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Brazilian Applied Science Review 1374

ISSN: 2595-3621

Miomatose uterina gigante na gestação: um relato de caso

Giant uterine myomatosis in pregnancy: a case study

DOI:10.34115/basrv6n4-011

Recebimento dos originais: 14/04/2022


Aceitação para publicação: 30/06/2022

Alejandra Danae Moura Arana


Acadêmica de Medicina
Instituição: Centro Universitário Fametro
Endereço: Av. Constantino Nery, 3000, Chapada, CEP: 69050-000, Manaus - AM
E-mail: alejandramoura72@gmail.com

Bruna Soares Torres


Acadêmica de Medicina
Instituição: Centro Universitário Nilton Lins
Endereço: Av. Professor Nilton Lins, 3259, Flores, Manaus - AM
E-mail: soarestbruna@gmail.com

Camila Sampaio Daou


Pós-Graduação, Acadêmica de Medicina
Instituição: Centro Universitário Fametro
Endereço: Av. Constantino Nery, 3000, Chapada. CEP: 69050-000, Manaus - AM
E-mail: camilasampp@hotmail.com

Patrícia Burgos Monteiro Kabuki


Pós-Graduação, Acadêmica de Medicina
Instituição: Centro Universitário Nilton Lins
Endereço: Av. Professor Nilton Lins, 3259, Flores, Manaus - AM
E-mail: patricia.kabuki@yahoo.com.br

Patrícia Leite Brito


Doutoranda em Ginecologia pela Universidade Estadual Paulista em Franca
(UNESP) - Botucatu
Instituição: Universidade Federal do Amazonas
Endereço: Rua Afonso Pena, 1053, Centro, Manaus - AM
E-mail: pleitebrito@hotmail.com

RESUMO
Introdução: O mioma ou fibroma uterino é o tumor pélvico benigno mais frequente em
mulheres na idade reprodutiva. Objetivo: Relatar o caso de uma paciente diagnosticada
com leiomioma uterino de grande volume concomitante à gestação. Método: As
informações contidas neste trabalho foram obtidas por meio de revisão do prontuário,
registro fotográfico dos métodos diagnósticos aos quais a paciente foi submetida,
acompanhamento da mesma e revisão da literatura. Considerações finais: O relato de caso
sobre o diagnóstico de leiomioma uterino gigante na gestação possibilitou discussão sobre
a necessidade de existir um acompanhamento pré- natal adequado e cuidadoso,
especialmente acerca da abordagem que será dada ao leiomioma quando do desfecho da

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gestação, uma vez que o mesmo provocava prejuízos à saúde da paciente.

Palavras-chave: miomatose uterina, miomatose na gestação, miomatose uterina gigante.

ABSTRACT
Introduction: Myoma or uterine fibroma is the most frequent benign pelvic tumor in
women on reproductive age. Objective: Report the case of a patient diagnosed with large
volume uterine leiomyoma concomitant with pregnancy. Method: The information
contained in this study was obtained through a review of the medical records,
photographic record of the diagnostic methods which the patient was submitted, follow-
up of the patient and review of the literature. Final considerations: The case reports on
the diagnosis of giant uterine leiomyoma during pregnancy allowed discussion about the
need for adequate and careful prenatal follow-up, especially about the approach that will
be given to the leiomyoma at the end of the pregnancy, since it caused damage to the
patient's health.

Keywords: uterine myomatosis, pregnancy myomatosis, giant uterine myomatosis.

1 INTRODUÇÃO
O leiomioma, mioma ou fibroma uterino é o tumor pélvico benigno mais frequente
na mulher em idade reprodutiva.3 É um tumor mesenquimatoso monoclonal, com origem
nas células musculares lisas do miométrio, dotado de características bastante
heterogéneas.3 As variadas implicações clínicas e o impacto na qualidade de vida
dependem do número, localização, tamanho e conteúdo dos miomas.3
A prevalência de miomas uterinos durante a gravidez é estimada entre 1,5% e
12,6%.1 O aumento da paridade relaciona-se com uma menor incidência de miomas, mas
o aumento progressivo da idade média das grávidas tende a tornar a sua presença mais
frequente.1
A maioria das gestantes com miomatose não apresenta complicações relacionadas
aos miomas durante a gravidez.2 Contudo, os miomas podem ocasionar importantes
eventos adversos na gravidez, sendo os principais: abortamento espontâneo, degeneração
rubra, anomalias fetais, crescimento intrauterino restrito, trabalho de parto pré-termo,
hemorragia pós-parto, placenta prévia, inversão uterina puerperal, distocias de trajeto e
descolamento prematuro de placenta.2
Apesar de alguns dados sugerirem que a localização do mioma junto da
implantação placentária ou no segmento inferior do útero tem relevância do ponto de vista
dos resultados, não está determinado com clareza quais as características dos miomas
(número, tamanho, localização) que tornam os riscos particularmente significativos.1

