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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: de hospital pode ser distraída: os internados sabem de
O Outro Marido tudo cá de fora.
– Pelo rádio – explicou Santos.
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Era conferente da Alfândega – mas isso não Um dia, ela se sentiu tão nova, apesar do tempo
tem importância. Somos todos alguma coisa fora de e das separações fundamentais, que imaginou uma
nós; o eu irredutível nada tem a ver com as alteração: por que ele não ficava até o dia seguinte, só
classificações profissionais. Pouco importa que nos essa vez?
avaliem pela casca. 9Por dentro, sentia-se diferente, – 5É tarde – respondeu Santos. E ela não
capaz de mudar sempre, enquanto a situação exterior e entendeu se ele se referia à hora ou a toda a vida
familiar não mudava. Nisso está o espinho do homem: passada sem compreensão. É certo que vagamente o
ele muda, os outros não percebem. compreendia agora, e recebia dele mais que a mesada:
Sua mulher não tinha percebido. Era a mesma uma hora de companhia por mês.
de há 23 anos, quando se casaram (quanto ao íntimo, Santos veio um ano, dois, cinco. Certo dia não
é claro). 3Por falta de filhos, os dois viveram demasiado veio. 13Dona Laurinha preocupou-se. Não só lhe faziam
perto um do outro, sem derivativo. Tão perto que se falta os cruzeiros; ele também fazia. Tomou o ônibus,
desconheciam mutuamente, como um objeto foi ao hospital pela primeira vez, em alvoroço. Lá ele
desconhece outro, na mesma prateleira de armário. não era conhecido. Na Alfândega informaram-lhe que
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Santos doía-se de ser um objeto aos olhos de Dona Santos falecera havia quinze dias, a senhora quer o
Laurinha. Se ela também era um objeto aos olhos dele? endereço da viúva?
Sim, mas com a diferença de que Dona Laurinha não – Sou eu a viúva – disse Dona Laurinha,
procurava fugir a essa simplificação, nem reparava; era espantada.
de fato, objeto. Ele, Santos, sentia-se vivo e O informante olhou-a com incredulidade.
desagradado. Conhecia muito bem a viúva do Santos, Dona Crisália,
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Ao aparecerem nele as primeiras dores, Dona fizera bons piqueniques com o casal na Ilha do
Laurinha penalizou-se, mas esse interesse não Governador. Santos fora seu parceiro de bilhar e de
beneficiou as relações do casal. Santos parecia pescaria. Grande praça. Ele era padrinho do filho mais
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comprazer-se em estar doente. 11Não propriamente em velho de Santos. Deixara três órfãos, coitado.
queixar-se, mas em alegar que ia mal. A doença era E tirou da carteira uma foto, um grupo de praia.
para ele ocupação, emprego suplementar. O médico da Lá estavam Santos, muito lépido, sorrindo, a outra
Alfândega dissera-lhe que certas formas reumáticas mulher, os três garotos. Não havia dúvida: era ele
levam anos para ser dominadas, exigem adaptação e mesmo, seu marido. Contudo, 7a outra
disciplina. Santos começou a cuidar do corpo como de realidade de Santos era tão destacada da sua, que o
uma planta delicada. E mostrou a Dona Laurinha a tornava outro homem, completamente desconhecido,
nevoenta radiografia da coluna vertebral com certo irreconhecível.
orgulho de estar assim tão afetado. – Desculpe, foi engano. 8A pessoa a que me
– Quando você ficar bom... refiro não é esta – disse Dona Laurinha, despedindo- se.
– Não vou ficar. Tenho doença para o resto da
vida. (Carlos Drummond de Andrade)
Para Dona Laurinha, a melhor maneira de
curar-se é tomar remédio e entregar o caso à alma de
Padre Eustáquio, que vela por nós. 2Começou a fatigar- 6. (Espcex (Aman) 2011) No trecho, “– É tarde –
se com a importância que o reumatismo assumira na respondeu Santos.” (ref.5), o sujeito do verbo
vida do marido. E não se amolou muito 12quando ele sublinhado é
anunciou que ia internar-se no hospital Gaffré e Guinle.
