MORAES, Maria Cândida. Novos cenários em construção.
In: MORAES, Maria
Cândida. O paradigma educacional emergente. 3. ed. campinas: Papirus, 1996. p. 113-133. [...]. Ao lado dos grandes avanços científicos e tecnológicos, das grandes conquistas de humanidade, estamos, hoje, no mais incrível processo de desumanização da nossa história [...] (p. 113). John Marks Templeton, em se livro Looking forward: the next forty years, reconhece que estamos vivendo uma era maravilhosa, um período sem precedentes na história da humanidade, um tempo de abertura, mas que, simultaneamente, é um mundo de dramáticas mudanças políticas, econômicas, culturais e espirituais (p. 114). Looking forward: the next forty years [Olhando para afrente: os próximos quarenta anos]
John Marks Templeton
O autor afirma que a evolução do conhecimento humano está acelerando enormemente; ele lembra que mais da metade das descobertas científicas foi feita neste século. Mais da metade dos bens produzidas na história da terra foi produzida a partir de 1.800. Mais da metade dos livros já escritos foi publicada nos últimos cinquenta anos; reconhece, ainda, que há muito o que fazer, há muito mais para descobrir. Para tanto, necessitamos planejar e, mais do antes, necessitamos ver os futuros cenários mais claramente (p. 114-115). Mudanças no mundo Uma das afirmações mais comuns hoje em dia é que o mundo está vivendo um processo de grandes transformações profundadas e aceleradas – tudo se modifica a cada dia. Tal processo é condicionado por inúmeros fatores, entre eles, os avanços científicos que multiplicam as informações, distribuem o conhecimento, influenciam sistemas políticos, econômicos e sociais, presentes e futuros [...] (p. 115). Para Peter Drucken (1989), em vez de uma nova ordem, temos uma nova desordem mundial, e por quanto tempo ainda não sabemos [...]. Para Nasbitt (1990), o declínio do Estado-Nação é hoje um fenômeno universal, cuja a diminuição de importância vem permitindo o surgimento de muitos outros países [...] (p. 115). [...] Para Nasbitt (1990), a liberdade individual vem assumindo um novo significado com a digitalização crescente, permitindo ao indivíduo trabalhar em qualquer parte do planeta onde deseja morar [...] (p. 116). Além da revalorização da pessoa humana, essas mudanças indicam a presença de economias abertas, de um estado moderno, descentralizado, de governos democráticos e de uma crise generalizada dos sistemas hierárquicos verticais de controle, administração, produção social e econômica (p. 116). Os novos desafios enfrentados pelos indivíduos e pelos governos já não podem ser simplesmente superados por ações nacionais ou internacionais. Eles exigem ações transnacionais com soberania própria, diferente da soberania nacionalista até então vigente (p. 116). Hoje, já não se controla os fluxos de dinheiro nem de informações. Ambos são absolutamente transnacionais.
Da mesma forma, temos também outras necessidades transnacionais
que atravessam as barreiras de cada país e que não dependem das decisões únicas e exclusivas de um Estado-Nação (p. 116). Existe hoje uma nova ênfase no tribal, mas no mundo que está ficando cada vez mais global. Ênfase nas tribos eletrônicas ou virtuais que tentam falar uma determinada linguagem. Para Nasbitt (1990), é preciso reconhecer que o que nos impele a esse paradoxo global é a revolução das telecomunicações [...] (p. 117). Estamos criando uma nova era de informações baseada em tecnologias de comunicação e nas redes que as interconectam. A informação será a energia propulsora que alimentará as economias do século XXI. Haverá uma nova ordem global moldada pelas tecnologias da informação. Essas transformações do mundo atual pressupõe a criação de novos espaços de convivência, o uso do mesmo espaço e a partilha de diferentes instrumentos (p. 117). Com a abertura de mercados anteriormente protegidos e isolados e consequente diminuição de barreiras físicas, econômicas, culturais e políticas, a realidade empresarial vem mudando em razão do aumento da competitividade cada vez mais desenfreada que ocorre não apenas em tradicionais concorrentes, mas também como consequência da entrada de novas empresas que disputam o mesmo mercado (p. 117-118). A competividade atual vem requerendo significativas mudanças na natureza das organizações empresariais, levando-as a tentar combinar tanto as características das pequenas empresas, tais como agilidade, velocidade e capacidade de respostas rápidas, quanto as das grandes, especialmente no que se refere aos investimentos em pesquisa e em desenvolvimento (p. 118). Com a queda das paredes, as organizações tendem a diminuir a burocracia, simplificar os processos, intercambiar dados, tomar decisões online, o que deverá levar a melhoria significativa do desempenho e, consequentemente, a autonomia e produtividade maiores, decorrentes da necessidade de tomar decisões rápidas e fornecer respostas imediatas, aspectos fundamentalmente importantes para as organizações alcançarem o sucesso esperado (p. 118-119). Com os negócios cada vez mais dinâmicos e sujeitos a constantes mudanças, a figura do profissional competente, criativo, responsável, com capacidade decisória, que trabalha em equipes multidisciplinares, passou a constituir a figura central das organizações.
