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Paredes
Júri
Presidente: Prof. Jorge Manuel Calico Lopes de Brito
Orientador: Eng. Maria do Rosário da Silva Veiga
Co-Orientador: Prof. Augusto Martins Gomes
Vogal: Prof. Ana Luísa Pinheiro Lomelino Velosa
Novembro de 2008
Agradecimentos
Com a apresentação da presente dissertação, gostaria de agradecer a todos aqueles que de forma
directa ou indirecta, contribuíram para a sua execução, principalmente:
• Aos meus pais e ao meu irmão, pelo constante apoio, confiança, incentivo, amizade e por me
apoiarem em todos os momentos.
• Aos meus amigos e colegas de faculdade pelo constante apoio, paciência e amizade e por se
mostrarem sempre compreensivos com as minhas ausências.
• Aos experimentadores do LNEC, Bento Sabala, Dora Santos e Ana Francisco pela
disponibilidade e ajuda preciosa na realização da campanha experimental.
i
ARGAMASSAS DE CAL HIDRÁULICA PARA REVESTIMENTOS DE PAREDES
Resumo
A escolha de um revestimento, tanto para edifícios antigos como para edifícios recentes, deve
ser cuidada de modo a garantir a compatibilidade com os materiais pré-existentes. As
argamassas de cal hidráulica, com a cal hidráulica como único ligante ou misturada com cal
aérea surgem como eventuais argamassas de substituição.
Um dos objectivos deste estudo é a caracterização das argamassas de cal hidráulica tendo
em vista a sua aplicação na reabilitação de edifícios antigos e determinar se estas também
podem ser aplicadas em edifícios recentes. Outro objectivo consiste em determinar as várias
diferenças entre as argamassas de cal hidráulica produzidas pelos vários tipos de cal
hidráulica presentes no mercado nacional.
Palavras-chave:
Cal hidráulica
Caracterização de argamassas
Argamassas de substituição
ii
HYDRAULIC LIME MORTARS FOR WALL RENDERING
Abstract
The choice of a render, for ancient buildings as for recent buildings, must be careful to
guarantee the compatibility with pre-existing materials. The hydraulic lime mortars, with
hydraulic lime as a unique binder or mixed with air lime, appears as a possible replacement
mortar.
One of the aims of this study is to characterize hydraulic lime mortars with a view to their use
in rehabilitation of old buildings and determinate if they can also be applied in recent buildings.
Another aim is find the differences between the various hydraulic mortars produced by the
several hydraulic lime presents in the national market.
This dissertation describes and analyses the results of an experimental study with six
formulations. In three of them, the hydraulic lime was used as a unique binder, with
binder/aggregate volumetric ratio (B/Ag) 1:3. For the other three mortars, air lime was mixed
with hydraulic lime, keeping the same total binder/aggregate ratio (B1/B2/Ag) 1:1:6. Four
different types of binders were chosen: two kinds of NHL 5 hydraulic limes, a Hl 3,5 hydraulic
lime and a hydrated air lime. Several tests were performed to evaluated the most important
characteristics of the mortars, namely: compressive and flexural strength; adhesive strength;
dynamic modulus of elasticity; capillarity coefficient; water vapour permeance.
With the results obtained it is possible to verify the suitability of studied mortars for repair or
substitute the existing mortars of ancient buildings and for application as render in recent
buildings.
Key-words
Hydraulic lime
Mortars characterization
Substitution mortars
iii
ARGAMASSAS DE CAL HIDRÁULICA PARA REVESTIMENTOS DE PAREDES
ÍNDICE DO TEXTO
I Introdução .............................................................................................................................. 1
I.1 Enquadramento e justificação do tema ......................................................................... 1
I.2 Objectivos ...................................................................................................................... 2
I.3 Estrutura e organização do texto .................................................................................. 2
II Estado de Arte ........................................................................................................................ 4
II.1 Revestimentos de paredes ............................................................................................ 4
II.1.1 Introdução .................................................................................................................. 4
II.1.2 Requisitos gerais ....................................................................................................... 4
II.1.3 Constituição do revestimento .................................................................................. 12
II.1.3.1 Edifícios antigos............................................................................................... 12
II.1.3.2 Edifícios recentes ............................................................................................ 14
II.2 Argamassas de revestimento ...................................................................................... 15
II.2.1 Introdução ................................................................................................................ 15
II.2.2 Argamassas de revestimento para edifícios antigos ............................................... 16
II.2.2.1 Considerações gerais ...................................................................................... 16
II.2.2.2 Constituintes .................................................................................................... 16
II.2.2.3 Características ................................................................................................. 19
II.2.3 Argamassas de revestimento para edifícios recentes............................................. 20
II.2.3.1 Considerações gerais ...................................................................................... 20
II.2.3.2 Constituintes .................................................................................................... 21
II.2.3.3 Características ................................................................................................. 22
II.3 Argamassas de cal hidráulica...................................................................................... 23
II.3.1 Cal hidráulica ........................................................................................................... 23
II.3.1.1 Introdução ........................................................................................................ 23
II.3.1.2 Processo de formação ..................................................................................... 23
II.3.1.3 Tipos ................................................................................................................ 24
II.3.2 Características das argamassas de cal hidráulica .................................................. 25
II.3.3 Argamassas bastardas ............................................................................................ 27
II.3.3.1 Cal aérea ......................................................................................................... 27
II.3.3.2 Características ................................................................................................. 27
III Descrição do Programa Experimental e Métodos de Ensaio .............................................. 29
III.1 Descrição geral ............................................................................................................ 29
III.2 Caracterização da matéria-prima ................................................................................ 29
III.2.1 Análise granulométrica da areia .......................................................................... 29
III.2.2 Massa volúmica aparente .................................................................................... 30
III.3 Preparação das argamassas....................................................................................... 31
III.4 Ensaios em estado fresco ........................................................................................... 32
iv
III.4.1 Consistência por espalhamento .......................................................................... 32
III.4.2 Massa volúmica da argamassa em pasta ........................................................... 32
III.4.3 Retenção de água ............................................................................................... 33
III.4.4 Preparação dos provetes .................................................................................... 34
III.5 Ensaios no estado endurecido .................................................................................... 37
III.5.1 Ensaio de resistência à flexão e à compressão .................................................. 38
III.5.2 Massa volúmica aparente da argamassa endurecida. ........................................ 39
III.5.3 Módulo de elasticidade dinâmico ........................................................................ 39
III.5.4 Absorção de água por capilaridade ..................................................................... 40
III.5.5 Permeabilidade ao vapor de água....................................................................... 41
III.5.6 Susceptibilidade à fendilhação ............................................................................ 43
III.5.7 Aderência ao suporte .......................................................................................... 43
III.5.8 Envelhecimento acelerado .................................................................................. 44
IV Apresentação e Análise de resultados................................................................................. 46
IV.1 Considerações gerais .................................................................................................. 46
IV.2 Matérias-primas ........................................................................................................... 46
IV.2.1 Materiais utilizados .............................................................................................. 46
IV.2.1.1 Cal hidráulica ................................................................................................... 46
IV.2.1.2 Cal aérea ......................................................................................................... 46
IV.2.1.3 Areia ................................................................................................................ 46
IV.2.1.4 Água ................................................................................................................ 47
IV.2.2 Caracterização da matéria-prima ........................................................................ 47
IV.2.2.1 Análise granulométrica da areia ...................................................................... 47
IV.2.2.2 Massa volúmica aparente ................................................................................ 48
IV.3 Preparação das argamassas....................................................................................... 48
IV.3.1 Traço.................................................................................................................... 49
IV.4 Caracterização das argamassas no estado fresco ..................................................... 50
IV.4.1 Consistência por espalhamento .......................................................................... 50
IV.4.2 Massa volúmica da argamassa em pasta ........................................................... 50
IV.4.3 Retenção de água ............................................................................................... 51
IV.5 Preparação dos provetes ............................................................................................ 52
IV.6 Ensaios no estado endurecido .................................................................................... 52
IV.6.1 Massa volúmica ................................................................................................... 53
IV.6.2 Ensaio de resistência à flexão e à compressão .................................................. 54
IV.6.3 Módulo de elasticidade dinâmico ........................................................................ 56
IV.6.4 Absorção de água por capilaridade ..................................................................... 58
IV.6.5 Secagem .............................................................................................................. 63
IV.6.6 Permeabilidade ao vapor de água....................................................................... 64
IV.6.7 Susceptibilidade à fendilhação ............................................................................ 65
IV.6.8 Aderência ao suporte .......................................................................................... 65
v
IV.6.9 Envelhecimento ................................................................................................... 68
V desempenho das argamassas estudadas ........................................................................... 70
V.1 Considerações gerais .................................................................................................. 70
V.2 Análise por tipo de argamassa .................................................................................... 70
V.2.1 Argamassas de cal hidráulica, A, B e C. ................................................................. 70
V.2.2 Argamassas bastardas de cal hidráulica e cal aérea, D, E e F. ............................. 71
V.3 Evolução das características com a idade .................................................................. 71
V.4 Interacção entre as características das argamassas. ................................................. 74
V.5 Desempenho como argamassas de revestimento ...................................................... 77
V.5.1 Argamassas de substituição para edifícios antigos ................................................ 78
V.5.2 Argamassas para edifícios recentes ....................................................................... 79
V.6 Avaliação global .......................................................................................................... 80
VI Conclusão e desenvolvimentos futuros ............................................................................... 82
VI.1 Considerações finais ................................................................................................... 82
VI.2 Conclusões finais ........................................................................................................ 82
VI.3 Propostas para desenvolvimentos futuros .................................................................. 84
VII Bibliografia ............................................................................................................................ 85
Anexos……………………………………………………………….……………..…………….…...….…i
Anexo I – Análise granulométrica da areia………………………………………………..……..……..ii
Anexo II – Resultados individuais para cada tipo de argamassa ….………………….………..…..iii
vi
ÍNDICE DE FIGURAS
Fig. III-1 – Peneiros colocados no equipamento de vibração. .............................................................. 30
Fig. III-5 – Mesa de espalhamento com o cone cilíndrico e pilão de compactação. ............................ 32
Fig. III-9 – Colocação da primeira camada de argamassa no recipiente de massa volúmica aparente.
............................................................................................................................................................... 33
vii
Fig. III-30– Humedecimento das zonas em contacto com a argamassa. ............................................. 37
viii
Fig. IV-1 – Peneiração da areia. ............................................................................................................ 46
Fig. IV-5 – Representação gráfica da resistência à tracção e compressão das argamassas ao longo
do tempo. ............................................................................................................................................... 54
Fig. IV-6 – Relação Rt/Rc das argamassas nas várias idades. ............................................................ 55
Fig. IV-8 – Tensão de ruptura à compressão e à tracção com o módulo de elasticidade aos 28 dias de
idade. (esquerda) e aos 90 dias de idade (direita). ............................................................................... 58
Fig. IV-11 – Absorção de água por capilaridade dos provetes com cera e sem cera. ......................... 62
Fig. IV-17 – Tipologias de rotura observadas. Direita – rotura adesiva. Esquerda – rotura coesiva.... 67
Fig. IV-19 – Identificação e caracterização das patologias nos tijolos cerâmicos após o ensaio de
envelhecimento. .................................................................................................................................... 68
Fig. V-2 – Evolução da resistência à tracção com a idade (à esquerda). Evolução da resistência à
compressão com a idade (à direita). ..................................................................................................... 73
ix
Fig. V-6 – Relação entre a resistência à compressão e o módulo de elasticidade (esquerda). Relação
entre a resistência à tracção e módulo de elasticidade (direita). .......................................................... 75
Fig. V-8 – Relação do coeficiente de capilaridade com o valor da permeabilidade ao vapor de água,
na idade de 90 dias de idade. ............................................................................................................... 76
Fig. V-10 – Relação entre o coeficiente de capilaridade calculado com cera e sem cera. .................. 77
Fig. V-11 – Relação entre a resistência à compressão e a aderência (esquerda). Relação entre a
resistência à tracção e a aderência (esquerda). ................................................................................... 77
x
ÍNDICE DE QUADROS
xi
Lista de abreviaturas
Materiais
cH1 – cal hidráulica de origem portuguesa produzida pela Secil Martingança de classe NHL5
cH2 – cal hidráulica de origem português produzida pela Cimpor de classe NHL5
cH3 – cal hidráulica de origem francesa produzida pela Lafarge de classe HL3,5
ca – cal aérea de origem portuguesa produzida pela Lusical
ar – areia do Rio Tejo
ar1 – areia do Rio Tejo proveniente do lote 1
ar2 – areia do Rio Tejo proveniente do lote 2
Argamassas
xii
I. INTRODUÇÃO
Até ao aparecimento do cimento, as argamassas de revestimentos eram produzidas com cal, tanto
aérea como hidráulica. Com o aparecimento do novo ligante, com maior resistência e maior facilidade
de aplicação, o uso da cal tem caído em progressiva diminuição de uso, sendo nos nossos dias só
aplicada em casos pontuais de reabilitação. Contudo, as argamassas de cimento têm-se mostrado
demasiado rígidas para funcionarem como argamassas de substituição. Por isso, tal como em outros
países, procura-se incrementar o uso de cal (hidráulica e aérea) na formulação das argamassas de
substituição. Estes materiais possibilitam a obtenção de argamassas deformáveis e não muito fortes,
capazes de acompanhar as deformações do suporte, que usualmente é fraco, em edifícios antigos.