– Você não sentirá falta de nada – assegurou- a) indeterminado.
lhe Santos. – Tirei licença com ordenado integral. Eu b) indefinido.
mesmo virei aqui todo começo de mês trazer o dinheiro. c) inexistente.
Hospital não é prisão. d) oculto.
– Vou visitar você todo domingo, quer? e) simples.
– É melhor não ir. Eu descanso, você descansa,
cada qual no seu canto.
Ela também achou melhor, e nunca foi lá.
Pontualmente, Santos trazia-lhe o dinheiro da despesa,
ficaram até um pouco amigos nessa breve conversa a
longos intervalos. 4Ele chegava e saía curvado, sob a
garra do reumatismo que nem melhorava nem matava.
A visita não era de todo desagradável, desde que a
doença deixara de ser assunto. Ela notou como a vida
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É aquela história dos pequenos sucessos. 8. (Esc. Naval 2013) Em que opção o autor, ao reportar-
A volta ao porto era um acontecimento gostoso, se ao passado, emprega um termo cujo sufixo tem valor
sempre figurando a mulher. Primeiro a mãe, depois a intensificador?
namorada, a noiva, a esposa. Muita coisa a contar, a a) “Até as durezas por que passamos são saborosas ao
dizer, surpresas de carinho. A comida preferida, o lembrar [...].” (ref. 16)
abraço apertado, o beijo quente... e o filho que, na b) “Quando saí de bordo, parei no portaló, voltei-me
ausência, foi ensinado a dizer papai. para a bandeira [...].” (ref. 17)
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No início, eu voltava com muitos retratos, c) “Que bom se pudesse voltar ao começo, vestir aquele
principalmente quando vinha do estrangeiro, depois, uniforme novinho [...].” (ref. 18)
com o tempo, eram poucos, até que deixei de levar a d) “No meu primeiro navio, logo cedo, percebi que era
máquina. 10Engraçado, 22vocês já perceberam que novamente aluno.” (ref. 19)
marinheiro velho dificilmente baixa a terra com máquina e) “Acariciou-me o rosto e disse que eu estava lindo de
fotográfica? Foi assim comigo. uniforme.” (ref. 20)
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Hoje os navios são outros, os marinheiros são
outros - sinto-os mais preparados do que eu era - mas 9. (Espcex (Aman) 2013) Assinale a alternativa correta
a vida no mar, as viagens, os portos, a volta, estou certo quanto à classificação do sujeito, respectivamente, para
de que são iguais. Sou marinheiro, por isso sei como é. cada uma das orações abaixo.
Fico agora em casa, querendo saber das coisas
da Marinha. E a cada pedaço que ouço de um amigo, — Choveu pedra por no mínimo 20 minutos.
que leio, que vejo, me dá um orgulho que às vezes — Vende-se este imóvel.
chega a entalar na garganta. 4Há pouco tempo, voltei a — Fazia um frio dos diabos naquele dia.
entrar em um navio. Que coisa linda! 35Sofisticado, a) indeterminado, inexistente, simples
limpíssimo, nas mãos de uma tripulação que só pode ser b) oculto, simples, inexistente
muito competente para mantê-lo pronto. 33Do que me c) inexistente, inexistente, inexistente
mostraram eu não sabia muito. Basta dizer que o último d) oculto, inexistente, simples
navio em que servi já deu baixa. 17Quando saí de bordo, e) simples, simples, inexistente
parei no portaló, voltei-me para a bandeira, inclinei a
cabeça... e, minha garganta entalou outra vez. 10. (Espcex (Aman) 2013) Assinale a alternativa em
Isso é corporativismo; não aquele enxovalhado, que todas as palavras são formadas por prefixos com
que significa o bem de cada um, protegido à custa do significação semelhante.