Ambiente de trabalho transformam-se
em ambientes de aprendizagem, em que os indivíduos desenvolvem não apenas habilidades específicas, mas também conhecimentos especializados (Nasbitt, 1990) (p. 119). NOVO PARADIGMA NAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO Há uma nova demanda para um novo tipo de tecnologia, que, por sua vez, vem sendo gerada em decorrência do processo de maturação tecnológica e do desenvolvimento das telecomunicações (p. 120). MUDANÇAS CULTURAIS E MUDANÇAS NO SABER A cultura de um povo envolve seus modos de viver, seus sistemas de valores, crenças, seus instrumentos de trabalho, seus tipos de organização social, seja ela familiar, econômica, educacional, trabalhista, institucional, política ou religiosa, além de todas dimensões éticas e estéticas, bem como seus modos de pensar e fazer. Novos instrumentos, novas ferramentas alteram totalmente a cultura ao oferecer novas formas de fazer. No caso da informática e de suas associações com outras tecnologias, estão sendo alteradas as formas de fazer e, principalmente, as formas de pensar esse fazer [...] (p. 121). Para Pierre Lévy (1994), com a informatização, está surgindo um novo tipo de gestão social do conhecimento, na medida em que usamos um modelo digital que não é lido ou interpretado como um texto clássico, mas “explorado” de forma interativa. Para Lévy, na cultura oral, pensava-se por meio de “situações”, cujas representações mais importantes para os membros da comunidade eram codificadas na forma de narrativas. Segundo esse autor, numa sociedade desse tipo, o edifício cultural está assentado sobre as lembranças dos indivíduos, e a inteligência nessas sociedades está mais identificada com a memória auditiva. Esta era o único instrumento de que dispunham para reter e transmitir as representações (p. 122). Com o advento da escrita, ocorre um distanciamento entre emissor e receptor da mensagem, que passam a estar separados no tempo.
Com a chegada da imprensa, novas e
significativas mudanças ocorreram nas formas de armazenamento e transmissão do saber. A partir de então, o novo conhecimento já não é introduzido por um mestre que recebera anteriormente. O leitor é agora um indivíduo isolado, que pode adquirir a informação de maneira auto-suficiente [...] (p. 122). Com o aparecimento das mídias eletrônicas, entre elas e informática e a telemática, modificações importantes e significativas estão ocorrendo nas formas de conceber, armazenar e transmitir o saber. As mudanças técnicas provocadas por essas tecnologias requerem e produzem novas formas de representação, dando origem a novos modos de conhecimento.
