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Resumo de Fisiologia

GASTROINTESTINAL
Danilo Fernando – MED UFRGS

Resumo baseado nos livros Fisiologia – Berne & Levy 5ªEd, Fisiologia – Berne & Levy 6ªEd, Fisio-
logia Gastrintestinal – Kim E. Barrett, Tratado de Fisiologia Médica 12ªEd – Guyton, Fisiologia
Humana 13ªEd – Vander, Fisiologia Médica 2ªEd, Walter Boron, Fisiologia 4ªEd – Margarida Fisi-
ologia 6ªEd – Linda Constanzo, Fisiologia Humana Uma Abordagem Integrada 6ªEd – Dee Un-
glaub Silverthorn e Princípios de Anatomia e Fisiologia 12ªEd – Tortora
1 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 1
2 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 2

Sumário
Visão Geral do Sistema Digestório ...................................................................................................................... 4
Organização Anatômica e Função Geral do Trato Gastrointestinal ................................................................ 5
Estrutura Básica da Parede Gastrointestinal ................................................................................................... 7
Camada Mucosa .......................................................................................................................................... 7
Camada Submucosa .................................................................................................................................... 7
Camada Muscular e Serosa ......................................................................................................................... 8
Mecanismos Reguladores do Trato Gastrointestinal .................................................................................... 11
Regulação Endócrina ................................................................................................................................. 12
Regulação Parácrina .................................................................................................................................. 15
Regulação Neural....................................................................................................................................... 16
Sistema Estomatognático .................................................................................................................................. 20
Sucção............................................................................................................................................................ 20
Mastigação .................................................................................................................................................... 20
Dentes........................................................................................................................................................ 22
Secreção Salivar ......................................................................................................................................... 23
Motilidade do Trato Gastrointestinal ................................................................................................................ 28
Deglutição ..................................................................................................................................................... 28
Fase Oral (ou Voluntária)........................................................................................................................... 29
Fase Faríngea ............................................................................................................................................. 29
Fase Esofágica ............................................................................................................................................ 29
Motilidade Gástrica ....................................................................................................................................... 34
Anatomia Funcional do Estômago ............................................................................................................. 34
Características da Motilidade Gástrica ...................................................................................................... 35
Motilidade do Intestino Delgado ................................................................................................................... 42
Anatomia Funcional do Intestino Delgado ................................................................................................ 42
Motilidade do Intestino Delgado ............................................................................................................... 43
Motilidade do Intestino Grosso (Colo) .......................................................................................................... 45
Anatomia Funcional do Intestino Grosso .................................................................................................. 45
Motilidade do Intestino Grosso ................................................................................................................. 46
Defecação .................................................................................................................................................. 47
Secreções do Trato GastroIntestinal ................................................................................................................. 50
Secreção Gástrica .......................................................................................................................................... 50
Visão Geral................................................................................................................................................. 50
Secreção de Ácido ..................................................................................................................................... 53
Secreção de Pepsinogênio ......................................................................................................................... 56
3 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 3

Secreção de Fator Intrínseco ..................................................................................................................... 57


Secreção de Muco e de Bicarbonato ......................................................................................................... 58
Secreção Pancreática..................................................................................................................................... 59
Visão Geral................................................................................................................................................. 59
Regulação da Secreção do Suco Pancreático ............................................................................................ 63
Secreção Biliar ............................................................................................................................................... 64
Visão Geral – Anatomia Funcional do Fígado e Considerações Estruturais .............................................. 64
Formação e Secreção da Bile ..................................................................................................................... 67
Concentração de Bile e Armazenamento na Vesícula Biliar ...................................................................... 71
Secreções Intestinais ..................................................................................................................................... 72
Digestão e Absorção ao Longo do Trato Gastrointestinal ................................................................................. 73
Carboidratos .................................................................................................................................................. 75
Carboidratos na Dieta ................................................................................................................................ 75
Digestão de Carboidratos .......................................................................................................................... 76
Absorção de Carboidratos ......................................................................................................................... 78
Proteínas........................................................................................................................................................ 79
Digestão de Proteínas................................................................................................................................ 79
Absorção de Proteínas............................................................................................................................... 80
Digestão e Absorção de Lipídeos ................................................................................................................... 82
Digestão dos Lipídeos no Estômago .......................................................................................................... 82
Digestão de Lipídeos no Duodeno e Jejuno .............................................................................................. 82
Absorção dos Produtos da Digestão dos Lipídeos ..................................................................................... 85
Esteatorreia ............................................................................................................................................... 87
4 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 4

Visão Geral do Sistema Digestório


• Dois grupos de órgãos compõem o sistema digestório (observe a imagem abaixo):
a) Trato gastrointestinal (TGI).
 Tubo contínuo que se estende da boca até o
anus – Possui aproximadamente de 5 a 7 metros
de comprimento;
 Composto pela boca, grande parte da faringe,
esôfago, estômago, intestino delgado e intestino
grosso.
b) Órgãos acessórios da digestão.
 Composto por dentes, língua, glândulas sali-
vares, fígado, vesícula biliar e pâncreas.

• O sistema digestório, de uma forma geral, rea-


liza seis processos básicos:
a) Ingestão: Compreende a introdução de ali-
mentos e líquidos na boca (comer).
b) Secreção: Processo pelo qual as glândulas as-
sociadas ao trato gastrointestinal secretam água
e substâncias para dentro do trato.
 Células no interior das paredes do TGI e dos
órgãos acessórios da digestão secretam um total
de aproximadamente 7 litros de água, ácidos, tam-
pões e enzimas no lúmen do trato.
c) Mistura e propulsão: Contração e o relaxa-
mento alternados do músculo liso nas paredes do
trato GI misturam o alimento e as secreções, em-
purrando-os em direção ao ânus.
 Essa capacidade do trato GI de misturar e mo-
ver material ao longo de sua extensão é denomi-
nada motilidade.
d) Digestão: Processos químicos e mecânicos de-
compõem o alimento ingerido em partículas me-
nores.
e) Absorção: Processo pelo qual as moléculas nu-
trientes são absorvidas pelas células que revestem
o trato gastrointestinal e penetram na corrente
sanguínea.

* Importante: Para manter a homeostase, o vo-


lume de líquido que entra no lúmen do TGI por in-
gestão ou secreção deve ser igual ao volume
que deixa o lúmen (conforme a imagem acima).
5 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 5

Organização Anatômica e Função Geral do Trato Gastrointestinal


• O trato gastrointestinal (TGI) consiste em uma série de segmentos ocos que se estendem da boca
ao ânus e em várias glândulas acessórias e órgãos que adicionam secreções a eles.
 Cada um desses segmentos é separado uns dos outros por estrutura especializada denominada
de esfíncteres (imagem abaixo).

• Boca e orofaringe: São responsáveis por triturar o alimento em pequenas porções, lubrificar e ini-
ciar a digestão de carboidratos e gordura e impulsionar o alimento para o esôfago.
• Esôfago: Atua como um canal condutor para o estômago.
• Estômago: Armazena temporariamente o alimento e também inicia a digestão através da mistura
aos produtos de sua secreção (proteases e ácido).
• Intestino delgado: Continua o processo de digestão, sendo o principal local para a absorção dos
nutrientes.
• Intestino grosso: Reabsorve fluidos e eletrólitos e também armazena o material fecal antes de
sua expulsão do corpo.
• Glândulas acessórias e órgãos: Incluem glândulas salivares, pâncreas e fígado.
 Glândulas salivares: Secreta enzimas digestivas (amilase e lipase), atua na lubrificação do ali-
mento e também protege o organismo através de imunoglobulinas.
 Pâncreas: Secreta enzimas digestivas no duodeno, além de secretar HCO3- para neutralizar o
ácido gástrico.
 Fígado: Secreta a bile, que é estocada na vesícula biliar para posteriormente ser liberada no du-
odeno após uma refeição.
- Bile: Contém ácidos biliares que desempenham um importante papel na digestão de gorduras.
6 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 6

• Observe na imagem abaixo as principais funções dos órgãos gastrointestinais.


7 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 7

Estrutura Básica da Parede Gastrointestinal


• Anatomia da parede do TGI varia ao longo do seu comprimento, porém há uma organização ca-
racterística que é comum a todos os segmentos.
 Formado pelas camadas da mucosa, submucosa, muscular e serosa (observe a imagem a seguir)
• O epitélio do TGI é monoestratificado e heterocelular – Apresenta vários tipos celulares cujos nú-
meros e funções variam conforme as suas localizações ao longo do TGI.

Camada Mucosa
• Camada mais interna do trato gastrointestinal.
• Camada composta por:
a) Epitélio: Formado por uma camada celular contínua.
 Epitélio colunar possui tight junctions (junções oclusivas) e a superfície do epitélio pode ser for-
mado por vilosidades (aumenta a área da mucosa) ou criptas (invaginações do epitélio).
 Epitélio é renovado constantemente pelas células-tronco intestinais situadas na cripta.

* Importante: As invaginações do epitélio, no intestino, são denominadas criptas; e no estômago,


glândulas gástricas.
* Curiosidade: Rápida renovação e taxa de divisão no TGI torna esses órgãos suscetíveis ao desen-
volvimento de cânceres.

b) Lâmina própria: Formada por tecido conjuntivo subepitelial – Mantém o epitélio no lugar
 Pode conter linfonodos (importante devido a exposição a patógenos).

c) Muscular da mucosa: Camada fina de músculo liso mais interna do intestino.


- Altera a disposição das vilosidades  Otimiza o contato com as substâncias.

Camada Submucosa
• Região onde encontra-se os troncos nervosos, os vasos sanguíneos e os vasos linfáticos de maior
calibre, além do plexo submucoso.
 Plexo submucoso (de Meissner): Situado entre a camada submucosa e a muscular circular.
- Inerva as células da camada epitelial, bem como o músculo liso da camada muscular da mucosa.
8 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 8

A leitura do adendo a seguir é opcional.


Camada Muscular e Serosa Ele foi feito com o objetivo de facilitar a com-
• Camada muscular é composta por músculo liso. preensão a respeito do músculo liso do TGI.
 Possui duas camadas de células musculares lisas: Continuação do assunto na página 10. 

a) Camada circular: Diminui o diâmetro do lúmen – Atua na fragmentação do conteúdo luminal.


b) Camada longitudinal: Encurta o tubo – Impulsiona o conteúdo do lúmen.
* O estômago possui uma terceira camada incompleta de músculo oblíquo entre a camada muscu-
lar circular e a submucosa.
 Plexo de Auerbach (plexo mioentérico): Localizado entre as camadas circular e longitudinal.
- Controla e coordena a atividade motora da camada muscular externa.

• Serosa: Cobertura mais externa que consiste em camada de células mesoteliais escamosas.

Músculo Liso – Adendo*


• Músculo liso: Encontrado principalmente nas paredes
dos tubos e dos órgãos ocos (com cavidade), sua contra-
ção e relaxamento ocorrem de forma muito mais lenta do
que nos músculos esquelético e cardíaco (conforme o grá-
fico ao lado).
 Utiliza menos energia para gerar uma determinada
quantidade de força e pode mantê-la por longos períodos.
- Mantém contrações por longos períodos sem entrar em
fadiga.

• Estrutura do músculo liso: Compostos de células pequenas, fusiformes e com apenas um núcleo.
 Apresenta filamentos de actina e de miosina mais longos.
 ATPase da miosina é mais lenta – Diminui a reciclagem das pontes
cruzadas e aumenta o tempo de contração.
 Tem menos retículo sarcoplasmático (RS) – Principal canal de libe-
ração de Ca2+ é o canal acoplado ao receptor de IP3.
- Cavéolas (vesículas agrupadas perto da membrana plasmática) aju-
dam a armazenar cálcio – Estão próximas ao RS (imagem ao lado).
 Tem filamentos espessos e delgados que não estão dispostos em
sarcômeros; por isso, aparecem homogêneos e não estriados.
- Não há estrias Z, mas os corpos densos no citoplasma são ligados
pela α-actinina aos filamentos de actina.

• Tipos de músculo liso: Unitário e multiunitário (observe a imagem a seguir).


 Músculo liso multiunitário: Cada fibra opera independentemente das outras – São isoladas
umas das outras por uma membrana composta de colágeno e glicoproteínas.
- Cada fibra se contrai de modo independente.
- É densamente inervado – A contração é controlada por inervação neural (p.e. sistema nervoso au-
tônomo).
- Está presente na íris, no músculo ciliar do cristalino, nos músculos piloeretores e no canal defe-
rente.
9 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 9

 Músculo liso unitário: É o tipo mais comum e ocorre


no útero, no trato gastrointestinal, no ureter, na be-
xiga e em muitos vasos sanguíneos.
- Centenas a milhares de fibras musculares lisas con-
traem simultaneamente, como uma só unidade, devido
as fibras dispostas em feixes e suas membranas aderi-
das entre si em múltiplos pontos.
∟ Gap junctions permitem a propagação de potenciais
de ação entre as células e a troca de íons.

• Contração do músculo liso: Inicia-se com a sinaliza-


ção de Ca2+ – Ca2+ proveniente do LEC e do RS.
(observe a imagem abaixo para compreender a contração e o relaxamento do musculo liso).
10 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 10

 Músculo liso NÃO tem troponina  Sinal de Ca2+ inicia uma cascata que termina com a fosforila-
ção da miosina.
- Depende da calmodulina (proteína ligante encontrada no citosol – Possui capacidade para 4Ca2+)
– Estimula a cinase da cabeça leve da miosina (MLCK), desencadeando na ativação da cinase que
↑Atividade da ATPase da miosina  Leva a força muscular.

• Relaxamento do músculo liso: Ocorre com a retirada do Ca2+ do citosol pela bomba SERCA para o
RS e pelo antiporte Na+/Ca2+ e outra bomba de cálcio para o LEC.
 Retirada de Ca2+ leva a inativação da cinase  Desencadeia na ativação da fosfatase da miosina
 Desfosforilação da cadeia leve da miosina  ↓Força (*).

(*) Curiosamente, a desfosforilação da miosina não resulta automaticamente no relaxamento. Ela


pode permanecer ligada à actina por um período denominado “estado de tranca (ou trava)”
 Mantém a tensão da fibra muscular SEM consumir ATP.
 Capacidade do músculo liso de sustentar a contração
sem entrar em fadiga.

• Inervação do músculo liso se dá pela varicosidade do


neurônio autônomo (conforme a imagem ao lado).
 Liberação de N.T no músculo liso leva à propagação
do potencial de ação.
 Ancoragem dos músculos lisos pelos corpos densos
leva a contração conjunta dos músculos.

Músculo Liso do Gastrointestinal


• Músculo liso do gastrointestinal funciona como um sincício – É do tipo unitário.
 Feixes musculares (longitudinais e circulares) possuem fibras musculares que se conectam eletri-
camente através de junções comunicantes.
 Possibilita a rápida transmissão de sinais elétricos.

• Músculo liso do trato gastrointestinal é excitado por ativi-


dade elétrica intrínseca, contínua e lenta, nas membranas
das fibras musculares.
 Atividade elétrica dividida em ondas lentas e potenciais
em ponta (conforme a imagem ao lado).

• Ondas lentas: São variações lentas e ondulantes do potencial de repouso da membrana.


 Intensidade varia entre 5 a 15mV e a frequência varia nas diferentes partes do TGI.
 Células intersticiais de Cajal: Atuam como marca-passos elétricos das células do músculo liso e
formam as ondas lentas (também chamadas de ritmo elétrico básico – REB).
- Passam por mudanças cíclicas devido a canais iônicos específicos que, periodicamente, se abrem,
permitindo correntes de influxo (marca-passo) que, assim, pode gerar atividade de onda lenta.
 Dependem de sinalização para aumentar a força de contração do músculo liso.
- Ondas lentas não estão associadas à entrada de Ca2+ na fibra do músculo liso (somente Na+).
11 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 11

* Importante: Ondas lentas não são potenciais de ação!

• Potenciais em ponta: São os verdadeiros potenciais de ação – Geram contrações.


 Ocorrem automaticamente quando atingem o limiar para a contração.
 Quanto maior o potencial da onda lenta, maior a frequência dos potenciais em ponta.
- Ultrapassa o limiar elétrico (conforme a imagem abaixo).
 Durante os potenciais em ponta ocorre entrada significativa de Ca2+  Contração muscular.

• Além das ondas lentas e dos potenciais em ponta, o nível basal de voltagem do potencial de re-
pouso da membrana do músculo liso também pode variar.
 Despolarização da membrana: Fibras musculares ficam mais excitáveis – Potencial fica menos
negativo.
 Hiperpolarização da membrana: Fibras musculares ficam menos excitáveis – Potencial fica mais
negativo.

Mecanismos Reguladores do Trato Gastrointestinal


• As funções do trato gastrointestinal são reguladas e coordenadas pelos hormônios, agonistas pa-
rácrinos e neurônios.
• A regulação é classificada como endócrina, parácrina e neurócrina (conforme a imagem abaixo).
 Grande parte da regulação hormonal e neural das funções gastrointestinais é intrínseca do TGI.
- Regulação intrínseca: Células que regulam e as células que respondem a regulação encontram-se
no trato gastrointestinal.
- Regulação extrínseca: Mediada pelas células endócrinas que estão localizadas fora do TGI e pelos
neurônios cujos corpos celulares estão localizados no SNC ou nos gânglios simpáticos pré-vertebrais
e paravertebrais.

* Importante: Esses mecanismos permitem um controle sutil e preciso das funções gastrointestinais
(observe na tabela a seguir os principais hormônios peptídicos gastrointestinais)
12 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 12

Regulação Endócrina
• Hormônios: Produzidos pelas células endócrinas e liberados na corrente sanguínea para atingir as
células-alvo via circulação.
• Processo por meio do qual a célula sensora do TGI, a célula enteroendócrina, responde a um estí-
mulo secretando um peptídeo ou hormônio regulador que viaja pela corrente sanguínea até célu-
las-alvo situadas em um local distante de onde ocorreu a secreção.
 As células enteroendócrinas estão repletas de grânulos de secreção, cujos produtos são secreta-
dos pelas células em resposta a estímulos químicos e mecânicos que atingem a parede do TGI.
- Também podem ser estimuladas por impulsos neurais ou por outros fatores não associados à re-
feição.
13 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 13

Gastrina
• Liberada por células endócrinas localizadas na parede da parte distal do estômago.
• Contém 17 aminoácidos (“gastrina pequena”) – É a forma secretada em resposta a uma refeição.
 Toda a atividade biológica da gastrina reside nos quatro aminoácidos C-terminais.
• “Gastrina grande” contém 34 aminoácidos, embora não seja um dímero da gastrina pequena.

• Ações da gastrina:
a) Aumenta a secreção de H+ pelas células parietais gástricas;
b) Estimula o crescimento da mucosa gástrica por meio da estimulação da síntese de RNA e de no-
vas proteínas;
 Os pacientes com tumores secretores de gastrina apresentam hipertrofia e hiperplasia da mu-
cosa gástrica.

• Estímulos para a secreção de gastrina: Secretada pelas células G do antro gástrico em resposta a
uma refeição – É secretada em resposta aos seguintes estímulos:
a) Pequenos peptídeos e aminoácidos no lúmen do estômago – Os estímulos mais potentes para
secreção de gastrina são a fenilalanina e o triptofano;
b) Distensão do estômago;
c) Estimulação vagal, mediada pelo peptídeo liberador de gastrina (GRP, do inglês gastrin-releasing
peptide);
 A atropina (fármaco inibidor de acetilcolina) não bloqueia a secreção de gastrina mediada pelo
vago, visto que o mediador do efeito vagal é o GRP, e não a acetilcolina (ACh).

• Inibição da secreção de gastrina: H+ no lúmen estomacal inibe a liberação de gastrina – Esse con-
trole por retroalimentação negativa assegura a inibição da secreção de gastrina se o conteúdo gás-
trico for suficientemente acidificado.
 Somatostatina também inibe a liberação de gastrina.

• Síndrome de Zollinger-Ellison (gastrinoma): Ocorre quando a gastrina é secretada por tumores


do pâncreas que não sejam das células β.

Colecistoquinina (CCK)
• Colecistoquinina contém 33 aminoácidos.
 É homóloga a gastrina – Os cinco aminoácidos C-terminais são os mesmos na CCK e na gastrina.
 A atividade biológica da CCK reside no heptapeptídio C-terminal.
- O heptapeptídio contém a sequência homóloga à gastrina e tem atividade de gastrina, bem como
de CCK.

• Ações da CCK:
a) Estimula a contração da vesícula biliar e, simultaneamente, causa relaxamento do esfíncter de
Oddi para a secreção de bile;
b) Estimula a secreção das enzimas pancreáticas;
c) Potencializa a estimulação da secreção pancreática de HCO3- induzida pela secretina;
d) Estimula o crescimento do pâncreas exócrino;
14 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 14

e) Inibe o esvaziamento gástrico.