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O diagnóstico dos miomas uterinos durante a gravidez é mais freqüente na


atualidade que no passado e um dos motivos seria a tendência atual da mulher moderna
em postergar suas gestações para o extremo superior de sua vida reprodutiva, sobretudo
após os 30 anos, ocasião em que os leiomiomas são mais comuns.4 Outra razão seria a
difusão da ultra-sonografia obstétrica durante o pré-natal.4
A miomectomia durante a cesariana pode ser um procedimento seguro para
especialistas experientes, mas tem um risco inerente de aumento de perdas sanguíneas e
complicações cirúrgicas, pelo que a sua execução deve ser justificada por benefícios
evidentes para a doente.1
Apesar de, durante a gravidez, cerca de 80% dos miomas não sofrer alteração de
tamanho, o efeito desta no seu crescimento é imprevisível, provavelmente devido a
diferenças individuais genéticas, nos fatores de crescimento circulantes e nos receptores
locais dos miomas.1 Caso seja constatado aumento de tamanho, este ocorre geralmente no
primeiro trimestre de gestação.1
Às grávidas apresentando miomas recomenda-se que: 1. Sejam informadas acerca
das potenciais complicações, reforçando com clareza a ideia de que o mais habitual é que
a gravidez e o parto tenham um bom prognóstico e decorram sem problemas.1 2. As regras
de vigilância clínica e ecográfica aplicáveis a todas as gestações e partos devem ser, por
si só, adequadas à prevenção, identificação e abordagem da generalidade das
complicações eventualmente relacionáveis com os miomas uterinos.1 3. No caso de
miomas intramurais de localização próxima do leito placentário ou de miomatose
generalizada, deve ser dada particular atenção ao rastreio e identificação da restrição de
crescimento fetal.1 4. O tratamento da degenerescência miomatosa é, por princípio,
médico e sintomático.1 5. Nos miomas não-prévios, a escolha da via do parto deve
conformar-se às regras obstétricas habituais - se o(s) mioma(s) é (são) prévio(s) sugere-
se a cesariana eletiva e uma incisão uterina planejada e adequada à circunstância
concreta.1

2 OBJETIVO
Relatar o caso de uma paciente diagnosticada com leiomioma uterino de grande
volume concomitante à gestação, durante seu atendimento no Instituto da Mulher e
Maternidade Dona Lindu, na cidade de Manaus.

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3 MÉTODO
As informações contidas neste trabalho foram obtidas por meio de revisão do
prontuário, registro fotográfico dos métodos diagnósticos aos quais a paciente foi
submetida, acompanhamento da mesma e revisão da literatura.

4 RELATO DO CASO
D.S.M., paciente feminina, 31 anos, idade gestacional de 30 semanas, natural e
procedente da cidade de Manaus, procurou ajuda médica em seu município por queixa de
contrações iniciadas no dia anterior, além de perda de líquido amniótico, dando entrada
no Instituto da Mulher e Maternidade Dona Lindu no dia 24 de fevereiro de 2022, onde
foi internada para seguimento por trabalho de parto prematuro. Portadora de doença de
Graves, sem acompanhamento há 2 anos. Negava etilismo e tabagismo, alergias ou uso
de medicações. História obstétrica de uma gravidez prévia, que evoluiu para aborto, sem
partos anteriores. História ginecológica de mioma uterino de pequeno volume
diagnosticado há 4 anos, sem repercussões clínicas até a presente data.
Ultrassonografia realizada na admissão demonstrou gestação tópica, com feto
único em situação longitudinal, apresentação pélvica e útero aumentado de volume
devido a volumoso mioma uterino. Exames laboratoriais indicaram anemia, aumento de
contagem plaquetária, aumento de proteína C reativa e tipagem sanguínea O+. Exame
simples de urina realizado demonstrou intensa leucocitúria e bacteriúria acentuada.
Sorologias negativas. Paciente em bom estado geral, lúcida e orientada no tempo e no
espaço, anictérica, acianótica, afebril, corada. Abdome globoso e endurecido. Colo fino,
com dilatação de 3-4 cm, BCF de 144 batimentos por minuto. Prescritos betametasona,
ampicilina e escopolamina.
Na mesma data, a equipe optou pela realização de parto cesáreo devido a
apresentação pélvica do feto, além da presença de miomatose uterina. Procedimento
realizado sem intercorrências, sendo a placenta encaminhada para análise histopatológica
e mioma uterino não abordado. O Recém-nascido foi encaminhado à unidade de terapia
intensiva e a paciente foi encaminhada para a enfermaria da unidade, seguindo aos
cuidados da equipe.
Os exames laboratoriais realizados em 25 de fevereiro demonstraram persistência
de anemia e plaquetose discreta, além de aumento de triglicerídeos. Realizada
hemotransfusão de duas bolsas de concentrado de hemácias. Solicitada ressonância
magnética de abdome.

