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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Instituto Integrado de Saúde


Graduação em Enfermagem

CÁSSIA DE PAULA PIRES

SÍFILIS GESTACIONAL: caracterização da gestante e ocorrência de


transmissão vertical

Campo Grande, MS
2018
CÁSSIA DE PAULA PIRES

SÍFILIS GESTACIONAL: caracterização da gestante e ocorrência de


transmissão vertical

Projeto de pesquisa do Trabalho de Conclusão de


Curso, apresentado ao curso de Graduação em
Enfermagem da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul.

Orientador(a): Prof. Enf. Dr. Rodrigo Guimarães


dos Santos Almeida

Coorientador(a): Enf. Mestranda Caroliny Oviedo


Fernandes

Linha de pesquisa: O cuidado em Saúde e


Enfermagem.

Campo Grande, MS
2018
AGRADECIMENTOS

À minha família e amigos, pelo suporte, apoio e paciência em todos os momentos da


minha graduação, principalmente nos momentos de dificuldades. A minha base que nunca me
deixou cair, não importasse qual o desafio enfrentado.
Ao meu namorado, que se mostrou ser o melhor parceiro de vida que eu poderia ter
escolhido, que esteve comigo até nos dias mais atarefados e me ajudou muito mesmo não
conhecendo o tema.
À Enf. Mestranda Caroliny Oviedo Fernandes, por toda a compreensão e colaboração,
foi essencial para a conclusão deste trabalho. Obrigada pelo tempo que dedicou a mim e que a
nossa amizade se perpetue por anos.
À Prof. Maria Auxiliadora Gerk por ter me convidado para fazer parte desta pesquisa.
Obrigada por me mostrar um exemplo de profissional a ser seguido, que trata todos com amor
e carinho.
Ao Prof. Enf. Rodrigo Guimarães dos Santos Almeida, pela orientação, paciência e
compreensão. Obrigada por me orientar e me amparar em mais esta etapa do sonho de
graduação.
Aos amigos e colegas de curso, que ao longo dos anos de graduação também atuaram
como suporte, me auxiliando nos momentos de dúvida e necessidade, e sendo parte da
construção do conhecimento adquirido em grupo.
Aos professores e colaboradores do curso de Enfermagem e demais que passaram pela
minha graduação, pelos ensinamentos, por serem exemplos de profissionais competentes,
éticos e humanos, e pela gentileza de dividirem um pouco de seu conhecimento comigo.
Aos integrantes da banca examinadora, pela dedicação e tempo disponibilizados para
avaliação deste trabalho, e pelos auxílios necessários.
PIRES, C.P. Sífilis gestacional: caracterização da gestante e ocorrência de transmissão
vertical. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Bacharelado em Enfermagem.
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2018 .

RESUMO

Introdução: A sífilis é uma doença infectocontagiosa sexualmente transmissível,


caracterizada por manifestações cutâneas e sistêmicas, porém curável com o uso de Penicilina
Benzatina como primeira escolha. A sífilis pode acontecer durante a gestação, sendo esta a
forma mais preocupante, pois traz diversas complicações para o concepto. O diagnóstico é
realizado por meio de testes treponêmicos e não treponêmicos, geralmente durante as
consultas de pré-natal. Nos últimos anos, se tornou um grande problema de saúde pública,
com números crescentes de casos no Brasil e no Mundo. O enfermeiro possui grandes
responsabilidades na detecção, diagnóstico e tratamento da infecção, sendo um dos grandes
pilares da prevenção. Objetivo: Conhecer o perfil epidemiológico das gestantes com
diagnóstico de sífilis atendidas na Rede Municipal de Saúde de Campo Grande/MS
(REMUS/MS) no período de 2011 a 2017. Material e método: Trata-se de uma pesquisa
descritiva, transversal, retrospectiva, quantitativa com dados secundários de fichas de
notificação de sífilis gestacional e congênita. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/UFMS sob o parecer nº 2.166.457.
Resultados: Foram analisados 2056 casos notificados durante o período do estudo, incluindo
todas as suas variáveis. Foi observado que o ano de 2017 concentrou 25% dos casos de sífilis
gestacional desde 2011. Quanto ao perfil sociodemográfico, predominou as mulheres adultas
jovens, pardas, com baixa escolaridade, residentes da região sanitária Anhanduizinho e
estavam no 1° trimestre da gestação (34,7%). Os testes treponêmicos foram os mais utilizados
e a fase clínica apresentada pela gestante no momento do diagnóstico foi a fase terciária. O
tratamento foi considerado inadequado em 41,1% dos casos e o tratamento do parceiro foi
inadequado em 38,9%. Estes casos geraram 40% de casos de sífilis congênita. Conclusão:
Evidenciou-se que a vulnerabilidade social, econômica e cultural está diretamente ligada a
vulnerabilidade na saúde. Não obstante, o não tratamento do parceiro foi fator determinante
para os casos de possível reinfecção. Novos estudos se fazem importante junto à temática,
principalmente com estratégias de fortalecimento a atenção primária, para que seja possível
intervir em casos iniciais e assim, alcançar todas as metas de prevenção e controle que forem
impostas.

Descritores: Sífilis, Gestantes, Enfermagem, Perfil de Saúde.


ABSTRACT

Introduction: Syphilis is an infectious, sexually transmitted disease characterized by


cutaneous and systemic manifestations, but curable with the use of penicillin benzathine as
the main choice. Syphilis can occur during pregnancy, this being the most worrisome form,
bringing several complications to the concept. The diagnosis is made through treponemal and
non-treponemal tests, usually during prenatal consultations. In recent years, it has become a
major public health problem, with increasing numbers of cases in Brazil and in the World.
Nurses have great responsibilities in the detection, diagnosis and treatment of infection, being
one of the main pillars of prevention. Objective: To know the epidemiological profile of
pregnant women diagnosed with syphilis treated at the Municipal Health Network of Campo
Grande/MS (REMUS/MS) from 2011 to 2017. Material and methodology: This is a
descriptive, cross-sectional, retrospective, quantitative research with secondary data from
notification record of gestational and congenital syphilis. This project was approved by the
Ethics and Research Committee of the Federal University of Mato Grosso do Sul/UFMS upon
the advice n° 2.166.457. Results: A total of 2056 cases reported during the study period were
analysed, including all variables. It was observed that the year 2017 concentrated 25% of
cases of gestational syphilis since 2011. Concerning the sociodemographic profile, the
predominance was young adult women, black women with low education level and residents
of the Anhanduizinho health region and was in the first trimester of gestation (34.7%). The
treponemal tests were the most used and the clinical phase presented by the pregnant woman
at the time of diagnosis was the tertiary phase. The treatment was considered inadequate in
41.1% of the cases and the partner treatment was inadequate in 38.9%. These cases generated
40% of cases of congenital syphilis. Conclusion: It has been shown that social, economic and
cultural vulnerability is directly linked to vulnerability in health. Nevertheless, the non-
treatment of the partner was a determining factor for cases of possible reinfection. New
studies become important along the subject, mainly with strategies to strengthen primary care,
so that it is possible to intervene in initial cases and thus, to achieve all the prevention and
control goals that are imposed.

Key words: Syphilis, Pregnant women, Nursing, Health profile


LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma de diagnóstico da sífilis com utilização de teste rápido treponêmico . 17

Figura 2 - Fluxograma de Teste não-treponêmico confirmado por teste treponêmico ............ 17

Figura 3 - Fluxograma de diagnóstico laboratorial reverso de sífilis baseado em testes


imunológicos automatizados .................................................................................................... 18
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Fases clínicas de manifestação da sífilis ................................................................ 14

Quadro 2 - Testes realizados para diagnóstico de sífilis .......................................................... 16

Quadro 3 - Esquema antigo de tratamento da Sífilis ................................................................ 19

Quadro 4 - Esquema atual de tratamento da Sífilis .................................................................. 19

Quadro 5 - Principais sintomas da sífilis congênita e suas classificações ................................ 22

Quadro 6 - Esquema de tratamento da sífilis congênita em RN sintomático ........................... 23

Quadro 7 - Esquema de tratamento da sífilis congênita em RN assintomático ........................ 24


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição de casos de sífilis gestacional de acordo com o ano de ocorrência


notificadas nos serviços de saúde, entre os anos de 2011 a 2017, Campo Grande/MS, 2018.
(n=2056) ................................................................................................................................... 30

Tabela 2 - Características sociodemográficas das gestantes com sífilis notificadas nos serviços
de saúde, entre os anos de 2011 a 2017, Campo Grande/MS, 2018. (n=2056) ........................ 31

Tabela 3 - Fase clínica da sífilis nas gestantes notificadas nos serviços de saúde, entre 2011 e
2017, Campo Grande/MS, 2018. (n=2056) .............................................................................. 31

Tabela 4 - Testes realizados para detecção de sífilis nas gestantes notificadas nos serviços de
saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/MS, 2018. (n=2056) .............................................. 32

Tabela 5 - Proporção do esquema terapêutico realizado para sífilis nas gestantes notificadas
nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/MS, 2018. (n=2056) ..................... 32

Tabela 6 – Realização de teste confirmatório para sífilis e esquema de tratamento prescrito


aos parceiros, entre 2011 a 2017, Campo Grande/MS, 2018. (n=2056) .................................. 33

Tabela 7 - Motivo de não tratamento do parceiro encontrados e notificados nos serviços de


saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/MS, 2018. (n=2056) .............................................. 34

Tabela 8 - Relação de casos de sífilis gestacional e de sífilis congênita encontrados e


notificados nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/MS, 2018 ................... 34
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEP Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos


CTA Centro de Testagem e Aconselhamento
DANT Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissiveis
FTA-Abs Fluorescent Treponemal Antibody Absorption
HIV Human Immunodeficiency Virus
IM Intramuscular
IST Infecção Sexualmente Transmissível
IV Intravenosa
MS Ministério da Saúde
OMS Organização Mundial de Saúde
PLANURB Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano
REMUS Rede Municipal de Saúde de Campo Grande
SC Sífilis Congênita
SG Sífilis Gestacional
SESAU Secretária Municipal de Saúde
SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TPHA Treponema Pallidum Hemagglutinatio Test
UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
VDRL Venereal Disease Research Laboratory
VO Via Oral
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 10

2 REVISÃO DE LITERATURA 11
2.1 SÍFILIS GESTACIONAL .................................................................................................. 12
2.2 EPIDEMIOLOGIA DA SÍFILIS ........................................................................................ 12
2.3 ETIOLOGIA, TRANSMISSÃO E PATOGÊNESE .......................................................... 13
2.4 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA SÍFILIS GESTACIONAL ............................... 15
2.5 CONTROLE DA SÍFILIS GESTACIONAL E SEUS DESAFIOS ................................... 20
2.6 O PAPEL DO ENFERMEIRO NO ACOMPANHAMENTO DE GESTANTES COM
SÍFILIS ..................................................................................................................................... 21
2.7 SÍFILIS CONGÊNITA ....................................................................................................... 22
2.7.1 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO .............................................................................. 23

3 OBJETIVOS 25
3.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 25
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 25

4 MATERIAL E MÉTODO 26
4.1 TIPO DE ESTUDO ............................................................................................................ 26
4.2 LOCAL E PERÍODO DA PESQUISA .............................................................................. 26
4.3 POPULAÇÃO/AMOSTRA ............................................................................................... 27
4.3.1 Critérios de inclusão ........................................................................................................ 27
4.3.2 Critérios de exclusão ....................................................................................................... 27
4.4 COLETA DE DADOS ....................................................................................................... 27
4.5 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................... 28
4.6 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS ...................................................................................... 28

5 RESULTADOS ................................................................................................................... 30

6 DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 35

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 42

8 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 44

ANEXOS ................................................................................................................................ 48

APENDICE ............................................................................................................................ 55
10

1 INTRODUÇÃO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de um milhão de pessoas


do mundo são infectadas por diversas IST diariamente. Dentre elas destacamos a sífilis, tema
do presente trabalho, que é responsável por mais de 300 mil óbitos fetais e neonatais, além de
mais de 215 mil crianças com morte prematura no mundo (BRASIL, 2017). Em Campo
Grande, de acordo com dados do SINAN, no ano de 2016 foram 114 casos de sífilis congênita
notificados, representando taxa de incidência de 8,47/1000 nascidos vivos (CAMPO
GRANDE, 2017).
A sífilis é uma doença infectocontagiosa sexualmente transmissível antiga, causada
pelo agente etiológico Treponema pallidum, sendo que este pode atravessar a barreira
placentária e, por via hematogênica, atingir a corrente sanguínea fetal. A sífilis gestacional se
divide em fases clínicas, sendo primária, secundária e latente (terciária), possuindo ainda
diversas consequências para a gestante, mas principalmente para o feto da gestante, que pode
ser acometido pela sífilis congênita. O diagnóstico é realizado por meio de testes
treponêmicos e não treponêmicos. A principal forma de tratamento da sífilis é por meio do
uso da penicilina benzatina, conforme o estágio clínico da doença apresentada no momento do
diagnóstico. (VERONESI, 2009; BRASIL, 2012; BRASIL, 2015).
O enfermeiro possui grandes responsabilidades na detecção, diagnóstico e tratamento
da infecção. No Brasil, existem programas de saúde voltados para a prevenção da sífilis,
porém, nos últimos anos, observou-se que a incidência de sífilis gestacional aumentou por
diversos motivos tais como acesso limitado aos cuidados de saúde em algumas comunidades
e, mais recentemente, pela falta do principal componente de tratamento: a penicilina
(BRASIL, 2012).
Nessa linha, a ficha de notificação compulsória utilizada pelos profissionais dos
serviços de saúde, atua como um importante alimento para o banco de dados do serviço,
permitindo assim, a elaboração de um perfil de atenção e cuidade. Diante do exposto, este
trabalho tem como objetivo conhecer o perfil epidemiológico das gestantes com diagnósticos
de sífilis atendidas na Rede Municipal de Saúde de Campo Grande/Mato Grosso do Sul no
período de 2011 a 2017.
11

2 REVISÃO DE LITERATURA

A sífilis é uma doença infectocontagiosa sexualmente transmissível registrada pela


primeira vez há quase 500 anos com incidência crescente nas últimas duas décadas e conjunto
com a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), por diversos motivos como o
acesso limitado aos cuidados de saúde em algumas comunidades e, mais recentemente, pela
falta do principal componente de tratamento: a penicilina (VERONESI, 2009; MILANEZ et
al., 2008).
A sífilis é caracterizada por apresentar manifestações cutâneas e sistêmicas, curável e
exclusiva do ser humano, sendo sua transmissão predominantemente sexual. É causada pelo
agente etiológico Treponema pallidum, uma bactéria Gram-negativa. Por ser uma infecção
sexualmente transmissível (IST), a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existem
aproximadamente 12 milhões de casos novos por ano (FIGUEIRÓ-FILHO, 2012). Uma das
maiores complicações da sifílis gestacional, é a sífilis congênita devido a transmissão vertical
por via transplacentária em qualquer momento da gestação ou estágio clínico da doença
(DOMINGUES; LEAL, 2016). A transmissão vertical, de mãe para feto, é frequentemente
transplacentária com taxa de 80% e pode ocorrer na passagem do feto pelo canal do parto
(BRASIL, 2015).
A origem do nome Sífilis procede da obra de Girolamo Fracastoro (1478-1553), um
médico e poeta que vivia em Verona. Seu trabalho “Syphilis sive Morbus Gallicus” (1530) é
uma trilogia e apresenta o personagem chamado Syphilus, um pastor de rebanhos comandado
pelo rei Alcihtous. Na obra, um outro personagem, Apolo (Deus da mitologia grega), destrói
grande parte da vegetação da área que Syphilus utilizada para alimentar o seu rebanho, o que
causou tamanha revolta, a ponto que Syphilus irritado com a situação, prometeu devoção a seu
rei e não a Apolo. Apolo então, se ofende e amaldiçoa as pessoas com uma terrível doença,
chamada Syphilis (TAMPA et al., 2014).
Ainda segundo os mesmos autores, o agente etiológico foi descoberto em 1905 por
Fritz Schaudinn e Paul Erich Hoffman e, apesar de antiga, ainda é uma doença estigmatizada
causando vergonha as pessoas infectadas. Cada país cuja população foi afetada pela infecção
culpou as nações vizinhas, às vezes inimigos, pela ocorrência dos surtos. Assim, existem
várias teorias explicativas para o surgimento da sífilis. A mais utilizada, segundo Veronesi
(2009), é a “Teoria Colombiana’’, que afirma a origem da sífilis no continente americano e
transportada para a Europa, África e Ásia por volta de 1490, época das viagens de Cristóvão
12

Colombo. Outras teorias como a unitária, propõe a existência de uma única doença, em que
seu agente etiológico tenha sofrido modificações até chegar a conhecida Treponema pallidum.
(VERONESI, 2009; LINS, 2014).

2.1 SÍFILIS GESTACIONAL

A sífilis gestacional tem grande importância epidemiológica devido ao risco da


transmissão vertical ao feto ocasionando a sífilis congênita. O Treponema pallidum pode
atravessar a barreira placentária e, por via hematogênica, penetrar na corrente sanguínea fetal.
Quanto mais recente for a infecção, maior o número de espiroquetas circulantes e, portanto,
maior a chance de transmissão placentária. Entretanto, infecções antigas podem levar a
formação progressiva de anticorpos pela mãe, atenuando a infecção do neonato, com
possibilidade de de lesões tardias como pneumonia, feridas no corpo, cegueira, surdez,
deficiência intelectual ou até mesmo evoluir para o óbito (RUANO et al., 2008).
Segundo Domingues e Leal (2016), os fatores de risco associados a transmissão da
sífilis gestacional para sífilis congênita são relacionados as condições sociais da gestante com
a doença como a renda baixa, baixa escolaridade e o inicio do pré-natal tardio. O mesmo
estudo expõe que as taxas de óbito fetal foram 6 vezes maiores do que o observado em
mulheres sem diagnóstico de sífilis, evidenciando assim a grande importância do tratamento
da sífilis antes ou durante a gestação.

