Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EDUFRR
Boa Vista - RR
2016
SUMÁRIO
CAMINHOS DA AMAZÔNIA
CIRCUM CARIBENHA�����������������������������������������������������������������7
INTRODUÇÃO�������������������������������������������������������������������������������9
Reginaldo Gomes de Oliveira
OS AUTORES������������������������������������������������������������������������������305
Essa pesquisa foi realizada pelo Grupo de pesquisa
7
INTRODUÇÃO
9
XVIII, era parte do processo de mudança de ocupação que
resultou na criação da denominada Sociedade de Berbice.
Esse processo resultou num acervo documental com im-
portantes dados sobre as relações trabalhistas entre os ho-
landeses e os povos indígenas, nas fazendas gerenciadas
pela Sociedade em Berbice.
O processo de estudo do citado acervo documen-
tal tem fomentado uma atenção aos detalhes do singular
inventário econômico e sociocultural apresentados nesta
obra, de modo a tornar possível um maior intercâmbio
histórico, cultural e científico entre os pesquisadores aca-
dêmicos e a sociedade. A idéia do projeto em discussão,
difundida através da presente publicação, foi a de facilitar
a troca de experiências acadêmicas e integração com es-
pecialistas que desenvolvem estudos sobre o escudo das
Guianas, oportunizando assim um debate criativo sobre o
conhecimento histórico e cultural comum.
A obra é composta por quatro capítulos escritos por
especialistas que elaboraram e mapearam questões teó-
ricas e historiográficas, com destaque para a “Fazenda e
Trabalho na Amazônia, mão de obra nas Guianas: o caso
de Berbice (1726-1738)”. Os autores não tiveram a preten-
são de ser exaustivos, mas a diversidade de temas desta-
cados dá oportunidade aos leitores de um conhecimento
atualizado de importantes aspectos anteriores da nossa
história e cultura amazônica caribenha.
Os artigos tratam sobre: “Uma sociedade colonial em
expansão, o Maranhão e o Grão-Pará de meados do sécu-
lo XVII e meados do século XVIII” chama atenção para o
papel desse Estado Independente do denominado Estado
10
do Brasil, sendo criado na década de 1620, sofrendo trans-
formações geopolíticas durante a fase colonial portuguesa
na América, com destaque para conflitos de povos indíge-
nas que ora eram aliados dos portugueses ora aliados dos
franceses, dando condições administrativas ao Grão-Pará
de alargar seu território amazônico e consolidar a presença
de Portugal na região; o artigo a colônia holandesa de Ber-
bice (1726 a 1736), cujo relato mostra a análise das fontes
consultadas no acervo documental, abordando as relações
trabalhistas entre os holandeses e os povos indígenas nas
fazendas pertencentes à Sociedade de Berbice que, duran-
te o século XVII,ultrapassaram em importância econômica
e cultural a colônia do Essequibo. Por conseguinte, o Forte
Nassau foi eleito como lugar central da contabilidade das
fazendas e armazéns da Sociedade; o tema “populações
indígenas na Amazônia Caribenha: um estudo de caso em
Berbice (1726-1738)” abre outras possibilidades de leitu-
ras das ações indígenas nas fazendas holandesas de Ber-
bice, na interface Guiana Holandesa e Guiana Portuguesa,
colocando em evidência o papel dos povos Arawak e os
holandeses, propagando uma complexa dinâmica de in-
tercâmbios como fluxos de produtos, bens culturais e lin-
guísticos; o artigo “Veredas da Guyana, águas e terras no
espaço social Berbice e seus Nomes” aborda essa dinâmi-
ca sociocultural e ambiental estabelecidas pelas distintas
formas de trocas culturais e linguísticas entre os europeus
(holandeses, ingleses e franceses) e os povos indígenas,
como estratégia facilitadora para os deslocamentos en-
tre o litoral e o interior das Guianas (as fontes consulta-
das mostraram o quanto as línguas europeias, indígenas
e africanas se entrelaçaram na colônia de Berbice durante
11
a primeira metade do século XVIII).A obra apresenta tam-
bém um rico anexo, disponibilizando inventário contábil
do Forte Nassau e da Fazenda Markay, com nome de es-
cravos indígenas (1726-1727).
Aproveito para agradecer a todos os autores que,
sensíveis ao nosso projeto “Fazenda e Trabalho na Ama-
zônia, o caso de Berbice”, deram fundamentos importan-
tes com seus valiosos artigos. Agradecemos também o
Arquivo Nacional (Nationaal Archief) de Haia/ Holanda
pela possibilidade da cópia do acervo documental. Nosso
especial agradecimento à equipe do CNPq (Edital Univer-
sal 2013) que possibilitou o financiamento do projeto e ao
Núcleo de Pesquisas Eleitorais e Políticas da Amazônia
(NUPEPA)-Universidade Federal de Roraima (UFRR) que
abriga projeto em foco.
Para concluir, desejo a todos uma boa leitura e temos
consciência de que a nossa missão foi cumprida.
12
UMA SOCIEDADE COLONIAL EM EXPANSÃO.
O MARANHÃO E O GRÃO-PARÁ DE
MEADOS DO SÉCULO XVII A MEADOS
DO SÉCULO XVIII*
Rafael Chambouleyron
Universidade Federal do Pará
13
Do ponto de vista territorial, o Estado do Maranhão
sofre inúmeras transformações ao longo do período colo-
nial (STUDART, 1955). Da sua fundação até meados do
século XVII, incorporava as capitanias reais do Maranhão,
Pará, Gurupá e Ceará, além de capitanias privadas. Em
1656, dele se desvinculou a capitania do Ceará. Até me-
ados do século XVIII, o Estado do Maranhão foi forma-do
por diversas capitanias. Eram capitanias reais o Pará,
Maranhão, Gurupá (na verdade, a fortaleza do Gurupá),
Piauí (a partir de inícios do século XVIII) e São José do Rio
Negro (meados do século XVIII).
As capitanias privadas, que retornaram à Coroa a
partir de meados da década de 1750, eram Cabo do Norte,
Cametá, Caeté e Cumã ou Tapuitapera, todas criadas na
década de 1630.2 Em 1665, foi criada a capitania da Ilha
Grande de Joanes (ilha do Marajó). Houve tam-bém a
tentativa frustrada de efetivação de uma capitania no rio
Xingu, em meados da década de 1680. A capital do Estado
era São Luís, mas em meados do século XVIII, ela se
muda oficialmente para Belém e o território passa a se
chamar Estado do Grão-Pará e Maranhão. Na década
de 1770, desmembrou-se em Estado do Grão-Pará e Rio
Negro e Estado do Maranhão e Piauí.
Boa parte da historiografia brasileira, ainda hoje ex-
cessivamente centrada nos quadros do Estado nacional
não consegue construir um lugar explicativo para o Estado
do Maranhão, inserindo-o, ao invés, em modelos
explicativos construídos a partir do que se considera como as
2
Para além do clássico de António Saldanha de Vasconcelos, sobre
capitanias nas conquistas de Portugal, ver, para a Amazônia:
MIRANDA, 2006; CHAMBOULEYRON, 2010, pp. 82-101; PELEGRIN,
2015, pp. 22-59.
14
áreas dinâmicas da América portuguesa. Nesse sentido,
cristalizou-se na historiografia brasileira e brasilianista a
noção de uma condição periférica do Estado do Maranhão.
Termos como isolamento ou atraso são frequentemente
empregados para definir o desenvolvimento da economia
e sociedade do Estado do Maranhão.
O que quero chamar a atenção aqui é que temos que
apostar em outras matrizes explicativas e superar as fron-
teiras nacionais para entender a complexidade da expe-
riência histórica dessa província setentrional da América
portuguesa. Vou me concentrar aqui no período que vai
de meados do século XVII a meados do século XVIII.
15
Nesse período, o Estado do Maranhão sofre o que
poderíamos denominar de processo de expansão de suas
fronteiras. Esse processo se verifica a oriente e a ocidente
do Estado. Vejamos rapidamente os contextos nos quais se
enquadra o início deste processo
Em primeiro lugar, um quadro mais geral, marcado
pelo declínio do domínio sobre a Índia e pelo deslocamento
do eixo central do império para o Atlântico. Em segundo
lugar, a consolidação da dinastia bragantina, notadamente
durante a regência e o reinado de Dom Pedro II. Esse pro-
cesso está marcado por uma relativa estabilidade política,
e também, como indica Nuno Gonçalo Monteiro, pelo “re-
torno a um modelo bem definido de tomada das decisões
políticas” (MONTEIRO, 2000, p. 130). Em terceiro lugar,
como aponta Vitorino Magalhães Godinho, um considerá-
vel recuo da economia portuguesa do final da década de
1660 até 1693, “prolongada depressão dominada pela crise
do açúcar, tabaco, prata e tráfico de escravos” (GODINHO,
1970, p. 511). Essa crise não significou a retração da ação da
Coroa. O próprio Godinho já chamava a atenção para o fato
de que os portugueses tiveram consciência da crise e da ne-
cessidade de enfrentá-la (GODINHO, 1950, p. 186).
Parte dessas ações voltou-se para as conquistas, caso
do Estado do Maranhão e Pará. Karl Heinz Arenz e Frede-
rik Matos chamam a atenção para a importância de uma
série de medidas tomadas pela Coroa, nesse período, que
denominaram de “pacote socioeconômico”, que certa-
mente criará condições para um movimento de expansão
já na primeira metade do século XVIII (ARENZ & MA-
TOS, 2014, pp. 352-354).
16
Esse novo quadro de finais do século XVII tem uma
série de implicações territoriais.
Por um lado, o que poderíamos identificar com uma
expansão em direção das fronteiras.
Em primeiro lugar, no caso dos vastos sertões
da capitania do Pará, uma economia voltada para
a extração de produtos florestais. Desde o início da
conquista,principalmente no Pará, há um interesse evi-
dente pelos produtos da região, as chamadas “drogas do
sertão”, profundamente marcado pela experiência oriental
de Portugal (CHAMBOULEYRON, 2007, pp. 70-74; CAR-
DOSO, 2010, pp. 9-26). De fato, em diversos momentos ao
longo da segunda metade do século XVII se acreditou que
o Estado do Maranhão pudesse ser uma “nova Índia”, o
que se verificou principalmente com a descoberta do cha-
mado cravo de casca cujo cheiro era semelhante ao do
cravo da Índia (CHAMBOULEYRON, 2014a; CARDOSO,
2015). Por outro lado, a “descoberta” de cacau nas terras
do Pará, pelos portugueses, também a partir de meados do
século XVII, ensejou uma tentativa de reproduzir em ter-
ras paraenses a exitosa experiência castelhana de cultivo e
exploração de cacau, principalmente aquela desenvolvida
na Venezuela (CHAMBOULEYRON, 2014b). Como pode
se ver, a exploração das drogas como o cravo e o cacau,
que se tornaram os principais produtos exportados da re-
gião, estava inspirada não na experiência “brasileira”, mas
sim na experiência oriental (em crise) e na experiência das
Índias de Castela. Ora, a exploração do cacau e do cravo
consolidou um tipo de exploração econômica que signifi-
cou o espraiamento pelos rios e sertões da Amazônia.
Em segundo lugar, a organização de uma lógica de
obtenção de trabalho indígena que pressupunha a expan-
são territorial, por meio de descimentos de índios livres
(para as aldeias missionárias, ou para particulares), das
17
guerras e das expedições de resgates de índios escravos,
formas que se conectavam à exploração das drogas do ser-
tão.3 O grande “celeiro” de mão de obra na região era o
sertão amazônico (inclusive para São Luís e boa parte da
capitania do Maranhão). Cada vez mais, as drogas e os ín-
dios buscavam-se mais longe. As expedições em busca de
trabalhadores indígenas, tal qual as de busca das drogas do
sertão, com as quais se confundiam, aliás, tiveram, portan-
to, uma dimensão territorial fundamental na consolidação
do domínio português, ainda que frágil, sobre a região.
Em terceiro lugar, a condição de fronteira da capitania
do Pará se tornou um problema cada vez mais presente para
a Coroa, e principalmente, autoridades, mas também mora-
dores e missionários. De um lado, a ameaça que se fazia
cada vez mais clara na fronteira noroeste, com a consolida-
ção da presença francesa em Caiena, desde finais do século
XVII. As respostas a essa ameaça serão várias: o acirramen-
to dos conflitos contra alguns grupos indígenas, conside-
rados aliados dos franceses; a tentativa de aliciá-los para o
lado português; a construção de fortalezas; as negociações
diplomáticas que culminarão com a assinatura do Tratado
de Utrecht na década de 1710.4 Mais a oeste, em direção do
3
Ver, por exemplo: SOMMER, 2005; GUZMÁN, 2008; SILVA E
MELLO, 2009a; SILVA E MELLO, 2009b; DIAS, 2009; ARENZ, 2010;
NEVES, 2011; COELHO, 2012; NEVES, 2012; ROCHA, 2013, pp. 187-
240; DIAS., 2014; BOMBARDI, 2014; PELEGRINO, 2015, pp. 60-161;
CHAMBOULEYRON, 2015, pp. 54-71.
4
Para além do primeiro volume do clássico de Arthur Cezar Ferreira
Reis, sobre a fronteira (Reis, Limites e demarcações na Amazônia
brasileira…), a bibliografia é considerável. A pesquisa histórica se
beneficiou da vasta compilação de documentação decorrente das
arbitragens entre o Brasil e a França para definição das fronteiras.
Ver: GOMES, QUEIROZ & COELHO, 1999. Ver, também: CASTRO,
1999; MARIN & GOMES, 2003; REZENDE, 2006; PATELLO, 2010;
BARARUA & CHAMBOULEYRON, 2014.
18
Rio Negro, as missões jesuíticas castelhanas de Maynas se
revelaram um problema (embora àquela altura não tão gra-
ve quanto o do Cabo do Norte), com o aparecimento, em
1689, do religioso jesuíta boêmio a serviço de Castela, padre
Samuel Fritz nas terras que os portugueses consideravam
suas (ALMEIDA, 2003, pp. 113-119; TORRES-LONDOÑO,
2006, pp. 15-43; SILVA, 2007; CAMILO, 2008, pp. 108-113;
MARTINS, 2009; TORRES-LONDOÑO, 2012; DIAS, 2012;
GONZÁLEZ, 2013; DIAS, 2014, pp. 213-219).
Em quarto lugar, em finais do século XVII, a Coroa
determina a divisão do território do Pará em distritos mis-
sionários, repartidos entre as diversas ordens religiosas.
Em termos gerais, os carmelitas ficavam com as aldeias
do Rio Negro; os franciscanos da província da Piedade,
os rios Xingu, Trombetas e Gurebi; aos mercedários, o rio
Urubu; aos franciscanos de Santo Antônio, as terras ao
norte do Amazonas até o Cabo do Norte; coube aos jesuí-
tas os rios que desaguavam na fronteira sul do Amazonas,
o rio Tocantins, Xingu, Tapajós e Madeira.5
Em quinto lugar, o que chamarei de fronteira orien-
tal do Estado do Maranhão. O sul e leste da capitania do
Maranhão e a capitania do Piauí representam igualmente
uma fronteira. Fronteira entre o Estado do Brasil e o Es-
tado do Maranhão, pois o Piauí se incorpora à jurisdição
deste nas primeiras décadas do século XVIII. Mas também
uma fronteira, pois os vastos sertões das duas capitanias
passam a ser ocupados a partir de dois vetores fundamen-
tais: por um lado, uma ocupação mais antiga, da segun-
5
“Para Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho. Sobre mandar
separar distritos e encarregar aos padres de Santo Antonio as missões
do Cabo do Norte”. 19 de março de 1693. Anais da Biblioteca Nacional,
vol. 67 (1948), pp. 142-144; DIAS, 2014, pp. 149-150.
19
da metade do século XVII, vinda principalmente da Bahia
(CABRAL, 1992)6; de outro, uma ocupação comandada de
São Luís pelos governadores do Estado do Maranhão as-
sentada no binômio guerras e sesmarias, que começa a se
configurar já em princípios do século XVIII.
Este vetor decorre da expansão em direção ao les-
te, iniciada a partir da “limpeza” dos sertões da capitania
do Maranhão, principalmente do rio Itapecuru, iniciada já
nos anos 1690. Somente durante o reinado de Dom João V,
os governadores do Estado do Maranhão concederam em
torno de 880 sesmarias nos sertões orientais do Maranhão
e no Piauí, todas elas dedicadas à criação de gado vacum e
cavalar.7 Mais do que isso, distribuíram inúmeras patentes
aos moradores desses sertões legitimando a ocupação já
existente ou a nova ocupação que buscavam garantir.
Assim, além de patentes de postos e ofícios, há vá-
rios postos de ordenanças, que indicam uma fronteira
militar conquistada aos índios; caso de vários moradores
providos em 1727, por João da Maia da Gama: Marçal Cor-
reia Maciel, sargento-mor dos moradores do Itapecuru;
Manuel Gonçalves de Carvalho, sargento-mor da fregue-
sia de Nossa Senhora do Monte do Carmo de Piracuruca;
Antônio Gonçalves George, sargento-mor dos moradores
da freguesia de Santo Antônio de Gurguéia; Antônio Fer-
6
Para uma bibliografia mais recente, que dá conta da expansão do
gado a partir da Bahia, ver: ARRAES, 2012, pp. 99-160. Para uma
perspectiva mais geral, ver: SANTOS 2010.
7
Os fundos que detêm essas cartas são os “Livros de Sesmarias” do
Arquivo Público do Estado do Pará; os Avulsos (do Pará, do Maranhão e
do Piauí), do Arquivo Histórico Ultramarino; e as Chancelarias Régias
(Dom João V) e o Registro Geral de Mercês (Dom João V), do Arquivo
Nacional da Torre do Tombo.
20
nandes de Araújo, capitão dos moradores da freguesia de
Santo Antônio dos Longás.8
O Estado do Maranhão de finais do século XVII e pri-
meira metade do século XVIII é assim, uma sociedade em
plena expansão, processo marcado pela guerra contra os
índios, mas igualmente pelo que poderíamos chamar de
aceleração do assentamento.
Aqui temos duas dinâmicas distintas a leste e a oeste.
A leste parece se constituir uma dinâmica centrada
no binômio guerras e terras. De fato, desde finais do sé-
culo XVII, as autoridades do Estado do Maranhão iniciam
um processo de conquista dos sertões inicialmente do Ma-
ranhão e depois do Piauí. É a partir dos anos 1670 que
a Coroa começa a se mobilizar para tomar o controle da
fronteira oriental do Estado do Maranhão. É a partir desse
período que se sucedem diversos conflitos com os grupos
indígenas que habitavam ou percorriam esses vastos ser-
tões e que, segundo a perspectiva dos portugueses, é cla-
ro, impediam o avanço da lavoura e do gado.
Mas é principalmente na década de 1690, estenden-
do-se até meados do século XVIII que tem lugar uma sé-
rie de conflitos, organizados a partir de São Luís, ou pelos
próprios moradores que haviam se instalado na região,
principalmente no caso do Piauí. Em 1691, combate-se os
índios Caicai e Guarati, guerra reconhecida como justa
pela própria Coroa.Em 1695, nova guerra foi travada no
Mearim e Itapecuru. Entretanto, os ataques do “gentio do
corso” não cessavam e nova incursão foi feita entre 1700 e
1702 (CHAMBOULEYRON & MELO, 2013b).
8
Arquivo Público do Estado do Pará, Sesmarias, Livro 3, ff. 96-96v, 103v-
104, 131-131v
21
Entrado o século XVIII, os ataques se intensificam, no
governo de Dom Manuel Rolim de Moura, mas principal-
mente nos de Cristóvão da Costa Freire e Bernardo Perei-
ra de Berredo. No trabalho de Vanice Siqueira de Melo há
uma sistematização dos vários conflitos contra os índios
empreendido por esses governadores. Não vou entrar em
detalhes sobre essas guerras, que a historiografia clássica,
principalmente do Piauí, já estudou (MELO, 2011).
Vale a pena indicar que a grande maioria dos conflitos
se concentra nas primeiras décadas do século XVIII, coin-
cidindo com o processo de expansão a leste empreendido
pela Coroa e pelos governadores a partir de finais do século
XVII. Por outro lado, é fundamental destacar a perspectiva
apontada por Vanice Siqueira de Melo sobre a complexida-
de desses conflitos. De fato, tratava-se mais do que guer-
ras de extermínio e mera “limpeza” dossertões, já que ha-
via diversos interesses envolvidos nelas: aescravização dos
indígenas num território em que o trabalho dos índios era
fundamental; os interesses dos próprios governadores do
Estado do Maranhão que promoviam ou legitimavam as
guerras como forma de obtenção de índios e de poder polí-
tico. Assim, as guerras serviam também como mecanismos
múltiplos (CHAMBOULEYRON & MELO, 2013a).
A distribuição de sesmarias por parte dos governa-
dores do Estado do Maranhão se multiplicou após os anos
1730, quando os conflitos começam a se tornar mais espar-
sos. Quase 70% das sesmarias concedidas na fronteira orien-
tal do Estado do Maranhão, o foram a partir de 1730. Dessas,
também quase 70% (410 terras) foram concedidas durante o
22
governo de João de Abreu de Castelo Branco, fenômeno que
ainda aguarda sua explicação e seu historiador.9
Fundamental lembrar que, diferentemente do que
ocorria no Estado do Brasil, no Estado do Maranhão, pelo
menos até meados do século XVIII, somente os governado-
res concederam terras ao longo do período colonial. Não há
registro de terras concedidas por capitães-mores, a exemplo
das capitanias do Brasil (excetuando-se alguns casos nas ca-
pitanias de donatários, o que fazia parte das prerrogativas
do senhorio). Assim, podemos falar num processo conside-
ravelmente centralizado nas mãos das autoridades régias,
que comandavam guerras e distribuição de terras, que, é
claro, negociavam seu poder com os grupos locais.
A oeste, uma dinâmica mais complexa se consolida.
A relação entre guerra e assentamento existe, porém não é
direta. Isto porque no Pará se constitui uma outra fronteira
interna, localizada nos diversos rios que deságuam na baía
do Guajará, próximo a Belém, cuja existência começa a se
configurar em finais do século XVII, por meio da posse.
Retomando a ideia de Robert Bartlett para entender
o desenvolvimento da Europa a partir de meados do sé-
culo X, poderíamos falar, com relação às terras mais pró-
ximas à cidade de Belém, numa “expansão interna”, da
qual deriva a consolidação do assentamento europeu nes-
sa região em particular, relacionado, principalmente, com
o desenvolvimento da agricultura.10
Essa ocupação, que se legitima inicialmente com a con-
cessão de umas 100 sesmarias para moradores que já ocupa-
9
Ver nota 7.
10
A “ ‘expansão interna’ – intensificação do assentamento [settlement]
e a reorganização da sociedade na Europa ocidental e central – foi tão
importante quanto a expansão externa” (BARTLETT, 1994, p. 2).
23
vam as terras no final do século XVII, boa parte deles plan-
tadores de cacau e também de cana de açúcar, não decorre
do conflito com os índios (CHAMBOULEYRON, 2010, pp.
101-114). Ao contrário da fronteira leste, a região dos rios
próximos a Belém já se encontrava “pacificada” havia muito
tempo, já que os portugueses haviam ocupado esse espaço
desde meados da segunda década do século XVII.
Por outro lado, em sua imensa maioria, diferentemen-
te dos sertões do Maranhão e do Piauí, ocupavam original-
mente boa parte dessas terras grupos Tupi, com os quais,
dada a sua larga experiência na costa do Brasil, ao longo do
século XVI, os portugueses conseguiam lidar por meios que
não fossem somente o conflito (BONILLO, 2015).
Assim, a fronteira da ocupação do Pará, por meio da
agricultura, a partir das décadas finais do século XVII, não
se configura necessariamente por meio do conflito armado
contra dos grupos indígenas, como ocorre com a ocupa-
ção dos sertões do Itapecuru, do Mearim, do Munim e,
depois do Iguará, Parnaíba e rios do Piauí.Essa fronteira
interna paraense, relativamente próxima a Belém – outra
diferença significativa com a fronteira oriental – também
se expande a partir de inícios do século XVIII. Ao longo do
reinado de Dom João V, pouco mais de 800 sesmarias são
distribuídas a moradores, que, em sua grande maioria se
diziam residentes em Belém.11Do mesmo modo que para
a fronteira leste, o número de concessões é provavelmente
maior, já que de 1707 até a década de 1720, só temos os re-
gistros de confirmação, guardados nos fundos da Chance-
laria Régia e do Registro Geral de Mercês, do Arquivo Na-
cional da Torre do Tombo, em Lisboa. Além disso, a primeira
metade do século XVIII assiste ao início de uma tentativa
11
Ver nota 7.
24
mais sistemática de exploração de recursos florestais como
a madeira (BATISTA, 2008; BATISTA, 2013).
Ora, o desenvolvimento de uma ocupação de base
agrícola está intimamente conectado ao processo de expan-
são em direção à fronteira oeste do Estado do Maranhão.
Em razão do despovoamento causado por epidemias e in-
tensa exploração da mão de obra indígena, nas regiões mais
próximas a Belém,os sertões do Rio Negro, que lindavam
com as missões castelhanas jesuíticas, se tornarão o prin-
cipal alvo das jornadas portuguesas de devassamento do
sertão em busca de drogas e de índios (GONZÁLEZ, 2012).
A eliminação da barreira estabelecida pelos índios Manao
no Rio Negro, na segunda metade da década de 1720, pos-
sibilitará uma significativa expansão, pelos rios da região,
das tropas de resgate e de guerra e das canoas que busca-
vam as drogas do sertão (atividades que muitas vezes se
confundiam), que recentemente André dos Santos Pompeu
denominou de “monções amazônicas” (POMPEU, 2015).
Significativamente, mais de dois terços das ses-
marias distribuídas pelos governadores se concentram
no período posterior à “abertura” do Rio Negro.12 Isso
porque, do ponto de vista de uma dinâmica econômica
mais ampla, esse movimento centrífugo não se explica
senão também em função da constituição de uma base
agrícola, por duas razões fundamentais.
De um lado, é o cultivo da mandioca e da cana de
açúcar (que se acelera em finais do século XVII) que forne-
cerá dois elementos indispensáveis em qualquer jornada
ao sertão: farinha e aguardente. De outro lado, as jornadas
12
Ver nota 7.
25
permitem o descimento de índios livres que comporão a
população das aldeias missionárias e de escravos e tam-
bém índios livres que trabalharão nas terras dos brancos,
fruto da expansão de finais do século XVII.
Assim, extrativismo e lavoura se complementam no
mundo amazônico, pois a expansão pelos sertões em bus-
ca de drogas e índios só é possível em razão da agricultu-
ra, que por sua vez só é possível graças ao tráfico indígena
que sustenta a atividade agrícola. Em texto recente, Nírvia
Ravena e Rosa Acevedo Marin defendem uma comple-
mentaridade entre abastecimento e extrativismo, constru-
ída principalmente a partir das aldeias missionárias (RA-
VENA & MARIN, 2013). Também Camila Loureiro Dias
refere-se a um “circuito fechado” que conecta a zona agrí-
cola à região de coleta das drogas do sertão e de obtenção
de trabalhadores (DIAS, 2014, p. 292).
Não se trata, entretanto, de um circuito fechado.
Justamente o período de expansão agrícola é também um
período de expansão da lavoura do cacau e também do
café, produtos que tinham como principal mercado a Eu-
ropa. Por outro lado, temos que lembrar que muitos dos
produtos cultivados e coletados, como o açúcar, o cacau,
o cravo e o algodão (no Maranhão), serviram de moeda
corrente até meados do século XVIII, quando foram intro-
duzidas as primeiras levas de moeda metálica na região
(LIMA, 2006). Os produtos coletados nos sertões (cravo,
salsaparrilha, cacau, copaíba) e também cultivados (ca-
cau e café) serão exportados para a Lisboa13 e, também,
13
Em 1749, por exemplo, o cacau representou pouco mais de 22% das
receitas de entrada dessa alfândega. Já outros produtos amazônicos,
como salsa, copaíba e cravo representaram pouco mais de 4%. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo. Alfândega de Lisboa – Casa da Índia,
Cobrança de Direitos, Receita por entrada, livro 143.
26
reexportados para portos como Baiona, Livorno, Londres
e Hamburgo.14Configurou-se, portanto, uma complexa
dinâmica econômica em que se entrelaçavam a fronteira
agrícola e a fronteira da expansão oeste. O que implicava
uma sociedade e economia em que se conectavam, portan-
to, o sertão, a roça e o ultramar.
Podemos afirmar que o Estado do Maranhão estava
na encruzilhada das Américasem razão das implicações
territoriais que essa expansão ensejou.
De um lado, a expansão oriental, conectou de maneira
mais eficaz o Estado do Maranhão e seus centros de poder,
notadamente São Luís, ao Estado do Brasil. Por mais que a
historiografia insista, com razão, na existência de “dois Ma-
ranhões” desconectados, um ao sudeste, do gado, e outro
no litoral, a ofensiva por meio das guerras empreendidas a
partir de São Luís, seguidas da distribuição de terras e de pa-
tentes e cargos, permitiu conectar a capital do Estado do Ma-
ranhão (São Luís) aos vastos sertões orientais do Maranhão e
Piauí. Ora, a capitania do Piauí tinha um papel fundamental
de conexão histórica com a Bahia e também com as Minas
Gerais, principalmente por meio do gado
Em seu pedido de sesmaria, no rio Gurguéia, repro-
duzido na concessão da terra dada em 1727 Antônio Pi-
nheiro de Carvalho pedia um sítio “para nele fazer as suas
boiadas que deita todos os anos para as Minas Gerais”.15
Já o provedor do Piauí, Manuel Pinheiro de Carvalho, em
1704, informava que os moradores do Piauí “mandam os
14
Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Alfândega de Lisboa – Casa da
Índia, Cobrança de Direitos, Receita por saída, livro 4.
15
Arquivo Público do Estado do Pará, Sesmarias, Livro 3, ff. 99-100v.
