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6 - Funções Corticais Superiores
6 - Funções Corticais Superiores
Introdução
Formação Reticular
O tronco encefálico é formado pelo bulbo, ponte e mesencéfalo, e situa-se entre a
medula e o diencéfalo. O tronco possui núcleos bem definidos (os núcleos sensitivos e motores
dos nervos cranianos), feixes de fibras nervosas descendentes e ascendentes (tratos, fascículos e
lemniscos) e uma formação especial que preenche o resto do tronco denominada formação
reticular (FOR).
Os principais núcleos presentes na FOR são:
Núcleos da Rafe: neurônios ricos em serotonina;
Lócus Cerúleo: neurônios ricos em noradrenalina;
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A FOR tem uma organização intermediária entre as substâncias cinzenta e branca, cujos
neurônios de diferentes tamanhos realizam complexas conexões. O neurônio reticular tem axônios
longos com inúmeros ramos colaterais e que se dividem em ramos ascendentes e descendentes,
influenciando tanto porções mais craniais como mais caudais. É filogeneticamente primitiva, mas é
de fundamental importância, pois dele dependemos a manutenção do ciclo vigília/sono e o
controle de funções vitais como a respiração, a regulação do ciclo cardíaco e da pressão
sanguínea. Sob o ponto de vista citoarquitetônico, a FOR pode ser dividida em uma zona
magnocelular (2/3medial) e parvocelular (1/3 lateral). A zona magnocelular dá origem a fibras
ascendentes e descendentes, podendo ser considerada como o componente efetuador da FOR.
Conexões da FOR
A FOR possui conexões amplas e bastante variadas: recebe impulsos que penetram pelos
nervos cranianos, estabelece conexões recíprocas com a medula, com o córtex, tálamo e com o
cerebelo estabelecendo amplas conexões com o resto do SNC.
A seguir a descrição de algumas funções integrativas que a FOR desempenha:
O SARA é assim
responsável pelo nosso estado de
alerta ou de vigília. Então eis um
fato muito importante: não basta
possuirmos uma via sensorial
especifica e áreas associativas para
percebermos as coisas que vemos
ou ouvimos, interpretamos ou
analisamos; é necessário que
possuamos um certo estado de
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4) Controle do SNA: Tanto o hipotálamo como o Sistema Límbico tem projeções para o FOR,
influenciando os neurônios pré-ganglionares do SNA. Assim as atividades reguladas por estas
estruturas podem afetar a expressão das funções viscerais.
TÁLAMO
No diencéfalo está a principal estação de retransmissão dos impulsos nervosos para o
córtex: o tálamo. Já mencionamos que o córtex estabelece com o tálamo intensas conexões
recíprocas e ambos funcionam como uma unidade funcional por meio das radiações talâmicas. O
tálamo é formado de duas grandes massas ovóides, com uma extremidade anterior pontuda (o
tubérculo anterior do tálamo) e uma posterior bem proeminente (pulvinar do tálamo). O tálamo
possui numerosos grupos de núcleos e nem sempre a denominação anatômica corresponde ao
plano de constituição do corpo...Adotaremos a seguinte subdivisão para uma descrição sucinta:
núcleos do grupo anterior, posterior, mediano, medial e lateral.
Funções do tálamo
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Com a sensibilidade: apenas a sensibilidade olfativa não passa pelo tálamo antes de se
projetar para o córtex sensorial. O tálamo não só retransmite e distribui as informações sensoriais,
mas atua também modulando previamente as informações. A sensibilidade dolorosa e térmica e
tato protopático já podem ser interpretados pelo tálamo.
Com a motricidade: através da participação do tálamo no circuito pálido-corticais e
cerebelo-corticais.
Com o comportamento emocional: integrando o Sistema Límbico através dos núcleos
do grupo anterior e do núcleo dorsomedial.
Com a ativação do córtex: integrado ao SARA, estabelece o nível de atividade cortical,
ou seja, garante o estado de consciência.