2.2 EPIDEMIOLOGIA DA SÍFILIS

A OMS estima que cerca de um milhão de pessoas do mundo são infectadas por
diversas IST diariamente. No caso da sífilis, além de elevar os riscos de infecção por HIV,
também é responsável por mais de 300 mil óbitos fetais e neonatais, além de mais de 215 mil
crianças com morte prematura no mundo (BRASIL, 2017).
A notificação dos casos de sífilis passou a ser obrigatória em 1986, porém, a
notificação de sífilis na gestação foi percebida como compulsória e um problema isolado
somente em 2005, de acordo com a Portaria n° 33 de 14 de julho de 2005. Além da
notificação, os esforços para detecção das IST também passaram a ser vistas durante o pré-
natal dentro da Rede Cegonha e outras políticas que contribuem para a ampliação do acesso
ao diagnóstico de sífilis e seu rápido tratamento (BRASIL, 2017).
13

A faixa etária de maior ocorrência da sífilis é geralmente em adultos sexualmente


ativos de 20 a 29 anos, seguido de adolescentes e pessoas de meia-idade. De acordo com
Brasil (2016) houve um aumento de aproximadamente 21 vezes de casos de 2005 (1.600) a
2015 (33.381) e uma redução de 54,3% em 2016 (15.247). Além da sífilis gestacional,
considera-se importante as taxas de sífiis adquirida, uma vez que o parceiro é um dos maiores
responsáveis pela reinfecção da gestante. Em 2016 foram 87.593 casos de sífilis adquirida no
Brasil. Os casos notificados em 2016 apresentaram maior prevalência no primeiro trimestre
gestacional na faixa etária de 20 a 29 anos (%). Com relação às complicações, no ano de 2015
foram registrados 221 óbitos por sífilis congênita no Brasil, sendo nove na região Centro-
Oeste (BRASIL, 2016). Estima-se que surgem 12 milhões de casos novos de sífilis por ano no
mundo todo, sendo os países em desenvolvimento os mais acometidos pela infecção. O
principal desfecho e que traz mais preocupações, é a sífilis congênita, onde estima-se que 500
mil conceptos morrem por ano no mundo (CAMPOS et al., 2010).
Em Campo Grande, de acordo com dados do SINAN, no ano de 2016 foram 114 casos
de sífilis congênita notificados, representando taxa de incidência de 8,47/1000 nascidos vivos
(SESAU, 2017). Este número aumentou em relação aos últimos anos, dado este que será
confirmado nesta pesquisa em questão.

2.3 ETIOLOGIA, TRANSMISSÃO E PATOGÊNESE

A bactéria Gram-negativa penetra na pele e mucosas alcançando a corrente linfática


em horas ou dias com período de incubação de 10 a 90 dias com média de três semanas e após
até o aparecimento da primeira lesão, chamada de cancro duro. O quadro clínico que
caracteriza o período secundário surge de quatro a 10 semanas depois do início do cancro
cujos principais sintomas podem ser mal-estar, febre, mialgia, artralgia, rash generalizado,
lesões papulosas, pápulo escamosas, queda de pêlos, cabelos, lesões mucosas e linfadenopatia
(VERONESI, 2009).
Clinicamente, a sífilis é classificada em primária, secundária, latente e tardia ou
terciária (ver Quadro 1). Geralmente, a primeira manifestação clínica são lesões ulcerosas na
genitália ou região anal, o que pode contribuir para a transmissão de HIV e hepatites B e C
(VERONESI, 2009; RUANO et al., 2008,). As características clínicas de cada fase podem ser
vistas na tabela a seguir:
14

Quadro 1 - Fases clínicas de manifestação da sífilis

Fase clínica Sinais/sintomas Local de manifestação Evolução clínica


Desenvolvimento do Colo uterino ou na Por ser indolor, a
cancro duro no local de mucosa vaginal ou pessoa não percebe e a
inoculação, indolor e de vulvar. Pode ser intra infecção desaparece
Primária bordos duros e ou extra genital. espontaneamente em
elevados, altamente um período de 2 a 8
infecciosa. semanas independente
do tratamento.
Pode causar exantema Lesões cutaneomucosas Surge de 1 a 2 meses
maculopapular sintomáticas. após o desaparecimento
disseminado, febre, Micropoliadenopatia. do cancro duro.
perda de peso, alopecia Pode haver Essas manifestações
irregular e lesões envolvimento ocular podem surgir de 6
Secundária genitais denominadas (ex: uveíte), hepático e semanas a 6 meses após
condilomas planos. neurológico (ex: o surgimento do cancro
alterações nos pares duro e geralmente
cranianos, desaparecem de 2 a 6
meningismo). semanas se não
tratadas.
É o período entre a Assintomática, com Tem duração variável
sífilis secundária e testes imunológicos de pessoa para pessoa,
terciária. O maior risco reagentes. porém pode ser
dessa fase é a classificada em latente
transmissão recente, quando sua
Latente
transplacentária. Pode duração for inferior a 1
ocorrer nos primeiros ano e latente tardia,
quatro anos após o quando for maior que
primeiro contato com a esse período.
bactéria.
As manifestações Quadro cutâneo Ocorre em um terço dos
clínicas incluem a destrutivo e formação pacientes não tratados
forma de goma, doença de gomas sifilíticas que nos estágios anteriores.
cardiovascular e a podem ocorrer em Pode se manifestar de 2
neuro-sífilis. qualquer órgão. a 40 anos após o
Terciária
Acometimento primeiro sintoma da
cardiovascular, doença, sendo de
neurológico (neuro- manifestação rara em
sífilis) e ósseo. mulheres no período
fértil.
Fonte: Adaptado de LINS, 2014

Geralmente as manifestações do secundarismo desaparecem sem tratamento e, em


média, seis meses após a involução do quadro clínico do período secundário, os indivíduos
entram em período de latência. É no período de latência que a sorologia é positiva e a clínica
assintomática podendo permanecer nesse estágio por tempo indeterminado. Em outras
15

pessoas, podem surgir lesões gromosas, cardiovasculares e/ou neurológicas, sendo estas
manifestações clássicas do terciarismo luético (RUANO et al., 2008; VERONESI, 2009).
Além disso, a sífilis também pode ser classificada em duas fases: a fase recente, com
duração aproximada de um ano, compreendendo as manifestações primárias, secundárias e o
início da latência, e a fase tardia, caracterizada pela latência tardia e os quadros clínicos da
sífilis terciária. Geralmente, a doença é detectada nesses estágios, porém é difícil diferenciar a
fase latente precoce da tardia (BRASIL, 2014).

2.4 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA SÍFILIS GESTACIONAL

O diagnóstico da sífilis é dividido em 2 categorias: exames diretos e testes


imunológicos. Os exames diretos são aqueles em que o material da lesão é coletado e
analisado, buscando a presença de espiroquetas. Os exames de campo escuro (exame direto da
linfa da lesão) e histopatólogico são os mais importantes, entretanto os testes imunológicos
são mais utilizados e podem ser divididos em treponêmicos e não-treponêmicos.
16

Quadro 2 - Testes realizados para diagnóstico de sífilis

Testes Características Testes


imunológicos
São testes de fácil manuseio e Os testes mais comuns são o
interpretação. Detectam a presença do
FTA-Abs (Fluorescent
Treponema pallidum, sendo estes Treponema Antibody
testes específicos e confirmatórios. Os
Absorvent Test), o ELISA
testes treponêmicos não são capazes (teste imunoenzimático,
Treponêmicos
de diferenciar uma infecção ativa daWestern Blot (WB) e os testes
cicatriz sorológica. imunocromatográficos (testes
rápidos), prova de Nichols
(antígenos de cepas
patogênicas)
São testes quantitativos que se VDRL (Veneral Disease
expressam por meio de titulação, Research Laboratory) e RPR
como 1:2, 1:4. São testes importantes (Rapid Plasm Reagin).
para o diagnóstico e seguimento
terapêutico, pois seu resultado permite
interpretação de infecção ativa e a fase
que a doença se apresenta. Podem se
tornar reativos a partir da segunda
Não-treponêmicos
semana após o aparecimento dos
primeiros sintomas como o cancro
duro e apresenta títulos elevados em
casos de sífilis secundária. O VDRL
pode se positivar 4 a 5 semanas após a
infecção. O RPR é bastante rápido,
apresentando resultado em até 60
minutos.
Fonte: Adaptado de AVELLEIRA; BOTTINO, 2006; BRASIL, 2012

Os testes treponêmicos são confiáveis na determinação de uma infecção sifilítica,


presente ou passada, visto que os resultados normalmente não se negativam mesmo após a
total cura da infecção, permanecendo positivos por toda a vida do paciente, que é a chamada
cicatriz sorológica (BRASIL, 2012). Entretanto, o tratamento precoce pode prevenir a
soropositividade e também negativar reações já positivas (LINS, 2014). Segundo a Portaria n°
3.242 de 30 de Dezembro de 2011, o diagnóstico da Sífilis apresenta um fluxograma, pois os
testes se dividem em treponêmicos e não treponêmicos, como evidenciado a seguir.
17

Figura 1 - Fluxograma de diagnóstico da sífilis com utilização de teste rápido treponêmico

Fonte: BRASIL, 2016, p. 42

Figura 2 - Fluxograma de Teste não-treponêmico confirmado por teste treponêmico

Fonte: BRASIL, 2016, p. 35


18

Figura 3 - Fluxograma de diagnóstico laboratorial reverso de sífilis baseado em testes


imunológicos automatizados

Fonte: BRASIL, 2016, p. 38


O tratamento da sífilis é dependente do estágio clínico e indiferente á gestação. O
medicamento de padrão ouro é a Penicilina G Benzatina (NORWITZ, 2012). A penicilina foi
reconhecida pela 69° Assembleia Mundial de Saúde, em maio de 2016 como essencial para o
tratamento da sífilis, sendo este motivo de preocupação devido a sua escassez (BRASIL,
2016). Devido a crise da penicilina, o Ministério da Saúde alterou o esquema de tratamento da
sífilis em 2015. Este estudo considerou os casos notificados de 2011 a 2017 e por este motivo,
os dois esquemas serão considerados válidos se forem realizados de forma correta. Seguem
quadros a seguir:
19

