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A Assembleia de Deus No Brasil E A Oficialização Dos Usos E Costumes Como Preservação de Sua Identidade
A Assembleia de Deus No Brasil E A Oficialização Dos Usos E Costumes Como Preservação de Sua Identidade
RESUMO
1
Mestre em Ciência da Religião e Gestão de Pessoas pela FABAD.
1
ABSTRACT
The Assembly of God is, without a doubt, the largest Pentecostal church
in Brazil. The history of this denomination, now centuries old and far (far!) from
the spotlight of those who predicted its embryonic disintegration, has fascinated
and challenged scholars and researchers from different areas of scientific
knowledge – Sciences of Religion, Theology, Education, History, Sociology,
Psychology, among others – spread across universities, university centers and
colleges in different parts of the world. Bearing this in mind, and aware of the
challenge of studying a Pentecostal denomination of this size and, above all, so
sui generis in nature and expression, this article proposes to make a simple
historical survey of the emergence of the Assembly of God in Brazil, beginning,
with all evidence, with the opening of Brazilian ports to friendly nations, in 1810,
the arrival of the first Protestants and the consequent break of the Catholic-
Roman hegemony over the religious religious scenario, as well as the
expansion and diversification of its religious field that , from 1910 to 1911, with
the arrival of the first Pentecostals, it became widely diffused. It is in this
broadly effervescent scenario that the Assembly of God took root, built its
history and outlined its denominational identity based on the strict ethics of
Uses and Customs. Strictly speaking, much has changed in the Assembly of
God which, safeguarding this identity at all costs through the officialization of
Uses and Customs, has transformed and was transformed by natural
coexistence and treatment with the other actors in the same religious field, even
more diffuse.
1. INTRODUÇÃO
3
Igreja Metodista; em 1845, a Igreja Luterana; em 1855, a Igreja
Congregacional, através do trabalho missionário do médico escocês Robert R.
Kalley; em 1859 a Igreja Presbiteriana, com Ashbel G. Simonton; em 1881, a
Igreja Batista, com William B. Bagby e Z. C. Taylor; em 1890, a Igreja
Episcopal, através do trabalho dos missionários Lucien Kinsolving e Waltson
Morris. O Brasil, finalmente, torna-se campo evangelístico de bravos
missionários protestantes que, a partir da Região Sudeste, começaram a
disseminar a mensagem do Evangelho e a implantar igrejas no Norte, Nordeste
e Centro-Oeste.
O século XIX, portanto, pode ser nomeado de o Século do
Protestantismo Tradicional, na mesma medida em que o século XX pode ser
nomeado de o Século do Protestantismo Pentecostal. Naquele, atuaram
conjuntamente como atores principais a Igreja Anglicana, a Metodista, a
Luterana, a Congregacional, a Presbiteriana, a Batista e a Episcopal; neste, a
Congregação Cristã no Brasil e, em maior medida, a Assembleia de Deus.
Chegando ao Brasil em 19 de Novembro de 1910, a bordo do navio
Clemente, Daniel Berg e Gunnar Vingren desembarcaram no porto de Belém,
no Pará, trazendo na bagagem poucas roupas, no bolso as sobras da
passagem Nova Iorque – Belém e no coração o fervor da mensagem
pentecostal que receberam numa Conferência Missionária na cidade de
Chicago, EUA (ALMEIDA, 1982). Desconhecendo completamente a região
(clima, cultura etc.), sem apoio financeiro de nenhuma igreja, sem o auxílio de
nenhum conhecido e, para agravar a situação, sem o mínimo conhecimento da
língua, os jovens missionários contavam plenamente com a orientação e a
providência divinas (CONDE, 1960).