desmerecimento da instituição; mas o puro, que a) metamorfose – metáfora – meteoro – malcriado
significa o bem da instituição, protegido pelo b) apogeu – aversão – apóstata – abster
merecimento de cada um. c) síncope – simpatia – sobreloja – sílaba
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Sou marinheiro e, portanto, sou d) êxodo – embarcar – engarrafar – enterrar
corporativista. e) débil – declive – desgraça – decapitar
Muitas vezes 25a lembrança me retorna aos dias
da ativa e morro de saudades. 18Que bom se pudesse TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
voltar ao começo, vestir aquele uniforme novinho — até Minha amiga me pergunta: por que você fala
um pouco grande, ainda recordo — Jurar Bandeira, ser sempre nas coisas que acontecem a primeira vez e,
beijado pela minha falecida mãe... sobretudo, as comparar com a primeira vez que você
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Sei que, quando minha hora chegar, no último viu o mar? Me lembro dessa cena: um adolescente
instante, verei, em velocidade desconhecida, o navio chegando ao Rio e o irmão lhe prevenindo: “Amanhã
com meus amigos, minha mulher, meus filhos, vou te apresentar o mar.” Isto soava assim: amanhã
singrando para sempre, indo aonde o mar encontra o vou te levar ao outro lado do mundo, amanhã te ofereço
céu... e, se São Pedro estiver no portaló, direi: a Lua. Amanhã você já não será o mesmo homem.
– Sou marinheiro, estou embarcando. E a cena continuou: resguardado pelo irmão
Autor desconhecido. In: Língua portuguesa: leitura e mais velho, que se assentou no banco do calçadão, o
produção de texto. Rio de Janeiro: Marinha do Brasil, adolescente, ousado e indefeso, caminha na areia para
Escola Naval, 2011. p. 6-8) o primeiro encontro com o mar. Ele não pisava na areia.
Era um oásis a caminhar. Ele não estava mais em Minas,
Glossário mas andava num campo de tulipas na Holanda. O mar
- Portaló: abertura no casco de um navio, ou passagem a primeira vez não é um rito que deixe um homem
junto à balaustrada, por onde as pessoas transitam para impune. Algo nele vai-se aprofundar.
fora ou para dentro, e por onde se pode movimentar E o irmão lá atrás, respeitoso, era a sentinela, o
carga leve. sacerdote que deixa o iniciante no limiar do sagrado,
sabendo que dali para a frente o outro terá que,
sozinho, enfrentar o dragão. E o dragão lá vinha
soltando pelas narinas as ondas verdes de verão. E o
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pequeno cavaleiro, destemido e intimidado, b) “E o irmão lá atrás, respeitoso, era a sentinela, [...].”
tomou de uma espada ou pedaço de pau qualquer para (3º parágrafo)
enfrentar a hidra que ondeava mil cabeças, e c) “[...] convertendo a arma em caneta ou lápis [...].”
convertendo a arma em caneta ou lápis começou a (3º parágrafo)
escrever na areia um texto que não terminará jamais. d) “[...] que na mesa interior marulhavam lembranças
Que é assim o ato de escrever: mais que um modo de [...].” (4º parágrafo)
se postar diante do mar, é uma forma de domar as e) “O mar é um morrer sucessivo e [...].” (8º parágrafo)
vagas do presente convertendo-o num cristal passado.
Não, não enchi a garrafinha de água salgada 12. (Espcex (Aman) 2014) Assinale o sujeito do verbo
para mostrar aos vizinhos tímidos retidos nas forjar, no período abaixo.
montanhas, e fiz mal, porque muitos morreram sem
jamais terem visto o mar que eu lhes trazia. Mas levei Chama atenção das pessoas atentas, cada vez mais, o
as conchas, é verdade, que na mesa interior quanto se forjam nos meios de comunicação modelos
marulhavam lembranças de um luminoso encontro de de comportamento ao sabor de modismos lançados
amor com o mar. pelas celebridades do momento.