 Refeições com gordura estimulam a secreção de CCK, o que retarda o esvaziamento gástrico,
proporcionando mais tempo para a digestão e a absorção intestinais.

• Estímulos para a liberação de CCK: Liberada pelas células I da mucosa duodenal e jejunal por:
a) Pequenos peptídios e aminoácidos;
b) Ácidos graxos e monoglicerídios;
 Os triglicerídios não estimulam a liberação de CCK porque não conseguem atravessar as mem-
branas celulares intestinais.

Secretina
• Secretina contém 27 aminoácidos.
 É homóloga ao glucagon; 14 dos 27 aminoácidos da secretina são os mesmos do glucagon.
- Todos os aminoácidos são necessários para a atividade biológica.

• Ações da secretina: São coordenadas para reduzir a quantidade de H+ no lúmen do intestino del-
gado.
a) Estimula a secreção pancreática do HCO3- e aumenta o crescimento do pâncreas exócrino.
 O HCO3- pancreático neutraliza o H+ no lúmen intestinal;
b) Estimula a secreção de HCO3- e de H2O pelo fígado e aumenta a produção de bile;
c) Inibe a secreção de H+ pelas células parietais gástricas.

• Estímulos para a liberação de secretina: Liberada pelas células S do duodeno em resposta à pre-
sença de:
a) H+ no lúmen do duodeno;
b) Ácidos graxos no lúmen do duodeno.

Peptídeo Inibidor Gástrico (GIP)


• Peptídeo inibidor gástrico (GIP), também conhecido como peptídeo insulinotrópico dependente
de glicose – Contém 42 aminoácidos.
 É homólogo à secretina e ao glucagon.

• Ações do GIP:
a) Estimula a liberação de insulina.
 Na presença de uma carga de glicose oral, o GIP causa a liberação de insulina do pâncreas.
- Glicose oral é mais efetiva do que a glicose intravenosa para induzir a liberação de insulina e, por-
tanto, a utilização da glicose.
b) Inibe a secreção de H+ pelas células parietais gástricas.

• Estímulos para a liberação de GIP: Liberado pelas células K do duodeno e pelo jejuno.
 O GIP é o único hormônio GI liberado em resposta aos lipídios, proteínas e carboidratos.
 Secreção do GIP é estimulada por ácidos graxos, aminoácidos e pela administração oral de gli-
cose.
15 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 15

Motilina
• Motilina é secretado pelas células M do duodeno e jejuno.
 Aumenta a motilidade do sistema GI e está envolvida com o complexo motor migratório (CMM).

Polipeptídeo Pancreático
• Polipeptídeo pancreático é secretado pelas células PP do pâncreas endócrino.
 Inibe as secreções pancreáticas;
 GLP-1 liga-se às células β pancreáticas e estimula a secreção de insulina;
- Substâncias análogas ao GLP-1 podem ser úteis no tratamento de diabetes melito tipo 2.

Regulação Parácrina
• Substâncias parácrinas regulam as funções secretórias e motoras do TGI.
• As principais substâncias parácrinas gastrointestinais são a somatostatina e a histamina.
• Existem outros mediadores parácrinos na parede do intestino, entre eles prostaglandinas, a ade-
nosina e o óxido nítrico (NO).
 Funções não são bem-conhecidas, porém produzem alterações no TGI.

* Importante: Agonistas parácrinos são liberados pelas célu-


las do sistema imune gastrointestinal (denominado GALT –
Gut associated lymphoid tissue) – Representado por agrega-
dos de tecido linfoide (p.e., placas de Peyer) e uma popula-
ção difusa de células imunológicas que liberam histamina,
prostaglandinas, citocininas, imunoglobulinas etc.
∟ Observe na imagem ao lado a lâmina própria com GALT.
 Secreta anticorpos em resposta a antígenos alimentares
específicos e monta uma defesa imunológica contra muitos
microrganismos patogênicos.
 Há liberação de mediadores inflamatórios que se difundem para as células secretórias e muscu-
lares lisas do trato gastrointestinal.

Somatostatina
• É secretada por células G em todo o sistema GI, em resposta à presença de H+ no lúmen.
 Sua secreção é inibida pela estimulação vagal Inibe a liberação de todos os hormônios GI;
 Inibe a secreção gástrica de H+.
 Também age como parácrino sobre as ilhotas pancreáticas.
- Inibe a secreção de insulina e glucagon.
 De modo geral, a somatostatina inibe a liberação de todos os hormônios peptídicos.

Histamina
• É secretada por mastócitos da mucosa gástrica.
 Aumenta a secreção gástrica de H+ diretamente e ao potencializar os efeitos da gastrina e da es-
timulação vagal.
16 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 16

Regulação Neural
• Possui dois tipos de inervação: Sistema nervoso extrínseco (sistema nervoso autônomo – paras-
simpático e simpático) e intrínseco (sistema nervoso entérico – SNE).
 Na maioria dos casos, os nervos autonômicos influenciam nas funções do TGI modulando as ati-
vidades dos neurônios do sistema nervoso entérico (observe a imagem abaixo).

• Libera diversos neurotransmissores e neuromoduladores do TGI (Observe a tabela abaixo).


17 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 17

Sistema Nervoso Extrínseco


• Inervação parassimpática: Composta pelos nervos vago
e pélvicos (conforme a imagem ao lado).
 Estimulação parassimpática aumenta a atividade do
sistema nervoso entérico (SNE).
- Geralmente estimula as atividades motoras e secretó-
rias do TGI.
 Nervo vago (NC X): Inervação do esôfago, estômago,
vesícula biliar, pâncreas, primeira parte do intestino, ceco
e a parte proximal do cólon.
 Nervos pélvicos: Inervação da parte distal do cólon e
da região anorretal.
- Lesão do nervo leva a perda do reflexo de defecação.
 Parassimpático não inerva diretamente os neurônios
efetores na parede do intestino – Transmissão nervosa parassimpática ocorre SEMPRE por meio de
neurônio do SNE (conforme a imagem da página anterior).

* Importante: Fibras parassimpáticas são pré-ganglionares e predominantemente colinérgicas.

• Inervação simpática: Composta por corpos celulares


situados na medula espinhal e fibras nervosas que ter-
minam nos gânglios pré-vertebrais (gânglios celíaco,
mesentérico superior e inferior) (imagem ao lado).
 Fibras acompanham os principais vasos sanguíneos
e seus ramos.
 Estimulação simpática, em geral, inibe a atividade
motora e secretória do TGI.

*Importante: Diferentemente do parassimpático, o


simpático possui fibras que inervam diretamente os
vasos sanguíneos do trato digestório – Atua como
regulador do tônus dos vasos (constrição/dilatação).

• Inervação extrínseca tem influência sobre as funções motoras e secretórias do TGI.

• Simpático e parassimpático também possuem vias aferentes (em direção ao SNC).


 SNC recebe informações sobre o conteúdo luminal (acidez, concentração de nutrientes, osmola-
ridade, grau de estiramento/contração do músculo liso).
 Transmissão de estímulos dolorosos ao SNC.

* Importante: Neurotransmissores liberados pelas terminações nervosas do SNC e SNE.


∟ Acetilcolina, polipeptídeo intestinal vasoativo (VIP), substância P, óxido nítrico (NO), colecisto-
quinina (CCK), 5-hidroxitriptamina (serotonina), somatostatina.
18 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 18

Inervação Neural Intrínseca


• Sistema nervoso entérico (SNE): Sistema nervoso próprio do TGI localizado inteiramente na pa-
rede intestinal – Começando no esôfago e se estendendo até o ânus.
 Possui cerca de 100 milhões de neurônios e é formado, basicamente, por dois plexos – Plexo
mioentérico (ou de Auerbach) e plexo submucoso (ou de Meissner) (conforme a imagem abaixo).
- São redes de fibras nervosas e corpos celulares ganglionares.
- Os interneurônios nos plexos conectam as fibras sensoriais aferentes com os neurônios eferentes
para as células musculares lisas e as células secretórias – Formam arcos reflexos que estão comple-
tamente localizados dentro da parede do TGI.
∟Plexos mioentérico e submucoso podem coordenar a atividade na ausência de uma inervação ex-
trínseca do TGI – SNE possui relativa autonomia em relação ao SNA.
 Grande parte da regulação das atividades gastrointestinais pode ser efetuada pelo SNE, indepen-
dentemente do estímulo simpático ou parassimpático.

a) Plexo mioentérico (ou plexo de Auerbach): Plexo externo localizado entre as camadas muscula-
res longitudinal e circular.
- Controla quase todos os movimentos gastrointestinais, ou seja, a motilidade.
b) Plexo submucoso (ou plexo de Meissner): Plexo interno localizado na submucosa.
- Controla, basicamente, a secreção gastrointestinal e o fluxo sanguíneo local.

• Fibras extrínsecas simpáticas e parassimpáticas se conectam com o plexo mioentérico e com o


submucoso (conforme a imagem ao lado)
 Estimulação do SNA pode intensificar
ou inibir as funções gastrointestinais.
• Terminações nervosas sensoriais que se
originam no epitélio gastrointestinal ou
na parede intestinal enviam fibras afe-
rentes para os dois plexos do SNE.
 Podem provocar reflexos locais (na
própria parede intestinal) e, ainda, outros
reflexos que são transmitidos ao intes-
tino pelos gânglios pré-vertebrais e das
regiões basais do cérebro.
19 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 19

Substâncias Neuromoduladoras
• A maior parte dos neurotransmissores e substâncias neuromoduladoras que funcionam no sis-
tema nervoso central também funciona no trato gastrointestinal.

• Função dos neurônios entéricos:


a) Neurônios mioentéricos: Maioria dos neurônios nos gânglios mioentéricos são neurônios moto-
res – Incluem tanto os neurônios excitatórios quanto os inibitórios.
∟ Esses neurônios emitem projeções para as células musculares lisas da muscular externa.
 Neurônios motores excitatórios: Liberam acetilcolina (ACh) e substância P.
- Promovem a contração do músculo liso.
 Neurônios motores inibitórios: Liberam polipeptídeo intestinal vasoativo (VIP) e óxido nítrico.
- Inibem a contração, ou seja, promovem o relaxamento do músculo liso.

* Importante¹: Existe uma interação positiva entre o VIP e o NO.


- NO produzido nos terminais nervosos promove a liberação de VIP;
- VIP liga-se a receptores nas células dos músculos lisos que são acoplados a NOs (NO sintase);
∟ NO produzido pelas células do músculo liso promove mais liberação de VIP.

* Importante²: ATP também é um transmissor inibitório em alguns locais.

b) Neurônios submucosos: Maioria dos neurônios nos gânglios submucosos regula a secreção glan-
dular, endócrina e das células epiteliais.
 Neurônios estimuladores da secreção e da motilidade: Liberam acetilcolina (ACh) e VIP nas cé-
lulas glandulares ou células epiteliais.
 Também possuem neurônios sensoriais – Há liberação de serotonina (5-HT), pelas células ente-
rocromafins (EC), em resposta a estímulos mecânicos ou químicos, que estimula os neurônios sen-
soriais.

c) Reflexos intrínsecos: Todos os componentes de um reflexo intrínseco estão localizados na pa-


rede do trato gastrointestinal – Controlam as atividades motoras e secretoras de cada segmento.
 Um reflexo intrínseco bem caracterizado é mostrado na imagem abaixo – A estimulação mecâ-
nica ou química localizada na mucosa intestinal desencadeia contrações acima (oral) e relaxamento
abaixo (anal) do ponto de estimulação.
20 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 20

Sistema Estomatognático
• Sistema Estomatognático: Compreende uma região anatomo funcional que engloba estruturas
da cabeça, face e pescoço e que compreende estruturas ósseas, dentárias, musculares, glandulares,
nervosas e articulares, envolvidas com a função da cavidade oral.
 Composto por sucção, mastigação, deglutição, respiração e fonação.
Compõe o sistema digestório.
* Importante: Mastigação sem a adição de enzimas digestivas não compõe o sistema digestório!

Sucção
• É uma função estomatognática inata do ser humano e de extrema importância para o seu desen-
volvimento – Exerce papel fundamental no suprimento das necessidades nutricionais do bebê nos
primeiros meses de vida.
• Sucção em neonatos até ±4º mês de vida é um reflexo de alimentação, rítmico e simples, sob con-
trole de medula e ponte – Após esse período torna-se uma ação voluntária.
 Sucção se dá na inspiração, por intermédio do tórax, no intervalo compreendido entre cada duas
respirações.
 Envolve e colabora no desenvolvimento de vários grupos musculares e parte óssea da região
oral, favorecendo o equilíbrio entre essas estruturas.
 Durante a execução da sucção, o bucinador é o músculo que apresenta maior atividade elétrica.

Mastigação
• Apesar da mastigação ser algumas vezes um comportamento voluntário, ela é mais frequente-
mente um comportamento reflexo.
• Funções da mastigação: Triturar mecanicamente, lubrificar o alimento e misturá-lo.
 Diminui o tamanho das partículas – Facilita a deglutição.
• Possui atuação dos músculos da mastigação, dos dentes e da secreção salivar para desempenhar
as funções mastigatórias.

Sistema Trigeminal: Responsável pela mecanocepção, termocepção e nocicepção.


 Aferências somestésicas atuam sobre a mucosa oral, ⅔ anteriores da língua, parte da dura-
máter, periodonto, polpa dentária e gengiva circundante.

Núcleos do Trigêmeo
 Principal: Mecanorreceptores da face e da cavidade oral (tato e pressão);
 Espinhal: Sensibilidade térmica e dolorosa (ipsilateral ao estímulo);
 Mesencefálico: Propriocepção (único proprioceptivo)  Reflexo da mastigação;
 Motor: Reflexo da mastigação.

• Mastigação é um ato voluntário e involuntário (reflexo).


 Mediada pelos músculos mastigatórios (masseter, pterigoideos lateral e medial, e o temporal).
- São músculos inervados pelo NC V3 (nervo mandibular – terceiro ramo do nervo trigêmeo);
- Realizam abertura, fechamento e oclusão (ato de “apertar” quando a boca já está fechada).
 Mastigação inicia-se como um processo aparentemente voluntário determinado pelo córtex ce-
rebral.
21 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 21

 Alimento na cavidade oral leva ao fechamento inconsciente/reflexo da boca  Há mecanorre-


ceptores localizados na língua, lábios, mucosa palatina e gengival.
- Porção anterior da boca contém maior densidade desses receptores – Diferenciam com elevado
grau de precisão o que está na boca (tamanho, textura, forma) – Essa capacidade de precisão é cha-
mada de estereognosia bucal.
 Reflexo mastigatório: Fechamento da boca estimula os mecanorreceptores e desencadeia em
um aumento de tensão no músculo (detectado pelo órgão tendinoso de Golgi), resultando no esti-
ramento do músculo (detectado pelo reflexo miotático), levando à inibição do músculo antagônico
e a ativação do músculo protagonista, levando à abertura da boca – Contrário também é válido.
Reflexo de estiramento ou miotático: Fuso muscular detecta o estiramento em um determi-
nado músculo, ativando-o, e inibe o músculo antagônico.
Reflexo miotático invertido (órgão tendinoso de Golgi): Detecta a tensão muscular de um de-
terminado músculo, inibindo-o, e ativa o músculo antagônico.

* Na imagem abaixo temos o reflexo de abertura bucal provocado por estimulação do mecanorre-
ceptores mucosos, periodontais e articulares.

* Na imagem abaixo temos o reflexo de fechamento bucal provocado pela distensão da muscula-
tura da mandíbula: a Receptor ânulo-espiral, que produz reflexo miotático e movimentação da
mandíbula (ascenso). b Órgão de Golgi. Nesta fase não há excitação dos pressorreceptores muco-
sos e periodontais, nem dos articulares.
22 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 22

Dentes
• Os dentes são órgãos acessórios da digestão, localizados nos alvéolos dos processos alveolares da
mandíbula e da maxila.
• Os dentes cortam, dilaceram e pulverizam o alimento.
 Alimentos sólidos são reduzidos a partículas menores para facilitar a deglutição.
 Dentes e principais funções:
a) Dentes incisivos: Cortam c) Dentes pré-molares: Trituram
b) Dentes caninos: Laceram d) Dentes molares: Moem

• São divididos na boca em quatro quadrantes


com 8 dentes em cada (Imagem ao lado).
 Quadrante 1: Superior direito
 Quadrante 2: Superior esquerdo
 Quadrante 3: Inferior esquerdo
 Quadrante 4: Inferior direito

• Estrutura do dente (Conforme a imagem ao lado).


 Esmalte: Responsável pela proteção do dente.
- Protege contra o desgaste da mastigação e contra áci-
dos que, facilmente, dissolvem a dentina.
 Dentina: Formada por canalículos preenchidos com
líquido – Ligam o esmalte a região pulpar.
- Dentina, em condições normais, não está exposta.
 Câmara pulpar: Região onde estão os vasos e nervos.
- Vasos sanguíneos conduzem nutrientes, os vasos linfá-
ticos oferecem proteção e os nervos produzem sensibili-
dade do dente.
∟ Tratamento de canal: Desnervação e desvasculariza-
ção da câmara pulpar.

* Importante: Teoria hidrodinâmica da dor – Compressão e descompressão do líquido da dentina


são detectados por nociceptores na câmara pulpar  Dor.

• Inervação dentária: Inervados por porções das divisões maxilar e mandibular do nervo trigêmeo.
 Inervação com fibras do tipo C, Aδ e Aβ;
 Esmalte e dentina são desprovidos de inervação.

* Importante: Sistema trigeminal é responsável pela mecanocepção, termocepção e nocicepção.


 Aferências somestésicas atuam sobre o periodonto, polpa dentária e gengiva circundante.
23 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 23

Secreção Salivar
• A secreção salivar difere das outras secreções do TGI pelas seguintes características:
 Adulto pode produzir em torno de 1000 a 1500ml de saliva por dia;
- Velocidade máxima de produção: 1ml/min/g – Glândulas produzem o seu próprio peso em saliva;
 Glândulas salivares possuem elevado metabolismo e elevado fluxo sanguíneo.
- Proporcionais a velocidade de formação de saliva;
- Em secreção máxima, se comparado a atividade de um músculo esquelético em contração ativa
(com mesma massa que a glândula salivar), o fluxo sanguíneo das glândulas é 10x maior.
 Secreção salivar é regulada, principalmente, pelo sistema nervoso autônomo.
- Estímulo parassimpático aumenta o fluxo sanguíneo (dilata a vasculatura das glândulas).
∟ Ação da acetilcolina (ACh) e do peptídeo intestinal vasoativo (VIP).
 Saliva é levemente alcalina (caso ocorra refluxo gástrico (HCl), pode prevenir lesões no esôfago);
 Saliva final é hipotônica em relação ao plasma.

• Principais funções da secreção salivar:


a) Lubrificação: Através das mucinas e H2O.
 Atua na gustação e auxilia na deglutição e fonação.
b) Digestão: Através da amilase salivar e da lipase lingual.
 Secreção de amilase e lipases em pequena quantidade.
c) Proteção: Através das imunoglobulinas (anticorpos – defesa imunológica), lisozimas (hidrolisa as
membranas externas bacterianas) e lactoferrinas (sequestra ferro – inibe o crescimento de bacté-
rias que necessitam dessa substância).
- pH básico da saliva ajuda a prevenir as cáries dentárias.
d) Tampão: Resulta do pH alcalino da saliva promovido pelo HCO3-
 Protege a mucosa oral contra alimentos ácidos e os dentes contra produtos ácidos da fermenta-
ção bacteriana dos resíduos alimentares alojados entre os dentes.
e) Gustação: Saliva permite que a substância seja identificada pelo quimiorreceptor gustativo.
f) Formação e maturação dos dentes: Saliva possui solutos inorgânicos como Ca2+ e Pi

• Promovida pela glândula submandibular, glândula sublingual e parótida (imagem abaixo).


24 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 24

 Parótida (exclusivamente serosa), glândula sublingual (serosa e mucosa) e glândula submandi-


bular (serosa e mucosa, porém com predomínio seroso) – Conforme os cortes histológicos abaixo.

• Estrutura das glândulas salivares (observe a imagem abaixo – esquerda – glândula salivar mista).
a) Células acinares serosas: Localizadas nas partes terminais serosas (ácinos).
 Possuem grânulos de zimogênio apicais que contêm amilase salivar (imagem abaixo – direita).
b) Células acinares mucosas: Secretam mucinas (glicoproteínas) na saliva.