Conduzidos, segundo eles, pelo Espírito Santo a um modesto hotel nas
imediações da praça central de Belém, Berg e Vingren encontraram, num
pequeno jornal disposto sobre uma mesa, o endereço de Justus Nelson, pastor
da Igreja Metodista em Belém. Por serem batistas – ainda que esta informação
não seja de toda verdadeira – Justus Nelson os encaminhou a uma
congregação da Igreja Batista, na época coordenada por José Plácido da
Costa. Acolhidos ali, passaram a cooperar nos trabalhos, mas sem fazerem
silêncio em relação à mensagem pentecostal, fato gerador de indisposição por
4
parte de alguns membros da igreja, fundamentalmente o seminarista Raimundo
Nobre que, convocando uma reunião extraordinária, decidiu expulsar os
missionários suecos e “excluir” os membros concordantes com a nova doutrina
(CONDE, 1960).
Duas coisas importantes devem ser ditas aqui. Em primeiro lugar, Daniel
Berg e Gunnar Vingren já não eram batistas quando chegaram ao Brasil, uma
vez que solicitaram carta de desligamento da igreja em Chicago. Portanto, a
afirmação que comumente se ouve de que a Assembleia de Deus se originou
da Igreja Batista não corresponde com a verdade dos fatos. Em segundo lugar,
não se pode falar em “exclusão” dos missionários suecos por duas razões mais
que óbvias: (1) Não pertenciam à Igreja Batista e, portanto, não estavam
sujeitos a nenhuma determinação desta, e (2) Raimundo Nobre, gestor da
assembleia extraordinária que culminou com a saída de Berg e Vingren e mais
17 irmãos da congregação, não possuía legitimidade eclesiástica para tal,
afinal de contas, não era oficial (pastor) da denominação. De qualquer forma,
os missionários suecos passaram a congregar os irmãos na residência do
casal Henrique e Celina de Albuquerque iniciando assim, em 18 de junho de
1911, a Missão de Fé Apostólica, uma referência ao movimento pentecostal
moderno iniciado na Rua Azusa, em Los Angeles, EUA, cinco anos antes.
Recebendo o nome de Assembleia de Deus em 11 de Janeiro de 1918,
por ocasião de seu registro cartorário, a novel denominação teve como
principal veio de expansão o processo migratório urbano que, a partir do
declínio do ciclo da borracha (a partir de 1918), quando centenas de migrantes
de outras regiões do Brasil, principalmente do Nordeste, que buscavam nos
seringais do Norte oportunidades de trabalho, deixavam Belém em direção a
suas cidades de origem. É neste retorno que muitos migrantes, agora
convertidos ao Evangelho, levavam consigo a experiência pentecostal e o
desejo incontido de fazer a obra de Deus. É assim que a Assembleia de Deus
vai percorrendo o território nacional, levando a mensagem pentecostal aos
lugares mais recônditos, implantando igrejas nas regiões até então dominadas
pelo Catolicismo, e quando não, esquecidas pelo Protestantismo Tradicional.
Essa, portanto, é a marca do pioneirismo assembleiano, a coragem e o vigor
do Espírito Santo que, derramado em Pentecostes (At.2.1), inflama a igreja,
5
transformando homens simples e iletrados em porta-vozes audazes da
mensagem pentecostal (REIS, 2010). Vendo por esse ângulo, é fácil
entendermos porque, a despeito do Protestantismo Tradicional, que se
expandia seguindo as trilhas do café na região sul do país, e, portanto,
acompanhando o bem-estar proporcionado pelo desenvolvimento econômico-
social, o Pentecostalismo seguia no coração de pessoas simples, empurradas
para a margem desse mesmo desenvolvimento econômico-social
(MENDONÇA, 1995). É através desses excluídos, desvalidos, iletrados e, por
tudo isso, marginalizados, que o Espírito Santo, a partir da Região Norte,
demonstrou Sua força e soberania, fazendo prosperar a mensagem
pentecostal em solo brasileiro.