Certa vez, adolescente ainda nas montanhas, li a) meios de comunicação
urna crônica onde um leitor de Goiás pedia à cronista b) modelos de comportamento
que lhe explicasse, enfim, o que era o mar. Fiquei c) modismos
perplexo. Não sabia que o mar fosse algo que se d) celebridades do momento
explicasse. Nem me lembro da descrição. Me lembro e) pessoas atentas
apenas da pergunta. Evidentemente eu não estava
pronto para a resposta. A resposta era o mar. E o mar 13. (Espcex (Aman) 2014) A alternativa que apresenta
eu conheci, quando pela primeira vez aprendi que a vida vocábulo onomatopaico é:
não é a arte de responder, mas a possibilidade de a) Os ramos das árvores brandiam com o vento.
perguntar. b) Hum! Este prato está saboroso.
Os cariocas vão achar estranho, mas eu devo c) A fera bramia diante dos caçadores.
lhes revelar: o carioca, com esse modo natural de ir à d) Raios te partam! Voltando a si não achou que dizer.
praia, desvaloriza o mar. Ele vai ao mar com a sem- e) Mas o tempo urgia, deslacei-lhe as mãos...
cerimônia que o mineiro vai ao quintal. E o mar é mais
que horta e quintal. É quando atrás do verde-azul do 14. (Espcex (Aman) 2014) Ao se alistar, não imaginava
instante o desejo se alucina num cardume de flores no que o combate pudesse se realizar em tão curto prazo,
jardim. O mar é isso: é quando os vagalhões da noite embora o ribombar dos canhões já se fizesse ouvir ao
se arrebentam na aurora do sim. longe.
Ver o mar a primeira vez, lhes digo, é quando
Guimarães Rosa pela vez primeira, por nós, viu o sertão. Quanto ao processo de formação das palavras
Ver o mar a primeira vez é quase abrir o primeiro sublinhadas, é correto afirmar que sejam,
consultório, fazer a primeira operação. Ver o mar a respectivamente, casos de
primeira vez é comprar pela primeira vez uma casa nas a) prefixação, sufixação, prefixação, aglutinação e
montanhas: que surpresas ondearão entre a lareira e a onomatopeia.
mesa de vinhos e queijos! b) parassíntese, derivação regressiva, sufixação,
O mar é o mestre da primeira vez e não para de aglutinação e onomatopeia.
ondear suas lições. Nenhuma onda é a mesma onda. c) parassíntese, prefixação, prefixação, sufixação e
Nenhum peixe o mesmo peixe. Nenhuma tarde a derivação imprópria.
mesma tarde. O mar é um morrer sucessivo e um viver d) derivação regressiva, derivação imprópria, sufixação,
permanente. Ele se desfolha em ondas e não para de justaposição e onomatopeia.
brotar. A contemplá-lo ao mesmo tempo sou jovem e e) parassíntese, aglutinação, derivação regressiva,
envelheço. justaposição e onomatopeia.
O mar é recomeço.
15. (Espcex (Aman) 2014) São palavras primitivas:
(SANT’ANNA, Affonso Romano de. O mar, a a) época – engarrafamento – peito – suor
primeira vez. In:_____. Fizemos bem em resistir: b) sala – quadro – prato – brasileiro
crônicas selecionadas. Rio de Janeiro: Rocco,1994, c) quarto — chuvoso — dia — hora
p.50-52. Texto adaptado.) d) casa – pedra – flor – feliz
e) temporada – narcotráfico – televisão – passatempo
Gastão Penalva escrevera com muita c) “E o sentimento de perda [...].” (6º parágrafo)
propriedade: “... é a fase inesquecível de nosso ofício. d) “Seis anos entremeados de aulas, [...].” (7º
Coincide exatamente com a adolescência, primavera da parágrafo)
vida. Tudo são flores e ilusões... Depois começam a e) “[...] o notável escritor-marinheiro [...].” (13º
despontar as responsabilidades, as agruras de novos parágrafo)
cargos, o acúmulo de deveres novos”.