Em edifícios antigos, dado o seu valor histórico e estético, é aconselhável, sempre que possível, a
conservação dos revestimentos em vez da sua substituição. Contudo, nos casos de grande
degradação do revestimento, a solução mais plausível passa pela substituição total. A escolha da
argamassa de substituição deve ser cuidada de forma a se obter uma solução que incremente a
durabilidade do conjunto, e por outro lado, que seja compatível com o suporte pré-existente, não
contribuindo para a sua degradação. Uma das maneiras de assegurar esta compatibilidade é usar
uma argamassa semelhante à utilizada no revestimento a substituir, o que engloba a utilização do
mesmo material e das mesmas técnicas de aplicação. Como, apesar dos sofisticados métodos de
ensaio existentes hoje em dia, é difícil saber exactamente quais os materiais e técnicas de aplicação
utilizados anteriormente, não se conseguem obter argamassas com o mesmo comportamento. Na
impossibilidade de se obter uma argamassa igual, é aconselhável o uso de materiais compatíveis
com o suporte, como a cal.
Actualmente, tal como em outros países, procura-se incrementar o uso da cal, (hidráulica e aérea)
nos revestimentos de paredes. Em Portugal têm sido realizados vários estudos para determinar as
características e estudar as aplicabilidades das argamassas de cal aérea, como ligante único ou
misturadas com outro ligante em revestimentos de paredes. Nesses estudos é usual haver a
comparação ou aplicação de cal hidráulica. Mas, ao observar os resultados dos vários estudos,
constatou-se uma incoerência de resultados uma vez que nos diversos estudos foram utilizadas cais
hidráulicas diferentes. Ou seja, cada tipo de cal hidráulica forma uma argamassa com características
distintas de outra argamassa produzida com outro tipo de cal hidráulica, e produzida nas mesmas
condições. Por isso surgiu a necessidade de se averiguar o comportamento das várias cais
hidráulicas existentes no mercado nacional. Por outro lado, tendo presente a meta de incrementar o
uso da cal, procura-se averiguar se as argamassas de cal hidráulica são aptas para argamassas de
revestimento de edifícios antigos e recentes.
Este trabalho surge de uma parceria entre o Instituto Superior Técnico (IST) com o Laboratório
Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Na qual foi concebida a oportunidade a um aluno finalista da
referida faculdade em realizar o seu trabalho final de curso no LNEC.
1
I.2. Objectivos
Com a elaboração desta dissertação, baseada num trabalho laboratorial, pretende-se caracterizar
várias argamassas de cal hidráulica. Esta caracterização tem por base satisfazer três objectivos
principais:
O terceiro objectivo prende-se ao facto de se pretender aumentar o uso de cal, hidráulica e aérea, em
revestimentos de edifícios, evitando assim o uso generalizado do cimento, material com
inconvenientes devido à sua maior rigidez e tendência à fendilhação e ainda devido à desvantagem
ambiental decorrente do maior consumo de energia na produção. Por isso, procura-se averiguar se
as argamassas formuladas, com cal hidráulica como único ligante ou misturadas com cal aérea, são
compatíveis e adaptáveis a edifícios antigos e recentes. Para edifícios antigos, a análise é realizada
por comparação das características obtidas para as argamassas estudadas com os requisitos
estabelecidos em estudos anteriores, que têm em conta as propriedades da maioria das paredes de
alvenaria antiga existente em Portugal. Para edifícios recentes, a análise é realizada através da
comparação com requisitos estabelecidos por normas ou por trabalhos anteriormente realizados.
O texto da dissertação está organizado em seis capítulos, cujo conteúdo será apresentado nos
próximos parágrafos.
2
No capítulo II é realizada uma pesquisa bibliográfica e a sua análise de forma a adquirir um
conhecimento geral sobre o tema. É iniciado com uma análise sobre os revestimentos de paredes,
apontando as suas funções, constituição e requisitos de bom desempenho para edifícios antigos e
em edifícios recentes. Posteriormente, é realizada uma análise às argamassas de revestimento para
edifícios antigos e para edifícios recentes, referindo constituintes e características. A terminar, as
argamassas de cal hidráulica são caracterizadas com referência ao processo de formação, tipos de
cais existentes e características das argamassas de cal hidráulica, tanto como ligante único, como
misturadas com cal aérea.
Segue-se, no capítulo III, a apresentação do plano de ensaios, o qual tem por base a avaliação das
propriedades das diferentes argamassas estudadas. Nesta fase é definida toda a campanha
experimental, englobando os ensaios a realizar e respectivos procedimentos laboratoriais, atendendo
a normalização europeia e ensaios normalizados.
No capítulo V procura-se uma generalização dos resultados obtidos, tendo presente vários pontos de
análise: análise por tipo de argamassa; evolução das características das argamassas ao longo do
tempo; a interacção entre as características das argamassas; e o desempenho como argamassas de
revestimento, tanto para argamassas de substituição para edifícios antigos como argamassas para
edifícios recentes.
Por fim, o capítulo VI é a conclusão do trabalho, onde se faz uma síntese das conclusões retiradas ao
longo do trabalho e são apresentadas algumas propostas para o desenvolvimento de estudos futuros.
3
II. ESTADO DE ARTE
II.1.1 Introdução
Os revestimentos, para além de conferirem o aspecto estético do edifício, devem contribuir para a
protecção da parede perante os vários agentes de degradação: acção da água; acção directa dos
agentes climáticos; acção mecânica de choque; acção química da poluição e dos sais solúveis
contidos nos materiais, na água e no solo. Acumulam ainda a função de regularização das alvenarias
e de impermeabilização no caso de revestimentos exteriores. Por se encontrarem tão expostos, a
degradação dá-se com facilidade o que normalmente conduz à necessidade de obras de
conservação [43][54].
Em edifícios antigos, devido ao valor histórico e estético, é aconselhável, sempre que possível, a
conservação dos revestimentos em vez da sua substituição. Por vezes, o estado de degradação do
revestimento é muito elevado, implicando a renovação parcial/total do revestimento. Neste caso
limite, existem autores que defendem 2 maneiras de actuação [54].
4
Veiga [43] estabelece os requisitos mais significativos para alcançar um revestimento (tanto para
edifícios antigos como para edifícios recentes) com bom comportamento de modo a cumprir com as
funções que lhe são exigidas:
i) Aderência ao suporte;
v) Aspecto estético;
5
A capacidade de impermeabilização em zona não fendilhada corresponde à capacidade do reboco de
não permitir a permanência de água no suporte durante muito tempo de modo a impedir a
degradação do revestimento. Isto é conseguido através da conjugação de dois factores. Por um lado,
o revestimento deve resistir à penetração da água proveniente do exterior e por outro, deve eliminar a
água em excesso, assim que as condições atmosféricas sejam favoráveis. As argamassas são
materiais de porosidade aberta (porosidade aberta é constituída pelo volume total de poros que
comunicam entre si, formando uma rede continua de vazios [27]), nas quais a água pode penetrar
principalmente por permeabilidade ou capilaridade, em função da dimensão dos poros e dos capilares
e da pressão da água [42]. A água que penetra na argamassa pode ter várias origens, das quais se
destaca: água proveniente das chuvas; a água infiltrada através de fendas ou de zonas particulares,
como vãos e remates; água que entra na execução das alvenarias e rebocos e não é necessária à
hidratação do ligante; água transportada por ascensão capilar proveniente do terreno e por causas
acidentais [42].
À partida, a melhor combinação para obter uma boa capacidade de impermeabilização em zona não
fendilhada é a utilização de uma argamassa com valores de coeficiente de capilaridade e
permeabilidade á água baixos e uma elevada permeabilidade ao vapor de água. Normalmente, em
argamassas tradicionais estas propriedades são interdependentes, havendo a tendência a que uma
menor permeabilidade à água corresponda a uma menor permeabilidade ao vapor de água. A
permeabilidade ao vapor de água é influenciada por vários factores, dos quais se salienta o traço, tipo
de ligante e areia utilizada [42].
A fendilhação é muito usual, podendo ter várias origens, das quais se destacam: espessura
inadequada do revestimento; deficiente dosagem de ligante; excessiva capacidade de absorção do
suporte absorvendo a água de amassadura do revestimento levando à retracção; retracção do
revestimento quando os módulos de elasticidade são muito dispares; os ciclos gelo/degelo que
provocam um aumento de volume da água; evaporação da água de amassadura conduzindo a
fenómenos de retracção; ciclos de cristalização/dissolução de sais presentes no suporte, ou nos
materiais de constituição, ou transportados pela água das chuvas; concentração de tensões junto a
aberturas [20][24][29].
6
A poluição atmosférica provoca a acumulação de sujidade na fachada que pode ser significativa em
revestimentos muito lisos, nos quais não é favorecida a auto-lavagem. Ao chover vai haver
escorrimento que pode provocar marcas nos locais de escorrimento da água [42].
O último requisito, durabilidade face às acções externas, está relacionado com algumas anomalias
que possam afectar o revestimento, como exemplo: a fendilhação; a penetração de água por
capilaridade; as perdas de aderência; o esfarelamento provocado por dissecação prematura e o
ataque de sais [42]. A durabilidade da argamassa está correlacionada com a sua estrutura porosa. A
estrutura porosa condiciona a capacidade para transportar, reter e expulsar a água por evaporação e
o comportamento aos sais, ao gelo e a respectiva resistência mecânica. Por outro lado, a
durabilidade implica ainda resistência à colonização biológica, que por sua vez se relaciona com a
composição (os adjuvantes podem tornar as argamassas mais susceptíveis a este tipo de
degradação), mas também ao comportamento à água, uma vez que períodos longos de
humedecimento aumentam a probabilidade de fixação de fungos [50].
A compatibilidade mecânica entre o reboco e o suporte permite evitar grandes diferenças de rigidez,
prevenindo a deterioração do reboco. O revestimento ao ser aplicado introduz tensões resultantes da
retracção da argamassa e do impedimento do movimento pela própria geometria da parede. Essas
tensões, no caso de serem excessivas podem levar à degradação do suporte. Deste modo, é
aconselhável o uso de um revestimento com fraca retracção durante o processo de endurecimento e
com um módulo de elasticidade baixo de forma a acompanhar os movimentos do suporte, garantindo
a sua deformabilidade. Contudo, o módulo de elasticidade não deve ser demasiado baixo para evitar
que as deformações do suporte danifiquem o próprio revestimento [6][14][42].
7
A compatibilidade química está relacionada com o comportamento do reboco face aos sais. As
alvenarias antigas, normalmente, apresentam grande teor de sais solúveis, principalmente sulfatos. O
novo revestimento deve apresentar a capacidade de resistir aos sais que eventualmente estejam
presentes no suporte. Por outro lado, o novo revestimento deve ser isento de sais já que estes podem
ser transportados por dissolução para o interior do suporte por acção da água das chuvas. Ao ocorrer
uma diminuição da humidade existe uma propensão para os sais cristalizarem e consequentemente,
aumentarem de volume, contribuindo para a degradação gradual tanto da alvenaria, como do suporte
[6][42].
A compatibilidade física do reboco está relacionada com a sua capacidade de permitir trocas de
humidade entre a parede e o exterior e com o seu coeficiente de condutibilidade térmica. O
coeficiente de condutibilidade térmica deve ser idêntico ao do suporte evitando formação de tensões.
Quanto maior a diferença entre os módulos de elasticidade, maiores serão as tensões formadas. Por
outro lado, a permeabilidade ao vapor de água deve ser suficiente para garantir as trocas de
humidade entre a alvenaria e o ar exterior, permitindo a eliminação rápida da água por secagem,
evitando a acumulação desta no interior. A capacidade aderente também constitui um aspecto
relevante de modo a evitar destacamentos e a consequente infiltração de água. Contudo, a
capacidade aderente não deve ser em demasia para possibilitar uma eventual substituição sem
danificar o suporte [6][14][42].
Podem ser estabelecidos dois grupos de requisitos para as argamassas de substituição: requisitos
de desempenho e requisitos relacionados com a ética de conservação [54].
Os requisitos de desempenho estão ligados com o bom comportamento dos revestimentos e são os
seguintes [54]:
8
• Não contribuir para acelerar a degradação do suporte e das argamassas preexistentes
(aspectos mecânicos, físicos e químicos).
A partir dos requisitos apresentados para as argamassas de substituição para edifícios antigos, foram
estabelecidos princípios para a formulação de argamassas de substituição [41][43][47]:
ii) A aderência não deve ser por rotura adesiva pelo suporte;
iii) A tensão desenvolvida por retracção restringida deve ser inferior à resistência à tracção do
suporte;
9
Quadro II.1 – Requisitos estabelecidos para as características mecânicas das argamassas de
substituição (adaptação de [52])
No capítulo relativo à análise de resultados, os valores apresentados no quadro II.1 vão ser
comparados com os resultados obtidos para as argamassas estudadas de modo a analisar a
adequação das argamassas estudadas para argamassas de substituição.
