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Capitulo 11 12

repetir aqui: "João Ferreyra de Almeyda, Sacerdote Ministro, e Pregador do Santo


Evangelho, como ele se intitula, em a Cidade de Amsterdaõ (sic) onde assistio
muitos annos". 23 Barbosa foi vitima dos seus parcos conhecimentos, que consistiam
apenas no Novo Testamento de 1712, (mica obra de Almeida que lhe chegara
mãos. Por isso, limita-se a citar o frontispicio deste NT e, como a obra de F.
d'Almeida foi editada em Amesterdão, deve ter concluído que IA "assistio muitos
annos".
Um dos factos que nos coloca certas interrogações é o ter ido tão cedo para a
Holanda — um país relativamente longínquo --- com outra religião, outra lingua, outra
cultura e até outro clima. Como foi possível um adolescente de "14 anos
incompletos" partir para a Holanda'? Foi sozinho ou foi acompanhado por algum
familiar ou amigo adulto? A primeira questão é sobre os porquês de tal emigração; a
segunda refere-se às circunstâncias que rodearam tal facto. Quanto a estas questões,
as respostas resumem-se, no entanto, a pouca coisa. As primeiras fontes (Barbosa,
António Ribeiro dos Santos, Inocência e Cunha Rivara) nada dizem sobre o assunto.
Pedro de Azevedo é o único que coloca um motivo válido e sem preconceitos
apologéticos: João Ferreira de Almeida estava com o tio em Lisboa, "ao qual. na
idade de 14 anos abandonou, a fim de passar a Holanda, facto para estranhar num
cristão velho, a não ser que fosse induzido a isso por alguém de tendências
mosaicas". De facto, nessa altura, a Holanda, mormente Amesterdão, era lugar
importante de refugio conhecido e frequente para cristãos-novos e judeus
portugueses. Deste testemunho se conclui também que a Curta Apologética do Padre
Sequeira não era tão "apologética" como aparenta; tudo indica que é um documento
com bastante valor histórico."
Mas a hipótese de cristão-novo não é a única. Assim, Pieter Van Darn, que
escreveu na década de 90, logo a seguir á morte de Almeida, poderia ter um sólido
fundamento, se nos desse algumas provas, que não existem. Segundo ele, o jovem .

23
Ver texto citado, por este autor, no capitulo anterior.
24Sobre a vida dos judeus portugueses em Amesterdão, ver Amsierdams Historischen Museum,
Portugueses em Amesterdão -- 1600 1680, traduzido por CORREIA, Fatima Neiva, e ANSWAARDEN,
-

Robert van, De Bataafsche, Leeuw, 1988. A maior parte destes judeus cram fugidos à Inquisiçâo
ibérica. Aí tinham a sua famosa sinagoga e as suas estruturas organizativas próprias, não esquecendo
a lingua portuguesa, que aí se falou ate ao fim do séc. XVIII, sendo ai impressas bastantes obras
portuguesas. Nomes famosos desta comunidade judaico-portuguesa são Uriel da Costa, Samuel da
Silva, Isaac Aboab da Fonseca (autor do Calendário Perpétuo das festas judaicas) e o filósofa
Espinosa. 0 Consistório de II de Maio de 1813, fundado especialmente para tratar assuntos judaicos,
proibiu aos judeus residentes nos Países Baixos de falarem "línguas exóticas", tal como o jiddish e o
português (ib., p.71).

A Biblia de João Ferreira Annes d'Almeida


Universidad Pontificia de Salamanca

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