E esses novos cargos e deveres novos, que 19. (Esc. Naval 2016) Em que opção o plural do
foram se multiplicando a bordo de velhos e saudosos substantivo composto segue a mesma regra de flexão
navios, deixariam agradáveis e duradouras lembranças do termo destacado em “[...] o tão sonhado embarque
em nossa memória. Com o passar dos tempos, inúmeros no Navio-Escola.” (11º parágrafo)?
Conveses e Praça d’ Armas, hoje saudosas, foram se a) água-marinha valiosa.
incorporando ao acervo profissional-afetivo de cada um b) obra-prima da Natureza.
dos integrantes daquela Turma de Guardas-Marinha de c) vitória-régia da Amazônia.
1967. d) salário-família irrisório.
Ah! Como é gratificante, ainda que melancólico, e) carta-bilhete do Aspirante.
repassar tantas lembranças, tantos termos expressivos,
tanta gíria maruja, tantas tradições, fainas e eventos tão TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
intensamente vividos a bordo de inesquecíveis e FELICIDADE CLANDESTINA
saudosos navios... Clarice Lispector
E as viagens foram se multiplicando ao longo de
bem aproveitados anos de embarque, de centenas de Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos
dias de mar e de milhares de milhas navegadas em alto excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um
mar, singrando as extensas massas líquidas que formam busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos
os grandes oceanos, ou ao longo das águas costeiras achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos
que banham os recortados litorais, com passagens, da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o
visitas e arribadas em um sem-número de enseadas, que qualquer criança devoradora de histórias gostaria
baías, barras, angras, estreitos, furos e canais de ter: um pai dono de livraria.
espalhados pelos quatro cantos do mundo, percorridos Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para
nem sempre com mares bonançosos e ventos tranquilos aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato,
e favoráveis. ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do
Inúmeros foram também os portos e cidades pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo,
visitadas, não só no Brasil como no exterior, o que onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas.
sempre nos proporciona inestimáveis e valiosos Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como
conhecimentos, principalmente graças ao contato com “data natalícia” e “saudade”.
povos diferentes e até mesmo de culturas exóticas e Mas que talento tinha para a crueldade. Ela
hábitos às vezes totalmente diversos dos nossos, como toda era pura vingança, chupando balas com barulho.
os ribeirinhos amazonenses ou os criadores de Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos
serpentes da antiga Taprobana, ex-Ceilão e hoje Sri imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de
Lanka. cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o
Como foi fascinante e delicioso navegar por seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as
todos esses cantos. Cada novo mar percorrido, cada humilhações a que ela me submetia: continuava a
nova enseada, estreito ou porto visitado tinha sempre implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
um gosto especial de descoberta... Sim, pois, como dizia Até que veio para ela o magno dia de começar
Câmara Cascudo, “o mar não guarda os vestígios das a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como
quilhas que o atravessam. Cada marinheiro tem a ilusão casualmente, informou-me que possuía As reinações de
cordial do descobrimento”. Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro
(CÉSAR, CMG (RM1) William Carmo. Laivos de para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o.
memória. In: Revista de Villegagnon, Ano IV, nº 4, E completamente acima de minhas posses. Disse-me
2009. p. 42-50. Texto adaptado) que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela
o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria
18. (Esc. Naval 2016) Em que opção encontra-se uma esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar
palavra, cujo processo de formação é o mesmo do num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
termo destacado em “[...] o tão sonhado embarque No dia seguinte fui à sua casa, literalmente
[...].” (11º parágrafo) correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim
a) “[...] circundam minha terra [...].” (2º parágrafo) numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para
b) “[...] não seriam certamente em vão.” (4º parágrafo) meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a
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outra menina, e que eu voltasse no dia comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até
seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas chegar em casa, também pouco importa. Meu peito
em breve a esperança de novo me tomava toda e eu estava quente, meu coração pensativo.
recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia
modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter.
nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas,
viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais
inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde
pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa
secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria
diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia.
casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor
resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, em mim. Eu era uma rainha delicada.
que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais Às vezes sentava-me na rede, balançando-me
tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase
com ela ia se repetir com meu coração batendo. puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela uma mulher com o seu amante.
sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não
escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a Com base no texto acima, responda à(s)
adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes questão(ões) a seguir.
adivinho. Mas, adivinhando-me mesmo, às vezes aceito:
como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando
danadamente que eu sofra. 20. (Efomm 2016) Assinale a opção em que a
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, expressão sublinhada NÃO é o sujeito da oração.
sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro a) Como contar o que se seguiu?
esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de b) Até que veio para ela o magno dia de começar a
manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, exercer sobre mim uma tortura chinesa.
que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se c) Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro
cavando sob os meus olhos espantados. (...)
Até que um dia, quando eu estava à porta de d) No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com
sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, um sorriso e o coração (...)
apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a e) Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de
aparição muda e diária daquela menina à porta de sua palavras (...)
casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma
confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco
elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho
o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa
entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa
exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e
você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta
do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da
filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência
de perversidade de sua filha desconhecida e a menina
loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de
Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse
firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro
agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por
quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me
dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que
uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de
querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava
estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu
não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando
como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que
segurava o livro grosso com as duas mãos,
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TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: 32. What does the sentence “It will add even greater
Answer the questions based on the text below. momentum, (...)” mean in the last paragraph?
The Brazilian government has ratified its a) That the Brazilian participation in the agreement will
participation in the Paris agreement on climate change, represent an important moment.
a significant step by Latin America’s largest emitter of b) That the Brazilian participation in the agreement will
greenhouse gases that could spur other countries to bring strength to it.
follow suit. c) That the Brazilian participation in the agreement will
With a landmass larger than the continental US, represent a great burden to it.
Brazil emits about 2.5% of the world’s carbon dioxide d) That small countries in South America will join the
and other polluting gases, according to United Nations agreement because of the Brazilian participation.
data.
“Our government is concerned about the 33. Which of the idioms below is a possible synonym
future,” said President Michel Temer during a signing for “follow suit” in the first paragraph of the text?
ceremony in Brasilia. “Everything we do today is not
aimed at tomorrow, but rather at a future that preserves a) Cross the bridge when you come to it.
the living conditions of Brazilians.” b) Keep something at bay.
Temer said Brazil’s ratification would be c) Jump on the bandwagon.
presented formally to the UN later this month. d) Sit on the fence.
The Paris agreement will enter into force once
55 countries representing at least 55% of global TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
emissions have formally joined it. Climate experts say A couple of weeks ago I was asked what I thought the
that could happen later this year. future of technology in education was. It is a really
Countries set their own targets for reducing interesting question and one that I am required to think
emissions. The targets are not legally binding, but about all the time. By its very nature, technology
nations must update them every five years. Using 2005 changes at a fast pace and making it accessible to
levels as the baseline, Brazil committed to cutting pupils, teachers and other stakeholders is an ongoing
emissions 37% by 2025 and an “intended reduction” of challenge. So what is the future? Is it the iPad? No, I
43% by 2030. don't think it is. For me, the future is not about one
In the last decade, Brazil has achieved specific device. Don't get me wrong, I love the iPad. In
significant emissions cuts thanks to efforts to reduce fact, I have just finished a trial to see if using them
deforestation in the Amazon and increase in the use of really does support teaching and learning – and they
energy from hydropower and other renewable sources have proved effective. I've written about the trial in
including wind, solar and biomass. more detail on my blog. iPads and other mobile
The Paris accord got a boost earlier this month technology are the ‘now’. Although, they will play a part
when the US president, Barack Obama, and China’s in the future, four years ago the iPad didn't even exist.