27
seus efeitos” para a Bahia, sendo menos perigoso remeter o
rendimento dos dízimos da capitania do Piauí, de Salvador
para a Bahia, do que enviá-los a São Luís e de lá a Belém.16
O Piauí era também passagem do chamado “ca-
minho do Brasil”, cujo descobrimento é insistentemente
buscado pelas autoridades e moradores a partir de finais
do século XVII, e constitui uma outra faceta do processo
de expansão da sociedade do Estado do Maranhão. Não
sem razão, um antigo governador do Estado do Mara-
nhão, muito influente nas políticas da Coroa com rela-
ção a esse território, opinava, em 1700, que a distribuição
de terra entre moradores da Bahia era o melhor meio de
“apartar os tapuias daquelas terras”.17
Assim, apesar das diferenças que cada vez mais mar-
cavam os sertões do gado em relação ao que a historiografia
denominou de ocupação litorânea, o espraiamento dos cur-
rais pelos sertões do Maranhão e do Piauí, movimento ao
mesmo tempo oriundo do Maranhão e da Bahia, permitiu a
conexão entre os dois Estados ao longo da primeira metade
do século XVIII. Permitiu, do mesmo modo, uma relação
entre litoral (São Luís) e sertão que a historiografia tende
sempre a separar, em razão de ter incorporado como consti-
tuidor da “brasilidade” um modelo explicativo construído
no início da República (CHAMBOULEYRON, 2013).
A oeste, a expansão da sociedade colonial, por meio
das fortalezas, das tropas de resgate, de guerra, dos des-
cimentos de índios, das canoas em busca de drogas, dos
16
A carta de Manuel Pinheiro de Carvalho, datada de 4 de setembro de
1704 está em: “Consulta do Conselho Ultramarino a Dom Pedro II”. 3
de outubro de 1705. AHU,Maranhão (Avulsos), caixa 10, doc. 1079.
17
O parecer de Gomes Freire de Andrade encontra-se anexo a: “Ofício
de Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho”. São Luís, 4 de
setembro de 1700. AHU, Maranhão (Avulsos), caixa 10, doc. 1006.
28
sertanejos (como se dizia à época), como vimos, permitiu
o espraiamento pelos sertões e rios da Amazônia.
A experiência castelhana do cacau ensejou a intensa
exploração do cacau, cultivado e colhido nos sertões, a
ponto de ele ter se tornado o principal produto da eco-
nomia paraense até meados do século XIX. A expansão
pelos sertões e rios da Amazônia em busca de drogas e
de índios colocou os portugueses em contato com diver-
sas fronteiras e diversos povos, tanto indígenas como
europeus (holandeses no Rio Branco; espanhóis no Rio
Negro; franceses no Cabo do Norte).
Trabalhos recentes têm apostado, justamente, na com-
preensão desses espaços de conexão e circulação que se tor-
naram os territórios da fronteira amazônica, abandonando
um relato da historiografia clássica centrado excessivamente
na construção de uma soberania luso-brasileira.18 A histo-
riografia sobre a Amazônia deixa de lado, assim, um relato
quase que de inevitável de integração ao mundo brasileiro e
passa a explorar o significado das conexões e das circulações
da fronteira. Inclusive, inserindo nesse relato um lugar para
os grupos indígenas que também se relacionavam com euro-
peus de diversas nações de acordo com seus interesses
No Estado do Maranhão de meados do século
XVIII se cruzavam, portanto, a América portuguesa ao
leste e ao sudeste, e as Américas francesa, holandesa e
castelhana, ao longo de toda a fronteira noroeste e oes-
18
Ver, por exemplo: GUZMÁN, 2006; HULSMAN, 2011; GOMES, 2011;
COLLOMB & BEL, 2014. Há um interessante e recente dossiê publicado
em Procesos. Revista Ecuatoriana de Historia, dedicado exclusivamente
à “Amazonía transfronteriza”. Ver: http://revistaprocesos.ec/ojs/
index.php/ojs
29
te; perpassando todas elas estavam as múltiplas e com-
plexas “Américas indígenas”. É também a partir dessas
diversas fronteiras e experiências que devemos compre-
ender as vicissitudes do Estado do Maranhão.
A importância do cacau e a forma como ele se de-
senvolveu na Amazônia portuguesa revela o papel de-
sempenhado por outras experiências coloniais, como a
castelhana, para a compreensão dos caminhos trilhados
no Estado do Maranhão. Ora a lógica de produção agrí-
cola do Maranhão e do Pará foi compreendida por muito
tempo a partir da experiência do açúcar do Estado do
Brasil. Certamente, a experiência das fazendas das co-
lônias holandesas, como as de Berbice, nas quais houve
uma significativa presença de escravos indígenas, é de
fundamental importância para compreender os cami-
nhos da organização do mundo rural e do trabalho com-
pulsório de índios e africanos nas fazendas amazônicas.
Não há como isolar as fazendas do Pará das fazen-
das das Guianas, por exemplo, em grande medida porque
elas compartilhavam dos mesmos trabalhadores, de ter-
ritórios com características próximas, e se beneficiavam,
inclusive, dos mesmos circuitos de comércio do interior
da Amazônia. A história do Brasil, definitivamente, deve
incorporar um relato territorial menos teleológico, pro-
curando compreender que implicações essas múltiplas
conexões tiveram para entender a própria diversidade e
heterogeneidade do Brasil de hoje.
30
Fontes
Sesmarias.
Referências
31
BARARUA, Marcus Vinicius Valente & CHAMBOULEYRON,
Rafael “Cabo do Norte: conflitos e territorialidade (XVII-XVIII)”.
Revista Estudos Amazônicos, vol. X, nº 1 (2014), pp. 255-278.
32
CAMILO, Janaína Valéria Pinto. A medida da floresta: as
viagens de exploração e demarcação pelo ‘País das Amazonas’
(séculos XVII e XVIII). Tese de doutoramento, Campinas,
Universidade Estadual de Campinas, 2008.
33
CHAMBOULEYRON, Rafael. “‘Como se hace en Indias de
Castilla’: El cacao entre la Amazonía portuguesa y las Indias
de Castilla (siglos XVII y XVIII)”. Revista Complutense de
Historia de América, vol. 40 (2014b), pp. 23-43.
COLLOMB, Gérard & BEL, Martijn van den (orgs.). Entre deux
mondes, Amérindiens et Européens sur les côtes de Guyane.
Paris: Éditions du CTHS, 2014.
34
DIAS, Camila Loureiro. L’Amazonie avant Pombal. Politique,
Economie, Territoire. Tese de doutorado, Paris, Ecole des
Hautes Etudes en Sciences Sociales, 2014;
35
GONZÁLEZ, Sebastián Gómez. “Contra um enemigo infernal.
Argumentos jesuíticos en defensa de la Amazonia hispánica:
provincia de Maynas, 1721-1739”. Fronteras de la Historia, vol.
17, nº 1 (2012), pp. 167-194.
36
MIRANDA, Elis de Araújo. Representações da Amazônia:
paisagens e imagens de Cametá (PA). Tese de doutorado, Rio
de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006;
37
REZENDE, Tadeu Valdir de Freitas. A conquista e a ocupação
da Amazônia brasileira no período colonial: a definição das
fronteiras. Tese de doutorado, São Paulo, Universidade de
São Paulo, 2006.
38
TORRES-LONDOÑO, Fernando. “Visiones jesuíticas del
Amazonas en la colonia: de la misión como dominio espiritual
a la exploración de las riquezas del rio vistas como tesoro”.
Anuario Colombiano de Historia Social y de la Cultura, vol.
39, nº 1 (2012), pp. 183-213.
39
O CASO DE BERBICE; RELATO DE UMA
PESQUISA ARQUIVISTICA
Lodewijk Hulsman1
Introdução
41
ROLLER, 2015), a despeito de uma visão mais ampla so-
bre essa realidade ser dificultada pela ausência de fontes
referentes à primeira metade do século XVIII.
O problema central abordado nesta proposta parte
do princípio de que houve um fluxo constante da mão
de obra indígena, especialmente escravos, da Amazônia
para a costa das Guianas no século XVIII, sinalizado na
literatura, porém, quase não existe pesquisa sobre a parti-
cipação indígena nas fazendas das Guianas, em particular
nas Guianas Holandesas onde na época se concentravam
a maior quantidade de fazendas (WHITEHEAD, 1988; FA-
RAGE, 1991, HEMMING, 2007, OLIVEIRA, 2011).
Essa pesquisa é de natureza arquivística, cujas con-
sultas são fontes neerlandesas (manuscritos inéditos) que
documentaram o emprego da mão de obra indígena nas
fazendas da Sociedade de Berbice (Sociëteit van Berbice) no
período 1726-1736. A fonte básica do estudo é a contabi-
lidade das fazendas documentando o investimento em
trabalho, trabalho escravo e trabalho contratado. De um
lado o estudo focaliza a população escrava, identificando
a participação indígena no contexto da escravidão nas fa-
zendas. De outro lado procura mapear o investimento em
relações comerciais e trabalhistas com indígenas indepen-
dentes. Esses manuscritos holandeses foram parcialmente
traduzidos em português, disponibilizando assim para a
comunidade de historiadores brasileiros um acervo que
ficou fora de alcance pela barreira linguística.
O estudo é apresentado com um esboço da geografia
e arquelogia de Berbice, seguida por um resumo histórico
da colônia neerlandesa. As fontes arquivisticas são contex-
42
tualizadas antes na análise da pesquisa que está dividida em
duas partes. A primeira parte é dedicada à análise dos dados
dos inventários que documentam a presença da população
escrava nas fazendas da Sociedade de Berbice. O objeto da
análise da segunda parte é mapear o comércio europeu com
indígenas pelas contabilidades diárias das fazendas. Os ane-
xos apresentam fontes primárias traduzidas em português.
43
Imagem 1 - mapa da Guyana.
44
e Courantyne. Esse processo geológico está relacionado com
o fenômeno geológico chamado de Takutu Graben que se es-
tende aproximadamente da cidade de Boa Vista no Brasil por
quase 300 km adentro da Guyana. A zona montanhosa na
região do Rupununi se destaca por inundações sazonais que
ligam as bacias amazônica e atlântica, formando assim um
caminho aquático que junta a costa Atlântica com o interior
(SOUZA; ARMBRUSTER; WERNEKE, 2012: 31-32).
Esses rios passam pelas três zonas que caracterizam
a paisagem da Guyana: uma faixa costeira pantanosa for-
mada largamente por sedimentos aluviais, depois uma
zona de colinas de areia branca intercaladas com aflora-
mentos rochosos de 150 a 250 quilômetros e por último a
zona montanhosa que faz parte do platô das Guianas. O
clima da Guyana é tropical com duas estações chuvosas
entre dezembro e fevereiro e entre abril e agosto.
A população moderna da região de Berbice se con-
centra principalmente na faixa costeira, em particular
na cidade de New Amsterdam, com aproximadamente
30.000 habitantes. Administrativamente a área está divida
em regiões como Mahaica-Berbice, Alto Demerara-Berbice
e Berbice Oriental-Corentyne. Ela faz fronteira com o Oce-
ano Atlântico ao norte, Suriname ao leste, com o Brasil ao
sul e as regiões, Alto Takutu-Alto, Essequibo, Potaro-Sipa-
runi no interior e com Demerara-Mahaica na costa (BEAIE
2002: 51). As ruinas do Forte Nassau, centro da colônia da
Sociedade de Berbice em 1725, hoje são distantes, quase
perifericas. A colônia holandesa na época dessa pesquisa,
estava situado mais no interior na zona das savanas inter-
45
mediarias. Esta região se destaca dentro da arqueologia na
Amazonia pela antiguidade das evidencias de agricultura.
A Pré-História de Berbice
46
ce tenha sido um dos primeiros lugares conhecidos onde so-
ciedades adotavam uma forma de agricultura intensiva que
possibilitava a acumulação de surplus, considerado essencial
para o desenvolvimento de sociedades complexas.
Nas savanas intermediárias, perto da velha colônia
holandesa de Berbice, foram observados campos elevados,
testemunhando uma técnica de agricultura que já havia
sido observada em outras áreas das Guianas. Whitehead,
Heckenberger e Simon sugerem que essa área possa ter sido
habitada por sociedades como os Arawak, desde o final da
pré-história, e a comparam com outras ocupadas também
por culturas Arawak como a savana Mojo na Bolívia e no
Alto Xingu no Brasil (WHITEHEAD, HECKENBERGER;
SIMON, 2010).
Imagem 2 - Campos elevados perto do rio Berbice (Foto: cortesia George Simon).
47
Berbice hoje e antes
5
Para a construção de Nieuw-Amsterdam: BOSMAN, 1994. A literatura
sobre a rebelião de 1763 é extensa, razão pela qual se recomenda ver:
KARS, 2009, 2013.
48
Imagem 3 - um mapa que, datado aproximadamente de 1740, retrata as
fazendas na colônia de Berbice. A lista registra 93 fazendas particulares no
rio Berbice e 20 fazendas particulares no rio Canje, perfazendo um total de
113 fazendas particulares. As fazendas da Sociedade são bem maiores do
que as fazendas particulares. Acima, no meio, à direita está situada a fazenda
Pereboom na confluência do rio Wiruni com o rio Berbice. O Fort Nassau está
retratado na ribeira à direita do rio Berbice ao lado direito da imagem (ver
Anexo 5 para uma transcrição dos proprietários e fazendas).
49
Cortesia da Biblioteca da Universidade de Amsterdam (UBA-OTM: HB-
KZL_102-21-03).
50
2.2 Resumo Histórico da Colônia Holandesa no Rio Berbice
51
República e a depender da sua capacidade política, exercia
mais ou menos influência sobre a administração da Repú-
blica (ISRAEL, 1998: 276-284).
A organização colonial da República caracterizou-se
por ser de iniciativa privada. Os Estados Gerais dividiram
o mundo em dois hemisférios, o Oriente e o Ocidente, e em
1602 emitiram uma patente para a Companhia das Índias
Orientais (VOC), uma empresa dividida em seis câmaras
independentes e financiada com capital privado de seus
respectivos acionistas (ISRAEL, 1998: 321-322). A Compa-
nhia das Índias Ocidentais (WIC) foi fundada só em 1621
porque os termos da trégua entre a República e o Rei da
Espanha, entre 1609 e 1621, expressamente proibiram essa
fundação (ISRAEL, 1998: 326).
Berbice estava situado no continente da América e
assim se encontrou na área patenteada pela WIC. Esta, por
sua vez, estava dividida em cinco câmaras que eram ad-
ministradas por colégios de acionistas chamados “bewin-
dhebbers”. Cada um desses colégios enviou delegados
para o conselho dos dezenove (XIX), o qual se reunia uma
ou duas vezes por ano para formular o plano geral da em-
presa. No conselho de XIX sentava um deputado dos Es-
tados Gerais. A câmara de Amsterdam estava muito mais
poderosa do que as outras, mas tinha como principal com-
petidora a câmara da Zelândia. A província da Zelândia
tinha a segunda frota mercantil após a frota da província
da Holanda. Durante o século XVII, a dominância econô-
mica da Holanda cresceu enquanto o poder econômico da
Zelândia diminuiu (ISRAEL, 1998: 944-946).
A patente da WIC era temporária e devia ser renova-
da pelos Estados Gerais. A patente implicava que os dire-
tores da WIC administravam todo comércio da República
para o Atlântico (fora das águas européias) e do Pacífico
52
até as Ilhas Filipinas. Os diretores das cinco câmaras vi-
giavam as águas para que nenhum mercador, partindo da
Holanda, comercializasse na sua área, embora controlar
o comércio ilegítimo fosse uma tarefa difícil até o século
XVIII. Ao longo do século XVII, a situação econômica da
WIC se deteriorou e a patente só foi renovada em 1674, de-
pois de uma drástica reorganização para reduzir os gastos
da empresa que na prática estava falida e só continuou por
conta de crédito público (ISRAEL, 1998: 949-951).
A câmara da WIC Zelândia ficou em 1621 com a ad-
ministração dos pequenos postos coloniais situados no del-
ta dos rios Amazonas e Essequibo, as quais foram fundadas
por mercadores zelandeses anteriormente. A WIC Zelân-
dia, com efeito, se considerou dona do comércio holandês
na costa das Guianas e a expansão de interesses da câmara
de Amsterdam, durante os séculos XVII e XVIII, gerou con-
flitos prolongados dentro da WIC que exigiu a intervenção
dos Estados Gerais. A conquista da colônia inglesa Surina-
me em 1667 por zelandeses resultou na Sociedade de Su-
riname, que em 1680 se constituiu numa empresa privada
dominada por Amsterdam; àquela foi seguida pela posse
da colônia de Berbice em 1720 através da Sociedade de Ber-
bice, outra empresa de Amsterdam. A única colônia nas
Guianas administrada diretamente pela WIC em 1720 foi
a do Essequibo, menor que Berbice, porém gerenciada pela
Câmara da Zelândia. A colônia do Essequibo expandiu de-
pois de 1750, especialmente com o desenvolvimento da co-
lônia Demerary, também administrada pela WIC Zelândia.
Durante o século XVIII o tráfico de africanos escravi-
zados era uma das principais fontes de renda para a WIC.
A perda de suas possessões na costa da África, no final do
53
século XVIII, foi o golpe final para a companhia que termi-
nou suas atividades em 1792. O governo holandês então
administrou suas possessões (GOSLINGA, 1985: 1-43).
54
situação na costa das Guianas mudou durante a segun-
da metade do século XVII, quando ingleses provindos de
Barbados fundaram uma colônia no Suriname. As guerras
entre holandeses, franceses e ingleses, durante o período
1650-1700, resultaram em uma divisão territorial na cos-
ta das Guianas entre espanhóis, holandeses, franceses e
portugueses. A colônia holandesa na Caiena ficou com os
franceses, enquanto a colônia do Suriname, logo depois
da sua fundação, evoluiu para a maior colônia na costa e,
apesar de sofrer pela transferência da Inglaterra para Ho-
landa em 1667, foi em 1700 o principal centro da Guiana
holandesa superando as colônias de Essequibo e Berbice
(CRUZ; HULSMAN; OLIVEIRA, 2014: 86-93).
55
a realidade colonial não atendia a essa situação, como na
maioria das colônias européias nas Américas. Os agentes
coloniais geralmente não respeitavam a legislação da me-
trópole nas Américas ibéricas, assim como também não,
nas Américas holandesas (GOSLINGA, 1985: 558-563).
A fundação da colônia de Berbice, igualmente como a
do Essequibo, pode ser atribuída em grande parte à alian-
ça firmada no final do século XVI entre o povo Arawak,
hoje denominado de Lokono, e os holandeses. Os Arawak
dessa região tinham se aliado aos espanhóis nas colônias
de Cubágua e Ilha de Margarida, na Venezuela, desde o
início do século XVI. Essa aliança sofreu problemas pelos
esforços de espanhóis como Antonio de Berrio para firmar
o domínio espanhol no vale do Orinoco. Com a chegada
de ingleses e holandeses no final do século XVI, muitos po-
vos indígenas optaram por se aliar aos recém-chegados e se
postaram contra os espanhóis (WHITEHEAD, 1988; 82-83).
O relato de Gelein van Stapels de 1629 coloca os Ara-
wak como os principais aliados dos holandeses em Berbice
e define que os Caribes do rio Corantijn eram seus princi-
pais inimigos. O centro da colônia era situado na conflu-
ência dos rios Wiruni e Berbice, local que aparece depois
no período 1725-1738 como “Plantage de Pereboom”. A
maioria dos colonos vivia em aldeias indígenas rio acima,
onde procuravam plantar tabaco (WALLENBURG, BRI-
GHT, HULSMAN, BEL, 2015). Para o período entre 1630-
1665 existem poucas fontes e quase não há informação so-
bre as relações dos holandeses com a população indígena.
As fontes mostram que desde 1640 havia problemas
na colônia do Essequibo com o tráfico de índios escra-
vizados para as colônias européias nas ilhas caribenhas.
56
Ao que tudo indica, navios sequestravam índios na costa
e os vendiam como escravos, por exemplo, para a colô-
nia holandesa na ilha de St. Eustatius, que também era
um patronato, assim como Berbice, da família Van Pere e
Van Rhee (HULSMAN, 2009: 138).
O comércio de urucum, chamado de “orleaan” ou
“oriane” pelos holandeses, era uma atividade importante
para a economia do Essequibo e Berbice. Feitores compra-
vam o urucu dos índios e embalavam o produto em barris
para serem exportados para a pátria. O comércio de urucu
era tão importante que foi declarado monopólio da WIC
no Essequibo quando essa colônia foi reorganizada em
1657. O regulamento para Nova Zelândia, que incluiu a
colônia velha de Essequibo, estipulava que era estritamen-
te proibido aos colonos de cultivar ou produzir urucu.
Urucu era também um tipo de exportação importante da
colônia de Berbice, contudo, não se dispõe de fontes deta-
lhadas documentando essa atividade, constando apenas
as exportações para Zelândia (HULSMAN, 2009: 225-226).
Paralelo ao comércio, relatos ingleses sobre as hos-
tilidades nas Guianas durante a segunda guerra anglo-
-batavo (1665-1667) indicam que os Arawak apoiaram
os holandeses militarmente e lutaram contra as forças
inglesas. O comandante de Berbice expulsou os ingleses
que haviam conquistado Essequibo, constando ainda nos
relatos batalhas entre ingleses do Suriname e holandeses
apoiados por Arawak em volta do rio Courantyne (HAR-
LOW 1925: 199-222; HULSMAN 2009: 155; BEL, HULS-
MAN, WAGENAAR, 2014: 55-56).
Na sequência temporal, o primeiro relato detalhado
sobre Berbice data de 1670 e foi escrito por Adriaan van
Berkel que detalhou uma situação onde os Arawak conti-
57
nuaram como aliados principais dos holandeses nessa co-
lônia. O centro da colônia havia sido mudado da confluên-
cia do rio Wiruni e Berbice para rio abaixo onde havia uma
fortaleza chamada Fort Nassau. A maioria das fazendas
continuava na mesma área onde os holandeses se encon-
traram em 1629, rio acima e beirando o rio Canje. A cana
cultura ainda estava incipiente, havia apenas cinco enge-
nhos na época. Berkel escreveu sobre escravos indígenas,
dizendo que os índios estavam orgulhosos demais para
serem escravizados. A quantia de escravos africanos ain-
da estava limitada a trinta escravos para a fazenda maior
e uma dúzia para as outras duas. Berkel escreveu que os
holandeses mantiveram um comércio com as aldeias indí-
genas vizinhas que providenciaram alimentos e serviços
(BEL, HULSMAN & WAGENAAR 2014).
Berbice alcançou sua maior extensão no período em
que Berkel visitou a colônia, depois de 1674 a colônia di-
minuiu. Sanders visitou Berbice em 1722 depois sua ex-
ploração do alto Corantyne. Sanders tinha sido enviado
pelo governador de Suriname para explorar o interior das
Guianas em consequência do relato de Gerrit Jacobsz que
havia viajado ao Rio Branco em 1720. O relato de Sanders
indica a importância de Berbice nas redes de comunicação
entre a Costa Atlântica e a bacia Amazonense no século
XVIII. O mapa feito por Sanders retrata a posição difícil da
colônia de Berbice, empurrada no Oeste pela colônia do
Suriname que havia tomada possesão do banco oriental
do rio Courantyne, enquanto o rio Demerara estava toma-
do pela colônia da WIC Zelândia no Essequibo, que con-
testou a fronteira oriental (HULSMAN, 2012).
58
Imagem 4 - Mapa do Berbice em 1722 feito por Sanders (NL-HaNA_4.
VELH_576A).
59
A família Van Pere recusou pagar a carta de crédito,
alegando insuficiência de dinheiro, mas os representan-
tes franceses conseguiram vender a colônia para merca-
dores em Amsterdam. A transferência administrativa da
propriedade da colônia concretizou-se no cartório de um
tabelião em Amsterdam na data de 13 de setembro 1713
(NETSCHER, 1988: 158-159). Entretanto, a transferência
efetiva dessa colônia demorou muitos anos.
Em 1714 Van Hoorn e seus sócios firmaram um con-
trato com a WIC, aprovado pelos Estados Gerais, para
contratar a compra de 250 escravos de Ardra para a colô-
nia. A WIC manteve o monopólio de providenciar africa-
nos escravizados, e os donos da colônia podiam comprar
escravos de outras partes, entretanto, a WIC não cumprir
o contrato. A transferência definitiva dos franceses para
Van Hoorn e seus sócios foi assinada em 24 de outubro
1714. A WIC não conseguiu se livrar, mas os novos donos
estavam também sem dinheiro e a colônia estava em difi-
culdade (NETSCHER, 1888: 159-160).
Os mercadores de Amsterdam então resolveram for-
mar a Sociedade de Berbice para juntar capital visando a
emissão de ações. Esse modelo não era novidade na cos-
ta das Guianas porque a colônia do Suriname também era
administrada por uma Sociedade com acionistas. Duas das
três colônias holandesas na costa das Guianas eram então
administradas por Sociedades privadas, patenteadas pela
WIC e pelos Estados Gerais. Somente a colônia do Essequi-
bo era governada diretamente pela câmara da Zelândia. As
duas sociedades do Suriname e Berbice estavam sediadas
em Amsterdam. A presença dessas empresas nas Guianas
holandesas foi uma expressão do declínio do poder da Ze-
60
lândia na região. A Sociedade de Berbice foi fundada em
setembro 1720. Um inventário acompanhando a fundação
registrou os bens da Sociedade (NETSCHER, 1888: 162).
61
A sociedade continuava com a obrigação de comprar
escravos da WIC, mas ganhou certa liberdade para equi-
par navios para a colônia, uma vez que pagava uma soma
anual de 600 florins que lhe outorgava o direito, porém,
considerando que toda comunicação da colônia seria ex-
clusivamente com Holanda. Os diretores da Sociedade re-
solveram demitir Anthony Tierens e nomearam Bernhard
Waterham, um ex-militar, como novo comandante e com
ordens de fazer um inventário detalhado. As ordens de
Waterham incluíram o estímulo à criação de gado e o pro-
jeto de incentivo à população indígena para a cultura de
café, anil e baunilha. Os diretores exigiram também uma
administração detalhada da população de escravos espe-
cialmente em relação às taxas de nascimento e mortalida-
de (NETSCHER, 1888: 170-171).
62
permanente. A Sociedade de Berbice deixou um extenso
acervo de documentação chamado Archief van de Sociëteit
van Berbice, 1720-1795 guardado no Nationaal Archief em
Haia na Holanda, que é a principal fonte dessa pesquisa.8
Na administração da Sociedade de Berbice podem-se
distinguir três categorias de documentos.
Em primeiro lugar está a administração da diretoria
na cidade de Amsterdam, com sua sede numa casa no ca-
nal chamado Singel. Nela não só se reuniram os diretores,
mas também foram vendidos os produtos coloniais por
meio de leilão. Havia sete diretores no conselho dos quais
cinco eram escolhidos diretamente pelos acionistas. O re-
gistro do investimento dos acionistas e a contabilidade fa-
zem parte dessa administração, junto aos livros onde as
resoluções da diretoria estão registradas. A correspondên-
cia com os Estados Gerais e outras instituições governa-
mentais, como a municipalidade de Amsterdam também
fazem parte dessa administração.
Em segundo lugar se encontram os registros da cor-
respondência enviada da Holanda para a colônia em Berbi-
ce, apontando a administração dos empregados que foram
contratados, listas da carga enviada e recebida e, papeis di-
versos que documentaram as atividades da diretoria.
A terceira categoria de documentos está formada por
correspondência que foi enviada de Berbice e que entrou
em Amsterdam. Essa coleção é a fonte principal desse pro-
jeto, chamada de ‘Missiven van ambtenaren en instellingen
uit Berbice, met bijlagen, aan de Directie in Amsterdam’ ou
‘Overgekomen Brieven en Papieren’ e consiste de 186 inven-
tários de formato e padrão similar. Essa pesquisa se con-
8
NL-HaNA_1.05.05.
63
centra nos primeiros 6 inventários do período 1726-1736.9
Cada conjunto de papeis enviados contém uma tábula
especificando a embarcação e data de partida de Berbice
com um índice dos papeis. Em geral cada pasta contém
uma carta ou em alguns casos diversas cartas do Gover-
nador relatando os acontecimentos na colônia para a di-
retoria. Também podem ter cartas dos principais oficiais
como supervisor-geral, o secretário fiscal, o engenheiro e
o contador. Existem também nótulas das reuniões do Go-
vernador e do conselho da colônia, além de cartas com re-
querimentos dos empregados da Sociedade e moradores
para a diretoria em Amsterdam. Há ainda listas com uma
variedade de informações, por exemplo, do carregamento
dos navios, dos nomes e salários dos empregados, pessoas
que entraram e saíram, necessidades como medicamentos,
estoques na forja, no estaleiro, na casa do tanoeiro, etc. O
que interessa especificamente para esta pesquisa são os re-
latos detalhados sobre as fazendas da Sociedade. Esses re-
latos consistem de um inventário geral das propriedades
da Sociedade como os prédios com seus pertences e uma
descrição dos escravos. Junto a esses inventários foram
enviados relatórios sobre cada fazenda acompanhados
com cartas dos diretores individuais. Esses relatórios das
fazendas contêm um diário especificando as atividades
e uma contabilidade de gastos em cada fazenda. O Forte
Nassau funcionava como o centro da Sociedade em Berbi-
ce e lá se administrava o geral da colônia.
Os documentos do primeiro período de 1726-1736 se
encontram misturados e com o tempo será possível de re-
9
Missiven van ambtenaren en instellingen uit Berbice, met bijlagen,
aan de Directie in Amsterdam. 1726 – 1736; NL-HaNA_1.05.05_61-66.
64
constituir parcialmente a ordem original. Os papeis foram
enviados uma ou duas vezes por ano com um dos navios
da Sociedade que partiu de Berbice para Holanda. Nos
anexo dessa publicação está disponível uma seleção dos
documentos traduzidos do primeiro maço da coleção.10
Dessa contabilidade duas categorias de documentos
são de interesse especial para essa pesquisa. Em primeiro
lugar interessam os inventários detalhados dos escravos
nas fazendas da Sociedade. A segunda categoria de do-
cumentos são as contabilidades das fazendas individuais.