Tal como nas argamassas de substituição para revestimentos de edifícios antigos, foram
estabelecidas características para as argamassas a usar em rebocos correntes para edifícios novos,
demonstradas no quadro II.2.
Quadro II.2 – Funções e exigências de rebocos correntes para edifícios novos e características das argamassas
a usar (adaptado de [44] e de [60]).
CS I: 0,4 a 2,5
Resistência à compressão Rc CS II: 1,5 a 5,0
Resistência mecânica Classes
(N/mm2) CS III: 3,5 a 7,5
CS IV:≥6
EN 998-1 w0: sem exigência
Coeficiente de capilaridade
Classes w1: C≤0,40
Impermeabilização C.C. (kg/m2.min1/2)
em zona não w2:C≤0,20
fendilhada
Permeabilidade à água sob
P ≤ 1 após 48 h
Impermeabilização e pressão P (ml/cm2)
protecção Módulo de elasticidade E
E≤10 000
(MPa)
Susceptibilidade à Retracção Preferencialmente moderada
fendilhação Resistência à tracção Preferencialmente elevada
Ensaio de retracção
Relatório do LNEC Susceptibilidade média ou fraca
restringida
427/05 - NCCt e
exigências
Permeabilidade ao Espessura da camada de ar complementares do Sd ≤ 0,15m
vapor de água de difusão equivalente Sd (m) LNEC
10
As exigências apresentadas no quadro II.2 são para o sistema reboco e não para cada camada. No
caso de revestimentos monocamada, as exigências são aplicadas à única camada do revestimento e
nas massas de reboco, a uma ou duas camadas, consoante o que for recomendado na ficha técnica
para o revestimento em causa [44]. Os valores apresentados no referido quadro vão ser comparados
com os resultados obtidos para as argamassas estudadas, no capítulo de análise de resultados, de
modo a averiguar se são adequadas para aplicação em edifícios novos.
Para além dos materiais constituintes, existem outros parâmetros que influenciam o comportamento,
a durabilidade e, em geral, a qualidade do revestimento, tais como: a trabalhabilidade da argamassa;
o traço; as condições de cura; as técnicas de preparação e aplicação.
11
Os traços utilizados nas argamassas de recuperação são formulados com o objectivo de obter a
máxima compacidade de maneira a que a cal adicionada preencha por completo os vazios dos grãos
de areia. Normalmente, a proporção 1:3 é a mais adequada [45]. A capilaridade é bastante sensível à
dosagem de ligante e à quantidade de água. Quanto maior a dosagem de ligante, menor é a
absorção capilar, por outro lado, quanto maior a dosagem de água, maior é a absorção capilar [8].
Para uma boa aplicação, a superfície do suporte deve ser contínua e homogénea, sem cavidades ou
buracos, limpa, sem a presença de sais, poeiras, óleos e gorduras que possam condicionar a adesão
do reboco ao não efectuar a correcta absorção de água por parte da parede. Após a preparação do
suporte, antes da aplicação de cada camada, é aconselhável pulverizar a superfície da parede 24
horas antes da aplicação do reboco, uma vez que se não existir água suficiente na parede, esta pode
absorver a água do reboco, provocando a dissecação deste, impedindo a hidratação dos
constituintes. Por outro lado, a existência de água em excesso, favorece o aparecimento de
eflorescências e manchas, através da libertação dessa água [14].
12
A aplicação de várias camadas num revestimento resulta da necessidade de construir um
revestimento com uma espessura suficiente para disfarçar e corrigir os eventuais defeitos e
imperfeições do suporte [42]. Para uma mesma espessura total de reboco, um maior número de
camadas mais finas assegura maior durabilidade e melhor capacidade de protecção [52]. No mínimo,
é aconselhável um revestimento de 2cm, com esta espessura é possível conferir verticalidade e
protecção às alvenarias [4].
A primeira camada, salpisco, acumula a função de assegurar uma boa aderência entre o
revestimento e o suporte com a função de reduzir e homogeneizar a absorção de água pelo suporte,
quando este é muito poroso [4][28][44]. Por estas razões deve possuir uma fraca absorção de água e
possuir um aspecto final rugoso de forma a facilitar a aderência da camada seguinte. A camada de
salpisco possui elevado teor de ligante para garantir a aderência ao suporte, conduzindo a uma forte
tendência para fissurar. Contudo, esta fissuração não é preocupante uma vez que esta camada não
apresenta a função de impermeabilização, mas sim a sua sucessora [4][28].
As camadas anteriores, com função de regularização e protecção, eram constituídas por argamassas
de cal e areia, e eventualmente com adições minerais e aditivos orgânicos. Normalmente, as
camadas internas têm granulometria mais grosseira que as externas, promovendo assim um
comportamento às deformações estruturais e à água [41].
13
A camada de acabamento confere o aspecto estético do revestimento, não deve por isso apresentar
a tendência a fissurar. A limitação da fissuração é assegurada pela utilização de uma granulometria
mais fina e por uma dosagem fraca de ligante. Para além da função estética, apresenta ainda a
função de impermeabilização uma vez que constitui a primeira barreira às condições climáticas,
permitindo a passagem do vapor de água proveniente do interior do revestimento. O uso de baixo
teor de ligante permite obter uma boa resistência à fendilhação e uma boa permeabilidade ao vapor
de água [4][28][44].
A camada de acabamento, nos revestimentos tradicionais de edifícios antigos, era formada por uma
massa fina de pasta de cal, ou de pasta de cal com pó de pedra. A coloração dos paramentos era
conseguida através da introdução de agregados com cor seleccionada, de terras ou de pigmentos
minerais na última camada de acabamento ou pela aplicação de posteriores camadas de pintura,
geralmente de cal aditivada com pigmentos e outras adições minerais [41].
Ao realizar um revestimento com várias camadas, o teor de ligante deverá diminuir à medida que se
aproxima da camada de acabamento de modo a que o revestimento seja mais poroso e deformável
do interior para o exterior, obedecendo à regra de degressividade do ligante [4][44][52].
Nos edifícios recentes, tal como nos edifícios antigos, é recomendada a execução de pelo menos três
camadas: salpisco, camada de base e camada de acabamento. Actualmente, em consequência do
elevado custo de mão-de-obra, dos prazos de execução curtos e do avanço da tecnologia e dos
materiais, usam-se cada vez mais produtos pré-doseados aplicados numa única camada (reboco
monocamada) ou em uma ou duas camadas seguidas de pintura (argamassa de reboco). A
constituição de uma argamassa para reboco monocamada é semelhante à argamassa para
revestimentos correntes, só que contem diversas adições e a sua formulação é mais elaborada. Esta
constituição possibilita, ao reboco monocamada, alcançar o nível de desempenho que os
revestimentos recentes alcançam em 3 ou mais camadas [44].
Nos rebocos correntes, como já foi referido, cada camada tem a sua função bem definida e por isso
cada camada tem características distintas. Nos rebocos monocamada e nas massas de reboco
aplicadas em camada única, os requisitos têm que ser cumpridos numa única camada. Essa camada
única é composta por uma única formulação. Isto conduz uma maior exigência a estas argamassas
pré-doseadas para que o reboco no seu conjunto tenha um comportamento, no mínimo, semelhante
ao reboco corrente [44].
14
Num reboco monocamada, as eventuais fendas formadas tendem a ser mais gravosas do que num
revestimento correntes. Normalmente, as fendas tendem a evoluir até atravessar toda a camada.
Quanto mais espessa for a camada, mais largas tendem a ser as fendas. Um reboco de
monocamada é caracterizado por uma elevada espessura o que conduz à abertura de fendas mais
largas. Fendas essas que atravessam toda a camada favorecendo a acção dos agentes de
degradação e a entrada de água até ao suporte, possibilitando a degradação. Assim, num
revestimento de monocamada torna-se difícil de garantir a capacidade de impermeabilização em
zona não fendilhada [44].
II.2.1 Introdução
A partir de produção familiar era produzida cal gorda. Esta cal era utilizada como ligante na
consolidação de alvenarias ou na realização de rebocos pintados com cores naturais. Ao longo dos
tempos, o processo da produção da cal aérea foi desenvolvido até aos nossos dias. Actualmente a
cal aérea tem produção fabril [1].
Mais tarde, Vicat (1786-1861) percebe que a cozedura de calcários siliciosos provoca a dissolução da
sílica dos ácidos e a sua combinação com a cal, conferindo à argamassa propriedades hidráulicas,
que lhe permitiam fazer presa debaixo de água [1]. Ele demonstrou que as cais hidráulicas tem
origem em calcários argilosos e que não era obrigatório que a argila estivesse na composição original
do calcário, uma vez que podia ser adicionada antes da cozedura [10]. Deste modo, começou a ser
produzida cal hidráulica artificial. O avanço da tecnologia, permite aos fornos alcançar maior
temperatura e a partir de então começou a ser produzido o cimento [1].
15
Tendo em vista a obtenção de um revestimento adequado para edifícios antigos e edifícios recentes,
com um bom comportamento e baixo custo, em vários países estão a desenvolver-se estudos que
possibilitaram o aparecimento da cal hidráulica, como ligante único ou misturada com cal aérea. Em
Portugal também se procura o aumento do uso deste material, tendo em consideração as exigências
e técnicas actualmente praticadas.
A realização de um reboco tradicional de boa qualidade implica algumas exigências de execução que
são incompatíveis com os prazos de execução e com os materiais e mão-de-obra existentes nos
estaleiros actuais. Para se obter um reboco tradicional com bom desempenho é aconselhável o
recurso a mão-de-obra qualificada e a realização de várias camadas de revestimento [28].
O modelo de funcionamento das paredes antigas é diferente do usado actualmente. Uma das
diferenças está relacionada com a protecção da humidade. Enquanto as paredes recentes são
concebidas para evitar a entrada de humidade através do uso de materiais impermeáveis e da
realização de cortes de capilaridade, as paredes antigas permitem a entrada da humidade por serem
constituídas por materiais mais porosos. Contudo, nestas últimas, a água que penetra com facilidade
no suporte é também retirada com facilidade devido à elevada permeabilidade ao vapor de água. O
invés se passa com as paredes actuais, a água que eventualmente entra, é dificilmente expulsa [52].
II.2.2.2 Constituintes
− Ligante
O ligante é um pó muito fino que ao ser amassado com água dá origem a uma pasta. Esta pasta
endurece pela ocorrência da reacção química entre esse pó e água e/ou ar [10]. O ligante assume a
função de aglutinador entre os vários constituintes, concedendo às argamassas coesão e resistência.
Os ligantes normalmente utilizados são: o cimento (utilizado em argamassas de revestimento e
assentamento); a cal aérea ou hidráulica (utilizada em argamassas de revestimento) e o gesso
(utilizado em argamassas de revestimento interior e decoração).
16
A cal aérea é produzida por cozedura de rochas calcárias puras (com percentagem de carbonato de
cálcio não inferior a 95%), sendo constituídas principalmente por óxido ou hidróxido de cálcio. A cal
aérea apresenta coloração branca, grande finura e confere às argamassas elevada plasticidade. As
argamassas de cal aérea só adquirem as capacidades mecânicas ao fim de muito tempo (por
carbonatação). Por isso, é usual serem aplicadas com cimento de modo a obterem alguma
resistência mecânica inicial. Não fazem presa debaixo de água por não terem propriedades
hidráulicas [4].
As cais vivas são cais aéreas constituídas essencialmente por óxido de cálcio e por óxido de
magnésio, consoante a rocha de origem é calcária ou dolomítica. A matéria-prima é extraída da
pedreira, seleccionada através do equipamento de britagem e crivagem e depois é transportada para
o forno. No forno, a uma temperatura entre os 800-900ºC ocorre a descarbonatação, sofrendo a
reacção (1):
As cais hidratadas são cais aéreas resultantes da extinção de cais vivas. Aparecem sob a forma de
pó seco, de pasta, ou de calda. A realização de argamassas bastardas com cal hidratada traz como
vantagem a obtenção de melhor trabalhabilidade, conferindo maior facilidade de manuseamento e
aplicação [26].
As cais hidráulicas naturais, tal como os cimentos, são ligantes hidráulicos. Estas cais são fabricadas
a partir de rochas calcárias argilosas a uma temperatura de cozedura de cerca de 1200ºC.
Posteriormente, a cal viva é extinta e reduzida a pó. O processo de formação e as características
deste material vão ser aprofundados no capítulo seguinte.
17
- Agregados
A granulometria da areia representa a distribuição das dimensões dos grãos, apresentando influência
na estrutura porosa e consequentemente no seu posterior comportamento [27]. Uma granulometria
desejável corresponde a apresentar maior percentagem de partículas de dimensão média, e uma
percentagem decrescente em ambos sentidos. A utilização de uma granulometria adequada contribui
para aumentar a resistência mecânica e a durabilidade das argamassas, permitindo ainda diminuir a
dosagem de ligante. É aconselhável uma granulometria contínua e bem equilibrada, de maneira a
que haja cerca de 15% de elementos finos [4]. A utilização de areias mais grossas permite a redução
da tendência à fendilhação, enquanto o uso de areias mais finas permite a redução da porosidade e
da absorção de água das argamassas. Relativamente à percentagem de vazios, quanto maior este
valor, maior é a quantidade de ligante e água necessária para a elaboração da argamassa e
consequentemente maior retracção da argamassa [6].
