Você está na página 1de 7

Relato de

experiência

ATIVIDADES EDUCATIVAS NA ÁREA DA SAÚDE DA MULHER: UM RELATO DE


EXPERIÊNCIA
EDUCATIONAL ACTIVITIES CONCERNING WOMEN'S HEALTH: AN
EXPERIENCE REPORT
ACTIVIDADES EDUCATIVAS EN EL CAMPO DE LA SALUD DE LA MUJER: UN
RELATO DE EXPERIENCIA

Sueli Riul da Silva1, Fernanda Coimbra Lício2, Lívia Valentino Borges2, Lorena Campos
Mendes2, Natália Gomes Vicente2, Nathália Silva Gomes3

RESUMO
Objetivou-se com esta pesquisa relatar práticas educativas realizadas com mulheres, que
envolveram ações de incentivo ao autocuidado em relação à prevenção e diagnóstico do
câncer de mama e de colo de útero. Trata-se de relato de experiência baseado em atividades
educativas realizadas no setor de ginecologia e obstetrícia do ambulatório de um hospital de
clínicas em relação aos tipos de cânceres citados anteriormente. Foram beneficiadas
aproximadamente 3.600 pessoas em 60 dias de atividades educativas, em 2010 e 2011. As
participantes demostraram grande interesse sobre a temática, manifestado através da interação
com os palestrantes, por meio de dúvidas, do relato de suas vivências e das respostas aos
questionamentos apresentados. Apesar das mulheres não saberem do que se trata, a maioria
conhecia o autoexame de mamas. Notou-se também desconhecimento da relação entre o
câncer de colo de útero e o Papilomavirus Humano.
Descritores: Educação em Saúde; Saúde da Mulher; Enfermagem.

ABSTRACT
The objective was to report education practices performed with women, addressing activities
to encourage self-care related to the prevention and diagnosis of breast cancer and cervical
cancer. This is an experience report based on education activities performed in the gynecology
and obstetrics sector in the outpatient clinic of a university hospital for the referred types of
cancers. A total of 3,600 people were benefited in 60 days of educational activities, during
2010 and 2011. The participants showed great interest on the theme, and commented this
when interacting with the speakers, by asking questions, reporting their experiences and
answering questions that were made to them. Although the women did not know much about
the breast self-exam, most were aware of its existence. It was also observed that the subjects
were unaware about the relationship between cervical cancer and the Human Papillomavirus.

1
Enfermeira. Doutora em Enfermagem Fundamental. Professora Associada da Universidade Federal do
Triângulo Mineiro (UFTM), Centro de Graduação em Enfermagem (CGE), Departamento de Enfermagem na
Assistência Hospitalar (DEAH). Endereço para correspondência: Rua Donaldo Silvestre Cicci, 665. Uberaba-
MG, Brasil. CEP: 38082-166. Uberaba/MG, Brasil. E-mail: sueliriul@terra.com.br.
2
Graduandas em Enfermagem pela UFTM, CGE, DEAH. Uberaba/MG, Brasil. E-mails:
fercoimbra_cp@hotmail.com; liviabvalentino@hotmail.com; lorena_camposmendes@hotmail.com;
natalia_gomesvicente@hotmail.com
3
Enfermeira. Mestre em Atenção à Saúde, UFTM, CGE, DEAH. Uberaba/MG, Brasil. E-mail:
nathaliasilvagomes@hotmail.com.
107

Descriptors: Health Education; Women’s Health; Nursing.

RESUMEN
Se objetivó relatar prácticas educativas realizadas con mujeres, respecto de acciones de
incentivación del autocuidado relativo a la prevención y diagnóstico del cáncer de mama y de
cuello de útero. Relato de experiencia basado en actividades educativas realizadas en el sector
de ginecología y obstetricia del ambulatorio de un hospital de clínicas en relación a los tipos
de cáncer citados anteriormente. Fueron beneficiadas aproximadamente 3.600 personas en 60
días de actividades educativas, en 2010 y 2011. Las participantes demostraron gran interés en
la temática, lo cual se manifestó a través de la interacción con los conferencistas, mediante
manifestación de dudas, el relato de sus experiencias y las respuestas a los cuestionamientos
presentados. A pesar de que las mujeres no saben de qué se trata, la mayoría conocía el
autoexamen de mamas. Se notó también desconocimiento de la relación entre cáncer de cuello
de útero y Virus del Papiloma Humano..
Descriptores: Educación en Salud; Salud de la Mujer; Enfermería.