Quadro 3 - Esquema antigo de tratamento da Sífilis

Estágio da Sífilis Tratamento de escolha Tratamento alternativo


Sifilis primária Penicilina G benzatina, Doxiciclina 100 mg, VO, 2xdia, por
2.400.000 UI, por via 15 dias (exceto para gestantes);
intramuscular, em dose única – Ceftriaxona 1g, IV ou IM, 1xdia, por
1.200.000 UI, em cada glúteo 8 a 10 dias para gestantes e não
gestantes
Sifilis Penicilina G benzatina, A tetraciclina ou eritromicina,
secundária ou 2.400.000 UI, por via durante 30 dias, é recomendada para
latente recente intramuscular, uma vez por pacientes que tenham alergia a
semana, durante 2 semanas, na penicilina
dose total de 4.800.00 UI
Sifilis terciária Penicilina G benzatina, Doxiciclina 100 mg, VO, 2xdia, por
ou latente tardia 2.400.000 UI, por via 30 dias (exceto para gestantes);
intramuscular, uma vez por Ceftriaxona 1g, IV ou IM, 1xdia, por
semana, durante 3 semanas, na 8 a 10 dias para gestantes e não
dose total de 7.200.000 UI gestantes.
Fonte: Adaptado de BRASIL, 2012

Quadro 4 - Esquema atual de tratamento da Sífilis

Estágio da Sífilis Tratamento de escolha Tratamento alternativo


Sifilis primária, sífilis Penicilina G benzatina,Doxiciclina 100 mg, VO, 2xdia,
secundária e latente 2.400.000 UI, por via por 15 dias (exceto para
recente (até um ano de intramuscular, em dose única gestantes);
duração) – 1.200.000 UI, em cada Ceftriaxona 1g, IV ou IM, 1xdia,
glúteo por 8 a 10 dias para gestantes e
não gestantes
Sífilis latente tardia Penicilina G benzatina, 2,4 Doxiciclina 100 mg, VO, 2xdia,
(mais de um ano de milhões UI, IM, (1,2 milhão por 30 dias (exceto para
duração) ou latente UI em cada glúteo), gestantes); Ceftriaxona 1 g, IV ou
com duração semanal, por três semanas. IM, 1xdia, por 8 a 10 dias para
ignorada e sífilis Dose total de 7,2 milhões UI gestantes e não gestantes
terciária
Neurossífilis Penicilina cristalina, 18-24 Ceftriaxona 2 g, IV ou IM, 1xdia,
milhões UI/dia, IV, por 10 a 14 dias
administrada em doses de 3-4
milhões UI, a cada 4 horas ou
por infusão contínua, por 14
dias
Fonte: Adaptado de BRASIL, 2015.
No caso das mulheres gestantes, o tratamento permanece o mesmo, com excessão do
uso das tetraciclinas. A penicilina é o tratamento mais utilizado por apresentar raros casos de
reações adversas e alergias. Além disso, a penicilina é capaz de atravessar a barreira
20

transplacentária, mantendo altos níveis séricos, maiores que do próprio Treponema pallidum
(BRASIL, 2012).
A penicilina benzatina é um dos antibióticos mais antigos da história e recentemente
tem passado por dificuldades em seu abastecimento mundial. O Brasil já declarou a falta do
medicamento em diversas notas técnicas. Devido o seu baixo custo para produção e venda,
poucas indústrias farmacêuticas produzem a droga. A demanda mundial não está sendo
atendida e por isso os casos de sífilis tem tido um aumento significativo, gerando preocupação
da Organização Mundial de Saúde, pois confronta as políticas adotadas (TAYLOR et al.,
2016).

2.5 CONTROLE DA SÍFILIS GESTACIONAL E SEUS DESAFIOS

Como já foi mencionado, a sífilis gestacional é uma doença que traz grandes
preocupações para a saúde mundial. Por este motivo, no Brasil, existem políticas públicas que
contribuem no cumprimento das metas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde, por
exemplo, a Rede Cegonha.
Inicialmente, em 2007, o Brasil implementou o Plano Operacional para Redução da
Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis, após o Pacto pela Saúde em 2006, sendo o objetivo
geral reduzir a transmissão vertical do HIV e da sífilis com vistas na eliminação da sífilis
congênita em todo o território nacional. Para isso, foram estabelecidas metas específicas como
aumentar a cobertura de testagem para o HIV e Sífilis no pré-natal, aumentar a cobertura de
tratamento adequado nas gestantes com sífilis, incluindo o tratamento adequado dos parceiros
sexuais, ampliar a cobertura das ações de profilaxia da transmissão vertical do HIV e da sífilis
em gestantes/parturientes e em crianças expostas (BRASIL, 2007).
Depois, a Rede Cegonha, instituída pela Portaria n° 1.449 em 24 de Junho de 2011, é
uma estratégia que visa implementar uma rede de cuidados as gestantes, parturientes e
puérperas que prevê todos os seus direitos reprodutivos e atenção humanizada no ciclo
gravídico-puerperal e atenção integral a saúde da criança. Propõe a implementação de
caderneta da gestante, teste rápido para as principais sorologias de IST, transporte e regulação
dos atendimentos, acompanhamento nutricional da gestante e acompanhamento do
crescimento fetal e da criança (BRASIL, 2011).
Segundo Vasconcelos et al. (2016) traz diversos desafios para a implementação e
sucesso do controle da sífilis, sendo o desconhecimento sobre a doença, as formas de
21

prevenção e tratamento os fatores mais comuns para adesão do tratamento. Além disso, a dor
ocasiada no momento da administração e a quantidade de doses necessárias contribuem para o
abandono do tratamento. Foi relatado também que a baixa condição socioeconômica também
pode dificultar a adesão ao tratamento do parceiro (VASCONCELOS et al., 2016). Pode-se
concluir que mesmo com os esforços do Ministério da Saúde para aumentar a cobertura do
diagnóstico e tratamento da doença, alguns fatores tem influência direta e consequentemente,
ainda são necessárias novas medidas.

2.6 O PAPEL DO ENFERMEIRO NO ACOMPANHAMENTO DE GESTANTES COM


SÍFILIS

A consulta de enfermagem é essencial para funcionamento da Rede Cegonha. O


enfermeiro é apto para realizar e acompanhar o pré-natal de baixo risco na Atenção Básica
desde o Decreto n° 94.406 de 1987 e deve oferecer um atendimento de qualidade e prever
possíveis IST’s já na primeira consulta, com a realização do teste rápido (VDRL) e solicitação
de exame sorológico na primeira consulta e após o terceiro trimestre gestacional (BRASIL,
2011; MATOS; COSTA, 2015).
É importante que o enfermeiro esteja habilitado a explicar sobre a doença e suas
consequências para a saúde, sem que haja a necessidade de encaminhamento para outros
serviços. Além disso, o enfermeiro é responsável por realizar a notificação compulsória da
sífilis na gestante, no parceiro e também da sífilis congênita, se houver.
O enfermeiro atua também no tratamento da gestante, logo na primeira consulta. Após
a realização de teste rápido, o enfermeiro está habilitado a prescrever e administrar a
penicilina benzatina (tratamento de primeira escolha) para a gestante e para tratamento
concomitante do parceiro. Em caso de alergia ao medicamento, o enfermeiro pode
encaminhar a gestante/parceiro para o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) para
dessensibilização. A equipe de enfermagem deve compreender o tratamento e eventuais
efeitos colaterais, para que possa aconselhar e perceber as alterações do organismo durante o
tratamento (MATOS; COSTA, 2015; NUNES et al, 2017).
Destacam-se ainda, as ações educativas para jovens e adultos sobre prevenção e
eventuais consequências da ausência de tratamento adequado. A educação a respeito da
relação sexual protegida, com o uso de preservativo é extremamente importante para a
prevenção da sífilis e de outras IST’s. Além disso, o enfermeiro deve observar a
22

vulnerabilidade social e econômica do paciente, para que possa atuar conforme a realidade e
se adequar a realidade. Em casos de sífilis congênita, é importante que se realize a busca ativa
da criança para que o tratamento ocorra de forma adequada (MATOS; COSTA, 2015).

2.7 SÍFILIS CONGÊNITA

A sífilis congênita acontece em decorrencia da disseminação hematogênica do


Treponema pallidum da gestante não tratada ou inadequadamente tratada para o seu bebê, por
via transplacentária (SÃO PAULO, 2008). Ainda segundo o mesmo autor, uma vez que
ocorre a transmissão da sífilis, cerca de 40% dos casos podem evoluir para aborto espontâneo,
natimorto e óbito perinatal. A transmissão pode ocorrer em qualquer estágio clínico que a
gestante apresente, sendo possível até mesmo a transmissão no momento do parto. Além
disso, as consequências da sífilis congênita podem variar de acordo com o tempo de
exposição do feto e do estágio clínico da doença materna, sendo que quanto mais avançada a
infecção na mãe, menor o risco de transmissão vertical, e por isso o tratamento precoce é tão
importante (SARACENI, 2005; PIRES et al., 2014).
A sífilis congênita, inicialmente, pode ser assintomática e suas características variam
conforme sua classificação. A SC pode ser dividida em 2 períodos:

