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MA092 - Geometria plana e analı́tica - Segundo projeto

Levantamento topográfico
Francisco A. M. Gomes
Outubro de 2017

1 Descrição do projeto
Nessa atividade, vamos usar a lei dos senos e a lei dos cossenos para desenhar um mapa
topográfico, e para calcular a área e o perı́metro de uma região delimitada em um terreno.
Para tanto, vamos supor que as medidas do terreno tenham sido coletadas com o auxı́lio de um
teodolito, que é um aparelho usado em topografia.
O teodolito é composto, basicamente, por um telescópio que pode ser girado em torno de
dois eixos perpendiculares, um horizontal e outro vertical. Usando o telescópio para mirar
pontos diferentes, e medindo os ângulos entre eles, podemos determinar as coordenadas no
plano e a altura desses pontos. Apesar de existirem teodolitos eletrônicos sofisticados, um bom
teodolito ótico-mecânico, como o que é mostrado na figura abaixo, é suficiente para que se
obtenha dados precisos.

Figura 1: Teodolito ótico-mecânico.


2 Determinação das medidas do terreno
A região da UNICAMP selecionada para o projeto é mostrada na Figura 2. Nela, foram cravadas
cinco estacas que representam os vértices do polı́gono a ser demarcado. Como o terreno tem
declividade suave e não possui acidentes, trabalharemos apenas com esses cinco vértices.

Figura 2: Região que contém o que contém o terreno a ser mapeado.

A determinação precisa das coordenadas de pontos topográficos envolve algumas técnicas


que fogem ao escopo desse projeto. Assim, fizemos apenas uma medição simples e rápida de
ângulos, mantendo o teodolito em uma posição fixa próxima ao centro da região a ser mapeada,
de modo que, a partir desse ponto, pudéssemos ver todas as estacas.
Cada observação feita com o teodolito é chamada visada. Os dados fornecidos pelo teodolito
são suficientes par que se calcule os ângulos θ1 , . . . , θ5 entre as visadas, as distâncias d1 , . . . , d5
entre o aparelho e as estacas, e os lados do polı́gono, p1 , . . . , p5 . A Figura 3 resume as medidas
horizontais que podem ser determinadas.

2.1 Determinação dos ângulos θ1 , . . . , θ5


A primeira etapa necessária à correta locação dos pontos em um mapa é a a determinação dos
ângulos horizontais θ1 , . . . , θ5 mostrados na Figura 3. Seguindo uma estratégia muito simples
para a obtenção desse ângulos, usamos uma bússola para determinar o norte magnético da
Terra, que define a direção a partir da qual o ângulo horizontal do teodolito será medido (ou
seja, a direção correspondente a 0◦ ).
Em seguida, medimos o azimute, zi , de cada uma das estacas i = 1, . . . , 5. Em topografia,
azimute é o ângulo que uma determinada visada faz com o norte. Esse ângulo é medido no
sentido horário, de modo que o azimute de um ponto perfeitamente a leste é 90◦ , enquanto um
ponto perfeitamente a oeste tem azimute 270◦ .

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Figura 3: Medidas horizontais a serem determinadas.

Os ângulos θ1 , . . . , θ5 desejados podem ser obtidos pela diferença dos azimutes. A Figura
4 mostra as estacas i e i + 1, bem como seus azimutes. Nessa figura, o ângulo θi é dado
simplesmente por θi = zi+1 − zi .

Figura 4: Azimutes de duas estacas sucessivas.

Apesar de não ser muito precisa, essa estratégia exige um número pequeno de visadas e
permite que incorporemos facilmente o norte magnético da Terra ao nosso mapa. Além disso,
ela garante que os ângulos θ1 , . . . , θ5 somem exatamente 360◦ .