Ácinos serosos  Secretam constituintes proteicos


Ácinos mucosos  Secretam muco e água

 Ácinos drenam para um sistema de ductos intercalares e intralobulares (estriados), que drenam
para ductos interlobulares e, finalmente, drenam para o interior da cavidade oral.
 Miofibroblastos (células contráteis) contribuem para a força hidrostática  Expele saliva da
glândula – Possibilita o aumento da taxa secreção salivar.
 Produção de saliva por uma glândula salivar começa nas extremidades terminais secretoras.
- Formam um líquido denominado secreção primária.
25 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 25

• Composição iônica da saliva:


 A saliva é sempre hipotônica em relação ao plasma (mesmo em diferentes fluxos).
- Concentrações salivares de Na+ e Cl- são menores do que aquelas do plasma (gráfico abaixo).

 Depende do estímulo e da intensidade do fluxo salivar:


a) Fluxo elevado = Reduz as trocas
- Reduz o tempo da saliva no ducto – Trocas ocorrem com menos efetividade.
- Alteração da composição iônica aproxima a composição salivar próxima à do plasma, porém ainda
permanece hipotônica em relação a ele – 70% da osmolaridade plasmática com fluxo máximo.
b) Fluxo reduzido = Trocas elevadas
- Aumento do tempo da saliva no ducto.
- Saliva mais hipotônica em relação ao plasma.
- Elevados níveis de K+ na saliva.

• Secreção primária: Produzida pelas células acinares


nas partes secretórias finais (ácinos).
 Secreção praticamente isotônica e concentração
de íons principais são similares ao plasma.
- Também há secreção de amilase – Taxa de secreção
depende do nível e o tipo de estimulação.
 Secreção é, predominantemente, sinalizada pelo
Ca2+ que abre os canais de Cl- nos canais da membrana
apical das células acinares.
∟ Cl- flui para o lúmen e estabelece o gradiente osmótico e elétrico  Contribui para o transporte
paracelular, pelas junções celulares, de H2O e Na+ (epitélio acinar é relativamente permeável).
∟Também pode haver transporte transcelular de H2O  Canais AQP.
• Secreção secundária: Modifica a saliva quando ela passa pelas células do ducto excretório e pelas
células do ducto estriado – Modifica o conteúdo iônico, porém não acrescentam volume à saliva.
 Células do ducto reabsorvem Na+ e Cl- e secretam K+ e HCO3- no lúmen.
26 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 26

• Mecanismo na célula acinar (conforme a figura ao lado).


 Membrana basolateral: Bomba Na+/K+ (estabelece o gradi-
ente de Na+) e simporte Na+/K+/2Cl-
- Bomba Na+/K+ impulsiona a entrada de Na+ pelo simporte
Na+/K+/2Cl- para dentro da célula.
 Membrana apical: Cl- e HCO3- que estão na célula saem, atra-
vés de canais iônicos, para o lúmen do ácino.
 Secreção de ânions estabelece um gradiente elétrico, permi-
tindo, assim, a entrada de Na+ e, consequentemente, H2O atra-
vés das junções celulares, pela via paracelular.

* Importante: Secreção de fluido para célula acinar é fortemente


aumentada em resposta a elevações na [Ca2+] intracelular – Re-
sultado da atividade dos receptores muscarínicos (estímulo pa-
rassimpático) para acetilcolina (ACh).

• Mecanismo nas células ductulares (Figura ao lado)


 Membrana basolateral: Bomba Na+/K+ estabelece o gradiente
de Na+ e de K+ – Responsável pela maioria dos outros processos de
transporte iônico da célula.
 Membrana apical: Antiporte Na+/H+, antiporte Cl-/HCO3- e anti-
porte H+/K+.
- Absorção de Cl- e Na+ do lúmen em troca de H+ e HCO3-
- H+ é reciclado para transferir K+ ao lúmen do ducto.
- Secreção de HCO3- sem um H+ acompanhante faz com que
o pH da saliva seja >7 (alcalina) quando ela entra na boca.
∟ Importante para restringir a ação bacteriana.
 Epitélio do ducto possui baixa permeabilidade passiva, isto é,
água não consegue atravessar rapidamente as junções oclusivas
com taxas moderadas de secreção salivar, fazendo com que não seja possível acompanhar a reab-
sorção de Cl- e Na+  Saliva hipotônica!

* Importante lembrar: CO2 produzido pelo metabolismo da célula é associado à água e a anidrase
AC
carbônica  H2O + CO2 ↔ <H2CO3> ↔ H+ + HCO3-

* Importante: Controle fisiológico primário das glândulas salivares se faz pelo sistema nervoso pa-
rassimpático  Interrupção do parassimpático prejudica a secreção salivar e leva a atrofia das
glândulas salivares!
 Interrupção dos nervos simpáticos não perturba a função salivar.
27 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 27

Regulação Neural
• Glândulas salivares são as únicas do sistema gastrointestinal a serem moduladas, exclusivamente,
por vias neurócrinas e pelo SNA.
 Parassimpático (nervo facial – NCVII, e nervo glossofaríngeo NC IX): Inicia a secreção salivar e
pode sustentar altas taxas de secreção (conforme a imagem abaixo).
- Aumenta a síntese e a secreção de amilase salivar e de mucina.
- Estímulo parassimpático modulado pela acetilcolina (ACh) – Atua nos receptores muscarínicos.
∟ Agentes anticolinérgicos (p. ex., atropina) inibem a produção de saliva  Ressecamento da boca.
- Atua nas células acinares e nas células dos ductos das glândulas.
- Também atua nos vasos sanguíneos (dilatação)  Supre as necessidades de líquidos e substâncias
metabólicas.
 Mantém a alta taxa de secreção.
- Reflexos condicionados, como olfato e paladar,
e reflexos de aumento de pressão na cavidade
oral  Estimulam o parassimpático.
- Fadiga, sono, medo e desidratação  Supri-
mem o parassimpático.

 Simpático (gânglio cervical superior): Não são


capazes de, independentemente, iniciar e susten-
tar a secreção (conforme a imagem ao lado).
- Potencializa os efeitos da regulação parassimpática por meio da liberação de noradrenalina
(NAdr) – Atua nos receptores β-adrenérgicos.
- Atua nos vasos sanguíneos (vasoconstrição) e na contração das células mioepiteliais  Diminui as
trocas de líquidos e substâncias metabólicas – Reduz irrigação  Diminui a taxa de secreção.
∟ Razão pela qual não mantém a secreção!

* Importante: Tanto a estimulação simpática quanto a parassimpática causam contração das célu-
las mioepiteliais que rodeiam os ácinos  Esvaziamento dos conteúdos acinares  ↑Fluxo.

• Transdução do sinal:
 NAdr atua nos receptores β-adrenérgicos
- ATP  AMPc  Desencadeia estímulo para
exocitose serosa – Maior secreção de enzi-
mas digestivas (amilase).
* Importante: VIP também eleva a [AMPc].

 Acetilcolina (M3), Substância P, noradre-


nalina (receptores α-adrenérgicos)
- Estimula IP3  Promove ↑[Ca2+] intracelu-
lar  Secreção mucosa predominante.
∟ Menor quantidade de enzimas digestivas
(amilase) e maior quantidade de líquido.
28 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 28
LEI DO INTESTINO – “Contrai acima” e “relaxa abaixo”
Contração no sentido oral – ACh e Substância P
Motilidade do Trato Gastrointestinal Relaxamento no sentido anal – VIP e NO

Deglutição
• A deglutição pode ser iniciada voluntariamente mas, em seguida, ela
está quase que inteiramente sob o controle reflexo.
• Orofaringe possui o reflexo de deglutição – Possui receptores mecâ-
nicos (mecanorreceptores) – Leva ao fechamento da epiglote.
 Receptores enviam aferências para o centro da deglutição.
- Desencadeia a deglutição através de eferências para os músculos na faringe e no esôfago, bem
como para os músculos respiratórios.
 Esse reflexo também inibe a respiração – Previne alimento na traqueia durante a deglutição.
• Deglutição é dividida em três fases: Oral, faríngea e esofágica.

* Curiosidade: Dificuldade em realizar intubação orotraqueal – Toque na orofaringe leva ao fecha-


mento da epiglote e ao relaxamento do esfíncter esofágico superior  Tubo segue pelo esôfago.
- ⅓ superior do esôfago contém músculo esquelético – Possui inervação somática – ACh.
- Uso de inibidores de acetilcolina (p.e. curare)  Músculos esqueléticos ficam inativos (incluindo
diafragma  Pausa respiratória) – Solução: Hiperoxigenação antes da intubação.
29 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 29

Fase Oral (ou Voluntária)


• Deglutição é iniciada quando a ponta da língua separa uma
porção da massa do alimento dentro da boca.
• Língua pressiona o alimento contra o palato duro.
 Movimenta o bolo para cima e depois para trás da boca.
 Bolo é forçado para dentro da faringe – Estimula os recepto-
res (mecanorreceptores) da orofaringe.
- Reflexo da deglutição é iniciado.
• Após o reflexo da deglutição, inicia-se a fase faríngea.

Fase Faríngea
• Envolve a seguinte sequência de eventos, que ocorrem em
menos de 1 segundo:
a) Palato mole é elevado para evitar que o alimento entre na
cavidade nasal;
b) Cordas vocais se aproximam e a laringe move-se para frente
e para cima contra a epiglote.
 Evitam que o alimento penetre na traqueia e ajudam abrir o
esfíncter esofágico superior;
c) Esfíncter esofágico superior (EES) relaxa – Permite a entrada
do alimento no esôfago.
d) Início de uma onda peristáltica a partir do EES.

* Importante: Durante a fase faríngea da deglutição a respiração é reflexamente inibida.

Fase Esofágica
• Controlada principalmente pelo centro da deglutição.
• Passagem do bolo alimentar pelo EES causa uma ação reflexa
de constrição do EES e relaxamento do EEI.
• Peristalse primária começa logo abaixo do EES.
 Onda viaja entre 3 – 5cm/s e percorre todo o esôfago em
menos de 10s.
 Caso seja insuficiente para esvaziar o esôfago dos alimen-
tos, a distensão do esôfago desencadeia uma outra onda peris-
táltica, a peristalse secundária.
• Peristalse secundária começa acima do local de distensão e
movimenta-se para baixo.

* Observação: Gravidade também auxilia na deglutição, porém mesmo de ponta cabeça é possível
deglutir devido as ações da peristalse esofágica.

Motilidade Esofágica
• Esôfago: Tubo muscular que transfere o alimento da boca até o estômago.
 Sob circunstâncias normais o alimento fica na região por apenas alguns segundos.
 Em repouso, o esôfago é uma estrutura relaxada, que está fechada em suas duas extremidades
30 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 30

por esfíncteres – Esfíncteres esofágicos superior (EES) e inferior (EEI).


- Cooperam na deglutição e, também, impendem o refluxo de conteúdos gástricos.
 Movimento de materiais ao longo do esôfago é auxiliado pela gravidade, porém depende pre-
dominantemente da peristalse.

• Anatomia funcional da musculatura esofágica


 Camadas musculares: Esôfago é envolvido por duas camadas musculares.
- Interna (circular – próxima ao lúmen) e externa (longitudinal).
- Exclusividade do esôfago: Músculo estriado esquelético no ⅓ superior
∟ ⅓ médio composto por músculo liso e estriado
∟ ⅓ distal somente músculo liso (assim como o restante do trato gastrointestinal)
 Esôfago está situado no interior do tórax (baixa pressão) – Presença de esfíncteres é importante
para impedir a entrada de ar e de conteúdos gástricos.
* Importante: Faringe conecta o nariz e a boca ao esôfago e à traqueia – Separa o ar e o alimento
quanto estes passam por essa região.

• Inervação
 Função da faringe é controlada pelo SNC pelo centro da deglutição.
- Faringe permite a coordenação da deglutição voluntária, além da respiração e fala.
 Esôfago: ⅓ superior controlado por nervos somáticos originados no núcleo retrofacial e núcleo
ambíguo que inervam diretamente as fibras musculares estriadas  Liberam acetilcolina (ACh) –
atuam sob os receptores nicotínicos.
 Músculo liso: Inervado predominantemente pelo nervo vago (NC X).
- Eferentes vagais fazem sinapse com neurônios mioentéricos (liberam ACh) e com o músculo liso
(liberam ACh e substância P).
- Aferentes vagais projetam-se até o bulbo no núcleo do trato solitário (Complexo dorsal do vago).
∟ Projetam-se para os neurônios motores do núcleo ambíguo – Controlam os componentes orais e
faríngeos de deglutição.
- Circuito neural importante na deglutição – Regiões mais distais se preparam para receber o
alimento, como é o caso da abertura do esfíncter esofágico inferior.
31 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 31

* Importante: Esôfago também é ricamente inervado por neurônios entéricos – Contribui tanto
para a detecção da presença e da natureza dos conteúdos esofágicos como para a coordenação de
reflexos locais que suplementam o controle central da deglutição e da peristalse esofágica.

• Peristalse no esôfago: Deslocamento do bolo alimentar além do esfíncter superior esofágico.


 ⅓ superior: Contrai dentro de 1 – 2 segundos após a deglutição Transferência de alimento da
 ⅓ médio: Contrai dentro de 3 – 5 segundos após a deglutição boca ao estômago independe
 ⅓ inferior: Contrai dentro de 5 – 8 segundos após a deglutição da posição corporal

• Peristalse do esôfago é estimulada por sua distensão.


 Mecanorreceptores de aferentes sensoriais comunicam-se com o complexo dorsal do vago.
 Ativação dos eferentes somáticos (que terminam diretamente no músculo esquelético do terço
superior do esôfago) e vagais (nervos do SNE).
- Nervos do SNE: Liberam ACh para induzir contração acima do bolo alimentar, ou óxido nítrico
para induzir o relaxamento abaixo do bolo alimentar (Conforme a imagem abaixo).
∟ Sequência de contração/relaxamento promovem o movimento do bolo alimentar.
 Resposta desencadeada pela distensão.

• Onda peristáltica primária: Resultado da deglutição do alimento.


• Onda peristáltica secundária: Parte acima de onde o alimento parou no esôfago.
32 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 32

 Resposta da peristalse secundária: Desencadeada pela distensão do esôfago e envolve tanto


reflexos locais dentro do SNE como reflexos vagovagais (conforme a imagem abaixo).
- Coordenada principalmente pelo SNE da parede do esôfago.
- Pode ser desencadeada quando um nervo sensorial detecta a distensão ou a acidez luminal.
- Interneurônios transmitem o sinal aos nervos excitatórios (acima do local de estimulação – Acetil-
colina) e inibitórios (abaixo do local de estimulação – Óxido nítrico ou VIP).

• Esfíncter esofágico inferior (EEI)


 Tônus basal do EEI (contraído): Necessário para proteger a porção inferior do esôfago dos efei-
tos corrosivos dos conteúdos gástricos.
- Tônus do EEI está sob controle neural – Nervos vagos e fibras simpáticas.
∟ Tônus também pode ser aumentado por agentes neuro-humorais liberados juntos com a inges-
tão de uma refeição – Incluindo a acetilcolina (ACh) e a gastrina.
 Relaxamento: Mediado pelo nervo vago e pelo SNE, integrado à peristalse  Liberação de óxido
Nítrico (sob os nervos inibitórios) nos corpos celulares no plexo mioentérico.
- VIP também pode contribuir para o relaxamento do EEI.
- Ocorre durante a deglutição.

* Importante: Regulação do EEI é feita por dois tipos de fibras vagais – Excitatórias e inibitórias.
- Excitatórias (FVE): Fibras colinérgicas – Neurotransmissor ACh
- Inibitórias (FVI): Fibras vipérgicas – Neurotransmissor NO ou VIP.
 Quando a onda peristáltica chega ao EEI, este relaxa por ação das FVI (disparam potenciais de
ação com frequência aumentada).
- Simultaneamente, as FVE encontram-se quiescentes (observe a imagem abaixo).
 Ocorrem alterações recíprocas quando o esfíncter retoma o seu tônus de repouso.
33 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 33

* Curiosidade¹: Acalasia – Condição em que o EEI mantém-se contraído e o alimento acumula-se no


esôfago – Pode ser tratada por dilatação pneumática, ou incisão da musculatura esofágica.

* Curiosidade²: Algumas crianças (recém-nascidos) não possuem contração forte do esfíncter esofá-
gico inferior – Pode acarretar em refluxo por diferença de pressão – Estômago fica mais cheio (↑P)
do que o esôfago (↓P) – fazendo com que o alimento (p.e. leite) volte, passando pelo esfíncter
esofágico superior, e entre pela faringe  Pode levar a morte da criança.
Solução: “Fazer arrotar” (↓P estômago) e elevar a cabeceira da cama (↑influência da gravidade).

• Relaxamento receptivo: Relaxamento do fundo gástrico permite a acomodação do bolo alimentar


no estômago sem elevar a pressão intragástrica (observe a imagem abaixo).
 Parte proximal do estômago relaxa ao mesmo tempo que o esfíncter esofágico inferior;
 Ocorre a cada deglutição;

• Relação do diafragma com o esfíncter esofágico inferior e as


demais estruturas do TGI (observe a imagem ao lado).
 Diafragma: Separa a cavidade torácica da abdominal.
- Contração do diafragma comprime a cavidade abdominal – Au-
menta a pressão abdominal.
- Durante a inspiração, a contração do diafragma atua como um
esfíncter externo junto ao EEI, isso contribui para que não haja
refluxo gástrico devido a diferença de pressão (↑PAbd e ↓PTor).
 Aumento da pressão diafragmática é importante para o re-
flexo de vômito e para a defecação – Manobra de valsalva.

* Curiosidade: Crianças recém-nascidas inspiram “colocando a barriga pra fora” – Permite que o di-
afragma contraia melhor sem aumentar muito a pressão abdominal.
34 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 34

Motilidade Gástrica

Anatomia Funcional do Estômago


• Estômago: Saco muscular com função de armazenamento,
mistura e trituração do alimento.
 Controla a taxa de distribuição de alimento para os seg-
mentos mais distais do TGI.
- Acomoda o volume de uma refeição sem permitir o refluxo
dos conteúdos gástricos para o esôfago e sem força-los pre-
maturamente em direção ao duodeno.
- Distensão do estômago transmite informações aos segmen-
tos subsequentes do trato gastrointestinal, além de também
sinalizar a saciedade.
 Ritmo básico elétrico (REB) – “Marca-passo”: Localizado
na porção proximal do estômago – Produz ondas peristálti-
cas que aumentam de intensidade em direção à região antro-pilórica.
- Responsável pela mistura do alimento com as secreções gástricas – Otimiza a digestão.

• Estomago divide-se anatomicamente em cárdia, fundo, antro e piloro (imagem acima).


• Regiões funcionais do estômago – Relacionadas à motilidade gástrica:
a) Estômago proximal: Constituído por cárdia, fundo e porção proximal do corpo do estômago
- Atuam como reservatório e movem os conteúdos gástricos ao estômago distal.
∟ Função de reservatório do estômago não é vital.
- Contrações tônicas do estômago proximal são importantes para o esvaziamento gástrico.
b) Estômago distal: Constituído pela porção distal do corpo e antro.
- Atua para moer e pulverizar a refeição (diminuir em fragmentos muito pequenos).
- Transforma o alimento em uma massa semi-sólida chamada quimo.
c) Piloro: Esfíncter que controla a quantidade e o tamanho (até 2mm) das partículas de alimento
que podem sair do estômago no estado alimentado.

* Importante: Estômago realiza relaxamento receptivo (musculatura gástrica relaxa à medida que é
estirada durante o enchimento – garante que a pressão no estômago não aumente significativa-
mente quando seu volume expande), isso garante que a refeição não seja forçada de volta para o
esôfago – Permite que o estômago acomode volumes tão grande quanto 1,5L sem um grande au-
mento na pressão intragástrica.

• Camadas musculares do estômago – Constituído por músculo liso.


 Músculo circular proeminente em todo o estômago.
 Músculo longitudinal: Mais proeminente no estômago distal  Fibras musculares do estômago
são, em sua maioria, contínuas com as do duodeno.
 Piloro: Região especializada de músculo circular – Barreira mecânica à saída de alimento
- Barreira intensificada pela mucosa (pregueada e abundante).
* Importante: Músculo circular do estômago está isolado eletricamente do intestino delgado – Pre-
sença de septo de tecido conjuntivo na região do piloro.
35 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 35

 Contrações fásicas e tônicas: Mediação específica de motilidade em cada região do estômago.


- Contração fásica: Músculos lisos contraem e relaxam em questão de segundos.
∟ Proeminente no estômago distal.
- Contração tônica: Músculos lisos que possuem contração sustentada – Pode persistir por minutos.
∟ Proeminente no estômago proximal.

Características da Motilidade Gástrica


• Células intersticiais de Cajal (ICCs): Grupo especiali-
zado de células na parede intestinal, que estão envolvi-
das na transmissão da informação dos neurônios entéri-
cos para as células musculares lisas.
 Células marca-passo: Possuem capacidade de gerar
o ritmo elétrico básico (REB) – São ondas lentas.
- Iniciam em um ponto do corpo ao longo da curvatura
maior do estômago (conforme a imagem ao lado).
∟ São conduzidas em direção ao piloro.
- Refere-se às ondas de despolarizações rítmicas das cé-
lulas musculares lisas do intestino.
- Determina a frequência máxima das contrações e sua
velocidade e direção de propagação.

