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Resumo
A meta foi revelar, principalmente por meio das teorias de Jacques Lacan e Michell Pechêux, sobre as
ações do inconsciente e as formações ideológicas, o intradiscurso, interdiscurso e a memória
discursiva, respectivamente, que geraram e ainda tecem a construção desses discursos.
Abstract
The objective was to show, with apports of Lacan and Pechêux theories, about the mental actions and
ideological formations, the discourse and discoursive memory, that criated and still make born the
constructions of discourses.
Introdução
Existem duas formas de discursos utilizados para se referir à região norte e às etnias
que compõem os traços da maior parte da população que a habita: a primeira forma é a da
exclusão, o apagamento de sua existência por parte a mídia ou de qualquer meio de
comunicação que se possa utilizar para abordar esse tópico; a segunda forma é a
desvalorização da cultura regional em detrimento da supervalorização da cultura estrangeira,
entretanto, não se trata de qualquer tipo cultural, valorizam-se os costumes daquelas que
compõem o que chamamos de primeiro mundo, como os Estados Unidos e a Europa.
A existência e propagação desses tipos de discurso segue uma formação ideológica
de um contexto histórico que data desde o momento da colonização europeia, historicamente
conhecida como o descobrimento do Brasil que se deu a partir de 1500, acontece que as
modificações que ocorreriam a partir desse marco histórico não mudariam somente as
estruturas físicas, políticas e sociais que resultariam no país que temos atualmente, mas
perpetuariam heranças comportamentais e psicológicas que moldam nossos pensamentos e
discursos. Segundo as teorias elaboradas por Michell Pechêux e organizadas por Sonia Santos
na publicação Estudos dos discursos: perspectivas teóricas (2013), o discurso é um mediador
que se faz presente entre a linguagem e a ideologia, na qual, a linguagem se dá no plano da
enunciação e o materialismo histórico, que seriam as transformações que se dão no contexto
histórico-social no plano das ideologias, temos também na mesma publicação as teoria de
Jacques Lacan inspiradas pelos estudos de Freud e organizadas por Bethania Mariani e
Belmira Magalhães sobre o funcionamento do inconsciente que se faz presente também no
momento da linguagem.
Evidenciando certas situações históricas e discursos atuais que exprimem a
desvalorização e o preconceito referente, especificamente, a região Norte, temos como
finalidade inserir e demonstrar como se dá a presença da teoria de Lacan sobre o inconsciente,
bem como as teorias de Pechêux sobre interdiscurso ou memória discursiva e intradiscurso
que irão tratar do sujeito ideológico que ainda sofre imposição dos ideais dos colonizadores,
na enunciação.
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necessita ser dominado e persuadido como evidência a carta de Pero Vaz de Caminha enviada
ao rei D. Manuel I:
E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa
para ser toda cristã, do que entenderem-nos, por que assim tomavam aquilo que nos
viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria e
nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa alteza aqui mandar entre eles mais
devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza.
(CAMINHA, 1500 apud SCHILLING, 2015, p. 1. Disponível em: www.
educaterra.terra.com.br)
O discurso utilizado por Pero Vaz diz não existir traços de comportamentos e
pensamentos que caracterizem civilidade nos índios, taxando-os como imitadores e que, sendo
assim, seria fácil convertê-los aos costumes e valores europeus. A história, hoje, nos mostra
que os povos indígenas viviam em sociedades complexas, levando em consideração a área de
pouco recursos em que habitavam, e que se separavam em grupos de caçadora e coletores,
fabricantes de cerâmicas e agricultores que utilizavam-se, até mesmo, do sistema de troca
como forma de comércio, porém, tudo pareceu ser esquecido e desaparecer ao ser subjugado e
substituído por ideologias de uma sociedade ocidental.
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1). Foi, principalmente, por meio da linguagem que se difundiu a ideia do índio como
incapacitado e incivilizado, exemplificados nas falas de Pero Vaz e Carvajal, e foi também por
meio dela que se persuadiu e se firmou a primazia cultural europeia, que ainda é
supervalorizada pelo provo brasileiro, atualmente.
Levando em consideração a linguagem como meio de propagação e confirmação de
ideais e valores, tomemos como exemplo a imagem que o índio ou caboclo têm atualmente no
Brasil. Ainda não se vê o índio ou a cultura indígena como parte integrante desse país, vemos
a população que compõe a região norte sendo recalcada pelos vários tipos de meios de
comunicação, principalmente o midiático, falta interesse e vê-se muito pouco, o índio não
participa de histórias, comerciais ou telenovelas, nem mesmo as pessoas que povoam a região
amazônica voltam-se para os valores indígenas que conseguiram resistir à colonização, a
beleza está nos estádio de futebol, que foi considerado mais belo da Copa, o orgulho é a
grande produção tecnológica realizada na Zona Franca, discursos utilizados inclusive por
aqueles que tentam se defender do preconceito de outras regiões do país.