As areias podem conter argila. A utilização de areias argilosas conduz a uma maior trabalhabilidade e
a uma maior resistência mecânica causada pelos finos da argila. Contudo, a utilização de uma areia
com elevada quantidade de argila pode reduzir a ligação da areia à cal, levando à necessidade de se
adicionar mais água na argamassa, possibilitando a ocorrência de fenómenos de retracção.
− Adjuvantes
Os adjuvantes são todos os materiais ou substâncias que são introduzidos na argamassa durante a
amassadura, numa quantidade não superior a 10% da massa em ligante. Estas substâncias são
introduzidas com o objectivo de modificar as propriedades da argamassa, tanto no estado fresco
como no estado endurecido [4].
18
− Água de amassadura
II.2.2.3 Características
Para argamassas de substituição de edifícios antigos têm vindo a ser utilizados vários tipos de
argamassas das quais se destacam: i) argamassas de cimento; ii) argamassas de cal hidráulica
natural; iii) argamassas de cal hidráulica artificial; iv) argamassas de cal aérea e cimento; v)
argamassas de cal aérea [41].
As argamassas de cimento não são adequadas para a recuperação de alvenarias antigas devido a
várias características. Estas argamassas apresentam resistências mecânicas altas, provocando a
transmissão de tensões para o suporte, possibilitando a degradação do suporte [4]. Por outro lado, as
argamassas de cimento apresentam insuficiente permeabilidade ao vapor de água e apresentam
hidróxidos alcalinos que podem reagir com as soluções salinas que entram no revestimento por
capilaridade, levando ao aparecimento de sais solúveis [1][22]. Estas argamassas apresentam um
aspecto final muito diferente das argamassas antigas, como por exemplo, na textura da superfície e
no modo como reflectem a luz [41].
19
As argamassas de cal aérea, dentro das opções apresentadas, são as que apresentam a composição
mais próxima das argamassas antigas e por isso, as mais adequadas de assegurar uma
compatibilidade estética e funcional com os materiais pré-existentes. Contudo, apresentam algumas
limitações no que se refere à durabilidade, principalmente quando se encontram expostas à chuva e
ao gelo, apesar de haver algumas argamassas de cal aérea com centenas de anos que apresentam
resistência e coesão superiores a muitas argamassas actuais [40].
As argamassas bastardas de cal hidráulica e cal aérea são principalmente utilizadas em acções de
reabilitação de revestimentos antigos, por constituírem soluções fáceis de usar devido ao seu grau de
hidraulicidade e pela sua aparente compatibilidade com edifício antigos [21].
Veiga [40], ao estudar argamassas de cal hidráulica artificial, observa que estas são demasiado
rígidas, apresentando elevada tendência a fendilhar e não se considerando aptas para acções de
reabilitação. Contudo, estudos mais recentes demonstram [30][55] que a utilização de cal hidráulica
artificial permite obter soluções que contribuem para a durabilidade da solução de revestimento e que
em alguns casos, são mesmo compatíveis com o suporte. Não estando por isso, excluídas à partida
para acções de reabilitação, sendo necessário analisar cada caso individualmente.
Um sistema monocamada tem a aplicação numa só camada, aplicada directamente na alvenaria, que
desempenha em simultâneo a função técnica e estética.
20
II.2.3.2 Constituintes
− Ligante
O ligante utilizado nos rebocos de monocamada é de natureza idêntica ao utilizado nos revestimentos
tradicionais. Contudo a sua escolha é mais restrita porque a maioria dos revestimentos monocamada
asseguram o aspecto estético final e por isso devem ser realizados com ligantes e areias cujos
elementos finos são de cor branca [28].
− Agregados
Os agregados, tal como os ligantes, devem ser seleccionados de um modo criterioso. Ao contrário
dos revestimentos tradicionais, a granulometria não precisa de ser necessariamente contínua uma
vez que as características podem ser conferidas ou modificadas pela introdução de cargas ligeiras ou
de adjuvantes. Em alguns casos, pode-se recorrer a uma granulometria descontínua para
enfraquecer as resistências mecânicas, principalmente para produtos que vão ser aplicados sobre
suportes de baixas resistências [28].
− Adjuvantes
Existem vários adjuvantes que adicionados aos revestimentos monocamada vão modificar as suas
propriedades [28].
Os retentores de água diminuem a quantidade de água que é absorvida pelo suporte, evitando uma
dessecação demasiado rápida da argamassa de reboco ao longo da presa.
21
− Cargas ligeiras
A introdução de cargas ligeiras possibilita a melhoria das condições de aplicação por haver uma
diminuição da densidade da argamassa e por outro lado conduz a uma diminuição do módulo de
elasticidade, que permite a realização de rebocos deformáveis. Contudo, a incorporação de cargas
leves, não implica a supressão do risco de fendilhação, uma vez que a retracção que ocorre na
argamassa durante a presa é, normalmente, mais elevada [28].
As cargas ligeiras podem ser de diversos tipos e natureza: vermiculite que é uma rocha micácea que
contêm silicatos de alumínio, de ferro e de magnésio; perlite que é uma rocha vulcânica siliciosa da
família dos riolitos perlíticos; a pedra-pomes é uma rocha de origem vulcânica; granulados de
poliestireno expandido [28].
II.2.3.3 Características
Alguns rebocos monocamada, principalmente aos quais não são incorporados cargas leves, têm
características próximas das dos rebocos tradicionais à base de cimento ou bastardos. Ao invés, os
rebocos monocamada que incorporam cargas ligeiras apresentam características bastantes
diferentes das dos rebocos tradicionais [28].
Os rebocos monocamada são aplicados por projecção, o que possibilita uma melhoria da
aplicabilidade e do rendimento. Como desvantagem apresenta um custo inicial do material bastante
superior aos tradicionais, a exigência de mão-de-obra treinada e a necessidade de um planeamento
de obra e de alvenarias bem desempenadas [42]. Por outro lado, o aspecto final pode ser
influenciado pelas condicionantes atmosféricas. Como vantagens apresentam baixo módulo de
elasticidade o que permite absorver os movimentos do suporte e por outro lado mantém as suas
propriedades ao longo do tempo com custos baixos de conservação e manutenção dos edifícios.
Existem também revestimentos pré-doseados que são formulados com o objectivo de proporcionar
um complemento de isolamento térmico à envolvente. Para isso, a camada destinada a conferir
isolamento térmico tem na sua constituição grande quantidade de cargas leves, geralmente
granulado de poliestireno expandido. São revestimentos aplicados em três camadas, em que o
produto para cada camada é comercializado individualmente. Estes revestimentos são muito
susceptíveis à fendilhação, devido à reduzida resistência mecânica inicial. Por outro lado, os
revestimentos de complemento de isolamento térmico apresentam um desempenho térmico limitado,
sendo proporcional à espessura, não atingindo nunca os valores de resistência térmica dos sistemas
de isolamento térmico pelo exterior providos de uma camada contínua de isolante [42].
22
II.3. Argamassas de cal hidráulica
II.3.1.1 Introdução
Segundo a NP EN 459-1, as cais hidráulicas são constituídas essencialmente por hidróxido, silicatos
e aluminatos de cálcio e são produzidas pela cozedura de rocha calcária argilosa e/ou pela mistura
de materiais apropriados. Apresentam a propriedade de fazer presa e endurecer debaixo de água,
apesar de o dióxido de carbono da atmosfera contribuir para o endurecimento [70].
A cal hidráulica natural é obtida a partir da cozedura de calcários que apresentam uma determinada
quantidade de impurezas argilosas. Alguns autores [10] defendem que essa percentagem varia entre
5-20 %, enquanto outros autores defendem um intervalo mais restrito 6,5-20% [18]. A cal hidráulica
artificial é obtida através da cozedura de pedra calcária, à qual é adicionada argila ou marga até
conferir a percentagem de argila pretendida [4].
Até aos 105-110ºC ocorre a evaporação da água de embebição da pedreira, até aos 500 ºC a 700ºC
dá-se a desidratação das margas, havendo a decomposição da argila; a silica (SiO2) e a alumina
(Al2O3) combinam-se com o óxido de cálcio (CaO), entre os 850ºC a 1100ºC, dando origem aos
silicatos bicálcicos (SiO2.2CaO) (3) e aos aluminatos tricálcicos (Al2O3.3CaO) (4), até aos 1500ºC que
corresponde à temperatura máxima de cozedura das cais hidráulicas naturais, uma vez que a
sinterização ocorre a temperaturas superiores [33].
A partir dos 850ºC, através da calcinação do carbonato de cálcio (CaCO3), obtém-se o dióxido de
carbono (CO2) e o óxido de cálcio (CaO). A cozedura de substâncias calcárias e argilosas, em
proporções definidas, até à ustulação (sem que ocorra formação da fase liquida) origina uma
estrutura compacta, normalmente designada por pedra cozida (5) (à saída dos fornos) [33].
A cal retirada do forno deve ser extinta para eliminar a cal viva e para provocar a pulverização de toda
a cal hidráulica. O processo de extinção é feito com adição de água, a qual deve ser apenas a
necessária para hidratar a cal viva, o seu excesso provoca a hidratação dos silicatos e aluminatos. A
hidratação da cal viva conduz a um aumento de volume provocando a pulverização dos grãos com
silicatos e aluminatos. Após a extinção é necessário separar os constituintes incozidos e
sobrecozidos. Os grãos maiores são separados, moídos e adicionados à cal, conduzindo a um
aumento de hidraulicidade. Assim, a cal hidráulica resulta da conjugação do pó de moagem, com o pò
de silicatos e aluminatos de cálcio e hidróxido de cálcio [10][29].
23
A presa da cal hidráulica natural ocorre em duas fases, a primeira hidráulica e a segunda aérea. Na
primeira ocorre a hidratação dos aluminatos tricálcicos e silicatos bicálcicos. Na segunda, o dióxido
de carbono atmosférico reage com o hidróxido de cálcio [33].
A fase hidráulica consiste nas reacções químicas dos silicatos bicálcicos (C2S) com a água, que se
transformam em silicatos de cálcio hidratados. O alumino-silicato bicálcico (C2AS) é formado a
temperaturas inferiores a 1200ºC. Nas cais naturais está presente uma certa quantidade de cal livre,
na forma de óxido de cálcio (CaO), que se transforma em hidróxido de cálcio [Ca(OH)2] por extinção
com água. A hidratação dos silicatos e aluminatos possibilita a presa da argamassa e por
consequência o seu ganho de consistência [1][10][29].
A carbonatação é o processo pelo qual ocorre a transformação do Ca(OH)2 em CaCO3. Esta reacção
vai provocar a variação da microestrutura das argamassas provocando um decréscimo da sua
porosidade, alterando ainda algumas propriedades relacionadas com a microestrura, assim como a
permeabilidade, a difusão de gases e a capilaridade. Com a carbonatação, a porosidade diminui,
principalmente nas argamassas com baixa relação água/ligante (0,9), uma vez que estas apresentam
como proposição inicial menor porosidade e maior quantidade de Ca(OH)2 para carbonatar num
mesmo volume. A porosidade e a estrutura porosa modificam-se durante a carbonatação, a
porosidade diminui cerca de 10% e os poros tornam-se mais pequenos, na mesma proporção que o
Ca(OH)2 se transforma em CaCO3. Com a carbonatação, a área específica das argamassas de cal
diminui por haver uma diminuição da porosidade menor [1].
II.3.1.3 Tipos
A cal hidráulica pode ser classificada com base na matéria-prima que lhe deu origem, em função do
índice de hidraulicidade. Este índice dá uma indicação do grau de hidraulicidade da cal, que por sua
vez dá indicação do tempo de presa. Esta classificação pode ser vista no quadro seguinte, quadro
II.3.
Pela norma, NP EN 459-1, a cal hidráulica pode ser classificada em função da sua classe de
resistência, tal como pode ser visto no seguinte quadro II.4.
24
Quadro II.4 – Classificação da cal hidráulica segundo a resistência à compressão [70].
Por cal hidráulica natural (NHL) entende-se a cal hidráulica produzida a partir de rocha calcária mais
ou menos argilosa ou siliciosa por cozedura a uma temperatura inferior a 1250ºC, extinta e reduzida a
pó, com ou sem moagem. No caso de se adicionar até 20% em massa de materiais pozolânicos ou
hidráulicos, a cal hidráulica é denominada por NHL – Z [70].
As várias cais existentes no mercado apresentam características distintas causadas pela calcinação
de diferentes proporções de calcário e argila, com diferentes temperaturas de cozedura e diferentes
tratamentos. Por esse motivo surge a necessidade de identificar cada tipo de cal hidráulica utilizada e
estudar cada caso separadamente, de maneira a compreender os diferentes factores envolvidos [55].
A retenção de água assume um valor elevado, mesmo quando o suporte é muito absorvente. Isto
quer dizer que a perda de água durante a presa é muito lenta, possibilitando a hidratação do ligante
[15]. O elevado valor de retenção de água associado às suas características viscosas e plásticas,
evita a segregação da argamassa, possibilitando a obtenção de superfícies sem macro fendas uma
vez que são suficientemente elásticas, com capacidade de suportarem pequenos movimentos do
suporte [4].