INTRODUÇÃO Já o CA de colo de útero possui


O problema do câncer (CA) no Brasil etapas bem definidas, evolução lenta, e
tem sido considerado uma questão de saúde pode ser interrompido a partir de um
pública devido a sua grande incidência e diagnóstico precoce e tratamento oportuno
mortalidade(1-3) . O CA de mama e o CA de a custos reduzidos. Os fatores de risco são
colo de útero são as neoplasias bem definidos na literatura, tais como:
ginecológicas mais frequentes entre as baixas condições socioeconômicas, início
mulheres brasileiras(1). precoce da atividade sexual, multiplicidade
Quanto ao primeiro, alguns fatores de de parceiros, tabagismo, precárias
risco que parecem estar relacionados com o condições de higiene, uso prolongado de
desenvolvimento da doença são: menarca contraceptivos orais e exposição ao
(5)
precoce, nuliparidade, idade da primeira Papilomavírus Humano (HPV) .
gestação a termo acima dos 30 anos, uso de Com base nas informações
anticoncepcionais orais, menopausa tardia e apresentadas percebe-se a importância da
terapia de reposição hormonal(1,4). O realização da educação em saúde para
principal sinal/sintoma é o nódulo na detecção do CA, podendo assim, diminuir
mama, acompanhado ou não por dor os índices de morbimortalidade pelos
mamária. Podem também ocorrer alterações agravos citados. Tanto o CA de mama
na pele que recobre a mama, como quanto o do colo do útero são considerados
abaulamentos e retrações ou, ainda, nódulos de bom prognóstico, se diagnosticados e
palpáveis na axila e descarga papilar(4). tratados precocemente(6). O autoexame das
108

mamas (AEM), assim como o exame coleta do Papanicolaou visando facilitar o


Papanicolaou, promove um incentivo ao entendimento das participantes. Optou-se
autocuidado e permite que a mulher tenha por alternar os dois assuntos propostos
maior intimidade e compreensão de si mensalmente, visando que uma mesma
mesma, proporcionando um benefício mulher tivesse a oportunidade de discutir
generalizado em termos da sobrevida das sobre ambos, considerando a dinâmica do
pacientes e dos custos do tratamento. serviço.
Assim, o objetivo deste relato de A atividade foi aprovada e autorizada
experiência foi descrever as práticas pela Pró-Reitoria de Extensão da UFTM,
educativas realizadas com mulheres, por cujo registro no Sistema Informatizado de
alunas do curso de Enfermagem, a respeito Extensão (SIEX) é 67.617/2010.
de ações de incentivo ao autocuidado em
relação à prevenção e diagnóstico do CA de RESULTADOS
mama e de colo de útero no Setor de Ao longo do período de
Ginecologia e Obstetrícia do Ambulatório desenvolvimento das atividades educativas
Maria da Glória (SGO/AMG) do Hospital relativas ao autocuidado e direcionadas à
de Clínicas da Universidade Federal do prevenção e diagnóstico do CA de mama e
Triângulo Mineiro (HC/UFTM). de colo do útero, realizaram-se 60
encontros na sala de espera no
MÉTODO SGO/AMG/HC/UFTM. Foram beneficiadas
Para o desenvolvimento da presente com as ações extensionistas um grupo de
experiência, realizada por acadêmicas de aproximadamente 3.600 pessoas que se
Enfermagem, foram feitas atividades encontravam aguardando atendimento ou
educativas em sala de espera no SGO/AMG estavam acompanhando pessoas no referido
do HC/UFTM em relação ao CA de mama e setor.
ao CA de colo de útero, às segundas e As abordagens iniciavam-se com
quartas-feiras, entre 07:00 e 08:00, no perguntas referentes aos temas, visando
período de 10/10/2010 a 29/06/2011. estimular a participação dos presentes na
As atividades educativas atividade. Assim, o encontro seguia-se
desenvolvidas consistiram em explanação mediante as respostas obtidas, buscando
verbal dos temas através de palestras e apresentar o conceito correto e
utilização de alguns recursos como fundamentado no mundo acadêmico.
manequins, panfletos e instrumentos da
109