President, Xi Jinping, sealed their nations’ participation. We don't know what will be the current technology in
“Brazil is now the next major country to move another four. Perhaps it will be wearable devices such
forward. It will add even greater momentum,” said as Google Glass, although I suspect that tablets will still
David Waskow, director of the International Climate be used in education. The future is about access,
Initiative at the Washington, DC-based think tank the anywhere learning and collaboration, both locally and
World Resources Institute. globally. Teaching and learning is going to be social.
Schools of the future could have a traditional cohort of
Source: students, as well as online only students who live across
https://www.theguardian.com/environment/2016/sep/ the country or even the world. Things are already
13/brazil-ratifies-paris-agreement-with-pledge-to- starting to move this way with the emergence of
sharplyreduce-emissions. massive open online courses (MOOCs). For me the
future of technology in education is the cloud.
Technology can often be a barrier to teaching and
learning. I think the cloud will go a long way to removing
this barrier. Why? By removing the number of things
that can go wrong. Schools will only need one major
thing to be prepared for the future. They will not need
software installed, servers or local file storage. Schools
will need a fast robust internet connection.
Infrastructure is paramount to the future of technology
in education. We don't know what the new ‘in’ device
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36. Match the words underlined in the text with their 39. Choose the correct option to complete this forum
correct translations into Portuguese. post.
37. Which is the correct option to complete the In today’s fast-paced world, it is so easy __________
paragraph below? through a drive-through window to grab something to
eat. It is also easy __________ into a gas station
How to use the camera at the beach or near __________ a bag of chips, a soda, and some candy.
water However, __________ this is not the best choice for our
__________ the camera dry naturally in case it gets bodies. Simply put – the more junk you put into your
wet. After that, please __________ the door/cover to body, the worse you are going to feel. Try __________
be sure no sands is present. ___________ as required. your body with healthy food, drink plenty of water, and
___________ the camera anywhere the temperature skip fast food lines as much as you can to feel healthy
may exceed 35 C as this may damage the unit. and happy.
a) Let/inspect/To clean/Do not leave
b) Let/inspect/Clean/ Do not leave (Abridged from http://www.teenadvice.about.com)
c) To let/inspect/Clean/Not leave a) driving – stopping – to buy – to do – to nourish
d) To let/inspect/Clean/Leave not b) driving – stopping – to buy – doing – to nourish
e) To let/to inspect/To clean/Leave not c) to drive – to stop – to buy – doing – to nourish
d) to drive – to stop – buying –doing – nourishing
38. Which is the correct option to complete the e) to drive – to stop – to buy – to do – nourishing
paragraph below?
(http://www.wikihow.com/Prepare-Yorself-for-
Entrance-Exams)
a) are taking – notice – comes
b) takes – noticing – coming
c) take – notice – come
d) takes – noticing – come
e) take – noticing – coming
TEOREMA MILITAR
1º SIMULADO EFOMM – 2º DIA – PORTUGUÊS, INGLÊS E REDAÇÃO
– Porque não!
Dormiu logo. A mulher passou metade da noite
REDAÇÃO olhando para o nariz de borracha. De madrugada
começou a chorar baixinho. Ele enlouquecera. Era isto.
Era um dentista respeitadíssimo. Com seus Tudo estava acabado. Uma carreira brilhante, uma
quarenta e poucos anos, uma filha quase na faculdade. reputação, um nome, uma família perfeita, tudo trocado
Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes, por um nariz postiço.
mas de uma sólida reputação como profissional e – Papai...
cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz – Sim, minha filha.
postiço. Passado o susto, a mulher e a filha sorriram – Podemos conversar?
com fingida tolerância. Era um daqueles narizes de – Claro que podemos.
borracha com óculos de aros pretos, sobrancelhas e – É sobre esse seu nariz...
bigodes que fazem a pessoa ficar parecida com o – O meu nariz, outra vez? Mas vocês só pensam
Groucho Marx. Mas o nosso dentista não estava nisso?
imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa de almoço – Papai, como é que nós não vamos pensar? De
– sempre almoçava em casa – com a retidão costumeira, uma hora para outra, um homem como você resolve
quieto e algo distraído. Mas com um nariz postiço. andar de nariz postiço e não quer que ninguém note?
