanhola e indígena (caracas, etnôni-
mo); enquanto isso, Petite Bretagne trata-se de um dimen-
siotopônimo ao indicar tamanho e ligado ao francês, sen-
do, portanto, registros de línguas diferentes.

2.3 Nomes das Águas

Diferentemente dos demais registros que contem-


plaram majoritariamente nomes europeus, os nomes das
águas, no caso dos riachos e igarapés lardeados ou próxi-

165
mos das fazendas,8 assumem o registrado local, isto é, no-
mes indígenas, podendo alguns deles ser associados à fa-
mília linguística Karibe, por exemplo: Naribane, Karibane
(-bane=de, do povo Karibe), Tikarina, Matarewa, Ite (bu-
riti), Kiari (alimento), Aucapara, Capara (-para=relativo à
água). À família Tupi o riacho Itarietica (ita=pedra). Os
outros nomes dos riachos são indígenas, porém, difíceis
de associá-los a uma língua conhecida: Macoronam, Oa-
miaboa, Ibanakoa.9 Enquanto isso, os riachos Isoure, Ca-
pora e Kaboera parecem estar associados à língua africana
e Kaderbicie ao crioulo local.

Tabela 3 - Nomes das Fazendas-topônimo e Riacho-igarapé


Fazenda-topônimo Riacho-igarapé
1 Klyn Poelgeest Itarietica
2 Oudshoorn Macoronam
3 Lands Kroon Isoure
4 D´Duytsche Eykeboom Tikarina
5 Philis Burgh Oamiaboa
6 Du Bois Ibanakoa
7 Zeelandia Naribane Karibane
8 Maasstroom Moerabanaar
9 De Drie Gesusters Kaderbicie
10 De Vrindschap Matarewa
11 De Geertruy Ite, Capora
12 De Voogelesang Kiari, Aucapara
13 Aurora Capara
8
Neste item as fazendas acompanham os nomes dos riachos apenas
para situar a localização dessas águas a partir do Anexo 5, bem como
facilitar uma visão para o leitor.
9
Pode ser que sejam nomes de origem da família Aruwak (ROUSE,
1992:39).

166
Por isso, os nomes das águas ao servirem de refe-
rência junto às fazendas, além de funcionarem como ve-
redas fluviais, certamente têm seus riachos apontados e
falados por todos os habitantes da região, mas também
fora desse continente.
Na instância da toponímia e segundo a classifica-
ção de DICK (1990), esses riachos podem ter seus nomes
agregados à taxionomia do tipo etnotopônimo (Naribane,
Karibane-do povo), fitotopônimo (Ite-buriti), ergotopôni-
mo (Kiari-alimento), hidrotopônimo (Aucapara, Capara-
-relativo à água) e litotopônimo (Itarietica-pedra).
Assim, no conjunto das fazendas da Sociedade de
Berbice (Sociëteit van Berbice) e da Colônia prevalece entre
os registros topônimos os de origem holandesa (10 casos),
por exemplo, Oost Souburgh, Harden broek, De Berg,De
Johanna, além de outros do Anexo 5. Já quanto aos no-
mes dos riachos, que na taxionomia toponímica podem
ser classificados como orônimo (tudo que envolve água),
dos 35 registros, 24 podem ser de línguas indígenas e ou
africana, 3 mesclados entre holandês e provavelmente lín-
gua africana (sublinhado) e 8 (em itálico) possivelmente
europeu. Os nomes relacionados às terras trazem referên-
cias europeias enquanto que as águas locais imprimem os
nomes em línguas indígenas.

3 Quando os nomes parecem ser contingenciados

O ato de nomear é algo complexo ainda mais quando


estão envolvidas diversas culturas, por exemplo, indíge-
nas e africanas. É comum entre estes povos ter dois nomes

167
ou até três, mediante seus papeis de representação nos
grupos sociais de ritos étnicos, na religião e na família; ou
no espaço político-histórico, por exemplo, de países afri-
canos como Beni e Congo que adotam um nome oficial em
função da língua de colonização, embora existam outros
nomes que são adotados paralelamente em casa e na esco-
la (Autor, Ano).
O mesmo acontece com grupos indígenas, por exem-
plo, dos Akawaio e Ingarikó que adotam diferentes nomes
para as relações de parentesco entre homens e mulheres
que participam do ritual Aleluia (CRUZ, 2008); ou como
entre os Yanomami, para os quais o nome próprio é tabu
e não deve ser revelado aos forasteiros e a depender do
contato com o branco, pouco a pouco eles vão adotando
e até trocando de nomes, no caso em português. Mas essa
prática não é já era muito comum no mundo europeu, por
exemplo, em 1670 Abraham Drago, aliás Juan Manuel e Chris-
toffel de Tavora alias David Nassi10, nomes de origem judaica
e espanhola, inglesa e judaica, bem como Isaac de Azevedo,
alias Juan da Fonseca11 mescla judaica com espanhola e, em
todos os casos há uma mistura de nomes originários de
diferentes línguas apontando um segundo nome.
Por isso, os nomes incluídos neste item representam
um ensaio de como eles são analisados parcialmente, pois,
a diversidade dos nomes traz muitas implicações de ordem
linguística, historiográfica e teórica que não serão exauri-
10
Ata do tabelião Lock de 29 de dezembro 1670, Stadsarchief
Amsterdam, NL-AsdSAA_5075_2234_f.1060.
11
Ata do tabelião Tixerandet de 6 de janeiro 1669, Stadsarchief
Amsterdam, NL-AsdSAA_5075_3678_f.818.

168
dos no momento.12 Duas categorias foram selecionadas no
presente tópico: a das moças e moços africanos e indígenas
organizadas a partir do gênero masculino e feminino.

3.1 Os nomes africanos entre os jovens

Na Colônia de Berbice, o processo de nomeação é


bem interessante quando se observa a população jovem
chegante ou os nascidos no local. Lembrando que não exis-
tiam missões religiosas à época na colônia e o ritual13 do
“batismo”, oportunidade na qual os religiosos costuma-
vam atribuir nomes às moças e moços (classificados como
girls e boys, com idade entre 8 e 14 anos), prática recor-
rente nas colônias portuguesas da Amazônia, não ocorria.
O exemplo inicial envolve os nomes das moças africanas
que foram registrados no período de 1727, 1729 e 1735 no
conjunto das fazendas.

12
A complexidade da temática ocorre também por se reconhecer que
o registro desses nomes foi realizado por europeus, os quais tomaram
como referência de escrita suas próprias línguas, portanto, pode ser
que se trate de uma ortografia adaptada.
13
Não está registrado neste conjunto de documentos se havia algum
tipo de ritual para dar nomes aos que ali nasciam ou chegavam através
dos navios, especialmente as crianças que com idade menor de 8 anos
eram só chamadas de “crianças” agregadas às mães africanas.

169
Tabela 4 - Nomes de Moças: europeu e africano
Nome europeu Nome africano
1 Anna (2) 1 Adjoe
2 Ariaantje 2 Bomba
3 Catharina (2) 3 Cassone
4 Cicelia, Cicilia (2) 4 Dieroke
5 Clara 5 Habba
6 Cornelia 6 Kema
7 Cosijntje 7 Kibonda
8 Dina (2) 8 Kisoner
9 Eva 9 Maaij
10 Jacomyntie 10 Maasa
11 Jannetje (2) 11 Makaje
12 Kaatje 12 Mayman
13 Margrieta 13 Minge
14 Maria 14 Tonne Forrie
15 Susanna, Zusanna (3) 15 Zamba

Todas essas moças são filhas de africanos que tra-


balham nas fazendas. Ao se comparar a coluna dois
com a quarta, se observa uma predominância de nomes
europeus(cristãos) em detrimentos de nomes africanos que
foram atribuídos às meninas mediante a repetição desses
nomes designados a mais de uma africana, muito embora
estivessem distribuídas em diferentes fazendas. Vale notifi-
car que os nomes africanos podiam ser encontrados apenas
em algumas fazendas, entre elas e respectivos quantifica-
dores dos nomes estão em: Johanna (5), Fort Nassau (4),
Oost Souburg (3), Cornelia Jacoba (2), Hoofdplantage (2),
Markay (2), Vlissingen (2), Westsouburg (2), Dageraet (1).

170
De fato, pouco se pode comentar sobre os nomes afri-
canos visto a necessidade de estudos mais acurados em
um futuro próximo, contudo, um único exemplo na coluna
quatro que pode ser associado ao Dutch Crioulo Berbice é
Minge (mingi=water, juice) (KOUWENBERG, 1111:10).
Em termos contemporâneos Teresa Fitzpatrick
(2012:70-71) apresenta um conjunto de nomes africanos
registrados entre Estados Unidos, Ilhas do Caribe e países
africanos entre os anos 1964-1970, mas nenhum deles coin-
cide com os dados dessa pesquisa. Mas vale registar que
a própria autora é um exemplo de o quanto os nomes são
mesclados, tanto é que se auto reconhece com dois nomes
Liseli Anne Maria-Teresa Fitzpatrick:
For example, my own, Zambian name, at
birth, Liseli means God’s Divine Light; and
my Yoruba designations, through initiation,
Eji-Ogbe represents The Light – all that
is known and unknown in the Universe,
and Olakitan, which signifies wealth as
inexhaustible. (2012:2).

Um dos nomes da autora está vincula a diferentes


culturas e línguas africanas. Tem-se assim uma rápida
idéia de que os nomes podem vir carregados de significa-
ções e simbolismos nem sempre visualizados nas repre-
sentações de superfície.
No período entre 1727, 1729 e 1735 os nomes dos mo-
ços africanos são bem mais numerosos quando compara-
dos com o registro feminino. Muito embora, na Tabela 5 os
nomes europeus ocorrem mais que nomes africanos, além
de serem repetidos. De fato, os nomes europeus se repe-

171
tem (14 vezes, envolvendo diferentes números de pessoas)
muito mais que os nomes africanos (2 vezes).

Tabela 5 - Nomes de Moços: europeu e africano


Nome europeu Nome africano
1 Abraham (4) 1 Acarra (2)
2 Abroham 2 Acorema
3 Andries 3 Afoe
4 Anthonij (2) 4 Akka
5 Antony 5 Allessoe
6 Baroni 6 Beja
7 Benjamyn 7 Bieloke Mattibe
8 Bootsman 8 Caja
9 Claes, Klaes (4) 9 Coesarie
10 Cupido (2) 10 Coffy
11 Danson 11 Goma
12 David 12 Jutarbie
13 Ede 13 Kabyne
14 Een 14 Kangi
15 Frans (2) 15 Keyta
16 Fransie 16 Kobas
17 Frederik 17 Kokolokoe
18 Fregat 18 Koteko
19 Gratia 19 Kotoef
20 Hendrik 20 Lakroy
21 Jacob (6) 21 Maboeke
22 Jan (7) 22 Mafonge
23 Jantje (4) 23 Majalle
24 Jeremias 24 Malokie
25 Joris 25 Mange
26 Kakkerlak 26 Maquame

172
27 Kapita 27 Masa
28 Kobas 28 Moesjalle
29 Leuw 29 Molallo
30 Louwie 30 Pangla
31 Mars 31 Pansoe
32 Matthijs (2) 32 Quabene
33 Moses 33 Quakoe
34 Oranje 34 Quasie
35 Pieramus (3) 35 Quitiklik
36 Prins (2) 36 Samboe
37 Santje 37 Smauw
38 Savonette 38 Tatarbie
39 Simon (3) 39 Toela
40 Thomas
41 Toefje
42 Tootje
43 Toetje
44 Willem (3)

Entre os registros europeus, há destaques para no-


mes bíblicos como Abraham David, Jeremias, Santje e o mais
cotado Jacob (6 vezes); na sequencia vêm os nomes neer-
landeses Jan, Klaes, Simon, Willem. Outro detalhe interes-
sante, distinto do registro nominal das meninas, está sobre
a diversificação dos nomes dos meninos com origem di-
versa, seja na composição de topônimos, ambos de origem
francesa, Jan France (relativo ao país), Savonette (transposi-
ção de um nome como topônimo, nome da fazenda, para
um antropônimo, segundo; com nomes relativos a ofício
Bootsman de origem holandesa, ou tipo de embarcação

173
Fregat também holandês, e até nomes jocoso Cupido e de
cumprimento Gratia de origem italiana.
Na quarta coluna, apenas um nome africano Acar-
ra se aplica repetidamente a outro moço, sugerindo ser
uma conduta bem definida de que nomes africanos não
se misturam com nomes europeus. . Por último, alguns
poucos nomes africanos podem ser explorados como Co-
ffy que remete a um deus africano (CRUZ; HULSMAN;
OLIVEIRA, 2014) ou como Kofi em Twi e Fante (TERESA
FITZPATRICK, 2012:28), dialetos do Akan falados em
Guinéa e Gana; e outros nomes que podem ser associados
ao Dutch Crioulo Berbice como Mange (mangi=escaped
person=pessoa, escravo fugitivo) e Pangla (board) (KOU-
WENBERG, 1111:13 e 10).
Quando se observa a frequencia dos nomes europeus
distribuídos entre as fazendas tem-se as maiores ocorrên-
cias em: Westsouburg (8), Fort Nassau (7), Cornelia Jacoba
(6), Hoofdplantage (6), Hoogeland (6), Johanna(5), Oost-
souburg (5), Savonette (5), dentre outras. Ao comparar
a maior ocorrência da distribuição dos nomes das moças
nas fazendas em relação aos meninos acima, tem-se Johan-
na (5), Fort Nassau (4), Oost Souburg (3).
Outra particularidade no inventário da Colônia de
Berbice é a da classificação especial para as crianças nas-
cidas da união entre uma escrava e um europeu, sendo
essa chamada de Christen kind ou christianchild (criança de
cristão). Regularmente a criança, fruto desse tipo de rela-
cionamento, era tratada pelos holandeses como escrava.
Entretanto, todos os recém-nascidos na colônia eram lista-
dos inicialmente como filho de mãe negra ou índia, talvez

174
só a partir de 8 (oito) anos é que eram reconhecidos por
seus respectivos nomes europeus ou africanos.
A propósito, vale reforçar que não muito distan-
te de Berbice, a ilha de Trinidad sempre esteve presente
nas relações guianenses, e muitas crianças descendentes
de africanos que nasceram na ilha podem ter suas origens
ligadas a grupos africanos conforme Teresa Fitzpatrick
(2012:2) quando diz que:
Trinidad was a late starter in the Plantation
system - the majority of the slave population
was African born – Yoruba, Hausa, Congo, Ibo,
Rada, Mandingo, Kromanti (Koromantyn) and
Temne, although some slaves came from other
Caribbean islands, they were considered ‘creole’.

3.2 Os nomes indígenas

Quando se trata de mulheres indígenas, que apare-


cem no inventário da Colônia no período entre 1727, 1729
e 1735, a conduta de nomeação é marcada expressivamen-
te por nomes europeus a ser apontado na Tabela 6 como
amostra. O exemplo inicial envolve as mulheres cujos
nomes são: Sophia, Catarina, folida, Maria, Maytie e outros.
Mas um aspecto determinante nestes inventários é a prefe-
rencia por certos nomes europeus os quais são atribuídos
a mulheres distintas que moram em diferentes fazendas.
A repetição dos nomes dessas mulheres indígenas se con-
centrava mais fortemente no Fort Nassau e nas fazendas
Savonette e Hardenbroek.

175
Tabela 6 - Nomes de Mulheres nas Fazendas
1 Nomes europeu Fazenda-Forte
2 Alida Pereboom
3 Alida Fort Nassau
4 Anna Westsouburg
5 Anna Oost Souburg
6 Anna Hoofdplantage
7 Debora Fort Nassau
8 Debora Pereboom
9 Dina Pereboom
10 Dina Fort Nassau
11 Dina Savonette
12 Dina Dageraet
13 Diana Savonette
14 Diana Oost Souburg
15 Eva Westsouburg
16 Eva Pereboom
17 Elisabet Pereboom
18 Elisabet Markay
19 Grietje Vlissingen
20 Grietje Cornelia Jacoba
21 Jannetje Hardenbroek
22 Jannetje Savonette
23 Jannetje Krieke Markay
24 Lena Hardenbroek
25 Lena Fort Nassau
26 Lena Markay
27 Lena Hardenbroek
28 Lena Fort Nassau
29 Madaleen Hardenbroek

176
30 Madaleen Vlissingen
31 Madaleen Vlissingen
32 Sara Oost Souburg
33 Sara Markay
34 Sara Elisabet
35 Sara Dageraet
36 Sara Fort Nassau
37 Zaantje Fort Nassau
38 Zantje Savonette

De fato, o paradigma do local onde estas mulheres


estavam, ou seja, a maioria delas aparecem no registro do
Forte de Nassau, mas também em Hardenbroek e Savo-
nette, conforme anexo (XXXX), levanta muitas dúvidas
sobre esta realidade e evoca perguntas por que elas esta-
riam mais no Fort e não em outras fazendas. Haveria al-
gum outro fator determinante que justificasse a presença
das mulheres indígenas em certos locais e em outros não.
Igualmente como os moços, há registro de nomes femini-
nos atrelados à bíblia como Eva, Maria, Madaleen, Sara e
aparentemente nenhum nome indígena.
No mesmo período, a presença de homens indígenas
e seus respectivos nomes seguem apontando para referên-
cias europeias e um gosto pela repetição. Pieramus, Hans e
Joris são os nomes preferidos entre eles. Atrelando os no-
mes às fazendas estavam em maior número concentrados
em Markay, Hardenbroek e Fort Nassau. Entretanto, esses
homens se distribuíam em maior número entre Westsou-
burg 6, Fort Nassau 6, Pereboom e 3 respectivamente em
Savonette e Oost Souburg.

