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Piedade precoce
Nascida em 1384, Francisca pertencia a uma rica família de patrícios romanos. Seus pais, Paulo
Bussa de Leoni e Jacovella de Broffedeschi, proporcionaram-lhe uma primorosa educação cristã.
Desde a mais tenra idade, acompanhava a mãe nas práticas de piedade, como abstinências, orações,
leituras espirituais e visitas a igrejas onde pudessem lucrar indulgências.
Frequentava muito a Basílica de Santa Maria Nova, a preferida de sua mãe, confiada aos monges
beneditinos de Monte Olivetto. Ali, Francisca começou a receber, ainda criança, direção espiritual
de Frei Antonio di Monte Savello, com quem se confessava todas as quartas-feiras.
Aos onze anos, manifestou o desejo de consagrar-se a Deus pelo voto de virgindade. Sua
inclinação para a vida monástica se fez notar quando — a conselho do diretor espiritual, para provar
a autenticidade de sua vocação — começou a praticar em casa algumas austeridades próprias a
certas ordens religiosas femininas. Seu pai, porém, opôs-se a esses infantis projetos, pois ela estava
já prometida em casamento a Lourenço Ponziani, jovem de nobre família, bom caráter e grande
fortuna.
Esposa exemplar
Francisca foi sempre esposa exemplar. Por desejo do marido, apresentava-se em público com a
categoria de dama romana, usando belas joias e suntuosos trajes. Mas debaixo deles vestia uma
tosca túnica de tecido ordinário. Dedicava à oração suas horas livres, e nunca negligenciava as
práticas de vida interior. Transformou em oratório um salão do palácio e aí passava longas horas
de vigília noturna, acompanhada por Vanozza. Era objeto de mofa das pessoas mundanas, mas sua
família a considerava um “anjo da paz” [1].
Os desígnios da Providência
Francisca dedicava à oração suas horas livres, e nunca negligenciava as práticas de vida interior.
Três anos após seu casamento, contraiu uma grave enfermidade que se prolongou por doze meses,
deixando temerosos todos os membros da família. Francisca, porém, não temia, pois colocara sua
vida nas mãos de Deus, com inteira resignação. Nesse período de prova, por duas vezes apareceu-
lhe Santo Aleixo. Na primeira, perguntou-lhe se queria curar-se, e na segunda comunicou-lhe que
“Deus queria que permanecesse neste mundo para glorificar seu nome” [2]. Colocando então
seu manto dourado sobre ela, restituiu-lhe a saúde.
Essa enfermidade, contudo, a fizera meditar profundamente sobre os planos da Providência a seu
respeito. E uma vez restabelecida, decidiu, com Vanozza, levar uma vida mais conforme ao
Evangelho, renunciando às diversões inúteis e dedicando mais tempo à oração e às obras de
caridade.
Guerras e provações
Muitas provações ainda a aguardavam. A situação política da Península Itálica e a crise decorrente
do Grande Cisma do Ocidente acarretaram-lhe muitos sofrimentos. Roma estava dividida em dois
grupos que travavam encarniçada guerra: a favor do Papa, os Orsini, de cuja facção Lourenço fazia
parte; de outro lado, os Colonna, apoiando Ladislau Durazzo, rei de Nápoles, que invadiu Roma três
vezes. Na primeira invasão, Lourenço foi gravemente ferido em combate, sendo curado pela fé e
dedicação da esposa. Na segunda, em 1410, as tropas saquearam o palácio dos Ponziani, e os bens
da família foram confiscados. Pior ainda, Francisca viu seu esposo e seu filho Batista partirem para
o exílio.
Em 1413 e 1414, a capital da Cristandade ficou entregue à pilhagem e reduzida à miséria. Um novo
flagelo, a peste, veio agravar essa situação. A Santa transformou o palácio em hospital e cuidava
pessoalmente das vítimas da terrível doença. Era um anjo da caridade naquela infeliz cidade
assolada pelo infortúnio.
Sua própria família não ficou imune a essa tragédia: em 1413 morreu Evangelista, seu filho mais
novo, e no ano seguinte a pequena Inês. Por fim, ela também contraiu a doença, mas foi
milagrosamente curada por Deus.
Em meio a guerras e à peste, Francisca foi um anjo da caridade naquela infeliz cidade assolada pelo
infortúnio.
Vida de apostolado
Tendo falecido o rei Ladislau, restabeleceu-se a paz na Cidade Eterna, seu esposo e seu filho Batista
regressaram do exílio, e a família Ponziani recuperou os bens injustamente confiscados.
Por meio de orações e boas palavras, a Santa conseguiu convencer Lourenço a reconciliar-se com
seus inimigos e a entregar-se a uma vida de perfeição. E após o casamento do filho, entregou à nora
— convertida por ela — o governo do palácio para dedicar-se inteiramente às obras de caridade e de
apostolado.
Lourenço deixou-a livre para fundar uma associação de religiosas seculares, com a condição de
continuar vivendo no lar e não parar de guiá-lo no caminho da santidade. Orientada por seu diretor
espiritual, fundou uma sociedade denominada Oblatas da Santíssima Virgem, segundo o modelo dos
beneditinos de Monte Olivetto. Em 15 de agosto de 1425, Francisca e outras nove damas fizeram
sua oblação a Deus e a Maria Santíssima, mas sem emitir votos solenes. Vivia cada qual em sua
casa, seguindo os conselhos evangélicos, e se reuniam na igreja de Santa Maria Nova para ouvir as
palavras de sua fundadora, que para elas era guia e modelo a imitar.
Alguns anos depois, ela recebeu a inspiração de transformar essa sociedade em congregação
religiosa. Adquiriu o imóvel de nome Tor de’ Specchi e, em março de 1433, dez Oblatas de Maria
foram revestidas do hábito e ali se estabeleceram, em regime de vida comunitária. Em julho desse
mesmo ano, o Papa Eugênio IV erigiu a Congregação das Oblatas da Santíssima Virgem, nome
mudado posteriormente para Congregação das Oblatas de Santa Francisca Romana. Era uma
instituição nova e original para seu tempo: religiosas sem votos, sem clausura, mas de vida austera e
dedicadas a um genuíno apostolado social.
Comprometida como estava pelo matrimônio, somente depois da morte do esposo, em
1436, Francisca pôde afinal realizar o maior desejo de sua vida: fazer-se religiosa. Entrou como
mera postulante na congregação por ela fundada. Mas foi obrigada — pelo capítulo da comunidade
e pelo diretor espiritual — a aceitar os encargos de superiora e fundadora.
Referências
1. Pe. Luis M. Pérez Suárez. Santa Francisca Romana, in: Año Cristiano, Madrid: BAC, 2003,
p. 173.
2. Idem, ibidem.
3. Tor de’ Specchi, Monastero delle Oblate di S. Francesca Romana — Venerazione e culto.
4. Pe. Luis M. Pérez Suárez, op. cit., p. 185.
5. Card. Angelo Sodano. Homilia por ocasião da festa de Santa Francisca Romana, 5 mar.
2005.