– O que é isso? – perguntou a mulher depois da – O nariz é meu e vou continuar a usar.
salada, sorrindo menos. – Mas por que, papai? Você não se dá conta de
que se transformou no palhaço do prédio? Eu não posso
– Isto o quê? mais encarar os vizinhos, de vergonha. A mamãe não
– Esse nariz. tem mais vida social.
– Ah, vi numa vitrina, entrei e comprei. – Não tem porque não quer...
– Logo você, papai... – Como é que ela vai à rua com um homem de
Depois do almoço ele foi recostar-se no sofá da nariz postiço?
sala como fazia todos os dias. A mulher – Mas não sou “um homem”. Sou eu. O marido
impacientou-se. dela. O seu pai. Continuo o mesmo homem. Um nariz
– Tire esse negócio. de borracha não faz nenhuma diferença. Se não faz
– Por quê? nenhuma diferença, por que não usar?
– Brincadeira tem hora. – Mas, mas...
– Mas isto não é brincadeira. – Minha filha.
Sesteou com o nariz de borracha para o alto. – Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais
Depois de meia hora, levantou-se e dirigiu-se para a meu pai!
porta. A mulher o interpelou:
– Aonde é que você vai? A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu
– Como, aonde é que eu vou? Vou voltar para o todos os clientes. A recepcionista, que trabalhava com
consultório. ele há 15 anos, pediu demissão. Não sabia o que
– Mas com esse nariz? esperar de um homem que usava nariz postiço. Evitava
– Eu não compreendo você – disse ele, olhando- aproximar-se dele. Mandou o pedido de demissão pelo
a com censura através dos aros sem lentes. – Se fosse correio. Os amigos mais chegados, numa última
uma gravata nova, você não diria nada. Só porque é um tentativa de salvar sua reputação, o convenceram a
nariz... consultar um psiquiatra.
– Pense nos vizinhos. Pense nos clientes. – Você vai concordar – disse o psiquiatra depois
Os clientes, realmente, não compreenderam o de concluir que não havia nada de errado com ele – que
nariz de borracha. Deram risadas (“Logo o senhor, seu comportamento é um pouco estranho...
doutor...”), fizeram perguntas, mas terminaram a – Estranho é o comportamento dos outros! – disse
consulta intrigados e saíram do consultório com dúvidas. ele. – Eu continuo o mesmo. Noventa e dois por cento
– Ele enlouqueceu? do meu corpo continua o que era antes. Não mudei a
– Não sei – respondia a recepcionista, que maneira de vestir, nem de pensar, nem de me
trabalhava com ele há 15 anos. – Nunca vi “ele” comportar. Continuo sendo um ótimo dentista, um bom
assim. marido, bom pai, contribuinte, sócio do fluminense,
Naquela noite, ele tomou seu chuveiro, como tudo como antes. Mas as pessoas repudiam todo o resto
fazia sempre antes de dormir. Depois, vestiu o pijama e por causa deste nariz. Um simples nariz de borracha.
o nariz postiço e foi se deitar. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?
– Você vai usar esse nariz na cama? – – É... – disse o psiquiatra. – Talvez você tenha
perguntou a mulher. razão...
– Vou. Aliás, não vou mais tirar este nariz. O que é que você acha, leitor? Ele tem razão?
– Mas, por quê? Seja como for, não se entregou. Continua a usar o nariz
TEOREMA MILITAR
1º SIMULADO EFOMM – 2º DIA – PORTUGUÊS, INGLÊS E REDAÇÃO