Em relação ao CA de mama foram o CA de colo de útero; o conceito de


explanados conceitos, fatores de risco, Neoplasia Intra-Epitelial Cervical (NIC); os
exames diagnósticos, exame clínico das fatores de risco; as questões hormonais e o
mamas, AEM, mamografia e tratamentos. CA.
Foram entregues panfletos explicativos Durante a realização das atividades
sobre a prática do AEM e respondidas as extensionistas constatou-se que os
dúvidas dos participantes. As dúvidas mais participantes, de uma forma geral,
recorrentes foram: diferença entre nódulo desconheciam a relação do HPV com o CA
maligno e benigno; período de realização de colo de útero, bem como os fatores de
do AEM e sua prática por gestantes; risco associados a este. Muitas vezes, eles
associação do trauma mamário com o CA; mencionaram o exame de Papanicolaou
alterações consideradas normais e/ou como exame preventivo e a periodicidade
anormais na mama. em que deveria ser realizado era
Durante as atividades extensionistas, desconhecido.
os fatores mais comumente relacionados ao Informou-se a respeito dos fatores de
CA foram a hereditariedade e o tabagismo. risco e sobre a vacina contra HPV. Com
Outros fatores foram erroneamente relação aos aspectos do comportamento
mencionados, como o trauma mamário, sexual e sua relação com o CA de colo de
volume das mamas e amamentação. Com útero, muitas dúvidas surgiram. Esclareceu-
relação a estes foram feitos se que estes são fatores de risco, porém a
esclarecimentos. relação sexual desprotegida é o principal
Quanto ao CA de colo de útero, deles para a contaminação pelo HPV; tais
abordou-se: localização e funções do útero, fatores não serviam como regra geral para a
conceitos, fatores de risco, exames infecção e sim como indicadores mais
preventivos, diagnósticos e possíveis comumente encontrados.
tratamentos. As dúvidas mais recorrentes
foram: a necessidade de realização do DISCUSSÃO
exame de Papanicolaou por mulheres O AEM é considerado uma prática de
histerectomizadas e virgens, o mioma e sua autocuidado. Estimular a sua realização é
associação com o CA; o porquê do nome do estimular o cuidado com a saúde e a
exame de Papanicolaou; a faixa etária em detecção do CA de mama. A mídia tem
que se deve fazer esse exame; as dúvidas contribuído na divulgação da realização
relacionadas ao HPV e sua associação com desta prática, porém o modo correto de
110

fazê-lo ainda é pouco conhecido da maioria das vezes é a própria mulher quem
população em geral. Um estudo realizado detecta alterações nas mamas.
em Goiânia/GO (2006) verificou que, da No que tange ao CA de colo de útero,
amostra em questão, 75% das mulheres e especificamente do exame
referiam conhecer o AEM, no entanto, colpocitopatológico, este tem sido
(7)
apenas 51% o realizavam regularmente . reconhecido e utilizado mundialmente
Na atividade de extensão isto também pôde como estratégia segura e eficiente para
ser percebido. Quando questionadas a detecção precoce do CA do colo de útero.
respeito de já terem ouvido falar sobre o Com relação ao conhecimento do
AEM, a maioria das mulheres afirmava exame de Papanicolaou, em um estudo
conhecê-lo, porém, com relação à realizado em escola pública do Distrito
periodicidade para realizá-lo, pouco se Administrativo da Cidade Ademar/SP
sabia. (2008), 50% das adolescentes afirmaram
Esse conhecimento referido pode ser que o principal objetivo do exame de
questionado, visto que na prática, notou-se Papanicolaou é o diagnóstico. Em relação
que muitas vezes as mulheres ao conhecimento relacionado ao HPV,
desconheciam as etapas de sua realização, 19,4% delas sabiam que o vírus é o
sendo frequentemente relacionada somente principal agente oncogênico para o
à palpação ou confundido com a desenvolvimento de CA de colo de útero,
mamografia. Em uma pesquisa realizada em aumentando para 32,6% quando já havia
João Pessoa/PB (2011), 80% das realizado o exame de Papanicolaou(9),
entrevistadas diziam conhecer o AEM; 60% informação que reforça nossas observações.
conheciam a técnica de realização; 40%, a Estudos mostram que a infecção por HPV e
frequência correta de realização e 14% das atipias na citologia oncótica estão mais
mulheres tinham o conhecimento do presentes na faixa etária de 20 a 29 anos e
período correto de realização do AEM, o que essa infecção, muitas vezes está
que confirma a ideia de que as mulheres relacionada ao início precoce da vida
conhecem o AEM e sabem sobre sua sexual, multiplicidade de parceiros e uso de
finalidade, porém não há evidências de que anticoncepcionais(10).
possuem comportamento positivo em Campanhas explicativas sobre o CA
relação ao AEM(8). do colo uterino e o exame Papanicolau
Enfatizou-se, ainda, a importância de devem ser realizadas para que a população
se realizar o AEM mensalmente, pois, na conheça melhor as causas do CA e as
111

maneiras de preveni-lo. O profissional de melhor época para fazê-lo. Muitas foram as


