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Eu sou uma criatura que nenhum estrangeiro à minha cultura vai entender,

esses anciões, esses neonatos, todos reclamam, choram, todos estão


insaciáveis em suas próprias cabeças reclamando do seu próprio sofrimento,
da sua própria desgraça, da sua própria cruz. Eu não sou como eles. Tu não vai
me ouvir reclamar, tu não vai me ouvir implorar, tu não vai me ver hesitar.

Tente entender o que meu clã já entendeu: A besta não é teu fardo, é o teu
melhor amigo que não é entendido por ti. Nós não a compreendemos
completamente, porém ela está no nosso âmago sentindo nossos desejos mais
profundos e nefastos, ela é você na tua forma mais pura. Eu já vi homens
tratados como bestas, quando eu era moleque lá em 1840, meu tio foi
chicoteado até babar feral, sorria, gargalhava e mostrava os dentes enquanto
assustava o branco com o chicote na mão.

E como fazem com um cachorro que mostra os dentes ao dono, ele foi
executado. O meu tio entrou em contato com seu eu verdadeiro, seu eu que
queria se revoltar daquilo. Entenda, a besta está em nós antes de nos
tornarmos cainitas, não a separe de quem você é, não diga coisas como “Minha
fera interior implora por sangue”, é você quem implora por sangue, tome
responsabilidade por quem tu é.
Até hoje eu escuto correntes enquanto durmo, eu fugi daquela porra de
fazenda e me juntei com uns guerrilheiros pra matar branco. Meus pais?
irmãos? Eu não tenho nada disso, eu tinha um relacionamento com eles igual
tinha com os outros dali. Eu era a propriedade do Senhor Pinto Mole tanto
quanto todos que eu conhecia e interagia com todos igualmente, um cabide
falando com um guarda-roupas, um talher falando com o prato.

O líder era um filho da puta peludo pra caralho e parecia um urso, todo mundo
ali era treinado, a gente sabia usar todo tipo de arma e tinha os pé rápido. O
cara era um Gangrel foda, responsa demais, ele cuidava de nós e eu aprendi
que aqui nos Estados Unidos a gente é família. Se um camarada negro precisa
de ajuda, a gente ajuda, sem se arrepender, sem colocar o queixo pra baixo.

Parece que um tal de príncipe de Nova Iorque ficou meio puto que o Gangrel
Preto tava ganhando poder e pior ainda: tava ajudando escravo fugitivo. Ouvi
falar que o principezinho tava perdendo dinheiro por causa disso, aí o mano
convocou uma caçada de sangue, consegue imaginar? Bom, o líder, Lamar,
teve que transformar todo mundo pra ver se a gente sobrevivia. Ele fez um
discurso que só sangue do sangue entende:

“Todos nós aqui vamos morrer, e quem tiver a sorte de sobreviver, vai ser
caçado e vai morrer. A gente vai morrer porque tu nasceu errado, a gente vai
morrer porque tu não se esforçou o suficiente, a gente vai sobreviver porque o
nosso sangue é vermelho, mas sai de dentro de um exterior preto. É só isso que
vai acontecer. Agora temos 2 opções: A gente vai morrer levando alguns deles
ou a gente vai morrer quietinho, e tô te falando, se existir algo depois disso
aqui tudo, pelo menos EU tô me coçando pra ver a cara deles se tiverem
algumas casualidades. Nós seremos insetos que eles pisaram no longo
caminho deles, tu quer ser um inseto que deu uma picadinha antes de tomar o
tapa? Então vem comigo hahahahahahahahhshhhaahah”

Dito e feito: Geral morreu HAHAHAAHH

Puta merda, nunca vou conhecer uma galera tão foda. Bom, obviamente eu
sobrevivi, eles achavam que a gente tava relacionado com outra gangue nada a
ver e me mantiveram preso pra torturar um pouco, fazer uns testes entendeu?
Sobrou eu e uns outros dois sendo torturados. Um morreu depois de 1 ano, o
outro depois de 4, e eu fiquei lá por mais 2 depois disso.

Eventualmente a galera da Europa viu que esse príncipe “não refletia os novos
ideais da camarilla”. Proibiram a escravidão no papel, daí eles tavam
modernizando a galera,e o príncipe teve que ir de berço.

Decidiram compensar pelo que fizeram com a minha liberdade, ótimo não? Me
mandaram pra um fim de mundo chamado Chicago, que tava crescendo.
Me consolidei pela parte negra de lá…

Sinceramente, eu tô achando que fiquei mole com o tempo. Tô tentando ajudar


a galera daqui a se erguer, ajudando as crianças a ir pra escola, ajudando os
caras a arrumar ou criar emprego por aqui. Eventualmente eu entendi que não
dá de fazer isso se tu for um vampirinho bosta da esquina, então o bagulho
virou se tornar o pica grossa da cidade, e eu vou arregaçar qualquer cú que
ficar no caminho da minha.

Eu sou só mais um “crioulo”, com meus manos que são netos ou filhos de
“crioulos”, querendo erguer a galera daqui ao status de humano entendeu?

Tem uns tal de anarquista querendo fazer mudança, vou te falar que respeito o
tal de Kambuku, mas os outros são só mais um branco revoltado que acha que
sabe o que é opressão, que acham que sabem o que é status quo. Mas eu não
acredito nessa merda toda de quebrar a hierarquia, os caras são burros demais,
querem trocar o nome do “príncipe” pra “barão” e dizer: Pronto, fizemos
mudança

Se eles querem mudança de verdade, deveriam ir na casa de uma senhora


preta conversar com ela, que tá tentando cuidar dos seus 7 netos, porque o pai
fugiu e a mãe se matou. Eu vou te falar o que os anarquistas querem de
verdade: Querem matar os velhos pra eles se tornarem os novos poderosos
que controlam a sociedade, nada menos, nada mais.

Entrei pra uma equipe de investigação aí, normalmente é meio parado pra mim,
só que tenho os meus manos que são alguns dos poucos brancos que eu
respeito, mas eles não entendem também, e sei que nunca vão entender…
Mesmo assim, não quero mal pra essa galerinha, sou eu quem cuida deles
enquanto eles tão fuçando nos anarquista filha da puta que tão mandando a
cidade direto pro inferno.

Vamo ver quem vai dar a última risada nessa cidade…

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