2
As Assembleias de Deus no Brasil não respondem a uma única liderança nacional. Há três convenções
que, cooptando pastores e igrejas, ostentam o nome de “Convenção da Assembleia de Deus no Brasil”:
(1) CGADB – Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, fundada em 1930, ainda que a
Personalidade Jurídica tenha ocorrido somente em 1946, por ocasião da AGO em Recife/PE, teve como
primeiro presidente o pastor Cícero Canuto de Lima (1893-1982), sendo o atual presidente o pastor José
Wellington Costa Júnior (1953-); (2) CONAMAD – Convenção Nacional das Assembleias de Deus, que
surge efetivamente em 1989, quando o Ministério de Madureira, com personalidade Jurídica desde 1941,
é desligada do rol da CGADB. A CONAMAD, até hoje presidida pelo seu fundador, bispo Manoel
Ferreira (1932-), é a mais importante concorrente da CGADB; (3) CADB – Convenção das Assembleias
8
pelos órgãos doutrinário-padronizadores da denominação (as Lições Bíblicas e
o Mensageiro da Paz), exerciam indiretamente tal função. Aliás, a rigidez
quanto a prática e conduta morais sempre fizeram parte da constituição
estrutural do pentecostalismo, herdeiro que é da ética puritana que, segundo
ilação do sociólogo Procópio Camargo (1973, p.136), contrapunha-se à “[...]
lassidão moral considerada pelos protestantes como típica dos católicos [...]”.
Segundo ele, tal ética gerou entre os protestantes padrões de conduta e de
comportamento bem característicos, ou seja, postura austera e recato na forma
de vestir, honestidade nos negócios e severas restrições comportamentais, tais
como: não consumir bebidas alcóolicas em hipótese alguma, não participar (e
praticar) nenhuma forma de jogos de azar, abster-se de práticas sexuais
extraconjugais etc.
A rigor, essa ética ascética protestante (MENDONÇA, 1990), que se
constitui num esforço metódico e continuado na busca pelo desenvolvimento
de uma espiritualidade mais plena, segundo os princípios morais espraiados na
Bíblia e auxílio imperioso do Espírito Santo na efetivação de meios para tal e
na superação dos obstáculos interpostos pelo “mundo”, é peculiar no
pentecostalismo assembleiano. Portanto, as proibições comportamentais e
vedações de práticas que, segundo a hermenêutica de sua liderança pastoral,
não encontram respaldo no texto sagrado, sempre foram publicados (e
exigidos) aos membros, ainda que não constassem num documento formal da
denominação. A normatização propriamente dita ocorreu por ocasião da 22ª
Assembleia Geral Ordinária3 da Convenção Geral das Assembleias de Deus no
Brasil4, realizada na cidade de Santo André, no Estado de São Paulo, em 1975,
quando os Usos e Costumes foram finalmente oficializados, tornando-se
prática obrigatória a todas as igrejas que, ligadas à CGADB, ostentam o nome
“Assembleia de Deus”. Mesmo que em torno do tema tenha havido grandes
de Deus no Brasil, fundada em 2017, torna-se relevante por conta do seu fundador e circunstância de sua
fundação. Fundada pelo pastor Samuel Câmara, presidente da AD em Belém/PA e um veterano
concorrente nas eleições pela presidência da CGADB, a CADB foi inaugura em cerimônia realizada no
templo sede do seu ministério, em Belém, contando já de imediato com a inscrição de mais de 10 mil
filiados, tornando-a a terceira maior do Brasil.
3
Doravante AGO.
4
Doravante CGADB.
