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Cena 1
Sra. Pernelle, Elmira, Mariana, Dorina, Valério, Orgon
Elmira: Está bem, minha sogra, mas porque vais tão depressa?
Sra. Pernelle: Aqui nesta casa não respeitam nada, não tentam me agradar e fazem
pouco dos meus conselhos!!!
Sra. Pernelle: Que senhora que nada! Tu és uma criada linguaruda e metida!
Sra. Pernelle: Tu tens um caráter duvidoso, Valério, só vais causar desgosto para esta
família!
Sra. Pernelle: Quieta, minha neta! Tu ficas te fazendo de santinha, mas és uma
grandecíssima assanhadinha!
Sra. Pernelle: Não diga mais nada, minha nora, tu devias dar exemplo aos mais jovens!
Fico chocada com a tua exibição, sempre toda enfeitada como uma vagabunda. Se
quisesses agradar somente o teu marido, não ficarias te mostrando por aí!
Sra. Pernelle: O Sr. Tartufo é um santo, um homem de Deus, e não vou permitir que uma
mexeriqueira como tu ouse criticá-lo!
Dorina: Eu fico indignada! Ele era um mendigo quando chegou aqui, nem sapatos tinha,
e agora se comporta como se fosse o dono da casa!
Sra. Pernelle: Olha como fala, menina! Se ele os critica é porque quer elevá-los aos céus
e livrá-los dos fuxicos dos vizinhos.
Dorina: Que belo exemplo o da senhora! Censura a todos, reclama dia e noite... Faz isso
é por pura inveja, afinal, não pode mais ter os prazeres dos mais jovens, porque está
velha...
Sra. Pernelle: Nunca fui tão insultada! Vou embora e nunca mais ponho os pés nesta
casa!
Elmira: Isso não é nada comparado com o meu marido! Orgon chama Tartufo de irmão e
tem mais consideração por ele do que pela mãe, filha ou esposa.Tartufo é seu
confidente. Orgon tem mais carinho por ele do que por uma amante...
Dorina: Na mesa ele faz questão que Tartufo sente no melhor lugar e sirva-se antes de
todos. E se ele arrota, sabe o que ele diz?
Cena 2
Orgon e Dorina
Dorina: D. Elmira teve febre. E uma dor de cabeça que o senhor não faz idéia.
Dorina: Tartufo? Tartufo está ótimo. Continua corado, com boa aparência, sem febre e
sem dor de cabeça...
Orgon: Pobrezinho!
Dorina: D. Elmira não comeu nada... Doía tanto a cabeça da D. Elmira...
Orgon: E tartufo?
Dorina: Comeu feito um porco, engoliu devotamente tudo o que lhe servi!
Orgon: Pobrezinho
Dorina: Mas agora ambos estão bem, e eu vou correndo contar a D. Elmira como o sr.
está contente com a sua melhora...
Cena 3
Orgon, Dorina, Valério e Mariana
Orgon: Mariana!
Mariana: Pai!
Orgon: Mariana!!
Mariana: Pai!!
Orgon: Venha cá, quero te falar uma coisa, é segredo... Tu és uma filha tão meiga, és a
minha filhinha querida.
Orgon: Ah, quero que digas que tem muito carinho por este homem e que, por escolha
minha, ficaria muito grata se ele fosse teu marido.
Mariana: Compreendi mal?! Quem o senhor gostaria que fosse o meu marido?!
Orgon: Tartufo.
Dorina: Hahahaha! Me contaram sobre este casamento absurdo, mas é claro que só
pode ser boato!
Orgon: É tão terrível assim?!
Dorina: Nem leve a sério o teu pai, menina, está apenas brincando! O senhor não tem
jeito mesmo, hein!!!
Dorina: Que pena, senhor, porque com essa cara de homem sério, não acredito que o
senhor seja tão desmiolado para querer...
Dorina: Não precisa se zangar, acontece que a sua filha não é para este homem. O que o
senhor vai ganhar com este casamento? Por que um homem rico como o senhor quer
um genro mendigo?
Orgon: Cala a boca! Tartufo não possui nada, mas é um homem grandioso que não tem
o menor interesse pelas coisas materiais. Pode não ter posses, mas é rico em devoção.
Pobrezinho!
Dorina: Vamos deixar de lado a nobreza deste santo homem e vamos falar sobre o
senhor. Quer dar a alguém como ele, uma moça como Mariana? Estás fazendo uma
grande besteira. Com um marido como Tartufo, não será fácil manter-se fiel. Mariana vai
ficar mal falada...
Dorina: Ah, queres que ele vá na mesma hora que o senhor, como o bando de
exibidos que só vão à igreja para serem vistos?