177
Tabela 7 - Nomes de Homens nas Fazendas-Forte
Nome europeu Fazenda-Forte
1 Iroenie Savonette
2 Cupido Oost Souburg
3 Hans Markay
3 Hans Hardenbroek
4 Coridon Pereboom
5 Joris Pereboom
5 Joris Markay
5 Joris Westsouburg
6 Fransie Westsouburg
7 Klaesie Westsouburg
8 Joosje Fort Nassau
9 Puito Fort Nassau
10 Pieramus Fort Nassau
11 Pieramus Hardenbroek
12 Pieramus Markay
13 Pieramus Markay
14 Jan Fort Nassau
15 Claes Savonette
16 Scharon Oost Souburg
18 Maquame Westsouburg
19 Pakolett Pereboom

Quando se coteja os dados entre crianças africanas e


indígenas é possível se destacar alguns pontos: a) ambos
os grupos gostam de repetir nomes; b) os nomes europeus
podem ser encontrados mais entre os moços indígenas que
as africanas, por exemplo: Pieramus, Cupido, Klaes, Claes,
Joris, Jacob; c) os meninos africanos são 58% a mais que o

178
número de meninas.14 Enquanto que entre as crianças in-
dígenas a diferença é inversa, as meninas são em maioria
19% a mais que os meninos. Parece haver um equilíbrio
maior no grupo indígena do que entre os africanos já que
nesse último a diferença é de mais da metade de meninos
frente ao número de meninas.

4 Uma categoria transcultural

A categoria Aliás é também uma referencia muito im-


portante neste inventário de Berbice e isso se coaduna com o
que já foi mencionado anteriormente que os diferentes gru-
pos africanos e indígenas, preferencialmente adultos, gostam
de ter mais de um nome, inclusive europeu. Uma amostra
retirada somente do ano de 1735 traz uma ideia de como essa
sobreposição de nomes africanos e europeus era possível.

Tabela 8 - Nomes africano e europeu entre gênero e raça


Nome africano e Sexo Negro Nome africano e
europeu europeu
1 Agisaba m n Debora
2 Cugia m n Caja
3 Tijna m n alias Chocolaed
4 Jacqua m n alias Tabbe
5 Quako m n alias Kinge
6 Kilomba* w n alias Kinbomba

14
Quando os navios chegavam na costa era determinante a preferência
por comprar crianças africanas do sexo masculino; talvez isso possa
justificar a diferença de aparecer mais meninos em relação às meninas.
* Sobre a variação de nomes registrados de formas diferentes é um
assunto a ser tratado posteriormente.

179
7 Akamma w n alias Jape
8 Asseri w n alias Catharina
9 Maria w n alias Minckje
10 Siemon b n alias Assada

Na coluna dois prevalecem nomes africanos, mas


aparecem os nomes europeus Maria, Zophia inovado mais
pelas mulheres negras e indígenas. Na quarta coluna figu-
ram mais nomes europeus, embora apareça nome africano
Kinbomba, Assada. Essa prática cultural de ter mais de um
nome, já comentado anteriormente, parece ser algo bem
antigo que perdura até hoje entre os grupos indígenas das
Guianas como um todo.
Não obstante, outra hipótese para aliás que é um ad-
vérbio em português evocando situação de passado, pre-
sente e futuro, poderia dizer que o sujeito tem um nome,
mas também outro, portanto, uma ideia de pragmatica-
mente adversativa.

5 Os produtos e seus nomes

Novamente se advoga que os nomes dos produtos


apontam na direção de intercâmbios multilíngues já que
foram identificados como europeu, indígena e possivel-
mente africano.
Na categoria mercadoria estão registrados nomes ne-
erlandeses, os quais foram traduzidos para o português, mas
intrometidos diretamente nas fazendas. Possivelmente esses
nomes europeus possam ter sofrido adaptações para as lín-
guas locais, mas este registro ainda está sendo depurado.

180
Tabela 9 - Nomes de ferramentas
Neerlandês Português Neerlandês Português
Negro Cassave Enchó de
Enchó de Negro
houwelen dissels mandioca
Espelho
Negro bijlen Machado de Negro Spiegel swart preto
Negro Facões grande de Spiegel Espelho
Capmessen Negro verguld dourado
groot
Negro Espelho de
Facões de Negro Spiegel bleck
Capmessen flandes
Bijl groot Machado grande Schaarmessen Navalha
Machado
Bijl middel Schaaren Tesoura
intermediário
5 nagel Faca com 5
Bijl Klein Machado pequeno messen pregos
Capmes Bossen Cordas de
Facão grande
groot coralen miçanga
Capmes Facão Tawajes Tawajes
middel intermediário
Capmes Berimbau de
Facão pequeno Trompen
klein boca
Cassavi Ferro de mandioca
bijtels

Nesta amostra, apenas um nome indígena faz parte


do inventário Tawajes (possivelmente nome para contas).
Mas os nomes indígenas vão figurar neste inventário da
Colônia de Berbice principalmente quando envolve a ca-
tegoria alimento kajiri, plantas marran (copaíba, de origem
aruwak), utensílios e instrumentos locais como hangmat
(rede, de origem aruwak), manaris (peneiras, de origem
Karib). Todos estes elementos podem ser visualizados nos
anexo 2 e 3 (Livro de Contabilidade diária de Carga do
Fort Nassau e fazenda Markay de 1726-1727).

181
Considerações parciais

Partindo da perspectiva da Toponímia, um ramo da


Lingüística que tradicionalmente se dedica à análise dos
nomes de lugares (topônimos) e de pessoas (antropôni-
mos), da historiografia dos nomes considerando a presente
leitura interdisciplinar, a Colônia de Berbice deixa neste ca-
pítulo um punhado de dúvidas e perguntas que não podem
ser respondias no momento. Entretanto, o conjunto de no-
mes favoreceu a formação de uma historiografia dos nomes
que agrupados por categorias europeu, africano e indígena
sinalizam de forma consubstancial o intercâmbio linguísti-
co, cultural, comercial e histórico com reminiscência para os
dias atuais. Por isso, acredita-se que muitos traços sobre a
história, a língua e a cultura de um povo são possivelmente
revelados, quando tratados sob a égide do nome.

Bibliografia

CRUZ. Maria Odileiz Sousa. Toponímia Documental - As


línguas na Costa das Guianas no relato dos viajantes Robert
Harcourt e Jesse de Forest. Estágio de Pós-doutoramento.
Leiden: Leiden Universiteit, 2009. (manuscrito).

______. O Paradoxo da Interdisciplinaridade na Educação


Escolar Indígena. Em: EXPRESSÃO 2015 - Representações
Culturais e suas Linguagens. Boa Vista, 15 e 16 de outubro de
2015. UFRR. (livro de resumos).

EMMERICH, Charlotte e LEITE, Yonne. A Ortografia dos


Nomes Tribais no Mapa Etno-Histórico de Curt Nimuenjadu.
Em: Mapa etno-historico de Curt Nimuendaju. Rio de Janeiro:
IBGE, 1981, pp. 29-35.

182
FASI, Mohammed El & HRBEK, l. História Geral da África -Vol.
III -África do século VII ao XI. Brasília: UNESCO, 2010. 1056 p.

HOLLOS, Marida; LEIS, Philip E.. Becoming Nigerian in Ijo


society. Rutgers University Press, 1989. 167 p.

JAPIASSU Hilton. A questão da interdisciplinaridade.


Seminário internacional sobre reestruturação curricular. Porto
Alegre: Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre.
1994. 5 p.

KOUWENBERG, Silvia. The historical context of creole


language emergence in Dutch Guiana. For special issue
of Revue Belge de Philologie et d’Histoire on ‘Dutch and
colonial expansion: Different contact settings, different
linguistic outcomes’, ed. Gerald Stell. National Geographic or
Ethnologue. Berbice Dutch Creole. https://en.wikipedia.org/
wiki/Berbice_Creole_Dutch 06.12.15 19:35.

NORES, Manuel. An Alternative Hypothesis for the Origin of


Amazonian Bird Diversity. Journal of Biogeography, Vol. 26,
No. 3 (May, 1999), pp. 475-485. Blackwell Publishing Stable URL:
http://www.jstor.org/stable/2656137. Accessed: 28/01/2009
09:27.

ROUSE, Irving. The Tainos. London: Yale University


Press. 1992..

TERESA FITZPATRICK, Liseli Anne Maria-(2012). African


Names and Naming Practices: The Impact Slavery and
European Domination had on the African Psyche, Identity
and Protest. Thesis Degree Master of Arts in the Graduate
School of The Ohio State University. 2012.

183
ANEXO 1 INVENTÁRIO DE ESCRAVOS E
ANIMAIS DA SOCIEDADE DE BERBICE
1726-1727 (NL-HANA_1.05.05_61.21)

[capa]
Inventário de todos os escravos, animais & vivos no Rio
Berbice no mês de agosto Ano 1727

[pagina 1]
Inventário dos escravos, animais etc.da Fazenda
Savonette feito 21 de agosto 1727

Negros velhos1 Agisaba


Guabene
Katta Principal2
Philip
Negros trazidos pelo navio Kifa
Vrijhijd3 Mabie
Pieter
Tresorie Coetje
Annasie Sander
Akarra Kivolimba
Kotogo Jan France
1
Negros velhos, Oude Negers, Kibinda
quer dizer que esses africanos já Swanu
estavam presentes nas fazendas
e não indica a idade das pessoas. Andries
2
Meesterknecht, atribuições como Thomas
posição, emprego, condição física Jangoe
etc. são colocadas em italico.
3
O inventário representa os afri- Klijne Acarra
canos escravisados em grupos Tatje
com nome do navio negreiro que
trouxe eles. Abraham

185
Makanse Matteus Lucia com uma criança
Masinga Abannaba
Jan Ajamba com duas crianças
Zam Betje com duas crianças
Lena
Negras trazidas pelo navio
de Vrijhijd Moços negros

Zara Quakoe
Jamia com uma criança Pieramus
Jamia de Klijne [a pequena]
Ariaantje com uma criança Moças negras
Jhiniba com uma criança
Atiakoe Habba criança da Akoena
Redaen com uma criança
Jauwa com três crianças Índias
Adjouba
Adjouba de Tweede [a segun- Diana
da] Jannetje com uma criança
Akoena Zantje
Cansaba
Diaene Moças indígenas
Makiba
Acouba Dina
Gaemba Sophia comprada recente-
Klijne [pequena] Afiba com mente
uma criança Iroenie moço indígena
Doriba com uma criança
Sophia com uma criança

186
[pagina 2]

Falecidos desde2 de junho 1726 até hoje

Negros Na casa das fornalhas

Paloe 6 caldeirões
Joris 1 caldeirão no chão
Jargo 2 panelas
Boange 2 passadeiras
4 colheres
Negras
4 escumadeiras

Afeba
Na casa da moenda
Crianças negras
uma moenda com seus per-
uma criança de Jamia de klijne tences
uma criança de Atiakoe
uma criança de Adjouba de Animais
Tweede
17 cavalos, bons e maus
Nascidos desde 2 de junho 20 gado vacum, grande e pe-
1726 queno

Negros

Uma criança de Ariaantje


uma criança de Jhiniba
uma criança de Betje

187
[pagina 3]

Inventário dos escravos, animais etc. da Fazenda Oost


Souburg feito 22 agosto 1727
Negros velhos Negros trazidos de Curaçao

Mattijs Indisposto4 Afary


Acosse
Kinboetje Deficiente5
Jargo Principal
Sobbe
Entje
Goma com 1 olho Dambie
Toma Ajae
Titus Kange
Adam Toswak
Hendrik Aquosse de Klijne
Adoe
Makkay
Koekonte
Patrys
Mabialle
Smauw Principal
Klaes Negros trazidos por Jan
Brouwn
Negros trazidos por Rijk Ha-
gerop Boosman
Jacob

Jan Swart Deficiente


Negros trazidos pelo navio
Kakaje Vrijhijd
Ansjoeke
Mabialle Koffij
Groote Koffij
Jantje
4
Onbequaem
Surinaeme
5
Manq, quer dizer que a pessoa é
com algum defeito. Pieter

188
Negros trazidos pelo navio
Leusden

Kasje Deficiente

Negras velhas

Madaleen Cega e velha


Kaatje Velha
Maria
Griet com uma criança negra
& uma criança cristã
Kinge com uma criança
Acouba
Toemba
Kivilla Indisposto
Mayman com quatro crianças
Sacco com duas crianças
Toela com três crianças
Lucia com seis crianças
Madaleen com uma criança
Mefakke com uma criança
Maria

Mulheres moças

Bomba
Sibilla
Negras trazidas por Rijk Ha-
gerop

Toela
Manonba
Polo

189
[pagina 4]

Negras trazidas de Curaçao Toefie trazido pelo navio de


Vrijhijd
Nagoemba Maboeke criança de Sacco
Kosijntje Deficiente Moses criança de Sacco
Trijntje
Siembas com uma criança Moças negras
Adischag
Kidela com duas crianças Kema
Lucretia
Jacomyntie criança de Griet
Kisinga com uma criança
Kibonda criança de Kinge
Doeloe com duas crianças
Índios
Negras trazidas por J. Brou-
wn
Poeita
Maritoe Cupido moço
Jannetje

Negras trazidas pelo navio Índias


de Vrijhijd
Klara
Abocaba Marietje com duas crianças
Kinge com uma criança Francijntje
Negras trazidas pelo navio Susanna
Leusden Jannetje com duas crianças
Anna com duas crianças
Zantje Sara com uma criança
Antonetie com duas crianças
Moços negros Diana com uma criança
Sannetje com uma criança
Kotoef trazido pelo Rijk Ha- Martijntje
gerop Falecidos desde 2 de junho
Baroni 1726 até hoje
Koffi criança de Trijntje

190
Boange Oud Neegerin
uma criança de Kajo Negra
uma criança de Maria Negra
uma criança de Jannetje Indí-
gena

Nascidos desde 2 de junho

uma criança de Sacco Negra


uma criança de Lucia Negra
uma criança de Masacke Negra
uma criança de Anna Indígena
uma criança de Sannetje Indí-
gena
uma criança de Antonette In-
dígena

Na casa das fornalhas

6 caldeirões
1 caldeirão no chão
4 panelas
2 passadeiras
4 escumadeiras
4 Colheres

Na casa da moenda

Uma moenda com seus per-


tences

Animais

20 cavalos, bons e maus


44 gado vacum, grande e pe-
queno

191
[page 5]

Inventário dos escravos, animais etc. da Fazenda


Hardenbroek feito 21 agosto 1727

Negros velhos Abosse


Tromp
Pansoe Principal Jan Pite Deficiente
Caqra Principal Maja
Quabene
Negros trazidos pelo navio Ivadoe
de Vrijhijd Claas
Guajava
Tanne Thomas
Japkie Aquie
Gangoe Adoe
Aquasoe
Phacco
Negras trazidas pelo navio
Jacob
de Vrijhijd
Cupido
Adam
Otea Sara
Tialwimba Obee Deficiente
Calewie Amimba
Acarra Adjubba
Boetje Aquasiba
Acarra de Tweede [a segunda] Lisebet
Kokke Kintji com uma criança
Dole Abannoaba
Canje Deficiente Sara com uma criança
Quauw Afanaba com duas crianças
Jande Sondernaem com uma criança
Quakerie Klaartje com duas crianças

192
Adjouba aliás Irape com duas
crianças
Acouba com uma criança
Ariaentje
Moços negros

Jan France
Jutarbie
Kokolokoe
Quabene

Índias

Madaleen
Lena
Jannetje

Hans moço indígena

Moças indígenas

Catarina
Maria comprada recentemente
Lisabet comprada recentemente

193
[pagina 6]

Falecidos desde 1 junho 1726 até hoje

Negros Na casa da moenda


Cosje
Lange Jan Uma moenda com seus per-
Quakoe tences

Negras Animais

Acannaba
16 Cavalos, bons e maus
Abannaba
26 gado vacum, grande e pe-
uma criança de Claartje Negra queno

Nascidos desde 1 de junho

uma criança de Kintje Negra


uma criança de Sara Negra
uma criança de Afanaba Ne-
gra
uma criança de Klaertje Negra

Na casa das fornalhas

6 caldeirões dos quais um é


consertado
1 caldeirão no chão
2 panelas
2 passadeiras dos quais uma é
consertada
4 Colheres
4 escumadeiras

194
page 7

Inventário dos escravos, animais etc. da Fazenda Markay


feito 20 agosto 1727
Negros velhos Negros trazidos de Curaçao

Malagies Pieter
Abani Principal Biera
Jan Principal Joris
Vos Indisposto Coffy Indisposto
Lange Claes
Boera Deficiente
Malala
Acarra
Sam Indisposto
Toely
Aron
Marinus Molat Quakoe
Joosje Molat Ataeh
Cugia ou Caja Indisposto Soesje Fugido
Pontje
Koboela Negras velhas

Negros trazidos por Rijk Ha- Marietje


gerop Madaleen com uma criança
Barbel Velha
Dianoe Saccasies com uma mão
Makaje Pom:6,com uma criança
Moetitta
Kisona
Moessanga
Groote Toemba Deficiente
Kapanboe
Boanga
Negros trazidos pelo navio Josijntje com quatro crianças
Vrijhijd Trijn Indisposta com duas
crianças
Tijna Bexigas 6
Pom: abreviação desconhecida.