Quadro 5 - Principais sintomas da sífilis congênita e suas classificações

Sintomas
Sífilis Congênita Os principais sintomas são: lesões cutaneomucosas, como placas
Precoce mucosas, lesões palmo-plantares, fissuras radiadas periorificiais,
(até os 2 anos de idade) condilomas planos ano-genitais e hepatoesplenomegalia. Em alguns
casos (mais raros), podem apresentar também lesões ósseas, manifestas
por periostite e osteocondrite (ex. pseudo-paralisia de Parrot); lesões do
sistema nervoso central (ex. convulsões, meningite); lesões do aparelho
respiratório (pneumonia alba) e rinite sanguinolenta Além disso,
segundo Saraceni et. al. (2005), a prematuridade e o baixo peso ao
nascer também são sinais que podem se manifestar na sífilis congênita,
estando relacionados diretamente com os óbitos fetais.
Sífilis Congênita Fronte olímpica, mandíbula curva, arco palatino elevado, tríade de
Tardia Hutchinson (dentes de Hutchinson, ceratite intersticial, lesão do VIII par
craniano), nariz em sela, tíbia em lâmina de sabre, surdez, retardo
mental e hidrocefalia.
Fonte: Adaptado de SONDA et al., 2013
23

2.7.1 Diagnóstico e tratamento

De acordo com o Plano Operacional para Redução da Transmissão Vertical do HIV e


da Sífilis de 2007, um dos objetivos é realizar o exame VDRL duas vezes durante a gestação,
porém, foi visto que somente o 1° teste é realizado por boa parte das gestantes, sendo que a 2°
fase é coletada apenas em no máximo, 20% das mulheres (BRASIL, 2007). A partir de um
resultado de VDRL maior que 1:8, já está indicado a investigação para sífilis congênita. A
doença pode ser investigada através de microscopia de campo escuro da placenta ou cordão
umbilical. Em casos onde existe a possibilidade de neurossífilis, é importante solicitar
também uma punção lombar, radiografia de ossos longos, hemograma e teste anti-HIV
(SONDA et al, 2013).
O tratamento da sífilis congênita dependerá de quatro fatores: confirmação de sífilis
gestacional, adequação ao tratamento, presença de evidências clínicas, laboratoriais e
radiológicas no neonato e comparação da sorologia não-treponêmica materna e do neonato
(SONDA et al, 2013). O tratamento é realizado com penicilina conforme os critérios
determinados pelo Ministério da Saúde:
 Em casos de recém-nascido sintomático com alteração clínica, sorológica,
radiológica e/ou hematológica, cuja mãe com sífilis foi adequadamente tratada, ou
cuja mãe com sífilis não foi tratada ou foi inadequadamente tratada e em recém-
nascido de mães tratadas, que possuem VDRL maior que o materno, ou menor ou
igual ao materno sem possibilidades de seguimento clínico, ambos os casos com
alterações nos exames;
 Recém-nascidos assintomáticos de mães incorretamente tratadas, ou de mães
tratadas sem possibilidade de acompanhamento clínico, ambos os casos com
exames e VDRL negativos; e em recém-nascidos, de mães tratadas, que possuem
VDRL menor ou igual ao materno, com outros exames negativos.

Quadro 6 - Esquema de tratamento da sífilis congênita em RN sintomático

Idade Tratamento
Nos primeiros 7 dias de vida Penicilina G cristalina na dose de 50.000 UI/Kg, por via endovenosa, de
12 em 12 horas.
A partir dos 10 dias de vida Penicilina G cristalina na dose de 50.000 UI/Kg, por via endovenosa, 8
em 8 horas, durante 10 dias. Ou penicilina G procaína 50.000UI/Kg, via
intramuscular, dose única diária, durante 10 dias.
Fonte: BRASIL, 2016
24

Quadro 7 - Esquema de tratamento da sífilis congênita em RN assintomático

Idade Tratamento
Com menos de 30 dias de vida Penicilina G benzatina, 50.000 UI/Kg, dose única, intramuscular
Com mais de um mês de vida Penicilina G cristalina, de 4 em 4 horas ou penicilina G procaína de 12
em 12 horas, durante 10 dias.
Fonte: BRASIL, 2016

Após a realização do tratamento, é importante que seja realizado o seguimento do


caso, sendo que este consiste em consultas ambulatoriais mensais até os 6 meses de vida e
bimensais dos 6 aos 12 meses. O exame de VDRL deverá ser realizado com 1 mês, 3, 6, 12 e
18 meses de idade, sendo que após 2 resultados negativos, o seguimento pode ser
interrompido. Após os 18 meses, recomenda-se realizar o exame TPHA ou FTA-Abs para
confirmação do caso. Além, é recomendável que consultas oftalmológicas, neurológicas e
audiológicas sejam realizadas a cada 2 anos (BRASIL, 2016).
25

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Descrever o perfil epidemiológico das gestantes com diagnóstico de sífilis atendidas


na Rede Municipal de Saúde de Campo Grande/Mato Grosso do Sul (REMUS/MS) no
período de 2011 a 2017.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Determinar a ocorrência de sífilis gestacional e congênita;


b) Caracterizar as gestantes quanto a idade, estado civil, raça/cor, escolaridade e trimestre
gestacional de diagnóstico de sífilis;
c) Identificar as fases clínicas de maior frequência da sífilis em gestantes e o esquema de
tratamento prescrito as gestantes e aos seus parceiros sexuais;
d) Listar os motivos para o não tratamento do parceiro sexual;
26

4 MATERIAL E MÉTODO

4.1 TIPO DE ESTUDO

Trata-se de uma pesquisa descritiva, transversal, retrospectiva, quantitativa com dados


secundários. Os estudos transversais medem a prevalência da doença e, por essa razão, são
frequentemente chamados de estudos de prevalência (BONITA; BEAGLEHOLE;
KJELLSTROM, 2010). Sendo assim, os estudos transversais descrevem uma situação ou
fenômeno em um momento não definido, e é utilizado quando a exposição é relativamente
constante no tempo e o efeito (ou doença) é crônico (HOCHMAN et al., 2005).
Portanto, esse modelo apresenta-se como uma fotografia ou corte instantâneo que se
faz de uma população por meio de uma amostragem, examinando-se nos integrantes da
casuística ou amostra, a presença ou ausência da exposição e a presença ou ausência do efeito
ou doença (HOCHMAN et al., 2005). São úteis para enfatizar as características de
determinada população e seus hábitos de vida relacionados a saúde, além de ser um método
barato e de fácil condução (BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTROM, 2010).
Os estudos descritivos são baseados em como é e como está determinada situação,
neste caso, busca trazer qual a situação atual dos casos de sífilis em gestantes na cidade de
Campo Grande. Estudos descritivos são o primeiro passo para hipóteses que buscam explicar
algo e servem de subsídio para estudos posteriores (ANDRADE, 2015).

4.2 LOCAL E PERÍODO DA PESQUISA

O estudo foi realizado no período de julho de 2017 a novembro de 2018 no Município


de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
No estado de Mato Grosso do Sul, a economia gira em torno do comércio, pecuária e
agroindústria. Porém, segundo SISGRAN (2010), 4,59% da população vive abaixo da linha
da pobreza (com menos de R$ 140,00). A capital do estado de Mato Grosso do Sul é Campo
Grande, que está localizado na região Centro Oeste. Possui área de 8.092,95 km² e segundo o
Censo de 2010, possuí 786.797 mil habitantes, sendo que de 1970 a 2000, a população de
Campo Grande se tornou 5 vezes maior. Campo Grande é composta por 74 bairros e está
dividido em 7 regiões, o Centro, Anhanduizinho, Segredo, Prosa, Bandeira, Lagoa e
27

Imbirussu, além da área rural. A região do Anhanduizinho é a mais populosa e conta com
185.558 mil habitantes (SISGRAN, 2010).

4.3 POPULAÇÃO/AMOSTRA

Todas as fichas de notificação de sífilis gestacional preenchidas e inseridas no Sistema


de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) no período de janeiro de 2011 a
dezembro de 2017 pelas instituições de Saúde que compõem a Rede Municipal de Saúde de
Campo Grande, Mato Grosso do Sul
Foram incluídas nesta pesquisa as mulheres a partir da adolescência, ou seja, a partir
dos 10 anos de idade conforme definição da OMS (2011).

4.3.1 Critérios de inclusão

a) Casos de sífilis gestacional confirmada com teste treponêmico e/ou não treponêmico
reagentes;
b) Residentes em Campo Grande/Mato Grosso do Sul;
c) Mulheres a partir dos 10 anos de idade atendidas na REMUS.

4.3.2 Critérios de exclusão

a. Casos de sífilis gestacional fora do período estabelecido;


b. Casos de sífilis em gestantes residentes em outros municípios diferentes de Campo
Grande;
c. Casos de sífilis gestacional em gestantes residentes em áreas rurais e periurbanas;
d. Casos de cicatriz sorológica em gestantes.

4.4 COLETA DE DADOS

A Ficha de Notificação de Sífilis Gestacional (ANEXO A) é preenchida por todos os


profissionais de saúde no momento de diagnóstico da presença da doença na gestante,
geralmente após o teste rápido no pré-natal. A ficha de notificação é realizada por meio de
entrevista individual, e preenchida em 2 vias: uma via fica na unidade que notificou o caso e
28

uma deve ser encaminhada para o setor municipal responsável pela Vigilância
Epidemiológica ou Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissiveis (DANT), para
digitação e consolidação dos dados. Desta forma, a pesquisadora estará coletando os dados já
preenchidos, arquivados e transmitidos ao SINAN (dados secundários).
Para a coleta de dados foi criado um instrumento adaptado da Ficha de Notificação de
Sífilis Gestacional (ANEXO B) para guiar na seleção dos dados do SINAN. As variáveis do
estudo foram: dados sócio-demográficos (idade, raça/ cor, estado civil, escolaridade e
trimestre gestacional no momento de diagnóstico da sífilis); dados clínicos, de diagnóstico e
de tratamento da gestante (classificação clínica, resultado de teste treponêmico e não-
treponêmico, terapêutica utilizada) e dados de tratamento do parceiro (realização do
tratamento, terapêutica utilizada e motivo para o não tratamento). Estes dados foram coletados
de janeiro a abril de 2018.