Orgon: Não te pedi conselhos, atrevida! Minha filhinha, Tartufo será um marido
incomparável. Viverão em paz e tranqüilidade como dois pombinhos no
ninho... Prrrrrrr!
Dorina: Posso até calar a boca, mas não vou deixar de pensar... “Eu gosto do
senhor, eu gosto do senhor”.
Orgon: Filha, aceite o homem que escolhi para ti. O que houve, Dorina, parou
de pensar?
Dorina: O que foi, perdeu a língua e eu é que tenho que falar por ti?!
Dorina: Ora, diga que ninguém manda no teu coração e é tu quem deves
escolher o marido e não o teu pai. E que se ele acha Tartufo tão encantador,
que se case com ele, viverão como dois putinhos no ninho... Afinal, queres ou
não, casar-te com Valério?
Mariana: Mas o que devo fazer então? Não há esperança para nós...
Dorina: Hummm, não faça nada. Nada, nada, nada! Acho que, no fundo, tu
queres casar-te com Tartufo, afinal ele é um ótimo partido! Será um notável
marido o senhor Tartufo... Será tão romântico. Ele irá levá-la de carruagem até
a cidade dos tartufos. Serás uma esposa tartufa, terás muitos tartufinhos, e
finalmente, serás entartufada!!!
Mariana: Qual?
Mariana: É verdade, meu pai meteu isso na cabeça. Quer me obrigar a casar
com este homem!
Valério: Ahhhhh, percebi que será muito fácil para ti, seguí-lo!
Valério: Não precisas inventar desculpas, estás louca para te casares com
Tartufo. Enganou-me este tempo todo! Nunca me amaste!
Valério: Hã?
Mariana: O quê?!
Dorina: Quero que façam as pazes e acabem com essa briguinha idiota. Dêem-
me as mãos... Amam-se mais do que pensam. Agora, deixem esta confusão de
lado e pensemos em impedir este desastroso casamento. Temos que ser
inteligentes. Tu tens que fingir aceitar o casamento, assim poderemos pensar
num jeito de adiá-lo. Agora parem de agarramento e tomem cada um o seu
rumo. Mariana, para o teu quarto. Valério, para a tua casa. Para a tua casa,
Valério!!!!!!!!!
Cena 4
Dorina, Elmira, Tartufo e Orgon
Dorina: Ah!
Dorina: Vim apenas avisar que D. Elmira quer falar com o senhor.
Dorina: Aí está ela. Vou deixá-la na companhia religiosa que este senhor
oferece...
Tartufo:
Tartufo: Saiba, que minhas preces não tiveram outro objetivo a não ser as suas
melhoras. E nunca é pedir demais quando se trata da saúde de uma pessoa tão
querida...
Tartufo: Fico muito satisfeito, pois tenho pedido aos céus a graça de estar a
sós contigo.
Tartufo: É o que mais quero... Ah, tomei a iniciativa de proibir visitas nesta
casa, devido ao ciúme que sinto das suas gentilezas para com aqueles que
recebe.
Tartufo: Faço isso por excesso de cuidado, não para lhe fazer mal.
Elmira: Ai! Por favor, sou muito coceguenta! Chega, falemos do nosso
assunto. Disseram que meu marido voltou atrás e quer que Mariana se case
contigo. É verdade?
Tartufo: Sim, é o que ele deseja, mas não é bem isso o que eu quero...
Elmira: Hum, eu pensei que o senhor só tivesse olhos para o céu e que não
possuísse nenhum desejo carnal.
Tartufo: Sou devoto, mas não deixei de ser homem. Também não sou nenhum
anjo. Desde que a vi, tu és a dona de minha alma. Alguns homens são alvos de
fuxicos porque não sabem esconder as suas conquistas, mas eu sou discreto,
não haverão escândalos, apenas um prazer sem medo...
Elmira: O senhor sabe argumentar muito bem, mas não tens medo que eu
conte tudo ao meu marido e que ele o expulse daqui?
Tartufo: Sei que és uma mulher bondosa e terá piedade deste sincero
admirador. Lembre-se de que não sou cego e que o homem é carnal!!!
Elmira: Serei discreta e não vou contar nada a Orgon, mas vou querer algo em
troca. O senhor vai convencer o meu marido a aceitar o casamento de Valério
com Mariana.
Dorina: Aha! Ouvi tudo e vou correndo contar para o senhor Orgon. Ele ficará
sabendo que Tartufo é um traidor que quer comer a mulher dele!