• Despolarização da onda lenta: Potenciais de ação são disparados durante o pico das ondas lentas
(conforme a imagem abaixo).

 Fase de ascensão do potencial de ação: Fluxo de íons por canais lentos de Ca2+ e Na+
- Influxo de Ca2+ na célula auxilia no início da contração.
 Aumento da frequência dos potenciais de ação = Mais força de contração
- Maior oscilação da onda lenta leva a maior entrada de Ca2+
 Acetilcolina, gastrina e substância P: Aumentam a força de contração.
- Aumentam a amplitude e a duração da fase platô da onda lenta gástrica.
 Noradrenalina, VIP e óxido nítrico: Reduzem a força de contração.

* Importante: REB varia nos diferente segmentos do TGI


- REB no estômago = 3 ciclos/min
- REB no duodeno = 12 ciclos/min
36 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 36

(observe na imagem abaixo as variações elétricas em diferentes regiões do estômago)

• Relaxamento receptivo: Resulta em uma queda da pressão gástrica


imediatamente após a alimentação – Persiste até que todos os sólidos
tenham sido removidos do estômago.
 Envolve estímulos vagais, reflexos vagovagais e reflexos intrínsecos
(mediados no interior do estômago) (observe a imagem ao lado).
- Reflexos intrínsecos e vagovagais detectados por
mecanorreceptores.
- Liberação de ACh pela via vagal atua pré-sinapticamente
para liberar outros neurotransmissores (NO e VIP).
∟ Relaxamento dos músculos lisos gástricos.
 Feedback de regiões mais distais do TGI também
atuam no tônus gástrico.
- Distensão do duodeno ou do colo, aumento de
lipídeos ou de proteínas no duodeno ou no íleo
causam diminuição do tônus do fundo gástrico.
∟ O esvaziamento gástrico é retardado até que o
duodeno seja capaz de processar nutrientes adicionais.
∟ Essa resposta envolve reflexos do SNE e da CCK (ligação aos receptores CCK-A expressos nos afe-
rentes sensoriais vagais).
 Distensão gástrica também sinaliza os segmentos mais distais  Prepara a chegada do alimento.
- Reflexo gastrocólico: Pode induzir a necessidade de defecar logo após a ingestão de uma refeição.
37 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 37

• Mistura e trituração: Resulta das ondas de contração dentro do estômago.


 Início das ondas (região marca-passo): Força o conteúdo gástrico em direção à saída do estô-
mago (piloro).
 Aumento da velocidade das ondas peristálticas  Saída de pequenas partículas pelo piloro (par-
tículas <2mm) e retorno forçado para trás (retropulsão) da maior parte da refeição.
- Retropulsão atua na mistura dos conteúdos gástricos com o suco gástrico, além de também redu-
zir mecanicamente o tamanho das partículas de alimento (observe nas imagens abaixo).

(1) Contração circunferencial, A, em direção ao piloro, resultando em propulsão anterógrada e re-


trógrada do material.
(2) Quando a contração A diminui, uma segunda contração, B, mistura ainda mais os conteúdos.
(3) Contração B é suficiente para causar o trânsito e a abertura parcial do piloro, permitindo que
partículas com menos de 2mm deixem o estômago. Partículas maiores são propelidas de volta ao
estômago para serem mais dispersadas pela contração.
(4) Mais ciclos de contração contra o piloro fechado continuam a mistura e a trituração até que
toda a refeição seja esvaziada do estômago.

• Esvaziamento gástrico e o papel do piloro (observe a imagem abaixo).


38 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 38

 Piloro separa o antro gástrico da primeira parte do duodeno.


- Permite um esvaziamento cuidadosamente regulado dos conteúdos gástricos a uma velocidade
constante com capacidade do duodeno processar o quimo.
- Evita a regurgitação dos conteúdos duodenais de volta para o estômago.
 Quando o estômago está cheio o piloro permanece fechado por longos períodos.
- Realiza aberturas intermitentes que permitem a passagem de pequenas partículas (<2mm).
 Piloro é regulado por vias vagais excitatórias e inibitórias, além de reflexos intrínsecos ascenden-
tes e descendentes – Função regulada independentemente das contrações dos segmentos do tubo
digestório.
- Relaxamento do piloro: Fibras vagais inibitórias (promovidas pelo NO e VIP).
- Constrição do piloro: Simpático, fibras vagais inibitórias (colinérgicas), gastrina, CCK, secretina,
GIP – Reduzem a velocidade do esvaziamento gástrico.

• Esvaziamento gástrico do líquido é maior que o de sólidos


(observe o gráfico ao lado).
 Processo com sólidos não inicia imediatamente (tem aproxima-
damente 1 hora de atraso) – Ocorre retropulsão e mistura.
- Tempo de esvaziamento, em média, de 1 a 2 horas.
 Gorduras são os últimos nutrientes a serem esvaziados.
- Carboidratos e soluções salinas isotônicas são esvaziadas mais
rapidamente.
- A osmolaridade também influi no esvaziamento.
 Substâncias que não foram digeridas no estômago, como ossos
ou outros objetos estranhos, deixam o estômago apenas nos perí-
odos interdigestivos, por ação do CMM.

• Motilidade gástrica durante o JEJUM


 Complexo motor/mioelétrico migratório (CMM): Ocorre durante o jejum, entre períodos de di-
gestão, com ciclos que duram em torno de 90 – 120 minutos.
 CMM está relacionado diretamente aos níveis plasmáticos de motilina.
- Indiretamente, CMM é estimulada pela ACh, óxido nítrico e serotonina (5-HT)
39 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 39

- Motilina é suprimida pela alimentação, logo, CMM cessa quando há ingestão de alimento!
- O CMM também é reduzido durante o sono e é desacelerado pelo estresse.
 Constitui em três fases que iniciam no estômago:
- Fase I: Caracterizada pela quiescência (repouso) – Sem potenciais
de ponta, sem contrações. Pode ser visto como um
- Fase II : Aumento da atividade contrátil, porém as contrações são evento único que ocorre a
irregulares e falham em propelir os conteúdos luminais adequadamente. cada 90 – 100 min e dura
- Fase III: Contrações de 5 – 10 minutos que ocorrem intensamente, se em torno de 5 – 10 min.

dirigem do corpo do estômago ao piloro e deste ao duodeno.


∟ Abertura total do piloro durante as contrações.
 Exerce função de “faxina”  Importante para manter a saúde gastrointestinal.
- Não acumula materiais indigeríveis (chamamos de bozoares) – Esses materiais, na ausência do
CMM, poderiam ocluir o lúmen, principalmente do estômago.

• Regulação do esvaziamento gástrico é feito por mecanismos neurais e hormonais.


 Mucosa duodenal e mucosa jejunal contêm receptores que detectam a acidez, a pressão osmó-
tica, certos produtos lipídicos e da digestão de lipídeos, peptídeos e aminoácidos (imagem abaixo).
- Quimo que deixa o estômago geralmente é hipertônico, e torna-se mais hipertônico pela ação das
enzimas digestivas do duodeno.
∟ Velocidade de esvaziamento é reduzido por alterações no lúmen duodenal – Hiperosmolaridade,
pH abaixo de 3,5 e pela presença de aminoácidos e peptídeos.
∟ Presença de ácidos graxos e monoglicerídeos (produtos da digestão das gorduras) no duodeno
também diminui dramaticamente a velocidade do esvaziamento gástrico.
- Esses mecanismos resultam em:
a) Velocidade de gordura transferida ao duodeno não excede a velocidade na qual a gordura pode
ser emulsificada pelos ácidos biliares e a lecitina na bile;
b) Velocidade de ácido transferido para o duodeno não excede a velocidade na qual ele pode ser
neutralizado pelas secreções pancreáticas e duodenais e por outros mecanismos;
c) Velocidades de outros componentes também não excedem a capacidade do intestino delgado
em processá-los.
40 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 40

 Mecanismos neurais e hormonais que atuam na regulação da velocidade de esvaziamento gás-


trico em resposta aos diferentes conteúdos duodenais:
a) Ácido no duodeno: Força das contrações gástricas diminuem e a motilidade duodenal aumenta.
- Liberação de secretina – Inibição das contrações antrais e contração do esfíncter pilórico.
b) Produtos da digestão de gorduras: Diminuem a velocidade do esvaziamento gástrico.
- Liberação de CCK e GIP pelo duodeno e jejuno.
c) Pressão osmótica dos conteúdos duodenais: Soluções hiperosmóticas no duodeno e no jejuno
reduzem a velocidade de esvaziamento gástrico – Hormônio não identificado.
d) Peptídeos e aminoácidos no duodeno: Aumentam a potência das contrações antrais e a constri-
ção do esfíncter pilórico.
- Liberação de gastrina (células G) pelas células do antro do estômago e no duodeno.
- GIP e CCK também são liberados pelo duodeno.

• Vômito (êmese): Expulsão forçada dos conteúdos gástricos (e algumas vezes duodenais) do trato
gastrointestinal pela boca.
 Reflexo complexo e coordenado pelo centro do vômito (localizado no bulbo).
- Aferências de regiões diversas do corpo podem iniciar o reflexo do vômito.
∟ Os estímulos mais fortes para o vômito são irritação e distensão do estômago;
∟ Outros estímulos incluem imagens desagradáveis, anestesia geral, tontura, fármacos etc.
- Área póstrema no encéfalo, localizada fora da barreira hematoencefálica, é sensível a toxinas no
sangue e pode iniciar o vômito.
 Reflete a interação coordenada de fenômenos neurais, humorais e musculares.
- Impulsos nervosos são transmitidos para o centro do vômito no bulbo e impulsos de regresso se
propagam até os órgãos da parte superior do TGI, diafragma e músculos abdominais.
 O vômito implica a compressão do estômago, entre o diafragma e os músculos abdominais, e a
expulsão dos conteúdos pelos esfíncteres abertos do esôfago.

 Reflexo do vômito: Uma vez que iniciado, possui a mesma sequência de eventos, independente-
mente de qual foi o estímulo que o desencadeou.
- Peristalse reversa: Ocorre na parte média do intestino delgado – Remove o conteúdo duodenal
para o estômago;
- Relaxamento do esfíncter pilórico e do estômago: Recebem o conteúdo duodenal;
- Manobra de valsalva: Inspiração forçada contra a glote fechada.
∟ Diminui a pressão intratorácica Conteúdos gástricos são impulsionados para o esôfago
∟ Aumenta a pressão intra-abdominal
- EEI relaxa reflexamente: Permite a passagem dos conteúdos gástricos para o esôfago.
- Esfíncter pilórico e antro contraem-se: Contribui para impulsionar o conteúdo gástrico.
- EES relaxa reflexamente durante o vômito: Vômito é projetado para dentro da faringe e da boca.
∟ Entrada de vômito na traqueia é evitada pelo movimento de fechamento das cordas vocais, pelo
fechamento da glote e pela inibição da respiração.

* Importante: Ânsias de vômito – EES permanece fechado e previne o vômito.


- Conteúdo gástrico retorna ao estômago através da peristalse secundária.
41 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 41

* Curiosidade¹: Vômito é precedido por um aumento da salivação, sudorese, taquicardia, midríase,


palidez e sensação de náusea – Geralmente é precedido por ânsias de vômito.

* Curiosidade²: Como ⅓ superior do esôfago possui controle voluntário, o vômito pode ser contro-
lado, ou seja, o indivíduo consegue contrair o músculo e evitar a passagem do conteúdo gástrico.

* Curiosidade³: Salivação (pH >7) antes do vômito é um mecanismo de defesa (protege o esôfago)
contra a acidez do conteúdo gástrico (pH<7).

* Curiosidade4: Substâncias eméticas (p.e. xarope de ipeca) estimulam o vômito através de recep-
tores no estômago, duodeno ou no cérebro.

• Vômito e ânsias são regulados por centros distintos no SNC.


 São centros independentes – Podem ser estimulados de modo individual (Imagem abaixo).
- Vômito pode ser induzido sem a presença de ânsia;
- Ânsia de vômito pode não resultar em vômito.
42 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 42

Motilidade do Intestino Delgado

Anatomia Funcional do Intestino Delgado


• Intestino delgado (ID): Corresponde em torno de ¾ do
comprimento do TGI humano – Possui em torno de 5m de
comprimento, e o quimo leva entre 2 – 4h para atravessá-lo.

• Intestino delgado é dividido em três regiões:


a) Duodeno: Primeiro segmento do ID, corresponde à 5% do
de comprimento do ID e, junto com o pâncreas e o sistema
biliar, forma a unidade duodenal.
 Regulador da digestão e absorção;
- Sinaliza os demais segmentos do TGI a fim de prepará-los para a chegada de refeição, ou para re-
tardar o fluxo de conteúdos a partir do estômago;
 Pâncreas exócrino e a vesícula biliar drenam no duodeno – Saída de secreções controladas pela
abertura do esfíncter de Oddi.
b) Jejuno: Corresponde à 40% do comprimento do ID.
 Junto com o duodeno, é o local onde a maior parte da digestão e da absorção ocorre.
c) Íleo: Corresponde aos 65% remanescentes do comprimento do ID.
 Está menos envolvido na absorção de nutrientes, com exceção de solutos específicos, como os
ácidos biliares conjugados, que são recuperados exclusivamente por transportadores expressos no
íleo terminal.
 Se a absorção do jejuno estiver prejudicada, o íleo representa uma reserva anatômica que pode
realizar absorção.

* Importante: Todo o intestino delgado absorve


carboidratos, proteínas e lipídeos. No entanto, a
absorção é maior no duodeno, um pouco menor
no jejuno e menor no íleo.

• Funções do intestino delgado:


a) Os movimentos segmentares misturam o
quimo com os sucos digestivos e colocam o ali-
mento em contato com a túnica mucosa para ab-
sorção; a peristalse impulsiona o quimo pelo ID.
b) Completa a digestão de carboidratos, proteínas
e lipídios; começa e termina a digestão de ácidos
nucleicos.
c) Absorve aproximadamente 90% dos nutrientes
e água que passam pelo sistema digestório.
 Absorção no intestino delgado é elevada de-
vido as vilosidades – Aumentam a superfície de
absorção (conforme a imagem ao lado).
43 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 43

Motilidade do Intestino Delgado


• Motilidade do intestino delgado atende a três funções:
a) Mistura do quimo com as secreções, principalmente no duodeno, onde são lançadas as secre-
ções pancreática e biliar, otimizando os processos de digestão;
b) Renovação do contato do quimo com a mucosa intestinal, que otimiza os processos absortivos;
c) Propulsão do quimo no sentido cefalocaudal, em direção ao cólon, que ocorre por dois processo:
 Peristalses curtas, de 10 a 12 cm de comprimento;
 Gradiente de pressão luminal decrescente no sentido cefalocaudal.

• Quimo leva de 2 – 4h para atravessar o intestino delgado.


 Movimento predominante do ID durante a digestão de uma
refeição é uma contração e um relaxamento estacionários dos
segmentos intestinais – Segmentação.
- Permite que os processos de digestão e absorção possam se
dar eficientemente.

 Segmentação: Caracterizada por contrações pouco espaçadas


da camada muscular circular (imagem ao lado).
- Essas contrações dividem o intestino delgado em pequenos
segmentos adjacentes
- Ocorre de maneira rítmica – Locais de contrações circulares al-
ternam-se, de modo que um dado segmento do intestino con-
trai-se e, em seguida, relaxa-se.
- Movimentos segmentadores iniciados por atividade elétrica gerada por células marca-passo na
camada circular do musculo liso ou associadas a elas.
- Atua na renovação da superfície de contato das vilosidades com o quimo – Facilita a absorção.
 Peristalse no ID: Ocorrem em qualquer parte do ID e se movem em direção ao ânus com veloci-
dade de 0,5 a 2,0cm/s (mais rápidas no intestino proximal e mais lentas no intestino terminal).
- Ondas peristálticas fracas e de curta duração – Motivo pelo qual o quimo leva de 2 a 4h para atra-
vessar do piloro até a válvula ileocecal.

* Importante: Segmentação difere da peristalse porque esta é a contração progressiva de secções


sucessivas do musculo liso circular, isto é, ela “flui” em um determinado sentido (imagem abaixo).
- Na peristalse as contrações movimentam-se ao longo do TGI em direção distal (ou anal).
∟ Segue a “lei do intestino” – Contração oral e relaxamento anal.
44 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 44

• Atividade elétrica do intestino delgado – Responsável pela segmentação.


 Ritmo elétrico básico (REB): Decresce no sentido cefalocaudal (12 – 13/min no duodeno, 10 –
11/min no jejuno e 8 – 9/min no íleo).
- Frequência dos potenciais de ação desencadeiam as contrações potentes;
∟ Excitabilidade das células do músculo liso é influenciada por hormônios circulantes, pelo SNA e
pelos neurônios entéricos.
∟ Excitabilidade aumentada pelo parassimpático e reduzida pelo simpático.

* Importante: CMM ocorre tanto no estômago quanto no ID, porém não ocorre no intestino grosso.

• Esvaziamento do íleo é mediado através do esfíncter ileocecal (conforme a imagem abaixo).


 Separa a extremidade terminal do íleo do ceco (primeira parte do cólon);
 Esfíncter ileocecal, em condição basal, encontra-se contraído.
- Distensão do íleo distal promove a peristalse – Abertura do esfíncter ileocecal;
- Distensão do ceco causa fechamento do esfíncter ileocecal.
 Neurônios dos plexos intramurais coordenam a abertura e o fechamento do esfíncter.
 Inervação extrínseca – Controle a longa distância do esfíncter ileocecal (p.e. reflexo gastroileal).

• Função da válvula ileocecal: Evitar o reflexo do conteúdo fecal do cólon para o intestino delgado.
 Válvula é fechada quando o aumento da pressão no ceco empurra o conteúdo contra a abertura
da válvula – Resiste a pressão reversa de 50 a 60cmH2O.
 Resistência criada pela válvula prolonga a permanência do quimo no íleo – Facilita a absorção.

• Reflexos intestinais – Dependem do funcionamento dos nervos intrínsecos extrínsecos.


 Reflexo intestinointestinal: Sobredistensão de um dos segmentos do intestino relaxa o músculo
liso no resto do intestino.
 Reflexo gastroileal: Funções secretoras e motoras elevadas do estômago aumentam a motili-
dade da parte terminal do íleo e aceleram o movimento do material através do esfíncter ileocecal.
- Distensão do íleo evoca reflexos neurais e a liberação do peptídeo YY que diminui a velocidade de
esvaziamento gástrico.
- Também pode ser regulado tanto por nervos extrínsecos como por hormônios gastrointestinais;
entre eles a gastrina e a CCK – Elevam a atividade contrátil do íleo e relaxam o esfíncter ileocecal.
45 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 45

Motilidade do Intestino Grosso (Colo)

Anatomia Funcional do Intestino Grosso


• Intestino grosso (IG): Serve como um reservatório para o
armazenamento de resíduos e materiais indigeríveis antes da
sua eliminação pela defecação.
 Composto pelo ceco, pelas porções ascendente, transver-
sal e descendente do colo, pelo reto e pelo ânus.
- Metade proximal do IG: Absorção.
∟ Absorção de água e eletrólitos do quimo.
- Metade distal do IG: Armazenamento.

 Possui comprimento de aproximadamente 1,2m e di-


âmetro consideravelmente maior do que o do intestino
delgado (motivo pelo qual é denominado intestino
grosso), com uma parede espessa e dobras conhecidas
como haustrações (resultam da contração da muscula-
tura circular, são intermitentes e atuam na mistura do
conteúdo luminal com o objetivo de renovar o contato
com a superfície epitelial – absorção).

* Importante: Embora o IG tenha maior diâmetro que o


ID, sua área de superfície epitelial é muito menor, visto
que o IG tem cerca de metade do comprimento do ID,
sua superfície não é enrolada, e sua mucosa não conta
com vilosidades (conforme a Imagem ao lado).

 No colo ascendente, colo transverso e colo descen-


dente, a camada muscular circular é sobreposta por
três bandas longas não sobrepostas de músculo longitu-
dinal – Tênias do colo.
- O acoplamento elétrico entre o músculo circular e as tênias do colo é menos efetivo do que
aquele entre as camadas musculares correspondentes do ID – Contribui para uma motilidade pro-
pulsiva menos efetiva no colo.

• Anatomia do reto e do canal retal (imagem ao lado).