Lanas [18] apresenta um estudo que demonstra a evolução da resistência com o tempo de cura e a
dosagem de ligante, utilizando cais hidráulicas NHL5 de classe HL5. As argamassas mais fortes em
ligante (traço 1:1 e 1:2), nas idades mais jovens (até aos 28 dias de idade) alcançam cerca de 50%
do seu valor máximo de resistência, enquanto nas argamassas mais fracas (traço 1:3, 1:4 e 1:5) esse
valor varia entre 85-90%. Nesse estudo não se verifica nenhum incremento de resistência no último
período de cura (165-360dias). Nas idades mais jovens a argamassa perde a água em excesso, com
a excepção da argamassa muito forte em ligante 1:1. Essa argamassa precisa de mais água para
hidratar o ligante e ganhar trabalhabilidade, perdendo a água em excesso apenas a partir dos 90 dias
de idade [18].
25
Nas argamassas de cal hidráulica, por serem bastante porosas, a velocidade de absorção de água
nos instantes iniciais é bastante elevada, conduzindo a um coeficiente de capilaridade alto [49].
Normalmente observa-se uma melhoria desta característica ao longo da idade, tanto a nível de
velocidade com que se dá a absorção inicial, como relativamente à quantidade total de água
absorvida por capilaridade [15].
O calor de hidratação é baixo, libertando-se lentamente, fazendo com que a evaporação da água seja
lenta, limitando assim, as retracções iniciais. As retracções que se registam são moderadas [15].
26
Ao estudar uma argamassa de cal hidráulica branca com areia de rio num traço volumétrico 1:3,
Rodrigues [30] observa que: a composição apresenta um baixo coeficiente de capilaridade,
dificultando a entrada de água até ao suporte; o módulo de elasticidade é muito alto indiciando uma
não compatibilidade mecânica com suportes fracos; o valor da condutividade é elevado, indicando a
presença de sais solúveis, que pode possibilitar a degradação da parede pré-existente. A análise
destes resultados permitiu concluir que a argamassa de cal hidráulica não apresenta um bom
comportamento na protecção das paredes de alvenaria antiga, mas apresenta um bom
comportamento para prevenir a degradação do revestimento.
Pela norma NP EN 459-1 [70], cal aérea é constituída fundamentalmente por óxidos ou hidróxidos de
cálcio que, amassado com água, endurecem lentamente ao ar por reacção com o dióxido de carbono
da atmosfera. Não apresenta propriedades hidráulicas, não realizando presa debaixo de água[70].
A cal aérea pode aparecer sob duas formas: cal hidratada em pó ou cal em pasta. A primeira é a mais
utilizada devido à semelhança de aplicação com os outros ligantes e pela facilidade de
armazenamento. A cal em pasta tem um uso mais limitado provocado pela falta de experiencia dos
trabalhadores em lidar com constituintes em pasta [6]. Relativamente ao comportamento, Margalha
[22] após aplicações em obra de argamassas e ensaios laboratoriais de cal em pasta e de cal em pó
verificam que não existe uma diferença significativa de comportamento, apesar de alguns factores
dificultarem a comparação de resultados, como o teor real de hidróxido de cálcio e a quantidade de
água.
II.3.3.2 Características
Faria [12], ao analisar a influência do tipo de ligante e agregado nas argamassas correntes para
aplicação em reabilitação de edifícios, estudou várias argamassas, das quais: uma argamassa de cal
hidráulica no traço volumétrico 1:4 e uma argamassa bastarda de cal hidráulica e cal aérea hidratada
no traço volumétrico 1:1:6. Ao efectuar vários ensaios verificou que a introdução de cal aérea numa
argamassa de cal hidráulica, em comparação à argamassa de cal hidráulica, provoca: aumento da
relação água ligante; diminuição do coeficiente de capilaridade; aumento da retenção de água.
27
Magalhães [21] no estudo de argamassas de cal aérea e cal hidráulica com areia de rio e areia
amarela de Corroios no traço volumétrico de 1:1: (3+3), conclui que esta argamassa bastarda é
adequada para reabilitação de edifícios antigos. Esta conclusão é retirada devido aos vários
resultados obtidos laboratorialmente, nomeadamente: o módulo de elasticidade dinâmico é baixo,
mostrando que a argamassa é deformável; as resistências de compressão e flexão assumem valores
baixos, mas dentro dos limites recomendados, mostrando que as argamassas podem ser aplicadas,
tanto em rebocos exteriores como interiores; a tensão de aderência é elevada e com uma rotura
predominantemente no seio da argamassa; o coeficiente de capilaridade é alto, conjugado com uma
boa permeabilidade ao vapor de água, ou seja, a água penetra com facilidade no revestimento mas é
rapidamente retirada por secagem, assim que as condições atmosféricas sejam favoráveis; no ensaio
de envelhecimento artificial acelerado não ocorreu descolagem ou queda do material nem se verificou
degradação da aderência do suporte. O aspecto menos favorável foi apresentar forças desenvolvidas
por retracção restringida ligeiramente elevadas.
Gaspar [14] refere que quanto maior a quantidade de cal aérea na argamassa, menor é a aderência,
devido à sua grande contracção.
28
III. DESCRIÇÃO DO PROGRAMA EXPERIMENTAL E MÉTODOS DE ENSAIO
No presente trabalho experimental vão ser formuladas seis argamassas distintas. Três apresentam
traço volumétrico de 1:3 (cal hidráulica: areia), e nas outras três mantém-se um traço volumétrico
ligante: areia de 1:3, mas faz-se a conjugação com cal aérea com um traço de 1:1:6 (cal hidráulica:
cal aérea: areia).
A caracterização dos constituintes das argamassas é efectuada através dos ensaios de massa
volúmica aparente e da análise granulométrica, no caso da areia.
Para além de caracterizarem os constituintes, estes ensaios têm outras funções. A massa volúmica
aparente é utilizada para converter o traço volumétrico, correntemente utilizado em obra, para uma
relação de massas, essencial a uma dosagem rigorosa em laboratório. A análise granulométrica é
utilizada para compreender o comportamento de cada constituinte na argamassa e a respectiva
influência na estrutura porosa da argamassa.
A análise granulométrica dos agregados é realizada segundo a EN 1015-1 [58], na qual são definidos
dois métodos consoante a natureza do material, em pó ou agregados. No presente trabalho só vai ser
realizada a análise granulométrica da areia, por constituir um parâmetro de grande variância e
influencia no comportamento das argamassas.
29
A amostra é preparada segundo a norma europeia EN 1015-2 [59] e deverá estar bem seca, no caso
de não estar, é introduzida na estufa ventilada. A areia é colocada durante 48 h à temperatura de
105ºC ± 5ºC. Da amostra seca são retiradas duas tomas que são ensaiadas à temperatura ambiente.
A análise granulométrica da areia é efectuada através do método de vibração de peneiros, com uma
toma de 1 kg (mtotal). Os peneiros são encaixados uns nos outros, com um progressivo aumento da
abertura da malha, de maneira a que o peneiro de baixo tenha malha com abertura inferior ao que se
encontra por cima. A amostra é introduzida no peneiro de maior malha e coloca-se o conjunto de
peneiros em vibração horizontal durante 5 minutos. Os constituintes vão descendo por gravidade
ficando retidos num recipiente disposto a cada uma das diferentes granulometrias. Os peneiros são
retirados individualmente e são peneirados manualmente até não se verificar passagem de grãos
durante, pelo menos um minuto, procedendo-se posteriormente á sua pesagem (mpeneiro).
A percentagem retida em cada peneiro (R) corresponde ao quociente entre a massa obtida em cada
peneiro (mpeneiro) pela massa total de amostra (mtotal). O procedimento é repetido para a segunda
toma. Com a percentagem de material retido em cada peneiro, é possível desenhar a curva
granulométrica do agregado.
A massa volúmica aparente de um material é obtida com base na NP-955 [71]. As amostras de cal
deverão ser colocadas na estufa a uma temperatura de 60ºC ± 5ºC durante 24 horas. A areia, tal
como no ensaio anterior, é colocada durante 48 h à temperatura de 105ºC ± 5ºC. Na altura do ensaio,
os constituintes devem se encontrar secos e à temperatura ambiente. O ensaio é efectuado com
recurso a dois recipientes, um cónico colocado na parte superior do suporte e outro cilíndrico de
massa (m0) e volume (V) conhecido, colocado por debaixo do anterior. A amostra seca é colocada,
com o auxílio da colher de pedreiro, no recipiente cónico com a parte inferior fechada e sem
compactar. No fim de estar cheio abre-se a parte inferior, o constituinte vai descendo por gravidade
para o recipiente cilíndrico colocado abaixo do recipiente cónico. Com o auxílio da espátula a
superfície é alisada pelo contorno do recipiente. O exterior do recipiente é limpo e determina-se a sua
massa (m1).
30
Fig. III-2 – Material usado no ensaio da massa Fig. III-3 – Determinação da massa volúmica
volúmica aparente aparente da areia.
As argamassas são realizadas de acordo com a norma europeia EN 1015-2 [59], com excepção dos
tempos de amassadura. No recipiente são introduzidos os constituintes sólidos nas quantidades
previamente determinadas de acordo com o traço pretendido. O recipiente é colocado na misturadora
e esta é ligada na velocidade mais lenta. Adiciona-se a água nos primeiros 15 segundos, e desliga-se
a misturadora passado 150 segundos desde o início. Segundo a norma o processo cessa por aqui,
mas para obter maior homogeneidade, o recipiente é retirado e mexe-se a pasta manualmente com
recurso a uma colher de pedreiro, raspando no fundo para juntar os constituintes ai acumulados.
Coloca-se novamente o recipiente na misturadora por mais 30 segundos. Estas alterações são
devidas ao facto de que a cal é constituída por partículas muito finas e precisa de mais tempo para
obter uma boa ligação entre os constituintes.
31
III.4. Ensaios em estado fresco
Os ensaios utilizados para caracterizar a argamassa no estado fresco foram: a consistência por
espalhamento, a massa volúmica da argamassa em pasta e a retenção de água.
O ensaio é elaborado com base na EN 1015-3 [61]. Após a amassadura da argamassa, são
introduzidas no molde tronco-cónico, previamente centrado no disco, com ajuda de uma colher de
pedreiro, duas camadas de argamassa compactadas individualmente com 10 pancadas do pilão. A
parte de cima do molde é retirada e com a colher de pedreiro remove-se a argamassa excedente.
Findos 15 segundos, o molde é retirado lentamente na vertical, normalmente a argamassa espalha-se
no disco por gravidade e por rotação manual do manípulo empregam-se 15 pancadas com frequência
constante de uma pancada por segundo. Com a utilização da craveira, mede-se o diâmetro da pasta
em milímetros em duas direcções perpendiculares. O espalhamento é obtido a partir da média das
duas direcções. O ensaio é realizado em todas as amassaduras como garantia de uniformidade.
A massa volúmica da argamassa em pasta é obtida com base na EN 1015-6 [62]. No molde metálico
cilíndrico com capacidade de um litro, previamente tarado, é colocado até meia altura argamassa que
é compactada com 10 pequenas pancadas efectuadas a partir da oscilação do recipiente em lados
alternados. O recipiente é cheio com argamassa e dá-se nova compactação, após a qual se retira a
argamassa excedente ao nível da aresta superior do recipiente com uma espátula e pesa-se o
recipiente cheio. A massa volúmica corresponde ao quociente da massa de argamassa contida no
recipiente pelo volume do recipiente.
32
Fig. III-8 – Pesagem do recipiente usado na massa Fig. III-9 – Colocação da primeira camada de
volúmica aparente. argamassa no recipiente de massa volúmica
aparente.
Fig. III-10 – Compactação da argamassa no ensaio Fig. III-11 – Alisamento da superfície com colher de
de massa volúmica aparente. pedreiro.
O ensaio é realizado segundo a EN 1015-8 [63]. No molde previamente pesado (m1) é introduzida
argamassa com a ponta de uma espátula em 10 incrementos, o mais rápida e uniformemente
possível. Com recurso a uma espátula, a superfície é alisada pelo bordo do recipiente e pesa-se o
conjunto (m3). De seguida é colocada uma gaze por cima da argamassa e uma folha de papel de filtro
com 2 mm previamente pesado (m2). Inverte-se o recipiente para cima de uma superfície não
absorvente, por exemplo vidro, e é colocado um peso com cerca de 2 kg por cima do conjunto.
Passados 5 minutos, o peso é retirado, o conjunto é invertido e o papel de filtro é retirado e pesado
(m4). O procedimento é repetido com 3 tomas de argamassa.
Fig. III-12 – Material necessário ao ensaio de Fig. III-13 – Conjunto invertido sobre a superfície
retenção de água. não absorvente.
33
A quantidade total de água na amostra (W1) é dada pela seguinte fórmula:
com,
mágua – massa de água adicionada na argamassa [g];
margamassa – massa de argamassa total [g].
A quantidade de água contida na argamassa dentro do molde (W 2) é determinada pela seguinte
expressão:
com,
m5 – quantidade de argamassa dentro do molde (m5 = m3 - m1) [g]
A quantidade de água absorvida resulta da água absorvida pelo papel de filtro (W 3), segundo a
expressão:
W3 = m 4 − m 2 [g] (9)
com,
m2 – massa do papel de filtro antes de ser utilizado [g];
m4 – massa do papel de filtro após a inversão do sistema [g].