TELENCÉFALO
O Telencéfalo compreende
dois hemisférios cerebrais que
estão incompletamente separados
pela fissura longitudinal do
cérebro, cujo assoalho é formado
pelo corpo caloso (a maior
comissura que interliga as áreas
simétricas de cada hemisfério).
A superfície sulcada do
cérebro forma relevos conhecidos
como giros ou circunvoluções
cerebrais. Esses sulcos
proporcionam um grande aumento
da superfície e cerca de 2/3 estão “escondidos” nas paredes que formam estas depressões.
Baseada na identificação dos sulcos, cada hemisfério pode ser delimitada em lobos conforme os
ossos do crânio que os recobrem: Lobo Frontal; Lobo Parietal; Lobo Temporal e Lobo
Occipital. Existe ainda o Lobo da insula, profundamente localizado no interior do sulco lateral e o
Lobo Límbico, que só é observado em cortes sagitais do cérebro.
Em cada hemisfério uma camada de substância cinzenta, córtex cerebral, reveste uma
massa central de substância branca (=centro branco medular do cérebro). Na base dos dois
hemisférios há uma massa compacta de substancia cinzenta conhecidos como núcleos da base.
Sob o ponto de vista funcional, os núcleos da base incluem não só núcleos do telencéfalo como
núcleos do diencéfalo e do mesencéfalo.
Córtex Cerebral
As fibras que entram e saem do córtex necessariamente passam pelo centro branco
medular. Essas fibras são de dois tipos: projeção (que chegam ou partem do cortex) ou de
associação (que interligam diferentes áreas do córtex no mesmo lado ou entre os córtex dos dois
hemisférios). Os neurônios de associação intercorticais partem das camadas II e III (NT
excitatório, o glutamato) e de projeção partem das camadas V e VI (NT inibitório, o GABA).
Levando-se em consideração a importância da atividade cortical para desempenhar as funções
superiores, devemos nos perguntar: que mecanismos nos mantem acordados e conscientes?
Como experientamos conscientemente as diferentes impressões sensoriais e emocionais? Como
dormimos?
O cérebro usa os conceitos que já haviam sido memorizados e verifica se é capaz ou não
de identificar a sensação percebida. A propriedade de interpretar as informações que chegam as
áreas sensoriais associativas denomina-se gnosia (ou conhecimento). Mais precisamente,
percepção é a capacidade de associar informações sensoriais à memória e à cognição de modo a
formar conceitos sobre o mundo e orientar o nosso comportamento. Assim temos áreas gnósicas
para os objetos vistos ou tateados e para os sons ouvidos. Se uma pessoa estiver de olhos
fechados, ouvindo os sons de um instrumento musical poderá identificar qual é o instrumento e a
musica que está tocando. As lesões nas áreas associativas auditivas causam sintomas
conhecidos como agnosia auditiva, isto é, a incapacidade de interpretar o significado dos sons.
Conforme a extensão da lesão, a agnosia estará associada a uma determinada modalidade
sensorial (agnosia visual, agnosia auditiva, etc.). As lesões podem ser tão especificas que
resultam em amusia (incapacidade de reconhecer sons musicais) ou prosopagnosia
(incapacidade de reconhecer faces), a afasia de percepção (incapacidade de compreender a
linguagem falada), a agnosia somestésica ou síndrome de negligência (não reconhecer partes do
seu próprio corpo) etc.
Analogamente, lesões nas áreas associativas motoras (córtex pré-motor) causam as
apraxias. Neste caso, o paciente será capaz de iniciar os movimentos voluntários, mas como há
comprometimento de áreas de planejamento da motricidade, a organização do movimento fica
alterada: os pacientes não conseguem realizar tarefas motoras simples, mas que foram
aprendidas como abotoar a camisa, calçar sapatos, pentear, digitar, etc. Ele se esquece de como
realizar as seqüências motoras adequadas.
As lesões dos portadores de agnosias situam-se geralmente em áreas do córtex parietal
posterior e córtex ínfero-temporal ou na face lateral do córtex occipital. Essas áreas situam-se na
confluência entre as áreas sensoriais primarias ou áreas associativas.