 Colo termina no reto – Junção retossigmoide.
 Reto não possui músculo circular e é completamente
envolvido pelo músculo liso longitudinal – Atua nas
funções de reservatório e na defecação.
- Contrações musculares formam as válvulas
retais – Retardam o movimento das fezes.
 Reto junta-se ao canal anal (formado por
músculo liso e músculo esquelético).
46 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 46

 Esfíncter anal interno (EAI): Composto por uma faixa espessa de músculo circular liso.
 Esfíncter anal externo (EAE): Composto por três diferentes estruturas de músculos estriados que
se enrolam ao redor do canal anal.

* Importante: Esfíncter anal externo é constituído por musculo estriado e é inervado por fibras mo-
toras somáticas via nervo pudendo – Pode ser controlado voluntariamente.

• Inervação extrínseca do colo.


a) Parassimpático – ACh
 Nervo vago: Ceco, colo ascendente e transverso.
- Estimulação causa contrações segmentares da parte proximal do colo.
 Nervo pélvico: Colo descendente e sigmoide, reto, canal anal e esfíncter anal interno.
- Estimulação causa movimentos expulsivos do colo distal e contrações sustentadas de alguns seg-
mentos.
b) Simpático (NAdr) – Estimulação interrompe os movimentos colônicos.
 Plexo mesentérico superior: Parte proximal do IG
 Plexos mesentérico inferior e hipogástrico superior: Parte distal do IG
 Plexo hipogástrico inferior: Reto e canal anal

• Principais funções do intestino grosso:


a) Absorção de água e de eletrólitos do quimo para formar fezes sólidas;
b) Armazenamento de material fecal, até que possa ser expelido.

Motilidade do Intestino Grosso


• Colo está envolvido com as seguintes funções motoras:
a) Movimentação com retropropulsão do conteúdo colônico, renovando o seu contato com a mu-
cosa, otimizando o processo de absorção de água e eletrólitos, que se dá predominantemente no
cólon ascendente;
b) Mistura, amassamento e lubrificação do conteúdo colônico com a secreção de muco, efetuada
pelas células caliciformes, que existem em grande número na mucosa do cólon transverso e des-
cendente, principalmente;
c) Propulsão cefalocaudal do conteúdo colônico, que ocorre ao longo de todo o cólon;
d) Expulsão das fezes ou defecação, que envolve o reto e o canal anal.

• Motilidade do ceco e do colo proximal.


 Contrações predominantemente segmentares – Mais eficazes em mis-
turar e fazer circular os conteúdos colônicos do que impulsioná-los.
- Contrações segmentares localizadas dividem o colo em haustrações
(conforme a imagem ao lado)
- Contrações haustrais podem aumentar a pressão luminal local em 10 a
50mmHg, resultam em movimentos para trás e para frente e na mistura
dos conteúdos luminais.
47 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 47

 Predomínio de padrões “antipropulsivos” – Tentativa de reter o quimo na região proximal para


facilitar a absorção de água e sais.

• Motilidade do colo central e distal


 Normalmente, um movimento de massa preenche as partes centrais e
distais do colo com fezes semissólidas.
 Contrações haustrais segmentares amassam as fezes (facilita a absor-
ção do restante dos sais e de água).
 Movimentos de massa varrem as fezes em direção do reto (conforme
a imagem ao lado).
* Importante: Movimento de massa se dá de 1 – 3x por dia – Inicia no
segmento proximal e segue no sentido do reto.
∟ Ao contrário de uma onda peristáltica, o músculo liso permanece con-
traído por algum tempo após um movimento de massa.

• Controle reflexo da motilidade colônica


 Reflexo colonocolônico: Distensão de uma parte do colo causa um relaxamento nas outras par-
tes do colo – Mediado parcialmente pelas fibras simpáticas que suprem o colo.
 Reflexo gastrocólico: Entrada de refeição no estômago causa motilidade do colo proximal e dis-
tal e um aumento na frequência dos movimentos de massa.

Defecação
• Reto fica vazio, sem fezes, a maior parte do
tempo.
• Quando as fezes entram no reto, a distensão da
parede retal desencadeia sinais aferentes que se
propagam pelo plexo mioentérico para dar início as
ondas peristálticas no colo descendente, sigmoide e
no reto, empurrando as fezes em direção ao reto.
 À medida que a onda peristáltica se aproxima do
ânus, o esfíncter anal interno relaxa, por sinais inibi-
dores do plexo mioentérico; se o esfíncter anal ex-
terno estiver relaxado consciente e voluntaria-
mente, ocorre a defecação.

• Defecação é um comportamento complexo que envolve tanto ações reflexas quanto voluntárias.
 Centro integrador para a ação reflexa encontra-se na medula espinhal sacral, e é modulado por
centros superiores (conforme a imagem acima).
- Principais vias eferentes: Fibras colinérgicas parassimpáticas – Nervos pélvicos.

• Esfíncter anal interno (involuntário) – Inervação.


 Simpático: Excitatório.
 Parassimpático: Inibitório.
48 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 48

• Esfíncter anal externo (voluntário) – Inervação.


 Nervo pudendo (parassimpático) – Mantém o esfíncter em um estado de contração tônica, e a
distensão moderada do reto aumenta a força de sua contração (conforme o gráfico abaixo).

* Importante: O impulso para defecar ocorre primeiramente quando a pressão retal aumenta para
cerca de 18mmHg – Quando alcança 55mmHg, o esfíncter externo, assim como o interno, relaxa, e
há expulsão reflexa do conteúdo do reto (motivo pelo qual a evacuação reflexa do reto pode ocor-
rer mesmo na situação de lesão medular).

• Reflexo da defecação: Coordenado pela medula sacral e consiste em relaxamento do esfíncter


anal interno (EAI) e contração do esfíncter anal externo (EAE), sendo desencadeado por movimento
de massa em resposta a reflexos ortocólico, gastrocólico e gastroileal.
 Distensão do reto com fezes inicia contrações reflexas de sua musculatura e a necessidade de
defecar (observe as imagens a seguir).

* Reflexo ortocólico: Consiste em aumento da motilidade do cólon em resposta à mudança da


posição horizontal para a vertical.
49 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 49

• Defecação voluntária: Controle exercido pelo nervo somático pudendo (inerva o esfíncter anal
externo e o músculo puborretal) e pode ser iniciado fazendo-se força.
 A evacuação normalmente é precedida por uma inspiração profunda (manobra de valsalva) con-
tra a glote – Eleva a pressão abdominal e ajuda a forçar as fezes através dos esfíncteres relaxados.
 Os músculos do assoalho pélvico relaxam-se, permitindo que o assoalho desça (conforme a ima-
gem abaixo) – Ajuda a retificar o reto e previne o prolapso retal.
- Auxiliado pelo relaxamento do músculo puborretal (resulta em um ângulo anorretal menos
agudo), contração simultânea do reto abdominal, do diafragma e do músculo levantador do ânus.

* Curiosidade: A expulsão voluntária do flato envolve as funções contráteis listadas, mas o músculo
puborretal não relaxa e não há alteração no ângulo anorretal – Permite que o gás do flato seja for-
çado a passar pelo ângulo agudo da junção reto anal, sem que ocorra perda simultânea de fezes.
50 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 50

Secreções do Trato GastroIntestinal

Secreção Gástrica

Visão Geral
• Estômago: Situa-se entre o esôfago e o duodeno e está deli-
mitado pelo esfíncter esofágico inferior (EEI) e pelo piloro.
 Epitélio superficial do estômago é invaginado com uma sé-
rie de fossetas gástricas.
- Cada fosseta abre-se para quatro a cinco glândulas gástricas
de fundo cego.
 Estômago pode ser dividido em três regiões principais:
a) Cárdia: Representa 5% da área da superfície gástrica.
b) Fundo e corpo: Contêm aproximadamente 75% das glân-
dulas gástricas – Glândulas oxínticas consistem em tipos celu-
lares especializados que são responsáveis pelas secreções ca-
racterísticas do estômago (conforme a imagem ao lado).
c) Antro: Responsável pela secreção de gastrina (regulador
primário da secreção gástrica pós-prandial)
51 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 51

• Tipos celulares gástricos (conforme a imagem abaixo):


a) Células mucosas superficiais: Secreção de muco espesso;
b) Células tronco: Responsáveis pela renovação das células mucosas epiteliais (ocorre de 1 a 3 dias)
∟ Encontram-se nas células mucosas do colo.
c) Célula oxíntica (parietal): Especializadas em secretar fator intrínseco e ácido clorídrico (HCl);
d) Célula principal: Secreta pepsinogênio em grânulos apicais – Liberação por exocitose;
e) Células endócrinas: Compõem as chamadas de células G e D, que secretam, respectivamente,
gastrina e somatostatina.
∟ Células semelhantes às enterocromafins (ECL): Sintetizam histamina.

• Distribuição celular ao longo das regiões do estômago:


a) Cárdia: Contém primariamente células mucosas;
 Secreção de muco.
b) Corpo/fundo: Predomínio de células parietais e principais.
 Secreção de HCl, fator intrínseco e pepsinogênio.
 Glândulas do corpo/fundo também contêm células secretoras de muco, as quais se concentram
no colo da glândula, e células endócrinas (p.e. ECL – síntese de histamina).
c) Antro do estômago: Contém células principais e células endócrinas (célula G e célula D).
 Secreção de pepsinogênio, gastrina e somatostatina.

* Importante: Antro não possui células parietais – Não secretam fator intrínseco nem ácidos.
52 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 52

• Produtos secretórios gástricos (Tabela a seguir):

a) Muco: Produzido por dois tipos de células, as superficiais das glândulas gástricas e as do colo.
 Superficiais: Muco retém o HCO3- secretado por estas mesmas células.
- Forma uma camada sobre a superfície luminal do estômago – Forma uma barreira protetora
(muco + HCO3-) sobre a mucosa gástrica – Proteção contra o HCl e a pepsina.
 Colo: Muco é misturado aos alimentos, lubrificando-os, protegendo mecanicamente a mucosa
gástrica durante o processo digestivo.

b) Bicarbonato: Secretado pelas células superficiais mucosas das glândulas gástricas.

c) Ácido clorídrico (HCl): Produzido pelas células parietais – Tem função bactericida importante.
 Marca o início do processo digestivo e regula a secreção de pepsinogênio e sua conversão em
pepsina na luz gástrica.

d) Fator intrínseco: Glicoproteína produzida pelas células parietais.


 É necessário para a absorção da vitamina B12 no íleo – Secreção essencial/vital do estômago.

e) Histamina: Secretada pelas células ECL; efeito parácrino e estimula as células parietais.

f) Pepsinogênio: Produzido pelas células principais das glândulas do corpo e do antro do estômago.
 É lançado na luz gástrica na forma de pró-enzima e é hidrolisado a pepsina em valores de pH < 5.

g) Lipase gástrica: Produzida pelas células principais das glândulas fúndicas.


 Lançada na luz gástrica sob forma ativa em meio ácido - Não é essencial na digestão de gorduras.

h) Somatostatina: Secretada pelas células D – Atua de forma endócrina quando secretada pelo
corpo gástrico e parácrino quando secretada pelo antro.
 Células D antrais: Estimuladas pela redução do pH luminal intragástrico;
 Células D do corpo: Reguladas por vias neurais e hormonais;
 Nas duas formas, a somatostatina inibe a secreção de HCl – É um inibidor geral.

i) Gastrina: Hormônio gastrintestinal produzido pelas células G das glândulas do antro.


 Estimula a secreção de HCl pelas células parietais.
53 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 53

Secreção de Ácido
• Suco gástrico: Líquido secretado no estômago – Mistura de secreções das células epiteliais super-
ficiais e das glândulas gástricas.
 Composição: HCl, sais, água, pepsina, fator intrínseco, muco e bicarbonato.
- Secreção desses componentes aumentam após uma refeição.

• Composição iônica do suco gástrico depende da taxa de


secreção (conforme o gráfico ao lado).
 Em todas as taxas de secreção o Cl- é o principal ânion;
 Quanto maior a taxa de secreção, maior será a [H+];
 Baixas taxas de secreção ↓[H+] e ↑[Na+];
 [K+] é maior no suco gástrico do que no plasma;
- Vômitos prolongados podem levar a hipocalemia.

* Importante: HCl converte o pepsinogênio gástrico em


pepsina ativa – Digestão de proteínas.

• Mecanismo celular de secreção de ácido gástrico (con-


forme a imagem ao lado).
 Membrana basolateral: Antiporte HCO3-/Cl-, canal de
K+ e bomba Na+/K+
- Antiporte HCO3-/Cl-: HCO3- flui a favor de seu gradiente
para fora da célula e o Cl- entra na célula contra o gradi-
ente de potencial eletroquímico.
 Membrana apical: Bomba H+/K+ e canal de Cl-
- H+ e K+ são bombeados contra os seus gradientes;
- ↑[Cl-]IC e saída de K+ pela membrana basolateral pro-
movem a saída do Cl- pelo canal e ele se combina com o
H+ formando HCl.

AC
* Importante¹: Metabolismo celular libera H+ e HCO3- por: H2O + CO2 ↔ <H2CO3> ↔ H+ + HCO3-.

* Importante²: Células parietais utilizam muita energia para secretar HCl – São capazes de bombear
H+ contra um gradiente de concentração de aproximadamente 1 milhão de vezes.
∟ pH no citoplasma da célula parietal ±7 e aproximadamente 1 no lúmen da glândula gástrica;
∟ Célula possui muitas mitocôndrias – Ocupam cerca de 30 a 40% do volume total da célula.

• Ultraestrutura da célula parietal – Controle da secreção de H+ varia de acordo com o estado da


célula, ou seja, em repouso ou ativado/durante a secreção (conforme as imagens a seguir).
 Sistema tubulovesicular: Responsável pelo transporte da secreção de H+ e Cl- para o lúmen da
glândula – Possui bomba H+/K+ e canais de Cl- na membrana apical.
 Estado basal: Reduzida taxa de secreção de ácido.
- Sistema tubulovesicular com pouca superfície de contato com o lúmen da glândula.
54 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 54

 Estado ativo: Estimulação das células parietais causa o rearranjo do citoesqueleto e a fusão das
membranas tubulovesiculares – contêm a bomba H+/K+ – à membrana dos canalículos secretores.
- Aumento de 50 a 100 vezes na área de superfície da membrana apical da célula parietal.
∟ Também há ↑bombas H+/K+ e ↑canais de Cl- na membrana dos canalículos secretores.

• Controle da secreção de HCl pela célula parietal: Mediada pela histamina (parácrina), acetilcolina
(neuroendócrino) e gastrina (endócrino) – (conforme a imagem acima).
a) Histamina: Secretada pelas células ECL da mucosa gástrica e liga-se nos receptores H2.
 É o mais potente agonista da secreção do HCl e atua aumentando [AMPC]IC.
b) Gastrina: Secretada nas células G na mucosa do antro gástrico e do duodeno – Atinge as células
parietais via corrente sanguínea e liga-se nos receptores CCK-B.
 Atua aumentando a [Ca2+]IC
 Possui efeito trófico: ↑[Gastrina] causa aumento no número e tamanho das células ECL.
c) Acetilcolina: Liberada pelos terminais colinérgicos próximo e liga-se nos receptores M3.
 Atua aumentando a [Ca2+]IC

 Membrana basolateral possui dois tipos de canal de K+ (ativado por AMPC e Ca2+); Justifica o aumento
 Ativação dos canais hiperpolariza a célula – Força a saída de Cl-; da secreção de HCl
 AMPC e Ca2+ inserem canais de Cl- na membrana apical e promovem fusão das durante o estado
tubovesículas com a membrana dos canalículos secretores – Aumenta a expressão de ativo/de secreção
bomba H+/K+ – Maior quantidade de H+ é lançado no lúmen da glândula gástrica. (Imagem acima)

* Importante: Omeprazol – Atua sobre o receptor H2 (histamina) – Afeta a atividade da bomba


H+/K+, canais de K+ e Cl-, porém não afeta a atividade da bomba Na+/K+
∟ Atua na proteção do estômago contra a acidez – Evita a formação de HCl.
55 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 55

• Regulação da secreção pós-prandial – Fases cefálica, gástrica e intestinal (tabela abaixo):

a) Fase cefálica: Momento antes do alimento atingir o estômago.


 Secreção é desencadeada pela visão, cheiro e paladar do
alimento;
 Nervos vagos atuam na fase cefálica da secreção –
Fibras colinérgicas atuam diretamente nas células parietais
a secretarem HCl e, indiretamente, estimula a secreção ácida
pela liberação de gastrina (células G) e histamina
(células ECL) (conforme a imagem ao lado).

* Importante: Observe na imagem ao lado que a histamina


(agonista mais potente), acetilcolina e gastrina provocam
a secreção de HCl nas células parietais, ao passo que a
somatostatina (potente inibidor da secreção de HCl) ajuda a
prevenir que as alças de feedback positivo provoquem taxas
descontroladamente altas de secreção de HCl.

b) Fase gástrica: Início com a presença de alimento no estômago.


 Principais estímulos: Distensão do estômago e a presença de aminoácidos
e peptídeos que resultam das ações das pepsinas;
- Reflexos vagovagais (conforme a imagem ao lado).
∟ Ativação dos reflexos locais e centrais causa liberação de acetilcolina
nas células parietais, que diretamente as estimula a secretar HCl, e
nas células G antrais que são estimuladas a liberar gastrina.

* Importante: pH <2 sobre a superfície da mucosa bloqueia


a secreção de ácidos – Regulação dos conteúdos gástricos
regula-se a si mesma através de reflexos inibitórios locais.
∟ Inibição das células parietais e inibição das células G.

* Curiosidade: Íons Ca2+, cafeína e álcool intensificam a


secreção gástrica de ácido.
56 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 56

c) Fase intestinal: Inicia quando o quimo entra no intestino delgado – Responsável por apenas 10%
da secreção gástrica total.
 Distensão da parede do duodeno ativa, por reflexos enterogástricos e vagovagais, a secreção das
células parietais e das células G duodenais, aumentando a secreção de HCl.

* Importante: Presença de quimo no duodeno provoca respostas neurais e endócrinas que primei-
ramente estimulam e depois inibem a secreção de ácido pelo estômago.

 Presença de aminoácidos e peptídeos parcialmente digeridos


na porção proximal na parede do intestino delgado estimula três
mecanismos de secreção de ácido (conforme a imagem ao lado).
- Peptídeos parcialmente digeridos estimulam as células G duode-
nais a secretar gastrina, da mesma forma que estimulam as célu-
las G no antro na fase gástrica;
- Peptídeos menores estimulam uma célula endócrina a secretar
um sinal humoral adicional denominado como êntero-oxintina;
- Aminoácidos absorvidos pela porção proximal do intestino del-
gado estimulam a secreção ácida.

 Inibição da secreção gástrica (observe a tabela abaixo).


- Mecanismos evocados pela presença de ácido, produtos da digestão de gorduras e de hipertonici-
dade no duodeno e na parte proximal do jejuno.

Secreção de Pepsinogênio
• Pepsinogênio: Secretado pelas células principais das glândulas do corpo e do antro do estômago
através de um processo de exocitose – É lançado na luz gástrica na forma de pró-enzima e é hidroli-
sado a pepsina em valores de pH <5 (pH >5 inativa a enzima – Normalmente ocorre no duodeno).
 Pepsina: Corresponde a 20% do total da digestão
de proteínas – Não é essencial para a digestão das
proteínas  Maior parte da digestão de proteínas
ocorre no intestino delgado (secreções pancreáticas).
• Cálcio é um mediador importante para efetuar a
resposta secretora – ACh e gastrina  ↑[Ca2+]IC.
 Secretina e CCK (liberadas na mucosa duodenal)
também estimulam as células principais a secretarem
pepsinogênio, além de outros sinalizadores (con-
forme a imagem ao lado).
57 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 57

Secreção de Fator Intrínseco


• Fator intrínseco (FI): Glicoproteína sintetizada e secretada pelas células parietais do estômago.
 Ativado pelos mesmos secretagogos que iniciam a secreção ácida (ACh, histamina e gastrina).
 Secreção do fator intrínseco é a única função gástrica essencial à vida humana.
* Importante: Secreção de ácidos e de FI pelas células parietais não dependem um do outro.

• FI é necessário para a absorção normal da vitamina B12 (cobalamina).


 Fase gástrica: Fator intrínseco não consegue se ligar à cobalamina da
dieta porque o pH não é favorável.
- Cobalamina liga-se à proteína R de ligação – Forma um
complexo que é estável no pH ácido desse local (R-CbI).
 Fase intestinal: Degradação da proteína R pelas proteases
pancreáticas e libera a cobalamina.
- Cobalamina liga-se ao FI (FI-CbI) no duodeno  Ligação
importante para a absorção de B12 no íleo.

* Curiosidade: Insuficiência pancreática pode


desencadear uma deficiência de vitamina B12 devido
a redução da secreção de proteases – Proteína R
mantém-se ligada à cobalamina.

• Absorção normal de cobalamina (CbI) depende da presença do fator intrínseco (FI).