195
Madaleen com uma mão Moços negros
Jekille Molattin Indisposta
Jaendoe com uma criança Jantje
Taciba com uma criança Abroham
Sona com uma criança Coesarie
Boyta com uma criança Malokie
Kakkerlak
Negras trazidas por Rijk Ha- Moesjalle
gerop Santje (trazido pelo navio
Leusden)
Doela Indisposta
Masanga com duas crianças
Beniba com uma criança

Negras trazidas de Curaçao

Dimba Deficiente
Maria
Anna com uma criança
Acourie com uma criança
Samba com uma criança
Catharina
Toemba
Koek com duas crianças
Samona
Moecalle com uma criança

Negras trazidas por J. Brou-


wn

Jannetje
Kiewe Indisposta

196
[pagina 8]

Índios Baamba
uma criança de Masanga Negra
Kees Velho
Jouwa Nascidos desde 31 de maio
Pietie 1726
Louw
uma criança de Jaendoe Negra
Pieramus criança de Jekille
uma criança de Taciba Negra
uma criança de Koek Negra
Índias uma criança de Moekalle Negra

Maay uma criança de Elisabet Indí-


Sara gena
Jannetje Krieke com uma uma criança de Majoekje Indí-
criança cristã gena
Santje com duas crianças 1 criança cristã de Jannetje
Elisabet com três crianças Kriek
Lena com uma criança
Majaekes com duas crianças Na casa das fornalhas
Anne com duas crianças
6 caldeirões dos quais dois são
Willemijn comprada recentemente consertados
Jacoe criança de Janetje Kriek 1 caldeirão no chão consertado
2 Passadeiras consertadas
Falecidos desde 31 de maio 3 Colheres
1726 até hoje 3escumadeiras
4 panelas consertadas
Boange Negro
Angoakay Negro Na casa da moenda
Thomas Negro
Uma moenda com seus per-
Negras tences

Animais
Acouba
Adouwe 25 Cavalos, bons e maus
Foela 76 gado vacum, grande e pe-
Sacaeh queno

197
[pagina 9]

Inventário dos escravos, animais etc. da Fazenda Pereboom


feito 20 agosto 1727

Negros velhos Goeboe


Kimboetje Indisposto
Gange Indisposto Mabialle Jongman
Louwrens Indisposto
Sam Indisposto Negros trazidos por Rijk Ha-
Pietele Velho gerop
Adam getr, quebrado, Pom,
Deficiente7 Andries
Masanna Deficiente Joosje
Jan France Principal Jan Swaert
Neus Deficiente
Pansoe de Groote Negros trazidos pelo navio
Klaes Vrijhijd
Okoman
Kakoele Lange Jan
Kupido Jauwa
Afoe Pieten
Sibe
Capita Principal Negros trazidos de Curaçao
Jeremias
Simon Hansje
Mafonge Kambaeta
Pieramus Joris
Joose Mattijs Deficiente
Bomba Abraham
Kibinda
7
getr. abreviação desconhecido,
Pom abreviação desconhecido. Adoevis

198
Saba
Jan Blank
Leeuw
Domingo

Negros trazidos por Jan


Brouwn

Smauw
Koffy

Negras velhas

Tomba de Klijne Deficiente


Makanse Indisposta
Oneway Deficiente
Kalle
Bibouw Indisposta
Cicilia
Lucretia
Toetoe com uma criança
Assa com um braço duro, Pom:
Simba
Dominge com uma criança
Trijntje
Sara com duas crianças
Linga Deficiente
Jannetje Deficiente com uma
criança
Pamessa com três crianças
Toela
Toetoe com duas crianças

199
[pagina 10]

Ariaantje Moços negros


Dongo
Cicilia com três crianças Caja
Maayke Masa
Willemijntje com uma criança Willem
Boange com uma criança Jacob
Dielo Afoe criança cristã de Pamesse
Claartje Smauw criança de Ariaantje
Maria
Boyte com duas crianças Moças negras
Maria com duas crianças
Lucia com uma criança Tonne forrie
Minge
Negras trazidas por Rijk Ha-
gerop
Índios

Boange
Claesie
Lisabet com duas crianças
Smities
Anne
Coenarie
Josijntje Deficiente
Coridon moço
Joris criança de Dina
Negras trazidas de Curaçao

Simba Índias
Sebel
Soeka Dirkie criança cristã com uma
Kibomba Deficiente criança cristã
Cornelia com duas crianças Jouke
Cocobja Kaatje
Adjouba com três crianças Klijne Jouke com uma criança

200
Evacom uma criança uma criança de Sophia Indí-
Sophiacom duas crianças gena
Alida Na casa das fornalhas
Elisabet
Debora 6 caldeirões dos quais um é
consertado
Falecidos desde 30 de maio 1 caldeirão no chão conserta-
1726 até hoje do
3 passadeiras dos quais duas
Acouqua Negro são consertadas
Louwis Negro 3 escumadeiras
Jantje Negro 3 colheres dos quais uma é
Jocke Negro consertada
3 panelas consertadas
Negras
Na casa da moenda
Chocolaet
Kaetje uma moenda com seus per-
tences
Moços negros
Animais
Keesje
Biensa 30 cavalos, bons e maus
103 gado vacum, grande e pe-
Dina Indígena queno

Nascidos

uma criança de Boyte Negra


uma criança de Maria Negra
uma criança de Adjouba Negra

201
[pagina 11]

Inventário dos escravos, animais etc. da Fazenda Corn[elia]:


Jacoba feito 19 de agosto 1727

Negros velhos Negras trazidas pelo navio


de Vrijhijd
Joost Principal
Quasiba com uma criança
Negros trazidos pelo navio Acoeba
Vrijhijd Songa
Ajoba Klijne com uma criança
Acarra Koekobbia com uma criança
Cassorie Kokko
Thomas Deficiente Adouwa Indisposta
Machiel Deficiente Saberike com duas crianças
Marquis Lucrees
Insouw Kamas
Diange aliás Boelonge Madaleen
Acarre groote Calisto
Andries Mary com uma criança
Pieter Lucia
Apatja aliás Isaa Abannoba
Jantje Acarraba
Acarra de Klijne
Adoe Moços negros
Thomas Middelb:
Tarra Allessoe
Nassauw Mars
Quabene Quasie aliás Assade
Tootje

202
Índias 3 Colheres dos quais duas são
consertadas
Catarina da Fazenda de Pee-
reboom Na casa da moenda
Grietje com uma criança
Elisabet moça, recentemente uma moenda com seus per-
comprada tences

Falecidos desde 31 de maio


1726 até hoje

Quasie groote Negro


Quakoe Negro
Acarra moço Negro

Nascidos

uma criança de Quasiba Ne-


gra
uma criança de Adjouba de
Klijne Negra
uma criança de Saberike Ne-
gra

Na casa das fornalhas

6 caldeirões
1 caldeirão no chão
2 panelas consertadas
2 passadeiras
3 escumadeiras

203
[pagina 12]

Animais

19 Cavalos, bons e maus


51 gado vacum, grande e pe-
queno

204
[pagina 13]

Inventário dos escravos, animais etc. da de Fazenda


Vlissingen feito 19 de agosto 1727

Negros velhos Goeloe


Moepotte
Kinge Principal Deficiente Pollacaete
Jan de Boer Indisposto Pieramus
Louwrens Molat Carpinteiro Tietje
Kintje Akoddie Indisposto
T jangla Quebrado Majinge
Janby Asistente de Tanoeiro De- Matthijs
ficiente Ahoema Deficiente
Kange Principal Okkanje
Zam Klaes
Majalle Quebrado Makonge
Masarre Deficiente
Kibinda Quebrado Negros trazidos por Jan
Makanse Brouwn
Komacke Molat
Kalakasse Siebie
Jan France
Pansoe
Jasje Negros trazidos pelo navio
Lamingo Vrijhijd
Klijntje
t’ Jambe
Negros trazidos por Rijk Ha-
gerop Negras Oude

Joemba Margriet Deficiente


Zaboe Cornelia

205
Boange Indisposta
Zavo Akewy Deficiente
Toeta Deficiente
Zusanna Deficiente
Zamba
Kilonde
Lucia Indisposta
Jannetje
Marietje
Kibomba
Simbe
Junocom três crianças
Lenacom três crianças
Loesje
Buno com três crianças
Ariaantje com três crianças
Jaajo
Maria

Negras trazidas por Rijk Ha-


gerop

Boange
Bolloela Indisposta

Negras trazidas de Curaçao

Kisonge
Mekita
groote Joemba
Kokobja
Acoeba
Lucretia
Asdepe
Buto com uma criança

206
[pagina14]

Negras trazidas por Jan Grietje criança cristã com três


Brouwn crianças
Jakanirae
Kaka Kaatje
Assa Tielielie
Toela Madaleen
Jelina criança de Griet
Moços negros
Falecidos desde 30 de Maio
Toela 1726 até hoje
Goma Indisposto
Klaes Groote Mabialle Negro
Jacob Boange Negra
uma criança de Buto Negra
Moças negras

Cicilia
Nascidos
Mayman
Catharina criança de Juno
uma criança de Juno Negra
Índios uma criança de Lena Negra
uma criança de BunoNegra
Bartel uma criança de Ariantje Negra
Piet
Jacob Verganie criança cristã Na casa das fornalhas
Antony criança cristã
6 caldeirões dos quais um é
Índias consertado
1 caldeirão no chãoconsertado
Isie
3 panelas dos quais uma é
Madaleen
consertada

207
4 Colheres dos quais um é
consertado
3 escumadeiras
3 passadeiras dos quais duas
são consertadas

Na casa da moenda

Uma moenda com seus per-


tences

Animais

10 Cavalos, bons e maus


30 gado vacum, grande e pe-
queno

208
pagina 15

Inventário dos escravos, animais etc. da Fazenda


Westsouburg feito 18 de agosto 1727

Negros velhos Kinboetje


Dirk
Jan de Cocq Getr:, Pom:, Defi- Loewis Deficiente
ciente
Klaesje Negros trazidos de Curaçao
Cange
Sam Indisposto Pieter Principal
Andries Bootsman
Jan de Kerner Tromp
Jacob Principal Sander
Jan France Getr:, Pom , Defi- Coita
Marcurius
ciente
Jan Swart
Jan Tamboer
Europa
Klijntje Molat
Joris
Tamboer Molat
Gratia
Abasje
Kwasje
Mabialle
Simouw
Antony Jongman
Kamboetje
Madoengo
Negros trazidos por Rijk
Hagerop Negros trazidos por Jan
Brouwn
Makaje
Loeloe Koewta
Pieter Angola doente
Klijntje Pansoe

209
Negros trazidos pelo navio
Vrijhijd

Coesarie
Tamboer
Hidropsia8,Pom:,Deficiente:
Majille

Negros trazidos pelo navio


Leusden

Adriaan Deficiente:

Negras velhas

Pasje Indisposto
Meerkat
Asione Deficiente
Willemijntje Molattin
Mafoeta Deficiente
Kibonge com uma criança
Maay Molattin
Ariaantje
Kidonge com uma criança
Catrijn com três crianças
Jannetje com quatro crianças
Madaleentje
Jamme Molattin
Majomba
Diroe com uma criança cristã
8
Watersugtig

210
[pagina 16]

Marietje Sona com três crianças


Klaertje Ikille com uma criança
Cicilia
Kaatje Moços negros

Moças Fregat
David
Sara Kapita
Lena
Leeuw
Buyto
Mattijs
Attalante
Simon criança de Neeltje Indí-
Negras trazidas de Curaçao gena

Anna Moças negras


Acoba Deficiente:
Maandag Susanna criança de Willemi-
Agrolas jntie
Magrita
Kimgomba aliás Soekela Índios
Kibienda Deficiente: com duas
crianças Pieramus
Kaatjecom quatro crianças Maquame
Sacko
Fransie (moço indígena)
Klaesie (moço indígena)
Negras trazidas por Jan
Brouwn
Índias
Lopemba com duas crianças
Aplonia Indisposta com uma Susanna
criança Neeltje

211
Thisseve Na casa da moenda
Jozijntje
Eva uma moenda com seus per-
Anna tences
Kabita Indisposta
Trijn Animais
Betje criança cristã com uma
criança
18 cavalos e mulas, bons e
maus.
Falecidos desde 29 de maio
1726 até hoje 1 Burro
62 gado vacum, grande e pe-
Adam Negro queno
Juno de Matarra Negra
uma criança de Catrijn Negra

Nascidos

uma criança de Jannetje Ne-


gra
uma criança de Kaatje Negra

Na casa das fornalhas

6 caldeirões dos quais três são


consertados
1 caldeirão no chão
2 passadeiras dos quais uma é
consertada
3 panelas consertadas
3 escumadeiras consertadas
3 Colheres

212
pagina 17

Inventário dos escravos, animais etc. da Fazenda Johanna


feito 12 de agosto 1727

Negros velhos Kalbasje


Antony aliás Aquasie Deficien-
Antony Principal te
Marinus Principal Hans
Hacca
Negros trazidos pelo navio Patientie
de Vrijhijd Angola
Abraham
Akarra Janpa
Kodjo Operne
Bootsman Malys Hidropsia,Pom: ,Defi-
Honhuysie ciente
Oparia Kodja
Quauw Taatje
Karsouw Jacob
Okketokke Hidropsia,Pom: Jan Pik
,Deficiente Heyne
Klaesje
Klijne Acarra Negras
Thomas
Noere Janga Groote
Haddae Mijnba com uma criança
Entje Quebrado Kaatje
Oes Jambi met 2 crianças de Japon
Nameey Bowange com uma criança
Quansa Pijmba com uma criança
Trans Deficiente Trijntje Groote com duas
Domine crianças

213
Jacona com uma criança
Apoenebe com uma criança
Toecobbia de Klijne
Koekenkoe com uma criança
Trijntje com uma criança
Kaatje com uma criança
Koeka com duas crianças
Susanna
Santje
Symba
Sara com duas crianças
Abannaba

Moços negros

Jan Broek
Danson
Kabyne
Benjamyn

Índios

Joris

Índias

Alabiere

214
[pagina 18]

Falecidos desde 29 de maio 1726

Anquay Negro
Mijn Neus Negro
Totokibia Negra

uma criança de Janga Negra


uma criança de Totokibia Ne-
gra
uma criança de Alabiere Indí-
gena

Nascidos

uma criança de Mijnba Negra


uma criança de Trijntje Negra
uma criança de Kaatje Negra
uma criança de Koeka Negra

215
pagina 19

Inventário dos escravos, animais etc. da Fazenda de


Dageraet feito 16 de agosto de 1727

Negros velhos Jerrie


t’Gimba
Masita Principal Japonge
Donquanne
Negros trazidos pelo navio Quodjo
de Vrijhijd Koffy
Crammel
Jan Tamboer Principal Abraham

Negros trazidos pelo navio Negras velhas


Leusden
Masieka Manq
Quakoe
Gittia Negras trazidas pelo navio
t’Jamma Leusden
Quatiae
Jannie Ariaantje
Afondo Aname com uma criança
Claesje Piela com uma criança
Keesje Jaboa
Ajoe Gittiae
Krokkedoe Jacomijntje
Matijs Zusanna com uma criança
Pieter Catrina
Jan Broek Bexigas Ackoe

216
Abba com uma criança Cambie Negra
Aossies com uma criança uma criança de Accoe Negra
Aquasie Doerinde Índia da fazenda Sa-
Acarraba Indisposta vonet
Pollie
Kabara
Monje Pokk
Goesarie
Sieberis
Beliela
Jissa

Moços negros

Jacob
Willem

[Índios sic] Índias

Clara
Sara do Forte [Nassau] com-
prada recentemente

Falecidos desde 4 de junho


1726

Apranga Negro
Amma Negro
Akanna Negro
Forko Negro
Jan Wisse Negro

217
[pagina 20]

Nascidos

uma criança de Piela Negra


uma criança de Abba Negra
uma criança de Sosie Negra

Na casa das fornalhas

6 caldeirões
1 caldeirão no chão
4 colheres
4 escumadeiras
2 passadeiras

Na casa da moenda

uma moenda com seus per-


tences

Animais

12 cavalos e mulas, bons e


maus
15 gado vacum, grande e pe-
queno

218
pagina 21

Inventário dos escravos, animais etc da Fazenda


Hoogeland feito 14 de agosto 1727

Negros velhos Zabarra


Tabarra
Siebie Principal Kobbia com uma criança
Akamma aliás Jape
Negros trazidos pelo navio Anniesa
Leusden Jamba de Tweede [a segunda]
Deficiente com uma criança de
Tutenbie Principal Jampa
Abraham Adoeba
Jacqua Bexigas Alladoe
Mensa Ebrimme aliás Ariaantje com
Coffy uma criança
Codja de Eerste [o primeiro] Abary Indisposta
Codja de Tweede [o segundo] Congie com uma criança
Bexigas Abba Bexigas com uma criança
Dwee cristã
Acamma
Kide Bexigas Moços negros
Adjoe aliás Acarra Hidropsia
Po[m] Deficiente: Prins
Kakkereba Cupido
Abba Jantje
Louwie
Negras trazidas pelo navio Jacob
Leusden
Índias
Goenae Indisposta
Nassa Indisposta Caetje

219
Falecidos desde 29 de maio
1726 até hoje

Negros

Quakoe
Tingting
Klaes
Koeba
Taequa
Zavoera
Tacqua

Negras

Goeloe
Jampa
Frassie
Oeha
Florida
Adoeba

Nascidos

uma criança de Kongoe Negra


uma criança cristã de Abba Ne-
gra

Na casa das fornalhas

6 caldeirões
1 caldeirão no chão
2 panelas
4 Colheres
4 escumadeiras

220
[pagina 22]

Na casa da moenda

uma moenda com seus per-


tences

Animais

7 cavalos
3 gado vacum

221
page 23

Inventário dos escravos, animais etc. Da Fazenda Elisabet


feito 15 de agosto 1727

Negros velhos Adabbera


Bootsman
Mabarassierie Adamasje
Willem de Groote
Negros trazidos de Curaçao Willem de Klijne
Warauw
Amon homem jovem
Coffy Principal
Negras trazidas pelo navio
Negros trazidos pelo navio Leusden
Leusden
Acoeba
Europa Bexigas Asova
Aaron Madalena
Tamboer Jabba com uma criança
Kees Bomba foy com uma criança
Mattijs Dantje
Loewis Sibille
Coffy Lucretia
Ariaantje
Claes Principal
Anna
Sander Deficiente
Nege
Aquatie Maria com uma criança
Abraham Fugido9 Horito
Jantje Toetsoog
Ambejou Minke com uma criança
Imkoewady Flora
Marietje
9
int Bos, literalmente: no mato.