Os dirigentes das fazendas eram empregados contratados
pela Sociedade, que os obrigou de manter uma contabili-
dade diária das atividades e dos gastos.
Deve ser claro que essa documentação conta uma
história que pode e deve ser ofensiva para ler. As catego-
rias históricas refletem atitudes que hoje universalmente
são rejeitadas, resultado da exploração de mão-de-obra
escrava. A despeito do registro, seu reflexo é sim parte de
uma história amazonense e caribenha que traz informa-
ções raras sobre as relações entre europeus, africanos e os
povos indígenas nas fazendas das Guianas. Reitera-se que
essa documentação permite observar de forma detalhada
a organização do trabalho assim como também destacar
histórias individuais de pessoas que figuram muitas vezes
como uma massa anônima na historiografia.
10
Ver os anexos 1, 2 e 3.
65
2.2.2 Os inventários
66
minoria no total dessa população. Os dados totais foram
lançados num database, ainda em processo de construção,
entretanto, o inventário traduzido em português do ano
1727 está disponibilizado no anexo 1 nessa publicação.
Esses inventários foram confeccionados por uma co-
missão chefiada pelo comandante da colônia. Os inven-
tários de cada fazenda registram a data da vistoria e os
membros da comissão, incluídas outras informações, por
exemplo, a quantidade de cavalos e gado, ou a quantidade
e qualidade das panelas e ferramentas para a produção
de açúcar. Para os primeiros anos se encontram também
listas gerais. No penúltimo inventário de 1735, todos os
objetos dentro das casas das fazendas são listados, as casas
dos escravos também são registradas nesse inventário; às
vezes separando as casas dos escravos africanos e as dos
escravos indígenas. Na fazenda Vlissingen, por exemplo,
do total de 34 moradias havia 6 moradias indígenas, onde
viviam 4 homens e 5 mulheres com 8 crianças.13
Nome e aliás
67
te porque a maioria dos escravos indígenas consta com
nomes originários dessa língua, ao contrário aos escravos
africanos que figuram muitas vezes com nomes africa-
nos.14 A ortografia desses nomes, por enquanto, não faz
parte do projeto, mas poderá potencializar muito o valor
dos dados, ainda mais se estiverem aliados à pesquisa no
campo da migração formada por africanos escravizados.
Às vezes, se registra um “aliás” para o nome da pessoa,
por exemplo, Adjouba alias Irape, Diange alias Boelonge.15
68
A maioria dos escravos africanos era agrupada pelo
nome do navio escraveiro. Alguns escravos africanos fo-
ram registrados como “velho” (oude) e deviam já estar
presentes antes do primeiro fluxo de escravos comprados
pela Sociedade. As crianças com menos de 8 anos foram
registradas com as mães. Frequentemente os nomes das
mães eram registrados com os rapazes e as moças e, oca-
sionalmente, nomes de filhos registrados com as mães. Re-
cém-nascidos (bebê) era uma categoria separada, onde se
registrou os bebês com nome da mãe e identidade racial.
As taxas de nascimento aparentemente interessavam aos
diretores e foram calculadas separadas nas listas gerais.
Ocupação
Estado Físico
69
ao conceito holandês de manq ou manquerend usado para
indicar que o escravo está com um problema temporário.
Quando o escravo definitivamente se torna incapacitado
está qualificado como onbequaem, “inválido”. Outra cate-
goria é oud, velho no sentido de uma pessoa com muitos
anos, palavra diferente de oude, no sentido de ser um es-
cravo já presente na fazenda, fato já mencionado anterior-
mente. Nessa categoria de estado físico se registra também
cegueira e perda de partes do corpo como mão ou braço.
As doenças encontradas são pokken, watersuchtig ou sim-
plesmente doente. Algumas abreviações como pom conti-
nuam incertas, assim como gebr ou gebrooken que também
estão sendo pesquisadas para uma melhor compreensão.
Mortalidade
Outras Informações
70
como criança cristã com uma criança cristã na fazenda Peere-
boom em 1727.17 Outra categoria relevante para a pesquisa
é a indicação nieuw ingecogt “comprado recentemente”, que
se aplica exclusivamente para escravos indígenas.
Ao lado desses inventários detalhados há também
três listas gerais dos escravos da Sociedade na colônia de
1727, 1729 e 1736. Essas listas detalham as categorias de es-
cravos de descendência africana e indígena, especificando
homens, mulheres, adolescentes, crianças e recém nasci-
dos, além de indicar pessoas saudáveis, doentes, incapaci-
tadas e mortas. Nesse item a pesquisa está focalizada nos
anos de 1726 e 1727, citando principalmente o inventário
61 do arquivo da Sociedade de Berbice.18
71
A contabilidade central das fazendas da Sociedade foi
feita no Forte Nassau, onde estavam situados os armazéns
da Sociedade. Em 1735 havia à parte do Forte Nassau, um
total 13 fazendas e 3 postos da Sociedade. O Forte era o cen-
tro da colônia onde ficava o corpo principal dos empregados.
72
tos. Para os suprimentos líquidos havia um oficial especial,
o bottelier. Ademais, ficaram no forte 7 artesãos como car-
pinteiros e 1 tanoeiro. O total dos empregados europeus da
Sociedade no Forte em 1735 somava 49 pessoas. Nas fazen-
das ficaram 40 pessoas no serviço da sociedade, tendo sido
registrados em 1735 um total de 89 empregados. 19 Prova-
velmente havia mais europeus porque alguns empregados
eram casados, como está atestado pela diretoria de várias
fazendas através do registro das viúvas.20
A contabilidade das fazendas individuais é composta
principalmente por três tipos de documentação. A primeira é
a coleção das cartas dos diretores das fazendas, chamada de
plantagebrieven “cartas das fazendas”. Os empregados da So-
ciedade que foram nomeados para dirigir as fazendas eram
obrigados a relatar por carta os principais acontecimentos
aos diretores na Holanda. Essas cartas estão espalhadas entre
outros papeis e por enquanto não foram trabalhadas.
A segunda documentação consiste de diários de-
talhando o trabalho feito pelos escravos dia por dia. A
tendência dos dirigentes parece ter sido para limitar a in-
formação. As entradas são muitas vezes repetitivas, por
exemplo, als voren, como a entrada anterior. As entradas
não detalham a identidade racial dos escravos e apesar de
claramente ser uma coleção de interesse, foi selecionada
para priorizar inicialmente a terceira categoria da docu-
mentação. Essa terceira categoria é a contabilidade do car-
19
NL-HaNA_1.05.05_63 lista de empregados. A população europeia
da colônia em 1762 somava 346 pessoas.
20
Em 1735 há vários exemplos: Elisabeth de Feer, viúva do ex-diretor van
Weeningen que gerenciava a fazenda Oost-Souburg, a viúva do David
van Balk que gerenciava a fazenda Markay e a viúva do diretor Van
Doorn que gerenciava a fazenda Vlissingen (NL-HaNA_1.05.05_64).
73
gazoen, que remete ao estoque das ferramentas e outros
objetos como têxtil e contas de vidro que serviam como
uma espécie de moeda. A contabilidade desses objetos de-
talha o dia a dia, o motivo da compra e o que foi pago.
74
dessa contabilidade existem outros livros que documen-
tam a administração geral das atividades da Sociedade na
colônia. Essa contabilidade funciona como um jornal re-
gistrando a data da entrada, uma descrição do pagamento,
por exemplo, um serviço ou uma compra. Depois registra
a quantia da unidade e uma descrição da unidade que fo-
ram pagos. Há também registro do valor da unidade paga
em florim, a moeda da Holanda.22 O valor total dos gastos
por dia sempre é somado nas três últimas colunas. Esse
último valor se soma em cada página para chegar ao valor
total no fim do período da contabilidade.23
Na tabela 1 a seguir se vê as primeiras duas entradas
da imagem 8, do dia primeiro de maio de 1726. A primeira
entrada é de dois facões grandes como instrumento de tra-
balho para os escravos. Em geral os escravos indígenas são
especificados, a entrada de escravos sem outra designação
indica que são de descendência africana. Na quarta coluna
consta o valor individual do facão, 14 schellingen e na quin-
ta coluna o valor agregado que é um florim e 8 schellingen.
No mesmo dia consta a compra de caranguejo e
churrasco (barbekot), carne ou peixe grelhado, pagos com
uma faca e três cachos de contas. Nas últimas três colunas
tem o valor total do dia em florim, schelling e duit.
22
A moeda da Holanda à época era o florim o qual era dividido em 20
schellingen e o schelling era dividido em 16 duiten.
23
Ver anexo 1.
75
76
17260501 escravos para trabalhar 2 facão grande 14 1:08:00
caranguejo e churrasco 1 faca 0:01:08
3 contas cacho 1 0:03:00
espelho dou-
escrava indígena 1 0:08:00 2 0 8
rado
77
está considerada como boa mercadoria pelos índios. A cate-
goria Tawajes é de um objeto desconhecido, por enquanto,
mas se trabalha com a hipótese de ser um tipo de conta de
vidro. Os berimbaus de boca, instrumento musical popular
na Europa à época da idade média, parece que durante um
bom tempo foram considerados como uma mercadoria pe-
los povos indígenas, uma vez que constam em muitas listas.
78
As categorias de mercadorias acima das colunas na
imagem 9 são representadas na tabela a seguir.
79
Data Holandês Português
Aan de slaven, para os escravos e para
1726 08 03
voor katoen habas algodão e habas
Voor een Roode pela compra de uma escrava
1726 08 05 slafinne en ‘t scheppen vermelha e pago para remar
na t’fort betaalt ao Fort Nassau
aen de indiejaennen van para os índios da fazenda e
1726 08 11
de plantagie en slaven os escravos
voor potten en vis en para vasilhas de poteria e
1726 08 13 aan nieuwe slafinne tot peixe e para um pano [tanga]
een lap para a nova escrava
Aen de nieuwe slafin
para a nova escrava, para uma
voor en hanmat en aan
1726 08 21 rede e para os escravos e para
slaven en aan de indie-
os índios da fazenda
jaenen van de plantagie
Aan de slaven en aen de
para os escravos e para os
indiaenen van de plan-
1726 08 24 índios da fazenda e para ca-
tagie en voor kraben ge-
ranguejo
geeven
1726 08 28 voor potten gegeeven para vasilhas de poteria
Aan de Indiaen die de
kaart heeft omgedragen para o índio que trouxe a car-
1726 09 11 of de tijt van de kanse ta para o rio Canje e distribuí-
rijse en aan de slaven da para os escravos
gegeeven
Aan de Gras cappers
1726 09 14 para os cortadores de grama
gegeeven
Aan de slaven en voor para os escravos e para fran-
1726 09 15
hoenders en vis go e peixe
Tabela 3 - Entradas no livro da contabilidade da Fazenda Markay.
80
uma categoria. Pela administração central dá para inferir
que o têxtil para fazer roupa era distribuído nas fazen-
das a partir do Forte, mas aparentemente as fazendas não
eram providas desse estoque por um motivo ainda des-
conhecido, talvez econômico.
Observando essas entradas se nota logo que quase to-
das são compostas pelo menos de dois postos de contabili-
dade, portanto, ocultando o que foi pago para cada posto em
separado. Parece que os dirigentes das fazendas tentavam
escapar do controle dos diretores. Algumas das entradas an-
teriores merecem esclarecimentos a partir de comentários in-
dividuais. A entrada de 3 de agosto indica que foram gastos
1 facão de negro grande, 1 faca de negro juntamente com 1
faca de 5 pregos e 2 cordas de miçanga para os escravos e
para pagar algodão e habas, provavelmente aos índios.24
A entrada 5 de agosto registra a compra de uma escra-
va vermelha, talvez a moça indígena chamada de Willemijn
que consta no inventário de 1727 como comprada recente-
mente na fazenda Markay (vide anexo 1). Não consta quem
vendeu a moça, mas a fazenda Markay estava situada perto
do lugar chamado Acawaaise Poort “a Porta Akawaio” onde
costumava se fazer comércio com índios Akawaio vindo do
interior. A entrada inclui o pagamento para o serviço de
remar ao Fort Nassau e soma 1 enxó de negro, 7 machados
grandes, 7 facões grandes, 1 espelho preto e 1 espelho dou-
rado, 2 tesouras e 3 facas de 5 pregos. Uma entrada de 9 no-
vembro de 1726 registra o pagamento de 2 facas de 5 pregos
e 3 cordas de miçanga para remar até a fazenda Aan de Berg,
24
Habas é uma palavra Lokono (Arawak) que indica uma cesta para
guardar comida (PATTE, 2011: 86).
81
que é mais próxima de Markaij do que do Fort Nassau. O pa-
gamento da escrava deve provavelmente ser então o enxó,
os machados, facões e espelhos. O serviço de remar era na
época exclusivamente feito pelos índios com suas canoas.
A entrada de 13 de agosto mostra que os holandeses
compravam poteria dos índios. O gasto de 17 cordas de
miçanga para een lap, 1 pano, para a nova escrava Wille-
mijn, indica que as escravas indígenas vestiam tanga de
miçanga, traje comum a muitos povos indígenas até os
dias de hoje. A entrada de 21 de agosto registra o gasto
de 1 facão grande de negro e 1 machado pequeno com 2
facas para a compra de 1 rede para a nova escrava e para
os escravos e os índios da fazenda. As ferramentas gran-
des provavelmente foram o pagamento para a rede, mas
não consta quem foi que vendeu a rede.
O registro de 11 de setembro mostra o pagamento
para um índio que trouxe uma carta para o rio Canje, pro-
vavelmente uma ação que esteja ligada à pesca local, pois
há registros posteriores. O pagamento em 14 de setembro
para os cortadores de grama mostra que os índios fizeram
este serviço o qual era necessário para alimentar os cava-
los locomovedores da moenda. A compra de frango dos
índios em 15 de setembro indica que os mesmos adotaram
a criação desses animais importadas da Europa e abastece-
ram os holandeses em troca de pagamento.
A contabilidade indica que os objetos registrados era
de fato a moeda da terra. As fazendas compravam regu-
larmente alimentos como carne de caça, peixe, galinha,
cassava, batatas e frutos. Os provedores não estão sendo
especificados, mas no relato de Berkel de 1670 está descrito
que esses alimentos eram comprados nas aldeias vizinhas
82
das fazendas. As fazendas compravam também outras ne-
cessidades advindas dos indígenas como algodão, poteria,
redes e canoas. Um produto especial é vergifhout “madei-
ra venenosa”, usada para pescar na forma indígena, hoje,
uma espécie de timbó. Serviços eram regularmente con-
tratados pelas fazendas, por exemplo, remar canoas, cor-
tar grama para alimentar os cavalos, manter guarda e tam-
bém para capturar e retornar escravos africanos foragidos.
Os pagamentos frequentemente são especificados
com a entrada: “pago para um índio que faz serviço aqui.”
Isso pode indicar que existiam dois tipos de relações com
pessoas que providenciavam mão de obra para as fazen-
das, um tipo com pessoas das aldeias vizinhas e outro com
índios livres vivendo nas fazendas, ambos pagos. As en-
tradas, que registram objetos distribuídos para os escravos
ou para uma escrava vermelha, indicam que houve for-
mas de pagamento para as pessoas consideradas escravas,
como as contas para fazer a tanga de Willemijn. Em geral
pode se inferir do inventário de 1735 que os escravos rece-
beram as ferramentas necessárias para seu trabalho e que
guardavam estas ferramentas nas suas casas.
A entrada de pagamento para índios que prestavam
serviço nas fazendas é uma indicação sobre a presença de
trabalhadores indígenas voluntários como veremos adiante.
A presença da população de escravas indígenas sem maridos
pode ter sido um fator para atrair jovens machos indígenas,
e podia explicar o nascimento de crianças classificadas como
indígena em locais onde só havia mulheres indígenas.
Nos anexos 2 e 3 se encontram as traduções da contabi-
lidade do Fort Nassau e da Fazenda Markay para os anos de
1726 a1727. O livro de contabilidade do Fort Nassau é mais
extenso e completo do que o livro da Fazenda Markay, indi-
83
cando a posição do Forte como centro talvez por ter também
uma fiscalização mais rigorosa. Parece que as expedições do
comércio com os colonos espanhóis no rio Orinoco eram or-
ganizadas a partir do Forte como se verá no parágrafo 2.4.2.
84
te o período pesquisado indica que os diretores exigiam
cada vez mais detalhes dos seus subalternos. Os dados das
fontes devem assim ser observados com um olhar crítico.
população escrava
1600
1400
1200
1000
Pessoas
800
600
400
200
0
1727 1729 1736
indígenas 187 197 210
africanos 1228 1227 1279
85
vam uma parte considerável da população escrava como
era comum em outras sociedades similares da época.28
Aproximadamente um quarto da população total perten-
cia a essa categoria (1727: 23%; 1729: 25%; 1736: 26%). Isso
corresponde com os dados no trabalho de Oostindie sobre
fazendas no Suriname (OOSTINDIE, 1989: 228).
força de trabalho
2000
1500
Pessoas
1000
500
0
1727 1729 1736
população total 1415 1424 1489
força de trabalho 1096 1067 1099
86
não está indicada quantos escravos indígenas estão indis-
postos. No inventário detalhado de 1727 tem um escravo
índio velho e outro indisposto por exemplo.
força de trabalho
100%
50%
0%
1727 1729 1736
indisposto disposto
29
Ver também o parágrafo 2.3.5.
87
2.3.3 A população escrava de origem africana
400
300
200
100
0
homem mulher rapaz moça criança bebê
1727 477 404 70 13 221 43
1729 462 386 67 17 249 46
1736 524 393 39 24 272 27
25%
20%
15%
10%
5%
0%
homem mulher rapaz moça criança
1727 40% 34% 6% 1% 19%
1729 39% 33% 6% 1% 21%
1736 42% 31% 3% 2% 22%
88
Enquanto a diferença entre homens e mulheres de des-
cendência africana é mínima, a disparidade entre rapazes e
moças é marcante. Nota-se uma diferença acentuada da po-
pulação escrava africana composta mais por adolescentes do
sexo masculino do que feminino, representada no gráfico 5.
A predominância de crianças masculinas entre os afri-
canos pode ser explicada pela política da WIC que na época
monopolizou o comércio escravista, e só embarcou crianças
masculinas, barrando crianças femininas, que rendiam me-
nos dinheiro quando vendidas no mercado. O navio negrei-
ro Leusden, por exemplo, trouxe em 1724 um armasoen, como
os holandeses chamavam um carregamento de africanos es-
cravizados, somando 314 pessoas. Foram especificadas como
182 homens, 100 mulheres e 32 rapazes. Não foram registra-
das moças (BALAI, 2011: 155). Isso explica a disparidade en-
tre rapazes e moças da África nos inventários de Berbice.
O gráfico 5, em 1736, mostra que a taxa de nascimen-
to natural já corrigiu esse desequilíbrio porque a diferença
entre a população das moças e rapazes de descendência
africana era de apenas 1%. A taxa de mortalidade entre
a população escrava de descendência africana retradada
no gráfico 6 era elevada. A mortalidade alta de 7% no ano
1727 pode ser o resultado da viagem recente de uma gran-
de parte dessa população. A mortalidade de 4% nos anos
de 1729 e 1736 corresponde aproximadamente com os
dados de Oostindie para o Suriname (OOSTINDIE, 1989:
132). A mortalidade em relação à taxa de nascimento será
discutida sob uma perspectiva comparativa com a popu-
lação escrava indígena no parágrafo 2.3.5.
89
mortalidade de africanos
100%
80%
percentual
60%
40%
20%
0%
1727 1729 1736
vivos 1321 1281 1335
mortos 93 54 56
90
são o Vrijheid e o Duijnvliet. O capitão Veltz, chamado de
Feltz, tinha aparentemente o hábito de fazer sexo com as
mulheres que trazia em seu barco, isto porque foram re-
gistradas duas mulheres com crianças dele em 1735.31
50
40
30
20
10
0
homem mulher rapaz moça criança bebê
1727 25 85 12 10 43 12
1729 26 83 12 14 50 12
1736 31 83 3 2 80 11
91
maioria, dominam as mulheres ameríndias na população
escrava indígena. Em 1727 as mulheres formam 64% da
população escrava indígena, embora em 1729 diminuam
para 62%, mas já em 1736 atingem 70% da população.
50%
40%
30%
20%
10%
0%
homem mulher rapaz moça
1727 19% 64% 9% 8%
1729 19% 62% 9% 10%
1736 26% 70% 2% 2%
92
pazes indígenas tenham sido vendidos. Vale lembrar que,
ao redor das fazendas da Sociedade, havia muitas outras
particulares com demandas por mão de obra escrava.
93
No gráfico 9 se mostra, individualmente por fazen-
das, a divisão da população escrava africana e indígena em
1736. As fontes consultadas documentam a presença con-
tínua de uma população escrava indígena nas fazendas da
Sociedade de Berbice no período 1726-1736. A concentra-
ção maior estava no Forte Nassau (54), Oost-Zouburg (26) e
Markay (23), porém escravos indígenas estavam presentes
em quase todas as fazendas, salve as quase extintas fazen-
das de Hogelande, Elizabeth e Debora e as duas pequenas
fazendas de café de Kerk e a nova fazenda Den Bergh.
94
mostra outras ortografias do mesmo nome. A maioria dos
nomes é de origem holandesa, por exemplo, nomes como
Sannetje, Sara ou Piet. Nomes clássicos como Piramus (rei de
Troja), Diana ou Cupido também são populares.
Coenarie, Iroenie, Jacoe, Jakanirae, Kabita, Kaquarie, Ma-
jaekes, Maquame, Poeita, Thisseve e Tielielie, Vette Kinde pa-
recem nomes indígenas. Cariba parece um nome dado por
europeus, para uma análise desses nomes vê a contribui-
ção “Veredas da Guyana, águas e terras no espaço social
Berbice e seus Nomes” de Maria Odileiz Sousa Cruz nessa
publicação. Em geral, pode se lembrar que os nomes dos
escravos indígenas são mais frequentes de origem euro-
peia do que os nomes dos escravos de origem africana.
A presença de crianças classificadas como indígenas
nas fazendas onde só há uma população feminina de es-
cravas indígenas evoca perguntas, por exemplo: a referên-
cia de uma moça escrava indígena chamada Maytie, que
é filha de Marietje, uma negra velha. As relações entre
escravos africanos e indígenas que viviam aparentemen-
te separadas nas suas casas merecem estudo. As fazendas
talvez funcionassem nesta época como um lugar onde se
agregaram europeus, africanos e indígenas em uma forma
de dinâmica ainda pouco conhecida.
O caso do índio Ante que foi parar na justiça por aban-
donar uma escrava indígena na Fazenda particular chamada
de De Vrijheid revela a complexidade das relações. O dono
da fazenda Vrijheid reclamou que Ante havia dormido com
uma escrava índia sua e que ele correu risco porque a escrava
podia estar grávida do índio que a abandonou, por isso, esta-
va com direito de prender o índio na sua fazenda.32
32
NL-HaNA_1.05.05_63.14, f. 20-23.
95
O índio Ante, aliás Joericariquamme, foi chamado
perante o conselho e perguntado por que ele abandonou
uma escrava africana chamada Drioke33 na fazenda West
Zouburg e se mudou para a de Vrijheid; ele respondeu
que foi com seus amigos para uma festa dos índios na Oost
Zouburg e ali foi convidado para vir morar na Vrijheid e
assim foi que ele se juntou com a escrava indígena. Disse
que ele estava primeiro com a escrava negra na West Zou-
burg, mas ela era ainda pequena para ele, depois ele ficou
com a escrava índia na Vrijheid, mas antes já estava com
uma mulher na aldeia. Perguntado por que ele não havia
retornado à canoa, o fuzil e a camisa florida que ele rece-
beu, ele disse que foi proibido pelo Senhor Chaille, diretor
da fazenda West Zouburg, de retornar à de Vrijheid e que
ele deixou a canoa à beira do rio e perto da igreja. Depois
disse que ele gostou mais da sua mulher na aldeia, ape-
sar de ele querer ficar na fazenda Vrijheid, mas o Senhor
Chaille não permitiu e por isso ficou com seus amigos na
West Zouburg. O conselho decidiu que ele devia devolver
o pagamento recebido e ficar no Forte Nassau.
O caso de Ante não era isolado. Assim, como não ha-
via nenhuma forma de missão religiosa ou igreja entre a
população de escravos na colônia de Berbice, também não
existia algo como um casamento formal.34 Aparentemente
isso resultava em muitas mães abandonadas porque o go-
verno de Berbice publicou em 1738 uma lei que declarou
33
Em 1735 há registro de uma moça africana chamada Dieroke na
fazenda West Souburg.
34
A igreja na colônia de Berbice era Reformada e só se ocupava com
a população europeia. A missão dos Moravianos que pregava aos
índios e africanos só começou em 1738, muito contra a vontade da
população européia de Berbice.
96
que aquele plantador que contratasse um trabalhador in-
dígena e que tivesse abandonado uma escrava com crian-
ça dele, devia voltar aquele índio ao primeiro aviso do
plantador, que era dono da escrava ou ele seria punido.35
A presença de crianças escravas resultante da união
entre europeus e escravas é outro aspecto da agregação
de pessoas em Berbice. Como escrito anteriormente, a in-
dicação dessas pessoas era a de Christen kind “criança de
cristão”. Os holandeses tratavam crianças nascidas dessas
uniões como escravas. Alguns escravos indígenas adul-
tos também são classificados como criança de cristão. Nos
anos de 1727-1735 constam 9 crianças indígenas classifi-
cadas como cristãos e 3 crianças africanas. No livro das
alforrias, que começa em 1735, encontram-se sete casos de
alforria de mães e crianças indígenas contra um caso de
uma criança africana, indicando uma predominância de
uniões de europeus com mulheres indígenas.36
Para o momento, pode-se concluir que a população de
escravos indígenas da Sociedade de Berbice é uma minoria
comparada com a população escrava africana, porém, uma
minoria substancial e contínua, em visto o registro cons-
tante da presença de escravos indígenas em quase todas as
fazendas. Lembrando que a grande maioria da população
escrava indígena é constituída por mulheres. Ademais, os
escravos indígenas são apelidados muitas vezes por nomes
holandeses e estabelecem relações duráveis resultando em
alforria mais frequentemente do que os africanos.
35
NL-HaNA_1.05.05_219: f. 38-39.
36
NL-HaNA_1.05.05_327.
97
2.3.5 Nascimento e mortalidade da população escrava em
Berbice
60%
40%
20%
0%
1727 1729 1736
criança 55 62 91
força de trabalho 132 135 119
98
escravos nascidos e mortos em Berbice 1727-1736
morto índio
nascido índio
morto afro
nascido afro
0 20 40 60 80 100
nascido afro morto afro nascido índio morto índio
1736 27 56 11 4
1729 46 54 12 9
1727 43 93 12 9
99
Mesmo assim se nota uma diferença marcada quando se compara o quadro dos
100
doentes na população escrava de origem africana com a população escrava indígena no
gráfico 12 a seguir.
Gráfico 12 - comparação entre as taxas de doença - populações escravas de origem africana e indigena para os anos
1727, 1729 e 1736.
Os dados quantitativos onde se compara as popu-
lações escravas indígenas e de origem africano são raros,
e se trata em Berbice de uma população relativamente li-
mitada de escravos indígenas. Isso contraria o argumento
histórico que a mortalidade indígena obrigava os euro-
peus a introduzir escravos africanos na região, suscitando
assim um convite para estudos mais detalhados sobre essa
hipótese. O gráfico 13 mostra que a população escrava in-
dígena cresceu em relação à população escrava africano
durante o período 1727-1736.
95%
90%
indígenas
85%
africanos
80%
75%
1727 1729 1736
101
84 fazendas particulares havia-se 2.622 escravos africanos e
204 escravos indígenas somando em total em 3.833 escravos
africanos e 244 escravos indígenas juntamente com 346 eu-
ropeus (NETSCHER, 1888: 191).37 Naquele ano, a população
escrava indígena atingiu apenas 5% do total de indivíduos.
Kramer calculou a população de 1762 em 203,5 escra-
vos indígenas, quase similarmente ao Netscher, também
baseado no mesmo censo do imposto. Nesse censo para o
pagamento de imposto por cabeça equivalia duas crianças
de 3 a 10 anos por 1 escravo adulto (KRAMER, 1991: 59-60).
A partir deste cálculo e contando que o censo de imposto
deve ser menos exato do que os inventários pesquisados, a
população escrava da Sociedade manteve-se estável, mas a
participação indígena havia diminuído. Em 1762 registrou-
-se então 29% da populaçao escrava de Berbice nas fazen-
das da Sociedade e 71% nas fazendas privadas. A quantida-
de média de escravos nas 11 fazendas da Sociedade era 105
pessoas e nas 84 fazendas privadas 34. Isso provavelmente
porque as fazendas particulares retradas no mapa de ima-
gem 4 de 1740 eram menores que as fazendas da Sociedade.
Portanto, seria razoável estimar a população escrava
nas 113 fazendas de Berbice, no período em que se trabalha
aqui, em 3.555 pessoas correspondendo a 71% da população
escrava total, mas isso daria uma população total de 5.007 es-
cravos, mais que os 3.833 de 1762, o que parece improvável.38
Assumimos por enquanto que a populaçao escrava total de
Berbice em 1736 era de 3.000 à 4.000, estimando estarem pre-
sentes nas fazendas particulares entre 1.550 à 2.550 pessoas.
37
Os totais do cálculo de Netscher não batem: 1.121 + 2.622= 3.743.
38
A população de 1.452 /29 * 100= 5.007.
102
A percentagem de escravos indígenas nas fazendas da
Sociedade em 1736 girava em torno de 19% pois, se assumin-
do uma participação parecida nas fazendas particulares da-
ria uma população de 295 à 485 pessoas indígenas escraviza-
das e 1.255 à 2.066 pessoas africanas escravizadas. O total das
pessoas indígenas escravizadas em Berbice no ano de 1736
provavelmente pudesse estar entre 480 à 670 pessoas.