 Quando a CbI liga-se ao FI há uma alteração conformacional que favorece a formação de díme-
ros – Cada dímero liga-se duas vitaminas B12.
 Membrana apical do íleo: Epitélio em escova possui proteínas receptoras que reconhecem e li-
gam-se ao dímero FI-CbI – Entra na célula por endocitose.
- Vitamina B12 é lentamente transportada – Leva 4h para aparecer no sangue após a ingestão.
∟ Pico no plasma ocorre entre 6 – 8h após a refeição.
∟ Provável causa da lentidão do processo é a atuação da mitocôndria sobre a vitamina B 12.
 Membrana basolateral do epitélio do íleo: Saída de vitamina B12 ainda não é bem esclarecida,
talvez ocorra por transporte ativo ou facilitado.
- Vitamina B12 é transportada pelo sangue ligado à transcobalamina II (TCII-B12).

* Importante: Anemia perniciosa – Redução dos níveis de vitamina B12 torna a maturação dos gló-
bulos vermelhos mais lenta – Pode ocorrer devido à ausência de FI ou defeito no receptor FI-CbI.
58 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 58

Secreção de Muco e de Bicarbonato


• Secreção de muco: Ocorre nas células do colo das glândulas gástricas e nas células epiteliais su-
perficiais do estômago – Muco é armazenado em grânulos nessas células e liberado por exocitose.
 Muco é composto por um tetrâmero, forma um gel viscoso e pegajoso (alta viscosidade)
- É sintetizado continuamente para repor o que foi clivado pelas pepsinas.
 Acetilcolina: Principal estimulante da secreção de muco;
- Deformação da parede gástrica também contribui para a liberação de muco – Reflexos neurais.
• Secreção de bicarbonato: Secretado pelas células superficiais mucosas das glândulas gástricas.
 Bicarbonato fica retido junto ao muco, este torna-se viscoso, pegajoso e alcalino;
 Taxa máxima de HCO3- corresponde à 10% da taxa máxima de secreção de HCl;
 Secreção de bicarbonato é intensificada pela acetilcolina.

* Importante: Ingestão leva ao aumento das taxas de secre-


ção tanto do muco quanto do HCO3-.

• HCO3- e o muco protegem a superfície do estômago das


ações do HCl (ácido – possui capacidade de desnaturar as
proteínas que compõe o epitélio) e das pepsinas (possui ca-
pacidade de digerir as proteínas que compõe o epitélio) –
Formam a barreira mucosa gástrica (imagem ao lado).
 Barreira mucosa gástrica: Possui aproximadamente
0,2mm de espessura e separa as secreções ricas em bicar-
bonato dos conteúdos ácidos do lúmen gástrico.
- Possui canalículos de 5 – 7μm de diâmetro – Canal pelo
qual as secreções das glândulas gástricas chegam ao lúmen.

* Importante: Barreira mucosa gástrica depende da combinação entre o muco e o HCO3- isolados
eles não conseguem manter a superfície celular epitelial próximo da neutralidade.

Úlceras Gástricas e Duodenais


• Úlceras podem resultar de redução da eficiência da barreira mucosa
gástrica, hipersecreção de ácidos e infecção pela bactéria H. pylori.
 Redução da barreira gástrica: Pode ocorrer devido ao uso de anti-
inflamatórios não-esteroides (p.e. aspirina), através agonistas α-adre-
nérgicos e adrenalina cronicamente elevada.
 Helicobacter pylori: Bactéria que coloniza a camada mucosa do
estômago e do duodeno – Presente em 40% da população.
- Possui capacidade de desenvolver-se em ambientes ácidos devido a
secreção de urease (enzima que catalisa a conversão de ureia em NH3
e CO2 – NH3 tampona o pH ácido em torno da bactéria).
- Secreta proteínas que provocam respostas imunes celulares e humo-
rais – Macrófagos e outros imunócitos invadem a camada mucosa e
expõe a camada e pode levar à gastrite superficial crônica e, com o tempo, pode
desenvolver-se em úlcera gástrica e/ou duodenal (conforme o esquema ao lado).
59 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 59

Secreção Pancreática

Visão Geral
• Pâncreas: Glândula retroperitonial tubuloacinar com
secreções endócrinas e exócrinas.
 Pesa menos de 100g, porém a cada dia secreta 1kg de
suco pancreático – Secreta 10x a sua massa!
a) Pâncreas endócrino: Secreção endócrina é produzida
nas células localizadas nas ilhotas de Langerhans.
 Principais hormônios: Insulina (secretada pelas células β),
glucagon (células α), e somatostatina (células δ).
- Esses hormônios regulam o metabolismo celular
e afetam a secreção exócrina do pâncreas, porém
os mecanismos não são bem compreendidos.

b) Pâncreas exócrino: Secreção com função digestiva


 Composto por células acinares e células dos ductos.
 Responsável pela secreção da maioria das enzimas
(proteínas) necessárias para a digestão de uma refeição
mista (i.e., carboidratos, proteínas e lipídeos).
- Secreta proteases, enzimas amilolíticas (amilase),
lipases e nucleases.
 Componente aquoso do suco pancreático é alcalino – Rico em bicarbonato (HCO3-).
- Neutraliza o quimo ácido proveniente do estômago.

 Vascularização: Irrigado pelas artérias celíaca e mesentérica superior, e a veia porta drena o pân-
creas.
- Ácinos e ilhotas de Langerhans são supridos por redes de capilares separadas.

 Inervação:
a) Parassimpática: Ramos do nervo vago – ACh.
- Células acinares, ductos e ilhotas de Langerhans;
- Estimula a secreção do suco pancreático – Secreção enzimática.

b) Simpática: Plexo celíaco e mesentérico superior – NAdr.


- Inervação dos vasos sanguíneos pancreáticos;
- Inibe a secreção do suco pancreático.

c) Neurônios sensoriais entéricos: Provenientes do estômago e do duodeno.


- Reflexo gastropancreático: Estimula a secreção das células acinares e do ducto;
- Reflexos intestinopancreáticos: Inibem a secreção das células acinares e do ducto.

* Importante: Os principais agonistas excitatórios da secreção acinar são CCK e acetilcolina.


∟ Secretina e VIP podem potencializar o efeito da CCK.
60 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 60

• Estrutura do pâncreas exócrino (conforme a imagem abaixo)


 Células acinares: Responsáveis pela secreção do componente enzimático do suco pancreático.
 Ácinos drenam para um sistema de ductos intercalares, e estes para ductos intralobulares que
drenam para um único ducto, o ducto extralobular e, finalmente, drenam para ductos cada vez
maiores até que, por fim, drenam para um ducto pancreático principal (ducto de Wirsung).
- Ducto pancreático principal penetra no duodeno juntamente com o ducto biliar comum.
∟ Esfíncter de Oddi controla a secreção pancreática e biliar – Regulado pela CCK (relaxamento).

• Composição iônica do suco pancreático (gráfico ao lado).


 Suco pancreático é praticamente isotônico em relação ao
plasma em todos os fluxos.
- Concentrações de Na+ e de K+ de suco pancreático são simila-
res às do plasma;
- HCO3- (em níveis bem acima do plasma) e o Cl- são os princi-
pais ânions do suco gástrico;
∟Concentração de HCO3- e Cl- variam de acordo com a taxa de
secreção do suco pancreático.

* Importante: O elevado HCO3- tampona o pH ácido proveniente do estômago.


61 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 61

• Secreção primária: Produzida pelas células acinares.


 Secreção praticamente isotônica e as concentrações de íons
principais são similares ao plasma.
- Concentrações de Na+, K+, Cl- e HCO3- assemelham-se ao do
plasma;
- Pouco volume, contendo primordialmente NaCl.
 Responsável pela secreção dos componentes enzimáticos
do suco pancreático;
 Secreção é, predominantemente, sinalizada pelo Ca2+ que
promove a liberação de proteínas.
- Sinalização mediada pela acetilcolina ou CCK.
∟ Estimula a secreção de Cl- e, indiretamente, de Na+.

• Secreção secundária: Modifica o conteúdo iônico e adiciona


volume ao suco pancreático.
 Secreção espontânea nos ductos intralobulares.
- Possui [K+] e [HCO3-] maiores que a do plasma – Levemente hipertônico.
∟ Adição de H2O ao longo dos ductos dilui o suco pancreático e o torna isotônico em relação ao
plasma.
 Secreção mediada por secretina adiciona uma grande quantidade de HCO3- ao suco pancreático.
 Células do ducto coletor reabsorvem HCO3- e secretam Cl- no lúmen;
- Caso o ducto extralobular esteja sob influência da secretina, o antiporte HCO3-/Cl- não conseguirá
reabsorver todo o HCO3- do lúmen – Suco pancreático bastante alcalino (importante para tamponar
o ácido proveniente do estômago).

• Mecanismo na célula acinar (conforme a figura ao lado).


 Membrana basolateral: Bomba Na+/K+ (estabelece o
gradiente de Na+), canal de K+ e simporte Na+/K+/2Cl-
- Bomba Na+/K+ impulsiona a entrada de Na+ pelo simporte
Na+/K+/2Cl- para dentro da célula;
- ↑[K+]IC que resulta da atividade da bomba e do simporte
é desviado pelo canal de K+ (via de saída do K+);
 Membrana apical: Canal de Cl-
- ↑[Cl-]IC estabelece um gradiente eletroquímico que induz
a secreção de Cl- para dentro do lúmen acinar.
∟ Estabelece um gradiente elétrico, permitindo, assim, a
entrada de Na+ através das junções celulares, pela via paracelular.

* Importante: O hormônio CCK e o neurotransmissor colinérgico acetilcolina são potentes estimula-


dores da secreção de Cl- – Aumentam a [Ca2+]IC – Também estimulam a secreção de proteínas pelas
células acinares.
∟ ↑[Ca2+]IC promove estimulação do canal de K+ basolateral e estimulação do canal de Cl- na mem-
brana apical.
62 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 62

• Mecanismo nas células do ducto (conforme a imagem ao lado)


AC
 Interstício: H+ + HCO3- ↔ <H2CO3> ↔ H2O + CO2
- Sangue é a principal fonte de HCO3- para o lúmen.
 Membrana basolateral: Simporte 2HCO3-/Na+, anti-
porte H+/Na+, bomba Na+/K+ (cria o gradiente de Na+) e
canal de K+.
- Parte do HCO3- intersticial combina-se com o H+ proveni-
ente do antiporte H+/Na+ e, sob ação da anidrase carbô-
nica, forma H2O e CO2 (este difunde para a célula), outra
parte do HCO3- entra na célula pelo simporte 2HCO3-/Na+;
- Canal de K+ promove o efluxo de K+ e, dessa forma, man-
tém a eletronegatividade da célula – Contribui para a saída
de Cl- e HCO3- pela membrana apical;
∟ Lúmen também torna-se eletronegativo – Permite o
transporte paracelular de Na+ e, consequentemente, H2O
através das junções celulares, para o lúmen.
 Membrana apical: Antiporte HCO3-/Cl- e canal de Cl- (CFTR).
- Canal CFTR atua na reciclagem do Cl- que impulsiona o antiporte HCO3-/Cl- e promove a secreção
de bicarbonato para o lúmen do ducto.
∟ Secretina estimula a secreção de HCO3- – ↑[AMPC]IC, e estimula a PK-A e a fosforilação do CFTR.

* Importante: Fibrose cística


- Alterações no funcionamento do canal de Cl- (CFTR) reduz o transporte de Cl- para o lúmen do
ducto e, consequentemente, prejudica o transporte de H2O e eletrólitos.
- Resulta num fluido luminal espesso, rico em proteínas enzimáticas, que podem obstruir a drena-
gem da secreção e causar destruição do parênquima pancreático por ativação prematura das enzi-
mas proteolíticas – Parênquima é substituído por tecido fibrótico e infiltrado por gorduras.
- Insuficiência enzimática pancreática  Distúrbios digestivos e absortivos  Desnutrição.

• Componentes enzimáticos do suco pancreático: Produtos das secreções acinares.


 Proteases hidrolisam proteínas, amilases digerem carboidratos, lipases e fosfolipases quebram
lipídeos, e nucleases digerem ácidos nucleicos.
 Proteases: Secretadas em forma de zimogênio inativa (tripsinogênio, quimiotripsinogênio, pro-
carboxipeptidase) – Formas ativas  Tripsina, quimiotripsina e carboxipeptidase;
 Amilase: Secretada na forma ativa (α-amilase);
 Lipases: Triacilglicerol hidrolase, hidrolase de éster do colesterol e fosfolipase A2;
63 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 63

Regulação da Secreção do Suco Pancreático


• Atividade secretora pancreática relacionada com a ingestão alimentar ocorre em fases:
a) Fase cefálica (20 – 25%): Visão, cheiro e o paladar do alimento induzem à secreção de suco pan-
creático com alto teor de proteínas.
- Durante a ingestão, mecanorreceptores e quimiorreceptores das cavidades oral e faríngea, incen-
tivados pelos processos de mastigação e de deglutição, aumentam a secreção pancreática;
- Hipoglicemia também ativa a secreção, como ocorre com as secreções gástrica e salivar, durante a
fase cefálica.
 Impulsos vagais são os principais estímulos secretórios.

b) Fase gástrica (10%): Distensão do estômago desencadeia reflexos vagovagais e gastropancreáti-


cos que estimulam a secreção de suco pancreático.

* Importante: Fases cefálica e gástrica, as secreções possuem baixo volume e altas concentrações
de enzimas digestivas – Estimulação das células acinares.

c) Fase intestinal (65 – 70%): Quimo ácido que chega ao duodeno (pH <4,5), presença de aminoáci-
dos e ácidos graxos, e distensão do duodeno e hipertonicidade no duodeno estimulam a secreção
de suco pancreático em grande volume e baixa concentração de enzimas digestivas – Estimulação
das células do ducto

 Secretina: Principal mediador da resposta ao pH ácido (pH <4,5) no


duodeno (observe o esquema ao lado – Função da secretina).
- Liberada a partir das células S da mucosa do duodeno;
- Circula através da corrente sanguínea para causar a secreção de
HCO3- pelos ductos pancreáticos, pelos ductos biliares e pela mucosa
duodenal – Neutraliza o ácido gástrico do lúmen duodenal.
∟ Neutralização do pH interrompe a secreção de secretina

 Colecistocinina (CCK): Atua sobre as células acinares – Secreção de enzimas.


- Sintetizada e secretada pelas células I localizadas no duodeno;
- Lipídeo é o estimulador mais potente da secreção de CCK pelas células I;
∟ Produtos de digestão de proteínas (i.e., oligopeptídeos e aminoácidos) também aumentam a se-
creção de CCK, porém carboidratos e o ácido possuem pouco efeito.
- CCK estimula os ramos aferentes dos reflexos vagovagais que estimulam a secreção pancreática;
- Liberação de CKK também regulada por fatores liberadores que agem luminalmente e que podem
estimular a célula I:
1) Fatores liberadores de CCK (CCK-RP): Estimula a secreção de CKK – Liberado em resposta a áci-
dos graxos e aminoácidos.
2) Peptídeo monitor: Controla a secreção de CKK – Liberado pelas células acinares.

* Importante: O papel dos fatores de liberadores de peptídeos é suprir as necessidades enzimáticas


para garantir a digestão – Quando a refeição é digerida e absorvida, os fatores de liberação são de-
gradados e o sinal para a liberação da CCK é terminado.
64 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 64

Secreção Biliar

Visão Geral – Anatomia Funcional do Fígado e Considerações Estruturais

• Funções hepáticas:
a) Regulação do metabolismo;
b) Síntese de proteínas e de outras moléculas;
c) Armazenamento de vitaminas e de ferro; Funções vitais
d) Degradação de hormônios;
e) Excreção de drogas e toxinas.

• Funções relacionadas ao sistema gastrointestinal:

a) Funções metabólicas – Carboidratos, lipídeos e proteínas.

a1) Metabolismo dos carboidratos: Fígado e músculo esquelético são os principais locais de arma-
zenamento de glicogênio, além disso, fígado é o principal local de gliconeogênese.
 Glicogênio é formado quando os níveis de glicose no sangue estão elevados – Sistema de tampo-
namento da glicose.
- Em baixos níveis de glicose, o glicogênio do fígado é degradado a glicose (glicogenólise) e ela é li-
berada para o sangue.
 Gliconeogênese: Conversão dos aminoácidos, dos lipídeos ou dos carboidratos simples (p.e., lac-
tato) em glicose.

a2) Metabolismo de lipídeos: Hepatócitos atuam na oxidação dos ácidos graxos (fonte de energia) e
na síntese e secreção de lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL).
 VLDL são convertidas em lipoproteínas de alta densidade HDL e de baixa densidade LDL – São as
principais fontes de colesterol e de triglicerídeos para a maioria dos tecidos do corpo.

a3) Metabolismo de proteínas: Fígado sintetiza praticamente todas as proteínas plasmáticas (albu-
mina, globulina, fibrinogênio etc.), exceto as imunoglobulinas; sintetiza todos os aminoácidos não-
essenciais e, além disso, converte a amônia (resultado da degradação proteica) em ureia.
65 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 65

b) Destoxificação: Fígado limita a entrada de substâncias tóxi-


cas na corrente sanguínea e remove os produtos metabólicos
potencialmente tóxicos, produzidos em outras partes do
corpo e os converte em formas químicas que podem ser ex-
cretadas.
 Maior parte que chega ao fígado é venoso e provém do in-
testino através da veia porta (conforme a imagem ao lado).
- Recebe os nutrientes absorvidos e as moléculas potencial-
mente nocivas (fármacos e toxinas bacterianas).
 Há dois níveis de defesa para a remoção e metabolização
ou destoxificação das substâncias que chegam ao fígado pela
veia porta:
1) Barreira física: Presença de células de Kupffer (macrófago)
que fagocitam o material particulado do sangue porta, inclu-
sive bactérias colônicas que podem entrar na circulação;
2) Barreira bioquímica: Hepatócitos possuem grande varie-
dade de enzimas que metabolizam e modificam as toxinas en-
dógenas e as exógenas – Objetivo é tornar os produtos mais solúveis em água e menos suscetíveis a
reabsorção intestinal.
 Podem ser excretados na bile para serem eliminados do corpo ou retornam a circulação para se-
rem excretados pelos rins.

c) Excreção: Substâncias que não são excretadas pelos rins (não conseguem ultrapassar o glomé-
rulo renal) são eliminadas pela bile e, consequentemente, pelas fezes.
 Hepatócitos são capazes de metabolizar essas substâncias.

• Considerações estruturais (observe a imagem da próxima página):


 Hepatócitos: Principais células do fígado (80% do total
de células – 100 bilhões de células) e encontram-se dispos-
tos em forma de cordões, unidos por junções oclusivas.
- Membrana apical dos hepatócitos formam os canalículos
biliares, estes drenam as substâncias metabolizadas pelos
hepatócitos para os ductos biliares;
- Membrana basolateral volta-se para a corrente sanguínea
na forma de capilares sinusoides.
 Células de Kupffer: Revestem o epitélio sinusoidal no
lado da corrente sanguínea (imagem ao lado).
- Desempenham função de defesa – Localização das células
permite que estejam expostas a praticamente todo o fluxo
sanguíneo portal.

 Endotélio sinusoidal: Formado por células endoteliais


fenestradas, as quais possuem 100-200nm de diâmetro, e sem membrana basal.
- Possibilita a passagem de macromoléculas (p.e. albumina).
66 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 66

 Espaço de Disse: Camada de tecido conjuntivo frouxo entre o endotélio sinusoidal e a mem-
brana basolateral dos hepatócitos – Permeável às trocas bidirecionais de solutos entre o fluxo san-
guíneo sinusoidal e os hepatócitos.

 Células estreladas hepáticas: Células em forma de estrela que residem no espaço de Disse.
- Armazenam lipídeos, atuam em mecanismos de injúria, regeneração e fibrose hepáticas, sinteti-
zando fatores de crescimento, e apresentam processos citoplasmáticos contráteis envolvendo os
sinusoides hepáticos, regulando o fluxo sanguíneo sinusoidal.

 Tríade : Formada pela veia hepática, artéria hepática e ductos biliares (imagem abaixo).
- Zona I: Hepatócitos mais próximos à tríade – Recebem maior aporte de O2 e nutrientes
∟ São especializados no metabolismo oxidativo e em outras funções específicas.
- Zona III: Hepatócitos mais distantes da tríade e próximos à veia central – Menor aporte de O2;
∟ São especializados na biotransformação de fármacos e na desintoxicação.
67 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 67

Formação e Secreção da Bile


• Bile: Produzida continuamente pelos hepatócitos.
 Contém ácidos biliares, colesterol, fosfolipídeos
e pigmentos biliares.
- Todos esses constituintes são secretados pelos hepatócitos
nos canalículos biliares.
∟ Canalículos biliares convergem para
ductos cada vez maiores até chegar a um
único ducto biliar, o ducto biliar comum (ducto colédoco).
∟ Esfíncter de Oddi controla a secreção biliar e pancreática.
 Bile é lançada no duodeno, predominantemente, nos
períodos digestivos, através do ducto biliar comum, e principalmente em resposta à presença de
produtos da hidrólise lipídica no duodeno.
- São os principais fatores estimuladores da secreção biliar – Elevam a secreção de CCK.