No caso de a quantidade de água absorvida exceder os 10g, o procedimento é repetido com a
utilização de 2 papéis de filtro.
W3
W4 = x100% [%] (10)
W2
Por último, é possível determinar a retenção de água pela expressão:
Após a caracterização das argamassas no estado fresco é necessário preparar os moldes para a
realização dos ensaios no estado endurecido. Tendo por base os ensaios a realizar, vão ser
moldados três tipos de provetes, prismáticos, circulares e tijolos. Os provetes prismáticos são
utilizados na determinação da massa volúmica no estado endurecido, no ensaio de resistência á
compressão e flexão, no ensaio de capilaridade e na determinação do módulo de elasticidade
dinâmico. Os provetes circulares são utilizados no ensaio de permeabilidade ao vapor de água. Os
tijolos são utilizados no ensaio de aderência, observação da fendilhação e envelhecimento acelerado.
34
pancadas uniformemente distribuídas. Como os provetes devem ser bem compactados para não
apresentarem vazios, para além da compactação referida na norma são dadas mais quatro pancadas
elevando individualmente cada lado do molde. Utilizando uma talocha, a superfície é alisada,
retirando o excesso de argamassa presente.
Fig. III-17 – Compactação da Fig. III-18 – Alisamento da Fig. III-19 – Molde prismático
argamassa utilizando o molde superfície do molde prismático moldado.
prismático. com a talocha.
Os moldes são colocados em sacos de polietileno e introduzidos numa sala condicionada com 20 ºC
± 2 ºC. Ficam assim em ambiente com humidade relativa de 95 % ± 5 %. O tempo de desmoldagem
depende da argamassa, os provetes de cal hidráulica (A, B e C) são desmoldados aos 2 dias de
idade, enquanto os provetes com cal hidráulica e cal aérea (D, E e F) são desmoldados aos 3 dias de
idade. Após a desmoldagem são mantidos nos sacos de plástico até perfazerem 7 dias de idade. A
essa idade são retirados do saco de polietileno, ficando na sala com a mesma temperatura, só que
com uma humidade relativa de 65 % ± 5 %, onde permanecem até à data de ensaio.
Fig. III-20 – Moldes prismáticos Fig. III-21– Desmoldagem dos Fig. III-22 – Provetes
no interior dos sacos de provetes prismáticos. desmoldados dentro dos sacos
polietileno. de polietileno.
35
Os moldes circulares utilizados apresentam uma espessura de 20 mm e um raio de 95 mm, medidas
essas, adequadas para fixar os provetes nas cápsulas de ensaio disponíveis.
Os moldes encontram-se limpos, lubrificados e prontos a usar. Com utilização de uma colher de
pedreiro, a argamassa é introduzida no molde e compactada ao mesmo tempo até o molde estar
preenchido. De forma a garantir a compactação uniforme são dadas mais quatro pancadas elevando
individualmente cada um dos lados do molde. Seguidamente a superfície é alisada pelo bordo do
molde com a talocha. Os provetes são sujeitos a uma cura seca, na qual a temperatura é de 23°C ±
2°C e humidade relativa de 50 ± 5%.
O tempo de desmolde é o mesmo do que para os provetes prismáticos, 2 dias de idade para as
argamassas A, B e C e 3 dias de idade para as argamassas D, E e F.
Fig. III-23 – Molde circular. Fig. III-24 – Introdução e Fig. III-25 – Alisamento da
compactação da argamassa no superfície do molde circular com a
molde circular. talocha.
Fig. III-26 – Molde circular Fig. III-27 – Desmoldagem de Fig. III-28 – Provetes circulares
preparado. um provete circular. na sala de cura após
desmoldagem
Após a desmoldagem, os moldes, tanto prismáticos como circulares, devem ser limpos de qualquer
resíduo de argamassa, utilizando para tal uma espátula e um pano. De seguida, são pincelados com
óleo mineral e armazenados até próxima moldagem, evitando a sua corrosão.
Na moldagem dos tijolos, a escolha recaiu em tijolos de 11 cm, uma vez que é o tijolo usualmente
utilizado na construção.
36
molde, introduz-se a argamassa em estado fresco com uma colher de pedreiro, perfazendo uma
altura de 2 cm, alisando a parte superior com uma ripa de madeira. Para cada argamassa são
moldados três tijolos que são sujeitos a cura húmida, semelhante aos provetes prismáticos.
Fig. III-32 – Alisamento da Fig. III-33 – Tijolo moldado. Fig. III-34 – Tijolos
superficie com uma ripa de condicionados com sacos de
Madeira. plástico.
Os ensaios para caracterizar a argamassa no estado endurecido são: massa volúmica; resistência á
compressão e flexão; módulo de elasticidade dinâmico; absorção de água por capilaridade e
secagem; a permeabilidade ao vapor de água; ensaio à fendilhação, ensaio de aderência ao suporte
e envelhecimento acelerado.
O ensaio de massa volúmica no estado endurecido é efectuado para verificar a influência dos
constituintes e as suas quantidades na massa volúmica das argamassas no estado endurecido. A
determinação da resistência á compressão e flexão aparece como uma medida de durabilidade, mas
também fornece indicações sobre o risco de introdução de tensões no suporte. O módulo de
elasticidade surge como um indicador da capacidade de absorção de tensões, portanto da resistência
à fendilhação, e ainda de compatibilidade com o suporte em termos de deformabilidade. A aderência
representa a união e a compatibilidade ao suporte. O conhecimento da capilaridade e permeabilidade
ao vapor de água facilita saber se o reboco protege a parede em relação às infiltrações de água e se
permite a fácil evaporação da água e secagem da parede. A fendilhação fornece uma indicação da
distribuição das tensões existentes, constituindo um indicador de durabilidade e estética. O
37
envelhecimento acelerado permite conhecer o comportamento da argamassa perante os vários
agentes de degradação.
Ambos os ensaios são realizados segundo a Norma Europeia EN 1015-11 [65]. Inicialmente os
provetes são pesados e medidos.
No ensaio de resistência à flexão, o provete é colocado com uma das faces de moldagem sobre os
rolos de suporte que, tal como todos os acessórios da máquina devem estar limpos. Os dados do
provetes são introduzidos no programa de cálculo. A carga é aplicada sem choque a uma velocidade
de 50N/s com o propósito de a rotura ocorrer entre 30 a 90 segundos, se tal não acontecer, é
necessário alterar a velocidade para um valor pertencente ao intervalo 10 a 50N/s até que a rotura se
dê naquele espaço de tempo.
Fig. III-36 – Acessório utilizado no ensaio de flexão. Fig. III-37 – Ensaio de flexão de um prisma.
No ensaio de resistência à compressão são utilizadas as metades dos moldes resultantes dos
ensaios de flexão. Os provetes são colocados com uma das faces de moldagem de encontro com os
marcadores, nos quais a carga é aplicada sem choque a uma velocidade de 100N/s observando se a
rotura ocorre entre os 30 e os 90 segundos, no caso de isso não acontecer deve ser alterada a
velocidade para um intervalo pertencente ao intervalo entre 50 a 500N/s, até que ocorra rotura.
38
Fig. III-38 – Acessório utilizado no ensaio de Fig. III-39 – Ensaio de compressão de um prisma.
compressão.
A resistência à compressão é determinada pelo quociente entre a força e a área do provete à qual é
transmitida a força (40 mm x 40 mm), segundo a seguinte expressão:
FL
f c = 1,5 ×
b3 (12)
com,
2
fc- resistência à flexão [N/mm ]
b – largura da base do provete [40 mm]
L – distância entre os apoios inferiores [100 mm]
O valor da resistência à compressão é obtido através da média dos valores individuais. O ensaio é
realizado aos 7, 14, 28, 90 e 180 dias de idade.
O ensaio é executado segundo a Norma Europeia EN 1015-10 [64]. Com a utilização da craveira são
medidas as dimensões do prisma. A largura e a espessura são determinadas em ambos os extremos
e no centro do prisma, sendo a medida final, a média destas três medidas. O comprimento, medido
na longitudinal, é determinado apenas uma vez. Posteriormente realiza-se a pesagem do provete e a
massa volúmica é obtida pelo quociente entre a massa e o volume.
O ensaio é executado segundo a norma francesa NF B10-511 [57]. Na data do ensaio, os provetes
são pesados e medidos. Na largura e na altura são retiradas 3 medidas, enquanto no comprimento é
retirado apenas uma. O provete é colocado no instrumento de medição, preso na parte central. Numa
das extremidades é incutida uma vibração que é recebida pela outra extremidade, passando por todo
o provete. Após incutida a vibração são introduzidos os dados do provete e é obtido um espectro com
um intervalo bastante grande de frequências. A partir da observação do andamento do gráfico e do
conhecimento prévio do intervalo de frequências em função do material a ensaiar, é obtida a
frequência fundamental de ressonância.
39
Fig. III-40 – Aparelho utilizado na medição do módulo de elasticidade dinâmico.
com,
Ed – módulo de elasticidade dinâmico [MPa];
L – comprimento longitudinal do provete [m];
F – frequência de ressonância longitudinal [Hz];
3
ρ - massa volúmica [kg/m ]
O módulo de elasticidade dinâmico é obtido a partir da média dos valores individuais. O ensaio é
executado aos 14, 28, 63, 90 e 180 dias de idade, utilizando os mesmos provetes uma vez que não é
um ensaio destrutivo, de modo a detectar a evolução do módulo de elasticidade.
O ensaio é realizado segundo a Norma Europeia EN 1015-18 [67]. Os provetes prismáticos são
moldados segundo o que é apresentado no ponto III.5.4 – Preparação dos provetes, ao invés do que
é referido na norma, na qual é referido a colocação de papel de filtro no fundo e no topo do molde.
Esta medida foi tomada para facilitar a preparação dos provetes de forma a homogeneizar o
processo. Antes da data de ensaio, os provetes são divididos em duas metades, com recurso a uma
serra manual e são introduzidos numa estufa ventilada a uma temperatura de 60ºC ± 5ºC até se
alcançar massa constante. No fim de se encontrarem à temperatura ambiente, é aplicado uma
mistura de cera com pez-louro, numa proporção de massa de 50% para cada um, no estado líquido,
num dos dois semi-prismas de cada provete. A cera deve ser aplicada bem quente de maneira a ser
estabelecido um bom manuseamento e a selagem do provete. Após a secagem da cera, os provetes
são introduzidos no exicador para se manterem secos até à altura do ensaio. Na altura de iniciação
do ensaio, os semi-prismas são pesados e introduzidos num tabuleiro com as faces de corte
previamente medidas viradas para baixo, ficando suportados por barras de plástico. No tabuleiro é
introduzido água da torneira até uma altura tal que permita a extremidade de cada semi-prisma esteja
submersa 10 mm. Esta altura deve permanecer até ao fim do ensaio e para isso, o tabuleiro é coberto
de maneira a evitar a evaporação de água. Após um dado tempo (ti), os provetes são retirados do
tabuleiro, a superfície imersa é limpa com um papel absorvente e são pesados (Mi) e colocados
40
novamente no tabuleiro. A medição é repetida aos 10, 30, 60, 90, 180, 300, 480 e 1440 minutos após
a imersão inicial. O ensaio é realizado na sala onde foi efectuada a cura.
Fig. III-41 – Colocação de cera Fig. III-42 – Semi-prismas Fig. III-43 – Semi-prismas
nos semi – provetes colocados no exicador. introduzidos em água.
Para cada idade é utilizado um dos dois semi-prismas, não dando para reutilizar os provetes dos 28
dias de idade nos 90 dias de idade porque não é possível garantir a total secagem do provete nem é
possível colocá-los na estufa devido à cera.
Nas argamassas D, E e F, para além do método descrito na norma vai ser seguido um método
semelhante com uma pequena alteração: nos semi-provetes não vai ser colocada cera.
A absorção por capilaridade pode ser traduzida pela curva de absorção capilar que corresponde ao
andamento do gráfico que exprime a quantidade de água absorvida por unidade de área da base do
2 1/2
provete (em ordenadas [kg/m ]), em função da raiz quadrada do tempo decorrido (em abcissas [s ]).
2 0,5
O coeficiente de absorção de água por capilaridade (C [kg/m .s ] ) traduz a velocidade de absorção
de água nos instantes iniciais, correspondendo ao declive do segmento de recta obtido no troço
inicial. Na presente norma está referido que esse intervalo vai até aos 90 minutos, contudo, nas
argamassas de cal, é usual a absorção cessar mais cedo, determinando-se esse valor também para
os 60 minutos. O coeficiente de absorção de água por capilaridade é determinado para cada provete,
sendo o valor final, o valor médio dos 3 provetes (Cm).
O ensaio é realizado perante a norma europeia EN 1015-19 [68]. Com recurso a uma craveira, é
medida a espessura dos provetes circulares em 4 pontos e é marcada a área limite de colocação de
cera com auxílio de um aro metálico. As taças-teste são preenchidas com 600 ml de água e os
provetes circulares são introduzidos na sua abertura. As juntas entre o molde e a taça são seladas
com a mistura de cera e de pez-louro de maneira a isolar o sistema para garantir que se mantêm um
ambiente húmido a temperatura e humidade constante. As taças são colocadas numa câmara à
temperatura de 23°C ± 2°C e humidade relativa de 50% ± 5%. A massa das taças é medida todos os
dias à mesma hora, para determinar a quantidade de água evaporada por permeabilidade da
argamassa durante pelo menos 15 dias até se alcançar uma perda de água constante.