103
Vale notar que Oostindie descreve que no Suriname
se distribuía chapéus, pano, facas, tesouras etc uma vez
por ano ou até menos (OOSTINDIE, 1989: 153). Encontra-
mos na contabilidade do Forte Nassau e Markay várias
referências de distribuição de objetos durante o ano.40 Pa-
rece que a distribuição de artefatos para se vestir estava
centralizada no Forte Nassau enquanto outras necessi-
dades como ferramentas de trabalho eram distribuídas a
partir do estoque individual das fazendas.
O fluxo do comércio das fazendas com as aldeias indí-
genas vizinhas se caracteriza em primeiro lugar por objetos
como madeira para flecha, cêra e pau de timbó (madeira
venenosa para pescar). Os índios também vendiam regu-
larmente algodão para as fazendas, assim como seus pro-
dutos manufaturados como canoas, redes, corda e poteria
que eram essenciais às fazendas. Outro fluxo são os produ-
tos alimentícios, por exemplo, carne de caça, em forma de
carne de veado ou porco selvagem, peixe, caranguejo, mas
também frutas como abacaxi e limão; Wakaijse ou Ackeweys-
se noten, nozes Akawaio que provavelmente parece ser a
castanha do Pará. Salvo esse fluxo de produtos extrativis-
tas, também há produto agricultável como batatas, além de
ovos e galinhas. Uma categoria especial é a das bebidas in-
dígenas de teor alcóolico como belterie e barnou.
A entrada de pagamento para índios que prestavam
serviço nas fazendas é uma indicação de que havia presen-
ça de trabalhadores indígenas voluntários. A presença da
população de escravas indígenas sem maridos era um fator
40
Anexo 1, Forte Nassau: 17260708, distribuído para os escravos;
17260809, para os escravos na igreja 20,5 tecido zaans por aulna;
17260828 para as moças indígenas e escravas, 45 libras de contas.
104
que motivava atrair jovens machos indígenas, e explica o
nascimento de crianças classificadas como indígena em lo-
cais onde só havia mulheres indígenas. Esse fluxo de traba-
lhadores deve ter sido muito importante para as fazendas
da Sociedade e das particulares. Um exemplo é a competi-
ção para conseguir esse trabalho indígena conforme descri-
to anteriormente no caso de Ante no parágrafo 2.3.4.
Os registros dos pagamentos para serviços como cor-
tar capim para os cavalos, levar pessoas ou mensagens por
canoa, servir como guarda, retornar escravos foragidos,
indicar árvores valorosas no mato, sugerem que as fazen-
das funcionavam também como centros regionais onde
indígenas entravam e saiam para trabalhar.
As indicações principais para comércio regional são os
negócios com os Akawaio, por exemplo, a compra de peixe
salgado do rio Canje e o comércio com assentamentos colo-
niais da Espanha no Orinoco, que será discutido a seguir.
105
comércio Forte Nassau-Orinoco 1726-1727
1500
valor em florim
1000
500
0
cavalos e serviço
gastos total
copaíba indígena
florim 946 32 62 1040
106
Gráfico 15 - principais categorias de produtos pagos no Orinoco 1726-1727.
Frequência de Gastos
107
espanhóis do rio Orinoco está classificado como “outros”,
visto ser pouco frequente, junto com os pagamentos aos eu-
ropeus pela pintura da igreja por Jan Godfriedt Surijtser,
ou para costurar cartuchos pelo Constabel.43 A categoria es-
cravos indica a freqüência das entradas documentando a
distribuição de objetos para esses, seja em forma de ferra-
mentas de trabalho ou de outros objetos como miçanga.
outros
escravos
serviço indígena
comércio indígena
comércio serviço
escravos outros
indígena indígena
frequencia 258 79 43 30
43
Ver anexo 2: 17261023; 17260621.
108
Compra de Alimentos
44
Ver anexo 2: 17261204.
109
Compra de Objetos
110
são as entradas de compra de redes para os escravos
indígenas, pois parece ser uma compra relativamente
cara que talvez fossem mediadas pelas escravas indíge-
nas. Entre objetos diversos figuram animais como pa-
pagaios, 1 tigrinho, 1 criança de anta e macacos chama-
dos de kabonemaatje, provavelmente, o macaco saimiri.
Essa categoria também inclui goma (ottegom) e piet ou
pita, uma planta da família das agaváceas usada para
extrair fibras. Vale observar que o objeto mais valioso
era a canoa, tendo o corjaal como forma de pagamento
fosse para uma canoa pequena ou grande.45 A rede era a
compra mais valiosa depois da canoa.
Pagamento de serviços
45
Ver anexo 2: 17260503; 17260826; 17270104; 17270219.
111
frequência entradas serviço indígena 1726-1727 Forte Nassau
outro
captura escravo fugitivo
índios orinoco
mandioca serviço
correio
remar
serviço indígena
0 5 10 15 20 25 30 35 40
112
No Forte Nassau o tecido em aulna era cotado como
principal por seu valor no comércio com os espanhois do
rio Orinoco. Ao lado do tecido em aulna pagavamentos
também eram efetuados com panos. O valor dos tecidos no
gráfico acima consiste de 797 fl. em tecido por aulna e 57 fl.
em tecido por pano. Os 44% representam um valor de 854
fl., mas parte desse valor 669 fl. era destinado ao comércio
com o Orinoco, deixando assim um valor de 185 fl. para a
distribuição de tecido para os escravos e para o comércio
indígena. O valor de 57 fl. para 233 panos soma aproxima-
damente 3% do valor total gasto no período, e indica uma
categoria de objetos que foi pago muitas vezes para índios.
Das contas foram registradas 347 libras entre as quais
251 foram pagos pelos cavalos e copaíba, deixando 96 li-
bras, aproximadamente 50 kilos de contas que foram distri-
buídos entre os escravos e pagos para o comércio indígena
pelo valor de 38, 5 florim. Também foram gastos 741 cachos
de contas pelo valor de 37 fl., principalmente no comércio
indígena. As contas têm nomes diferentes são difíceis de
identificar como tawasje e karbee.46 O valor total das contas
usadas como pagamento em Berbice soma 75,5 fl.
Das 2.268 facas registradas 1.973 foram gastos com o
comércio no Orinoco, deixando 293 facas distribuídas em
Berbice com um valor de aproximadamente 22 fl. As 106 en-
xadas com um valor de 69 fl. foram usadas principalmente
para o trabalho e quase não constam no comércio indígena.47
46
A denominação cassoeren, encontrada em outros manuscritos
holandeses do século XVII, não está presente na documentação de
Berbice (HULSMAN 2009: 338).
47
Exemplos de enxada no comércio indígena podem ser encontrados
na tabela 1 no parágrafo 2.2.3, ou na compra de peixe salgado do rio
Canje no Anexo 2 17261204.
113
No categoria outros se encontram objetos como 4 ferros
de casave com um valor de 3 fl, 8 enxó de canoa com um
valor de 4,75 fl., 54 espelhos de tipos diferentes com um valor
de 12, 5 fl., 39 tesouras com um valor de 4 fl., 59 navalhas com
um valor de 6 fl. e 40 berimbaus de boca entre outros objetos.
Os valores principais distribuídos em Berbice foram
os dos machados e facões. Nototal 198 tipos de machados
diversos eram pagos no valor de 144 fl. Parte desses macha-
dos entrou nos gastos do comércio com o Orinoco, mas prin-
cipalmente como pagamento para os índios de Berbice que
participaram nas expedições. Os machados grandes eram os
mais requisitados, 141 exemplares por um valor de 105,75 fl.
O total de 213 facões correspondente ao valor de 145
fl. foram gastos pela contibilidade do Forte Nassau. O gas-
to de facões com o Orinco era de 33,75 fl, mas os machados
foram pagos principalmente para os índios de Berbice. Os
facões também vieram em formatos diversos, como facão
grande, médio ou pequeno, facão de trabalho grande ou
médio. Parcelas desses facões servia para o trabalho dos
escravos e outra parte para o comércio.
114
cido. Outra diferença é a forma de entrar os objetos por
quantidade em coluna como mostrado na imagem 9 no
parágrafo 2.3.3. No gráfico 21 a seguir se mostra o valor
por categoria das mercadorias gastas no período 1726-
1727 na Fazenda Markay.48
115
para calcular que o peso total foi de 30 libras ou 15 kilos
de contas e 4 libras ou 2 kilos de tawasje. No total foram
distribuídas 143 facas e 15 enxadas. Na categoria “outras”
há 27 espelhos diversos, 21 navalhas, 49 tesouras, 2 ferros
de cassave e 3 berimbaus de boca. Os gastos de Markay
correspondem a grosso modo com os de Nassau onde a
moeda principal era machados, facôes, facas e contas.
No próximo gráfico 22 há indicações dos gastos junto
aos objetos registrados por categoria e frequência. Vale e
lembrar que as entradas no diário da contabilidade de Ma-
rkay são quase sempre multiplas e por isso difícil de sepa-
rar em categorias. O resultado geral mostra que 37% das
entradas registram a distribuição de objetos na fazenda, 29
% a compra de objetos, 22% a compra de alimentos e 12 % o
pagamento de serviços. Essa imagem confirma a predomi-
nancia de compra de objetos sobre a compra de alimentos
registrada na contabilidade diária doForte Nassau
Frequência de gastos
116
Compra de alimentos
50
Ver Anexo 3 17261129.
117
Compra de objetos
Pagamento de serviços
118
Gráfico 25 - frequência de gastos em serviços na fazenda Markay.
119
Comparando alguns dos gastos principais do Forte
Nassau com os da Fazenda Markay se percebe algumas
diferenças. No gráfico 26 a seguir estão representadas as
quantidades de machados, facões, cachos de contas, fa-
cas e enxadas.
120
Nassau ser o centro bem maior do que essa com 64% da
população dos dois juntos. Do total dos produtos registra-
dos nas duas contabilidades 59% consta no Forte Nassau
e 41% na fazenda Markay. O percentual do total dos pro-
dutos gastos nas duas contabilidades resulta respectiva-
mente em 57 % dos machados gastos no Forte Nassau e 43
% gastos em Markay, além dos 65% de facões em Nassau
contra 35% em Markay. A proporcionalidade de cacho de
contas é muito maior no Forte Nassau, 71% contra 29 % em
Markay. Em Nassau 67% das facas contra 33% em Markay
e 85% das enxadas contra 15 % respectivamente. Talvez o
gasto em forma de pano no Forte Nassau tenha contribu-
ído em parte para essa diferença e, possivelmente parte
dos gastos dos machados em Markay tenha sido compra-
da no Forte Nassau com pano. Em geral se gastou mais no
Forte Nassau do que em Markay. Mais pesquisas acerca
da contabilidade diária de outras fazendas são necessárias
para se ter um entendimento melhor dessas variações.
Ao final deve-se observar que o comércio de armas
de fogo está completamente ausente na contabilidade. No
caso de Ante se registra a entrega de um fuzil, na conta-
bilidade da pólvora de 1735 várias entradas registram a
distribuição de pólvora para índios atestando a presença
de armas de fogo. A completa ausência de registros de en-
trega dessas armas na contabilidade enquanto se registra
a distribuição de pólvora é difícil de explicar.
121
a compra de escravos. A compra de uma nova escrava,
provavelmente a chamada de Willemijn, já foi menciona-
da na análise das fontes no parágrafo 2.3.3. O inventário
de 1727 lista a compra de seis escravas indígenas, duas
mulheres e quatro moças.51 Uma outra escrava chamada
Galate aparece como falecida no inventário de 1729 com a
observação de que foi comprada em 1727. Em 1729 foram
compradas uma mulher, quatro moças e três rapazes.52
Em 1735 só uma mulher e uma moça.53
O livro da contabilidade da Fazenda Hardenbroe-
ck registra a compra das escravas Lisabeth e Maria dos
Akawaio. O caso da compra da Maria é particular porque
os holandeses encomendaram uma escrava em 17 de ju-
nho 1726 e já pagaram aos Akawaio, figurando assim um
exemplo de pagamento aos índios em formato de crédito,
cuja prática era muito comum no comércio dos holande-
ses com índios na América do Norte (WATERMAN 2008).
Outro caso parecido está registrado em 1735 quando um
índio recebe pagamento adiantado na fazenda Savonette
para comprar uma escrava.54 Na fazenda Markay foi re-
gistrado crédito para a compra de três escravas pelos Aka-
waio em 1724, pois, no ano seguinte em 1725 entraram
dois escravos um rapaz e uma moça.55 A compra da es-
crava Lisabeth dos Akawaio também é especial porque o
livro da contabilidade registra que os holandeses ficaram
51
NL-HaNA_1.05.05_61.21
52
NL-HaNA_1.05.05_62.32.
53
NL-HaNA_1.05.05_64.7., 64.14.
54
NL-HaNA_1.05.05_63.03.
55
NL-HaNA_1.05.05_61.13.
122
devendo duas navalhas e duas facas para os Akawaio.56
Os Akawaio parecem então ser importantes fornecedores
de escravos indígenas mantendo uma relaçao de crédito
com os holandeses, também parecida com as relações re-
gistradas na América do Norte.57
Contudo, os Akawaio não eram os únicos índios a
vender escravos para os holandeses em Berbice. O caso do
índio Terille que parece ser morador muito próximo da
fazenda Savonette merece atenção por mostrar demandas
para escravas indígenas. O caso entrou no conselho de jus-
tiça e por isso ficou bem documentado.58
Terille vendeu uma escrava indígena ao director Be-
cker da Savonette no dia 4 de setembro 1735 e recebeu 8
machados como pagamento adiantado. Terille disse que
precisava da escrava por alguns dias para ela ajudar sua
esposa a fazer bebida e Becker concordou, prometendo o
resto do pagamento quando a escrava fosse entregue. Te-
rille já havia dito ao Becker que Lourens van Weeningen
também estava interessado em comprar a mesma escrava.
No dia seguinte, 5 de setembro na fazenda Savonette apa-
receu Willem Mentz, o escravo principal da fazenda Nieu-
we Caracas onde Lourens van Weeningen trabalhava, e
Becker perguntou se Lourens ou o diretor Senhor Teller
não vieram, pois ele queria anunciar aos dois que ele já
havia comprado a escrava. Willem disse que não havia ne-
56
NL-HaNA_1.05.05_61.16.
57
1726 06 02 compra de uma escrava dos Akawaio na Fazenda West
Souburg; 1726 06 29 compra de duas escravas na mesma Fazenda, uma
das escravas foi dada à Fazenda Dageraat (NL-HANA_1.05.05_61.03).
58
NL-HaNA_1.05.05_63.14: ff. 23-28; f. 43.
123
cessidade porque eles já sabiam. Em seguida Lourens na
noite de 6 de setembro, com ajuda do negro carpinteiro da
fazenda Markay, roubou a escrava indígena.
Ouvido pelo conselho de justiça Lourens disse que
não sabia do pagamento feito por Becker, mas que ele pa-
gou aos índios pela escrava 7 aulnas de algodão estampa-
do com flores, dois cachos de contas de vidro e três aulnas
de linho branco. O governador depois visitou a Fazenda
Savonette para investigar o caso e no dia 23 de outobro Te-
rille foi ouvido junto ao seu cunhado. Terille declarou que
ele havia vendido a escrava ao Becker, mas que Lourens
tomou a escrava e ameaçou de bater no índio Siewirijcae.
Perguntado por que ele aceitou o pagamento de Lourens,
Terille respondeu que não fez nada e nem tocou nos bens.
O conselho concordou e após o julgamento do Governa-
dor ficou definido que Lourens devia entregar a escrava
ao Becker e pagar os custos do processo. O índio Terille
devia retornar o pagamento a Lourens.59
59
O dono da fazenda Nieuwe Caracas, Sr. Teller, enviou uma carta
para Holanda datada de 3 dezembro de 1735, apelando contra o
veredito do conselho, alegando que Lourens era menor de idade
(NL-HaNA_1.05.05_ 63.5) .
124
2.6 Conclusão
125
todas as compras foram registradas. A venda na fazenda
Savonette da escrava indígena pelo índio Terille ao Becker
por 8 machados em setembro 1735, por exemplo, não consta
no livro de contabilidade diária de Savonnette.60 Portanto,
pode se assumir que parte do comércio de escravos indíge-
nas nas fazendas da Sociedade ficou fora da administração.
O fluxo de escravos nas fazendas particulares não foi tam-
bém incluído nos registros porque no período 1727-1736
não havia um censo dos escravos particulares.
As fontes sugerem que parte do comércio de es-
cravos era regional e outra parte local. O caso de Terille
mostra um comércio local e a contabilidade diária mostra
um comércio regional principalmente com os Akawaio. O
contexto regional das populações indígenas na Amazônia
caribenha descrita por Glória Kok destaca o comércio de
escravos indígenas para as Guianas holandeses. Os Aka-
waio parecem então serem importantes fornecedores de
escravos indígenas mantendo uma relaçao de crédito com
os holandeses, similares às relações registradas na Améri-
ca do Norte. Crédito também fazia parte do comércio de
escravos indígenas dentro da colônia como mostra o caso
de Terille, que documenta também a complexidade das
relações trabalhistas. A contínua predominância de mu-
lheres indígenas na população escrava das fazendas da
Sociedade ainda é difícil de explicar.
Glória Kok sugere na sua contribuição que no Surina-
me essas escravas trabalhavam principalmente no serviço
60
NL-HaNA_1.05.05_64. Há também a possibilidade de que tenha
sido uma compra particular de Becker; vale lembrar que a população
escrava particular dos funcionários não aparece nos inventários da
Sociedade.
126
doméstico.61 A presença de mulheres indígenas no serviço
doméstico é confirmada pelas evidencias registradas no li-
vro de alforria da colônia por ocasião das relações íntimas
entre essas escravas e europeus.62 O inventário de 1735 re-
gistra, por exemplo, a venda de uma criança cristã da Tan-
netje, escrava indígena, no Forte Nassau.63 O comprador
era Jan Valck, o secretário da Colônia, e o pai da criança
era chamado de Cornelis.64 Jan Valck partiu para Holanda
em 1738 e comprou a alforria da Tannetje, sob a condição
de que se ele voltar e casar de novo, ela ficaria com a viú-
va caso ele morresse.65 Uma outra carta de alforria para a
escrava indígena Philida tem também a condição que de
ela ser livre, mas sem poder partir.66 Esses dados sugerem
que as escravas recebiam sua alforria dentro uma relação
doméstica.
Contudo o serviço das escravas indígenas não se li-
mitava para o doméstico, elas habitavam também no Ne-
gorije, o assentamento onde se situavam as moradias dos
escravos.67 As referências de pagamento para espremer
mandioca, para beijuseiras as ‘mulheres de pão’68, e para
61
Ver: Populações indígenas na Amazônia caribenha: um estudo de
caso em Berbice (1726-1738).
62
NL-HaNA_1.05.05_327.
63
NL-HaNA_1.05.05_64.7.
64
NL-HaNA_1.05.05_327 alforria para Cornelis em 15 de agosto 1735.
65
NL-HaNA_1.05.05_327 alforria para Tannetje em 17 de maio 1738.
66
NL-HaNA_1.05.05_327 alforria para Philida e sua filha Johanna em
30 de agosto 1741.
67
Ver parágrafo 2.2.2.
68
Brootwijven em holandês.
127
preparar bebidas alcoólicas tradicionais69 sugerem que as
mulheres indígenas mantiveram atividades tradicionais
da cultura indígena dentro do conjunto das fazendas.70
Outra sugestão já lançada anteriormente, é que as
escravas indígenas serviam como intermediadoras no en-
torno das comunidades indígenas vizinhas, negociando
serviços e compras. A contabilidade documenta que as
fazendas estavam diariamente envolvidas no comércio lo-
cal e regional. A entrada repetida de ‘para uma escrava
indígena para comprar’ na contabilidade trata principal-
mente de redes e canoas, produtos mais valiosos, e talvez
indique um papel intermediário na compra.71
As escravas indígenas também intermediaram nas
relações das fazendas para contratar o serviço de índios. A
pesquisa indica que as relações com a população indíge-
na eram muito importante para o funcionamento das fa-
zendas europeias. A presença de palavras indígenas como
habas e manari nos registros holandeses documenta que es-
sas relações eram dialéticas. As fontes indicam que existia
uma força de trabalho de jovens índios no formato alea-
tório e ambulante. Os fazendeiros, fossem da Sociedade
privados, competiam pelo serviço desses índios como foi
descrito anteriormente no caso de Ante, que recebeu 1 ca-
noa, 1fuzil e 1 camisa colorida para entrar no serviço. Essa
imagem de força de trabalho indígena ambulante combina
muito bem com a imagem retratada na pesquisa recente-
69
NL-HaNA_1.05.05_61.13.
70
Ver anexo 1.
71
Aan een indiaense slavin tot het koopen van een hangmat 17270112;
aan een slavin tot het koopen van een coriaer 17260503 no Anexo 1.
128
mente publicada por Heather Roller que estuda a mobili-
dade de trabalhadores indígenas nas aldeias da Amazônia
portuguesa na época Pombalina (ROLLER, 2015).
Essa força de trabalho com grande mobilidade
continua sendo um detalhe importante para as Guianas
contemporâneas e é um tema de pesquisa que pode ser
aprofundado no contexto de estudos comparativos. Uma
impressão geral sugere que a participação de trabalho es-
cravo indígena é menor do que na Amazônia portugesa
e que a participação econômica indígena independente é
maior, porém novas pesquisas são necessárias para apro-
fundar essa hipótese.72
Uma temática interessante para se comparar com a
Amazônia portuguesa é a circulação de objetos que serve
como moeda. Tudo indica que as sociedades indígenas na
Amazônia portuguesa compartilhavam as mesmas prefe-
rências pelas mercadorias como machados, facões e contas
de vidro. Um aspecto importante nesse contexto é a circu-
lação de objetos dentro das Guianas e o contexto maior de
Amazônia. Vale lembrar que há muitas referências na lite-
ratura histórica sobre a circulação de mercadorias holan-
desas entre as sociedades indígenas na Amazônia desde
que Padre Acuña encontrou ferramentas no rio Solimões
em 1640 (FARAGE 1991; BOS, 1998; HEMMING, 2007).
O papel dos Lokono de Berbice nessas redes continua
largamente desconhecido. Os arquivos da Sociedade docu-
72
Aparentemente havia também mulheres indígenas livres nas
fazendas, em Forte Nassau se registrava em 1735 duas índias livres
chamadas Cariba e Erininge (NL-HaNA_1.05.05_64.4) e em 1736 de
Cicelia e Eriningje (NL-HaNA_1.05.05_65.1).
129
mentam que os índios viajaram duas vezes por ano para
o rio Orinoco acompanhado por um europeu, para trazer
cavalos e copaíba. O relato de 19 povos indígenas de Jephta,
um pajé Lokono convertido pelos Moravianos em 1748,
mostra que os Lokono conheciam a população das Guianas
indo desde a Guiana Francesa até o Alto Orinoco; Jephta
também identificou os Manao que viveram no rio Ama-
zonas e fala de outros povos Arawak além do rio ( BOS,
1998: 113- 218). O conhecimento dos Lokono testemunha
a participação deles nas redes regionais (VIDAL, 2000). Os
Akawaio aparecem na contabilidade holandesa como arti-
culadores do interior. O fluxo dos objetos e as formas de
troca ainda continuam mal documentados e a pesquisa da
contabilidade desses objetos no contexto das Guianas ho-
landesas pode contribuir para um melhor entendimento.
Um aspecto desse fluxo é a composição dos valores
que serviam para o comércio da população indígena com
os fazendeiros europeus em Berbice. Enquanto se nota que
o tecido é uma moeda importante nessas relações, deve
se constatar que a predominância de tecido como moeda
de troca na colônia de Berbice é muito menor do que na
Amazônia portuguesa onde as fontes apontam que o pa-
gamento principal consta como vara de tecido. Parece que
as sociedades indígenas no Berbice preferiam ferramentas
e contas. Entre ferramentas especialmente os machados e
facões são importante como moeda. A presença de contas
de vidro é constante e precisa ser mais pesquisada, por
isso, várias referências sobre tipos de contas ainda con-
tinuam obscuras por se desconhecer os tipos de contas,
como os termos tawasje ou karbee.
130
É pertinente também aprofundar sobre o resultado
do crescimento populacional de escrava indígena que pa-
rece superar aquela da população escrava de origem afri-
cana. Parece também que a população indígena em Berbice
é muito menos atingida por doenças do que a população
de origem africana.
As fontes pesquisadas se limitaram a uma parte pe-
quena do total das fontes disponíveis, portanto mais pes-
quisas são necessárias e as conclusões formuladas aqui
devem ser consideradas preliminares.
Fontes e Bibliografia
Mapa
131
OTM: HB-KZL 102.21.03. Naaukeurige platte grond van den
staat en den loop van Rio de Berbice : met derzelver plantagien in de
Geoctrojeerde Colonie de Berbice gelegen / gemeeten en getekent door
last en op kosten van de Ed. Ag. Heeren Directeuren van de Colonie
door den Ingenieur Jan. Daniel Knapp; en in ’t koper gebragt door
Hend. de Leth in de Visscher te Amsterdam. Schaal [ca. 1:110.000],
Editie [2e dr.] [na 1742].
Bibliografia
132
BOOMERT, Arie. Gifts of the Amazons: “green stone” pendants
and beads as item of ceremonial exchange in Amazonia and the
Caribbean, Antropologica 67: 33-54, 1987.
133
FARAGE, Nádia. As Muralhas dos Sertões: os povos indígenas
no rio Branco e a colonização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991
134
ISRAEL, Jonathan I. The Dutch republic. Oxford, 1998.
135
OTCA. Agenda estratégica de cooperação amazônica aprovada
na X Reunião de Ministros de Relações Exteriores do TCA
Novembro 2010. Brasília, 2011.
136
WALLENBURG, Martin van; BRIGHT, Alistair; HULSMAN,
L.A.H.C.; BEL, Martijn van den. ‘The Voyage of Gelein van
Stapels to the Amazon River, the Guianas and the Caribbean,
1629–1630’. Hakluyt Journal online, edition January 2015.
137
POPULAÇÕES INDÍGENAS NA AMAZÔNIA
CARIBENHA: UM ESTUDO DE CASO EM
BERBICE (1726-1736)
Glória Kok1
Introdução
139
Os documentos da pesquisa “Fazenda e trabalho na
Amazônia, mão de obra nas Guianas: o caso de Berbice
(1726-1738)”, desenvolvida pelo Núcleo de Pesquisas Elei-
torais e Políticas da Amazônia (NUPEPA), da Universida-
de Federal de Roraima (UFRR), abrem novas miradas so-
bre a história indígena e a história econômica da região da
Amazônia caribenha. Pretende-se, portanto, iluminar as
ações dos povos indígenas da região, incluindo a popula-
ção de escravos indígenas que trabalhavam nas fazendas
holandesas de Berbice, de 1726 a 1736, na interface Guiana
Holandesa e Portuguesa.
1 Redes pré-coloniais
140
a Amazônia Central, como os Piro, os Conibo e os Omá-
gua, e outra rede que conectaria os grupos ribeirinhos e os
grupos do interflúvio. Os documentos do Projeto Berbice
também apontam para outras redes que comunicam gru-
pos da costa do Atlântico aos grupos ribeirinhos. Durante
o período colonial, todas essas redes foram interrompidas
e/ou alteradas (ALMEIDA, 2013: 97).
Os europeus que navegaram pelos rios da Amazônia
nos séculos XVI e XVII aludiram à existência de caminhos
fluviais que conectavam aldeias e “províncias” distantes
numa vasta rede ameríndia de comércio intertribal de ob-
jetos, idéias e pessoas. Mesmo antes da presença europeia
os artigos europeus já circulavam pelas redes indígenas de
comércio, por meio do escambo, madeiras, urucum, algo-
dão e outras especiarias da floresta.
O antropólogo Neil Whitehead analisa os objetos de
ouro que circulavam nas sociedades nativas como itens da
elite e que faziam parte de um comércio de longa distân-
cia com outros líderes nativos. O uso de artefatos de ouro,
conhecidos como guanin e caracoli, assim como de escultu-
ras polidas em madeira cumpriram o papel de validação
da autoridade política e social das estruturas políticas da
elite das regiões caribenhas e ao norte da América do Sul
(WHITEHEAD, 2009: 5).
2 A conquista holandesa
141
orientação dos fluxos de produtos, com a participação de
novos agentes, além dos grupos indígenas: europeus, in-
termediários (indígenas ou não-indígenas) emekoros (ne-
gros fugidos).
David Sweet refere-se a uma categoria social muito
atuante nas redes coloniais que chamou de transfrontiers-
men, da qual muitos mestiços faziam parte. Era formada
basicamente por desertores e homens envolvidos na coleta
de drogas do sertão e no apresamento de escravos indí-
genas, que também serviam de guias para a entrada das
tropas de resgate nos vales dos rios Branco e Japurá.
No mapa do rio Courantyne, publicado por Hul-
sman, são visíveis as mudanças nas paisagens coloniais:
postos de soldados para “vigiar os índios”, “florestas e ár-
vores que são cortadas”; aldeia indígena “com índios que
fogem dos portugueses [...], completamente diferentes dos
índios locais”, quilombos de negros fugidos que vivem no
rio Suriname, além das aldeias indígenas que permanece-
ram, como as dos Intoniaanen [Tunayana] e dos Macrubo
que se autodenominam Waiwai (HULSMAN 2011).
A violência dos contatos gerou guerras coloniais.
A partir daí, a paisagem regional, o mosaico étnico e a
densidade populacional mudaram radicalmente. Como
resultado, novas aglomerações, isto é, grupos menores
fragmentados no espaço colonial amazônico se forma-
ram na região, processo denominado de “tribalização”
(FERGUSON AND WHITEHEAD, 2005: 3).
As guerras também provocaram expropriação das
terras indígenas, escravização das populações nativas, de-
142
população, epidemias e migrações para refúgios nas flo-
restas. Por outro lado, emergiram novas rotas e agentes de
comércio, nas quais os holandeses, comerciantes de longo
curso, tiveram um papel fundamental.
Do final do século XVI até a primeira metade do sé-
culo XVIII, os holandeses controlaram a região dos rios
Orinoco, Negro, Branco e Courantyne, com a ajuda de
aliados indígenas. O Suriname, conquistado em 1667,
tornou-se, por volta de 1700, o principal centro holandês.