* Importante: CKK além de estimular a secreção biliar,


também relaxa o esfíncter de Oddi – Permite que a se-
creção chegue ao duodeno.

 Ácidos biliares lançados ao duodeno são absorvidos


por transporte ativo pelo epitélio do intestino delgado,
principalmente no íleo terminal.
- Cerca de 10 - 20% dos ácidos escapam à absorção e
são excretados.
- Ácidos biliares que retornam ao fígado são captados
pelos hepatócitos e são ressecretados – Recirculam de
duas ou mais vezes em resposta a uma única refeição –
Circulação êntero-hepática (imagem ao lado).
68 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 68

 Taxa de retorno dos ácidos biliares para o fígado afeta a


taxa de síntese e secreção dos ácidos biliares.
- Ácidos biliares no sangue portal estimulam a captação e a
ressecreção dos ácidos biliares pelos hepatócitos, mas inii-
bem a síntese de novos ácidos biliares (imagem ao lado).
∟ Efeito colerético: Estimulação da secreção de ácidos bilia-
res – Mediado por substâncias coleréticas.

* Importante: A remoção do íleo distal diminui a taxa do re-


torno dos ácidos biliares no sangue portal, resultando em uma taxa muito maior de síntese de áci-
dos biliares (conforme o gráfico acima), ao passo que a ingestão dos ácidos biliares provoca o seu
aumento no sangue portal e inibe a sua síntese.

• Funções da bile – Digestão e excreção:


a) Digestão e absorção: Embora a bile não contenha nenhuma enzima digestiva, sua função na di-
gestão e na absorção dos lipídios é de extrema importância fisiológica.
 Funciona como um detergente sobre as gorduras em suspensão no fluido aquoso luminal do ID.
 Componentes da bile formam micelas que interagem com as gorduras.
- Emulsificação: Rompimento da gordura em gotículas – Amplia a área superficial das gorduras ex-
postas às ações das enzimas lipolíticas pancreáticas.
 Ajudam a absorção dos produtos finais da digestão das gorduras através da membrana da mu-
cosa intestinal.
b) Excreção: Produtos como a bilirrubina (produto final da destruição da hemoglobina) e o coleste-
rol são secretados na bile e excretado através das fezes.
 A bile é a única via de excreção do colesterol.

• Componentes da bile: Ácidos biliares, fosfolipídeos e colesterol.


a) Ácidos biliares: Sintetizados pelos hepatócitos a partir do colesterol (observe a imagem abaixo).
69 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 69

 Ácidos biliares primários: Principais ácidos biliares sintetizados pelo fígado;


- Grupos hidroxila e carboxila torna os ácidos biliares mais hidrossolúveis do que o colesterol.
 Ácidos biliares secundários: Resulta da desidroxilação promovida pelas bactérias do TGI.
 Conjugação dos ácidos biliares: Torna os ácidos biliares mais hidrossolúveis (devido ao pH quase
neutro do TGI) – Forma, principalmente sais de Na+  Sais biliares.

* Importante¹: Ácidos biliares são moléculas anfipáti-


cas, uma vez que apresentam porções tanto hidrofíli-
cas quanto hidrofóbicas (imagem ao lado).
∟ Em solução aquosa, os sais biliares orientam-se em torno
de gotículas de lipídio e as mantêm dispersas (emulsificação).

* Importante²: Ácidos biliares desconjugados podem ser reabsorvidos passivamente através da pa-
rede do intestino – São conduzidos pela veia porta de volta ao fígado e são reconjugados pelos he-
patócitos – Circulação êntero-hepática.

* Importante³: Todos os ácidos biliares secretados pelo hepatócito estão em formas conjugadas.

* Importante4: Acima de uma concentração micelar crítica, os sais biliares formam micelas – Os sais
biliares ficam no lado externo da micela, com suas porções hidrofílicas dissolvidas na solução
aquosa do lúmen intestinal, e as hidrofóbicas, dissolvidas no interior da micela.

b) Fosfolipídeos e colesterol: Fosfolipídeos também são secretados pelos hepatócitos, especial-


mente lecitinas, na bile, além de colesterol – Bile é a única via
de excreção de colesterol.
 São secretados nos canalículos biliares como vesículas de
bicamada lipídica – Sofrem partição para as micelas do ácido
biliar formando micelas mistas (imagem ao lado);
 A lectitina eleva a quantidade de colesterol que pode ser
solubilizado nas micelas;
- Se a quantidade de colesterol na bile for superior à
capacidade da lecitina de solubilizá-lo nas micelas, ele se precipita e pode vir a formar cálculos
biliares de colesterol na vesícula biliar.

* Importante: Não existe micelas simples no conteúdo biliar – Ácidos biliares formam micelas
mistas com fosfatildilcolina e colesterol e podem atuar como um “solvente” para produtos residuais
hidrofóbicos.

• Pigmentos biliares: Hemácias envelhecidas são degradadas e o domínio porfirínico da hemoglo-


bina é convertido à bilirrubina (observe o esquema a seguir).
 Bilirrubina é liberada no plasma e liga-se à albumina, que chega ao fígado pela veia porta.
- Hepatócitos removem a bilirrubina do sangue, conjugam-na ao ácido glicurônico, formando o gli-
curonato de bilirrubina, que é secretado na bile – Bilirrubina dá a cor amarelada à bile.
70 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 70

 No intestino delgado a bilirrubina é desconjugada do ácido glicurônico por ação bacteriana – Bi-
lirrubina livre é reduzida a urobilinogênio por ação bacteriana (principalmente no colo).
- Urobilinogênio é oxidado à esternobilina nas fezes – Confere a cor característica delas.
 A fração de urobilinogênio que é absorvida no intestino retorna ao fígado por meio da circulação
êntero-hepática – Entra na circulação sistêmica e chega aos rins  Urobilinogênio é oxidado nos
rins e forma a urobilina, que caracteriza a cor amarelada à urina.

• Mecanismo de secreção biliar – Hepatócitos (conforme a imagem abaixo)


 Membrana basolateral (voltada para o
sangue sinusoidal) – Principais transporta-
dores: Simporte 2Na+/Ácido biliar (NTCP)
e transportador OATP – Transportadores
de ácidos biliares.
- NTCP transporta o conjugado taurina do
ácido cólico junto à 2Na+;
- OATP transporta os outros ácidos biliares
(conjugados e não-conjugados) e são inde-
pendentes do Na+.
 Membrana apical (voltada para o canalí-
culo biliar) – Principais transportadores:
BSEP (bomba de exportação de sais biliares) e MRP2.
- BSEP secreta ativamente os ácidos biliares para o canalículo biliar;
- MRP secreta compostos aniônicos, como os ácidos biliares e compostos sulfatados, que são conju-
gados nos hepáticos com o glicuronídeo, sulfato ou glutationa.
∟ Glicuronídeos da bilirrubina são secretados ao canalículo biliar por esse transportador.

* Curiosidade: MRP (resistência a múltiplas drogas) – Evita que a droga se acumule no organismo.
∟ Secreta a maior parte das drogas administradas.

* Observação: Associe os transportadores da imagem acima com a tabela da página a seguir.


71 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 71

• Mecanismo de secreção biliar – Ductos biliares (conforme a imagem abaixo)


 Ductos biliares são revestidos por colangiócitos –
Células epiteliais colunares especializadas em modificar
a composição da bile.
- Junções oclusivas que unem os colangiócitos são mais
permeáveis a água.

 Membrana basolateral: Simporte Na+/K+/2Cl-, sim-


porte HCO3-/Na+, antiporte Na+/H+ e canal de K+
- Entrada de Cl- para dentro da célula é promovida pelo
simporte Na+/K+/2Cl-;
- HCO3- entra na célula pelo simporte HCO3-/Na+.
- Canal de K+ promove o efluxo de K+ e, dessa forma,
mantém a eletronegatividade da célula – Contribui para a saída e Cl- e HCO3- pela membrana apical;
∟ Lúmen também torna-se eletronegativo – Permite o transporte paracelular de Na+ e, consequen-
temente, H2O através das junções celulares, para o lúmen do ducto biliar.

 Membrana apical: Canal de Cl-, canal de Cl- (CFTR) e antiporte HCO3-/Cl-


- Canal CFTR atua na reciclagem do Cl- que impulsiona o antiporte HCO3-/Cl- e promove a secreção
de bicarbonato para o lúmen do ducto.
∟ Secretina e VIP estimulam a secreção de HCO3- – ↑[AMPC]IC  Fosforilação do CFTR.
- Canal de Cl- também atua na reciclagem do Cl- que impulsiona o antiporte HCO3-/Cl- e promove a
secreção de bicarbonato para o lúmen do ducto.
∟ Acetilcolina e gastrina estimulam a secreção de HCO3- – ↑[Ca2+]IC.

Concentração de Bile e Armazenamento na Vesícula Biliar


• Vesícula biliar: Saco muscular com uma capacidade de aproximadamente 50mL.
 Serve para armazenar e concentrar a bile proveniente do fígado;
 Não é essencial para a digestão e a absorção normal de uma refeição.
 Aumenta a concentração biliar em 5 – 20 vezes.
- Apesar do aumento na concentração, mantém a bile isosmótica em relação ao plasma.
∟ Ácidos biliares encontram-se fisicamente na forma de micelas mistas – Cada micela age como
uma só partícula osmoticamente ativa.
72 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 72

• Concentração de bile: Íons sódio são absorvidos em troca de prótons, e os ácidos biliares, como
os principais ânions, são grandes demais para sair pelas junções fechadas do epitélio da vesícula.
 Bile permanece isotônica, apesar da concentração, porque cada micela age como uma só partí-
cula osmoticamente ativa.
 Os monômeros de ácido biliar que permanecem livres, como resultado da concentração, são
imediatamente incorporados nas micelas mistas pré-existentes – Também reduz, em algum grau, o
risco de precipitação do colesterol na bile – Pode formar cálculos vesiculares.

* Curiosidade: Armazenamento prolongado da bile aumenta a probabilidade de ocorrer cálculos


vesiculares, por isso não é recomendado pular o café da-manhã.

• Esvaziamento da vesícula biliar: Se inicia vários minutos após o


começo de uma refeição.
 Bile é secretada pela vesícula em resposta a sinais que, simulta-
neamente, relaxam o esfíncter de Oddi e contraem o músculo liso
que envolve externamente o epitélio da vesícula (imagem ao lado).
 Durante a fase cefálica e gástrica da digestão, a contração da ve-
sícula biliar e o relaxamento do esfíncter de Oddi são mediados pe-
las fibras colinérgicas do nervo vago e pelos neurônios entéricos.
- CCK é o principal mediador da contração da vesícula biliar.
- Acetilcolina, em resposta aos reflexos neurais intrínsecos e vias va-
gais, também atua na contração da vesícula biliar.
 Taxa mais alta de esvaziamento ocorre durante a fase intestinal

* Importante¹: Estímulo simpático inibe o esvaziamento.

* Importante²: Esfíncter de Oddi é tonicamente contraído – Relaxamento é dado pelo NO e VIP.


∟ CKK ativa um mecanismo neural para ativar a resposta fisiológica.

Secreções Intestinais
• Mucosa do intestino (duodeno até o reto) produz secreções que contém muco, eletrólitos e água.
 1500mL de secreções intestinais é secretada por dia.
 Muco: Protege a mucosa de danos mecânicos.
• Natureza das secreções variam nos diferentes segmentos do intestino:
a) Duodeno: Submucosa do duodeno contém glândulas ramificadas que produzem uma secreção
rica em muco.

b) Intestino delgado: Células epiteliais colunares possuem células caliciformes que secretam muco.

c) Intestino grosso (colo): Mucosa do colo possui células caliciformes responsáveis por uma secre-
ção de menor volume, porém mais ricas em muco do que as secreções do intestino delgado.
73 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 73

Digestão e Absorção ao Longo do Trato Gastrointestinal


• Digestão: Processo pelo qual as moléculas ingeridas são convertidas em formas que possam ser
absorvidas pelas células epiteliais do trato gastrointestinal.
 Moléculas ingeridas são clivadas em moléculas menores pelas reações catalisadas por enzimas
no lúmen ou na superfície luminal do trato gastrointestinal.
• Absorção: Processo pelo qual as moléculas são transportadas através do epitélio do trato gastroi-
ntestinal para chegar ao sangue ou à linfa, que drena uma determinada região do trato.

• Mecanismos gerais da digestão e absorção.


 O processo de digestão-absorção pode seguir qualquer um dos cinco padrões (observe a imagem
a seguir – próxima página).
a) Primeiramente, a substância (p. ex., glicose) pode não necessitar ser digerida; as células intesti-
nais podem absorver o nutriente da maneira como este foi ingerido;
b) Em segundo lugar, um polímero (p. ex., proteína) pode ser digerido no lúmen a seu monômero
constituinte (p. ex., aminoácidos) pelas enzimas pancreáticas antes da absorção;
c) Em terceiro lugar, um oligômero (p. ex., sacarose) é digerido aos seus monômeros constituintes
(p. ex., monossacarídeos) pelas enzimas da membrana de borda em escova antes de estes serem
absorvidos;
74 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 74

d) Em quarto lugar, um oligômero (p. ex., um oligopeptídeo) pode ser prontamente absorvido pela
célula e quebrado em seus monômeros constituintes (p. ex., aminoácidos) dentro da célula;
e) Finalmente, uma substância (p. ex., triglicerídeo) pode ser quebrada em seus componentes cons-
tituintes antes da absorção; a célula pode então ressintetizar a molécula original.

• Na imagem abaixo temos o destino das substâncias absorvidas pelo intestino delgado.
 Carboidratos (monossacarídeos), aminoácidos e ácidos graxos de cadeia curta e média entram
na circulação êntero-hepática e são metabolizados pelo fígado.
 Quilomícrons são transportados pelo sistema linfático.
 A linfa do intestino, assim como qualquer outra do corpo, acaba se esvaziando nas veias sistêmi-
cas através do ducto torácico e, consequentemente, também chega ao fígado.
75 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 75

Carboidratos

Carboidratos na Dieta
• Os carboidratos são geralmente a principal fonte de calorias em uma dieta humana.
 Conferem ±45% das necessidades totais de energia em uma dieta ocidental, devem ser hidrolisa-
dos a monossacarídeos antes de serem absorvidos.
 Carboidratos podem ser classificados em dois grandes grupos:
a) Monossacarídeos (monômeros);
b) Oligossacarídeos (polímeros curtos) e os polissacarídeos (polímeros longos).
 Intestino delgado consegue absorver diretamente os monômeros, mas não os polímeros.
- Alguns polímeros são digeríveis, isto é, o organismo é capaz de digeri-los a monômeros, e estes o
intestino delgado é capaz de absorver – Outros polímeros são não digeríveis ou “fibras”.
∟ O aumento do consumo de firas na dieta está associado ao aumento do volume das fezes e a fre-
quência da defecação.

• 45% a 60% dos carboidratos da dieta estão na forma de amido, o qual é um polissacarídeo.
 Amido é a forma de reserva de carboidrato das plantas e encontra-se nas formas de amilopec-
tina e amilose.
- Nos animais o carboidrato é armazenado na forma de glicogênio – Consumido em quantidades
muito inferiores.
 Amilopectina: Principal fonte de carboidratos na maioria das dietas humanas.
- Polímero robusto de moléculas de glicose ramificadas que pode conter um milhão de resíduos de
glicose – Possui ligações α-1,4 e α-1,6 nos pontos de ramificação.
 Amilose: Outra fonte menor de amido na dieta.
- Polímero de cadeia reta de glicose que tipicamente contém múltiplos resíduos de glicose conecta-
dos pelas ligações α-1,4.
 Glicogênio: “Amido de origem animal” — Também apresenta ligações α-1,4 e α -1,6, como a
amilopectina – Glicogênio apresenta um número maior de ramificações (i.e., ligações α-1,6).

* Importante: Celulose é um polímero de glicose conectado por ligações β-1,4, as quais não podem
ser digeridas pelas enzimas dos mamíferos – Bactérias presente no lúmen do colo podem degradar
algumas fibras, porém outras permanecem inalteradas.

• Dissacarídeos sacarose e lactose representam 30 – 40% dos carboidratos da dieta.


 Sacarose é o açúcar de mesa, derivado da cana-de-açúcar ou da beterraba;
 Lactose é o açúcar encontrado no leite.
• Monossacarídeos glicose e frutose representam 5 – 10% do total de carboidratos da dieta.
76 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 76

Digestão de Carboidratos
• Digestão começa com a ação da amilase salivar e termina com a ação da amilase pancreática.
• Processo digestivo dos carboidratos provenientes da dieta apresenta duas etapas:
a) Hidrólise intraluminal do amido em oligossacarídeos pelas enzimas salivares e pancreáticas;
b) Digestão de membrana dos oligossacarídeos em monossacarídeos pelas dissacaridases presentes
na membrana da borda em escova.

* Importante: α-amilase está presente na amilase salivar e na amilase pancreática, elas apresentam
funções similares e as suas sequências de aminoácidos possuem 94% de homologia.
∟ A α-amilase não cliva ligações α-1,4 terminais, ligações α-1,6 (i.e., pontos de ramificação – Re-
presentado pelos pontos escuros na imagem abaixo) ou ligações α-1,4 que se encontram imediata-
mente adjacentes às ligações α-1,6.

• Amilase salivar – α-amilase: Inicia a digestão de amido na boca; em indivíduos adultos saudáveis
esta etapa apresenta, relativamente, baixa importância.
 Amilase salivar é inativada no estômago (pH<7 );
- Depois que que a α-amilase é inativada pelo suco gástrico, não ocorre nenhum outro processa-
mento dos carboidratos no estômago.

• Amilase pancreática – α-amilase: Maior responsável pela hidrólise dos carboidratos ingeridos.
 Possui maior atividade enzimática que a amilase salivar;
 Estimulada pela CCK – Estimula a secreção pancreática de α-amilase pelas células acinares.

* Importante: Os produtos da hidrólise do amido são: maltose, maltotriose e dextrinas α-limite.


∟ O intestino não é capaz de absorver estes produtos da digestão do amido pelas amilases e, por-
tanto, uma digestão adicional é necessária para produzir substratos (i.e., monossacarídeos) que o
intestino delgado seja capaz de absorver através de mecanismos de transporte específicos.
77 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 77

• Oligossacaridases: Ectoenzimas (i.e., enzimas com sítio ativo voltadas para o lúmen) localizadas
na borda em escova da membrana epitelial do duodeno e do jejuno (conforme a imagem abaixo).

 Principais oligossacaridases:
a) Lactase: Lactose → Glicose + Galactose
b) Sacarase: Sacarose → Glicose + Frutose
c) α-dextrinase (isomaltase): Clivagem das ligações α-1,6 das ramificações dextrinas α-limite.
d) Glicoamilase: Quebra os malto-oligossacarídeos em unidades simples de glicose com a remoção
de uma glicose de cada vez da extremidade não redutora da cadeia com ligações α-1,4.
 A atividade destas quatro oligossacaridases da borda em escova é maior no duodeno e no jejuno
superior – Atividade declina gradualmente ao longo do intestino delgado.

* Importante: Não há atividade enzimática de oligossacaridases no intestino grosso.

* Curiosidade¹: Intolerância à lactose


∟ Resulta da deficiência da lactase na borda em escova que não consegue digerir a lactose que,
consequentemente, não é clivada nem absorvida. As bactérias colônicas, por outro lado, são capa-
zes de metabolizar a lactose. Isso resulta em liberação de produtos metabólitos que aumentam a
mobilidade colônica e gases. Além disso, o aumento da osmolaridade luminal (devido a não-absor-
ção da lactose) promove transporte de água para o lúmen.
∟ Sintomas do distúrbio incluem distensão abdominal, borborigmo (ruídos intestinais), flatulência e
diarreia (resultado do aumento da osmolaridade – aumento volume de água no lúmen).
∟ Intolerância a lactose tem maior prevalência em grupos étnicos não caucasianos, e também na
maior parte dos demais mamíferos. A atividade da lactase diminui acentuadamente após o des-
mame depois do período neonatal. A regulação dessa queda da atividade enzimática da lactase é
determinada geneticamente.
78 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 78

* Curiosidade²: Deficiência secundária de lactase


∟ A intolerância a lactose também está relacionada as vi-
losidades do intestino delgado, uma vez que esta enzima
se localiza na superfície das vilosidades.
∟ Doenças que alteram as vilosidades do duodeno e je-
juno podem desencadear a intolerância à lactose (p.e. do-
ença celíaca) – Observe a alteração da vilosidade que
ocorre na doença celíaca, conforme a imagem ao lado.