2.2 Determinação das distâncias d1 , . . . , d5 e do desnı́vel do terreno


A determinação das distâncias d1 , . . . , d5 é um pouco mais complexa, exigindo não só algumas
medições com o teodolito, como também uma boa dose de trigonometria. Usando os mesmos
dados, também é possı́vel calcular o desnı́vel hi entre a posição do teodolito e a estaca.
O topógrafo calcula distâncias com o auxı́lio de uma mira topográfica, que nada mais é que
uma grande régua, que costuma ser telescópica, ou dobrável, para permitir seu transporte. A
Figura 5 reproduz uma parte de uma mira que, quando aberta, atinge 4 m de comprimento. Os
traços pretos à esquerda da escala têm 1 cm de altura. Os pequenos cı́rculos vermelhos sobre

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um número indicam o número inteiro de metros contados a partir do solo. Já o número exibido
na mira indica os decı́metros (ou seja, as dezenas de centı́metros) contados a partir da última
medida inteira em metros. Para facilitar a interpretação dessa notação, o intervalo entre 3,70
e 3,80 m está destacado na figura.

Figura 5: Fragmento de mira topográfica.

Para calcular a distância di entre o teodolito e a estaca i é necessário mirar dois pontos ri
e si diferentes da régua, e fazer duas leituras αi e βi do ângulo zenital, que é o ângulo medido
em relação à semirreta vertical que parte do centro do teodolito em direção ao zênite, o ponto
da esfera celeste exatamente acima do observador (ou do teodolito, em nosso caso).
A Figura 6 mostra os quatro valores lidos no teodolito – ri , αi , si e βi –, bem como as medidas
verticais que queremos determinar – di e hi . O desenho da esquerda corresponde a uma estaca
situada em um ponto mais alto que o teodolito, enquanto a imagem da direita mostra uma
estaca abaixo do nı́vel do teodolito.

(a) Ângulo zenital menor que 90◦ (b) Ângulo zenital maior que 90◦

Figura 6: Medidas verticais a serem lidas e determinadas.

O cálculo de di e hi é feito de forma indireta. Primeiramente, aplicamos a lei dos senos para
obter a distância qi em função dos ângulos zenitais αi e βi e da diferença entre os valores lidos

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na régua, vi = ri − si . O triângulo usado nesse cálculo é reproduzido na Figura 7.
qi vi
= .
sen(αi ) sen (βi − αi )

Figura 7: Triângulo usado para a determinação de qi através da lei dos senos.

De posse dos valores de qi , si , t (altura do teodolito) e do ângulo βi , é possı́vel determinar o


desnı́vel hi entre o ponto no qual está localizado o teodolito e a estaca i, bem como a distância
di entre o teodolito e a estaca. Para tanto, usa-se os triângulos mostrados na Figura 8.

(a) Ângulo zenital menor que 90◦ (b) Ângulo zenital maior que 90◦

Figura 8: Triângulos usados para determinar di e hi .

Vejamos, inicialmente, como determinar di . Da Figura 8(a), concluı́mos que, para βi ≤ 90◦ ,

di = qi · sen(βi ).

Por outro lado, a Figura 8(b) indica que, para βi > 90◦ ,

di = qi · sen (180◦ − βi ) .

Felizmente, como sen(180◦ −βi ) = sen(βi ), podemos escrever uma fórmula única para a obtenção
de di :
di = qi · sen(βi ).
Passemos, agora, à determinação de hi . Se βi ≤ 90◦ , a Figura 8(a) nos fornece

hi = t + wi − si = t + qi · cos (βi ) − si .

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Já se βi > 90◦ , a Figura 8(b) nos permite escrever

hi = t − wi − si = t − qi · cos (180◦ − βi ) − si .

Lembrando, então, que cos(180◦ − βi ) = −cos(βi ), podemos reunir as duas fórmulas acima em
uma só, escrevendo simplesmente

hi = t + qi · cos (βi ) − si .