saúde tem papel fundamental na elaboração vezes em que a técnica do AEM foi
e na prática de ações educativas, “visto que confundida com a mamografia e o exame
a prevenção e a educação são partes dos clínico das mamas.
vários elementos que compõem o Notou-se também desconhecimento
(11)
cuidar” . da relação existente entre o CA cérvico
Revisão integrativa realizada com uterino e o HPV. Muitas mulheres
publicações nacionais sobre o tema em evidenciaram sentir-se constrangidas
pauta aponta em suas conclusões que o durante a realização do exame de
conhecimento acerca da temática ainda Papanicolaou, fazendo disso um motivo
apresenta lacunas relacionadas para a não realização do exame.
principalmente às ações de prevenção que O grupo pôde perceber que, embora a
estão sendo realizadas pelos profissionais, mídia chame a atenção para a realização das
bem como às demandas da população sobre práticas do AEM e do Papanicolaou, falta
o tema(12). A enfermagem, por sua formação ainda suporte por parte dela no que diz
generalista, humana e voltada para a respeito ao como, onde e quando essas
educação em saúde, tem a contribuir para a práticas devem ser realizadas. Faz-se, então,
melhora desse cenário(13). necessária a realização de atividades
educativas para maior orientação a respeito
CONSIDERAÇÕES FINAIS de tais práticas.
As atividades extensionistas
promovem a educação em saúde e REFERÊNCIAS
permitem a troca de saberes entre os 1. Ministério da Saúde (BR). Instituto
Nacional de Câncer. Estimativa 2012:
palestrantes e os ouvintes. É atribuição do
incidência de câncer no Brasil. Rio de
enfermeiro a capacitação do indivíduo, o Janeiro: INCA; 2011.
2. Ministério da Saúde (BR). Instituto
estímulo e a promoção ao autocuidado,
Nacional do Câncer. ABC do câncer:
cabendo a ele o incentivo a práticas como o abordagens básicas para o controle do
câncer. Rio de Janeiro: INCA; 2012.
AEM e o exame de Papanicolaou.
3. Ministério da Saúde (BR). Instituto
Percebeu-se que, apesar de não Nacional de Câncer. Ações de enfermagem
para o controle do câncer: uma proposta de
saberem exatamente do que se trata, a
integração ensino-serviço. 3ed. Rio de
maioria das participantes conhecia o AEM. Janeiro: INCA; 2008.
4. Ministério da Saúde (BR). Instituto
Elas desconheciam as finalidades, técnicas
Nacional de Câncer. Rastreamento
corretas para realização, periodicidade e organizado do câncer de mama: a
112

experiência de Curitiba e a parceria com o em adolescentes. Esc Anna Nery. 2010;


Instituto Nacional do Câncer. Rio de 14(1): 126-34.
Janeiro: INCA; 2011. 10. Melo SCCS, Prates L, Carvalho MDB,
5. Ministério da Saúde (BR). Instituto Pelloso SM, Marcon SS. Alterações
Nacional do Câncer. Diretrizes brasileiras citopatológicas e fatores de risco para a
para o rastreamento do câncer do colo do ocorrência do câncer de colo uterino. Rev
útero. Rio de Janeiro: INCA; 2011. Gaúcha Enferm. 2009; 30(4): 602-608.
6. Thuler LCS, Mendonça GA. 11. Silva JMA, Souza RC, Manzo BF,
Estadiamento inicial dos casos de câncer de Souza SR, Pereira SM. Fatores relacionados
mama e colo do útero em mulheres a não continuidade da realização do exame
brasileiras. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; citológico Papanicolau. Percurso
27(11): 656-60. Acadêmico 2011; 1(2): 238.
7. Freitas Junior KS, Santos NRM, Nunes 12. Guimarães JAF, Aquino PS, Pinheiro
MOA, Melo GG, Ribeiro ACG, Melo AFB. AKB, Moura JG. Pesquisa brasileira sobre
Conhecimento e prática do auto-exame de prevenção do câncer de colo uterino: uma
mama. Rev Assoc Med Bras. 2006; 52(5): revisão integrativa. Rev Rene. 2012; 13(1):
37-41. 220-30.
8. Montenegro SMSL, Silva EA, Silva 13. Bim CR, Pelloso SM, Carvalho MDB,
FMC, Montenegro ZMC. O saber de Previdelli ITS. Diagnóstico precoce do
mulheres sobre o autoexame das mamas em câncer de mama e colo uterino em mulheres
uma unidade de saúde da família na cidade do município de Guarapuava, PR, Brasil.
de João Pessoa (PB). Ciência ET Praxis Rev Esc Enferm USP. 2010; 44(4): 940-6.
2011; 4(7): 51-4.
9. Cirino FMSB, Nichiata LYI, Borges
Artigo recebido em 15/10/2012
ALV. Conhecimentos, atitudes e práticas na
Aprovado para publicação em 12/11/2012.
prevenção do câncer de colo uterino e HPV

Você também pode gostar