41
Fig. III-44 – Marcação da área Fig. III-45 – Introdução de água Fig. III-46 – Colocação dos
de colocação de cera. nas taças-teste. provetes circulares nas taças-
testes.
Fig. III-47 –Selagem do Fig. III-48 – Pesagem das Fig. III-49 – Taças teste na
conjunto provete – taça com taças-teste já preparadas. câmara de atmosfera
cera. controlada.
com,
A permeância, para as taças utilizadas no LNEC, ensaiadas a uma temperatura de 23ºC e a uma
humidade relativa de 50%, é calculada pela seguinte expressão:
sendo,
J - fluxo de vapor de água é dado pelo quociente da quantidade de vapor de água (∆M) que atravessa
o provete por unidade de tempo segundo a expressão:
∆M
J= × 10 −3 [kg/s] (16)
24 × 3600
42
III.5.6 Susceptibilidade à fendilhação
O ensaio não é baseado em nenhuma norma, nem em nenhuma especificação. Este ensaio dá uma
indicação, sem muito rigor, do desempenho da argamassa face à fissuração.
O ensaio é realizado segundo a norma europeia EN 1015-12 [66]. Nesta, não se encontra
especificado o tipo de suporte a utilizar. A escolha recaiu sobre o tijolo cerâmico de barro vermelho
furado de 11cm, por ser de fácil aquisição. Contudo, não é o suporte mais adequado para testar
argamassas que possam ser aplicadas em edifícios antigos, uma vez que o tijolo apresenta uma
superfície lisa e pouco permeável quando comparado com os suportes antigos.
Após a moldagem dos tijolos, estes são colocados em sacos de polietileno. Na véspera da data de
ensaio, as áreas de teste, com aproximadamente 50 mm de diâmetro, são marcadas. Para cada
argamassa são marcadas no mínimo 5 áreas de corte com um espaçamento mínimo de 50 mm. Para
estabelecer os parâmetros anteriores, são moldados dois tijolos para cada argamassa, marcando-se
6 áreas de corte. Com a caroteadora executam-se os furos na profundidade de toda a argamassa
delimitando as áreas de corte. Com o compressor retira-se o pó envolvente de cada área de corte.
Nestas, são coladas as pastilhas aderentes com resina epóxida, acautelando que a cola em excesso
atravesse a zona de corte à volta das áreas de teste.
Fig. III-53 - Áreas de corte Fig. III-54 – Colagem das Fig. III-55 – Pastilhas coladas
delimitadas e limpas. pastilhas. nos provetes.
43
No ensaio é aplicada uma força, perpendicular à pastilha através do acessório de arrancamento.
2
Deste modo, é aplicado um acréscimo de tensão aproximado entre 0,003 e 0,100 N/(mm .s) de
maneira a que a cedência ocorra entre 20 e 60 s após o inicio do carregamento. A cedência deve
ocorrer na interface argamassa/suporte (rotura adesiva), ou então no interior da argamassa ou do
suporte (rotura coesiva, pela argamassa ou pelo suporte) e nunca pastilha/argamassa, nesses casos
o ensaio é considerado nulo.
Fig. III-56 - Dinamómetro Fig. III-57 - Arrancamento dos Fig. III-58– Provetes no final do
utilizado no ensaio de provetes com o dinamómetro. ensaio de arrancamento.
aderência.
A rotura pode ter várias tipologias: rotura adesiva (a rotura ocorre na interface da argamassa e do
suporte); rotura coesiva pela argamassa (a rotura ocorre no interior da argamassa); rotura coesiva
pelo suporte (a rotura ocorre no interior do suporte) e a rotura pela pastilha (a rotura ocorre na
interface da pastilha e da argamassa).
A força aderente obtida é o quociente entre a carga de cedência/colapso e a área testada, segundo a
expressão:
com,
F – força de rotura lida no dinamómetro [KN]
2
S – área de contacto da pastilha com a argamassa [mm ]
O valor da tensão de aderência final corresponde à média dos provetes de cada argamassa.
O ensaio de envelhecimento foi elaborado segundo uma metodologia presente no LNEC que já foi
seguida em trabalhos anteriores [56]. Os ciclos e as temperaturas utilizados no ensaio são baseados
nas condições atmosféricas existentes em Portugal. As temperaturas utilizadas são aproximações da
temperatura máxima e mínima registada no país.
Os tijolos são revestidos seguindo a metodologia que já foi explicada, mas com o cuidado de não
deixar descontinuidades entre o revestimento e o suporte de modo a evitar que a água penetre por
essas descontinuidades e provoque um consequente destacamento e degradação do revestimento.
Após a moldagem, os tijolos são sujeitos à cura húmida, anteriormente descrita. Na altura do ensaio
são retirados do ambiente condicionado e são colocados na câmara climática. Nesta câmara são
44
sujeitos a dois ciclos que ocorrem individualmente, chuva/calor e gelo/degelo. Ambos os ciclos são
compostos por repetições de 10 vezes de um ciclo padrão.
O ciclo padrão do ciclo chuva/calor consiste em, inicialmente, submeter os tijolos a 4 horas a uma
temperatura de 40ºC, seguido de 4 horas num período de chuva intensa de 1l/min, terminando com
16 horas em condições secas.
No ciclo gelo/degelo, o ciclo tipo é iniciado com um período de chuva durante 4 horas, seguido de um
período de 4 horas a uma temperatura de -10ºC e termina com 4 horas de tempo de espera.
Entre o primeiro e o segundo ciclo, assim como no final, os tijolos são observados, anotando-se as
alterações/degradações.
Seguidamente, é realizado o ensaio de aderência para se comparar com os resultados obtidos aos 28
dias em condições de cura normais.
45
IV. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS
No presente capítulo vão ser apresentados e analisados os resultados obtidos nos ensaios
laboratoriais, de forma a caracterizar as argamassas no estado fresco e no estado endurecido.
IV.2. Matérias-primas
A cal aérea hidratada (ca) escolhida é de origem nacional, tendo sido já utilizada em vários estudos,
proporcionando a comparação entre resultados constituindo um parâmetro de controlo.
IV.2.1.3 Areia
A areia seleccionada foi a areia do Rio Tejo, areia de natureza siliciosa, com grande abundância e
facilidade de aquisição na zona de Lisboa. A conjugação destes factores leva à aplicação deste tipo
de areia nos vários estudos experimentais existentes, facilitando a comparação de resultados,
eliminando mais um parâmetro de variância.
Após a sua aquisição e secagem numa estufa à temperatura de 105ºC, a areia é peneirada
manualmente com um peneiro de abertura de 3.15 mm para retirar as partículas de dimensão
superior a esse valor e para uniformizar a granulometria máxima da areia. A peneiração com este
peneiro, ao retirar as partículas de maiores dimensões, evita a criação de descontinuidades nos
provetes. A eventual criação de descontinuidades pode possibilitar a percolação de água. Percolação
essa que pode ser significativa dadas as dimensões reduzidas do provete. A utilização deste peneiro
permite maximizar a continuidade e coesão da argamassa.
46
IV.2.1.4 Água
A água utilizada é a água da rede pública. A sua quantidade aparece em função da trabalhabilidade
pretendida. A trabalhabilidade depende de vários factores e diz respeito à menor ou maior facilidade
de manuseamento da argamassa. Essa trabalhabilidade é definida pelo ensaio de espalhamento,
cujo valor se fixa, variando a quantidade de água até se obter o espalhamento predefinido.
A descrição dos procedimentos e metodologias utilizados foi apresentada no capítulo III – descrição
do programa experimental e métodos de ensaio.
No início do trabalho experimental foi adquirida uma quantidade de areia que no decorrer do estudo
se tornou insuficiente. Levando a se adquirir posteriormente areia do mesmo tipo, mas de um lote
diferente, caracterizada por uma granulometria diferente da do lote inicial.
A recolha da amostra de areia do lote 1 para a análise granulométrica não seguiu os parâmetros da
norma. A toma utilizada consistiu num “resto” de areia já peneirada que sobrou da realização dos
provetes. A utilização desta amostra condicionou o valor do diâmetro máximo (Dmáx) uma vez que a
areia já se encontrava peneirada com o peneiro 3,15 mm.
Lote 1 Lote 2
47
Análise granulométrica
100
90
80
70
Resíduos Passados [%]
60
50
40
30
20
Lote 1
10
Lote 2
0
10.00
0.50
0.60
2.00
4.00
0.08
1.00
Abertura da malha dos peneiros [mm]
Fig. IV-2 – Curva granulométrica dos agregados
Pela análise da curva granulométrica é possível ver que ambos os agregados utilizados possuem
granulometria contínua. Uma granulometria contínua é caracterizada pela existência de partículas
uniformemente distribuídas por todas as dimensões, da mais pequena à maior. Esta propriedade
possibilita a obtenção de argamassas compactas e resistentes para uma dosagem mínima de ligante,
reduzindo o risco de segregação [11].
No quadro seguinte, Quadro IV.2 é apresentada a massa volúmica aparente de cada constituinte
utilizado nas diferentes argamassas.
cH1 836
cH2 760
cH3 701
ca 325
Areia 1438
cH1 – Cal hidráulica NHL5-A; cH2 – Cal hidráulica NHL5-B; cH3 – Cal hidráulica HL3,5; ca – Cal arérea hidratada.
O valor da massa volúmica aparente da areia do rio Tejo está coerente com a bibliografia consultada
3
que geralmente pertence ao intervalo 1400/1500 kg/m [42]. A massa volúmica aparente da cal, tal
como constata Rodrigues [29], diminui à medida que a hidraulicidade diminui, apresentando menor
valor na cal aérea. Por outro lado, a cal cH3 caracterizada por uma classe menor HL 3,5 apresenta
uma massa volúmica aparente inferior às cais hidráulicas de origem nacional.
A preparação das argamassas foi realizada em três fases. A primeira fase englobou a produção dos
provetes prismáticos e cilíndricos para os ensaios aos 28 e 90 dias de idade, tudo com o primeiro lote
de areia. A segunda fase correspondeu a aplicação de argamassas sobre tijolos para o ensaio de
aderência aos 28 dias de idade e à moldagem de provetes prismáticos para o ensaio de capilaridade
48
para os 28 dias de idade. A terceira fase, inicialmente não prevista, compreendeu a preparação de
aplicações sobre tijolos para o ensaio de envelhecimento acelerado e de provetes prismáticos para os
ensaios de caracterização mecânica aos 7 e 14 dias de idade.
IV.3.1 Traço
O traço volumétrico das argamassas foi previamente estabelecido com base em estudos anteriores
que aconselham o conhecimento das características das argamassas com estes traços. O traço
volumétrico foi convertido em traço de massa com o recurso ao valor da massa volúmica aparente de
cada constituinte.
A quantidade de água foi obtida por um processo iterativo, no qual se estabeleceu o espalhamento
pretendido.
A relação água/ligante aumenta significativamente nas argamassas com a utilização de cal aérea.
Faria [12] chega à mesma observação, justificando-a com a elevada superfície específica deste
ligante que segundo esta é o triplo da cal hidráulica, conduzindo a que o ligante da argamassa
bastarda apresente uma superfície específica superior à cal hidráulica. Pelos valores obtidos verifica-
se que este factor tem mais peso do que o facto das cais hidráulicas, ao contrário da cal aérea,
consumirem água na reacção que conduz ao endurecimento.
49
IV.4. Caracterização das argamassas no estado fresco
O ensaio de espalhamento foi realizado em todas as amassaduras. O ensaio de massa volúmica foi
realizado em duas amassaduras. O ensaio de retenção de água foi elaborado a partir de uma
amassadura, na qual se mediram os três provetes necessários.
Nos quadros apresentados nos subcapítulos seguintes, é indicado o número total de provetes em
cada uma das determinações, ao qual corresponde o valor médio apresentado, e o valor do desvio
padrão obtido.
O espalhamento foi predefinido de modo a determinar a quantidade de água nas argamassas. O valor
definido foi de 145 ± 5mm. Com esse espalhamento, as argamassas produzidas com cal cH3, eram
demasiado fluidas e trabalháveis, optando-se por um espalhamento inferior de 135 ± 5 mm. Assim,
nas argamassas produzidas com cal cH1 e cH2 (cais hidráulicas NHL5) o espalhamento base foi de
145 ± 5mm, enquanto nas argamassas produzidas com cH3 (cal hidráulica HL3,5), o espalhamento
foi de 135 ± 5 mm. Em todas as argamassas, com este espalhamento, foi possível obter argamassas
homogéneas, coesas e trabalháveis, não havendo uma diferenciação significativa no manuseamento
e aplicação.
N – Número de determinações; A – cH1:ar (1:3); B – cH2:ar (1:3); C – cH3:ar (1:3); D – cH1:ca:ar (1:1:6); E – cH2:ca:ar (1:1:6);
F – cH3:ca:ar (1:1:6).