Elmira: Não, Dorina, não faça isso! Tartufo e eu temos um acordo, dei a minha
palavra. Prefiro rir dessas coisas. Para quê encher os ouvidos do meu
marido?!
Dorina: Festejarei...
Dorina: Seu orgon! Tartufo está arrastando as asinhas para a tua mulher!
Tartufo: ... Sim, irmão! Eu não valho nada, sou um desgraçado pecador. Um
maldito, maldito, maldito, muito maldito! Puxa, sou mesmo ruim... Vamos,
ponha-me para fora desta casa, eu mereço!
Dorina: O quê?!
Orgon: Cala-te, peste maldita!!!
Tartufo: Deixe que ela me acuse, é melhor acreditar nas palavras dela...
Orgon: Chega, irmão, isso é demais!!!!!!! Não tens pena deste homem?!
Pobrezinho!
Orgon: Cala a boca, cobra!!! Fora desta casa!!! E não volte mais aqui!!!...
Depois de tantos anos eu já a estimava...
Tartufo: Oh, estou tão magoado! Meu coração dói de tanta tristeza... Acho que
estou prestes a morrer... O chão está fugindo dos meus pés...
Tartufo: Acho melhor abandonar esta casa, querido irmão, antes que acredite
nestas barbaridades e duvide da minha lealdade...
Orgon: Nunca! A partir de hoje, só acreditarei em ti, quero que ande com a
minha mulher em todos os lugares, o tempo todo, assim despeitarei a todos. E
para desaforear, farei de ti meu genro e único herdeiro. Tu és mais querido do
que filha, esposa e parentes...
Tartufo: Oh, estou tendo uma visão! Eu fui o escolhido! Como é senhor? Não
escutei direito...
Orgon: Ele disse que tu tens que casar com a minha filha e aceitar a minha
herança.
Orgon: Ficarás?!
Orgon: Que bom que estão juntas aqui. Tenho uma ótima notícia para dar.
Uma notícia que provocará risos de alegria!
Orgon: Oh! Deixei todos os meus bens para Tartufo, já que será meu genro.
Mariana: Pai, em nome do céu, peço de joelhos que não me obrigue a casar
com um homem que detesto!
Orgon: Não posso fraquejar agora. Seja firme, Orgon... (para si mesmo)
Mariana: Não me importa que a nossa fortuna seja de Tartufo, mas não me
inclua nisso. Passarei meus dias encerrada em um convento para contentá-lo,
papai querido.
Orgon: Hum, que religiosa estás... Falas assim porque não estou fazendo as
tuas vontades! Quanto mais Tartufo te repugnar, mais mérito tens, o sacrifício
será recompensado. Ganharás o teu lugar no céu.
Orgon: Tu ficaste muito tranqüila, se fosse verdade, estarias nervosa. Sei que
ficaste sem jeito para desmentir a calúnia de Dorina.
Elmira: Pois estás enganado! Não quis causar um escândalo. E se eu fizer com
que tu enxergues a verdade, seu tonto?
Elmira: Se tu te escondesses num lugar onde pudesses ver e ouvir tudo o que
se passa, o que diria do seu Tartufinho do coração?
Orgon: São apenas fofocas dos invejosos... mas aceitarei esta brincadeira.
Quero só ver se tu vais me convencer, duvido, duvido...
Tartufo: Que palavras doces... Mas não pode me culpar por duvidar do que
escutei. Isto está me parecendo uma estratégia para convencer-me a desistir
do casamento com Mariana...
Elmira: Oh, tens de acreditar em mim! Me apaixonei desde a primeira vez que o
vi, pedindo esmolas na porta da igreja!
Tartufo: Deixe comigo, sei como convencer a Deus que nossos atos serão
puros...
Elmira: (Tosse)
Elmira: Essa não! Terei que ceder! E já que ninguém interrompe, não poderei
ser culpada de nada... Antes confira se não há alguém nos espionando...
Orgon: Não acreditei no que todos me disseram, canalha, mas agora esta
sacanagem já foi longe demais!!!
Elmira: Que palavras são estas? O que este homem está dizendo?
Orgon: Espere um pouco, preciso conferir uma coisa que guardei em um certo
lugar...
Cena 6
Orgon, Mariana, Elmira, Dorina, Valério e Sra. Pernelle
Sra. Pernelle: Ora, meu pintinho, os homens honrados como Tartufo são
sempre vítimas da inveja.
Orgon: Mas eu mesmo vi tudo, minha mãe. Feche este bico e vá reclamar junto
com as suas galinhas!!! È melhor esconder-me!
Orgon: Ah, traidor! Veio acabar comigo de vez, para encerrar as suas
maldades com chave de ouro!