Por definição, área sensorial primária é a região do neocórtex que recebe as projeção
talâmica dos vários sentidos somáticos gerais. A área motora primária é a região onde os
movimentos voluntários somáticos são iniciados e cujos axônios corticais projetam-se para as
porções mais caudais do SNC a fim de recrutar os motoneurônios que inervam os grupos de
músculos necessários para realizar o movimento intencionado. Todo o restante do córtex
correspondem a áreas de associação.
Nos primatas, ao lado de cada área sensorial primária existe uma área sensorial
secundária correspondente àquela modalidade. Depois que uma determinada via sensorial
projetou as informações periféricas em sua respectiva área de projeção cortical, tornando o
individuo consciente sobre a natureza e origem do estimulo sensorial, segue-se o processo de
análise e interpretação.
a) Córtex Pré-Frontal: situada no lobo frontal na região não-motora, corresponde a 1/4 de toda
área cortical associativa, incluindo o lobo orbitário. Lesões nestas áreas causam
predominantemente distúrbios comportamentais psíquicos. Recebe conexões de todas as áreas
de associação cortical. Recebe informações pré-processadas sobre as coordenadas espaciais do
corpo e deste com relação ao meio ambiente externo o que vai contribuir com o planejamento da
motricidade voluntária e processos mentais complexos (como o pensamento) e serve para
operacionalizar a “memória de trabalho” de curto prazo, utilizadas na analise de cada nova idéia.
Relaciona-se com o sistema límbico através de conexões com o núcleo dorso-medial do
tálamo. Enquanto o lobo orbitário está relacionado com o controle do comportamento social e do
caráter, o restante da área associativa pré-frontal, está relacionado com a iniciativa (escolha de
opções e estratégias comportamentais) e a manutenção da atenção e sequenciamento lógico do
raciocínio. Ambos exercem efeitos controladores sobre o Sistema Límbico que está relacionado à
experiência e a expressão das emoções.
c) Áreas de Associação Límbicas: Inclui o pólo anterior do lobo temporal, na porção ventral do
lobo frontal e no giro do cíngulo. O giro do cíngulo, giro para-hipocampal e hipocampo e outras
estruturas subcorticais fazem parte do Sistema Límbico (veja o capitulo Neurobiologia das
Emoções).
Áreas corticais do próprio hemisfério são integradas por meio de vários fascículos:
Fascículo do cíngulo: lobo frontal ao temporal
Fascículo longitudinal superior (=arqueado): interliga os lobos frontal, parietal e occipital
Fascículo longitudinal inferior: occipital ao temporal
Fascículo unciforme: frontal ao temporal
Fibras de Associação Inter- Hemisférica
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A grande maioria das fibras corticais se origina na camada V (piramidal interna) da área
motora onde concentram uma grande população destas células. Entre as principais eferências
corticais destacamos:
a) Originadas no tálamo. São as principais projeções que chegam ao córtex cerebral através da
radiação talâmica (coroa radiata). Partem de duas regiões do tálamo:
Núcleos específicos: para a camada granular interna
Núcleos inespecíficos que integram o SARA, projetam-se difusamente para todo o córtex
em todas as camadas, principalmente nas três superficiais.
b) Extra-talâmicas. Originam-se da Formação Reticular (Sistema Difuso de Projeção) e radiam-
se amplamente para o córtex. Estas fibras têm funções moduladoras da atividade cortical e
muitas delas também se projetam descendentemente para a medula (veja em capitulo a parte).
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Linguagem
Falar é uma forma bastante peculiar de comunicação da espécie humana. Num simples
discurso falamos 180 palavras em um minuto. A capacidade de expressar a linguagem verbal
está intimamente ligada à capacidade de compreendê-la. Estes dois processos ocorrem em
áreas distintas do SNC. A linguagem é distinta de outras formas de comunicação devido ao seu
processo criativo, forma, conteúdo e uso. Particularmente, não se trata apenas de uma forma de
expressar-se socialmente sobre os fatos objetivos, mas ela nos capacita expressar a organização
da nossa experiência sensorial, identidade individual, pensamentos, sentimentos e expectativas.