9
discussões no plenário da AGO realizada em Recife5, quase trinta anos antes
(em 1946), por conta da Resolução de São Cristóvão, como ficou conhecida a
polêmica publicação – no Mensageiro da Paz – de uma norma de conduta feita
pelo Ministério da Assembleia de Deus em São Cristóvão/RJ, o tema parece
que encontrou guarida no coração dos pastores nacionais. Desta forma, os
membros convencionais (pastores e evangelistas devidamente credenciados)
aprovaram aquela que ficaria conhecida como Resolução de Santo André,
disposta nos seguintes termos, segundo transcrição de trechos daquela ata
feita por Silas Daniel (2001, p.438, 439):
5
A AGO foi realizada em Recife/PE, entre 21 a 28 de outubro de 1946, no templo sede da Assembleia de
Deus localizada no bairro da Encruzilhada, pastoreada por José Bezerra da Silva, que ocupou a
presidência da igreja entre 1942 e 1953. Na ocasião, além de decidirem sobre a criação da CGADB como
Pessoa Jurídica e o estabelecimento dos limites dos campos ministeriais (jurisdição pertencente a cada
Igreja e suas congregações), a AGO discutiu a polêmica resolução da Assembleia de Deus em São
Cristóvão/RJ. Pastoreada (1945-1948) pelo missionário sueco, Otto Nelson (1881-1982), o Ministério de
São Cristóvão publicou no Mensageiro da Paz (órgão oficial da denominação no Brasil), na edição da
primeira quinzena de julho de 1946, uma resolução que, referendada pela assembleia local em 4 de junho
daquele ano, estabelecia o seguinte: “(1) Não será permitido a nenhuma irmã membro desta igreja raspar
sobrancelhas, cabelo solto, cortado, tingido, permanente ou outras extravagâncias de penteado, conforme
usa o mundo, mas que se penteiem simplesmente como convém às que professam a Cristo como Salvador
e Rei. (2) Os vestidos devem ser suficientemente compridos para cobrir o corpo com todo o pudor e
modéstia, sem decotes exagerados e as mangas devem ser compridas. (3) Se recomenda às irmãs que
usem meias, especialmente as esposas de pastores, anciãos, diáconos, professoras de Escola Dominical, e
dos que cantam no coro ou tocam. (4) Esta resolução regerá também todas as congregações desta igreja.
(5) As irmãs que não obedecerem ao que acima foi exposto serão desligadas da comunhão por um período
de três meses. Terminando este prazo, e não havendo obedecido à resolução da igreja, serão cortadas
definitivamente por pecado de rebelião. (6) Nenhuma irmã será aceita em comunhão se não obedecer a
estas regras de boa moral, separação do mundo e uma vida santa com Jesus” (DANIEL, 2004, p.219). A
resolução, publicada no Mensageiro da Paz foi lida, na integra, no plenário pelo pastor José Teixeira
Rego. As decisões propaladas pelo Ministério de São Cristóvão não apenas foram rechaçadas pelos
convencionais, como também exigiram uma retratação, através de uma nota e um artigo de
esclarecimento publicadas no Mensageiro da Paz. O artigo, a cargo do pastor Samuel Nyström, foi
publicado na primeira quinzena de janeiro de 1947 e a nota, por sua vez, assinada pelo Ministério de São
Cristóvão, foi publicada na segunda quinzena daquele mesmo mês, como segue: “AVISO: O Ministério
da Assembleia de Deus no Rio de Janeiro deseja fazer público que, de acordo com a igreja, retira as
regras publicadas no Mensageiro da Paz da 1ª quinzena de julho, estabelecidas para as irmãs membros da
igreja, pois sem elas as irmãs obedecem a Palavra de Deus. O Ministério” (DANIEL, 2004, p.222).
10
irmãs (membros ou congregados); (5) Sobrancelhas alteradas; (6) Uso de
minissaias e outras roupas contrárias ao bom testemunho da vida cristã; (7)
Uso de aparelho de televisão, convindo abster-se, tendo em vista a má
qualidade da maioria dos seus programas, abstenção essa que se justifica,
inclusive, por conduzir a eventuais problemas de saúde; (8) Uso de bebidas
alcóolicas. Esta Convenção resolve manter relações fraternais com outros
movimentos pentecostais, desde que não sejam oriundos de trabalhos
iniciados ou dirigidos por pessoas excluídas das Assembleias de Deus, bem
como manter comunhão espiritual com os movimentos de renovação
espiritual, que mantenham os mesmos princípios estabelecidos nesta
resolução. Relações essas que devem ser mantidas em prudência e
sabedoria, a fim de que não ocorram possíveis desvios das normas
doutrinárias esposadas e defendidas pelas Assembleias de Deus no Brasil.