222
Moços10

Hendrik
Antony
Akka

Índias

Zara

Falecidos desde 5 de junho


1726

Negros

Joris
Paul
Kamboeta
Aadom
Mavonge
Jan Pik

Negras

Margriet
Asoog
Innaetje Negra

10
sem indicação racial,
provávelmente africanos

223
[pagina 24]

Nascidos

uma criança de Maria Negra

Na casa das fornalhas

6 caldeirões
1 caldeirão no chão
2 passadeiras
2 panelas
4 escumadeiras
4 colheres

Na casa da moenda

uma moenda com seus per-


tences

Animais

2 cavalos
9 gado vacum

224
page 25

Inventário dos escravos, animais etc. da Fazenda Debora


feito 15 de agosto 1727

Negros velhos Negras trazidas pelo navio


Leusden
Jantje Principal
Mikarre com uma criança
Negros trazidos pelo navio Maay
Leusden Poedie
Dokoena
Akanne Principal Que
Brammy Jennahoo
Kaa Anfransie
Natongo Aboja
Jerrevolle
Kandonne
Makomme
Queta
Siebierae
Tacqua
Kokrance com uma criança
Tatti
Grietje
Pieter
Debora
NaNaga
Quasie Ingini
Nambavolle Tanno Deficiente
Jillis Honna Bexigas
Jarih Marietje
Guani
Ettiwa Moços negros

Negras Oude Lakrooy Bexigas


Bejaa
Toitoe com três crianças Jantjen

225
Indiaen

Hansje

Índias

Trijntje do forte [Nassau]

Falecidos desde 5 de junho


1726

Negros

Quamoby
Addoe
Antony
Tiravolle
Sessoe

Negras

Toekoena
Afiba

uma criança de Maay Negra


uma criança de Grietje Negra

Nascidos

uma criança de Toetoe Negra


uma criança de Kokranne

226
[pagina 26]

Na casa das fornalhas

6 caldeirões
uma caldeirão no chão
4 colheres
4 escumadeiras
2 passadeiras
2 panelas

Na casa da moenda

uma moenda com seus per-


tences

Animais

6 cavalos
8 gado vacum

227
page 27

Inventário dos escravos, animais etc. do Forte Nassau,


feito 30 de agosto 1727

Negros velhos Negros trazidos de Curaçao

Kibomba assistente de tanoeiro, Antony


Deficiente Claes
Kees ferreiro, meio cego, Pom: , Michiel
Deficiente Mensach
Mackker assistente de ferreiro Mafonge
Fransje Principal Dansoe
Marinus
Calowils Negros trazidos pelo navio
Toefie Vrijhijd
Claesje
Adamasse Deficiente Jan de Wit
Fransoeke Joosje
Groote Frans Indisposto Koffy de eerste
Kees Quabene
Jan France Indisposto Pieter
Dominicus Molat Koffy de Tweede [o segundo]
Angoesie Kayser
Mathijs Pansoe
Qualie Andries
Antony Codjo
Paul Claes aliás Ansoadoe
Jacob Coffy de derde aliás Ampa
Joseph Tromp

228
Prins Jacomijntje
Oranje Lucia com três crianças
Baron Catarina
Pieter Quebrado Koeke
Maandag
Negros trazidos pelo navio Maay Molattin
Leusden Seba criança cristã com uma
criança cristã
Jantje
Boeseroentje no lugar de Pieter
de Curaçao

Negras velhas

Susanna Indisposta
Kitessa Indisposta
Katalina
Domingo Velha Molatin
Sara Molatin
Maria Indisposta com duas
crianças
Jannetje Deficiente
Madaleen com uma criança
Indisposta
Marietje
Maria Indisposta
Cosijntje Deficiente
Assa Indisposta
Acouba
Jajo Deficiente
Klaertje

229
[pagina 28]

Calista com três crianças Moços negros


Florida
Betje com três crianças Frederik
Samba com uma criança Molallo
Loemboe Ede
Moetoeloe com duas crianças Abraham
Banber com uma criança cristã Klaesje
Goeloe com uma criança ne- Jantje
gra e uma criança cristã Joris
Anna Jacob criança de Lucia
Eva Deficiente
Lucrees Moças negras
Mafoete com duas crianças Zamba
Maria Zusanna criança de Jozyntje
Jannetje criança de Catrina
Negras trazidas de Curaçao

Marietje Indíos
Zusanna com duas crianças
Libondo com duas crianças Poecinella
Willemyntje Klaesje
Kupido
Negras trazidas pelo navio Pietje
de Vrijhijd Jan van Kouwenhoven criança
cristã
Cicilia Adam assistente de ferreiro,
Marietje criança cristã
Adobia Kees

230
Kaquarie
Abiram

Índias

Alida
Klaertje com uma criança
Maagtje
Zaantje com duas crianças
Jelina com uma criança
Dina com uma criança
Lena
Sara
Cariba com uma criança
Americacom uma criança
Cornelia
Zantje com uma criança
Sophia com uma criança
Atalante
Vette Kinde

Moços indígenas

Joosje
Puito
Pieramus
Jan criança de Leentje

231
[pagina 29]

Moças indígenas uma criança de Jelina Indígena


uma criança de Dina Indígena
Folida uma criança de Cariba Indígena
Debora uma criança de Santje Indígena
Jacoba uma criança de Sophia Indí-
Maytie gena
Tannetje criança cristã de Ma-
rietje negra velha [sic] Animais

Falecidos desde 8 de junho 16 cavalos, bons e maus


1726 78 gado vacum, grande e pe-
queno
Neger Mans

Macasser
Macajes
Koekoenekoe

Moecalle Negra

uma criança de Jelina Indígena


uma criança de Dina Indígena
uma criança de LenaI ndígena
uma criança de Cariba Indígena

Nascidos
uma criança de Goeloe Negra
uma criança de Mafoete Negra

232
page 30

Inventário dos escravos da


Fazenda de Café aan de kerk;
feito 19 de agosto 1727

Negros trazidos pelo navio


Leusden

Jan Bart
Abraham
Wantje

Negras

Anas
Lucrees com uma criança

Moços

Claus
Een
Simon
Thomas

Nascidos desde 31 de maio


1726

uma criança de Lucrees

233
Inventário dos escravos da Fazenda de Café no
Wieroenje; feito 19 de agosto 1727

Negros trazidos de Curaçao

Pieter do Forte no lugar de


Boeseroentje

Negros trazidos pelo navio


Leusden

Adrigo
Zeeman

Moços negros

Koteko
Acarra

234
ANEXO 2: LIVRO DE CONTABILIDADE DIÁRIO DE
CARGA DO FORTE NASSAU 1726-1727
(NL-HaNA_1.05.05_61.12)

Guia

data: ano, mês, dia


entrada: descrição para que foi pago
quantia: quantia da unidade paga
unidade pago: descrição da unidade que foi pago
a: valor da unidade em ‘schelling’ ( 1; 1,5) e ‘duit’ (por exemplo 4:06)
b: valor da(s) unidade(s) pago (s): florim: schelling: duit (por exem-
plo 01:01:08)

O valor total dos gastos por dia sempre é somado nas três últimas
colunas.
c: florim (moeda neerlandesa da época)
d: schelling (20 schelling = 1 florim)
e: duit (16 duit = 1 schelling)

* palavra desconhecida

data entrada quantia Unidade pago a b c d e


17260402 peixe 1 pano pardo 4 6
17260403 cesta (habas) 2 pano branco 5 0:10:00
1 pano pardo 0:04:06
passarinho 3 contas cacho 1 0:03:00
machado
pão de mandioca 2 15 1:10:00
grande
1 enchada 0:13:00
ferro de
1 0:14:00
casava grande

235
1 faca 0:01:08
3 15 14
a um escravo
17260404 1 pano pardo 0:04:06
indígena
macaquinho 1 pano branco 0:05:00
cera e remadores 10 contas cacho 0:10:00
19 6
aos escravos
17260405 4 facão médio 13 2:12:00
para trabalhar
machado
1 grande de 0:14:00
trabalho
goma (ottogom-
2 faca 1,5 0:03:00
me) e peixe
berimbao de
2 0,5 0:01
boca
3 10
algodão e aos
17260407 7 contas cacho 1 0:07:00
remadores
1 faca 0:01:08
2 tesoura 2 0:04:00
1 navalha 0:02:00
14 8
berimbao de
17260411 carangeijo 1 0:00:08
boca
espelho de
1 0:01:04
flandes
1 faca 0:01:08
3 4
pano osna-
17260414 galinha 8 bruck branco 4 1:12:00
por aulna
ao servidor
1 pano branco
indígena
1 pente 0:02:08
1 19 8

236
cera e peneiras espelho dou-
17260419 2 8 16
(manari) rado
17260421 algodão 3 contas cacho 1 0:03:00
facão
galinha 1 0:12:00
pequeno
15
ao servidor na
17260429 1 facão médio 0:13:00
fazenda den berg
a alguns índios
que fazem ser- 4 faca 1,5 0:06:00
viço
2 tesoura 2 0:04:00
espelho flan-
2 1,25 0:02:08
des
1 9 8
aos escravos
17260501 2 facão grande 14 1:08:00
para trabalhar
carangeijo e
1 faca 0:01:08
churrasco
3 contas cacho 1 0:03:00
a uma escrava espelho dou-
1 0:08:00 2 0 8
indígena rado

17260503 carangeijo 1 pano pardo 0:04:06


a uma escrava
indígena para
1 enchada 0:13:00
comprar uma
canoa pequena
3 faca 1,25 0:04:08
3 contas cacho 1 0:03:00
1 4 14
17260504 camarão 3 contas cacho 1 0:03:00
libra de
para uso da
1 pimenta do 0:10:00
cozinha
reino
castanha cem
8 5 2:00:00
gramas

237
cravo cem
8 6 2:08:00
gramas
canela cem
8 5 2:00:00
gramas
7 1 0
cachimbos
para uso dos
17260505 12 longos por 1:00:00
conselheiros
dúzia
vasilhas 6 contas cacho 1 0:06:00
aos escravos
1 enchada 0:13:00
para trabalhar
1 facão grande 0:14:00
2 13 0
17260508 algodão e cera 24 contas cacho 1 1:04:00
peixe e churrasco 1 faca 0:01:08
1 tesoura 0:02:00
espelho de
1 0:01:04
flandes
1 8 12
17260509 carangeijo 1 pano branco 5
carregar correio
17260510 1 faca 0:01:08
do rio corantijn
carangeijo 2 faca 1,5 0:03:00
cacaorama* 3 contas cacho 1 0:03:00
cirurgião 1 tesoura 0:02:00
0 9 8
a alguns índios
17260511 que fazem ser- 3 pano branco 5 0:15:00
viço
2 pano pardo 4:06 0:08:12
3 faca 1,5 0:04:08
berimbao de
2 0,5 0:01:00
boca
1 9 8

238
a um escravo
indígena para machado
17260513 1 0:15:00
comprar uma grande
rede
buriti (fruto) 2 contas cacho 1 0:02:00
aos escravos
1 facão grande 0:14:00
para trabalhar
1 enchada 0:13:00
a um servidor
1 faca 0:01:08
indígena
3 contas cacho 1 0:03:00
2 8 8
tecido flamen-
a algumas escra-
17260514 9 go por aulna 1[sic] 3:03:00
vas
(lijwaat)
1 facão médio 0:13:00
3 faca 1,5 0:04:08
buriti (fruto) 2 contas cacho 1 0:02:00
4 28
cera e passarin-
17260515 1 pano pardo 0:04:06
hos
3 contas cacho 1 0:03:03
buriti (fruto) 4 contas cacho 1 0:04:00
0 11 6
17260516 a um escravo 1 enchada 0 13 0
17260520 churrasco 1 contas cacho 0 1 0
machado
para uso no pos-
17260523 1 grande de 0:14:00
to no rio wiruni
trabalho
a dois escravos
2 faca 1,5 0:03:00
indigenas
peixe e carne de
machado
veado salgado 6 15 4:10:00
grande
pelos índios
1 facão grande 0:15:00
machado
1 0:12:00
pequeno

239
1 pano branco 0:05:00
3 faca 1,5 0:04:08
5 navalha 2 0:06:00
espelho flan-
1 0:01:04
des
23 contas cacho 1 1:03:00
machado
1 0:14:00
médio
9 7 12
aos escravos na
17260524 12 facão médio 13 7:16:00
igreja
12 enchada 13 7:16:00
machado
peixe e galinha 1 0:15:00
grande
3 faca 1,5 0:04:08
16 11 8
ás mulheres de
17260525 3 faca 1,5 0:04:08
pão
machado
1 grande de 0:14:00
trabalho
0 18 8
17260526 carangeijo 1 pano pardo 0:04:06
colocado na
caixa ‘cargasoen’ 100 agulho 0:12:08
para uso diário
alfinete [boek-
1 0:02:00
spelden]
a uma escrava 1 faca 0:01:08
cera 1 pano pardo 0:04:06
1 4 12
a dois índios que
17260527 2 faca 1,5 0:03:00
fazem serviço
buriti (fruto) 2 contas cacho 1 0:02:00
macacinho 1 pano branco 0:05:00

240
2 contas cacho 1 0:02:00
peixe e cera 3 contas cacho 1 0:03:00
1 pano branco 0:05:00
1 0 0
cesta (habas) e
17260608 peneiras (ma- 5 pano branco 5 1:05:00
nari)
3 faca 1,5 0:04:08
1 9 8
17260610 cordas 8 contas cacho 1 0:08:00
a uma escrava 2 contas cacho 1 0:02:00
contas por
abacaxi e pita 0,25 0:02:00
libra (tawas)
carangeijo 2 faca 1,5 0:03:00
a uma índia que
5 contas cacho 1 0:05:00
faz serviço
1 0 0
aos índios que
viajem com
gerardt aching machado
17260613 18 15 13:10:00
para o rio ori- grande
noco para trazer
cavalos
20 facão grande 15 15:00:00
4 espelho preto 8 1:12:00
4 faca 1,5 0:06:00
6 contas cacho 1 0:06:00
30 14 0
a um escravo
indígena para
17260614 1 navalha 0:02:00
comprar uma
rede
machado
1 0:15:00
grande
2 faca 1,5 0:03:00
2 tesoura 2 0:04:00

241
peixe 2 tesoura 2 0:04:00
algodão, vasi-
lhas, abacaxi, 46 contas cacho 1 2:06:00
cordas e pita
3 14 0
17260617 para uso 24 Sabão libra 6 7:04:00
facão
galinha 1 0:12:00
pequeno
9 contas cacho 1 0:09:00
1 faca 0:01:08
aos escravos
2 facão médio 13 1:06
para trabalhar
machado
2 grande de 14 1:08:00
trabalho
vasilhas 2 faca 1,5 0:03:00
11 3 8
a um escravo
17260618 1 pano branco 0:05:00
indígena
2 contas cacho 1 0:02:00
churrasco 2 faca 1,5 0:03:00
a um servidor
1 tesoura 0:02:00
indígena
2 contas cacho 1 0:02:00
para uso na canela cem
8 5 2:00:00
cozinha gramas
cachimbos
para uso dos
12 longos por 1:00:00
conselheiros
dúzia
3 14 0
machado
17260619 pau de timbó 1 0:14:00
médio
1 pano branco 0:05:00
2 faca 1,5 0:03:00
1 2 0
carangeijo e berimbao de
17260620 2 0,5 0:01:00
peixe boca

242
5 contas cacho 1 0:05:00
2 pano pardo 4:06 0:08:12
1 faca 0:01:08
1 6 4
17260621 ás moças 2 faca 1,5 0:03:00
churrasco 3 faca 1,5 0:04:08
cera e algodão 7 contas cacho 1 0:07:00
fio para cos-
ao ‘constabel’
turar colori-
para costurar 8,5 1,5 0:12:12
do por cem
cartuchos
gramas
1 7 4
17260626 um tigrinho 2 faca 1,5 0:03:00
1 pano branco 0:05:00
aos escravos facão grande
4 14 2:16:00
para trabalhar de trabalho
3 enchada 13 1:19:00
5 3 0
machado
17260630 galinha 1 0:15:00
grande
machado
1 0:14:00
médio
algodão e aos
6 contas cacho 1 0:06:00
remadores
2 tesoura 2 0:04:00
2 pano branco 5 0:10:00
2 9 0
a alguns índios
17260702 que fazem ser- 4 faca 1,5 0:06:00
viço
passarinhos 1 faca 0:01:08
aos remadores e
2 pano branco 5 0:10:00
para cera
3 faca 1,5 0:04:08
5 contas cacho 1 0:05:00