4.5 ANÁLISE DOS DADOS

Após a coleta os dados foram transcritos e organizados em planilhas por meio do


programa Microsoft Excel® 2010. Posteriormente, as informações foram analisadas
estatisticamente por meio por meio do programa estatísticos Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS) versão 24.
Os resultados deste estudo foram apresentados na forma de estatística descritiva por
meio de tabelas.

4.6 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS

A pesquisa foi desenvolvida de acordo com as normas da Resolução 466/12 (BRASIL,


2013) do Conselho Nacional de Saúde e o projeto submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
em Seres Humanos (CEP) da Fundação Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
(UFMS).
Por tratar-se de pesquisa em fonte de dados secundária foi solicitada dispensa do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ao CEP/UFMS, bem como foi
encaminhado o Termo de Compromisso de Manuseio de Informações de Banco de Dados
(ANEXO C) assinado pela pesquisadora, Mestranda Caroliny Oviedo Fernandes .
29

Este estudo faz parte de um projeto maior intitulado “Perfil epidemiológico das
mulheres atendidas na Rede Municipal de Saúde de Campo Grande/Mato Grosso do Sul ”,
coordenado pela orientadora Profª. Drª. Maria Auxiliadora de Souza Gerk . O mesmo foi
aprovado pelo CEP/UFMS sob o parecer nº 2.166.457, CAAE nº 69740517.8.0000.0021
(ANEXO D) e autorizado pela Secretaria Municipal de Saúde Pública de Campo Grande,
Mato Grosso do Sul – SESAU (ANEXO E).
30

5 RESULTADOS

Foram diagnosticados 2056 casos de sífilis gestacional, sendo o ano de 2017 com a
maior frequência (515/25%), quatro vezes maior que 2011 (130/6,4%) e 1,3 vezes que 2016
(398/19,4%).

Tabela 1 - Distribuição de casos de sífilis gestacional de acordo com o ano de ocorrência


notificadas nos serviços de saúde, entre os anos de 2011 a 2017, Campo
Grande/Mato Grosso do Sul, 2018. (n=2056)

Ano n %
2011 130 6,3
2012 193 9,4
2013 249 11,8
2014 243 11,4
2015 328 16,0
2016 398 19,4
2017 515 25,0

A idade predominante das mulheres foi de 20 a 29 anos (1034/50,3%), sendo que 153
(7,4%) gestantes tinham 19 anos e portanto, consideradas adolescentes segundo da
Organização Mundial de Saúde. Em relação a raça/cor, prevaleceram as negras (1289/62,7%),
seguido das brancas (605/29,4%). Quanto a escolaridade, quando indicada, foi visto que
poucas possuíam formação superior sendo que a maioria possuía até 12 anos de estudo
(1543/96,4%). Do total, 1173 gestantes (57,1%) tiveram o diagnóstico de sífilis tardiamente
(2° e 3° trimestre gestacional). Um terço das gestantes residia na região Anhanduizinho
(699/34%).
31

Tabela 2 - Características sociodemográficas das gestantes com sífilis notificadas nos serviços
de saúde, entre os anos de 2011 a 2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul, 2018
(n=2056)

Variáveis n %
Idade
De 10 a 19 anos 533 25,9
20 a 29 anos 1034 50,3
30 a 39 anos 435 21,2
40 anos ou mais 54 2,6
Cor da pele
Amarela 16 0,8
Indígena 23 1,1
Preta 129 6,3
Branca 605 29,4
Parda 1160 56,4
Escolaridade
Até 9 anos 843 41,0
De 10 a 12 anos 700 34,0
Mais de 12 anos 57 2,8
Trimestre gestacional
Primeiro 714 34,7
Segundo 617 30,0
Terceiro 556 27,0
Ignorado/informado 169 8,2
Região de residência
Anhanduizinho 699 34,0
Bandeira 286 13,9
Centro 49 2,4
Imbirussu 218 10,6
Lagoa 344 16,7
Prosa 167 8,1
Segredo 282 13,7

Quanto à fase clínica da doença, foi visto que a maioria foi classicada como latente
(510/24,8%) seguido por primária (354/17,2%). Porém, foram encontrados muitos dados
ignorados e não informados (562/27,3%).

Tabela 3 - Fase clínica da sífilis nas gestantes notificadas nos serviços de saúde, entre 2011 e
2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul, 2018. (n=2056)

Fase clínica n %
Primária 354 17,2
Secundária 40 1,9
Terciária 590 28,7
Latente 510 24,8
Ignorado/não informado 562 27,3
32

Quanto aos testes realizados para detecção da infecção, foram utilizados testes
treponêmicos (confirmatórios) e não treponêmicos. Os testes treponêmicos foram os mais
utilizados com 1872 (91,1%) resultados reagentes. Já entre os testes não treponêmicos, 417
(20,3%) não foram realizados.

Tabela 4 - Testes realizados para detecção de sífilis nas gestantes notificadas nos serviços de
saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul, 2018. (n=2056)

Variáveis n %
Teste treponêmico
Reagente 1877 91,1
Não-reagente 29 1,4
Não realizado/ignorado 155 7,5
Teste não treponêmico
Reagente 1254 61,0
Não reagente 260 12,6
Não realizado/ignorado 417 20,3

Após confirmação da infecção e da fase clínica apresentada, o tratamento foi prescrito.


Porém, foram encontrados dados que não condizem com a fase clínica, sendo assim
considerados de tratamento inadequado. Além disso, pode ser observado que em muitos casos
(204/9,9%) o tratamento não foi realizado, indo contra as recomendações do Ministério da
Saúde. Menos da metade das mulheres (1006/49%) foram consideradas adequadamente
tratados em relação a dose de penicilina e fase clínica da gestante.

Tabela 5 - Proporção do esquema terapêutico realizado para sífilis nas gestantes notificadas
nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul,
2018. (n=2056)

Tratamento da gestante n %
Adequado 1006 48,7
Inadequado 846 41,1
Não realizado 204 9,9

Além disso, em apenas 51,4% dos casos o parceiro realizou o tratamento juntamente
com a gestante. Quanto ao tratamento do parceiro, a grande maioria apresentou tratamento
inadequado (alguns pelos mesmos motivos da gestantes como dose equivocada para a fase
clínica) sendo estes 38,9% (803 casos), seguido de tratamento não realizado (684/33,1%) e
tratamento adequado com poucos casos, somente 27,5% (569 casos).
33

Tabela 6 – Realização de teste confirmatório para sífilis e esquema de tratamento prescrito


aos parceiros, entre 2011 a 2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul, 2018.
(n=2056)

Variáveis n %
Realização do teste
Sim 1056 51,4
Não 873 42,5
Ignorado/não informado 127 6,2
Esquema terapêutico
Adequado 569 27,5
Inadequado 803 38,9
Não realizado 684 33,1

A ficha de notificação com relação ao parceiro é composta de seis itens: 1) ausência de


contato, 2) parceiro comunicado, mas não compareceu, 3) parceiro não informado sobre a
doença, 4) parceiro realizou os testes, porém apresentou resultado não reagente, 5) parceiro
recusou, e 6) parceiro apresentou outro motivo. A ausência de contato foi o motivo mais
encontrado (365/17,8%). Entre os outros motivos, estes são descritos como observação na
ficha de notificação e trouxeram variáveis como paciente institucionalizado, diagnóstico
tardio, alergia a penicilina, entre outros. Foi visto que mesmo com a vasta possibilidade de
motivos para o não tratamento do parceiro, a grande maioria não foi justificada, sendo não
informada no ato da notificação (1144/55,6%). Foi visto que alguns casos não foram
preenchidos corretamente, sendo que muitos dados foram descritos posteriormente nas
observações.
34

Tabela 7 - Motivo de não tratamento do parceiro encontrados e notificados nos serviços de


saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul, 2018. (n=2056)

Variáveis n %
Motivos descritos na ficha
Ausência de contato 365 17,8
Não compareceu 135 6,6
Não comunicado 16 0,8
Não reagente 66 3,2
Recusou 50 2,4
Outro 264 12,8
Não informado 1160 56,4
Outros motivos (observação)
Aborto 7 0,3
Alergia 5 0,2
Ausência de contato 419 20,4
Cicatriz 14 2,3
Diagnóstico tardio 105 5,1
Institucionalizado 28 1,4
Não compareceu 142 6,9
Não comunicado 28 1,4
Não reagente 66 3,2
Óbito 4 0,2
Particular 1 0,0
Recusou 59 2,9
Não informado 1144 55,6

Quanto ao desfecho dos casos de sífilis gestacional, a tabela abaixo mostra que dos
100% de casos notificados com sífilis gestacional (sem a aplicação de nenhum critério de
exclusão), 40,22% resultaram em sífilis congênita.