Tanto a fundação da Colônia de Berbice, em 1627, cria-
da pelo mercador Abraham van Pere de Vlissingen, dire-
tor da Companhia das Índias Ocidentais (WIC), como a
da Colônia de Essequibo, anterior a 1621, foram possíveis
graças à aliança entre os povos Arawak, hoje conhecidos
como Lokono, e os holandeses.
Novas redes de comércio de produtos indígenas e
europeus foram criadas nesse período. Os intermediários
eram encarregados da redistribuição das mercadorias.
Assim, os Boni e Ndjuka forneciam os artigos europeus
(facas, machados de ferro, espingardas, panos, espelhos
e miçangas) aos Wayana e Tiriyó, em troca de produtos
indígenas e especiarias. Os Wayana negociavam com os
Aparai e Wajãpi cães de caça, redes de algodão e plumá-
ria. Os Tiriyó relacionavam-se com os Pianokoto e outros
grupos a oeste do rio Trombetas, tais como os Makuxi e
Xarumã, dos quais obtinham cães de caça e curare. Os Pia-
nokoto negociavam com os Waiwai que possuíam vários
laços comerciais com os Wapixana, Atroari e Taruma ao
norte e com outros grupos nas cabeceiras dos rios Trom-
betas e Mapuera (BARBOSA, 2005: 64).
143
O novo contexto estabeleceu uma diferenciação entre
os “índios do rio”, que ocupavam os cursos dos grandes
rios, mais próximos das fontes de artigos europeus, como
no caso dos Wayana e Aparaí; e os “índios da floresta”,
mais distantes das fontes de produtos europeus e, por-
tanto, com necessidade de um número maior de interme-
diários para adquiri-los. Produziu-se, assim, uma cadeia
assimétrica de produtores e recebedores dos artigos euro-
peus. Muitos grupos foram capturados e escravizados. Os
próprios Akawaio, conforme analisa Christopher Carrico,
foram escravizados no Suriname e capturados por plan-
tadores e por Caribes na Guiana para serem vendidos no
Suriname (BARBOSA. 2005: 67)
A partir do século XVII, os holandeses abriram fa-
zendas para o cultivo de cana-de-açúcar (o mais lucrativo
produto de exportação da Colônia holandesa), cacau, café,
índigo e outros produtos nos rios Essequibo, Mazaruni e
Cuyuni. Com a organização das colônias holandesas, es-
cravos indígenas foram substituídos por produtos da flo-
resta no intercâmbio de artigos europeus, apesar da legis-
lação da WIC proibir terminantemente a escravização das
populações indígenas das Américas.
Grandes viajantes e comerciantes, os Manao ocupa-
vam o rio Negro. Antes da chegada dos europeus, man-
tinham uma rede de trocas de urucu, ralos de mandioca
e outros produtos com os grupos indígenas dos rios Soli-
mões e Japurá, atravessavam o canal Casiquiare e faziam
trocas com os Muiscas e outros povos da Colômbia.
Segundo Hemming, a partir do século XVII, os Ma-
naus auxiliaram os escravistas portugueses na captura de
144
escravos indígenas. Em meados do século XVII, os Manao
entraram em contato com os povos do rio Branco, que
mantinham intercâmbios com os holandeses da Guiana,
para os quais forneciam escravos indígenas. Os índios
capturados na bacia do Amazonas, segundo Schomburgk,
eram levados, entre outros destinos, para o Suriname. Es-
clarece Hulsman, que “a escravidão dos índios no Surina-
me era, pelo regulamento oficial, limitada aos índios que
viviam fora da colônia, mas somente em 1793 foi abolida
oficialmente” (HULSMAN, 2011: 57).
Segundo Décio de Guzman, David Sweet encontrou
evidências do envio de 18 Tropas de Resgates, entre 1697
e 1749, para os rios Negro, Branco, Solimões e Japurá, com
objetivo de capturar escravos indígenas.
Pela aliança com os holandeses, em 1723, o rei de Por-
tugal autorizou uma “guerra justa”, porque os Manao “im-
pedem a propagação da Fé, continuamente roubam e assal-
tam meus vassalos, comem carne humana e vivem como
selvagens, desafiando as leis da natureza [...] esses bárbaros
estão cheios de armas e munições, algumas das quais lhes
foram dadas pelos holandeses” (HEMMING, 2011: 108).
De acordo com as informações de Rogério de Pateo, as
tropas arrasaram as aldeias de Kari´na e Lokono, na região
de Essequibo, vendendo os sobreviventes aos brancos.
Os Manao passaram então a atacar as missões por-
tuguesas do rio Negro, escravizando os índios aldeados
e vendendo-os aos holandeses. “Seu principal líder, Aju-
ricaba, ostentava uma bandeira holandesa em sua canoa
quando os portugueses o prenderam. Atado em ferros,
atirou-se na água. A aldeia fortificada de Ajuricaba foi ata-
145
cada, centenas de índios foram recrutados para as missões
e outros foram escravizados (HEMMING, 2011: 108 e 109).
Depois da expedição punitiva de 1728, o governa-
dor enviou Belchior de Moraes que reivindicou ter ata-
cado e escravizado quarenta e cinco aldeias e matado
20.800 pessoas. Basta dizer que no início do século XVIII,
as margens do rio Negro, no passado populosas, encon-
travam-se vazias. Para Décio de Guzmán, “O envio de
tropas de guerras e resgates para o Rio Negro, junto à
derrota de Ajuricaba e de todas que o seguiam, cumpria
a tarefa de bloquear o contato holandês com os índios
dessa área” (GUZMÁN, 2008:118).
Estima o padre João Daniel que até 1750 tenham “sa-
ído, só do Rio Negro perto de três milhões de índios es-
cravos, como consta dos registros [sic]” (DANIEL, 2004:
314). Dos Rios Solimões e do Rio Branco, nas décadas de
1730 e 1740, foram escravizados numerosos Caribes, Sa-
pará, Wapixana e Macuxi, que viviam em suas margens
(GUZMÁN, 2008: 125). “Vários grupos teriam buscado
refúgio nas cabeceiras dos rios Negro, Uaupés e Içana”
(ANDRELLO, 2013: 4).
De acordo com Collomb e Dupuy, os Kali´na faziam
expedições para captura de escravos para serem vendidos
em Paramaribo, onde as mulheres e crianças constituíam
a principal força de trabalho doméstico. As expedições pu-
nitivas (razzias) eram conduzidas na Guiana e Suriname
até a segunda metade do século XVIII contra os Tiriyó, os
Wayana e os Emerillon, com o apoio dos colonos holande-
ses (COLLOMB e DUPUY, 2009: 120).
146
Além dos Kali´na e dos Manao, os Omágua, que vi-
viam no Alto Solimões, também faziam intercâmbio com
os holandeses. Segundo Reginaldo Gomes, possuíam ob-
jetos dos Países Baixos, como facas, machados, sal e armas
(GOMES, 2011: 22 e 23).
Desde o século XVII, os holandeses abriram fazendas
para o cultivo de cana-de-açúcar (o mais lucrativo produto
de exportação da Colônia holandesa), cacau, café, índigo
e outros produtos nos rios Essequibo, Mazaruni e Cuyuni.
Por volta de 1715, o Suriname possuía cerca de 200
propriedades com 12.000 escravos (GOMES, 2012: 38).
Certamente, muitos desses escravos vieram da região do
Rio Negro, capturados pelos Manaus.
147
forja, além de outros bens. A documentação analisada foi re-
alizada pela administração colonial que registrou os inves-
timentos em mercadorias, salários e gastos operados pela
Sociedade de Berbice e a contabilidade de cada fazenda.
Entre as mercadorias, nota-se um intenso intercâm-
bio de objetos entre os grupos indígenas independentes e
os holandeses. Objetos de ferro (machados, facões, enxós,
cordas, navalhas, facas e espelhos) e miçangas eram tro-
cados por escravos indígenas, alimentos, cerâmica, redes,
canoas, algodão, “madeira venenosa” utilizada para pes-
ca, o timbó, e serviços variados (remo, cortador de grama,
levar coisas e pessoas, manter guarda, capturar e retornar
escravos africanos foragidos).
É inegável a importância dos objetos de ferro para o
escambo de escravos indígenas, os pagamentos de servi-
ços aos índios e como instrumentos de trabalho. Dada a
importância atribuída ao ferro, cada fazenda de Berbice
possuía o seu próprio estoque de ferramentos.
Das 131 fazendas registradas, apenas 18 pertenciam
à Sociedade de Berbice, cuja população escrava indígena
somava cerca de 200 pessoas. A análise de Hulsman indica
uma porcentagem crescente do número de mulheres: “Em
1727 as mulheres formam 64% da população escrava indí-
gena, em 1729, 62%, e em 1736, 70%” (HULSMAN: 2.3.4:
gráfico 8).
O que isso significa? Que tipo de trabalho ou de rela-
ção social essas mulheres indígenas realizavam?
O predomínio das mulheres entre a população escra-
va indígena, ao contrário do que ocorreu com a população
148
de escravos africanos, sugere algumas hipóteses: a mão de
obra feminina no cultivo das roças para produzir alimen-
tos, tradicionalmente utilizada entre os grupos indígenas,
nos trabalhos domésticos e na realização de tecidos que
serviam como pagamento aos índios.
Na América Portuguesa, o Regimento das Missões do
Estado do Maranhão e Grão-Pará (1686-1757) regulamen-
tava a distribuição de mão de obra aos moradores: os je-
suítas teriam direito a terça parte de todos os índios para
seu sustento e metade dos índios da aldeia deveria estar
disponível aos moradores em troca de um pagamento fei-
to em tecidos de algodão “grosseiro”, produzidos por eles.
Curiosamente, quilômetros de tecido eram negociados pelo
Forte Nassau, mas principalmente para o comércio com os
assentamentos coloniais da Espanha no rio Orinoco.
A população escrava das fazendas da Sociedade de
Berbice concentrava-se, sobretudo, no Forte Nassau (54),
na fazenda Oost-Zouburg (26) e na fazenda Markaay (23)
(HULSMAN 2.3.4: gráfico 9). Trocados por machados, fa-
cas, navalhas e tecido de algodão, os escravos indígenas
faziam parte do comércio regional entre os grupos Aka-
waio e os holandeses.
Outro ponto relevante dos dados da população in-
dígena que vivia nas fazendas é o alto número de mulhe-
res indígenas com filhos. No inventário da fazenda Oost-
-Zouburg, feito em 22 de agosto de 1727, das 11 mulheres
escravas índias, 7 tinham filhos. No inventário da Fazenda
Markay feito em 20 de agosto de 1727, das 9 mulheres lis-
tadas, 7 tem uma duas ou três crianças, sendo uma delas
149
criança cristã, uma denominação provavelmente atribuída
ao filho de europeu. Em 1726, foram contabilizadas 3 nas-
cimentos.No inventário do Forte Nassau, de 30 de agos-
to de 1727, foram contabilizados 9 escravos índios, entre
os quais 2 na categoria Christian child, “criança cristã”: Jan
van Kouwenhoven e Adam assistente de ferreiro; 15 mulheres
escravas, das quais 8 com filhos, 3 moços indígenas e 5
moças indígenas entre as quais Tannetje,“criança cristã”.
No ano anterior, foram contabilizados 5 nascimentos de
crianças indígenas.
Tais dados sugerem o perfil de uma população jo-
vem de mulheres escravas nas fazendas da Sociedade de
Berbice, que, provavelmente, estabeleciam uniões com os
índios e africanos escravos e com os colonos.
O “Livro de Contabilidade Diário Fort Nassau 1726-
1727”, que consta no anexo 2 detalha as mercadorias que
entraram e os respectivos pagamentos.
As populações indígenas prestavam serviços varia-
dos ao Forte: entregavam peixes, carne de veado salgada,
“jovem burro do mato” (anta), cestas, passarinhos, igua-
nos, pão de mandioca (atribuição feminina), caranguejos,
galinhas, papagaios, ovos, tartarugas, macacos, churrasco,
camarão, vasilhas, abacaxi, pita, cordas, buriti, cera, pau
de timbó, canoa, peneiras, tipiti, goma, algodão, barril de
Copaíba, com cerca de 160 litros, além dos escravos. Eram
remadores, cortadores de grama, cultivavam batata, leva-
vam correspondências pelos rios Courantyne, Demerara
e Essequibo, faziam redes, conduziam os holandeses em
viagens ao rio Orinoco para trazer cavalos. Trabalho de
150
europeus como costurar costuravam cartuchos e a pintura
na igreja por Jan Godfriedt Surijtser era pago por 5 con-
tas cacho e 3 enxadas, indicando a importância da ´moeda
indígena´para os europeus.
Embora existissem duas categorias distintas com re-
lação à classificação holandesa dos índios, os “escravos
ou escravas para trabalhar” e os “servidores indígenas”,
ambas eram remuneradas com os mesmos produtos que
circulavam pelo mercado regional: panos pardo e branco,
espelhos, navalhas, facas, facões, enxadas, machados, te-
souras e berimbaus de boca.
O livro de contabilidade do Forte Nassau, portanto,
permite uma análise fina tanto do fluxo de mercadorias da
Amazônia caribenha como ilumina a importância dos gru-
pos indígenas para a manutenção da colônia holandesa de
Berbice, seja por meio do trabalho (escravos ou livre), seja
pela produção e circulação de produtos que navegaram pe-
los rios da Amazônia e pelo Atlântico Norte no século XVII.
Bibliografia
151
COLLOMB, Gérard e DUPUY, Francis. Imagining Group,
Living Territory: A Kali´na and Wayana View of History.
In: WHITEHEAD, Neill and ALEMÁN, Stephanie (eds.).
Anthropologies of Guayana.Cultural Spaces in Northeastern
Amazonia. Tucson: The University of Arizona Press, 2009.
152
NEVES, Eduardo Góes. Arqueologia da Amazônia. Rio de
Janeiro, Zahar, 2006.
153
VEREDAS DA(S) GUIANA(S), ÁGUAS E TERRAS NO
ESPAÇO SOCIAL BERBICE E SEUS NOMES
Maria Odileiz Sousa Cruz1
Introdução
155
cialmente dos rios, esses foram absorvidos pelos europeus
- em destaque ingleses, holandeses e franceses -, e funcio-
nou muito bem como estratégia facilitadora para os deslo-
camentos inter-regionais.
Na Guyana, os principais rios Cuyuni, Mazaruni, Ba-
rima, Essequibo, Demerara e Berbice juntam-se aos rios do
Suriname (Courantyne, Coppename, Suriname e Maroni)
e aos do Departamento Ultramarino da França (Mana, Sin-
namary e Oyapoque). Muitos desses nomes, por exemplo,
Suriname, Oyapoque, Guiana representam denominações
atribuídas aos povos e línguas indígenas à época do con-
tato (CRUZ, 2009).
De outro modo, esses e outros nomes regionais têm
causado impacto nas diferentes línguas de todos os conti-
nentes quando são absorvidos pelas classificações científi-
cas. Por exemplo, no contexto da botânica os nomes indi-
cam sua respectiva origem do lugar como se vê em Carapa
guianensis,3 Cecropia surinamensis, Heloisis cayennensis, Pa-
rahancornia amapa espécie de plantas; pode ser também um
tipo de camarão originário da Amazônia como Macrobra-
chium amazonicum, mostrando esse último e os exemplos
que seguem uma relação entre botânica e zoologia Pachira
aquatic e Alouatta seniculus (animal-planta), Attalea maripa
(planta-inseto ou planta), Myleus pacu (planta-peixe); ou
como mostra Nores (1999:483-484) sobre as classificações
de pássaros e sua diversidade na área do presente estu-
3
No conjunto desses termos científicos, o segundo nome sublinhado
remete ao lugar de origem, isto é, a um topônimo; já nos demais
exemplos, todos os termos sublinhados são de origem indígena e
remetem alternadamente à plantas e animais.
156
do, ou seja, espécies encontradas em toda área da Guiana
Pachyramphus surinamus, Phylloscartes flaveolus amazonus,
Lophotriccus vitiosus guianensis ou de forma mais específica
como subespécies de pássaros originados na área Bolívar
(Venezuela) Pteroglossus rupurumii, Pteroglossus aracari ro-
raimae, Tangara schrankii venezuelana, Lampropsar tanagri-
nus guianensis, e por último, pássaros originados na área
Imeri (Amazonas) como Crypturellus casiquiare, Thalurania
furcata orenocensis. Essas classificações mostram que os no-
mes dos lugares ao serem indexados à forma de catalo-
gar plantas, animais, peixes, pássaros e difundidos com o
mesmo termo entre diferentes línguas do mundo, as taxes
remetem à inerente interdisciplinaridade entre botânica e
toponímia e linguística (CRUZ, 2013).
Isto sugere que o ato de nomear pode ser uma ques-
tão de alta complexidade, mas também revelador uma vez
que os nomes indicados são remissivo a um lugar, povo,
objeto, planta, animal, dentre outros. Por isso, se pergunta
se diante da complexidade social e das múltiplas línguas
autóctones e alóctones distribuídas entre os cinco países,
seria possível constituir uma historiografia de nomes na
Guiana a partir do caso Berbice.
Vale lembrar que estudos sobre historiografia de no-
mes podem abranger várias correntes teóricas e metodoló-
gicas. Para o presente contexto, enfoques interdisciplinares
(historiografia, linguística, toponímia) são considerados
nessa abordagem por viabilizarem uma leitura inédita so-
bre a região em foco. Como bem defende Japiassu (1994),
o conceito interdisciplinar se forma a partir de “uma in-
terpenetração” ou “interfecundação” entre as disciplinas,
157
“...indo desde a simples comunicação das
idéias até a integração mútua dos conceitos
(contatos interdisciplinares), da epistemolo-
gia e da metodologia, dos procedimentos,
dos dados e da organização da pesquisa.
É imprescindível a complementação dos
métodos, dos conceitos, das estruturas e
dos axiomas sobre os quais se fundam as
diversas disciplinas. O objetivo utópico do
interdisciplinar é a unidade do saber [...]”
(JAPIASSU, 1994:2).
1 Hibridismos em Berbice
158
no curso desse rio, mais especificamente na Colônia Du-
tch estabelecida no final do século XVIII. Trata-se de um
crioulo de base Neerlandesa junto ao qual foram agrega-
dos falares da costa da Guyana, mas também de palavras
de origem do Oeste africano e do lado Oriental do Ijo, hoje
como parte do delta nigeriano (HOLLOS e LEIS, 1989: 10)
e parte do Congo.
A documentação sobre a Sociedade de Berbice (So-
ciëteit van Berbice) aponta que no período de 1726-1736 es-
tavam reunidos em suas fazendas, indivíduos falantes de
várias línguas indígenas provavelmente das famílias Kari-
be e Aruwak, africana(s), do Dutch Crioulo Berbice e das
línguas europeias sendo as mais representativas o Neer-
landês e Francês. O que se chama de hibridismos aqui, não
implica necessariamente na configuração de processos lin-
guísticos stricto sensu, mas sim na incorporação de nomes
oriundos das línguas supracitadas e respectivas culturas
junto a uma documentação oficial de base europeia (Com-
panhia das Índias Ocidentais-WIC).
Importa comentar que o registro geográfico do mapa
da Sociedade foi realizado por um alemão4 que escrevia
em holandês e tentava grafar os nomes locais a partir
das línguas indígena, crioula, africana e, talvez por isso
a justificativa das variações gráficas5 como em Kapoeri ~
Kapoerie “nome de riacho”. Não obstante, a variação se
4
Aliás, outros alemães também foram responsáveis pelo registro da
extensa documentação de Berbice ao longo dos anos, aparecendo assim
uma variedade de dialetos europeus compartilhada entre zelandeses,
neerlandeses, cuja temática ainda merece mais investigação.
5
Vide comentários gerais sobre nomeações e grafias indígenas brasileiras
em Emmerich e Leite (1981: 29-35), cuja discussão não se distancia da
mesma problemática encontrada nessa documentação de Berbice.
159
aplicava ainda aos nomes europeus, por exemplo, Kreek
“riacho” aparece com muitas formas abreviadas diferen-
temente Kr. kr. K., K, Krk. Os nomes pessoais, por sua vez,
também aparecem com formas diferentes, às vezes com
duas ou até três variações, a despeito de serem referentes
a pessoas distintas: Elisabeth~Elisabet~Eliesabeth ou como
Magdalena~Magdalenen, Susanna~Susanne, Caatje~Caetje.
Vale dizer que à época não prevalecia padrão de escrita,
mas sim de realização fonética e que via de regra nomes
próprios não obedecem a normas fonológicas.
160
a que grupos pertenceriam os indígenas e os africanos, já
os europeus eram passíveis de identificação, portanto, as
categorizações aqui presentes são de caráter exploratório.
A historiografia dos nomes seguirá uma ordem cro-
nologia diferenciada em cada bloco visto a organização
possível dos dados. Assim aparecem os nomes das famí-
lias proprietárias das fazendas (plantações) atrelados aos
rios, riachos ou igarapés. Na sequência estão os nomes das
fazendas e possíveis origens toponímicas ao lado dos no-
mes das águas, no caso dos riachos e igarapés que assu-
mem o registro do local, isto é, nomes indígenas. Todas
estas informações são analisadas dentro da temporalidade
entre 1726 até 1736. Quando se tratam de nomes pessoais
os registros são alterados mediante as possibilidades de
agrupamentos das informações, por exemplo, para nomes
de escravos e indígenas são usadas as referências de 1727,
1729 e 1735. Por últimos estão elencados um conjunto de
nomes de ferramentas que estão presente até hoje no con-
texto historiográfico das Guianas.
161
serem identificados como sendo europeu, indígena e possi-
velmente africano, conforme amostra a seguir:7
7
A representação (2) indica que a fazenda tem mais de um proprietário.
Na coluna Fazenda-topônimo os números em parêntese indicam o
número das fazendas no mapa da Sociedade de Berbice (Anexo 5).
* A partir d´aqui as fazendas ficam localizadas no rio Canje, porém
continuam sendo parte da colônia de Berbice.
162
Às famílias proprietárias das fazendas era possível
acumular mais de uma fazenda, com até mais de um dono,
por exemplo, Van Eys (1), Corns van Eyk (5), Schrik (15) e
outras que se encontram no Anexo 5. as quais somam um
total de 23% do conjunto das fazendas da Colônia de Ber-
bice. Os demais proprietários, conforme amostra acima e
no anexo supracitado (Dedel, Bernard, Berewout, Teller,
Broer, Testas, Cossart, Dubois, Boulé, Roelt, Martin, Mot-
tet, Bakker, Vivier, Neubaur, Gillot, Bus, Michel, Horst,
Cazenove, Gennes) estavam registrados como único dono
ou dividiam uma única propriedade com outra família.
Paralelo a isso, as famílias que detinham o maior núme-
ro de fazendas se concentrava nas mãos dos neerlandeses
61, franceses 40 além de 04 em parceria com proprietários
neerlandeses, 03 fazendas de propriedade comuns aos ne-
erlandeses e belgas, 02 em sociedade entre neerlandeses e
alemães, 03 de propriedade alemã com único proprietário
e 02 suíças, considerando o conjunto das 113 fazendas.
Em formato amostral no banco de dados de famílias
holandesas registradas entre 1947 e 2007 cujos nomes coin-
cidem com os da documentação de Berbice é possível en-
contrar os Dedel que estão no litoral e leste da Holanda, os
Bernard que estão espalhados em quase todas as provín-
cias, enquanto os Teller se concentram mais no centro oeste
do país. As famílias Broer e Bakker estão em quase todas as
regiões da Holanda e são as mais numerosas. Nomes como
Berewout e Röelt não constam nem em lista holandesa ou
francesa (Cf. http://www.meertens.knaw.nl/nfb/).
Já quanto aos nomes das famílias de origem francesa
que estão cadastrados entre 1891 a 1915 e que podem arbi-
trariamente ser associados à documentação de Berbice ele
163
podem ser localizados em diversas partes da França, por
exemplo: os Cossart constam ao norte do país juntamente
com os Dubois e ao que tudo indica parecem estar na re-
gião onde ocorreu o conflito da igreja reformada. Segundo
Hulsman (em comunicação pessoal) pode ser que famílias
francesas possam ter mudado para Holanda e de lá para
Berbice motivados pelos conflitos religiosos. A família
Boulé está ao norte e Martin ao centro já Mottet ao sul, Vi-
vier no centro sul, Gillot no centro oeste e norte, Michel ao
noroeste e sul da França. E família Gennes que so aparece
como registro único ao sul do país provavelmente não seja
de origem francesa (Cf. www.geopatronyme.com).
Este cenário remete a uma possibilidade de inter-
câmbios linguísticos invejável para uma região do interior
das Guianas, ainda mais quando se pensa na população
indígena local e a africana que se agregou as estas fazen-
das, a diversidade linguística e o contato entre os falantes
devem ter gerado mosaicos sociolinguísticos de alta com-
plexidade, porém de difícil identificação.
164
Tabela 2: Nomes das Fazendas e Origem toponímica
Fazenda Origem toponímica
1 Oudshoorn topônimo de uma aldeia neederlandesa
2 Altenklingen topônimo ligado à cidade de Alsace, Alemão
3 Maasstroom topônimo neederlandês ligado ao rio Mass
topônimo ligado à Lituania, parte da antiga
4 De Stat Dantzig Polônia
5 Nova Caza topônimo ligado a termos do Espanhol
topônimo ligado à região da Bretagne,
6 Petite Bretagne França
7 De Nieuwe Caracas topônimo ligado aos índios Caracas, atual
capital da Venezuela
165
mos das fazendas,8 assumem o registrado local, isto é, no-
mes indígenas, podendo alguns deles ser associados à fa-
mília linguística Karibe, por exemplo: Naribane, Karibane
(-bane=de, do povo Karibe), Tikarina, Matarewa, Ite (bu-
riti), Kiari (alimento), Aucapara, Capara (-para=relativo à
água). À família Tupi o riacho Itarietica (ita=pedra). Os
outros nomes dos riachos são indígenas, porém, difíceis
de associá-los a uma língua conhecida: Macoronam, Oa-
miaboa, Ibanakoa.9 Enquanto isso, os riachos Isoure, Ca-
pora e Kaboera parecem estar associados à língua africana
e Kaderbicie ao crioulo local.
166
Por isso, os nomes das águas ao servirem de refe-
rência junto às fazendas, além de funcionarem como ve-
redas fluviais, certamente têm seus riachos apontados e
falados por todos os habitantes da região, mas também
fora desse continente.
Na instância da toponímia e segundo a classifica-
ção de DICK (1990), esses riachos podem ter seus nomes
agregados à taxionomia do tipo etnotopônimo (Naribane,
Karibane-do povo), fitotopônimo (Ite-buriti), ergotopôni-
mo (Kiari-alimento), hidrotopônimo (Aucapara, Capara-
-relativo à água) e litotopônimo (Itarietica-pedra).
Assim, no conjunto das fazendas da Sociedade de
Berbice (Sociëteit van Berbice) e da Colônia prevalece entre
os registros topônimos os de origem holandesa (10 casos),
por exemplo, Oost Souburgh, Harden broek, De Berg,De
Johanna, além de outros do Anexo 5. Já quanto aos no-
mes dos riachos, que na taxionomia toponímica podem
ser classificados como orônimo (tudo que envolve água),
dos 35 registros, 24 podem ser de línguas indígenas e ou
africana, 3 mesclados entre holandês e provavelmente lín-
gua africana (sublinhado) e 8 (em itálico) possivelmente
europeu. Os nomes relacionados às terras trazem referên-
cias europeias enquanto que as águas locais imprimem os
nomes em línguas indígenas.
167
ou até três, mediante seus papeis de representação nos
grupos sociais de ritos étnicos, na religião e na família; ou
no espaço político-histórico, por exemplo, de países afri-
canos como Beni e Congo que adotam um nome oficial em
função da língua de colonização, embora existam outros
nomes que são adotados paralelamente em casa e na esco-
la (Autor, Ano).
O mesmo acontece com grupos indígenas, por exem-
plo, dos Akawaio e Ingarikó que adotam diferentes nomes
para as relações de parentesco entre homens e mulheres
que participam do ritual Aleluia (CRUZ, 2008); ou como
entre os Yanomami, para os quais o nome próprio é tabu
e não deve ser revelado aos forasteiros e a depender do
contato com o branco, pouco a pouco eles vão adotando
e até trocando de nomes, no caso em português. Mas essa
prática não é já era muito comum no mundo europeu, por
exemplo, em 1670 Abraham Drago, aliás Juan Manuel e Chris-
toffel de Tavora alias David Nassi10, nomes de origem judaica
e espanhola, inglesa e judaica, bem como Isaac de Azevedo,
alias Juan da Fonseca11 mescla judaica com espanhola e, em
todos os casos há uma mistura de nomes originários de
diferentes línguas apontando um segundo nome.
Por isso, os nomes incluídos neste item representam
um ensaio de como eles são analisados parcialmente, pois,
a diversidade dos nomes traz muitas implicações de ordem
linguística, historiográfica e teórica que não serão exauri-
10
Ata do tabelião Lock de 29 de dezembro 1670, Stadsarchief
Amsterdam, NL-AsdSAA_5075_2234_f.1060.
11
Ata do tabelião Tixerandet de 6 de janeiro 1669, Stadsarchief
Amsterdam, NL-AsdSAA_5075_3678_f.818.
168
dos no momento.12 Duas categorias foram selecionadas no
presente tópico: a das moças e moços africanos e indígenas
organizadas a partir do gênero masculino e feminino.
12
A complexidade da temática ocorre também por se reconhecer que
o registro desses nomes foi realizado por europeus, os quais tomaram
como referência de escrita suas próprias línguas, portanto, pode ser
que se trate de uma ortografia adaptada.
13
Não está registrado neste conjunto de documentos se havia algum
tipo de ritual para dar nomes aos que ali nasciam ou chegavam através
dos navios, especialmente as crianças que com idade menor de 8 anos
eram só chamadas de “crianças” agregadas às mães africanas.