* Curiosidade³: Doença celíaca é uma doença autoimune caracterizada por intolerância a ingestão
de glúten, contido em cereais como cevada, centeio, trigo e malte, em indivíduos geneticamente
predispostos – Leva a atrofia das vilosidades e reduz a capacidade absortiva do intestino delgado.

Absorção de Carboidratos
• Os três monossacarídeos obtidos a partir da digestão dos carboidratos (glicose, galactose e fru-
tose) são absorvidos pelo intestino delgado.
 Duodeno e região superior do jejuno possuem a maior capacidade de absorção de açúcares.
• Monossacarídeos e dissacarídeos da dieta são completamente absorvidos no intestino delgado

• Mecanismo de absorção de carboidratos (conforme a imagem abaixo).

 Membrana apical (em escova): Transportador simporte Na+/glicose ou galactose (SGLT1) e


transportador GLUT5.
- SGLT1 utiliza o gradiente do Na+ criado pela bomba Na+/K+ para transportar glicose ou galactose
para dentro da célula, nesse processo há entrada de 2Na+ para cada glicose ou galactose.
∟ Glicose e galactose competem pela entrada no SGLT1!
- GLUT5 transporta frutose – Transportador específico.
 Membrana basolateral: Bomba Na+/K+ e transportador GLUT2.
- Bomba Na+/K+ estabelece o gradiente de Na+;
- Transportador GLUT2 é responsável pela saída de glicose, galactose e frutose (transportador ines-
pecífico de monossacarídeos) – É um transporte facilitado.

* Importante: Glicose e galactose são transportadas pelo mesmo transportador (SGLT1), porém
competem para entrarem na célula.
79 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 79

Proteínas
• Proteínas são codificadas pelo RNAm e são compostas por cadeias formadas pelos 20 aminoáci-
dos existentes (conforme a imagem abaixo – As “caixas” representam os aminoácidos essenciais).
 Nove desses aminoácidos são essenciais – Eles não podem ser sintetizados em quantidades sa-
tisfatórias pelo organismo e necessitam ser adquiridos pela ingestão de fontes animais ou vegetais.

* Importante: Proteínas derivadas de fontes animais contém todos os aminoácidos essenciais, po-
rém proteínas de fontes vegetais são “incompletas”, significando que elas carecem de um ou mais
aminoácidos essenciais – Necessita de uma dieta variada para suplementar essa carência.

• Todo o processo de digestão e absorção de proteínas é muito eficiente;


 É quase completamente absorvida no momento em que a refeição passa pelo jejuno;
 Pequena quantidade de proteínas presentes nas fezes deriva principalmente das bactérias do
colo, células esfoliadas e proteínas das secreções mucosas do colo.

Digestão de Proteínas
• Digestão no estômago: Células principais do estômago secretam pepsinogênios inativos, protea-
ses que são convertidas por H+ em pepsinas ativas.
 pH ácido do estômago desnaturam parcialmente as proteínas da dieta – Elas tornam-se mais
suscetíveis à hidrólise pelas pepsinas.
 Pepsinas são capazes de reduzirem, no máximo, 15% das proteínas ingeridas em aminoácidos e
peptídeos pequenos.
- Ausência de pepsinas não interferem na digestão e absorção de proteínas da dieta.

• Digestão no intestino delgado: Proteases


são secretadas pelo pâncreas (suco pancreá-
tico) e desempenham papel central na di-
gestão de proteínas.
 Principais proteases: Tripsina, quimio-
tripsina, elastase e carboxipeptidases A e B.
- Essas enzimas são encontradas em suas
formas inativas no suco pancreático (conforme o esquema acima).
∟ Tripsina é ativada pela enteropeptidase (presente na membrana plasmática da borda em escova
do duodeno e jejuno) e ativa as demais pro-enzimas.
 Cerca de 50% das proteínas ingeridas são digeridas e absorvidas pelo duodeno.
80 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 80

• Digestão na superfície luminal da borda em escova: Ocorre no intestino delgado – Contém inú-
meras peptidases – Jejuno proximal contém a maior quantidade destas enzimas.
 Peptidases reduzem os peptídeos produzidos pelas proteases pancreáticas em oligopeptídeos e
aminoácidos (conforme o esquema abaixo).
 Os principais produtos da digestão de proteínas pelas peptidases pancreáticas e peptidases da
borda em escova são pequenos peptídeos e aminoácidos.

Absorção de Proteínas
• Absorção de proteínas intactas e grandes peptídeos: Não são absorvidas em quantidades nutrici-
onalmente significantes em humanos.
 Os enterócitos podem captar pequenas quantidades de proteínas intactas por endocitose, e a
maior parte destas é degradada nos lisossomos;
 Captação de proteínas intactas também ocorre através das células M (sobrejacente às placas de
Peyer no intestino delgado).
- Elas possuem capacidade lisossomal limitada para a degradação de proteínas; em vez disso, estas
células empacotam as proteínas (i.e., antígenos) em vesículas revestidas de clatrina, que são secre-
tadas por estas células através da membrana basolateral, na lâmina própria.

* Importante: Em neonatos há alta capacidade de absorção de proteínas por meio de endocitose –


São mediadas por receptores de proteínas imunes presente no colostro.
81 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 81

• Absorção de pequenos peptídeos: Dipeptídeos e tripeptídeos resultantes da degradação das pro-


teínas e peptidases da borda em escova são absorvidos por um transportador de pouca especifici-
dade, o chamado transportador peptídico 1 (PEPT1) que atua como um simporte H+/peptídeo.
 Possui grande afinidade por dipeptídeos e tripeptídeos, mas afinidade muito baixa para peptí-
deos de quatro ou mais resíduos.
 O jejuno é mais ativo do que o íleo na captação de dipeptídeos e tripeptídeos.
- Quantidade total de cada aminoácido que entra nas células epiteliais do jejuno na forma de dipep-
tídeos e tripeptídeos é maior que a quantidade que entra na forma de aminoácidos livres.

• Mecanismo de transporte de pequenos peptídeos (conforme a imagem abaixo).

 Membrana apical: Antiporte Na+/H+ e simporte H+/peptídeo.


- Transportador PEPT1 utiliza o H+ do antiporte Na+/H+ para absorver os dipeptídeos e tripeptídeos
presente no lúmen.
- Antiporte Na+/H+ depende do gradiente criado pela bomba Na+/K+, o seu funcionamento pro-
move saída de H+ que atuará de modo cíclico para absorver os peptídeos.
 No interior da célula: Peptídeos sofrem ações de enzimas (peptidases) e são clivadas em
aminoácidos.
 Membrana basolateral: Bomba Na+/K+ e transportadores de aminoácidos.
- Bomba Na+/K+ cria o gradiente de Na+;
- Aminoácidos da célula são transportados pela membrana basolateral para a corrente sanguínea.

• Absorção de aminoácidos: São transportados através da membrana plasmática da borda em es-


cova para a célula epitelial por meio de sistemas de transporte específicos de aminoácidos.
 Ocorre de maneira mais pronunciada no íleo do que no jejuno.

• Mecanismos de transporte de aminoácidos – Ainda não está muito elucidado.


 Há transportadores que dependem do gradiente estabelecido pelo Na+, assim como há trans-
porte por difusão (quanto mais hidrofóbico for o aminoácido e maior seu gradiente de concentra-
ção através da membrana, maior será a importância da difusão) tanto na membrana apical (borda
em escova) quanto na membrana basolateral.
82 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 82

Digestão e Absorção de Lipídeos


• Lipídeos são substâncias orgânicas hidrofóbicas e, portanto, são mais solúveis em solventes orgâ-
nicos (ou membranas celulares) do que em soluções aquosas.
 São mais densos em calorias quando comparados aos carboidratos e às proteínas;
 Vitaminas lipossolúveis são lipídeos;
 Muitos compostos responsáveis pelo sabor e pelo aroma dos alimentos são moléculas hidrofóbi-
cas voláteis, e os lipídeos servem como um importante veículo para tornar os alimentos palatáveis.
• Lipídeos primários de uma dieta normal são os triglicerídeos.
 Dieta contém quantidades menores de esteróis, ésteres de esteróis e fosfolipídeos.

• No estômago os lipídeos tendem a separar-se em uma fase oleosa.


• No intestino delgado os lipídeos são emulsificados com a ajuda dos sais biliares e da lecitina.
 Grande área de superfície das gotículas emulsificadas permite o acesso de enzimas lipolíticas so-
lúveis em água a seus substratos.
 Produto da digestão de lipídeos são as micelas.
- Possuem tamanho reduzido – Conseguem difundir-se entre os microvilos e permitem a absorção
de lipídeos pela borda em escova.

Digestão dos Lipídeos no Estômago


• As lipases pré-duodenais – lipases lingual e gástrica (ácidas) – Iniciam a digestão dos lipídeos.
 No estômago, tanto a lipase lingual que é deglutida quanto a lipase gástrica secretada pelas cé-
lulas principais, pertencem a uma família de serina hidrolases que apresentam o pH ótimo em um
meio ácido (pH ±4), são estáveis no ambiente ácido do estômago, são resistentes à digestão pela
pepsina e não são inibidas pela camada de superfície formada por lipídeos de membrana (emulsifi-
cantes) que envolvem as gotículas de triglicerídeos
- São inativadas em um ambiente com pH neutro (ID) – Especialmente na presença de sais biliares.
• Em adultos saudáveis, ±15% da digestão de gorduras ocorre no estômago.
 Indivíduos insuficiência pancreática (ausência de proteases pancreáticas e HCO3- no lúmen do
duodeno) tem ação estendida da lipase gástrica – Alivia parcialmente a má absorção de gorduras
ocasionada pela doença pancreática e pela deficiência da lipase pancreática.

Digestão de Lipídeos no Duodeno e Jejuno


• Uma vez que os ácidos graxos gerados no estômago chegam ao duodeno, estes estimulam a se-
creção de CCK e de GIP pela mucosa intestinal.
 Colecistocinina (CKK): Estimula o fluxo da bile para o duodeno, uma vez que promove a contra-
ção da vesícula biliar e promove o relaxamento do esfíncter de Oddi.
- Bile é importante na digestão – Contém os ácidos biliares, além ser a via excretora de colesterol.
- CKK também promove o fluxo de enzimas pancreáticas, incluindo as lipases.
 Peptídeo inibidor gástrico (GIP): Retarda a velocidade do esvaziamento gástrico através da con-
tração do piloro – Permite que o duodeno processe o quimo adequadamente sem exceder a sua
capacidade de digestão e absorção.
• Enzimas lipolíticas do suco pancreático completam a hidrólise de gordura no duodeno e jejuno.
 São moléculas solúveis em água – Têm acesso aos lipídios somente nas superfícies das gotículas
de gordura – Dependem da área de superfície.
83 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 83

• Área de superfície disponível para a digestão é multiplicada em milhares de vezes pela emulsifica-
ção dos lipídeos.
 Ácidos biliares são agentes emulsificadores fracos, porém, sob ação da lecitina (presente em ele-
vadas concentrações na bile), tornam-se bons emulsificadores de gorduras presentes na dieta.
- Partículas da emulsão apresentam grande área de superfície, porém os agentes emulsificadores
inibem a lipólise, recobrindo externamente as gotículas emulsificadas e, assim, impedindo a intera-
ção da lipase pancreática com as gorduras.
∟ Existe um cofator da lipase, a colipase, que permite reverter essa inibição promovida pelos ácidos
biliares – Permite a ação da lipase sobre a gotícula de gordura (mecanismo será explicado a seguir).

• O suco pancreático contém as principais enzimas lipolíticas para a digestão dos lipídeos:
a) Hidrolase do éster do glicerol ou lipase pancreática (alcalina): É a enzima mais importante pre-
sente no suco pancreático e depende da colipase.
 Lipase pancreática é secretada dentro do duodeno na sua forma ativa e em uma concentração
1000x maior que a necessária – Responsável pela digestão da totalidade dos triglicerídeos da dieta
que não foram hidrolisados no estômago.
 Lipase pancreática é completamente inativada pelos sais biliares em concentrações fisiológicas.
- Sais biliares inibem a atividade da lipase pancreática pela ligação à superfície das gotículas que
contém os triglicerídeos, e assim impedem a ligação da lipase pancreática.
 Lipase possui atividade bastante reduzida contra triglicerídeos em soluções moleculares, mas é
bastante ativa sobre as gotículas ou emulsões de triglicerídeos.
 A atividade lipolítica máxima da lipase pancreática requer a presença de um cofator proteico de-
nominado colipase.
- Esse cofator presente no suco pancreático impede a inativação da lipase pelos sais biliares.
- Colipase desloca os sais biliares da superfície das gotículas de óleo e permite a interação da lipase
pancreática com a gotícula de gordura (conforme o esquema abaixo).

 Lipase pancreática: Cliva ácidos graxos 1 e 1’ de triglicerídeos para produzir 2 ácidos graxos
livres e um 2-monoglicerídeo (conforme a imagem abaixo).
84 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 84

b) Hidrolase de éster do colesterol (esterase do colesterol): Cliva a ligação éster de um éster de


colesterol para formar um ácido graxo e um colesterol livre (conforme a imagem abaixo).

c) Fosfolipase A: Secretada na forma de uma pró-enzima pelo pâncreas.


 Cliva a ligação do éster na posição 2 de um glicerofosfatídeo para gerar, no caso da fosfatildilco-
lina, um ácido graxo e uma lisofosfatidilcolina (conforme a imagem abaixo).

• Esses produtos da lipólise penetram no meio aquoso do lúmen intestinal como vesículas, micelas
mistas e monômeros.

 Vesículas: São formadas por brotamento


de uma porção das gotículas emulsificadas,
que originam uma vesícula multilamelar, a
adição de mais sais biliares à vesícula multi-
lamelar torna a camada lipídica mais fina,
transformando a vesícula multilamelar em
uma vesícula unilamelar, e a adição de mais
sais biliares leva à formação de uma micela
mista, na qual, as caudas hidrofóbicas dos
lipídeos faceiam o interior da micela, enquanto
a cabeça polar faceia a parte externa da vesícula.
- O esquema acima demostra o que foi explicado.
85 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 85

 Micelas mistas: São importantes na absorção dos produtos da digestão dos lipídeos e na
absorção da maioria das outras moléculas lipossolúveis (como as vitaminas lipossolúveis).
- Contém sais biliares e os produtos da hidrólise lipídica;
- São pequenas o suficiente para se difundirem entre os microvilos que formam a borda em escova.

* Importante relembrar: Ácidos biliares formam micelas com os produtos da digestão de gorduras,
especialmente 2-monoglicerídeos.
- Ácido biliar deve estar presente em uma determinada concentração mínima para que as micelas
se formem, a chamada concentração micelar crítica.

Absorção dos Produtos da Digestão dos Lipídeos


• O duodeno e o jejuno são mais ativos na absorção das gorduras.
 Maior parte da gordura ingerida é absorvida até a porção média do jejuno.

• Lúmen do intestino delgado possui uma divisão entre a região muito próxima ao enterócitos
(camada estacionária ou zona de desequilíbrio – ácida) e “distante” a eles (fase de volume ou
agitada – alcalina) – Formam uma espécie de “barreira”, a camada estacionária.
 A camada estacionária que se encontra adjacente e que recobre a membrana apical do enteró-
cito não se encontra em equilíbrio com a massa de água presente no lúmen intestinal.
- Essa camada possui cerca de 40μm e as substâncias a atravessa por difusão.
 Fase de volume: Constituída por água, muco gelatinoso (alcalino), sais biliares, micelas mistas,
gotículas de gordura emulsificadas, ácidos graxos livres etc.
 Zona de desiquilíbrio: Constituída por H+ proveniente do antiporte Na+/H+ da membrana apical
do enterócito (permite o aumento da absorção de ácidos graxos) e por uma concentração reduzida
de micelas e produtos da digestão dos lipídeos, que permite o estabelecimento de um gradiente de
concentração e, consequentemente, a difusão de micelas para essa região.
• Os lipídeos entram nos enterócitos por (1) difusão não iônica, (2) incorporação à membrana do
enterócito ou (3) transporte mediado por um carreador (conforme a imagem abaixo).
86 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 86

• O principal limitante da taxa de captação de lipídeos pela membrana apical é a difusão das
micelas mistas através da camada estacionária.
 Depende da concentração micelar crítica para a formação de micelas.

• Transporte de lipídeos através da membrana da borda em escova.


 Difusão: Ácidos graxos, 2-monoglicerídeos, colesterol e lisolecitina possuem elevada
solubilidade lipídica – Difundem-se através da membrana.
- Moléculas deixam as micelas e entram na forma de monômeros.
 Transportadores de membrana: Ácido graxo translocase (FAT/CD36) é responsável pelo trans-
porte de ácidos graxos e a proteína de ligação de ácidos graxos, a proteína ligante de ácidos graxos
da membrana dos microvilos (microvillous membrane fatty acid-binding protein) (MVM-FABP) me-
lhora a translocação dos ácidos graxos.

Processamento dos Lipídeos Dentro da Célula Epitelial Intestinal


• Após a absorção pela membrana epitelial, os enteróci-
tos reesterificam os componentes lipídicos, esses produ-
tos se associam a apolipoproteínas específicas (ou apo-
proteínas simples) formando partículas semelhantes a
emulsões denominadas quilomícrons (observe no es-
quema ao lado o resumo desde as gotículas de gorduras,
absorção pela membrana com borda em escova, produ-
ção de quilomícrons, até a secreção pela membrana ba-
solateral por exocitose).
 Os enterócitos exportam os quilomícrons para a linfa
para que ocorra a distribuição final da gordura aos ou-
tros órgãos, através da corrente sanguínea.
- Linfa do intestino, assim como qualquer outra do
corpo, acaba se esvaziando nas veias sistêmicas através
do ducto torácico.

* Importante: Quilomícrons liberados das células epite-


liais passam para os vasos lácteos (capilares linfáticos
nas vilosidades intestinais) e não para os capilares san-
guíneos. Isso ocorre porque a membrana basal da super-
fície externa dos capilares sanguíneos oferece uma bar-
reira para a difusão dos quilomícrons (são estruturas
grandes para atravessar o capilar – possuem 1μm de diâmetro).

• Quilomícrons: São as maiores lipoproteínas presentes na circulação sanguínea, apresentando um


diâmetro médio de 250nm (variando entre 75 e 1.200nm), são constituídos primariamente de trigli-
cerídeos e, em menor proporção, de fosfolipídeos, éster de colesterol, colesterol e várias apolipo-
proteínas – São liberados por exocitose pela membrana basolateral do enterócito.
 Quilomícron é a estrutura utilizada para transportar os lipídeos da dieta para outras localizações
o organismo.
87 Danilo Fernando FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL ATM 21/1 87

(No esquema abaixo temos a reesterifiação de lipídeos digeridos pelo enterócito e a formação e se-
creção de quilomícrons. O enterócito capta ácidos graxos de cadeia curta e média e glicerol e os
transporta inalterados para os capilares. O enterócito capta também ácidos graxos de cadeia longa
e 2-monoglicerídeos e os ressintetiza o triglicerídeo no REL. O enterócito também processa o coles-
terol a éster de colesteril e lisolecetina à lecitina. O destino dessas substâncias e a formação dos
quilomícrons estão ilustrados pelos textos explicativos dos balões numerados de 1 a 8).

Esteatorreia
• Esteatorreia: Excreção de mais de 7g de gordura por aproximadamente 150g de fezes/dia.
* Importante: Essa perda de gordura pelas fezes não inclui aquela proveniente do colo (fermenta-
ção bacteriana e células descamadas, que totalizam de 3 a 4g diários).

• Principais causas de esteatorreia:


a) Alterações da digestão lipídica: Pode ocorrer por insuficiência pancreática ou ausência da secre-
ção de lipase pancreática.
 Pâncreas é responsável pela secreção de enzimas (incluindo a lipase) e pela secreção de um flu-
ido alcalino para tamponar o quimo ácido proveniente do estômago – Lipase pancreática depende
de um meio alcalino para ativar, caso haja alguma disfunção na secreção de HCO3- ou hipersecreção
gástrica de ácidos, haverá redução da digestão lipídica e, consequentemente, maior excreção.
b) Alterações da secreção biliar: Reduz os sais biliares (necessários no processo de emulsificação
das gorduras) e, consequentemente, reduz a absorção de lipídios e aumenta a sua excreção.
c) Alterações da área absortiva do intestino delgado: Modificações das vilosidades diminuem a su-
perfície de contato e, por essa razão, também diminuem a capacidade absortiva do intestino del-
gado como um todo, incluindo a absorção de lipídios.

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