243
1 7 0
17260703 peixe 2 contas cacho 1 0:02:00
a uma escrava 1 faca 0:01:08
1 enchada 0:13:00
0 16 8
aos escravos facão médio
17260704 2 13 1:06:00
para trabalhar de trabalho
a alguns índios
que fazem ser- 6 contas cacho 1 0:06:00
viço
1 tesoura 0:00:02
1 14 0
tecido flamen-
distribuido aos
17260708 371 go por aulna 7 127:17:00
escravos
(lijwaat)
pano osna-
99,8 bruck branco 4 19:19:00
por aulna
pano pardo
98 3,5 17:03:00
por aulna
pano listrado
57,5 branco por 8 23:00:00
aulna
fio para cos-
turar colori-
40,5 1,5 3:00:12
do por cem
gramas
300 agulho 12c 1:16:00
## 15 12
17260709 galinha 1 facão grande 0:15:00
aos remadores e
3 pano branco 5 0:15:00
para carangeijo
2 faca 1,5 0:03:00
1 contas cacho 1 0:01:00
1 14 0
a um índio que
17260710 1 faca 0:01:08
faz serviço

244
aos remadores 3 pano branco 5 0:15:00
0 16 8
machado
17260711 galinha 2 15 1:15:00
grande
4 contas cacho 1 0:04:00
machado
aos escravos
2 grande de 14 1:08:00
para trabalhar
trabalho
facão grande
3 14 2:02:00
de trabalho
churrasco 2 faca 1,5 0:03:00
5 7 0
17260712 algodão e cordas 19 contas cacho 1 0:19:00
peixe, carangeijo
3 pano branco 5 0:15:00
e cera
aos escravos
16 enchada 13 10:08:00
para trabalhar
12 2 0
pimenta do
para uso na
17260717 1 reino por cem 0:10:00
cozinha
gramas
castanha cem
8 5 2:00:00
gramas
macis por
8 6 2:08:00
cem gramas
canela cem
8 5 2:00:00
gramas
cravo cem
4 6 1:04:00
gramas
a alguns índios
17260718 que fazem ser- 4 faca 1,5 0:06:00 8 2 0
viço
2 tesoura 2 0:04:00
3 navalha 2 0:06:00
0 16 0
17260719 churrasco 5 contas cacho 1 0:05:00
2 faca 1,5 0:03:00

245
aos remadores 4 faca 1,5 0:06:00
0 14 0
a alguns escravos
17260721 4 pano branco 5 1:00:00
indigenas
cera, aos rema-
dores e para 14 contas cacho 1 0:14:00
algodão
4 pano branco 5 1:00:00
3 faca 1,5 0:04:08
2 18 8
carangeijo e car-
17260722 2 pano branco 5 0:10:00
ne de veado
1 faca 0:01:08
aos remadores
para remar ao 4 pano branco 5 1:00:00
mar
algodão 12 contas cacho 1 0:12:00
2 3 8
a alguns escravos
17260723 3 faca 1,5 0:04:08
indígenas
3 navalha 2 0:06:00
4 tesoura 2 0:08:00
aos remadores 5 pano pardo 4:06 1:01:14
2 0 6
aos escravos
17260724 2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar
facão grande
3 13 1:19:00
de trabalho
pau de mandioca 9 contas cacho 1 0:09:00
1 pano pardo 0:04:06
4 14 6

246
a alguns índios
que viajaram
com gerardt
aching para o machado
17260725 3 15 2:05:00
rio orinoco e que grande
não foram pagos
antes da sua
partida
3 facão grande 15 2:05:00
3 faca 1,5 0:04:08
4 14 8
trazidos pelo
geraert aching no
dia 23 desse mês
pano osna-
do rio orinoco;
17260727 1151 bruck branco 4 230:04:00
23 cavalos dos
por aulna
quais 10 morre-
ram na viagem,
custando
pano osna-
693 bruck pardo 3,5 121:15:08
por aulna
1284 faca 1,5 96:06:00
contas por
147 8 58:16:00
libra
tecido branco
97,8 8 39:02:00
por aulna
2676 3 8
um barril de pano osna-
copaíba [circa 289,75 bruck pardo 3,5 50:14:02
160 litros] por aulna
machado
12 15 9:00:00
grande
pano osna-
60 bruck branco 4 0:12:00
por aulna
60 6 2
gastos para
machado
viveres durante a 6 15 4:10:00
grande
viagem

247
6 facão grande 15 4:10:00
67 faca 1,5 5:00:08
contas por
5,5 8 2:04:00
libra
16 4 8
17260728 vasilhas 10 contas cacho 1 0:10:00
cera 2 pano branco 5 0:10:00
a uma escrava
indígena para contas por
3 8 1:04:00
comprar uma libra
rede
3 faca 1,5 0:04:08
1 tesoura 0:02:00
2 10 8
17260801 vasilhas e peixe 6 contas cacho 1 0:06:00
aos escravos facão grande
2 14 1:08:00
para trabalhar de trabalho

facão médio
1 0:13:00
de trabalho
cordas e chur-
14 contas cacho 1 0:14:00
rasco
3 1 0
17260802 carangeijo 1 pano branco 0:05:00
goma [otte gom] 4 contas cacho 1 0:04:00
0 9 0
17260803 algodão e pita 17 contas cacho 1 0:17:00
peixe 1 faca 0:01:08
0 18 8
17260805 cera 1 pano branco 0:05:00
machado
galinha 1 0:15:00
grande
machado
1 0:14:00
médio
1 14 0

248
iguanos e pas-
17260806 1 pano branco 0:05:00
sarinhos
2 faca 1,5 0:03:00 0 8 0
aos índios que
irão viajar com
christiaen gemer machado
17260807 19 15 14:05:00
para o rio ori- grande
noco para trazer
cavalos
13 facão grande 15 9:15:00
16 faca 1,5 1:04:00
25 4 0
aos escravos na tecido zaans
17260809 20,5 7 7 3 0
igreja por aulna
peixe e caran-
17260817 2 pano branco 5 0:10:00
geijo
1 faca 0:01:08
0 11 8
17260821 cordas e iguanos 2 faca 1,5 0:03:00
3 contas cacho 1 0:03:00
a um servidor
1 faca 0:01:08
indígena
carangeijo 3 pano branco 5 0:15:00
2 faca 1,5 0:03:00
a um servidor ferro de
1 0:14:00
indígena casava grande
1 19 8
carne de veado
machado
17260823 salgado pelos 6 15 4:10:00
grande
índios beira mar
2 facão medio 14 1:08:00
3 faca 1,5 0:04:08
6 2 8
berimbao de
17260824 carangeijo 2 0,5 0:01:00
boca
espelho flan-
1 0:01:04
des

249
para pano de pano osna-
mesa, toalha e 272,75 bruck branco 4 54:11:00
toalha de mesa por aulna
fio de costu-
para marcar
rar colorido
esses panos e 3 1,5 0:04:08
por 100
toalhas
gramas
54 17 12
17260825 aos remadores 3 pano branco 5 0:15:00
3 contas cacho 1 0:03:00
berimbao de
2 0,5 0:01:00
boca
aos escravos
2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar
facão grande
3 14 2:02:00
de trabalho
4 7 0
a uma escrava
pano osna-
indígena para
17260826 7 bruck branco 4 1:08:00
comprar uma
por aulna
canoa pequena
facão grande
a um escravo 1 0:14:00
de trabalho
1 navalha 0:02:00
aos escravos no
4 enchada 13 2:12:00
wiruni
a um servidor
1 navalha 0:02:00
indígena
espelho flan-
1 0:01:04
des
4 19 4
ás mulheres de
17260827 3 faca 1,5 0:04:08
pão
aos escravos
3 enchada 13 1:19:00
para trabalhar
facão médio
3 13 1:19:00
de trabalho

250
carregar correio
4 contas cacho 1 0:04:00
do rio demerara
4 6 8
machado
17260828 pau de timbó 1 0:15:00
grande
2 pano branco 5 0:10:00
ás moças indíge- contas por
45 8 18:00:00
nas e ás escravas libra
berimbao de
carangeijo 1 0:00:08
boca
carne de veado machado
1 0:15:00
salgado grande
vasilhas 9 contas cacho 1 0:09:00
20 9 8
a um escravo
indígena para machado
17260829 1 0:15:00
comprar uma grande
rede
2 faca 1,5 0:03:00
4 contas cacho 1 0:04:00
carregar correio
2 faca 1,5 0:03:00
do rio corantijn
a um índio que
1 faca 0:01:08
faz serviço
aos escravos
2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar
facão médio
2 13 1:06:00
de trabalho
3 18 8
cachimbos
para uso dos
17260902 12 longos por 1:00:00
conselheiros
dúzia
peixe 1 faca 0:01:08
cordas 9 contas cacho 1 0:09:00
espelho flan-
churrasco 2 1:04 0:02:08
des

251
um papagaio 1 pano branco 0:05:00
1 18 0
aos remadores
17260905 e para cesta 4 pano branco 5 1:00:00
(habas)
2 faca 1,5 0:03:00
a um servidor
1 faca 0:01:08
indígena
1 4 8
17260909 a uma escrava 1 enchada 0:13:00
facão grande
1 0:14:00
de trabalho
1 7 0
carregar correio
17260910 1 pano branco 0:05:00
do rio essequibo
peixe 1 pano branco 0:05:00
machado
pau de timbó 1 grande de 0:14:00
trabalho
1 pano pardo 0:04:06
2 faca 1,5 0:03:00
cordas e algodão 9 contas cacho 1 0:09:00
carangeijo 2 pano pardo 4:06 0:08:12
2 9 2
ovos de iguano e
17260914 1 pano branco 0:05:00
galinha
2 faca 1,5 0:03:00
peixe 3 contas cacho 1 0:03:00
0 11 0
aos escravos
17260915 2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar
1 faca 0:01:08
1 navalha 0:02:00
1 pano pardo lap 0:04:06

252
1 13 14
algodão e uma
17260918 2 pano branco 5 0:10:00
cesta (pagaal)
peixe 2 faca 1,5 0:03:00
0 13 0
a um escravo
17260920 1 enchada 0:13:00
indígena
1 faca 0:01:08
berimbao de
1 0:00:08
boca
0 15 0
pau de timbó e
17260921 4 contas cacho 1 0:04:00
cordas
facão
1 0:12:00
pequeno
ferro de
1 0:14:00
casava grande
vasilhas 3 contas cacho 1 0:03:00
a alguns índios
que fazem ser- 2 navalha 2 0:04:00
viço
pano osna-
galinha 6 bruck branco 4 1:04:00
por aulna
espelho flan-
1 0:01:04
des
1 enxó de canoa 0:12:00
facão médio
a um escravo 1 0:13:00
de trabalho
cesta (habas) 1 navalha 0:02:00
2 faca 1,5 0:03:00
4 18 4
17260922 peixe 1 navalha 0:02:00
machado
a um escravo 1 grande de 0:14:00
trabalho
1 facão medio 0:14:00

253
1 10 0
17260923 peixe 2 faca 1,5 0:03:00
4 contas cacho 1 0:04:00
cera 9 contas cacho 1 0:09:00
a um servidor
1 enchada 0:13:00
indígena
1 faca 0:01:08
1 navalha 0:02:00
1 12 8
a mathies keijser
por fabricar
pano osna-
caixas para guar-
17260929 12 bruck branco 4 2:08:00
dar os fuzis da
por aulna
guarnição dessa
colonia
carangeijo 1 pano branco 0:05:00
peneiras (mana-
ri) e expremer 2 pano branco 5 0:10:00
mandioca
1 faca 0:01:08
3 4 8
17261001 melancia 3 contas cacho 1 0:03:00
aos remadores 6 contas cacho 1 0:06:00
3 pano branco 5 0:15:00
1 navalha 0:02:00
1 6 0
17261003 carangeijo 1 pano branco 0:05:00
1 pano pardo 0:04:06
machado
galinha 1 0:14:00
médio
2 faca 1,5 0:03:00
berimbao de
1 0:00:08
boca
1 tesoura 0:02:00
1 8 14

254
17261004 iguanos 3 contas cacho 1 0:03:00
cordas e algodão 2 faca 1,5 0:03:00
5 contas cacho 1 0:05:00
0 11 0
aos escravos
17261007 2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar
facão médio
2 13 1:06:00
de trabalho
2 12 0
17261008 cordas 10 contas cacho 1 0:10:00
2 pano pardo 4:06 0:08:12
2 navalha 2 0:04:00
1 2 12
aos índios que
trouxeram hoje
do rio demerara
17261009 3 pano branco 5 0:15:00
os cavalos leva-
dos por christia-
en gesner
3 faca 1,5 0:04:08
3 contas cacho 1 0:03:00
1 2 8
aos remadores,
17261010 para cera e para 5 contas cacho 1 0:05:00
passarinhos
3 pano branco 5 0:15:00
vasilhas 7 contas cacho 1 0:07:00
1 7 0
para a captura de
um negro fugido
17261011 1 pano branco 0:05:00
da fazenda ma-
rkay
2 faca 1,5 0:03:00
aos escravos
2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar

255
facão médio
1 0:13:00
de trabalho
aos remadores e
4 pano branco 5 1:00:00
para peixe
8 contas cacho 1 0:08:00
pano guinea
galinha 3 azul por 12 1:16:00
aulna
1 facão grande 0:15:00
6 6 0
17261012 churrasco 1 faca 0:01:08
1 tesoura 0:02:00
espelho dou-
galinha 1 0:08:00
rado
0 11 8
trazido por
christiaen gesner
no 9 de outobro pano osna-
17261013 do rio orinoco 12 498 bruck branco 4 99:10:00
cavalos, um dos por aulna
quais morreu na
viagem
pano osna-
460 bruck pardo 3,5 80:10:00
por aulna
pano listrado
95 branco por 8 38:00:00
aulna
552 faca 1,5 41:08:00
contas por
83 8 33:04:00
libra
192 12 0
um barril de co-
chapeu re-
paíba [houdende 5 55 13:15:00
gular
circa 46 stoopen]
sapato mas-
6 40 12:00:00
culino

256
alpargata
2 masculina um 30 3:00:00
par
alpargata
2 feminina um 36 3:12:00
par
canela cem
1 4:00:00
gramas
cravo cem
16 6 4:16:00
gramas
castanha cem
12 5 3:00:00
gramas
macis por
8 6 2:08:00
cem gramas
libra de
1 pimenta do 0:10:00
reino
47 1 0
gastos durante
da viagem e machado
6 15 4:10:00
taxas pago aos grande
espanhois
3 facão médio 15 2:05:00
70 faca 1,5 5:17:00
contas por
8 8 3:04:00
libra
15 16 0
aos remadores,
17261014 para cera e para 2 faca 1,5 0:03:00
peixe
3 pano branco 5 0:15:00
4 contas cacho 1 0:04:00
1 tesoura 0:02:00
1 4 0
tartarugas e
17261015 1 pano branco 0:05:00
algodão
1 faca 0:01:08
1 navalha 0:02:00

257
berimbao de
3 0,5 0:01:08
boca
6 contas cacho 1 0:06:00
0 16 0
17261016 um passaro 4 contas cacho 1 0:04:00
a alguns índios
que fazem servi-
2 pano pardo 4:06 0:08:12
ço e ás mulheres
de pão
12 faca 1,5 0:18:00
aos escravos
3 enchada 13 1:19:00
para trabalhar
facão grande
2 14 1:08:00
de trabalho

carregar correio
4 faca 1,5 0:06:00
do rio corantijn
algodão e cordas 10 contas cacho 1 0:10:00
2 navalha 2 0:04:00
espelho flan-
2 1,25 0:02:08
des
6 0 8
17261019 cera e algodão 14 contas cacho 1 0:14:00
aos escravos
5 enchada 13 3:05:00
para trabalhar
facão médio
4 13 2:12:00
de trabalho
machado
2 grande de 14 1:08:00
trabalho
a alguns índios
que fazem ser- 2 navalha 3 0:04:00
viço
2 faca 1,5
espelho flan-
2 1,25 0:02:08
des
8 8 8

258
machado
17261021 galinha 1 0:15:00
grande
espelho dou-
2 8 0:16:00
rado
berimbao de
1 0:00:08
boca
1 11 8
pago par traba-
lho de pintura
17261023 na igreja para 12 0 0
jan godfriedt
surijtser
boesewij
verigten*[serviço 5 contas cacho 1 0:05:00
desconhecido]
aos escravos
3 enchada 13 1:19:00
para trabalhar
2 4 0
a captura do machado
27 2 15 1:10:00
escravo quakoe grande
machado
pau de timbó 2 14 1:08:00
médio
2 18 0
berimbao de
17261028 cera e algodão 2 0,5 0:01:00
boca
2 faca 1,5 0:03:00
4 contas cacho 1 0:04:00
0 8 0
aos escravos
17261103 2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar
machado
3 grande de 14 2:02
trabalho
1 facão medio 0:14:00
pano osna-
galinha 8 bruck branco 4 1:12:00
por aulna
5 14 0