O que não se percebe é que, segundo a Análise do Discurso e os conceitos
lacanianos, no momento em que se dão esses discursos, dá-se também o discurso do
inconsciente ou discurso do Outro “que circula e que antecede a constituição do sujeito”
(OLIVEIRA, 2013, p. 117). Têm-se o inconsciente como “manifestação de um saber
desconhecido, um estranho-familiar ao sujeito” (OLIVEIRA, 2013, p. 116); o Outro, nesse
caso, seriam os colonizadores e suas ideologias ocidentais que se firmaram no inconsciente da
população brasileira. A maneira mais interessante de se notar a presença desse Outro é no
discurso daqueles que se defendem, argumentando e vangloriando pela obtenção e produção
de produtos que foram criados pela cultura do ocidente, na qual, esse sujeito “está repetindo
um discurso presente antes mesmo de ele existir” (LEANDRO, F.I.E.M.C; MARTINS DE
SOUZA, Luiz Carlos, 2005, p. 5). Esse locutor nem sequer nota que seu discurso só está
reafirmando o que, na verdade, ele está querendo refutar, ou seja, seu próprio argumento
recalca, cala e subjuga sua própria cultura em detrimento de outra que se convém como a
melhor.
Como frisado no início deste tópico, Lacan utilizou-se dos estudos de Freud para
falar sobre os lapsos da linguagem e sustentar sua própria teoria sobre o inconsciente que ele
dominou como o Outro que se faz presente nessas rupturas, porém, essa sua nova visão
permitiu a elaboração de análises que não visam somente a questão da linguagem abrindo
caminhos para que outros teóricos, como Pechêux, incorporem suas ideias que vão além da
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linguagem e que transformam esse inconsciente em um depósito de ideologias, levando em
consideração a posição do sujeito para a construção de sentidos de seus discurso.
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Já o intradiscurso marca o plano da enunciação, o que se está dizendo, ato que leva o
sujeito a se transformar em um produto ideológico.
Bem, seguindo os conceitos acima, pode-se dizer que, ao produzir um discurso que
exprime algum tipo de preconceito contra a região amazônica, seja recalcando ou difamando,
o sujeito estará se identificando como parte um conjunto social que tem uma formação
ideológica e que, por sua vez, produz formações discursivas, que influenciam diretamente na
produção do interdiscurso e intradiscurso.
“Os sujeitos estão ligados a um saber discursivo que não pode ser apreendido, mas
que deixa transparecer seus efeitos por meio do inconsciente e das ideologias que envolvem
os sujeitos” (OLIVEIRA, 2013, p. 219), então, faz-se correto afirmar que mesmo que se
produza, intencionalmente, discursos preconceituosos referentes à cultura indígena, na
verdade, também, estamos sobre a influência inconscientes de formações discursivas e
ideológicas que são produtos de uma materialidade histórica, de acordo com o professor Luiz
Carlos Martins “Faz parte do nosso imaginário percebermos os indígenas, caboclos e
ribeirinhos como pessoas ignorantes, analfabetas, sem capacidade para decidir, formular
conceitos, definir posicionamentos e se constituir como sujeitos tão complexos quanto
qualquer sujeito imerso diariamente na realidade urbana” (LEANDRO, F.I.E.M.C; MARTINS
DE SOUZA, Luiz Carlos, 2005, p. 1) que, igualmente, irá explicar a visão distorcida
daqueles que produzem o mesmo discurso preconceituoso como defesa de uma cultura que,
originalmente, não surgiu no Amazonas ou no Brasil.
Conclusões
Vimos a partir das teorias de Pechêux e Lacan conceitos que se aplicam perante a
produção e análise de discursos que desvalorizam a cultura e etnia indígena que compõem os
traços da maior parte da população que se localiza na região Norte do Brasil. Em ambos os
preceitos vemos como a formação desses tipos discursos não são autônomas e dependentes
somente das intenções do sujeito enunciador, conceito de interdiscurso e intradiscurso
determinados por Michell Pechêux, mas que contém ideologias e discursos de Outros, o
inconsciente estudado por Lacan, que os antecederam e que formaram a materialidade
histórica que os compõem. A análise do discurso se faz importante para se possa entender as
origens e as motivações que nos fazem produzir esses discursos que apagam e oprimem de
forma violenta a identidade de um povo que foi de extrema importância para a formação desse
país e explica um pouco do porquê temos uma certa tendência a idolatrar culturas
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estrangeiras, tornando-as, também, como parte de nossa identidade nacional. Evidenciar esses
processos discursivos é garantir que se passe a perceber a vida de maneira mais crítica da
realidade e nos permite abrir o olhar para que nos enxerguemos como produtos dependentes
de uma cultura estrangeira, a fim de que abram portas para um futuro de aceitação que nos foi
recalcado.
Referências
CAMINHA, Pero Vaz de. Carta de Pero Vaz de Caminha. 1500 In: SCHILLING, Voltaire. Disponível
em: www.educaterra.terra.com.br. Acesso: 11/08/2015;
OLIVEIRA, L.A. Estudos dos discursos: perspectivas teóricas. São Paulo: Parábola, 2013.
ORLANDI, E.D. Estudos da Língua (gem): Michell Pechêux e a Análise do discurso. Vitória da
conquista n.1 p. 9-13/ junho, 2005.
Sites
http://www.cpelin.org/estudosdalinguagem/n1jun2005/artigos/orlandi.pdf, visitado em 04 de fevereiro
de 2015, às 23h.
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