Tabela 8 - Relação de casos de sífilis gestacional e de sífilis congênita encontrados e


notificados nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/Mato Grosso
do Sul, 2018

Variáveis n %
Sífilis gestacional 2255 100,0
Sífilis congênita 907 40,2
35

6 DISCUSSÃO

O presente estudo trouxe diversos achados importantes de caracterização da população


de gestantes mais acometidas por sífilis. Estudos como este se fazem de suma importância no
sentido de conhecer a população acometida e assim, contribuir para a criação e
implementação de novas medidas de prevenção e controle (TRAVAIM et al, 2017). O perfil
sociodemográfico predominante neste estudo inclui mulheres adultas jovens, pardas, com
baixa escolaridade e residentes da região sanitária Anhanduizinho.
A atenção ao pré-natal é destacada como sendo fundamental para avaliar a qualidade
da assistência, conhecer o perfil sociodemográfico das mulheres e promover o melhor
desfecho para a gestante e para o concepto no pós parto (NUNES et al., 2017; VIELLAS et
al., 2014). O diagnóstico da sífilis durante a gestação tiveram seus números quadriplicados
nos últimos anos, sendo 130 (6,4%) em 2011 e 515 (25%) em 2017 e este número pode ser
atribuído ao aumento no número de notificações e, consequentemente, a qualidade das ações
de vigilância epidemiológica direcionadas a saúde da mulher durante o pré-natal (LIMA et al.,
2017). A meta de redução dos casos, instituída pelo MS, trazia que até 2015, o número de
casos de sífilis congênita deveria ser menor que 0,5 caso/1000 nascidos vivos. Porém, este
estudo mostrou que houve um grande aumento ao longo dos anos, principalmente de 2015 a
2017, o que contraria totalmente a meta posta pelo MS (BRASIL, 2014).
Quanto à idade, durante o período do estudo foi visto que o maior número de casos
ocorreu entre mulheres gestantes na faixa etária de 20 a 29 anos, que confirma o encontrado
por Nonato et al. (2015) e Domingues et al. (2014), sendo que esta faixa etária traz
preocupações aos serviços de saúde por ser justamente o período de idade fértil da mulheres.
Além disso, nesse estudo observou-se um número elevado de casos de gestantes com sífilis
menores de 19 anos, com 533 casos (25,8%), e acrescenta esta faixa etária na categoria de
risco para adquirir a doença, sendo que em 2014, este número não passou dos 20% (18,2%)
(VIELLAS et al., 2014).
Ainda segundo Viellas et al (2014), o aumento no número de notificações de gestantes
adolescentes, de baixa escolaridade (ainda em idade escolar), nos chama a atenção pelo fato
de que estas tem iniciado a vida sexual mais cedo e de forma desprotegida. Percebe-se
também uma melhoria quanto a eficácia dos programas de saúde e vigilância (VIELLAS et
al., 2014). Neste contexto, pode-se afirmar que falar sobre o tema é de extrema importância
para garantir a prevenção. O uso de preservativo deve ser incentivado mesmo que este assunto
36

ainda seja tabu dentro do ambiente escolar. Orienta-se ainda que as ações incentivem as
adolescentes a iniciar a vida sexual mais tarde, pois é quando estas adolescentes terão maior
conhecimento sobre os riscos de doenças e sobre os métodos contraceptivos e protetivos,
sendo a educação sexual de extrema importância neste contexto (BRASIL, 2012; SARACENI
et al., 2005; SILVA; BENITO, 2016).
Em relação a raça/cor das gestantes, os resultados deste estudo trouxeram que a
maioria dos casos acontecem em gestantes pardas, sendo 1160 (56,4%), seguido por 605
(29,4%) brancas. Constata-se também um número considerável de gestantes indígenas, com
23 casos (1,1%) visto que o acesso a saúde e pré-natal nessa população é dificultado pela
distância do serviço e fatores culturais. Estes resultados vão em concordância com os
resultados encontrados em outros estudos, onde as mulheres pardas se demonstraram a
maioria e as mulheres indígenas correspondiam a uma proporção menor, uma vez que
também são minoria comparadas a população geral (DANTAS et al., 2017; DOMINGUES et
al., 2014).
No Brasil, o ensino fundamental possuí 9 anos de duração, período este compreendido
do 1° ao 9° ano. O ensino médio corresponde a 3 anos, sendo colocado então 12 anos de
estudo. As mulheres com baixa escolaridade (aquelas com menos de 9 anos de formação) são
a maioria das acometidas pela sífilis gestacional. Neste estudo, as mulheres com formação de
até 9 anos predominaram com 843 casos (41%), seguido pelas mulheres que concluiram de 10
a 12 anos 700 casos (34%). As gestantes com educação superior apresentaram-se em menor
número, são 57 (2,8%), já que se espera que essas mulheres tenham conhecimento acerca dos
métodos de prevenção e da importância do tratamento, durante o pré-natal (FIGUEIRÓ-
FILHO, 2011). Outros estudos relatam que pessoas com menor escolaridade estão mais
suceptíveis a doenças infectocontagiosas, principalmente pela falta de informação a respeito
da prevenção (AQUINO; SILVA, 2015; SOUZA; BENITO, 2016). Em estudo nacional, foi
encontrado que mulheres com baixa escolaridade foram 3 vezes mais acometidas pela sífilis
gestacional (DOMINGUES et al., 2014).
Em Campo Grande, a região com o menor índice de qualidade de vida é a região do
Anhanduizinho. Esta região, concentrou os maiores achados de sífilis neste estudo, sendo 699
casos (34%) e é a região com a menor densidade demográfica, a pior renda per capita e taxa
de alfabetismo e a maior vulnerabilidade econômica (CAMPO GRANDE, 2013). Mais uma
vez, é evidenciado a vulnerabilidade em todas as esferas (econômica, social e geográfica) das
gestantes mais acometidas com sífilis durante a gestação. Na região Lagoa foram 344 casos
37

(16,75). Ainda, no último relatório de Campo Grande (2013), esta região figurava em terceiro
lugar em índice de qualidade de vida. Apesar da sifilis gestacional apresentar seu perfil
voltado para as classes vulneráveis, este estudo mostrou que todas as populações necessitam
de informações sobre a doença e seus métodos de prevenção independente das questões que
tangem os determinantes sociais de saúde.
Com a implantação do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN),
com as constantes ações e investimentos da Vigilância Epidemiológica, e com a ampliação do
acesso ao serviço de saúde (principalmente com as equipes de Estratégia de Saúde da
Família), os números de notificações de sífilis gestacional aumentaram consideravelmente.
Uma vez mais investigados, os casos de sífilis quintuplicaram nos últimos 5 anos. Estima-se
que 94% das gestantes das Américas, comparecem a pelo menos uma consulta pré-natal,
porém, o preconizado pelo MS são seis consultas (PAHO, 2016).
No caso da região Centro-Oeste, foi visto em estudo do ano de 2014 que a realização
da assistência pré-natal foi de 98,7%, evidenciando uma ótima cobertura pré-natal, o que
comprova a adesão das gestantes a rede de saúde da mulher (VIELLAS et al., 2014). O pré-
natal é um momento de grande importância para a vida da mulher e do seu concepto, e é neste
momento que dentre os vários exames que se realiza a essa atenção, esta o teste VDRL já na
primeira consulta e posteriormente outro teste no 3° trimestre de gestação (FIGUEIRÓ-
FILHO, 2011).
Neste estudo, foi encontrado que 714 (34,7%) gestantes se encontravam no 1°
trimestre gestacional no momento do diagnóstico e consequentemente da notificação. O
diagnóstico no início da gestação é fundamental para que o tratamento seja realizado de
maneira adequada e que haja uma diminuição nos riscos de transmissão vertical. Dentre as
investigadas, 617 gestantes (30%) estavam no 2° trimestre e 556 (27%) estavam no 3°
trimestre da gestação. Estes dados demonstram que apesar da alta cobertura de pré-natal, isto
não garante qualidade, visto que menos da metade das gestantes recebe o tratamento correto e
muitas ainda iniciam as consultas após o 1° trimestre gestacional. Vale destacar ainda, que em
169 (8,2%) casos, os dados foram ignorados ou não informados, o que pode demonstrar uma
falha nas notificações, pois é dever do profissional notificar os dados de forma correta, para
que sejam um importante aliado na prevenção das doenças.
As consequências e gravidade da sífilis congênita variam de acordo com o tempo de
exposição do feto e a fase clínica da mãe no momento de transmissão. Segundo Saraceni et al.
(2005), quanto mais avançada a infecção, menor o risco de transmissão. Em números, a taxa
38

de infecção materna varia de 70 a 100% nas fases primárias e secundária e somente 30% nas
fases terciária e latente (BRASIL, 2006). Nesta pesquisa, a fase clínica mais encontrada foi a
terciária, em 590 gestantes (28,7%), diferentemente de estudos anteriores. Gestantes
classificadas na fase latente foram 510 (24,8%), resultado parecido com o encontrado no
estudo de Dantas et al. (2017) onde foram 25% (3 do total de 12 casos) com sífilis latente. Os
casos ignorados ou não informados foram 562, equivalente a 27,3%, número extremamente
alto e que pode ser entendido como a falta de conhecimento do profissional acerca dos sinais
e sintomas de cada fase clínica ou classificações feitas de maneira equivocada, não sendo
realizada a devida investigação dos casos. O fato é que quanto mais avançada é a fase clínica,
maior é a dose de tratamento com Penicilina Benzatina e maior a necessidade de formação de
vínculo com a gestante para que ela não abandone o tratamento e consiga também, informar o
parceiro da necessidade de todas as doses prescritas.
Quanto aos testes realizados para detecção e confirmação da sífilis, predominaram os
testes treponêmicos, com 1901 (92,5%) realizações seguidos dos testes não-treponêmicos,
com 1514 testes (73,6%), Isto significa que os testes treponêmicos foram os testes de primeira
escolha justamente por sua característica de teste rápido, com menor custo e eficazes.
Conforme recomendação do MS, os testes rápidos devem ser realizados já na primeira
consulta pré-natal, com leitura imediata para que a detecção da infecção na gestante e no
parceiro sejam tratadas da forma mais rápida possível (BRASIL, 2012). Apesar de ser o teste
de escolha, não deve ser o único teste a ser realizado, principalmente por conta da importância
da titulação encontrada em testes não treponêmicos (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006). Neste
estudo, foi visto que muitas gestantes apresentaram altas titulações, indicando assim, fases
iniciais da doença e trazendo riscos maiores de transmissão vertical, pois o número de
espiroquetas circulantes é maior (VERONESI, 2009).
Como já citado, o tratamento da sífilis é feito com Penicilina Benzatina. A dose é
prescrita de acordo com a fase clínica da doença na gestante, e teve uma alteração em sua
dose no ano de 2015. Por este motivo, sua classificação foi realizada de acordo com a
adequação ou não do tratamento prescrito a gestante. Para que a gestante seja considerada
adequadamente tratada, o tratamento deverá ser finalizado até 30 dias antes do parto, ser
realizado concomitantemente com o tratamento do parceiro e com Penicilina G Benzatina
com a dose equivalente a fase clínica apresentada pela gestante no momento do diagnóstico
(CAMPOS et al., 2010). Neste estudo observou-se que menos de 50% (1006 casos) das
gestantes receberam o tratamento de forma correta, evidenciando assim, uma problemática os
39