169
Tabela 4 - Nomes de Moças: europeu e africano
Nome europeu Nome africano
1 Anna (2) 1 Adjoe
2 Ariaantje 2 Bomba
3 Catharina (2) 3 Cassone
4 Cicelia, Cicilia (2) 4 Dieroke
5 Clara 5 Habba
6 Cornelia 6 Kema
7 Cosijntje 7 Kibonda
8 Dina (2) 8 Kisoner
9 Eva 9 Maaij
10 Jacomyntie 10 Maasa
11 Jannetje (2) 11 Makaje
12 Kaatje 12 Mayman
13 Margrieta 13 Minge
14 Maria 14 Tonne Forrie
15 Susanna, Zusanna (3) 15 Zamba
170
De fato, pouco se pode comentar sobre os nomes afri-
canos visto a necessidade de estudos mais acurados em
um futuro próximo, contudo, um único exemplo na coluna
quatro que pode ser associado ao Dutch Crioulo Berbice é
Minge (mingi=water, juice) (KOUWENBERG, 1111:10).
Em termos contemporâneos Teresa Fitzpatrick
(2012:70-71) apresenta um conjunto de nomes africanos
registrados entre Estados Unidos, Ilhas do Caribe e países
africanos entre os anos 1964-1970, mas nenhum deles coin-
cide com os dados dessa pesquisa. Mas vale registar que
a própria autora é um exemplo de o quanto os nomes são
mesclados, tanto é que se auto reconhece com dois nomes
Liseli Anne Maria-Teresa Fitzpatrick:
For example, my own, Zambian name, at
birth, Liseli means God’s Divine Light; and
my Yoruba designations, through initiation,
Eji-Ogbe represents The Light – all that
is known and unknown in the Universe,
and Olakitan, which signifies wealth as
inexhaustible. (2012:2).
171
tem (14 vezes, envolvendo diferentes números de pessoas)
muito mais que os nomes africanos (2 vezes).
172
27 Kapita 27 Masa
28 Kobas 28 Moesjalle
29 Leuw 29 Molallo
30 Louwie 30 Pangla
31 Mars 31 Pansoe
32 Matthijs (2) 32 Quabene
33 Moses 33 Quakoe
34 Oranje 34 Quasie
35 Pieramus (3) 35 Quitiklik
36 Prins (2) 36 Samboe
37 Santje 37 Smauw
38 Savonette 38 Tatarbie
39 Simon (3) 39 Toela
40 Thomas
41 Toefje
42 Tootje
43 Toetje
44 Willem (3)
173
Fregat também holandês, e até nomes jocoso Cupido e de
cumprimento Gratia de origem italiana.
Na quarta coluna, apenas um nome africano Acar-
ra se aplica repetidamente a outro moço, sugerindo ser
uma conduta bem definida de que nomes africanos não
se misturam com nomes europeus. . Por último, alguns
poucos nomes africanos podem ser explorados como Co-
ffy que remete a um deus africano (CRUZ; HULSMAN;
OLIVEIRA, 2014) ou como Kofi em Twi e Fante (TERESA
FITZPATRICK, 2012:28), dialetos do Akan falados em
Guinéa e Gana; e outros nomes que podem ser associados
ao Dutch Crioulo Berbice como Mange (mangi=escaped
person=pessoa, escravo fugitivo) e Pangla (board) (KOU-
WENBERG, 1111:13 e 10).
Quando se observa a frequencia dos nomes europeus
distribuídos entre as fazendas tem-se as maiores ocorrên-
cias em: Westsouburg (8), Fort Nassau (7), Cornelia Jacoba
(6), Hoofdplantage (6), Hoogeland (6), Johanna(5), Oost-
souburg (5), Savonette (5), dentre outras. Ao comparar
a maior ocorrência da distribuição dos nomes das moças
nas fazendas em relação aos meninos acima, tem-se Johan-
na (5), Fort Nassau (4), Oost Souburg (3).
Outra particularidade no inventário da Colônia de
Berbice é a da classificação especial para as crianças nas-
cidas da união entre uma escrava e um europeu, sendo
essa chamada de Christen kind ou christianchild (criança de
cristão). Regularmente a criança, fruto desse tipo de rela-
cionamento, era tratada pelos holandeses como escrava.
Entretanto, todos os recém-nascidos na colônia eram lista-
dos inicialmente como filho de mãe negra ou índia, talvez
174
só a partir de 8 (oito) anos é que eram reconhecidos por
seus respectivos nomes europeus ou africanos.
A propósito, vale reforçar que não muito distan-
te de Berbice, a ilha de Trinidad sempre esteve presente
nas relações guianenses, e muitas crianças descendentes
de africanos que nasceram na ilha podem ter suas origens
ligadas a grupos africanos conforme Teresa Fitzpatrick
(2012:2) quando diz que:
Trinidad was a late starter in the Plantation
system - the majority of the slave population
was African born – Yoruba, Hausa, Congo, Ibo,
Rada, Mandingo, Kromanti (Koromantyn) and
Temne, although some slaves came from other
Caribbean islands, they were considered ‘creole’.
175
Tabela 6 - Nomes de Mulheres nas Fazendas
1 Nomes europeu Fazenda-Forte
2 Alida Pereboom
3 Alida Fort Nassau
4 Anna Westsouburg
5 Anna Oost Souburg
6 Anna Hoofdplantage
7 Debora Fort Nassau
8 Debora Pereboom
9 Dina Pereboom
10 Dina Fort Nassau
11 Dina Savonette
12 Dina Dageraet
13 Diana Savonette
14 Diana Oost Souburg
15 Eva Westsouburg
16 Eva Pereboom
17 Elisabet Pereboom
18 Elisabet Markay
19 Grietje Vlissingen
20 Grietje Cornelia Jacoba
21 Jannetje Hardenbroek
22 Jannetje Savonette
23 Jannetje Krieke Markay
24 Lena Hardenbroek
25 Lena Fort Nassau
26 Lena Markay
27 Lena Hardenbroek
28 Lena Fort Nassau
29 Madaleen Hardenbroek
176
30 Madaleen Vlissingen
31 Madaleen Vlissingen
32 Sara Oost Souburg
33 Sara Markay
34 Sara Elisabet
35 Sara Dageraet
36 Sara Fort Nassau
37 Zaantje Fort Nassau
38 Zantje Savonette
177
Tabela 7 - Nomes de Homens nas Fazendas-Forte
Nome europeu Fazenda-Forte
1 Iroenie Savonette
2 Cupido Oost Souburg
3 Hans Markay
3 Hans Hardenbroek
4 Coridon Pereboom
5 Joris Pereboom
5 Joris Markay
5 Joris Westsouburg
6 Fransie Westsouburg
7 Klaesie Westsouburg
8 Joosje Fort Nassau
9 Puito Fort Nassau
10 Pieramus Fort Nassau
11 Pieramus Hardenbroek
12 Pieramus Markay
13 Pieramus Markay
14 Jan Fort Nassau
15 Claes Savonette
16 Scharon Oost Souburg
18 Maquame Westsouburg
19 Pakolett Pereboom
178
número de meninas.14 Enquanto que entre as crianças in-
dígenas a diferença é inversa, as meninas são em maioria
19% a mais que os meninos. Parece haver um equilíbrio
maior no grupo indígena do que entre os africanos já que
nesse último a diferença é de mais da metade de meninos
frente ao número de meninas.
14
Quando os navios chegavam na costa era determinante a preferência
por comprar crianças africanas do sexo masculino; talvez isso possa
justificar a diferença de aparecer mais meninos em relação às meninas.
* Sobre a variação de nomes registrados de formas diferentes é um
assunto a ser tratado posteriormente.
179
7 Akamma w n alias Jape
8 Asseri w n alias Catharina
9 Maria w n alias Minckje
10 Siemon b n alias Assada
180
Tabela 9 - Nomes de ferramentas
Neerlandês Português Neerlandês Português
Negro Cassave Enchó de
Enchó de Negro
houwelen dissels mandioca
Espelho
Negro bijlen Machado de Negro Spiegel swart preto
Negro Facões grande de Spiegel Espelho
Capmessen Negro verguld dourado
groot
Negro Espelho de
Facões de Negro Spiegel bleck
Capmessen flandes
Bijl groot Machado grande Schaarmessen Navalha
Machado
Bijl middel Schaaren Tesoura
intermediário
5 nagel Faca com 5
Bijl Klein Machado pequeno messen pregos
Capmes Bossen Cordas de
Facão grande
groot coralen miçanga
Capmes Facão Tawajes Tawajes
middel intermediário
Capmes Berimbau de
Facão pequeno Trompen
klein boca
Cassavi Ferro de mandioca
bijtels
181
Considerações parciais
Bibliografia
182
FASI, Mohammed El & HRBEK, l. História Geral da África -Vol.
III -África do século VII ao XI. Brasília: UNESCO, 2010. 1056 p.
183
ANEXO 1 INVENTÁRIO DE ESCRAVOS E
ANIMAIS DA SOCIEDADE DE BERBICE
1726-1727 (NL-HANA_1.05.05_61.21)
[capa]
Inventário de todos os escravos, animais & vivos no Rio
Berbice no mês de agosto Ano 1727
[pagina 1]
Inventário dos escravos, animais etc.da Fazenda
Savonette feito 21 de agosto 1727
185
Makanse Matteus Lucia com uma criança
Masinga Abannaba
Jan Ajamba com duas crianças
Zam Betje com duas crianças
Lena
Negras trazidas pelo navio
de Vrijhijd Moços negros
Zara Quakoe
Jamia com uma criança Pieramus
Jamia de Klijne [a pequena]
Ariaantje com uma criança Moças negras
Jhiniba com uma criança
Atiakoe Habba criança da Akoena
Redaen com uma criança
Jauwa com três crianças Índias
Adjouba
Adjouba de Tweede [a segun- Diana
da] Jannetje com uma criança
Akoena Zantje
Cansaba
Diaene Moças indígenas
Makiba
Acouba Dina
Gaemba Sophia comprada recente-
Klijne [pequena] Afiba com mente
uma criança Iroenie moço indígena
Doriba com uma criança
Sophia com uma criança
186
[pagina 2]
Paloe 6 caldeirões
Joris 1 caldeirão no chão
Jargo 2 panelas
Boange 2 passadeiras
4 colheres
Negras
4 escumadeiras
Afeba
Na casa da moenda
Crianças negras
uma moenda com seus per-
uma criança de Jamia de klijne tences
uma criança de Atiakoe
uma criança de Adjouba de Animais
Tweede
17 cavalos, bons e maus
Nascidos desde 2 de junho 20 gado vacum, grande e pe-
1726 queno
Negros
187
[pagina 3]
188
Negros trazidos pelo navio
Leusden
Kasje Deficiente
Negras velhas
Mulheres moças
Bomba
Sibilla
Negras trazidas por Rijk Ha-
gerop
Toela
Manonba
Polo
189
[pagina 4]
190
Boange Oud Neegerin
uma criança de Kajo Negra
uma criança de Maria Negra
uma criança de Jannetje Indí-
gena
6 caldeirões
1 caldeirão no chão
4 panelas
2 passadeiras
4 escumadeiras
4 Colheres
Na casa da moenda
Animais
191
[page 5]
192
Adjouba aliás Irape com duas
crianças
Acouba com uma criança
Ariaentje
Moços negros
Jan France
Jutarbie
Kokolokoe
Quabene
Índias
Madaleen
Lena
Jannetje
Moças indígenas
Catarina
Maria comprada recentemente
Lisabet comprada recentemente
193
[pagina 6]
Negras Animais
Acannaba
16 Cavalos, bons e maus
Abannaba
26 gado vacum, grande e pe-
uma criança de Claartje Negra queno
194
page 7
Malagies Pieter
Abani Principal Biera
Jan Principal Joris
Vos Indisposto Coffy Indisposto
Lange Claes
Boera Deficiente
Malala
Acarra
Sam Indisposto
Toely
Aron
Marinus Molat Quakoe
Joosje Molat Ataeh
Cugia ou Caja Indisposto Soesje Fugido
Pontje
Koboela Negras velhas
195
Madaleen com uma mão Moços negros
Jekille Molattin Indisposta
Jaendoe com uma criança Jantje
Taciba com uma criança Abroham
Sona com uma criança Coesarie
Boyta com uma criança Malokie
Kakkerlak
Negras trazidas por Rijk Ha- Moesjalle
gerop Santje (trazido pelo navio
Leusden)
Doela Indisposta
Masanga com duas crianças
Beniba com uma criança
Dimba Deficiente
Maria
Anna com uma criança
Acourie com uma criança
Samba com uma criança
Catharina
Toemba
Koek com duas crianças
Samona
Moecalle com uma criança
Jannetje
Kiewe Indisposta
196
[pagina 8]
Índios Baamba
uma criança de Masanga Negra
Kees Velho
Jouwa Nascidos desde 31 de maio
Pietie 1726
Louw
uma criança de Jaendoe Negra
Pieramus criança de Jekille
uma criança de Taciba Negra
uma criança de Koek Negra
Índias uma criança de Moekalle Negra
Animais
Acouba
Adouwe 25 Cavalos, bons e maus
Foela 76 gado vacum, grande e pe-
Sacaeh queno
197
[pagina 9]
198
Saba
Jan Blank
Leeuw
Domingo
Smauw
Koffy
Negras velhas
199
[pagina 10]
Boange
Claesie
Lisabet com duas crianças
Smities
Anne
Coenarie
Josijntje Deficiente
Coridon moço
Joris criança de Dina
Negras trazidas de Curaçao
Simba Índias
Sebel
Soeka Dirkie criança cristã com uma
Kibomba Deficiente criança cristã
Cornelia com duas crianças Jouke
Cocobja Kaatje
Adjouba com três crianças Klijne Jouke com uma criança
200
Evacom uma criança uma criança de Sophia Indí-
Sophiacom duas crianças gena
Alida Na casa das fornalhas
Elisabet
Debora 6 caldeirões dos quais um é
consertado
Falecidos desde 30 de maio 1 caldeirão no chão conserta-
1726 até hoje do
3 passadeiras dos quais duas
Acouqua Negro são consertadas
Louwis Negro 3 escumadeiras
Jantje Negro 3 colheres dos quais uma é
Jocke Negro consertada
3 panelas consertadas
Negras
Na casa da moenda
Chocolaet
Kaetje uma moenda com seus per-
tences
Moços negros
Animais
Keesje
Biensa 30 cavalos, bons e maus
103 gado vacum, grande e pe-
Dina Indígena queno
Nascidos
201
[pagina 11]
202
Índias 3 Colheres dos quais duas são
consertadas
Catarina da Fazenda de Pee-
reboom Na casa da moenda
Grietje com uma criança
Elisabet moça, recentemente uma moenda com seus per-
comprada tences
Nascidos
6 caldeirões
1 caldeirão no chão
2 panelas consertadas
2 passadeiras
3 escumadeiras
203
[pagina 12]
Animais
204
[pagina 13]
205
Boange Indisposta
Zavo Akewy Deficiente
Toeta Deficiente
Zusanna Deficiente
Zamba
Kilonde
Lucia Indisposta
Jannetje
Marietje
Kibomba
Simbe
Junocom três crianças
Lenacom três crianças
Loesje
Buno com três crianças
Ariaantje com três crianças
Jaajo
Maria
Boange
Bolloela Indisposta
Kisonge
Mekita
groote Joemba
Kokobja
Acoeba
Lucretia
Asdepe
Buto com uma criança
206
[pagina14]
Cicilia
Nascidos
Mayman
Catharina criança de Juno
uma criança de Juno Negra
Índios uma criança de Lena Negra
uma criança de BunoNegra
Bartel uma criança de Ariantje Negra
Piet
Jacob Verganie criança cristã Na casa das fornalhas
Antony criança cristã
6 caldeirões dos quais um é
Índias consertado
1 caldeirão no chãoconsertado
Isie
3 panelas dos quais uma é
Madaleen
consertada
207
4 Colheres dos quais um é
consertado
3 escumadeiras
3 passadeiras dos quais duas
são consertadas
Na casa da moenda
Animais
208
pagina 15
209
Negros trazidos pelo navio
Vrijhijd
Coesarie
Tamboer
Hidropsia8,Pom:,Deficiente:
Majille
Adriaan Deficiente:
Negras velhas
Pasje Indisposto
Meerkat
Asione Deficiente
Willemijntje Molattin
Mafoeta Deficiente
Kibonge com uma criança
Maay Molattin
Ariaantje
Kidonge com uma criança
Catrijn com três crianças
Jannetje com quatro crianças
Madaleentje
Jamme Molattin
Majomba
Diroe com uma criança cristã
8
Watersugtig
210
[pagina 16]
Moças Fregat
David
Sara Kapita
Lena
Leeuw
Buyto
Mattijs
Attalante
Simon criança de Neeltje Indí-
Negras trazidas de Curaçao gena
211
Thisseve Na casa da moenda
Jozijntje
Eva uma moenda com seus per-
Anna tences
Kabita Indisposta
Trijn Animais
Betje criança cristã com uma
criança
18 cavalos e mulas, bons e
maus.
Falecidos desde 29 de maio
1726 até hoje 1 Burro
62 gado vacum, grande e pe-
Adam Negro queno
Juno de Matarra Negra
uma criança de Catrijn Negra
Nascidos
212
pagina 17
213
Jacona com uma criança
Apoenebe com uma criança
Toecobbia de Klijne
Koekenkoe com uma criança
Trijntje com uma criança
Kaatje com uma criança
Koeka com duas crianças
Susanna
Santje
Symba
Sara com duas crianças
Abannaba
Moços negros
Jan Broek
Danson
Kabyne
Benjamyn
Índios
Joris
Índias
Alabiere
214
[pagina 18]
Anquay Negro
Mijn Neus Negro
Totokibia Negra
Nascidos
215
pagina 19
216
Abba com uma criança Cambie Negra
Aossies com uma criança uma criança de Accoe Negra
Aquasie Doerinde Índia da fazenda Sa-
Acarraba Indisposta vonet
Pollie
Kabara
Monje Pokk
Goesarie
Sieberis
Beliela
Jissa
Moços negros
Jacob
Willem
Clara
Sara do Forte [Nassau] com-
prada recentemente
Apranga Negro
Amma Negro
Akanna Negro
Forko Negro
Jan Wisse Negro
217
[pagina 20]
Nascidos
6 caldeirões
1 caldeirão no chão
4 colheres
4 escumadeiras
2 passadeiras
Na casa da moenda
Animais
218
pagina 21
219
Falecidos desde 29 de maio
1726 até hoje
Negros
Quakoe
Tingting
Klaes
Koeba
Taequa
Zavoera
Tacqua
Negras
Goeloe
Jampa
Frassie
Oeha
Florida
Adoeba
Nascidos
6 caldeirões
1 caldeirão no chão
2 panelas
4 Colheres
4 escumadeiras
220
[pagina 22]
Na casa da moenda
Animais
7 cavalos
3 gado vacum
221
page 23
222
Moços10
Hendrik
Antony
Akka
Índias
Zara
Negros
Joris
Paul
Kamboeta
Aadom
Mavonge
Jan Pik
Negras
Margriet
Asoog
Innaetje Negra
10
sem indicação racial,
provávelmente africanos
223
[pagina 24]
Nascidos
6 caldeirões
1 caldeirão no chão
2 passadeiras
2 panelas
4 escumadeiras
4 colheres
Na casa da moenda
Animais
2 cavalos
9 gado vacum
224
page 25
225
Indiaen
Hansje
Índias
Negros
Quamoby
Addoe
Antony
Tiravolle
Sessoe
Negras
Toekoena
Afiba
Nascidos
226
[pagina 26]
6 caldeirões
uma caldeirão no chão
4 colheres
4 escumadeiras
2 passadeiras
2 panelas
Na casa da moenda
Animais
6 cavalos
8 gado vacum
227
page 27
228
Prins Jacomijntje
Oranje Lucia com três crianças
Baron Catarina
Pieter Quebrado Koeke
Maandag
Negros trazidos pelo navio Maay Molattin
Leusden Seba criança cristã com uma
criança cristã
Jantje
Boeseroentje no lugar de Pieter
de Curaçao
Negras velhas
Susanna Indisposta
Kitessa Indisposta
Katalina
Domingo Velha Molatin
Sara Molatin
Maria Indisposta com duas
crianças
Jannetje Deficiente
Madaleen com uma criança
Indisposta
Marietje
Maria Indisposta
Cosijntje Deficiente
Assa Indisposta
Acouba
Jajo Deficiente
Klaertje
229
[pagina 28]
Marietje Indíos
Zusanna com duas crianças
Libondo com duas crianças Poecinella
Willemyntje Klaesje
Kupido
Negras trazidas pelo navio Pietje
de Vrijhijd Jan van Kouwenhoven criança
cristã
Cicilia Adam assistente de ferreiro,
Marietje criança cristã
Adobia Kees
230
Kaquarie
Abiram
Índias
Alida
Klaertje com uma criança
Maagtje
Zaantje com duas crianças
Jelina com uma criança
Dina com uma criança
Lena
Sara
Cariba com uma criança
Americacom uma criança
Cornelia
Zantje com uma criança
Sophia com uma criança
Atalante
Vette Kinde
Moços indígenas
Joosje
Puito
Pieramus
Jan criança de Leentje
231
[pagina 29]
Macasser
Macajes
Koekoenekoe
Moecalle Negra
Nascidos
uma criança de Goeloe Negra
uma criança de Mafoete Negra
232
page 30
Jan Bart
Abraham
Wantje
Negras
Anas
Lucrees com uma criança
Moços
Claus
Een
Simon
Thomas
233
Inventário dos escravos da Fazenda de Café no
Wieroenje; feito 19 de agosto 1727
Adrigo
Zeeman
Moços negros
Koteko
Acarra
234
ANEXO 2: LIVRO DE CONTABILIDADE DIÁRIO DE
CARGA DO FORTE NASSAU 1726-1727
(NL-HaNA_1.05.05_61.12)
Guia
O valor total dos gastos por dia sempre é somado nas três últimas
colunas.