Observe, entretanto, que cos(βi ) < 0 se βi > 90◦ . Dessa forma, hi pode ser negativo, o que
indica que há um declive no terreno, ou seja, que o ponto do terreno em que foi fincada a estaca
i está abaixo do nı́vel do terreno no qual se encontra o teodolito.

2.3 Determinação das medidas p1 , . . . , p5


Obtidas as distâncias d1 , . . . , d5 , podemos determinar, finalmente, os comprimentos p1 , . . . , p5
dos lados do polı́gono. Isso nos permite, por exemplo, obter o perı́metro da região, informação
muito útil quando queremos cercá-la.
Para calcular o valor de pi , aplicamos a lei dos cossenos ao triângulo que tem como vértices
o teodolito e as estacas i e i + 1 (usando a estaca 1 no cálculo de p5 ). Tomando como base o
triângulo apresentado na Figura 9, escrevemos
q
pi = d2i + d2i+1 − 2 · di · di+1 · cos(θi ).

Figura 9: Triângulo usado para determinar pi .

3 Planilhas do projeto
Agora que você já sabe como obter as informações necessárias para a elaboração de um mapa
topográfico, podemos passar ao problema prático que será objeto desse projeto.
Nesse semestre, como não teremos tempo para efetuar as medidas em campo, suporemos
que os dados do levantamento topográfico já foram coletados. Esses dados, obtidos com um
teodolito instalado a 1,40 m do chão, são apresentados na Tabela 1.
A partir da Tabela 1, você deve criar uma outra tabela que contenha os valores de θi , qi ,
di , hi e pi , para i = 1, . . . , 5.

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Tabela 1: Dados coletados no campo.

Estaca Azimute Leitura Ângulo Leitura Ângulo


(i) (zi ) régua 1 zenital 1 régua 2 zenital 2
(ri ) (αi ) (si ) (βi )
1 191,14 3,90 87,82 0,10 89,50
2 260,08 3,90 84,48 0,10 88,78
3 12,63 3,90 86,17 0,10 89,74
4 97,28 3,90 85,12 0,10 88,17
5 168,20 3,90 84,90 0,10 90,15

4 Confecção do mapa
Para a confecção do mapa topográfico do terreno, empregamos os valores de zi , di e hi . O
mapa pode ser feito à mão ou com o emprego de um programa de computador. Entretanto, as
seguintes diretrizes devem ser seguidas:
1. A escala deve ser 1:700, e deve ser indicada no mapa.
2. O ponto que representa o teodolito deve coincidir com a origem dos eixos coordenados.
3. A direção do norte magnético da Terra deve coincidir com o eixo y, e também deve ser
mostrada no mapa.
4. É preciso indicar o comprimento dos lados do terreno.
5. É preciso apresentar ao menos quatro curvas de nı́vel, com a indicação da cota do terreno
em relação ao seu ponto mais baixo.
Um modelo de mapa é apresentado na Figura 10. Observe que o seu mapa não precisa
conter os eixos x e y.

5 Cálculo da área e do perı́metro do terreno


Como última tarefa do projeto, você deve calcular a área e o perı́metro do terreno. O perı́metro
pode ser facilmente obtido a partir das medidas p1 , . . . , p5 . Já para a determinação da área,
pode-se somar as áreas dos triângulos que têm como vértices o teodolito e duas estacas sucessivas
(vide a Figura 3). Para tanto, é preciso lembrar que a área do i-ésimo triângulo é dada por
1
Ai = di di+1 sen(θi ).
2
Como alternativa para o cálculo da área, pode-se empregar o mesmo procedimento adotado
no primeiro projeto, que consiste em aplicar a fórmula
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1 X
A= (xi yi+1 − xi+1 yi ) ,
2 i=1
considerando que (x6 , y6 ) = (x1 , y1 ). Para tanto, é preciso conhecer as coordenadas Cartesianas
dos vértices do polı́gono, que podem ser extraı́das do mapa ou obtidas usando trigonometria.

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Figura 10: Modelo de mapa do terreno.

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