259
a alguns índios
17261108 que fazem ser- 2 tesoura 2 0:04:00
viço
2 navalha 2 0:04:00
4 contas cacho 1 0:04:00
0 12 0
churrasco, aos
remadores, para
17261109 10 contas cacho 1 0:10:00
algodão e para
cera
4 pano branco 5 1:00:00
2 tesoura 2 0:04:00
1 faca 0:01:08
1 15 8
ferro de
17261111 galinha 2 14 1:08:00
casave
1 faca 0:01:08
berimbao de
1 0:00:08
boca
aos escravos facão médio
2 13 1:06:00
para trabalhar de trabalho
3 enchada 13 1:19:00
peixe e caran-
9 contas cacho 1 0:09
geijo
5 4 0
17261116 para uso 24 sabao libra 6 7:04:00
peixe e caran-
3 pano branco 5 0:15:00
geijo
um veadinho 2 pano pardo 4:06 0:08:12
aos remadores 4 pano branco 5 1:00:00
berimbao de
1 0:00:08
boca
espelho flan-
1 0:01:04
des
9 9 8

260
aos escravos facão médio
17261117 3 13 1:19:00
para trabalhar de trabalho
facão grande
2 14 1:08:00
de trabalho
3 7 0
machados
17261118 galinha 2 12 1:04:00
pequenos
machados
1 0:15:00
grandes
3 faca 1,5 0:04:08
2 3 8
a um servidor
17261119 1 navalha 0:02:00
indígena
1 faca 1,5 0:01:08
0 3 8
17261120 carangeijo e cera 4 pano branco 5 1:00:00
13 contas cacho 1 0:13:00
cordas e algodão 3 faca 1,5 0:04:08
9 contas cacho 1 0:09:00
2 6 8
a alguns índios
17261123 que fazem ser- 2 faca 1,5 0:03:00
viço
2 pano branco 5 0:10:00
0 13 0
algodão
17261124 galinha 2,5 branco por 10 1:10:00
aulna
3 pano branco 5 0:15:00
carangeijo 1 pano branco 0:05:00
berimbao de
1 0:00:08
boca
espelho flan-
1 0:01:04
des
2 11 12

261
aos escravos
17261125 5 enchada 13 3:05:00
para trabalhar
facão médio
2 13 1:06:00
de trabalho
machado
2 grande de 14 1:08:00
trabalho
5 19 0
peneiras (mana-
17261126 1 faca 0:01:08
ri) e cesta (habas)
2 navalha 2 0:04:00
1 tesoura 0:02:00
5 contas cacho 1 0:05:00
0 12 8
fio de costu-
ao constabel para rar colorido
17261127 12 1,5 0:18:00
fazer cartuchos por 100
gramas
a um servidor facão médio
1 0:13:00
indígena de trabalho
1 pano pardo 0:04:06
a frans heffener pano osna-
por fazer vasi- 12 bruck branco 4 2:08:00
lhas por aulna
cera e carangeijo 7 contas cacho 1 0:07:00
4 10 6
peneiras (mana-
17261128 2 pano branco 5 0:10:00
ri) e cesta (habas)
1 tesoura 0:02:00
0 12 0
17261130 peixe e churrasco 3 contas cacho 1 0:03:00
a algumas escra-
4 faca 1,5 0:06:00
vas indígenas
12 contas cacho 1 0:12:00

262
1 1 0
vasilhas, patatas
17261201 14 contas cacho 1 0:14:00
e peixe
espelho flan-
2 1,25 0:02:08
des
1 faca 0:01:08
0 18 0
17261203 um passarinho 2 contas cacho 1 0:02:00
iguanos 2 faca 1,5 0:03:00
berimbao de
2 0,5 0:01:00
boca
0 6 0
60 barris de
peixe [jarouw]
machado
17261204 salgado pelos 23 15 17:05:00
grande
índios no rio
canje
machado
14 14 9:16:00
médio
machados
22 12 13:04:00
pequenos
5 facão grande 15 3:15:00
4 facão médio 14 2:16:00
facão
9 12 5:08:00
pequeno
machado
6 grande de 14 4:04:00
trabalho
2 facão médio 14 1:08:00
6 enchada 13 3:18:00
ferro de
2 14 1:08:00
casave
enxó de
5 12 3:00:00
canoas
21 pano branco 5 5:05:00
9 pano pardos 4:06 1:19:06
7 espelho preto 8 2:16:00

263
espelho dou-
6 8 2:08:00
rado
espelho flan-
11 1,25 0:13:12
des
13 faca 1,5 0:18:08
5 tesoura 2 0:10:00
4 navalha 2 0:08:00
contas por
46 8 18:08:00
libra
contas por
1,5 8 0:12:00
libra (tawas)
## 1 10
machado
aos escravos
17261205 2 grande de 14 1:08:00
para trabalhar
trabalho
2 facão médio 14 1:08:00
2 enchada 13 1:06:00
4 2 0
peixe salgado
machado
17261206 pelos índios 3 15 2:05:00
grande
beira mar
machado
8 12 1:04:00
pequeno
6 pano branco 5 1:10:00
berimbao de
6 0,5 0:03:00
boca
4 faca 1,5 0:06:00
8 contas cacho 1 0:08:00
5 16 0
machado
para uso no pos-
17261207 1 grande de 0:14:00
to da guarda
trabalho
1 facão medio 0:14:00
2 contas cacho 1 1:10
machado
a dois índios que
17261208 2 grande de 14 1:08:00
fazem serviço
trabalho

264
libra de
para uso na
1 pimenta do 0:10:00
cozinha
reino
castanha cem
8 5 2:00:00
gramas
macis por
8 6 2:08:00
cem gramas
canela cem
8 5 2:00:00
gramas
8 6 0
17261206 a uma escrava 6 contas cacho 1 0:06:00
1 faca 0:01:08
algodão e cera 5 contas cacho 1 0:05:00
berimbao de
4 0,5 0:02:00
boca
0 14 8
17261210 churrasco 2 pano branco 5 0:10:00
1 faca 0:01:08
machado
galinha 1 0:15:00
grande
1 facão medio 0:15:00
aos escravos
17261211 3 enchada 13 1:19:00
para trabalhar
machado
2 grande de 14 1:08:00
trabalho
facão grande
3 14 2:02
de trabalho

facão médio
2 13 1:06:00
de trabalho
6 15 0
a dois índios que
17261212 2 faca 1,5 0:03:00
fazem serviço
tecido flamen-
a uma escrava 4,5 go por aulna 7 1:11:08
(lijwaat)

265
carangeijo e cera 2 pano branco 5 0:10:00
1 pano pardo 0:04:06
3 faca 1,5 0:04:08
4 contas cacho 1 0:04:00
para sacos par tecido flamen-
guardar chum- 3 go por aulna 7 1:01:00
binho (lijwaat)
3 10 6
aos escravos
17261213 8 enchada 13 5:04:00
para trabalhar
churrasco 2 faca 1,5 0:03:00
a uma escrava 1 faca 0:01:08
4 contas cacho 1 0:04:00
5 12 4
17261219 aos remadores 1 pano branco 0 5 0
17261220 algodão 15 contas cacho 1 0:15:00
aos escravos facão grande
2 14 1:08:00
para trabalhar de trabalho
3 facão médio 13 1:19:00
4 2 0
vasilhas, cordas e
17261226 7 faca 1,5 0:10:08
pau de timbó
19 contas cacho 1 0:19:00
berimbao de
2 0,5 0:01:00
boca
1 10 8
cordas e cesta
17270102 8 contas cacho 1 0:08:00
(habas)
3 faca 1,5 0:04:08
4 pano branco 5 1:00:00
espelho flan-
3 1,25 0:03:12
des
a uma escrava 1 faca 0:01:08
1 17 12

266
machado
17270104 uma canoa 10 15 7:10:00
grande
4 facão médio 15 3:00:00
2 espelho preto 8 0:16:00
espelho dou-
2 8 0:16:00
rado
2 tesoura 2 0:04:00
2 navalha 2 0:04:00
2 faca 1,5 0:03:00
2 pano branco 5 0:10:00
machado
2 12 1:04:00
pequeno
2 facão médio 12 1:04:00
1 enxó de canoa 0:12:00
contas por
1 0:08:00
libra
contas por
0,5 0:04:00
libra (tawas)
20 contas cacho 1 1:00:00
17 15 0
17270103 algodão 4 contas cacho 1 0:04:00
a um escravo
1 faca 0:01:08
indígena
1 navalha 0:02:00
1 tesoura 0:02:00
0 9 8
para uso na canela cem
17270106 8 5 2:00:00
cozinha gramas
cachimbos
para uso dos
25 longos por 2:00:00
conselheiros
dúzia
4 0 0
17270107 a uma escrava 6 contas cacho 1 0:06:00
1 enchada 0:13:00

267
tecido flamen-
3,5 go por aulna 7 1:04:08
(lijwaat)
2 3 8
para um jovem
17270108 burro do mato 2 facão médio 14 1:08:00
(anta)
cera e ovos 13 contas cacho 1 0:13:00
a um servidor facão médio
1 0:13:00
indígena de trabalho
2 14
tecido flamen-
para velas da
17270109 30 go por aulna 7 10:10:00
canoa
(lijwaat)
ás mulheres de
5 faca 1,5 0:07:08
pão
peixe 3 contas cacho 1 0:03:00
aos remadores 2 pano branco 5 0:10:00
11 10 8
a uma escrava
indígena para
17270112 4 contas cacho 1 0:04:00
comprar uma
rede
1 facão grande 0:15:00
2 pano branco 5 0:10:00
4 faca 1,5 0:06:00
1 navalha 0:02:00
1 17 0
17270113 carangeijo 2 contas cacho 1 0:02:00
machado
galinha 1 0:15:00
grande
1 facão medio 0:15:00
aos remadores 2 pano branco 5 0:10:00
2 pano pardos 4:06 0:08:12

268
na caixa de car-
gasoen para uso 200 agulha 1:04:00
diário
2 alfinete 0:04:00
3 18 12
a alguns índios
17270114 que fazem ser- 3 pente 1,5 0:07:08
viço
pente de
3 2 0:06:00
marfim
2 tesoura 2 0:04:00
0 17 8
aos remadores,
17270116 para algodão e 1 pano pardo 0:04:06
para cera
8 contas cacho 1 0:08:00
1 faca 0:01:08
2 pano branco 5 0:10:00
1 3 14
expremer man-
18 1 pano branco 0:05:00
dioca
1 tesoura 0:02:00
2 navalha 2 0:04:00
3 contas cacho 1 0:03:00
aos escravos
3 enchada 13 1:19:00
para trabalhar
machado
7 grande de 14 4:18:00
trabalho
7 11 0
a alguns índios
17270119 que fazem ser- 2 faca 1,5 0:03:00
viço
2 tesoura 2 0:04:00
1 navalha 0:02:00
a uma escrava 1 faca 0:01:08

269
3 contas cacho 1 0:03:00
0 13 8
17270125 cera 10 contas cacho 1 0:10:00
tecido flamen-
a algumas escra-
12 go por aulna 7 4:04:00
vas indígenas
(lijwaat)
carangeijo 2 faca 1,5 0:03:00
1 navalha 0:02:00
4 19 0
aos remadores e
17270130 2 pano branco 5 0:10
para cera
3 contas cacho 1 0:03:00
algodão 9 contas cacho 1 0:09:00
a um servidor
1 pano pardo 0:04:06
indígena
1 faca 0:01:08
espelho flan-
1 0:01:04
des
1 9 2
17270201 carangeijo 1 pano branco 0:05:00
2 navalha 2 0:04:00
vasilhas 12 contas cacho 1 0:12:00
1 1 0
17270203 carne de veado 3 pano branco 5 0 15 0
a alguns índios
17270205 que fazem ser- 8 contas cacho 1 0:08:00
viço
3 pano branco 5 0:15:00
2 faca 1,5 0:03:00
1 6 0
17270209 passarinhos 2 faca 1,5 0:03:00
1 grauwe lap 0:04:06
0 7 6

270
machado
17270215 galinha 1 0:15:00
grande
1 facão médio 0:14:00
1 9 0
aos escravos
17270216 1 enchada 0:13:00
para trabalhar
facão médio
1 0:13:00
de trabalho

carregar correio
2 faca 1,5 0:03:00
do rio corantijn
espelho de
1 0:01:04
flandes
cesta (habas) e
expremer man- 3 pano branco 5 0:15:00
dioca
1 navalha 0:02:00
2 7 4
algodão e penei-
17270217 8 contas cacho 1 0:08:00
ras (manari)
2 pano branco 5 0:10:00
0 18 0
17270218 a um escravo 1 faca 0:01:08
aos remadores 1 pano pardo 0:04:06
2 pano branco 5 0:10:00
0 15 14
machado
17270219 uma canoa 8 15 6:00:00
grande
machados
2 12 1:04:00
pequenos
2 facão grande 15 1:10:00
1 enxó de canoa 0:12:00
10 contas cacho 1 0:10:00
espelho dou-
2 8 0:16:00
rado
2 tesoura 2 0:04:00

271
2 navalha 2 0:04:00
2 faca 1,5 0:03:00
11 3 0
vasilhas, caldei-
17270220 28 contas cacho 1 1:08:00
ras e cordas
2 faca 1,5 0:03:00
1 pano pardo 0:04:06
1 15 6
17270221 cera e algodão 1 faca 0:01:08
4 contas cacho 1,5 0:04:00
a alguns escravos 1 pano pardo 0:04:06
2 navalha 2 0:04:00
1 faca 0:01:08
vasilhas 5 contas cacho 1 0:05:00
1 0 6
17270224 a uma escrava 1 enchada 0:13:00
facão médio
1 0:13:00
de trabalho
berimbao de
peixe 1 0:00:08
boca
1 6 8
para uso na castanha cem
17270226 8 5 2:00:00
cozinha gramas
macis por
8 6 2:08:00
cem gramas
canela cem
8 5 2:00:00
gramas
cravo cem
8 6 2:08:00
gramas
8 16 0
17270228 cordas e algodão 1 pano pardo 0:04:06
2 pano branco 5 0:10:00
12 contas cacho 1 0:12:00
1 6 6

272
aos escravos
17270303 3 enchada 13 1:19:00
para trabalhar
facão grande
1 0:14:00
de trabalho
peneiras (ma-
2 faca 1,5 0:03:00
nari)
1 tesoura 0:02:00
espelho flan-
1 0:01:04
des
carangeijo e
1 pano branco 0:05:00
vasilhas
9 contas cacho 1 0:09:00
1 faca 0:01:08
3 14 12
a alguns índios
17270308 que fazem ser- 3 faca 1,5 0:04:08
viço
2 tesoura 2 0:04:00 0 8 8
17270311 churrasco 2 navalha 2 0:04:00
berimbao de
1 0:00:08
boca
0 4 8
17270317 a um escravo 1 pano pardo 0:04:06
carangeijo, cor-
1 pano pardo 0:04:06
das e vasilhas
10 contas cacho 1 0:10:00
0 18 12
machado
17270320 galinha 1 0:15:00
grande
4 contas cacho 1 0:04:00
0 19 0
17270321 cesta (habas) 3 pano branco 5 0:15:00
1 faca 0:01:08
0 16 8
17270323 peixe 2 contas cacho 1 0:02:00

273
contas por
cera 0,25 0:02:00
libra (tawas)
0 4 0
machado
17270324 pau de timbó 1 0 15 0
grande
a alguns escravos
17270326 1 pano branco 0:05:00
indigenas
1 faca 0:01:08
1 tesoura 0:02:00
1 navalha 0:02:00
pano osna-
ás moças 57,25 bruck branco 4 11:09:00
por aulna
pano osna-
57,25 bruck pardo 3,5 10:00:06
por aulna
contas por
3 8 1:04:00
libra
peneiras (ma-
3 faca 1,5 0:04:08
nari)
a duas escravas 2 faca 1,5 0:03:00
23 11 6
berimbao de
17270328 carangeijo 1 0:00:08
boca
2 contas cacho 1 0:02:00
0 2 8
17270329 galinha 1 enchada 0:13:00
pano osna-
4 bruck branco 4 0:16:00
por aulna
1 9 0
a um servidor facão médio
17270330 1 0:13:00
indígena de trabalho
a três escravos 3 pano pardo 4:06 0:13:02
1 6 2

274
alimentos dos
índios que
17270331 fizeram uma 6 faca 1,5 0:09:00
viagem para o
rio orinoco
contas por
4,75 8 1:18:00
libra
2 pond karbee 8 0:16:00
contas por
1 8 0:8:P0
libra (tawas)
usado no escri-
papel (boek-
tório desde 31 de 62,5 4 12:10:00
papier)
março 1726
16 1 0

valor total dos


1927 2 10
gastos

275
ANEXO 3: LIVRO DE CONTABILIDADE DIÁRIO
DE CARGA DA FAZENDA MARKAY 1726-1727
(NL-HANA_1.05.05_61.13)

Guia

data: ano, mês, dia


entrada: motivo do pagamento das mercadorias
unidade: mercadoria
quantia: quantidade das mercadorias pago

data entrada unidade quantia


17260601 aos índios da fazenda machado de trabalho 1
navalha 2
tesoura 2
faca 2
aos índios da fazenda e
17260603 facão de trabalho pequeno 2
aos escravos
faca 2
17260605 aos cortadores de grama faca 1
17260608 para galinha machado grande 1
machado pequeno 1
para a casa de fornalha e
17260611 ferro de casave 1
moenda
faca 1
17260614 para abacaxi faca 1
17260615 aos índios da fazenda facão de trabalho 4
faca 3
para cestas [habaas] e
17260617 faca 1
castanha do Pará
cacho de contas 5