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Paciente seguiu na internação fazendo uso de sintomáticos e antibioticoterapia


profilática, evoluindo com discreto edema em região de ferida operatória, que
permaneceu limpa e íntegra, além de edema em membros inferiores, acentuado à
esquerda. Realizada nova transfusão com duas bolsas de concentrado de hemácias no dia
04 de março. Paciente em preparo para cirurgia para abordagem de mioma.
Devido a presença de exoftalmia, taquicardia (150bpm) em repouso e sarcopenia
acentuada, paciente foi encaminhada para avaliação com endocrinologista, que
prescreveu tapazol, propranolol e hidrocortisona, além de acompanhamento psicológico
e nutricional.
No dia 19/03/22, 18º dia pós-cesárea, foi realizada histerectomia total com
anexectomia esquerda. Foi preservado o ovário direito. Durante o procedimento foi
necessária transfusão de três bolsas de concentrado de hemácias (CH) e duas de plasma
fresco congelado (PFC), sem demais intercorrências. Realizada a exérese de mioma com
6,600 KG conforme imagem 1. Paciente encaminhada para leito de terapia intensiva após
a cirurgia. A peça seguiu para análise anatomopatológica, que evidenciou: a) cervicite
crônica cística com metaplasia escamosa; b) atrofia endometrial por compressão; c)
salpingite crônica; d) leiomioma uterino gigante.Ao 7º dia pós-operatório, paciente
encontrava-se aos cuidados da equipe da enfermaria, estável, BEG, LOTE, abdome
flácido e indolor, sem demais alterações no exame físico e sem queixas.
Paciente e seu RN receberam alta.

Imagem 1: mioma gigante retirado durante a cirurgia.

Fonte: acervo pesquisadores.

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Tabela 1: Exames laboratoriais.


24/02/22 25/02/22 03/03/22 04/03/22 18/03/22

Hemoglobina 8,80 6,30 7,90 8,10 10,5


(g/dl)

Hematócrito 28,10 20,50 25,70 26,40 33,3


(%)

Leucócitos 9.300 8.460 7.110 5.620 10.660


(/mm3)

Plaquetas 541.000 474.000 557.000 571.000 547.000


(/mm3)

Triglicerídeos 319,6 176,3


(mg/dl)

TGO (U/L) 22,7

TGP (U/L) 9,9


PCR (mg/dl) 122,6

TAP 12,5 seg. 13,2 seg.

Tempo de 5 min. 4min 45


coagulação seg.

Tempo de 1 min. 1min


sangramento

Glicose (mg/dl) 90,73 74,6


Colesterol total 164 174
(mg/dl)

Proteína C
reativa

Ureia (mg/dl) 27 15 10

Creatinina 0,7 0,3 0,3


(mg/dl)
Fosforo (mg/dl) 4,1

Magnésio 2,02
(mg/dl)

Sódio (mEq/l) 145 146

Potássio 4 3,2
(mEq/l)

T4 livre (ng/dl) 2,45


TSH (mU/ml) 0,015

PTH (pg/ml) 23,3


Fonte: elaboração própria

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de, em 80% dos casos, o leiomioma uterino não apresentar crescimento
significativo durante a gestação, no caso apresentado, ele teve substancial crescimento
durante a gravidez, a ponto de impedir a progressão da mesma além das 30 semanas.
A preparação da paciente para o ato cirúrgico foi essencial para o sucesso do
procedimento, que obteve êxito com a éxerese do tumor de 6,6kg através de histerectomia
total e anexectomia esquerda, preservando o ovário direito da paciente.
O relato de caso sobre o diagnóstico de leiomioma uterino gigante na gestação
em paciente admitida no Instituto da Mulher e Maternidade Dona Lindu possibilitou
discussão sobre a necessidade de existir um acompanhamento pré- natal adequado e
cuidadoso, especialmente acerca da abordagem que será dada ao leiomioma quando do
desfecho da gestação, uma vez que o mesmo provocava prejuízos à saúde da paciente.

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REFERÊNCIAS

1. GINECOLOGIA, Sociedade Portuguesa. Consenso Nacional sobre Mioma Uterinos.


2017

2. PAIVA, Sara de Pinho Cunha Paiva, et al. Relato de Caso: Miomas Uterinos e
Gravidez: implicações e abordagens. Revista Médica de Minas Gerais. Maternidade
Otto Cirne do Hospital das Clínicas da UFMG. Belo Horizonte: 2020

3. PIRES, Diana Isabel. Artigo de Revisão Bibliográfica: Miomas e a sua relação com
o sucesso reprodutor. Instituto de Ciências Biomédicas Anel Salazar. Mestrado
Integrado em Medicina- 6ºano. Porto: 2014

4. SIMON, Selvio Machado, et al. Leiomiomas uterinos e gravidez. Departamento de


Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade
de São Paulo. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 27. Fev 2005.

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