casos de transmissão vertical. Teixeira et al. (2015) trazem em seu estudo que das 39
investigadas, somente 21% das gestantes realizaram o tratamento adequado, 36% realizaram
tratamento inadequado, em 15% o tratamento não foi realizado e em 28% esta informação foi
ignorada.
Com isto, pode-se evidenciar que existe uma deficiência da assistência pré-natal
quanto ao tratamento, pois os casos estão sendo detectados e notificados, porém, não recebem
o tratamento correto. Isto pode significar uma grande falta de conhecimento dos profissionais
quanto ao esquema de tratamento preconizado pelo MS. Foi visto que muitos casos em fase
primária e secundária foram tratados como terciária. Isto contribui para os gastos
desnecessários de penicilina benzatina e favorece a falta do remédio no serviço de saúde, visto
a sua crise mundial como já foi explicado anteriormente.
Segundo Dantas et al. (2017), quanto ao tratamento do parceiro sexual viu-se que
existe uma grande resistência na sua realização. Resistência essa tanto do parceiro, quanto do
profissional que acompanha o período. Neste estudo, foi possível verificar que 873 (42,5%)
parceiros não realizaram o teste confirmatório para sífilis e 127 (6,2%) sequer foram
informados da importância deste. A construção histórica acerca da saúde do homem pode ser
um fator para esta resistência, pois o papel designado ao homem era o de provedor da família,
sendo que este não adoecia e até hoje, muitos homens acreditam que não precisam de
prevenção em saúde. Além do mais, falar de IST é considerado tabu, podendo ser considerado
como traição da mulher, o que leva muitas ao medo de informar o parceiro que está infectada
e isto dificulta o seu tratamento e favorece sua reinfecção (CAMPOS et at., 2012). A
população masculina também carece de cuidados, porém, muitos profissionais ainda não estão
habilitados a recebê-los nos serviços de saúde, pois exigem abordagem diferenciada e muitos
não sabem conduzir um plano terapêutico individual para esta população específica (LIMA et
al., 2017).
Os achados mostram que do número total de parceiros, 803 (38,9%) receberam
tratamento inadequado, seguidos de 684 (33,1%) onde o tratamento não foi realizado.
Somente 569 (27,5%) dos parceiros que foram informados, receberam o tratamento adequado
de acordo com a fase clínica apresentada pela gestante. Esses dados podem ser corroborados
com um estudo realizado em 2017, onde foi observado que o parceiro não recebeu o
tratamento adequado em 79,9% (95) dos casos. Este dado confirma que além das dificuldades
no tratamento da gestante e mesmo que ela seja tratada adequadamente, o parceiro pode ser o
40

grande responsável pelo alto risco de reinfecção da gestante antes do parto (LIMA et al.,
2017; DANTAS et al., 2017).
Dentre os motivos para o não tratamento do parceiro observados nas fichas de
notificação, a ausência de contato entre parceiro e gestante foi o motivo predominante, em
365 casos (17,8%). Além disso, 135 (6,6%) parceiros foram informados, porém não
compareceram ao serviço de saúde. Foram pontuados ainda, 50 casos que se recusaram a
realizar o tratamento (2,4%), 105 (5,1%) receberam diagnóstico tardio (durante ou depois do
parto), 28 (1,4%) eram parceiros institucionalizados (privados de liberdade ou internados em
hospitais), 5 (0,2%) relataram alergia a penicilina e 48 (2,3%) possuíam cicatriz sorológica na
gestante por meio da contagem de titulação da bactéria.
Foi visto que dos 2255 casos de sífilis gestacional notificados no município de Campo
Grande de 2011 a 2017, 907 resultaram em sífilis congênita. Se 2255 representam 100% dos
casos, significa que 40,25 (907) tiveram um desfecho desfavorável e com grandes
consequências ao concepto. Sabe-se que a sífilis congênita é a maior causa de morte neonatal
e má formação congênita, e por este motivo, seu alto índice indica certo fracasso da
assistência, principalmente da atenção básica onde existe a possibilidade de intervir.
(BRASIL, 2012; DOMINGUES; LEAL, 2016).
O enfermeiro possui grandes responsabilidades, pois é o profissional habilitado a
realizar as consultas pré-natal de baixo risco, utilizar os testes rápidos, classificar
corretamente a infecção, prescrever o tratamento correto e os cuidados necessários sobre a
doença para a comunidade (BRASIL, 2012). Ainda segundo o autor, sabe-se que para a
realização do tratamento correto, é necessário que haja vínculo entre paciente-profissional e o
enfermeiro esta habilitado para criar este vínculo e dar continuidade a investigação do caso
por meio de consultas de rotina e visita domiciliar.
Acredita-se que o profissional enfermeiro é capaz de reverter a realidade da sífilis no
cenário atual e que um maior comprometimento para a realização de um pré-natal de
qualidade, composto por todos os itens preconizados pelo MS, é necessário. A partir de
domínio do assunto, será possível transmitir informações e orientar a população sobre a
doença e assim, reduzir os casos. Na atenção básica, a busca ativa das gestantes é essencial
para que nenhum caso seja subnotificado e quando detectado, é imprescindível que haja o
preenchimento correto dos itens da ficha, pois somente conhecendo o seu perfil predominante,
será possível investir em sua prevenção para o público correto. Enfatiza-se que a educação
41

dos profissionais enfermeiros e da comunidade de forma contínua é fundamental para o


controle dos casos.
42

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo evidenciou que a vulnerabilidade social, econômica e cultural está


diretamente ligada a vulnerabilidade na saúde. Os grupos mais acometidos pela sífilis são os
grupos negligenciados e que mais necessitam do Sistema Único de Saúde e de sua assistência
diferenciada. O sistema de notificação compulsória para os casos de sífilis se tornou grande
aliado na luta contra a doença e embora ainda existam relatos de subnotificação, sabe-se que
um grande progresso foi realizado.
No decorrer dos últimos anos, a assistência pré-natal tem se demonstrado
extremamente importante para que os objetivos da saúde sejam atingidos. A sífilis durante a
gestação teve a sua prevalência controlada por um tempo, porém, observou-se aumento na
incidência dos casos da doença causada pela bactéria Treponema Pallidum durante a gravidez
nos últimos 5 anos. Apesar dos esforços, observa-se que há um caminho longo a ser
percorrido para que a meta de controle da doença seja alcançada.
O ressurgimento dos casos de sífilis gestacional e congênita demonstra que a
assistência pré-natal no Brasil não tem sido eficiente para prevenir, identificar, e dar
continuidade ao tratamento de tais agravos. Evidenciou-se que o enfermeiro possui grandes
responsabilidades dentro do serviço de saúde e a falta de conhecimento do profissional em
relação ao tratamento de acordo com a fase clínica, evidencia grande fragilidade na educação
e capacitação destes. Mesmo no protocolo antigo, poucos casos foram tratados
adequadamente, evidenciando a necessidade de grandes investimentos na educação
permanente. A crise no abastecimento da penicilina pode não ser um problema tão grave
quanto a falta de conhecimento sobre a doença entre profissionais e população.
Para seu tratamento, é imprescindível a formação de vínculo entre profissional e
gestante, evidenciando a importância da atenção básica e de equipes de saúde comprometidas.
Viu-se a importância de ações na saúde do homem e principalmente, a quebra de preconceitos
da sociedade para que o parceiro seja incluído no cuidado.
Por fim, considera-se que a quantidade de dados ignorados e preenchimento
inadequado da ficha foram as maiores limitações deste estudo, ressaltando assim, a
importância da qualidade dos registros e investigação fidedigna dos casos, para promover
acompanhamento adequado a gestante e do seu parceiro. Novos estudos se fazem importante
junto à temática, principalmente com estratégias de fortalecimento a atenção primária, para
43

que seja possível intervir em casos iniciais e assim, alcançar todas as metas de prevenção e
controle que forem impostas.
44

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48

ANEXOS

ANEXO A - TERMO DE COMPROMISSO DE MANUSEIO DE INFORMAÇÕES


DE BANCO DE DADOS
49

ANEXO B - APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA


50
51
52

ANEXO C - AUTORIZAÇÃO DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE CAMPO


GRANDE DE MATO GROSSO DO SUL – SESAU
53

ANEXO D – FICHA DE NOTIFICAÇÃO SÍFILIS EM GESTANTE


54
55

APENDICE

APENDICE A – INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS


56

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