c: florim (moeda neerlandesa da época)
d: schelling (20 schelling = 1 florim)
e: duit (16 duit = 1 schelling)
* palavra desconhecida
235
1 faca 0:01:08
3 15 14
a um escravo
17260404 1 pano pardo 0:04:06
indígena
macaquinho 1 pano branco 0:05:00
cera e remadores 10 contas cacho 0:10:00
19 6
aos escravos
17260405 4 facão médio 13 2:12:00
para trabalhar
machado
1 grande de 0:14:00
trabalho
goma (ottogom-
2 faca 1,5 0:03:00
me) e peixe
berimbao de
2 0,5 0:01
boca
3 10
algodão e aos
17260407 7 contas cacho 1 0:07:00
remadores
1 faca 0:01:08
2 tesoura 2 0:04:00
1 navalha 0:02:00
14 8
berimbao de
17260411 carangeijo 1 0:00:08
boca
espelho de
1 0:01:04
flandes
1 faca 0:01:08
3 4
pano osna-
17260414 galinha 8 bruck branco 4 1:12:00
por aulna
ao servidor
1 pano branco
indígena
1 pente 0:02:08
1 19 8
236
cera e peneiras espelho dou-
17260419 2 8 16
(manari) rado
17260421 algodão 3 contas cacho 1 0:03:00
facão
galinha 1 0:12:00
pequeno
15
ao servidor na
17260429 1 facão médio 0:13:00
fazenda den berg
a alguns índios
que fazem ser- 4 faca 1,5 0:06:00
viço
2 tesoura 2 0:04:00
espelho flan-
2 1,25 0:02:08
des
1 9 8
aos escravos
17260501 2 facão grande 14 1:08:00
para trabalhar
carangeijo e
1 faca 0:01:08
churrasco
3 contas cacho 1 0:03:00
a uma escrava espelho dou-
1 0:08:00 2 0 8
indígena rado
237
cravo cem
8 6 2:08:00
gramas
canela cem
8 5 2:00:00
gramas
7 1 0
cachimbos
para uso dos
17260505 12 longos por 1:00:00
conselheiros
dúzia
vasilhas 6 contas cacho 1 0:06:00
aos escravos
1 enchada 0:13:00
para trabalhar
1 facão grande 0:14:00
2 13 0
17260508 algodão e cera 24 contas cacho 1 1:04:00
peixe e churrasco 1 faca 0:01:08
1 tesoura 0:02:00
espelho de
1 0:01:04
flandes
1 8 12
17260509 carangeijo 1 pano branco 5
carregar correio
17260510 1 faca 0:01:08
do rio corantijn
carangeijo 2 faca 1,5 0:03:00
cacaorama* 3 contas cacho 1 0:03:00
cirurgião 1 tesoura 0:02:00
0 9 8
a alguns índios
17260511 que fazem ser- 3 pano branco 5 0:15:00
viço
2 pano pardo 4:06 0:08:12
3 faca 1,5 0:04:08
berimbao de
2 0,5 0:01:00
boca
1 9 8
238
a um escravo
indígena para machado
17260513 1 0:15:00
comprar uma grande
rede
buriti (fruto) 2 contas cacho 1 0:02:00
aos escravos
1 facão grande 0:14:00
para trabalhar
1 enchada 0:13:00
a um servidor
1 faca 0:01:08
indígena
3 contas cacho 1 0:03:00
2 8 8
tecido flamen-
a algumas escra-
17260514 9 go por aulna 1[sic] 3:03:00
vas
(lijwaat)
1 facão médio 0:13:00
3 faca 1,5 0:04:08
buriti (fruto) 2 contas cacho 1 0:02:00
4 28
cera e passarin-
17260515 1 pano pardo 0:04:06
hos
3 contas cacho 1 0:03:03
buriti (fruto) 4 contas cacho 1 0:04:00
0 11 6
17260516 a um escravo 1 enchada 0 13 0
17260520 churrasco 1 contas cacho 0 1 0
machado
para uso no pos-
17260523 1 grande de 0:14:00
to no rio wiruni
trabalho
a dois escravos
2 faca 1,5 0:03:00
indigenas
peixe e carne de
machado
veado salgado 6 15 4:10:00
grande
pelos índios
1 facão grande 0:15:00
machado
1 0:12:00
pequeno
239
1 pano branco 0:05:00
3 faca 1,5 0:04:08
5 navalha 2 0:06:00
espelho flan-
1 0:01:04
des
23 contas cacho 1 1:03:00
machado
1 0:14:00
médio
9 7 12
aos escravos na
17260524 12 facão médio 13 7:16:00
igreja
12 enchada 13 7:16:00
machado
peixe e galinha 1 0:15:00
grande
3 faca 1,5 0:04:08
16 11 8
ás mulheres de
17260525 3 faca 1,5 0:04:08
pão
machado
1 grande de 0:14:00
trabalho
0 18 8
17260526 carangeijo 1 pano pardo 0:04:06
colocado na
caixa ‘cargasoen’ 100 agulho 0:12:08
para uso diário
alfinete [boek-
1 0:02:00
spelden]
a uma escrava 1 faca 0:01:08
cera 1 pano pardo 0:04:06
1 4 12
a dois índios que
17260527 2 faca 1,5 0:03:00
fazem serviço
buriti (fruto) 2 contas cacho 1 0:02:00
macacinho 1 pano branco 0:05:00
240
2 contas cacho 1 0:02:00
peixe e cera 3 contas cacho 1 0:03:00
1 pano branco 0:05:00
1 0 0
cesta (habas) e
17260608 peneiras (ma- 5 pano branco 5 1:05:00
nari)
3 faca 1,5 0:04:08
1 9 8
17260610 cordas 8 contas cacho 1 0:08:00
a uma escrava 2 contas cacho 1 0:02:00
contas por
abacaxi e pita 0,25 0:02:00
libra (tawas)
carangeijo 2 faca 1,5 0:03:00
a uma índia que
5 contas cacho 1 0:05:00
faz serviço
1 0 0
aos índios que
viajem com
gerardt aching machado
17260613 18 15 13:10:00
para o rio ori- grande
noco para trazer
cavalos
20 facão grande 15 15:00:00
4 espelho preto 8 1:12:00
4 faca 1,5 0:06:00
6 contas cacho 1 0:06:00
30 14 0
a um escravo
indígena para
17260614 1 navalha 0:02:00
comprar uma
rede
machado
1 0:15:00
grande
2 faca 1,5 0:03:00
2 tesoura 2 0:04:00
241
peixe 2 tesoura 2 0:04:00
algodão, vasi-
lhas, abacaxi, 46 contas cacho 1 2:06:00
cordas e pita
3 14 0
17260617 para uso 24 Sabão libra 6 7:04:00
facão
galinha 1 0:12:00
pequeno
9 contas cacho 1 0:09:00
1 faca 0:01:08
aos escravos
2 facão médio 13 1:06
para trabalhar
machado
2 grande de 14 1:08:00
trabalho
vasilhas 2 faca 1,5 0:03:00
11 3 8
a um escravo
17260618 1 pano branco 0:05:00
indígena
2 contas cacho 1 0:02:00
churrasco 2 faca 1,5 0:03:00
a um servidor
1 tesoura 0:02:00
indígena
2 contas cacho 1 0:02:00
para uso na canela cem
8 5 2:00:00
cozinha gramas
cachimbos
para uso dos
12 longos por 1:00:00
conselheiros
dúzia
3 14 0
machado
17260619 pau de timbó 1 0:14:00
médio
1 pano branco 0:05:00
2 faca 1,5 0:03:00
1 2 0
carangeijo e berimbao de
17260620 2 0,5 0:01:00
peixe boca
242
5 contas cacho 1 0:05:00
2 pano pardo 4:06 0:08:12
1 faca 0:01:08
1 6 4
17260621 ás moças 2 faca 1,5 0:03:00
churrasco 3 faca 1,5 0:04:08
cera e algodão 7 contas cacho 1 0:07:00
fio para cos-
ao ‘constabel’
turar colori-
para costurar 8,5 1,5 0:12:12
do por cem
cartuchos
gramas
1 7 4
17260626 um tigrinho 2 faca 1,5 0:03:00
1 pano branco 0:05:00
aos escravos facão grande
4 14 2:16:00
para trabalhar de trabalho
3 enchada 13 1:19:00
5 3 0
machado
17260630 galinha 1 0:15:00
grande
machado
1 0:14:00
médio
algodão e aos
6 contas cacho 1 0:06:00
remadores
2 tesoura 2 0:04:00
2 pano branco 5 0:10:00
2 9 0
a alguns índios
17260702 que fazem ser- 4 faca 1,5 0:06:00
viço
passarinhos 1 faca 0:01:08
aos remadores e
2 pano branco 5 0:10:00
para cera
3 faca 1,5 0:04:08
5 contas cacho 1 0:05:00
243
1 7 0
17260703 peixe 2 contas cacho 1 0:02:00
a uma escrava 1 faca 0:01:08
1 enchada 0:13:00
0 16 8
aos escravos facão médio
17260704 2 13 1:06:00
para trabalhar de trabalho
a alguns índios
que fazem ser- 6 contas cacho 1 0:06:00
viço
1 tesoura 0:00:02
1 14 0
tecido flamen-
distribuido aos
17260708 371 go por aulna 7 127:17:00
escravos
(lijwaat)
pano osna-
99,8 bruck branco 4 19:19:00
por aulna
pano pardo
98 3,5 17:03:00
por aulna
pano listrado
57,5 branco por 8 23:00:00
aulna
fio para cos-
turar colori-
40,5 1,5 3:00:12
do por cem
gramas
300 agulho 12c 1:16:00
## 15 12
17260709 galinha 1 facão grande 0:15:00
aos remadores e
3 pano branco 5 0:15:00
para carangeijo
2 faca 1,5 0:03:00
1 contas cacho 1 0:01:00
1 14 0
a um índio que
17260710 1 faca 0:01:08
faz serviço
244
aos remadores 3 pano branco 5 0:15:00
0 16 8
machado
17260711 galinha 2 15 1:15:00
grande
4 contas cacho 1 0:04:00
machado
aos escravos
2 grande de 14 1:08:00
para trabalhar
trabalho
facão grande
3 14 2:02:00
de trabalho
churrasco 2 faca 1,5 0:03:00
5 7 0
17260712 algodão e cordas 19 contas cacho 1 0:19:00
peixe, carangeijo
3 pano branco 5 0:15:00
e cera
aos escravos
16 enchada 13 10:08:00
para trabalhar
12 2 0
pimenta do
para uso na
17260717 1 reino por cem 0:10:00
cozinha
gramas
castanha cem
8 5 2:00:00
gramas
macis por
8 6 2:08:00
cem gramas
canela cem
8 5 2:00:00
gramas
cravo cem
4 6 1:04:00
gramas
a alguns índios
17260718 que fazem ser- 4 faca 1,5 0:06:00 8 2 0
viço
2 tesoura 2 0:04:00
3 navalha 2 0:06:00
0 16 0
17260719 churrasco 5 contas cacho 1 0:05:00
2 faca 1,5 0:03:00
245
aos remadores 4 faca 1,5 0:06:00
0 14 0
a alguns escravos
17260721 4 pano branco 5 1:00:00
indigenas
cera, aos rema-
dores e para 14 contas cacho 1 0:14:00
algodão
4 pano branco 5 1:00:00
3 faca 1,5 0:04:08
2 18 8
carangeijo e car-
17260722 2 pano branco 5 0:10:00
ne de veado
1 faca 0:01:08
aos remadores
para remar ao 4 pano branco 5 1:00:00
mar
algodão 12 contas cacho 1 0:12:00
2 3 8
a alguns escravos
17260723 3 faca 1,5 0:04:08
indígenas
3 navalha 2 0:06:00
4 tesoura 2 0:08:00
aos remadores 5 pano pardo 4:06 1:01:14
2 0 6
aos escravos
17260724 2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar
facão grande
3 13 1:19:00
de trabalho
pau de mandioca 9 contas cacho 1 0:09:00
1 pano pardo 0:04:06
4 14 6
246
a alguns índios
que viajaram
com gerardt
aching para o machado
17260725 3 15 2:05:00
rio orinoco e que grande
não foram pagos
antes da sua
partida
3 facão grande 15 2:05:00
3 faca 1,5 0:04:08
4 14 8
trazidos pelo
geraert aching no
dia 23 desse mês
pano osna-
do rio orinoco;
17260727 1151 bruck branco 4 230:04:00
23 cavalos dos
por aulna
quais 10 morre-
ram na viagem,
custando
pano osna-
693 bruck pardo 3,5 121:15:08
por aulna
1284 faca 1,5 96:06:00
contas por
147 8 58:16:00
libra
tecido branco
97,8 8 39:02:00
por aulna
2676 3 8
um barril de pano osna-
copaíba [circa 289,75 bruck pardo 3,5 50:14:02
160 litros] por aulna
machado
12 15 9:00:00
grande
pano osna-
60 bruck branco 4 0:12:00
por aulna
60 6 2
gastos para
machado
viveres durante a 6 15 4:10:00
grande
viagem
247
6 facão grande 15 4:10:00
67 faca 1,5 5:00:08
contas por
5,5 8 2:04:00
libra
16 4 8
17260728 vasilhas 10 contas cacho 1 0:10:00
cera 2 pano branco 5 0:10:00
a uma escrava
indígena para contas por
3 8 1:04:00
comprar uma libra
rede
3 faca 1,5 0:04:08
1 tesoura 0:02:00
2 10 8
17260801 vasilhas e peixe 6 contas cacho 1 0:06:00
aos escravos facão grande
2 14 1:08:00
para trabalhar de trabalho
facão médio
1 0:13:00
de trabalho
cordas e chur-
14 contas cacho 1 0:14:00
rasco
3 1 0
17260802 carangeijo 1 pano branco 0:05:00
goma [otte gom] 4 contas cacho 1 0:04:00
0 9 0
17260803 algodão e pita 17 contas cacho 1 0:17:00
peixe 1 faca 0:01:08
0 18 8
17260805 cera 1 pano branco 0:05:00
machado
galinha 1 0:15:00
grande
machado
1 0:14:00
médio
1 14 0
248
iguanos e pas-
17260806 1 pano branco 0:05:00
sarinhos
2 faca 1,5 0:03:00 0 8 0
aos índios que
irão viajar com
christiaen gemer machado
17260807 19 15 14:05:00
para o rio ori- grande
noco para trazer
cavalos
13 facão grande 15 9:15:00
16 faca 1,5 1:04:00
25 4 0
aos escravos na tecido zaans
17260809 20,5 7 7 3 0
igreja por aulna
peixe e caran-
17260817 2 pano branco 5 0:10:00
geijo
1 faca 0:01:08
0 11 8
17260821 cordas e iguanos 2 faca 1,5 0:03:00
3 contas cacho 1 0:03:00
a um servidor
1 faca 0:01:08
indígena
carangeijo 3 pano branco 5 0:15:00
2 faca 1,5 0:03:00
a um servidor ferro de
1 0:14:00
indígena casava grande
1 19 8
carne de veado
machado
17260823 salgado pelos 6 15 4:10:00
grande
índios beira mar
2 facão medio 14 1:08:00
3 faca 1,5 0:04:08
6 2 8
berimbao de
17260824 carangeijo 2 0,5 0:01:00
boca
espelho flan-
1 0:01:04
des
249
para pano de pano osna-
mesa, toalha e 272,75 bruck branco 4 54:11:00
toalha de mesa por aulna
fio de costu-
para marcar
rar colorido
esses panos e 3 1,5 0:04:08
por 100
toalhas
gramas
54 17 12
17260825 aos remadores 3 pano branco 5 0:15:00
3 contas cacho 1 0:03:00
berimbao de
2 0,5 0:01:00
boca
aos escravos
2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar
facão grande
3 14 2:02:00
de trabalho
4 7 0
a uma escrava
pano osna-
indígena para
17260826 7 bruck branco 4 1:08:00
comprar uma
por aulna
canoa pequena
facão grande
a um escravo 1 0:14:00
de trabalho
1 navalha 0:02:00
aos escravos no
4 enchada 13 2:12:00
wiruni
a um servidor
1 navalha 0:02:00
indígena
espelho flan-
1 0:01:04
des
4 19 4
ás mulheres de
17260827 3 faca 1,5 0:04:08
pão
aos escravos
3 enchada 13 1:19:00
para trabalhar
facão médio
3 13 1:19:00
de trabalho
250
carregar correio
4 contas cacho 1 0:04:00
do rio demerara
4 6 8
machado
17260828 pau de timbó 1 0:15:00
grande
2 pano branco 5 0:10:00
ás moças indíge- contas por
45 8 18:00:00
nas e ás escravas libra
berimbao de
carangeijo 1 0:00:08
boca
carne de veado machado
1 0:15:00
salgado grande
vasilhas 9 contas cacho 1 0:09:00
20 9 8
a um escravo
indígena para machado
17260829 1 0:15:00
comprar uma grande
rede
2 faca 1,5 0:03:00
4 contas cacho 1 0:04:00
carregar correio
2 faca 1,5 0:03:00
do rio corantijn
a um índio que
1 faca 0:01:08
faz serviço
aos escravos
2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar
facão médio
2 13 1:06:00
de trabalho
3 18 8
cachimbos
para uso dos
17260902 12 longos por 1:00:00
conselheiros
dúzia
peixe 1 faca 0:01:08
cordas 9 contas cacho 1 0:09:00
espelho flan-
churrasco 2 1:04 0:02:08
des
251
um papagaio 1 pano branco 0:05:00
1 18 0
aos remadores
17260905 e para cesta 4 pano branco 5 1:00:00
(habas)
2 faca 1,5 0:03:00
a um servidor
1 faca 0:01:08
indígena
1 4 8
17260909 a uma escrava 1 enchada 0:13:00
facão grande
1 0:14:00
de trabalho
1 7 0
carregar correio
17260910 1 pano branco 0:05:00
do rio essequibo
peixe 1 pano branco 0:05:00
machado
pau de timbó 1 grande de 0:14:00
trabalho
1 pano pardo 0:04:06
2 faca 1,5 0:03:00
cordas e algodão 9 contas cacho 1 0:09:00
carangeijo 2 pano pardo 4:06 0:08:12
2 9 2
ovos de iguano e
17260914 1 pano branco 0:05:00
galinha
2 faca 1,5 0:03:00
peixe 3 contas cacho 1 0:03:00
0 11 0
aos escravos
17260915 2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar
1 faca 0:01:08
1 navalha 0:02:00
1 pano pardo lap 0:04:06
252
1 13 14
algodão e uma
17260918 2 pano branco 5 0:10:00
cesta (pagaal)
peixe 2 faca 1,5 0:03:00
0 13 0
a um escravo
17260920 1 enchada 0:13:00
indígena
1 faca 0:01:08
berimbao de
1 0:00:08
boca
0 15 0
pau de timbó e
17260921 4 contas cacho 1 0:04:00
cordas
facão
1 0:12:00
pequeno
ferro de
1 0:14:00
casava grande
vasilhas 3 contas cacho 1 0:03:00
a alguns índios
que fazem ser- 2 navalha 2 0:04:00
viço
pano osna-
galinha 6 bruck branco 4 1:04:00
por aulna
espelho flan-
1 0:01:04
des
1 enxó de canoa 0:12:00
facão médio
a um escravo 1 0:13:00
de trabalho
cesta (habas) 1 navalha 0:02:00
2 faca 1,5 0:03:00
4 18 4
17260922 peixe 1 navalha 0:02:00
machado
a um escravo 1 grande de 0:14:00
trabalho
1 facão medio 0:14:00
253
1 10 0
17260923 peixe 2 faca 1,5 0:03:00
4 contas cacho 1 0:04:00
cera 9 contas cacho 1 0:09:00
a um servidor
1 enchada 0:13:00
indígena
1 faca 0:01:08
1 navalha 0:02:00
1 12 8
a mathies keijser
por fabricar
pano osna-
caixas para guar-
17260929 12 bruck branco 4 2:08:00
dar os fuzis da
por aulna
guarnição dessa
colonia
carangeijo 1 pano branco 0:05:00
peneiras (mana-
ri) e expremer 2 pano branco 5 0:10:00
mandioca
1 faca 0:01:08
3 4 8
17261001 melancia 3 contas cacho 1 0:03:00
aos remadores 6 contas cacho 1 0:06:00
3 pano branco 5 0:15:00
1 navalha 0:02:00
1 6 0
17261003 carangeijo 1 pano branco 0:05:00
1 pano pardo 0:04:06
machado
galinha 1 0:14:00
médio
2 faca 1,5 0:03:00
berimbao de
1 0:00:08
boca
1 tesoura 0:02:00
1 8 14
254
17261004 iguanos 3 contas cacho 1 0:03:00
cordas e algodão 2 faca 1,5 0:03:00
5 contas cacho 1 0:05:00
0 11 0
aos escravos
17261007 2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar
facão médio
2 13 1:06:00
de trabalho
2 12 0
17261008 cordas 10 contas cacho 1 0:10:00
2 pano pardo 4:06 0:08:12
2 navalha 2 0:04:00
1 2 12
aos índios que
trouxeram hoje
do rio demerara
17261009 3 pano branco 5 0:15:00
os cavalos leva-
dos por christia-
en gesner
3 faca 1,5 0:04:08
3 contas cacho 1 0:03:00
1 2 8
aos remadores,
17261010 para cera e para 5 contas cacho 1 0:05:00
passarinhos
3 pano branco 5 0:15:00
vasilhas 7 contas cacho 1 0:07:00
1 7 0
para a captura de
um negro fugido
17261011 1 pano branco 0:05:00
da fazenda ma-
rkay
2 faca 1,5 0:03:00
aos escravos
2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar
255
facão médio
1 0:13:00
de trabalho
aos remadores e
4 pano branco 5 1:00:00
para peixe
8 contas cacho 1 0:08:00
pano guinea
galinha 3 azul por 12 1:16:00
aulna
1 facão grande 0:15:00
6 6 0
17261012 churrasco 1 faca 0:01:08
1 tesoura 0:02:00
espelho dou-
galinha 1 0:08:00
rado
0 11 8
trazido por
christiaen gesner
no 9 de outobro pano osna-
17261013 do rio orinoco 12 498 bruck branco 4 99:10:00
cavalos, um dos por aulna
quais morreu na
viagem
pano osna-
460 bruck pardo 3,5 80:10:00
por aulna
pano listrado
95 branco por 8 38:00:00
aulna
552 faca 1,5 41:08:00
contas por
83 8 33:04:00
libra
192 12 0
um barril de co-
chapeu re-
paíba [houdende 5 55 13:15:00
gular
circa 46 stoopen]
sapato mas-
6 40 12:00:00
culino
256
alpargata
2 masculina um 30 3:00:00
par
alpargata
2 feminina um 36 3:12:00
par
canela cem
1 4:00:00
gramas
cravo cem
16 6 4:16:00
gramas
castanha cem
12 5 3:00:00
gramas
macis por
8 6 2:08:00
cem gramas
libra de
1 pimenta do 0:10:00
reino
47 1 0
gastos durante
da viagem e machado
6 15 4:10:00
taxas pago aos grande
espanhois
3 facão médio 15 2:05:00
70 faca 1,5 5:17:00
contas por
8 8 3:04:00
libra
15 16 0
aos remadores,
17261014 para cera e para 2 faca 1,5 0:03:00
peixe
3 pano branco 5 0:15:00
4 contas cacho 1 0:04:00
1 tesoura 0:02:00
1 4 0
tartarugas e
17261015 1 pano branco 0:05:00
algodão
1 faca 0:01:08
1 navalha 0:02:00
257
berimbao de
3 0,5 0:01:08
boca
6 contas cacho 1 0:06:00
0 16 0
17261016 um passaro 4 contas cacho 1 0:04:00
a alguns índios
que fazem servi-
2 pano pardo 4:06 0:08:12
ço e ás mulheres
de pão
12 faca 1,5 0:18:00
aos escravos
3 enchada 13 1:19:00
para trabalhar
facão grande
2 14 1:08:00
de trabalho
carregar correio
4 faca 1,5 0:06:00
do rio corantijn
algodão e cordas 10 contas cacho 1 0:10:00
2 navalha 2 0:04:00
espelho flan-
2 1,25 0:02:08
des
6 0 8
17261019 cera e algodão 14 contas cacho 1 0:14:00
aos escravos
5 enchada 13 3:05:00
para trabalhar
facão médio
4 13 2:12:00
de trabalho
machado
2 grande de 14 1:08:00
trabalho
a alguns índios
que fazem ser- 2 navalha 3 0:04:00
viço
2 faca 1,5
espelho flan-
2 1,25 0:02:08
des
8 8 8
258
machado
17261021 galinha 1 0:15:00
grande
espelho dou-
2 8 0:16:00
rado
berimbao de
1 0:00:08
boca
1 11 8
pago par traba-
lho de pintura
17261023 na igreja para 12 0 0
jan godfriedt
surijtser
boesewij
verigten*[serviço 5 contas cacho 1 0:05:00
desconhecido]
aos escravos
3 enchada 13 1:19:00
para trabalhar
2 4 0
a captura do machado
27 2 15 1:10:00
escravo quakoe grande
machado
pau de timbó 2 14 1:08:00
médio
2 18 0
berimbao de
17261028 cera e algodão 2 0,5 0:01:00
boca
2 faca 1,5 0:03:00
4 contas cacho 1 0:04:00
0 8 0
aos escravos
17261103 2 enchada 13 1:06:00
para trabalhar
machado
3 grande de 14 2:02
trabalho
1 facão medio 0:14:00
pano osna-
galinha 8 bruck branco 4 1:12:00
por aulna
5 14 0
259
a alguns índios
17261108 que fazem ser- 2 tesoura 2 0:04:00
viço
2 navalha 2 0:04:00
4 contas cacho 1 0:04:00
0 12 0
churrasco, aos
remadores, para
17261109 10 contas cacho 1 0:10:00
algodão e para
cera
4 pano branco 5 1:00:00
2 tesoura 2 0:04:00
1 faca 0:01:08
1 15 8
ferro de
17261111 galinha 2 14 1:08:00
casave
1 faca 0:01:08
berimbao de
1 0:00:08
boca
aos escravos facão médio
2 13 1:06:00
para trabalhar de trabalho
3 enchada 13 1:19:00
peixe e caran-
9 contas cacho 1 0:09
geijo
5 4 0
17261116 para uso 24 sabao libra 6 7:04:00
peixe e caran-
3 pano branco 5 0:15:00
geijo
um veadinho 2 pano pardo 4:06 0:08:12
aos remadores 4 pano branco 5 1:00:00
berimbao de
1 0:00:08
boca
espelho flan-
1 0:01:04
des
9 9 8
260
aos escravos facão médio
17261117 3 13 1:19:00
para trabalhar de trabalho
facão grande
2 14 1:08:00
de trabalho
3 7 0
machados
17261118 galinha 2 12 1:04:00
pequenos
machados
1 0:15:00
grandes
3 faca 1,5 0:04:08
2 3 8
a um servidor
17261119 1 navalha 0:02:00
indígena
1 faca 1,5 0:01:08
0 3 8
17261120 carangeijo e cera 4 pano branco 5 1:00:00
13 contas cacho 1 0:13:00
cordas e algodão 3 faca 1,5 0:04:08
9 contas cacho 1 0:09:00
2 6 8
a alguns índios
17261123 que fazem ser- 2 faca 1,5 0:03:00
viço
2 pano branco 5 0:10:00
0 13 0
algodão
17261124 galinha 2,5 branco por 10 1:10:00
aulna
3 pano branco 5 0:15:00
carangeijo 1 pano branco 0:05:00
berimbao de
1 0:00:08
boca
espelho flan-
1 0:01:04
des
2 11 12
261
aos escravos
17261125 5 enchada 13 3:05:00
para trabalhar
facão médio
2 13 1:06:00
de trabalho
machado
2 grande de 14 1:08:00
trabalho
5 19 0
peneiras (mana-
17261126 1 faca 0:01:08
ri) e cesta (habas)
2 navalha 2 0:04:00
1 tesoura 0:02:00
5 contas cacho 1 0:05:00
0 12 8
fio de costu-
ao constabel para rar colorido
17261127 12 1,5 0:18:00
fazer cartuchos por 100
gramas
a um servidor facão médio
1 0:13:00
indígena de trabalho
1 pano pardo 0:04:06
a frans heffener pano osna-
por fazer vasi- 12 bruck branco 4 2:08:00
lhas por aulna
cera e carangeijo 7 contas cacho 1 0:07:00
4 10 6
peneiras (mana-
17261128 2 pano branco 5 0:10:00
ri) e cesta (habas)
1 tesoura 0:02:00
0 12 0
17261130 peixe e churrasco 3 contas cacho 1 0:03:00
a algumas escra-
4 faca 1,5 0:06:00
vas indígenas
12 contas cacho 1 0:12:00
262
1 1 0
vasilhas, patatas
17261201 14 contas cacho 1 0:14:00
e peixe
espelho flan-
2 1,25 0:02:08
des
1 faca 0:01:08
0 18 0
17261203 um passarinho 2 contas cacho 1 0:02:00
iguanos 2 faca 1,5 0:03:00
berimbao de
2 0,5 0:01:00
boca
0 6 0
60 barris de
peixe [jarouw]
machado
17261204 salgado pelos 23 15 17:05:00
grande
índios no rio
canje
machado
14 14 9:16:00
médio
machados
22 12 13:04:00
pequenos
5 facão grande 15 3:15:00
4 facão médio 14 2:16:00
facão
9 12 5:08:00
pequeno
machado
6 grande de 14 4:04:00
trabalho
2 facão médio 14 1:08:00
6 enchada 13 3:18:00
ferro de
2 14 1:08:00
casave
enxó de
5 12 3:00:00
canoas
21 pano branco 5 5:05:00
9 pano pardos 4:06 1:19:06
7 espelho preto 8 2:16:00
263
espelho dou-
6 8 2:08:00
rado
espelho flan-
11 1,25 0:13:12
des
13 faca 1,5 0:18:08
5 tesoura 2 0:10:00
4 navalha 2 0:08:00
contas por
46 8 18:08:00
libra
contas por
1,5 8 0:12:00
libra (tawas)
## 1 10
machado
aos escravos
17261205 2 grande de 14 1:08:00
para trabalhar
trabalho
2 facão médio 14 1:08:00
2 enchada 13 1:06:00
4 2 0
peixe salgado
machado
17261206 pelos índios 3 15 2:05:00
grande
beira mar
machado
8 12 1:04:00
pequeno
6 pano branco 5 1:10:00
berimbao de
6 0,5 0:03:00
boca
4 faca 1,5 0:06:00
8 contas cacho 1 0:08:00
5 16 0
machado
para uso no pos-
17261207 1 grande de 0:14:00
to da guarda
trabalho
1 facão medio 0:14:00
2 contas cacho 1 1:10
machado
a dois índios que
17261208 2 grande de 14 1:08:00
fazem serviço
trabalho
264
libra de
para uso na
1 pimenta do 0:10:00
cozinha
reino
castanha cem
8 5 2:00:00
gramas
macis por
8 6 2:08:00
cem gramas
canela cem
8 5 2:00:00
gramas
8 6 0
17261206 a uma escrava 6 contas cacho 1 0:06:00
1 faca 0:01:08
algodão e cera 5 contas cacho 1 0:05:00
berimbao de
4 0,5 0:02:00
boca
0 14 8
17261210 churrasco 2 pano branco 5 0:10:00
1 faca 0:01:08
machado
galinha 1 0:15:00
grande
1 facão medio 0:15:00
aos escravos
17261211 3 enchada 13 1:19:00
para trabalhar
machado
2 grande de 14 1:08:00
trabalho
facão grande
3 14 2:02
de trabalho
facão médio
2 13 1:06:00
de trabalho
6 15 0
a dois índios que
17261212 2 faca 1,5 0:03:00
fazem serviço
tecido flamen-
a uma escrava 4,5 go por aulna 7 1:11:08
(lijwaat)
265
carangeijo e cera 2 pano branco 5 0:10:00
1 pano pardo 0:04:06
3 faca 1,5 0:04:08
4 contas cacho 1 0:04:00
para sacos par tecido flamen-
guardar chum- 3 go por aulna 7 1:01:00
binho (lijwaat)
3 10 6
aos escravos
17261213 8 enchada 13 5:04:00
para trabalhar
churrasco 2 faca 1,5 0:03:00
a uma escrava 1 faca 0:01:08
4 contas cacho 1 0:04:00
5 12 4
17261219 aos remadores 1 pano branco 0 5 0
17261220 algodão 15 contas cacho 1 0:15:00
aos escravos facão grande
2 14 1:08:00
para trabalhar de trabalho
3 facão médio 13 1:19:00
4 2 0
vasilhas, cordas e
17261226 7 faca 1,5 0:10:08
pau de timbó
19 contas cacho 1 0:19:00
berimbao de
2 0,5 0:01:00
boca
1 10 8
cordas e cesta
17270102 8 contas cacho 1 0:08:00
(habas)
3 faca 1,5 0:04:08
4 pano branco 5 1:00:00
espelho flan-
3 1,25 0:03:12
des
a uma escrava 1 faca 0:01:08
1 17 12
266
machado
17270104 uma canoa 10 15 7:10:00
grande
4 facão médio 15 3:00:00
2 espelho preto 8 0:16:00
espelho dou-
2 8 0:16:00
rado
2 tesoura 2 0:04:00
2 navalha 2 0:04:00
2 faca 1,5 0:03:00
2 pano branco 5 0:10:00
machado
2 12 1:04:00
pequeno
2 facão médio 12 1:04:00
1 enxó de canoa 0:12:00
contas por
1 0:08:00
libra
contas por
0,5 0:04:00
libra (tawas)
20 contas cacho 1 1:00:00
17 15 0
17270103 algodão 4 contas cacho 1 0:04:00
a um escravo
1 faca 0:01:08
indígena
1 navalha 0:02:00
1 tesoura 0:02:00
0 9 8
para uso na canela cem
17270106 8 5 2:00:00
cozinha gramas
cachimbos
para uso dos
25 longos por 2:00:00
conselheiros
dúzia
4 0 0
17270107 a uma escrava 6 contas cacho 1 0:06:00
1 enchada 0:13:00
267
tecido flamen-
3,5 go por aulna 7 1:04:08