277
distribuido ás escravas
17260618 contas libra 8
indigenas da fazenda
17260619 aos cortadores de grama faca 1
ao índio do posto de
17260620 navalha 1
guarda
tesoura 1
17260621 aos escravos facão de trabalho grande 1
vasilhas de poteria e
17260623 cacho de contas 8
abacaxi
aos escravos e para vasi-
17260630 cacho de contas 5
lhas de poteria
uma canoa pequena e
17260701 machado grande 2
vasilhas de poteria
facão grande 1
espelho flandes 2
cacho de contas 8
aos escravos; aos índios
17260706 da fazenda e para rema- facão de trabalho grande 8
ra para o forte
faca 4
17260708 aos escravos facão de trabalho grande 3
navalha 4
17260712 carne de veado faca 3
habas e vasilhas de pote-
17260713 espelho flandes 2
ria e galinha
cacho de contas 6
aos índios da fazenda,
aos escravos, para gali-
17260714 facão de trabalho grande 1
nha e para vasilhas de
poteria
faca 4
cacho de contas 30
17260716 batatas cacho de contas 3
aos escravos e para
17260717 facão de trabalho grande 1
cordas

278
facão de trabalho pequeno 1
faca 2
aos escravos e para
17260720 facão de trabalho pequeno 1
cordas
faca 1
17260721 aos escravos machado de trabalho 1
facão de trabalho pequeno 1
aos escravos e para algo-
17260722 machado de trabalho 2
dão para a lampada
machado médio 2
galinha e para remar
17260727 para [fazenda] Westsou- machado pequeno 1
burg
cacho de contas 4
17260729 aos escravos machado de trabalho 1
faca 1
17260730 batatas e aos escravos enchada de trabalho 3
facão de trabalho pequeno 1
cacho de contas 3
aos escravos, para algo-
17260803 machado de trabalho 1
dão, para cestas [habaas]
facão de trabalho grande 1
faca 1
cacho de contas 2
Compra de uma escrava
17260805 indígena e para remar enchada de trabalho 1
ao forte
machado de trabalho 1
machado grande 7
facão grande 7

279
espelho preto 1
espelho dourado 1
tesoura 2
faca 3
cacho de contas 5
Tawajes* [desconhecido,
talvez tipo de conta de 2
vidro]
aos índios da fazenda e
17260811 enchada de trabalho 2
aos escravos
facão de trabalho grande 1
navalha 1
tesoura 4
vasilhas de poteria,
peixe e para um pano
17260813 faca 2
[tanga] para uma nova
escrava
cacho de contas 17
a nova escrava para uma
17260821 rede, aos escravos e aos facão de trabalho grande 1
índios da fazenda
machado pequeno 1
faca 2
aos escravos, aos índios
17260824 da fazenda e para caran- enchada de trabalho 1
geijo
machado de trabalho 3
facão de trabalho grande 2
facão de trabalho pequeno 1
espelho dourado 1
espelho flandes 1
navalha 1
faca 3
17260828 vasilhas de poteria faca 1
cacho de contas 1

280
ao índio que trouxe a
carta ou o tempo da
17260911 machado de trabalho 1
viagem para rio Canje e
distribuido aos escravos
facão de trabalho grande 1
tesoura 1
tawajes 6
17260914 aos cortadores de grama faca 1
aos escravos, para gali-
17260915 machado de trabalho 1
nha e para peixe
machado grande 1
machado pequeno 1
faca 3
ao índio do posto de
guarda, aos cortadores
17260917 facão de trabalho grande 1
da grama e aos índios da
fazenda
machado pequeno 1
faca 2
17260919 aos índios da fazenda faca 2
17260923- galinha e aos índios da
tesoura 1
27 fazenda
faca 2
17261004 algodão cacho de contas 3
ás crianças das escravas
indígenas para panos
17261006 enchada de trabalho 1
[tangas] e distribuido
aos escravos
machado de trabalho 1
facão de trabalho grande 1
facão de trabalho pequeno 1
cacho de contas 2
tawajes 4
pau de timbó, algodão,
17261008 vasilhas de poteria e machado grande 1
batatas

281
facão grande 1
tesoura 1
cacho de contas 9
vasilhas de poteria e aos
17260909 machado de trabalho 1
escravos
cacho de contas 4
aos cortadores de grama
17261011 navalha 1
e aos escravos
cacho de contas 3
17261016 batatas tawajes 3
17261017 uma canoa machado grande 18
facão grande 1
tawajes 5
Limão, batatas e aos
17261018 enchada de trabalho 2
escravos
machado de trabalho 1
facão de trabalho grande 2
facão de trabalho pequeno 3
espelho preto 1
tawajes 4
aos escravos e aos índios
17261022 machado de trabalho 2
da fazenda
cacho de contas 2
17261029 batatas e carangeijo cacho de contas 1
tawajes 3
17261102 aos cortadores de grama cacho de contas 1
vasilhas de poteria e
17261105 tawajes 1
limão
cera e algodão, carne
17261106 machado pequeno 1
suína e cano de flecha
cacho de contas 2
tawajes 9

282
para remar para [fazen-
17261109 faca 2
da] Den Berg
cacho de contas 3
para algodão, cordas e
17261113 vasilhas de poteria, aos machado grande 1
índios da fazenda
cacho de contas 1
aos índios da fazenda e
17261118 espelho dourado 1
para remar ao forte
cacho de contas 6
aos escravos e para uma
17261120 facão de trabalho 1
canoa pequena
facão de trabalho grande 1
machado pequeno 9
facão grande 9
17261122 aos escravos machado de trabalho 1
aos cortadores de gra-
17261126 ma, aos escravos e para faca 1
limão
cacho de contas 2
17261128 cera machado grande 1
aos índios que pescaram
17261129 enchada de trabalho 2
no rio Canje
machado de trabalho 5
facão de trabalho grande 1
machado grande 25
machado médio 7
machado pequeno 3
facão grande 5
facão médio 6
facão pequeno 3
espelho preto 1
espelho dourado 1

283
espelho flandes 11
navalha 1
tesoura 1
faca 25
cacho de contas 31
tawajes 2
tromp 2
17261206 peixe e limão faca 2
cacho de contas 3
17261208 distribuido aos escravos enchada de trabalho 1
machado de trabalho 3
facão de trabalho grande 1
navalha 1
tesoura 1
duas canoas pequenas
17261209 (corjaal) e para uma machado grande 4
cesta [habas]
machado pequeno 1
facão grande 1
faca 1
ao índio quem ficou no
17261214 facão médio 1
posto de guarda

Cera, cordas e aos índios


17261217 machado grande 2
da fazenda
machado pequeno 1
faca 2
cacho de contas 19
tawajes 8
aos escravos. para algo-
17261220 dão para a lampada e machado pequeno 3
para carne suína
faca 2

284
para remar para [a
17261222 fazenda] Peereboom e cacho de contas 6
para algodão
para expremer mandio-
ca e para fazer beltierie
17261226 faca 2
[bebida fermentada
alcoolica de mandioca]
cacho de contas 4
aos índios da fazenda e
17261230 faca 3
para vasilhas de poteria
cacho de contas 6
17270101 aos índios na fazenda faca 3
Carangeijo, peixe e para
17270106 faca 3
remar ao forte
cacho de contas 4
aos escravos, para ber-
17270110 enchada de trabalho 2
bekot e para peixe
facão de trabalho grande 1
facão de trabalho pequeno 1
faca 1
para indicar o nome de
17270113 machado grande 1
uma árvore de cedro
uma canoa pequena e
17270118 machado grande 1
para peixe
espelho flandes 1
tesoura 2
Algodão, vasilhas de
17270119 cacho de contas 12
poteria
para uma rede (bocks
17270120 kooij) para a escrava navalha 1
indígena
tesoura 1
cacho de contas 1
tawajes 2
17270122 alimentos faca 1

285
para remar para cima
17270125 [do rio], para uma pe- machado grande 2
quena canoa e para cera
lapfaca grande 1
tesoura 1
faca 1
cacho de contas 1
cesta [habaas], expremer
17270128 mandioca e aos índios machado de trabalho 2
da fazenda
facão de trabalho grande 1
tesoura 2
faca 1
aos cortadores de grama
17270201 faca 3
e aos índios da fazenda

carangeijo e aos índios


17270203 tesoura 1
da fazenda
faca 1
cacho de contas 3
17270211 alimento tesoura 2
17270212 ás escravas da fazenda faca 2
17270218 aos escravos facão de trabalho grande 1
cestas [habaas] e vasi-
17270221 tesoura 2
lhas de poteria
cacho de contas 16
uma canoa pequena,
17270222 cera, galinha e aos corta- machado de trabalho 1
dores de grama
machado grande 1
machado médio 2
tesoura 2
faca 2
peixe e vasilhas de
17270228 navalha 1
poteria

286
faca 1
aos escravos, para va-
17270302 silhas de poteria e para Ver entrada dia 10
goma de madeira
aos escravos, para va-
17270304 silhas de poteria e para Ver entrada dia 10
goma de madeira
aos escravos, para va-
17270310 silhas de poteria e para navalha 1
goma de madeira
tesoura 1
cacho de contas 6
tawajes 10
17270315 para remar ao forte tesoura 3
faca 1
Cera, algodão e aos
17270316 machado de trabalho 3
escravos
machado pequeno 1
facão pequeno 1
tesoura 1
17270317 uma canoa pequena machado grande 1
facão grande 1
corda, uma cesta [ pa-
gaaltje], algodão, a uma
17270318 escrava indígena, e para machado grande 1
a compra de uma roça
com mandioca
facão pequeno 1
navalha 1
tesoura 4
faca 2
cacho de contas 16
ao índio do posto de
17270222 tesoura 2
guarda
17270323 aos escravos machado de trabalho 2
facão de trabalho grande 1

287
facão de trabalho pequeno 1
tesoura 1
vasilhas de poteria, gali-
17270326 machado pequeno 1
nha e peixe
facão pequeno 1
navalha 2
tesoura 2
tawajes 10
17270406 cera facão grande 1
carne de churrasco,
17270411 peixe e algodão para a machado grande 1
lampada
machado pequeno 1
facão pequeno 1
navalha 2
faca 1
cacho de contas 4
Beltierri [bebida fer-
mentada alcoolica], para
uma rede para a escrava
17270412 Ver entrada dia 14
indígena e para pernou
[bebida fermentada
alcoolica]
Beltierri [bebida fer-
mentada alcoolica], para
uma rede para a escrava
17270414 tesoura 3
indígena e para pernou
[bebida fermentada
alcoolica]
cacho de contas 6
aos escravos e aos índios
17270421 facão de trabalho grande 2
da fazenda
faca 1
cacho de contas 6
tawajes 6
tromp 1

288
17270426 cera machado de trabalho 1
17270504 aos escravos facão de trabalho grande 4
facão de trabalho pequeno 2
faca 1
17270511 aos escravos machado grande 2
17270519 aos índios da fazenda faca 1
17270521 carne de veado facão de trabalho grande 1
aos escravos e para
17270524 facão de trabalho grande 1
batatas
machado grande 2
cacho de contas 3
aos escravos e aos índios
17270530 facão de trabalho pequeno 1
da fazenda
faca 3
cacho de contas 3
vasilhas de poteria e
17270605 cacho de contas 4
batatas
tawajes 7
aos escravos, aos corta-
17270607 dores de grama e para machado de trabalho 1
batatas
faca 1
cacho de contas 2
tawajes 2
cera, habaas e ‘snope-
rij’ * [desconhecido,
17270612 facão grande 1
talvez algo gostoso para
beliscar]
facão médio 1
facão pequeno 1
faca 3
galinha e aos índios da
17270614 espelho dourado 1
fazenda
espelho flandes 1

289
tesoura 3
cacho de contas 2
17270619 aos índios da fazenda faca 1
aos escravos e aos índios
17270622 faca 1
da fazenda

para carangeijo e aos


17270627 faca 1
índios da fazenda
cacho de contas 3
para remar ao forte, para
17270628 trazer um negro fugido tesoura 1
e para ovos
faca 5
cacho de contas 3
tawajes 6
17270704 distribuido aos escravos facão de trabalho grande 1
facão de trabalho pequeno 3
machado grande 1
17270717 para remar ao forte espelho flandes 1
navalha 1
faca 2
aos remadores e aos
17270721 facão de trabalho grande 2
escravos
facão de trabalho pequeno 1
machado grande 1
tesoura 1
faca 1
cacho de contas 2
cestas [habas] e aos
17270725 ferro de casave 1
índios da fazenda
faca 2
cacho de contas 1
17270801 carangeijo faca 2

290
aos índios da fazenda e
17270806 faca 2
ás índias
tawajes 4
17270813 aos escravos facão de trabalho grande 1
17270815 aos índios da fazenda facão de trabalho grande 1
facão de trabalho pequeno 2
faca 2
aos escravos e aos índios
17270816 faca 2
do posto de guarda

291
ANEXO 4: NOMES DE ESCRAVOS 1726-1736

Tabela 1 - lista alfabética de nomes de escravos indígenas regis-


trados em 1727.
FREQ indica a frequência do nome nos registros.
NOME 1727 FREQ ALIÁS NOME 1727 FREQ ALIÁS
Abiram Jelina 2
Adam Joosje
Alabiere Joris 2
Alida 2 Jouke 2 Klijne Jouke
America Jouwa
Anna 3 Anne Jozijntje
Antonetie Kaatje 3 Caetje
Antony Kabita
Atalante Kaquarie
Bartel Kees 2 Kees Oud
Betje Klaesie 3 Klaesje; Claesie
Cariba Klara 3 Klaertje; Clara
Catarina 2 Lena 3
Coenarie Lisabet
Coridon Louw
Cornelia Maagtje
Cupido 2 Kupido Maay 2 Maytie
Debora 2 Madaleen 3
Diana 2 Majaekes
Dina 2 Maquame
Dirkie Maria 2 Marietje
Elisabet 3 Martijntje
Eva 2 Neeltje
Folida Pieramus 3
Francijntje Piet 3 Pietie; Pietje

293
Fransie Poecinella
Grietje 2 Poeita 2 Puito
Santje; Zaantje;
Hans 2 Hansje Sannetje 5
Zantje
Iroenie Sara 5 Zara
Isie Smities
Jacob Verganie Sophia 3
Jacoba Susanna 2
Jacoe Tannetje
Jakanirae Thisseve
Jan Tielielie
Jan van Kou-
Trijn 2 Trijntje
wenhoven
Jannetje
Jannetje 4 Vette Kinde
Krieke
Willemijn

Nomes de garotos africanos 1727-1735


NOME EUROPEU freq NOME AFRICANO freq
1 Abraham 3 Acarra 2
2 Abroham Acorema
3 Andries Afoe
4 Anthonij Akka
5 Antony Allessoe
6 Baroni Beja
7 Benjamyn Bieloke Mattibe
8 Bootsman Caja
9 Cupido 2 Coesarie
10 Danson Coffy
11 David Ede
12 Een Goma
13 Frans Jutarbie

294
14 Fransie Kabyne
15 Frederik Kangi
16 Fregat Keyta
17 Gratia Kobas
18 Hendrik Kokolokoe
19 Jacob 6 Koteko
20 Jan Broek Kotoef
21 Jan France Lakrooy
22 Jantje 4 Maboeke
23 Jeremias Mafonge
24 Joris Majalle
25 Kakkerlak Malokie
26 Kapita Mange
27 Klaes, Claes 5 Maquame
28 Leeuw Masa
29 Louwie Moesjalle
30 Mars Molallo
31 Matthijs 2 Pangla
32 Moses Pansoe
33 Oranje Quabene
34 Pieramus 2 Quakoe
35 Prins Quasie
36 Santje Quitiklik
37 Savonette Samboe
38 Simon 3 Smauw
39 Thomas Tatarbie
40 Toefje Toela
41 Toetje
42 Willem 3

295
Nomes de garotas africanas 1727-1735
NOME EUROPEU FREQ NOME AFRICANO
Anna 2 1 Adjoe
Ariaantje 2 Bomba
Catharina 3 Cassone
Cicelia, Cicilia 2 4 Dieroke
Clara 5 Habba
Cornelia 6 Kema
Cosijntje 7 Kibonda
Dina 2 8 Kisoner
Eva 9 Maaij
Jacomyntie 10 Maasa
Jannetje 3 11 Makaje
Jannetje 12 Mayman
Jannetje 13 Minge
Kaatje 14 Tonne forrie
Margrieta 15 Zamba
Maria 16
Minge 17
Susanna, Zusanna 3 18

296
ANEXO 5-NOMES: PROPRIETÁRIO-FAMÍLIA,
PLANTAÇÃO-TOPÔNIMO, RIO-IGARAPÉ
(UBA-OTM: HB-KZL_102-21-03)

O conjunto deste anexo foi discutido no Seminário História econômica


regional - Estudos comparativos, Berbice em foco, na mesa redonda “His-
toriografia dos nomes em Berbice”, evento realizado na UFRR-CCH
de 29 a 31 de outubro de 2014.