Para Lévy, com a informática,
apreendemos o conhecimento por simulação, o que implica critérios e tipos de reflexão mental específicos, que atuam sobre as formas de pensar [...] (p. 123). Para Lévy, com a informática, apreendemos o conhecimento por simulação, o que implica critérios e tipos de reflexão mental específicos, que atuam sobre as formas de pensar [...] (p. 123). Para Lévy, o conhecimento por simulação e a interconexão em tempo real valorizam o momento oportuno, a situação e as circunstâncias relativas. Valente alerta que o modelo de programação adotado executa e explicita o raciocínio do aluno, o que nenhuma oura tecnologia jamais possibilitara. O que queremos observar é que cada tipo de tecnologia intelectual, seja, oral, escrita ou informacional, com as quais convivemos simultaneamente, coloca me ênfase particular em determinadas dimensões cognitivas e em determinados valores, dos quais decorrem manifestações culturais específicas (p. 123). [...] um cultura, os fenômenos culturais estão relacionados com as representações, cuja distribuição, numa dada população, identifica a própria cultura que lhe está subjacente. Para Lévy, o meio ecológico no qual as representações se propagam é composto de mentes humanas e redes técnicas de armazenamento, de transformação e de transmissão de representações [...] (p. 124). A mente humana, ou seja, o equipamento cognitivo do indivíduo, é influenciada pela cultura, pela coletividade que fornece a língua, pelos sistema de classificação, pelos conceitos, pelas analogias, pelas metáforas e pelas imagens [...] (p. 124). Lyotard, em seu livro O pós-moderno, reforça a ideia da ocorrência de mudança de estatuto do saber quando as sociedades entram na idade pós-industrial, e as culturas, na idade pós-moderna (p. 124). Para esse filósofo, o fato de o saber gerado pela sociedade ter de se submeter as novos canais faz com que ele se torne mais operacional, traduzido em linguagens de programação, o que impõe uma certa lógica e requer, por sua vez, um conjunto de procedimentos e de manejo de signos. Isso dá origem, de acordo com o pensamento de Lévy (1994), a novos modos de conhecer, de saber e de regular a sociedade, o que poderá dar origem a um novo estilo de humanidade (p. 124-125). A EMERGÊNCIA DE UMA SOCIEDADE GLOBAL E DIGITAL A interconectividade que se observa na sociedade atual vem sendo multiplicada de forma sem precedentes na história da humanidade, em virtude uma globalização cada vez maior que, apesar de enfrentar obstáculos e tentativas de interrupção, continua o seu processo em marcha (p. 125). Essa nova ordem leva à perda das raízes. Mercados, mercadorias, moedas, capitais, empresas, projetos, tecnologias, tudo se desenraiza, desloca-se além da fronteiras, das línguas, das bandeiras, das moedas e das tradições à procura de um espaço global [...] (p. 125). A informática como tecnologia e como técnica vem ocupando um lugar cada vez mais privilegiado entre as tecnologias de ponta e entre as atividades modernizadoras da ciência, da economia e das sociedades contemporâneas [...] (p. 125).
Para Negroponte, é uma sociedade que está se
transformando cada vez mais numa sociedade digital; as consequências disso ainda são imprevisíveis, pois novos conteúdos, novos modelos econômicos e novos tipos de usuário surgirão em decorrência dessa nova natureza digital (p. 126). O desenvolvimento digital tem proporcionado grandes avanços na ciência por meio do desenvolvimento de uma metodologia de investigação chamada de modelagem computacional, pela qual são desenvolvidos modelos matemáticos em toda a sua complexidade e que proporcionam o aparecimento de um fenômeno complexo que contém uma riqueza de informações muito grande [...].
Pela simulação, os cientistas podem fazer
um determinado experimento centena de vezes, ao passo que os fenômenos naturais ocorrem apenas uma vez [...]. Na engenharia genética, o suo de supercomputadores permite a leitura e a análise de conteúdo informacional contido nas moléculas de DNA e RNA [...]
Pela computação gráfica, podemos gerar
imagens, animação, simulação, gráficos, desenhos e pinturas cujos limites são os da própria imaginação do usuário [...].
Na ciência cognitiva, técnicas e modelos
computacionais vêm sendo empregados experimentalmente para investigar como o conhecimento é produzido e representado pela mente [...] (p. 127). Não só os cientistas computacionais estão motivados pelo desafio de produzir maquinas cada vez mais inteligentes, mas também os psicólogos e os pesquisadores da mente vêm se interessando cada vez mais pela inteligência artificial à medida que esta proporciona novos insights sobre a forma como a mente funciona [...].