(1) Ter os homens cabelos crescidos (1Co.11,14), bem como fazer cortes
extravagantes; (2) As mulheres usarem roupas que são peculiares aos
homens e vestimentas indecentes e indecorosas, ou sem modéstias
(1Tm.2.9,10); (3) Uso exagerado de pintura e maquiagem – unhas,
tatuagens e cabelos (Lv.19.28; 2Rs.9.30); (4) Uso de cabelos curtos em
detrimento da recomendação bíblica (1Co.11.6,15); (5) Mal uso dos meios
de comunicação: televisão, Internet, rádio, telefone (1Co.6.12; Fp.4.8) e (6)
Uso de bebidas alcoólicas e embriagantes (Pv.20.1; 26.31; 1Co.6.10;
Ef.5.18).
6
A AGO de 1990, realizada em São Paulo, discutiu o tema dos Usos e Costumes, e por conta dos intensos
debates e com muitos convencionais participando dos apartes, decidiu-se que o tema seria apreciado pelo
Conselho de Doutrina da CGADB no interregno convencional e, posteriormente, se pronunciaria sobre o
assunto. Em 1995, na AGO realizada na cidade de Salvador/BA, conhecida como a Convenção do
Consenso e da Concórdia, o tema voltou a fazer parte da pauta das discussões. Entretanto, após os
acalorados debates, onde visivelmente se distinguia entre “liberais” e “conservadores”, ficou determinado
mais uma vez pela assembleia que a mesa diretora da CGADB e o Conselho de Doutrina da entidade,
analisariam a questão objetivando, nas palavras de Silas Daniel, “a preservação da unidade da Assembleia
de Deus” (2004, p.566). Nos anos que se seguiram, o assunto foi amplamente discutido, principalmente
nos diversos ELAD’s posteriores, até o surgimento e aprovação da Resolução ELAD, em 1999.
11
comportamentais aos membros da denominação como se autoridade para tal
tivesse, as duas AGO’s seguintes são demonstrações claras de lassidão das
exigências ora rígidas e, aparentemente, inflexíveis. Desta forma, a vedação
plena acerca da utilização de “[...] pinturas nos olhos, unha e outros órgãos da
face” (DANIEL, 2001, p. 438) por parte dos membros do sexo feminino, na
AGO de 1975, cede lugar para a vedação do uso “[...] exagerado de pintura e
maquiagem”7 (COROBIM, 2008, p.15), na AGO de 1999; semelhantemente, a
proibição plena do uso de aparelho de TV, na AGO de 1975, cede lugar para a
exigência mais moderada, em 1999, ou seja, veda-se o “mal uso dos meios
de comunicação: televisão, Internet, rádio, telefone” 8 (COROBIM, 2008, p.15).
Seja como for, misoginia indisfarçável (ALENCAR, 2013) ou mudança eufêmica
(FONSECA, 2009) à parte, o fato é que as práticas e posturas
comportamentais dos membros da Assembleia de Deus no Brasil, tituladas de
Usos e Costumes e oficializadas pela liderança da denominação em 1975, vão
se amoldando às novas realidades e, em certo sentido, sendo ressignificadas a
partir do diálogo e interação direta ou indireta com os demais atores do campo
religioso brasileiro. Ademais, consta na Resolução de 1975 que a CGADB,
enquanto órgão representativo das igrejas Assembleias de Deus a ela filiada,
resolveu:
7
Grifo nosso.
8
Grifo nosso.
9
Grifo nosso.
12
os quais a denominação deve manter “comunhão espiritual”, é uma referência
clara às novas igrejas que, oriundas das denominações evangélicas históricas,
abraçaram a doutrina pentecostal, como as igrejas batistas renovadas, ligadas
à Convenção Batista Nacional (MENDONÇA, 1990). A rigor, entre “relações
fraternais” e “comunhão espiritual” o que há são diferentes graus de
aproximação entre as Assembleia de Deus representadas pela CGADB e os
demais partícipes do contexto religioso nacional, fundamentalmente os de
vertente pentecostal, tendo como objetivo institucional a manutenção das
normas doutrinárias – os Usos e Costumes – esposadas e defendidas pela
denominação no Brasil, ou seja, a preservação de sua identidade
assembleiana.