(lijwaat)
2 3 8
para um jovem
17270108 burro do mato 2 facão médio 14 1:08:00
(anta)
cera e ovos 13 contas cacho 1 0:13:00
a um servidor facão médio
1 0:13:00
indígena de trabalho
2 14
tecido flamen-
para velas da
17270109 30 go por aulna 7 10:10:00
canoa
(lijwaat)
ás mulheres de
5 faca 1,5 0:07:08
pão
peixe 3 contas cacho 1 0:03:00
aos remadores 2 pano branco 5 0:10:00
11 10 8
a uma escrava
indígena para
17270112 4 contas cacho 1 0:04:00
comprar uma
rede
1 facão grande 0:15:00
2 pano branco 5 0:10:00
4 faca 1,5 0:06:00
1 navalha 0:02:00
1 17 0
17270113 carangeijo 2 contas cacho 1 0:02:00
machado
galinha 1 0:15:00
grande
1 facão medio 0:15:00
aos remadores 2 pano branco 5 0:10:00
2 pano pardos 4:06 0:08:12
268
na caixa de car-
gasoen para uso 200 agulha 1:04:00
diário
2 alfinete 0:04:00
3 18 12
a alguns índios
17270114 que fazem ser- 3 pente 1,5 0:07:08
viço
pente de
3 2 0:06:00
marfim
2 tesoura 2 0:04:00
0 17 8
aos remadores,
17270116 para algodão e 1 pano pardo 0:04:06
para cera
8 contas cacho 1 0:08:00
1 faca 0:01:08
2 pano branco 5 0:10:00
1 3 14
expremer man-
18 1 pano branco 0:05:00
dioca
1 tesoura 0:02:00
2 navalha 2 0:04:00
3 contas cacho 1 0:03:00
aos escravos
3 enchada 13 1:19:00
para trabalhar
machado
7 grande de 14 4:18:00
trabalho
7 11 0
a alguns índios
17270119 que fazem ser- 2 faca 1,5 0:03:00
viço
2 tesoura 2 0:04:00
1 navalha 0:02:00
a uma escrava 1 faca 0:01:08
269
3 contas cacho 1 0:03:00
0 13 8
17270125 cera 10 contas cacho 1 0:10:00
tecido flamen-
a algumas escra-
12 go por aulna 7 4:04:00
vas indígenas
(lijwaat)
carangeijo 2 faca 1,5 0:03:00
1 navalha 0:02:00
4 19 0
aos remadores e
17270130 2 pano branco 5 0:10
para cera
3 contas cacho 1 0:03:00
algodão 9 contas cacho 1 0:09:00
a um servidor
1 pano pardo 0:04:06
indígena
1 faca 0:01:08
espelho flan-
1 0:01:04
des
1 9 2
17270201 carangeijo 1 pano branco 0:05:00
2 navalha 2 0:04:00
vasilhas 12 contas cacho 1 0:12:00
1 1 0
17270203 carne de veado 3 pano branco 5 0 15 0
a alguns índios
17270205 que fazem ser- 8 contas cacho 1 0:08:00
viço
3 pano branco 5 0:15:00
2 faca 1,5 0:03:00
1 6 0
17270209 passarinhos 2 faca 1,5 0:03:00
1 grauwe lap 0:04:06
0 7 6
270
machado
17270215 galinha 1 0:15:00
grande
1 facão médio 0:14:00
1 9 0
aos escravos
17270216 1 enchada 0:13:00
para trabalhar
facão médio
1 0:13:00
de trabalho
carregar correio
2 faca 1,5 0:03:00
do rio corantijn
espelho de
1 0:01:04
flandes
cesta (habas) e
expremer man- 3 pano branco 5 0:15:00
dioca
1 navalha 0:02:00
2 7 4
algodão e penei-
17270217 8 contas cacho 1 0:08:00
ras (manari)
2 pano branco 5 0:10:00
0 18 0
17270218 a um escravo 1 faca 0:01:08
aos remadores 1 pano pardo 0:04:06
2 pano branco 5 0:10:00
0 15 14
machado
17270219 uma canoa 8 15 6:00:00
grande
machados
2 12 1:04:00
pequenos
2 facão grande 15 1:10:00
1 enxó de canoa 0:12:00
10 contas cacho 1 0:10:00
espelho dou-
2 8 0:16:00
rado
2 tesoura 2 0:04:00
271
2 navalha 2 0:04:00
2 faca 1,5 0:03:00
11 3 0
vasilhas, caldei-
17270220 28 contas cacho 1 1:08:00
ras e cordas
2 faca 1,5 0:03:00
1 pano pardo 0:04:06
1 15 6
17270221 cera e algodão 1 faca 0:01:08
4 contas cacho 1,5 0:04:00
a alguns escravos 1 pano pardo 0:04:06
2 navalha 2 0:04:00
1 faca 0:01:08
vasilhas 5 contas cacho 1 0:05:00
1 0 6
17270224 a uma escrava 1 enchada 0:13:00
facão médio
1 0:13:00
de trabalho
berimbao de
peixe 1 0:00:08
boca
1 6 8
para uso na castanha cem
17270226 8 5 2:00:00
cozinha gramas
macis por
8 6 2:08:00
cem gramas
canela cem
8 5 2:00:00
gramas
cravo cem
8 6 2:08:00
gramas
8 16 0
17270228 cordas e algodão 1 pano pardo 0:04:06
2 pano branco 5 0:10:00
12 contas cacho 1 0:12:00
1 6 6
272
aos escravos
17270303 3 enchada 13 1:19:00
para trabalhar
facão grande
1 0:14:00
de trabalho
peneiras (ma-
2 faca 1,5 0:03:00
nari)
1 tesoura 0:02:00
espelho flan-
1 0:01:04
des
carangeijo e
1 pano branco 0:05:00
vasilhas
9 contas cacho 1 0:09:00
1 faca 0:01:08
3 14 12
a alguns índios
17270308 que fazem ser- 3 faca 1,5 0:04:08
viço
2 tesoura 2 0:04:00 0 8 8
17270311 churrasco 2 navalha 2 0:04:00
berimbao de
1 0:00:08
boca
0 4 8
17270317 a um escravo 1 pano pardo 0:04:06
carangeijo, cor-
1 pano pardo 0:04:06
das e vasilhas
10 contas cacho 1 0:10:00
0 18 12
machado
17270320 galinha 1 0:15:00
grande
4 contas cacho 1 0:04:00
0 19 0
17270321 cesta (habas) 3 pano branco 5 0:15:00
1 faca 0:01:08
0 16 8
17270323 peixe 2 contas cacho 1 0:02:00
273
contas por
cera 0,25 0:02:00
libra (tawas)
0 4 0
machado
17270324 pau de timbó 1 0 15 0
grande
a alguns escravos
17270326 1 pano branco 0:05:00
indigenas
1 faca 0:01:08
1 tesoura 0:02:00
1 navalha 0:02:00
pano osna-
ás moças 57,25 bruck branco 4 11:09:00
por aulna
pano osna-
57,25 bruck pardo 3,5 10:00:06
por aulna
contas por
3 8 1:04:00
libra
peneiras (ma-
3 faca 1,5 0:04:08
nari)
a duas escravas 2 faca 1,5 0:03:00
23 11 6
berimbao de
17270328 carangeijo 1 0:00:08
boca
2 contas cacho 1 0:02:00
0 2 8
17270329 galinha 1 enchada 0:13:00
pano osna-
4 bruck branco 4 0:16:00
por aulna
1 9 0
a um servidor facão médio
17270330 1 0:13:00
indígena de trabalho
a três escravos 3 pano pardo 4:06 0:13:02
1 6 2
274
alimentos dos
índios que
17270331 fizeram uma 6 faca 1,5 0:09:00
viagem para o
rio orinoco
contas por
4,75 8 1:18:00
libra
2 pond karbee 8 0:16:00
contas por
1 8 0:8:P0
libra (tawas)
usado no escri-
papel (boek-
tório desde 31 de 62,5 4 12:10:00
papier)
março 1726
16 1 0
275
ANEXO 3: LIVRO DE CONTABILIDADE DIÁRIO
DE CARGA DA FAZENDA MARKAY 1726-1727
(NL-HANA_1.05.05_61.13)
Guia
277
distribuido ás escravas
17260618 contas libra 8
indigenas da fazenda
17260619 aos cortadores de grama faca 1
ao índio do posto de
17260620 navalha 1
guarda
tesoura 1
17260621 aos escravos facão de trabalho grande 1
vasilhas de poteria e
17260623 cacho de contas 8
abacaxi
aos escravos e para vasi-
17260630 cacho de contas 5
lhas de poteria
uma canoa pequena e
17260701 machado grande 2
vasilhas de poteria
facão grande 1
espelho flandes 2
cacho de contas 8
aos escravos; aos índios
17260706 da fazenda e para rema- facão de trabalho grande 8
ra para o forte
faca 4
17260708 aos escravos facão de trabalho grande 3
navalha 4
17260712 carne de veado faca 3
habas e vasilhas de pote-
17260713 espelho flandes 2
ria e galinha
cacho de contas 6
aos índios da fazenda,
aos escravos, para gali-
17260714 facão de trabalho grande 1
nha e para vasilhas de
poteria
faca 4
cacho de contas 30
17260716 batatas cacho de contas 3
aos escravos e para
17260717 facão de trabalho grande 1
cordas
278
facão de trabalho pequeno 1
faca 2
aos escravos e para
17260720 facão de trabalho pequeno 1
cordas
faca 1
17260721 aos escravos machado de trabalho 1
facão de trabalho pequeno 1
aos escravos e para algo-
17260722 machado de trabalho 2
dão para a lampada
machado médio 2
galinha e para remar
17260727 para [fazenda] Westsou- machado pequeno 1
burg
cacho de contas 4
17260729 aos escravos machado de trabalho 1
faca 1
17260730 batatas e aos escravos enchada de trabalho 3
facão de trabalho pequeno 1
cacho de contas 3
aos escravos, para algo-
17260803 machado de trabalho 1
dão, para cestas [habaas]
facão de trabalho grande 1
faca 1
cacho de contas 2
Compra de uma escrava
17260805 indígena e para remar enchada de trabalho 1
ao forte
machado de trabalho 1
machado grande 7
facão grande 7
279
espelho preto 1
espelho dourado 1
tesoura 2
faca 3
cacho de contas 5
Tawajes* [desconhecido,
talvez tipo de conta de 2
vidro]
aos índios da fazenda e
17260811 enchada de trabalho 2
aos escravos
facão de trabalho grande 1
navalha 1
tesoura 4
vasilhas de poteria,
peixe e para um pano
17260813 faca 2
[tanga] para uma nova
escrava
cacho de contas 17
a nova escrava para uma
17260821 rede, aos escravos e aos facão de trabalho grande 1
índios da fazenda
machado pequeno 1
faca 2
aos escravos, aos índios
17260824 da fazenda e para caran- enchada de trabalho 1
geijo
machado de trabalho 3
facão de trabalho grande 2
facão de trabalho pequeno 1
espelho dourado 1
espelho flandes 1
navalha 1
faca 3
17260828 vasilhas de poteria faca 1
cacho de contas 1
280
ao índio que trouxe a
carta ou o tempo da
17260911 machado de trabalho 1
viagem para rio Canje e
distribuido aos escravos
facão de trabalho grande 1
tesoura 1
tawajes 6
17260914 aos cortadores de grama faca 1
aos escravos, para gali-
17260915 machado de trabalho 1
nha e para peixe
machado grande 1
machado pequeno 1
faca 3
ao índio do posto de
guarda, aos cortadores
17260917 facão de trabalho grande 1
da grama e aos índios da
fazenda
machado pequeno 1
faca 2
17260919 aos índios da fazenda faca 2
17260923- galinha e aos índios da
tesoura 1
27 fazenda
faca 2
17261004 algodão cacho de contas 3
ás crianças das escravas
indígenas para panos
17261006 enchada de trabalho 1
[tangas] e distribuido
aos escravos
machado de trabalho 1
facão de trabalho grande 1
facão de trabalho pequeno 1
cacho de contas 2
tawajes 4
pau de timbó, algodão,
17261008 vasilhas de poteria e machado grande 1
batatas
281
facão grande 1
tesoura 1
cacho de contas 9
vasilhas de poteria e aos
17260909 machado de trabalho 1
escravos
cacho de contas 4
aos cortadores de grama
17261011 navalha 1
e aos escravos
cacho de contas 3
17261016 batatas tawajes 3
17261017 uma canoa machado grande 18
facão grande 1
tawajes 5
Limão, batatas e aos
17261018 enchada de trabalho 2
escravos
machado de trabalho 1
facão de trabalho grande 2
facão de trabalho pequeno 3
espelho preto 1
tawajes 4
aos escravos e aos índios
17261022 machado de trabalho 2
da fazenda
cacho de contas 2
17261029 batatas e carangeijo cacho de contas 1
tawajes 3
17261102 aos cortadores de grama cacho de contas 1
vasilhas de poteria e
17261105 tawajes 1
limão
cera e algodão, carne
17261106 machado pequeno 1
suína e cano de flecha
cacho de contas 2
tawajes 9
282
para remar para [fazen-
17261109 faca 2
da] Den Berg
cacho de contas 3
para algodão, cordas e
17261113 vasilhas de poteria, aos machado grande 1
índios da fazenda
cacho de contas 1
aos índios da fazenda e
17261118 espelho dourado 1
para remar ao forte
cacho de contas 6
aos escravos e para uma
17261120 facão de trabalho 1
canoa pequena
facão de trabalho grande 1
machado pequeno 9
facão grande 9
17261122 aos escravos machado de trabalho 1
aos cortadores de gra-
17261126 ma, aos escravos e para faca 1
limão
cacho de contas 2
17261128 cera machado grande 1
aos índios que pescaram
17261129 enchada de trabalho 2
no rio Canje
machado de trabalho 5
facão de trabalho grande 1
machado grande 25
machado médio 7
machado pequeno 3
facão grande 5
facão médio 6
facão pequeno 3
espelho preto 1
espelho dourado 1
283
espelho flandes 11
navalha 1
tesoura 1
faca 25
cacho de contas 31
tawajes 2
tromp 2
17261206 peixe e limão faca 2
cacho de contas 3
17261208 distribuido aos escravos enchada de trabalho 1
machado de trabalho 3
facão de trabalho grande 1
navalha 1
tesoura 1
duas canoas pequenas
17261209 (corjaal) e para uma machado grande 4
cesta [habas]
machado pequeno 1
facão grande 1
faca 1
ao índio quem ficou no
17261214 facão médio 1
posto de guarda
284
para remar para [a
17261222 fazenda] Peereboom e cacho de contas 6
para algodão
para expremer mandio-
ca e para fazer beltierie
17261226 faca 2
[bebida fermentada
alcoolica de mandioca]
cacho de contas 4
aos índios da fazenda e
17261230 faca 3
para vasilhas de poteria
cacho de contas 6
17270101 aos índios na fazenda faca 3
Carangeijo, peixe e para
17270106 faca 3
remar ao forte
cacho de contas 4
aos escravos, para ber-
17270110 enchada de trabalho 2
bekot e para peixe
facão de trabalho grande 1
facão de trabalho pequeno 1
faca 1
para indicar o nome de
17270113 machado grande 1
uma árvore de cedro
uma canoa pequena e
17270118 machado grande 1
para peixe
espelho flandes 1
tesoura 2
Algodão, vasilhas de
17270119 cacho de contas 12
poteria
para uma rede (bocks
17270120 kooij) para a escrava navalha 1
indígena
tesoura 1
cacho de contas 1
tawajes 2
17270122 alimentos faca 1
285
para remar para cima
17270125 [do rio], para uma pe- machado grande 2
quena canoa e para cera
lapfaca grande 1
tesoura 1
faca 1
cacho de contas 1
cesta [habaas], expremer
17270128 mandioca e aos índios machado de trabalho 2
da fazenda
facão de trabalho grande 1
tesoura 2
faca 1
aos cortadores de grama
17270201 faca 3
e aos índios da fazenda
286
faca 1
aos escravos, para va-
17270302 silhas de poteria e para Ver entrada dia 10
goma de madeira
aos escravos, para va-
17270304 silhas de poteria e para Ver entrada dia 10
goma de madeira
aos escravos, para va-
17270310 silhas de poteria e para navalha 1
goma de madeira
tesoura 1
cacho de contas 6
tawajes 10
17270315 para remar ao forte tesoura 3
faca 1
Cera, algodão e aos
17270316 machado de trabalho 3
escravos
machado pequeno 1
facão pequeno 1
tesoura 1
17270317 uma canoa pequena machado grande 1
facão grande 1
corda, uma cesta [ pa-
gaaltje], algodão, a uma
17270318 escrava indígena, e para machado grande 1
a compra de uma roça
com mandioca
facão pequeno 1
navalha 1
tesoura 4
faca 2
cacho de contas 16
ao índio do posto de
17270222 tesoura 2
guarda
17270323 aos escravos machado de trabalho 2
facão de trabalho grande 1
287
facão de trabalho pequeno 1
tesoura 1
vasilhas de poteria, gali-
17270326 machado pequeno 1
nha e peixe
facão pequeno 1
navalha 2
tesoura 2
tawajes 10
17270406 cera facão grande 1
carne de churrasco,
17270411 peixe e algodão para a machado grande 1
lampada
machado pequeno 1
facão pequeno 1
navalha 2
faca 1
cacho de contas 4
Beltierri [bebida fer-
mentada alcoolica], para
uma rede para a escrava
17270412 Ver entrada dia 14
indígena e para pernou
[bebida fermentada
alcoolica]
Beltierri [bebida fer-
mentada alcoolica], para
uma rede para a escrava
17270414 tesoura 3
indígena e para pernou
[bebida fermentada
alcoolica]
cacho de contas 6
aos escravos e aos índios
17270421 facão de trabalho grande 2
da fazenda
faca 1
cacho de contas 6
tawajes 6
tromp 1
288
17270426 cera machado de trabalho 1
17270504 aos escravos facão de trabalho grande 4
facão de trabalho pequeno 2
faca 1
17270511 aos escravos machado grande 2
17270519 aos índios da fazenda faca 1
17270521 carne de veado facão de trabalho grande 1
aos escravos e para
17270524 facão de trabalho grande 1
batatas
machado grande 2
cacho de contas 3
aos escravos e aos índios
17270530 facão de trabalho pequeno 1
da fazenda
faca 3
cacho de contas 3
vasilhas de poteria e
17270605 cacho de contas 4
batatas
tawajes 7
aos escravos, aos corta-
17270607 dores de grama e para machado de trabalho 1
batatas
faca 1
cacho de contas 2
tawajes 2
cera, habaas e ‘snope-
rij’ * [desconhecido,
17270612 facão grande 1
talvez algo gostoso para
beliscar]
facão médio 1
facão pequeno 1
faca 3
galinha e aos índios da
17270614 espelho dourado 1
fazenda
espelho flandes 1
289
tesoura 3
cacho de contas 2
17270619 aos índios da fazenda faca 1
aos escravos e aos índios
17270622 faca 1
da fazenda
290
aos índios da fazenda e
17270806 faca 2
ás índias
tawajes 4
17270813 aos escravos facão de trabalho grande 1
17270815 aos índios da fazenda facão de trabalho grande 1
facão de trabalho pequeno 2
faca 2
aos escravos e aos índios
17270816 faca 2
do posto de guarda
291
ANEXO 4: NOMES DE ESCRAVOS 1726-1736
293
Fransie Poecinella
Grietje 2 Poeita 2 Puito
Santje; Zaantje;
Hans 2 Hansje Sannetje 5
Zantje
Iroenie Sara 5 Zara
Isie Smities
Jacob Verganie Sophia 3
Jacoba Susanna 2
Jacoe Tannetje
Jakanirae Thisseve
Jan Tielielie
Jan van Kou-
Trijn 2 Trijntje
wenhoven
Jannetje
Jannetje 4 Vette Kinde
Krieke
Willemijn
294
14 Fransie Kabyne
15 Frederik Kangi
16 Fregat Keyta
17 Gratia Kobas
18 Hendrik Kokolokoe
19 Jacob 6 Koteko
20 Jan Broek Kotoef
21 Jan France Lakrooy
22 Jantje 4 Maboeke
23 Jeremias Mafonge
24 Joris Majalle
25 Kakkerlak Malokie
26 Kapita Mange
27 Klaes, Claes 5 Maquame
28 Leeuw Masa
29 Louwie Moesjalle
30 Mars Molallo
31 Matthijs 2 Pangla
32 Moses Pansoe
33 Oranje Quabene
34 Pieramus 2 Quakoe
35 Prins Quasie
36 Santje Quitiklik
37 Savonette Samboe
38 Simon 3 Smauw
39 Thomas Tatarbie
40 Toefje Toela
41 Toetje
42 Willem 3
295
Nomes de garotas africanas 1727-1735
NOME EUROPEU FREQ NOME AFRICANO
Anna 2 1 Adjoe
Ariaantje 2 Bomba
Catharina 3 Cassone
Cicelia, Cicilia 2 4 Dieroke
Clara 5 Habba
Cornelia 6 Kema
Cosijntje 7 Kibonda
Dina 2 8 Kisoner
Eva 9 Maaij
Jacomyntie 10 Maasa
Jannetje 3 11 Makaje
Jannetje 12 Mayman
Jannetje 13 Minge
Kaatje 14 Tonne forrie
Margrieta 15 Zamba
Maria 16
Minge 17
Susanna, Zusanna 3 18
296
ANEXO 5-NOMES: PROPRIETÁRIO-FAMÍLIA,
PLANTAÇÃO-TOPÔNIMO, RIO-IGARAPÉ
(UBA-OTM: HB-KZL_102-21-03)
297
Elis[abeth] de Feer. Nm.liberdad
Nl De Vreyheyd (11)
Wed v Weeningen nl
I.C. Heyneman Nl Sorg Vliet (12) Nm. Nl. Hoeri Kr.
I. Hudde Dedel Nl Hardenbos (13) ni Nm. Nl. Napa Kr.
Will[em] Gerr[it]
Nl Concordia (14) Nm. Nl.
Dedel
I. Beudeker Nl God Siet Alles (15) Nm. Nl.
H[endri] k Clasingh Nl Meyerbeek (16) Tp. Nl !
Sari Krk.
Sociëteit van Berbice Harden broek ni Tp. Nl Watabaroe K.
Komadal K.
Tp. Nova Alsala K.
Niwe Caraque
caracas Wal Kr.
Nic[olaas] Balk Nl Vreedenrust (17) Nm. N l
Kewere Kaboera
Pieter Bernard Nl Aghthooven (18) Tp. Nl
Kr.
Alakveja Kr.
Sociëteit van Berbice Plantage Markie ni Oababoe Krk
Matalala
Kewere Kaboera
Sociëteit van Berbice Markai ni Kk
Sariabebor K.
I. F. Nicolay Nl Doorn Roos (19) Nm.Nl
De Drie Gebroeders
Ph. Broer Nl Nm.Nl Koara Acoeth K.
(20)
Iac Boule Fr Engeleburgh (21) Nm.Nl
Den Nieuwe Levan-
Herm Berewout Nl Nm.Nl
te (22)
Nm. Nl
Herm Berewout Nl Beerensteyn (23) propriet
Beerewout
Herm Berewout Nl Lands Kroon (24) ni Nm. Nl Isoure Kr.
Will[em] Sautyn en Nl !
Theodora (25) Prn. Nl
Pieter Balguerie Fr
Will[em] Sautyn en Nl !
Maria Henrietta (26) Prn. Nl
Pieter Balguerie Fr
Nm. Nl.
Michiel de Putter Nl Putters Hoop (27)
Propriet.
Michiel de Putter Nl Het Fortuyn (28) Nm. Nl
298
Will[e]m.Gid[eo]n.
Deutz en Corn[eli]s Nl 2 De Agatha (29) Prn. Nl
van Eyk
Will[e]m.Gid[eo]n.
D´Duytsche Eyke- Nm propiet
Deutz en Corn[eli]s Nl 2 Tikarina Kr.
boom (30) Deutz –Eyk
van Eyk
Will[e]m.Gid[eo]n.
Deutz en Corn[eli]s Nl 2 D´Isabella Maria (31) Prn. Nl
van Eyk
De Nieuwe Caracas Tp. Venezu-
G. Teller Nl
(32) ela
Nm. Nl
Ph. Broer Nl Philis Burgh (33) Oamiaboa Kr.
propriet
Fam van
Araha Kr.
Plantagie D Peere- Pere, dona-
Sociëteit van Berbice Kapoeri Krk
boom – ni tário 1627-
Joewaroe Krk
1714
I. Buys I.v Veen A.d
Nm. Nl
Bordes en P. Verma- Nl Den Arent (34)
águia
ten
I. Testas Sp. Fr La Ressource (35) Nm. Fr
M. Testas H n van I. Armedin Kr.
Sp. Fr Ostdorp (36) ni Tp. Nl
Cossart Barbaraka Kr.
Cornelia Jacoba - ni Prn. Nl
Mevr de Wed van
Nl .Fr De Sriering (37) !!
Tol en Etienna Masse
Hend[rik] Grivel Suiça Switzerlant (38) Tp. Sw
Fr. Nm pro-
Dav[id] Dubois Fr Du Bois (39) ni Ibanakoa Kr.
priet
Anna Harteveld Nl Doorn Boom (40) Nm. Nl.
Adr. Van Damme Nl Essendam (41) ni Tp. Nl ! Doeboelivapena
Dav[id] Bern de Nm Nl pro-
Nl De Haan (42) ni Manabecoer Kr.
Haan piet, galo
Katoea Kr.
Plantage Vlissingen Tp Nl
Mojamba Krk.
St Martin de Vertu Wakaroemoeke
C. Allemand Fr Tp. Fr
(43) Kr.
Iac Boulé Fr Altenklingen (44) Tp. Suiça
Prn. Nl ~ Tp
Will[em] Röell Nl Alexandria (45)
Egipico
299
Will[em] Röell NL St Eliesabeth (46) Nm. Sto
Ios. Bellesaigne Fr Hollandia (47) Tp. Nl
Iean Pierre St. Martin Fr Zeelandia (48) ni Tp. Nl [K/H]artibane
Dav[id] Amstein Dui Roosenburgh (49) Tp Nl Kimbia Krk
............. Lelienburgh (50) Tp Nl ! ~Nm
Pieter de Raad Nl Pieter De Raad (51) Nm propriet
Ch. Moynard Fr Castes (52) Tp Fr !
Joeriepis
Mangcaboeli
Krk
Sociëteit van Berbice West Souburgh ni Tp Nl Oboedi koera K.
Kama koeja K.
Masana K.
Cocarel K.
Olivier Chaille Fr Mon Repos (53) Nm. Fr
Van Swaerd Nl Clarenburgh (54) ni Tp Nl ! Moeraar Kr.
Guill. Mottet Fr Westland (55) Tp Nl
Tp Nl (rio
Guill. Mottet FR Maasstroom (56) ni Moerabanaar Kr.
Mass)
Tp Nl, Nm
Mart. van Odekerk Nl Odekerk (57)
propriet
De Drie Gesusters
Pierre Vivier Fr Nm Nl Kaderbicie Kr.
(58) ni
Matarewa kr.
Dalikoeroe
Iac. Voordaagh en De Vrindschap (59) Kreek
Nl 2 Nm Nl
Piet Schrik ni Cuhoera
Ouhoora Kr.
Jocan Kr.
Kapoerie Krk
Sociëteit van Berbice De Berg – ni Nm Nl
Hita Krk
Koerima Kr.
Karabaroe Kr.
Boeheradaroe
Sociëteit van Berbice De Johanna - ni Prn. Nl
Kr.
Markana Kr.
Casairoe Kr.
Bern. Ovink Nl Solitude (60) ni Nm Fr Janhejoe Kr.
300
Tp Nl Nm
Abr. Iac Hiddink Nl Slingelant (61)
fam Nl
Dyeloekoe
Louis Michel Fr Agnes (62) ni Prn. NL
Krk.
Louis Michel Fr Maria en (63) Prn, Nl
De Edar. Comp.
Suyker Plantagie
D´Johanna - ni
Ian Nic.en Mos. van
Eys en Ian en Iacob Nl 2 Oostermeer (64) Tp NL
de Bruyn
Ian de Bruyn. Ian Nic
Nl 2 Hofwerk (65) Nm Nl
en Moses van Eys
I. B. Rietman. R. Dav. Kapadoeli
de Gennes. Iacob Nl Fr Helvetia (66) ni Tp Suiça Koeri Krk.
Sellon en I. L. Sellon Soladoerie Kr.
Nicolaas Huber. en Nm. Pro-
Suiço Zublislust (67)
Paulus Zubly priet. Zubli
Nicolaas Huber. en Nm propriet
Suiço Hubers Burgh (68)
Paulus Zubly Hubers
D´Eendragt Booven
Melch. Wysman. Nl Nm Nl
(69)
I. Kramer Nl Goede Hoop (70) ni Nm Nl Combe
Ite K.
Aharakoeri
Kontakajira K.
I. C. Bakker. Nl De Geertruy (71) ni Prn. Nl Ibanaikoent
Baramorret K.
Asra
Capora
Nm Nl; casa
Sociëteit van Berbice Fort Nassau
Nasau
Kiaraucapara
De Voogelesang
Iac. Mottet. Fr Nm Nl Doejoenare
(72) ni
Krk.
Dui
Tp Lituania
Godefr. Neubaur. (lit- De Stat Dantzig (73)
-Pol
pol)
De Hooft Planta- Baracoeriebana
Sociëteit van Berbice Nm Nl
gie- ni Krk
Iac. en Fr. Van de Nm Nl pro-
Nl De Velde (74)
Velde. priet
301
Iac. en Fr. Van de Nm Nl pro-
Nl De Velde (75) ni Oconokebali K.
Velde. priet
Louis Mauzy Fr (76) ni
Louis Mauzy Fr De Hoop (77) Nm Nl
Nm Nl pro-
Anna Bruynings. Nl Bruninksberg (78)
priet
Ger. en Andr. Deutz. Nl Maria (79) Prn. Nl
Ger. en Andr. Deutz. Nl Wenard (80) !
Doeboeli
Capera K
G. W. Gillot. Fr Aurora (81) ni
Boeroe
Werock
I. C. Hartzink en Al.
Nl 2 Vigelantie (82) Nm Nl
Frensel
Iac. Van Wyngaar-
Nl De Elisabet (83) Prn. Nl
den.
Outenrekoere
Sociëteit van Berbice Dageraat
Krk.
Adr. Van Aldewae-
Belge- Dabeename
relt W. Bus en L. Catharina (84) ni Prn. Nl
Nl Krk.
Michel.
Adr. Van Aldewae-
Belge- Groot Geertruyden-
relt W. Bus en L. Tp Nl
-Nl berg (85)
Michel.
Adr. Van Aldewa-
Belge- Klyn Geertruyden-
erelt W. Bus en L. Tp Nl
-Nl berg (86)
Michel.
D ´Eendragt Benee-
....Cheveriere.... Fr Nm Nl Sari K
den (87) ni
P. Pama. Nl De Wakkerhyt (88) Nm Nl
De Bedagtzamheyt
P. Pama. Nl Nm Nl
(89)
De Voor Zigtigheyt
P. Pama. Nl Nm Nl Doerekoere Krk
(90) ni
Andr. Heyse. Nl Mesopotamia (91) Tp biblia
Hend[ri]k. Waterham Dui (92)
Van Tol. en Masse Nl . Fr (93)
Rievier de Canje
Nm Nl pro-
M. van der Horst. Ni Horstenburgh (1)
prie
302
Is. Broekman. Ni Marianen Burgh (2) Prn Nl
I. E. Fiseaux. en P. Concordia Booven
Fr 2 Nm Nl
Renouard. (3)
I. E. Fiseaux. en P. Concordia Beneeden
Fr 2 Nm Nl
Renouard. (4)
I. E. Fiseaux Fr Remoncourt (5) Nm Fr
,Magdalenen Burgh
Abr. Vernesobre. Fr Prn Nl
(6)
Abr. Vernesobre. Fr Monbijoux (7) Nm Fr
I. Testas. Fr Providence (8) Nm Fr
Abr. Vernesobre. Fr Amsterdam (9) Tp Nl
Ou prenome
Silv. Giraud. Fr Pietersburg (10)
hol
Theoph. Cazenove. Fr Nova Caza (11) Nm Esp
R D. De Gennes Fr Petite Bretagne (12) Tp Fr
R D. De Gennes Fr Gennes (13) Nome dono
R D. De Gennes Fr Helhuat (14) ?
Dartillaet Is. Guitard
Fr 2 De Goederaad (15) Nm Nl
a
Dartillaet Is. Guitard Nm Fr pro-
Fr 2 Guitardenburgh (15)
a priet
Theoph. Cazenove Fr Thoyras (16) Nm Fr
Nome espa-
nhol( talvez
Theoph. Cazenove Fr Don Carlos (16)
rei frances
da espanha)
Magdalena Maria
I.E. Fiseaux Fr Prn Nl
(17)
Herm. Haver. Nl Elisabeth (18) Prn Nl
Arn. Vernold. Nl Cornelia (19) Prn Nl
Nm Nl pro-
F.A. Gaultier. Fr Frederiksburgh (20)
prie Fr
303
Familia com mais de
um lote: Dedel, Be-
rewout, Sautyn, Bal-
guerie, Putter, Deutx,
Eyk, Testas, Roelt,
Mottet, Eys, Huber,
Zubly, Iac., Velde,
Mauzy Ger. Deutz,
Bus, L. Michel, Pama,
Masse, Renouard,
Vernesobre, Gennes,
Guitard a, Cazenove,
Fiseaux (27)= 30%.
Familia : Nl (61) (19+
19 +19 + 4)
Fr (40) NL+Fr (04)
NL+ Bel (03)
Nl+Dui (02) Dui+Pol
(02) Dui (01) Swi (01)
304
OS AUTORES
305
Lodewijk A.H.C. Hulsman. Doutor em História pela UVA
(2009). Pesquisador da UVA e consultor vinculado à UFRR/
NUPEPA. Trabalha com projetos temáticos voltados para
os estudos de fontes Brasil-Holanda. Consultor do projeto
Atlas Dutch Brazil do New Holland Foundation. Hulsman
publicou vários estudos históricos sobre as Guianas e Ama-
zônia baseados em arquivos neerlandeses (HULSMAN
2009, 2010, 2011a, 2011b, 2012, 2013). (pesquisador).
306