Estudos vêm sendo desenvolvidos no
sentido de criar máquinas capazes de reconhecer imagens, identificar pessoas e objetos, bem como a forma como os neurônios se organizam e se comportam para transmitir imagens e cores [...] (p. 129). Graças aos computadores, a ciência cognitiva tem feito grandes avanços na compreensão das estruturas mentais e nos processos subjacentes de aquisição, construção e representação do conhecimento. De acordo com Nersessian (1995), essas ferramentas colaboram para a produção de sofisticadas teorias cognitivas sobre a aquisição da linguagem, o desenvolvimento conceitual, as tomadas de decisão, a resolução de problemas, a aprendizagem e o funcionamento do cérebro (p. 129). O que queremos salientar é que o advento dos computadores, em especial, dos supercomputadores, tem permitido um grande avanço nas áreas das ciências em geral, em virtude de possibilidade de criar/ou recriar virtualmente o mundo físico com um excelente grau de precisão e sofisticação (p. 130). [...] podemos verificar que os sistemas informáticos passaram a constituir um nova extensão do homem, pois, de qualquer lugar do mundo, podemos ter acesso imediato ao velho e ao novo conhecimento, ao mesmo tempo em que podemos nos comunicar uns com os outros através de redes telemáticas cada vez mais disponíveis [...] (p. 131). O MAIOR DESAFIO [...] o que hoje mundialmente se constata é que apenas algumas empresas líderes estão criando uma infra-estrutura tecnológica capaz de impulsionar e acompanhar as novas aberturas que estão ocorrendo no mundo. O que também se observa é que a maioria dos empreendimentos atuais continua isolada, atuando como estruturas hierárquicas verticais; tais empreendimentos seguem bloqueados numa tecnologia do passado [...] (p. 131). Velhos paradigmas e os valores que lhes são subjacentes dificilmente morrem. Resistem o quanto podem à autodestruição, porque dependem do ser humano com a natureza extremamente conservadora. Dependem, também, do surgimento de novas lideranças promotoras, de novos questionamentos. Mas, uma liderança comprometida com os novos tempos, com a transformação cultural que incluem mudanças organizacionais necessárias. Uma liderança com consciência, com conhecimento e compreensão dos conceitos envolvidos do novo paradigma, comprometida e motivada para provocar mudanças, com a habilidade e a competência necessárias para realização das transformações requeridas pela nova reengenharia do trabalho, em qualquer aprendizagem constante, uma educação permanente, para que o indivíduo possa acompanhar as transformações culturais e sociais, evoluir num clima de incertezas, de inseguranças, de mudanças tecnologias e organizacionais, no mercado de trabalho absolutamente imprevisível (p. 132). De que forma as sociedades atuais poderão garantir que seus membros sejam suficientemente dotados de condições intelectuais e instrumentais que garantam sua permanência na própria vida social sem se transformar em sobrecarga para o sistema? De que forma a sociedade poderá assegurar que seus membros sejam contemporâneos deles mesmos e da própria humanidade? Como instrumentalizá-los para que assumam o comando de sua própria vida, de modo autônomo, para que assumam o papel de cidadãos e de cidadãs do mundo em que vivem? (p. 133). O futuro não é algo predeterminado ou imposto, muito pelo contrário, ele depende de nossas ações e atuações no presente. Depende de nossa consciência coletiva e individual, da forma como o planejamos, da maneira como focalizamos as nossas necessidades futuras, os caminhos que escolhemos e compartilhamos no presente. Assim, as sociedades que não souberem compreender as mudanças e que não proporcionarem a todos os seus membros a oportunidade de uma educação relevante ficarão à margem dos acontecimentos históricos (p. 133). As imagens contidas nestes slides foram extraídas das seguintes páginas: https://br.freepik.com/ https://pixabay.com/pt/ Gratidão!