A rigor, como óbvio se mostra, a Assembleia de Deus não é mais a
mesma. Desde aquele sábado, 18 de junho de 1911, quando Daniel Berg e
Gunnar Vingren e mais vinte ex-membros da Igreja Batista em Belém/PA,
resolveram organizar-se como igreja, mesmo que de maneira informal10, na rua
Siqueira Mendes, nº 79, bairro Cidade Velha, em Belém/PA (ALMEIDA, 1982),
a então inexpressiva comunidade pentecostal alçou o título de a mais popular e
numerosa igreja pentecostal do Brasil. Consequência, não apenas do seu
proselitismo aguerrido e fácil penetração nas camadas mais populares, aliadas
à sua livre liturgia, fácil acessibilidade à liderança, apoio e solidariedade
comunitários, assomo de manejo religioso do cotidiano (MENDONÇA, 1990),
mas também da intensa migração interna (ROLIM, 1985) que, produzida pela
industrialização e crescimento urbano do pós-guerra, contribuíram para o seu
agigantamento. Pensando desta forma, é fácil compreendermos o porque a
Assembleia de Deus, de 20 membros, em 1911, passa a ter 13.511, em 1930;
dez anos depois (1940), 50 mil membros; em 1950, vê sua membresia
ultrapassar a marca de 120 mil (ALENCAR, 2013) e, segundo informam William
Read e Frank Ineson (1980), 636 mil, em 1966. E hoje, no ano do Censo
202011, como bem apontaram os dados do IBGE12 em 2010, o contingente de
10
Neste momento, não havia o registro cartorário. A novel igreja chamava-se Missão de Fé Apostólica,
assumindo o nome Assembleia de Deus no ato do registro como Pessoa Jurídica, em 11 de janeiro de
1918 (ALMEIDA, 1982).
11
https://censo2020.ibge.gov.br/sobre/numeros-do-censo.html.
12
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
13
adeptos ultrapassa (e muito!) a marca de 12 milhões espalhados por todo o
território nacional. Uma gigante, mas “[...] visceralmente fragmentada”
(ALENCAR, 2013, p.46). Sua luta agora, já não é mais para se inserir e
permanecer no campo religioso brasileiro desbravado pelos primeiros
protestantes a partir de 1810 em sua franca peleja contra a força do
Catolicismo Romano que teimava em manter o monopólio religioso nacional
desde 1500; de modo semelhante, já não precisa vencer a desconfiança das
denominações protestantes históricas ou mesmo porfiar contra suas coirmãs
pentecostais mais “liberais”. Agora, isso sim, luta para preservar sua identidade
cristalizada nos Usos e Costumes, fulcro para os diversos ministérios que,
ligados ou não em convenções nacionais (CGADB, CONAMAD e CADB),
coligem milhares de igrejas Assembleias de Deus.
4. CONCLUSÃO
5. REFERÊNCIAS
COROBIM, Antônio Luiz. Uma Análise dos Usos e Costumes adotados pela
Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil – CGADB. Trabalho
de Conclusão de Curso. Faculdade Teológica Batista de São Paulo, São Paulo,
2008;
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FONSECA, André Dioney. Os impressos Institucionais como Fonte de
Estudo do Pentecostalismo: uma análise a partir do livro História da
Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Revista História em
Reflexão. Dourados: UFGD. v. 3, n. 5, 2009;
READ, William R.; INESON, Frank A. Brasil 1980: O manual protestante. São
Paulo: Editora SEPAL, n.02;
SOUSA, Estavam Ângelo de. Nos Domínios do Espírito. 6 ed. Rio de Janeiro:
CPAD, 2001.
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