Proprietário-Família ON Plantação-topônimo ON Rio-igarapé


D. Roos. en Dan[ie] l.
Nl 2 Magdalena (1) Prn.Nl Groot Moera K.
van Eys
I. Nics. en I. Ph. van
Nl 2 Abigael (2) Prn.Nl Groot Moera K.
Eys
D. Roos. en Dan[ie] l. Tp Nl. Ald.
Nl2 Klyn Poelgeest (3)ni Klyn Marena Kr.
Van Eys Leiden
I. Nics. en I. Ph. van Tp. Nl. Ald.
Nl2 Groot Poelgeest (4)ni Itarietica Kr.
Eys Leiden
Atabaja Koel kr.
Kleyn Woega-
boera K.
Sociëteit van Berbice Savonette (4-5)ni Groot Woega-
boera K.
Boeniahanam
Kr. K.
Is. Ferrieras fils de
Fr Montauban (5) Tp. Fr. cid. Jaoelabiajkea K.
Paul. I. 5
e 6. Rigail en I. Rigail
Fr Beystadt (6) ni Tp. Incer. Serebicapara K.
fils
I. Marret Fr Nimweegen (7) Tp. Nl.cid.
Geraud la Lauze Fr Realmonde (8) ni Fr ! Marika Kr.
Matth[ijs] de Feer Nl De Vygeboom (9) Nm.arv. Nl
Sal[omo] n Dedel Nl Oudshoorn (10) ni Tp. Nl. Ald Maocronam Kr.
Coama Kr.
Hara Kr.
Sociëteit van Berbice Oost Souburgh Tp. Nl
Paripi Kr.
Attaracoelli Krk.

297
Elis[abeth] de Feer. Nm.liberdad
Nl De Vreyheyd (11)
Wed v Weeningen nl
I.C. Heyneman Nl Sorg Vliet (12) Nm. Nl. Hoeri Kr.
I. Hudde Dedel Nl Hardenbos (13) ni Nm. Nl. Napa Kr.
Will[em] Gerr[it]
Nl Concordia (14) Nm. Nl.
Dedel
I. Beudeker Nl God Siet Alles (15) Nm. Nl.
H[endri] k Clasingh Nl Meyerbeek (16) Tp. Nl !
Sari Krk.
Sociëteit van Berbice Harden broek ni Tp. Nl Watabaroe K.
Komadal K.
Tp. Nova Alsala K.
Niwe Caraque
caracas Wal Kr.
Nic[olaas] Balk Nl Vreedenrust (17) Nm. N l
Kewere Kaboera
Pieter Bernard Nl Aghthooven (18) Tp. Nl
Kr.
Alakveja Kr.
Sociëteit van Berbice Plantage Markie ni Oababoe Krk
Matalala
Kewere Kaboera
Sociëteit van Berbice Markai ni Kk
Sariabebor K.
I. F. Nicolay Nl Doorn Roos (19) Nm.Nl
De Drie Gebroeders
Ph. Broer Nl Nm.Nl Koara Acoeth K.
(20)
Iac Boule Fr Engeleburgh (21) Nm.Nl
Den Nieuwe Levan-
Herm Berewout Nl Nm.Nl
te (22)
Nm. Nl
Herm Berewout Nl Beerensteyn (23) propriet
Beerewout
Herm Berewout Nl Lands Kroon (24) ni Nm. Nl Isoure Kr.
Will[em] Sautyn en Nl !
Theodora (25) Prn. Nl
Pieter Balguerie Fr
Will[em] Sautyn en Nl !
Maria Henrietta (26) Prn. Nl
Pieter Balguerie Fr
Nm. Nl.
Michiel de Putter Nl Putters Hoop (27)
Propriet.
Michiel de Putter Nl Het Fortuyn (28) Nm. Nl

298
Will[e]m.Gid[eo]n.
Deutz en Corn[eli]s Nl 2 De Agatha (29) Prn. Nl
van Eyk
Will[e]m.Gid[eo]n.
D´Duytsche Eyke- Nm propiet
Deutz en Corn[eli]s Nl 2 Tikarina Kr.
boom (30) Deutz –Eyk
van Eyk
Will[e]m.Gid[eo]n.
Deutz en Corn[eli]s Nl 2 D´Isabella Maria (31) Prn. Nl
van Eyk
De Nieuwe Caracas Tp. Venezu-
G. Teller Nl
(32) ela
Nm. Nl
Ph. Broer Nl Philis Burgh (33) Oamiaboa Kr.
propriet
Fam van
Araha Kr.
Plantagie D Peere- Pere, dona-
Sociëteit van Berbice Kapoeri Krk
boom – ni tário 1627-
Joewaroe Krk
1714
I. Buys I.v Veen A.d
Nm. Nl
Bordes en P. Verma- Nl Den Arent (34)
águia
ten
I. Testas Sp. Fr La Ressource (35) Nm. Fr
M. Testas H n van I. Armedin Kr.
Sp. Fr Ostdorp (36) ni Tp. Nl
Cossart Barbaraka Kr.
Cornelia Jacoba - ni Prn. Nl
Mevr de Wed van
Nl .Fr De Sriering (37) !!
Tol en Etienna Masse
Hend[rik] Grivel Suiça Switzerlant (38) Tp. Sw
Fr. Nm pro-
Dav[id] Dubois Fr Du Bois (39) ni Ibanakoa Kr.
priet
Anna Harteveld Nl Doorn Boom (40) Nm. Nl.
Adr. Van Damme Nl Essendam (41) ni Tp. Nl ! Doeboelivapena
Dav[id] Bern de Nm Nl pro-
Nl De Haan (42) ni Manabecoer Kr.
Haan piet, galo
Katoea Kr.
Plantage Vlissingen Tp Nl
Mojamba Krk.
St Martin de Vertu Wakaroemoeke
C. Allemand Fr Tp. Fr
(43) Kr.
Iac Boulé Fr Altenklingen (44) Tp. Suiça
Prn. Nl ~ Tp
Will[em] Röell Nl Alexandria (45)
Egipico

299
Will[em] Röell NL St Eliesabeth (46) Nm. Sto
Ios. Bellesaigne Fr Hollandia (47) Tp. Nl
Iean Pierre St. Martin Fr Zeelandia (48) ni Tp. Nl [K/H]artibane
Dav[id] Amstein Dui Roosenburgh (49) Tp Nl Kimbia Krk
............. Lelienburgh (50) Tp Nl ! ~Nm
Pieter de Raad Nl Pieter De Raad (51) Nm propriet
Ch. Moynard Fr Castes (52) Tp Fr !
Joeriepis
Mangcaboeli
Krk
Sociëteit van Berbice West Souburgh ni Tp Nl Oboedi koera K.
Kama koeja K.
Masana K.
Cocarel K.
Olivier Chaille Fr Mon Repos (53) Nm. Fr
Van Swaerd Nl Clarenburgh (54) ni Tp Nl ! Moeraar Kr.
Guill. Mottet Fr Westland (55) Tp Nl
Tp Nl (rio
Guill. Mottet FR Maasstroom (56) ni Moerabanaar Kr.
Mass)
Tp Nl, Nm
Mart. van Odekerk Nl Odekerk (57)
propriet
De Drie Gesusters
Pierre Vivier Fr Nm Nl Kaderbicie Kr.
(58) ni
Matarewa kr.
Dalikoeroe
Iac. Voordaagh en De Vrindschap (59) Kreek
Nl 2 Nm Nl
Piet Schrik ni Cuhoera
Ouhoora Kr.
Jocan Kr.
Kapoerie Krk
Sociëteit van Berbice De Berg – ni Nm Nl
Hita Krk
Koerima Kr.
Karabaroe Kr.
Boeheradaroe
Sociëteit van Berbice De Johanna - ni Prn. Nl
Kr.
Markana Kr.
Casairoe Kr.
Bern. Ovink Nl Solitude (60) ni Nm Fr Janhejoe Kr.

300
Tp Nl Nm
Abr. Iac Hiddink Nl Slingelant (61)
fam Nl
Dyeloekoe
Louis Michel Fr Agnes (62) ni Prn. NL
Krk.
Louis Michel Fr Maria en (63) Prn, Nl
De Edar. Comp.
Suyker Plantagie
D´Johanna - ni
Ian Nic.en Mos. van
Eys en Ian en Iacob Nl 2 Oostermeer (64) Tp NL
de Bruyn
Ian de Bruyn. Ian Nic
Nl 2 Hofwerk (65) Nm Nl
en Moses van Eys
I. B. Rietman. R. Dav. Kapadoeli
de Gennes. Iacob Nl Fr Helvetia (66) ni Tp Suiça Koeri Krk.
Sellon en I. L. Sellon Soladoerie Kr.
Nicolaas Huber. en Nm. Pro-
Suiço Zublislust (67)
Paulus Zubly priet. Zubli
Nicolaas Huber. en Nm propriet
Suiço Hubers Burgh (68)
Paulus Zubly Hubers
D´Eendragt Booven
Melch. Wysman. Nl Nm Nl
(69)
I. Kramer Nl Goede Hoop (70) ni Nm Nl Combe
Ite K.
Aharakoeri
Kontakajira K.
I. C. Bakker. Nl De Geertruy (71) ni Prn. Nl Ibanaikoent
Baramorret K.
Asra
Capora
Nm Nl; casa
Sociëteit van Berbice Fort Nassau
Nasau
Kiaraucapara
De Voogelesang
Iac. Mottet. Fr Nm Nl Doejoenare
(72) ni
Krk.
Dui
Tp Lituania
Godefr. Neubaur. (lit- De Stat Dantzig (73)
-Pol
pol)
De Hooft Planta- Baracoeriebana
Sociëteit van Berbice Nm Nl
gie- ni Krk
Iac. en Fr. Van de Nm Nl pro-
Nl De Velde (74)
Velde. priet

301
Iac. en Fr. Van de Nm Nl pro-
Nl De Velde (75) ni Oconokebali K.
Velde. priet
Louis Mauzy Fr (76) ni
Louis Mauzy Fr De Hoop (77) Nm Nl
Nm Nl pro-
Anna Bruynings. Nl Bruninksberg (78)
priet
Ger. en Andr. Deutz. Nl Maria (79) Prn. Nl
Ger. en Andr. Deutz. Nl Wenard (80) !
Doeboeli
Capera K
G. W. Gillot. Fr Aurora (81) ni
Boeroe
Werock
I. C. Hartzink en Al.
Nl 2 Vigelantie (82) Nm Nl
Frensel
Iac. Van Wyngaar-
Nl De Elisabet (83) Prn. Nl
den.
Outenrekoere
Sociëteit van Berbice Dageraat
Krk.
Adr. Van Aldewae-
Belge- Dabeename
relt W. Bus en L. Catharina (84) ni Prn. Nl
Nl Krk.
Michel.
Adr. Van Aldewae-
Belge- Groot Geertruyden-
relt W. Bus en L. Tp Nl
-Nl berg (85)
Michel.
Adr. Van Aldewa-
Belge- Klyn Geertruyden-
erelt W. Bus en L. Tp Nl
-Nl berg (86)
Michel.
D ´Eendragt Benee-
....Cheveriere.... Fr Nm Nl Sari K
den (87) ni
P. Pama. Nl De Wakkerhyt (88) Nm Nl
De Bedagtzamheyt
P. Pama. Nl Nm Nl
(89)
De Voor Zigtigheyt
P. Pama. Nl Nm Nl Doerekoere Krk
(90) ni
Andr. Heyse. Nl Mesopotamia (91) Tp biblia
Hend[ri]k. Waterham Dui (92)
Van Tol. en Masse Nl . Fr (93)
Rievier de Canje
Nm Nl pro-
M. van der Horst. Ni Horstenburgh (1)
prie

302
Is. Broekman. Ni Marianen Burgh (2) Prn Nl
I. E. Fiseaux. en P. Concordia Booven
Fr 2 Nm Nl
Renouard. (3)
I. E. Fiseaux. en P. Concordia Beneeden
Fr 2 Nm Nl
Renouard. (4)
I. E. Fiseaux Fr Remoncourt (5) Nm Fr
,Magdalenen Burgh
Abr. Vernesobre. Fr Prn Nl
(6)
Abr. Vernesobre. Fr Monbijoux (7) Nm Fr
I. Testas. Fr Providence (8) Nm Fr
Abr. Vernesobre. Fr Amsterdam (9) Tp Nl
Ou prenome
Silv. Giraud. Fr Pietersburg (10)
hol
Theoph. Cazenove. Fr Nova Caza (11) Nm Esp
R D. De Gennes Fr Petite Bretagne (12) Tp Fr
R D. De Gennes Fr Gennes (13) Nome dono
R D. De Gennes Fr Helhuat (14) ?
Dartillaet Is. Guitard
Fr 2 De Goederaad (15) Nm Nl
a
Dartillaet Is. Guitard Nm Fr pro-
Fr 2 Guitardenburgh (15)
a priet
Theoph. Cazenove Fr Thoyras (16) Nm Fr
Nome espa-
nhol( talvez
Theoph. Cazenove Fr Don Carlos (16)
rei frances
da espanha)
Magdalena Maria
I.E. Fiseaux Fr Prn Nl
(17)
Herm. Haver. Nl Elisabeth (18) Prn Nl
Arn. Vernold. Nl Cornelia (19) Prn Nl
Nm Nl pro-
F.A. Gaultier. Fr Frederiksburgh (20)
prie Fr

303
Familia com mais de
um lote: Dedel, Be-
rewout, Sautyn, Bal-
guerie, Putter, Deutx,
Eyk, Testas, Roelt,
Mottet, Eys, Huber,
Zubly, Iac., Velde,
Mauzy Ger. Deutz,
Bus, L. Michel, Pama,
Masse, Renouard,
Vernesobre, Gennes,
Guitard a, Cazenove,
Fiseaux (27)= 30%.
Familia : Nl (61) (19+
19 +19 + 4)
Fr (40) NL+Fr (04)
NL+ Bel (03)
Nl+Dui (02) Dui+Pol
(02) Dui (01) Swi (01)

Abreviações Or=Origem do nome: Neerlandês=Neerlandês , Fancês=Fr,


Espanhol=Ep, Deutsch=Dt, Lituânia=Lt); (nome-, proprietário=nm-prop, aldeia=ald.,
topônimo=tp, Kr~K=riacho, igarapé do Neerlandês.
Alguns nomes estão abreviados, e poucos deles puderam ser recons-
tituídos, por exemplo, Dan[ie]l, Matth[ijs], Elis[abeth] etc. Assim o
uso de [ ] indica reconstrução por parte desta autora.
• (Elisabeth de Feer é viuva de Van Weeningen, ref NL-Ha-
NA_1.05.05_63.15)

304
OS AUTORES

Reginaldo Gomes de Oliveira. Doutor em História Social


pela USP (2003). Professor do curso de História da UFRR,
coordenador do projeto de pesquisa “Os séculos XVI e
XVII na Amazônia Caribenha” do Núcleo de Pesquisas
Eleitorais e Políticas da Amazônia (NUPEPA) da UFRR;
produziu estudos integrando fontes neerlandesas e por-
tuguesas (OLIVEIRA 2008, 2011; Hulsman, 2011a, 2011b,
2013). Trabalha com projetos temáticos Indígenas na Cida-
de e tem desenvolvido estudos regionais em parceria com
outras Universidades como as de Georgetown ou Parama-
ribo (OLIVEIRA 2008). (coordenador do projeto).

Rafael Ivan Chambouleyron. Doutor em História pela


University of Cambridge (2005). Atualmente é Professor
Adjunto da Universidade Federal do Pará, atuando no
curso de graduação em História e no Programa de Pós-
-Graduação em História Social da Amazônia. Tem expe-
riência na área de História, com ênfase em História Social
da Amazônia, atuando principalmente nos seguintes te-
mas: 1) território, ocupação e povoamento da Amazônia
colonial; 2) natureza, economia e trabalho na Amazônia
colonial; 3) século XVII e primeira metade do século XVIII.
Chambouleyron publicou sobre o agricultura e trabalho
na Amazônia colonial (CHAMBOULEYRON 2006, 2010,
2010b, 2011). (pesquisador).

305
Lodewijk A.H.C. Hulsman. Doutor em História pela UVA
(2009). Pesquisador da UVA e consultor vinculado à UFRR/
NUPEPA. Trabalha com projetos temáticos voltados para
os estudos de fontes Brasil-Holanda. Consultor do projeto
Atlas Dutch Brazil do New Holland Foundation. Hulsman
publicou vários estudos históricos sobre as Guianas e Ama-
zônia baseados em arquivos neerlandeses (HULSMAN
2009, 2010, 2011a, 2011b, 2012, 2013). (pesquisador).

Maria da Glória Porto Kok é Doutora em História pela


Universidade de São Paulo, pesquisadora pós-doutora
do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, autora de
Artes Indígenas (co-autoria Alberto Martins, Editora Claro
Enigma [Companhia das Letras], 2014); Memórias do Brasil:
uma viagem pelo patrimônio artístico, histórico, cultural e am-
biental (Editora Terceiro Nome, 2011); O Sertão Itinerante.
Expedições da Capitania de São Paulo no século XVIII (Edito-
ra Hucitec/FAPESP, 2004); Os vivos e os mortos na Améri-
ca portuguesa: da antropofagia à água do batismo (Editora da
Unicamp/FAPESP, 2001); A Escravidão no Brasil Colonial
(Saraiva, 6ª edição [1997] 2013), entre outras publicações.

Maria Odileiz Sousa Cruz. Doutora em Letras pela Vrije


Universiteit (2005) Amsterdam, com estágio de Pós-doc
em Leiden Universiteit (2009). Professora de Lingüística do
curso de Letras e do mestrado em Letras-UFRR. Coordena
o Projeto Toponímia Documental: As línguas na Costa das Guia-
nas e Amazonas - séculos XVI e XVII. Boa Vista, 2008-2012.
Silva e Cruz (2011) publicaram sobre as relações fronteiri-
ças Brasil-Venezuela, além de estudos sobre topônimos no
interior das Guianas, em particular o cenário de Roraima, a
partir de fontes holandesas comparadas com os topônimos
atuais (SILVA e CRUZ 2011). (pesquisadora).

306

Você também pode gostar