A linguagem é uma capacidade inata, mas para usá-la precisamos aprendê-la. O balbucio
dos bebês expressa os rudimentos da linguagem e corresponde a etapa em que estão tentando
imitar ou aprender a linguagem. A nossa forma de comunicação por meio da linguagem falada é
única em sua capacidade de simbolizar o pensamento. Ao produzirmos os sons da fala
(comunicação oral) a sua compreensão se dará pela audição e ao comunicarmo-nos através de
gestos ou pela escrita, seremos compreendidos pela visão. Se a comunicação ocorre por meio do
Braille então a compreensão será por via somestésica.
A espécie humana já acumulou cerca de 10.000 idiomas e dialetos!! Obviamente todas
elas usam a comunicação verbal, mas são poucos os que possuem o correspondente escrito.
Neurobiologia da linguagem
O estabelecimento da comunicação
através da linguagem envolve processos de
expressão e compreensão. Quando expressamo-
nos através da fala a compreensão se dará
naturalmente pela audição (ou leitura labial).
Durante a fala são produzidos sons vocais numa
seqüência rápida pelo aparelho fonador. Nesse
processo os fonemas são associados e
transformados em palavras (significado das
coisas), estas em frases (identificação ações dos
sujeitos no tempo e espaço).
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Historia em francês
AFASIAS
Veja um caso de distúrbios da fala: esse paciente está tentado contar ao médico porque
veio parar no hospital: Ah..Segunda feira...ah...Papai e Paulo..e..papai...hospital.
Dois...ah...médicos..., e ah...meia hora..e sim..ah...hospital. Nota-se o truncamento das idéias e as
pausas entre as palavras emitidas.
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Além disso, precisamos esclarecer que existem desordens motoras relacionadas com os
órgãos fonadores como as dificuldades na articulação da fala (disartria) ou distúrbio de
vocalização (disfonia). Nestes casos, o paciente compreende perfeitamente a linguagem e se
tratado, poderá expressar-se adequadamente, pois a área motora associativa não está
comprometida.
Quando o hemisfério esquerdo é o dominante, os desempenhos de raciocínio lógico como
os algébricos, também parecem ser mais bem desempenhados por este lado, enquanto o outro
seria responsável pelos processos geométricos. Adicionalmente, o hemisfério direito está mais
bem associado com as habilidades criativas, auditivas e visuais, reconhecimento de fisionomias,
percepção espacial, processos intuitivos e emocionais.
Kana: (fonético)
Nas pessoas destras, em 95%, a área cortical relacionada com a linguagem situa-se no
hemisfério esquerdo e convencionou-se que este é o hemisfério cerebral funcionalmente
dominante. Isso significa que os dois hemisférios devem ser morfológica e funcionalmente
assimétricos. De fato, ao nascimento, o plano temporal direito é maior do que o esquerdo e
durante o desenvolvimento a dominância hemisférica se manifesta quando a criança começa a
falar. Assim, somos programados inatamente para falar, mas em que língua, vai depender da
experiência, ou seja, de aprendizagem.
Doenças Degenerativas
Uma das grandes preocupações é o fato da população humana tornar-se mais longeva e, ao
mesmo tempo, viver com a qualidade de vida reduzida por conta das doenças degenerativas.
A Faculdade de Medicina da USP possui o maior acervo de cérebros do mundo. Segundo Saldiva,
os sinais de demência são muito raros em indivíduos abaixo de 50 anos, mas se
acentuam exponencialmente com a idade, até que acima dos 80 anos a taxa de
demência chega a 40% da população. Além de pesquisar sobre a doença de
Alzheimer, há interesses na investigação sobre a neurobiologia da agressão.
(http://www.fm.usp.br/pec/Jornal_da_USP_4abril2005.htm)