50
Quadro IV-5 – Massa volúmica aparente da argamassa em pasta
3
Argamassa N Massa volúmica aparente [kg/m ] DP
A 2 1990 7
B 2 1990 2
C 2 1960 5
D 2 1930 8
E 2 1950 10
F 2 1920 5
N – Número de determinações; A – cH1:ar (1:3); B – cH2:ar (1:3); C – cH3:ar (1:3); D – cH1:ca:ar (1:1:6); E – cH2:ca:ar (1:1:6);
F – cH3:ca:ar (1:1:6).
A massa volúmica aparente da argamassa em pasta diminui com a introdução de cal aérea, material
com uma baridade inferior em comparação com a cal hidráulica.
Os valores obtidos no ensaio de retenção de água estão representados na fig. IV-3. As três medições
foram efectuadas numa mesma amassadura.
96
Retenção de
Argamassa N DP
Retenção de Água [%]
água (%) 94
A 3 88,9 0,5 92
B 3 90,2 1,7 90
C 3 91,7 0,6 88
D 3 92,6 1,4 86
E 3 93,0 1,5 84
F 3 93,5 0,5 A B C D E F
N – Número de determinações; A – cH1:ar (1:3); B – cH2:ar (1:3); C – cH3:ar (1:3); D – cH1:ca:ar (1:1:6); E – cH2:ca:ar (1:1:6);
F – cH3:ca:ar (1:1:6).
A retenção de água aumenta com a introdução de cal aérea. Esta observação é coerente com
Rodrigues [29] que refere que é esperado que as argamassas com maior teor de cal aérea
apresentem maior valor de retenção de água, sendo uma característica benéfica da utilização deste
material.
As argamassas produzidas com cH3 são as que apresentam melhor retenção de água, seguidas
pelas argamassas produzidas por cH2 e por último, as que apresentam retenção de água mais baixa
são as produzidas com cH1.
51
Paiva [25] ao enunciar Y. Sébaili afirma que a utilização em simultâneo das duas cais é favorável uma
vez que a capacidade de retenção de água observada nas argamassas de cal aérea favorece as
reacções de hidratação, possibilitado uma maior reacção dos silicatos e aluminatos de cálcio com a
água, aumentando o grau de hidratação do sistema.
Na moldagem dos provetes prismáticos das argamassas A e B, compostos pelas cais cH1 e cH2,
respectivamente, observou-se uma ligeira tendência para a exsudação. Este fenómeno era
denunciado por uma película de água que ficava na superfície do molde. A exsudação não é
favorável ao comportamento da argamassa uma vez que ao segregar, é criada uma rede de
capilares, principalmente na parte superior, conduzindo à redução de resistência desta camada. Nas
argamassas bastardas D e E, compostas pelo mesmo tipo de cal hidráulica (cH1 e cH2) e com cal
aérea, já não houve sinais deste fenómeno, indiciando a redução deste fenómeno com a introdução
deste tipo de cal.
Os provetes foram sujeitos a cura em ambiente controlado. Os provetes prismáticos e os tijolos foram
sujeitos a uma humidade relativa de 95 ± 5% nos primeiros 7 dias. A partir dessa idade, até à altura
de ensaio foram sujeitos a uma humidade relativa de 65 ± 5, encontrando-se sempre submetidos à
temperatura de 23 ± 3 ºC. Os provetes circulares foram sujeitos a uma cura seca, numa sala à
temperatura de 23 ± 3 ºC e 50 ± 5% de humidade relativa.
Na altura da desmoldagem, por se tratar de uma cura húmida, os provetes prismáticos, encontravam-
se ainda muito húmidos, dificultando este processo e por vezes danificando os próprios provetes. Na
desmoldagem, a argamassa E assumiu-se como a mais frágil ao manuseamento, partindo-se vários
provetes, sendo necessário a produção de mais provetes prismáticos.
Os resultados obtidos no estado endurecido vão ser comparados com resultados obtidos em estudos
anteriores [55] para algumas argamassas de referência. Uma argamassa de cimento com areia de rio
Tejo no traço 1:4 (traço correntemente utilizado em obra na construção recente). Outra argamassa de
cal aérea com areia do Rio Tejo no traço 1:3 (argamassa frequentemente recomendada para
reabilitação de edifícios antigos). E por último, por uma argamassa bastarda de cimento e cal areia
num traço 1:1:6 (argamassa com comportamento intermédio). Para verificar se os resultados obtidos
são os esperados para as argamassas de cal hidráulica, vão ser comparados com os resultados
obtidos para uma argamassa de cal hidráulica NHL5 de traço 1:3,5 [55].
52
IV.6.1 Massa volúmica
A massa volúmica endurecida foi determinada na idade dos ensaios de compressão e do módulo
elasticidade dinâmico, a partir de provetes prismáticos. Aos 7, 14, 63 e 180 dias de idade foram
ensaiados apenas 3 provetes enquanto aos 28 e 90 dias de idade foram ensaiados 6 provetes.
Idade Argamassa
N
(dias) A B C D E F
7 3 1940±1 1950±13 1910±22 1900±10 1950±31 1900±10
14 3 1690±8 1680±8 1670±11 1630±7 1630±7 1640±6
28 6 1740±16 1710±8 1730±11 1660±18 1680±16 1650±6
63 3 1720±6 1720±2 1750±7 1690±5 1700±20 1690±5
90 6 1730±26 1730±11 1750±11 1690±11 1690±18 1690±5
180 3 1720±12 1730±8 1760±3 1690±9 1710±22 1690±15
N – Número de determinações; A – cH1:ar (1:3); B – cH2:ar (1:3); C – cH3:ar (1:3); D – cH1:ca:ar (1:1:6); E – cH2:ca:ar (1:1:6);
F – cH3:ca:ar (1:1:6).
2100
2000
1900
Mv [(kg/m3]
1800
1700
1600
1500
1400
A B C D E F
7 14 28 63 90
A massa volúmica da argamassa endurecida assume um valor muito elevado aos 7 dias de idade,
sendo ligeiramente inferior à massa volúmica no estado fresco. Esta pequena diferença é devida à
presença de água, consequência do tipo de cura. Numa cura húmida, os provetes são retirados dos
sacos de plástico aos 7 dias de idade, encontrando-se ainda bastante húmidos. Deste modo, verifica-
se uma perda de água pouco acentuada do estado fresco para os 7 dias de idade. Na argamassa em
pasta os poros encontram-se preenchidos com água. Ao se retirar os sacos de plástico, a argamassa
começa a secar e no mesmo período de tempo, a perda de água presente nos poros é bem mais
significativa. A partir dos 14 dias de idade, ocorre um aumento da massa volúmica ao longo do
tempo, tendendo a manter-se constante com o passar do tempo.
53
IV.6.2 Ensaio de resistência à flexão e à compressão
Os ensaios de resistência à flexão e à compressão foram realizados aos 7, 14, 28, 90 e 180 dias de
idade. Estes ensaios foram efectuados na sala de cura húmida onde se encontravam os provetes.
F 3 0,1±0,00 0,2±0,03 0,2±0,03 0,2±0,03 0,1±0,13 6 0,2±0,03 0,3±0,07 0,4±0,03 0,4±0,04 0,4±0,08
N – Número de determinações; A – cH1:ar (1:3); B – cH2:ar (1:3); C – cH3:ar (1:3); D – cH1:ca:ar (1:1:6); E – cH2:ca:ar (1:1:6);
F – cH3:ca:ar (1:1:6).
0,5
Rc [Mpa]
1,2
1,0 0,4
0,8 0,3
0,6
0,2
0,4
0,2 0,1
0,0 0,0
A B C D E F -0,1 A B C D E F
7 14 28 90 180 7 14 28 90 180
Fig. IV-5 – Representação gráfica da resistência à tracção e compressão das argamassas ao longo do tempo.
Os valores obtidos para as resistências à compressão e à tracção nas argamassas (Rt = 0,1-0,6 MPa
e Rc=0,4-1,6 MPa) ensaiadas são semelhantes aos resultados obtidos por Veiga [55] para uma
argamassa de cal hidráulica NH5 de traço 1:3,5 com a utilização de areia do rio Tejo aos 90 dias de
idade (Rt = 0,2MPa e Rc = 0,9 MPa) [55].
De um modo geral, as resistências à compressão e à flexão são baixas, quando comparadas com
argamassas de cimento (Rt =1,1 MPa e Rc = 3,2 MPa) [55] e com argamassas bastardas de cimento
e cal aérea (Rt=0,7-1,6 MPa e Rc=1,6-1,9 MPa) [55], aos 90 dias de idade. Em comparação com
argamassas de cal aérea, aos 90 dias de idade (Rt = 0,2-0,8 MPa e Rc = 0,6-1,6 MPa) [55], só a
argamassa C atinge valores superiores. Ao contrário do que era inicialmente expectável, as
argamassas de cal hidráulica deveriam ter um comportamento intermédio entre as argamassas de cal
aérea e de cimento.
54
Em todas as argamassas, ambas as resistências apresentam uma evolução crescente até aos 28
dias. A partir desta idade, as resistências tendem a manter-se constantes ou a diminuírem, com
excepção da argamassa C que dos 28 dias de idade para os 90 dias de idade aumenta de
resistência, diminuindo dos 90 para os 180 dias de idade. As argamassas compostas por cal
hidráulica natural (cH1 e cH2) demonstram maior variabilidade no seu comportamento do que as
argamassas produzidas por cal hidráulica artificial (cH3). Isto acontece porque as cais naturais não
são tão controladas na produção como as cais artificiais, que são alteradas de modo a obterem
melhor desempenho.
A introdução de cal aérea provoca uma diminuição das resistências, que se manifesta de forma mais
significativa nas idades mais avançadas, 28, 90 e 180 dias de idade. Este facto justifica-se pelo
elevado tempo de endurecimento, característica deste material. Por outro lado, é possível aferir que a
introdução de cal aérea provoca uma menor variância na evolução das resistências ao longo do
tempo.
1,2
1,0
Rt/Rc [Mpa]
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
A B C D E F
7 14 28 90 180
55
De um modo geral, as argamassas bastardas apresentam maiores relações Rt/Rc, indiciando uma
melhor ductilidade que permite optimizar as resistências das argamassas às tensões criadas, sem
que sejam transmitidos esforços muito elevados para o suporte. A argamassa B é a que apresenta
um comportamento menos dúctil.
Tal como nos ensaios de compressão e flexão, estava previsto fazer a determinação do módulo de
elasticidade aos 7 dias de idade para averiguar a rigidez inicial das argamassas. Mas isso não foi
possível uma vez que os provetes são sujeitos a uma cura húmida, ou seja, após 7 dias de idade são
retirados dos sacos de plástico, encontrando-se ainda bastante húmidos, impedindo a propagação
das ondas.
O ensaio aos 63 dias de idade não estava inicialmente previsto, mas ao analisar os resultados dos 28
dias de idade, deparou-se com resultados muito díspares, como os baixos valores obtidos para as
argamassas A e B. Não se sabe ao certo a razão desta discrepância, mas possivelmente foi
influenciado por um dos parâmetros anteriormente referidos. Outra explicação possível é a
permanência de elevados teores de humidade nos provetes, já que a partir dos 63 dias de idade os
resultados já apresentam valores explicáveis.
56
9000
8000
7000
6000
E [MPA]
5000
4000
3000
2000
1000
0
A B C D E F
14 28 63 90 180
Fig. IV-7 – Evolução do módulo de elasticidade de cada argamassa.
Como os valores a partir dos 63 dias são mais uniformes, considera-se que o motivo que assume
maior importância para a variabilidade apresentada no ensaio é a presença de água nos provetes nas
idades mais jovens (até 28 dias de idade, inclusive). Por esse motivo, para efeitos de análise e
conclusões apenas é referido os valores do módulo de elasticidade a partir dos 63 dias de idade.
Considera-se que os valores aos 14 e 28 dias de idade são anómalos.
Os módulos de elasticidade obtidos aos 90 dias de idade (E = 3697 - 5610 MPa) são mais elevados
dos obtidos por Veiga [55] para uma argamassa de cal hidráulica NHL5 de traço 1:3,5 aos 90 dias de
idade (E = 1650 MPa) [55]. Os valores obtidos são inferiores às argamassas de cimento aos 28 dias
de idade (E=5530-9810 MPa) [55], uma vez que a introdução de cal (aérea ou hidráulica) faz diminuir
o módulo de elasticidade [12]. Semelhantes às argamassas bastardas de cimento e cal aérea aos 28
dias de idade (E = 4770 MPa) [55] e superiores às argamassas de cal aérea aos 90 dias de idade (E
= 2330-4100 MPa) [55]. Assim, as argamassas estudadas são mais deformáveis que as argamassas
de cimento e menos deformáveis que as argamassas de cal aérea, verificando-se que relativamente
ao módulo de elasticidade, as argamassas estudadas tem um comportamento intermédio às
argamassas anteriores.
57
As argamassas bastardas E e F apresentam um módulo de elasticidade superior à argamassa
respectiva de ligante único (B e C), levando a induzir que a introdução de cal aérea numa argamassa
de cal hidráulica faz aumentar o módulo de elasticidade. No estudo realizado por Rodrigues [12]
utilizando cal hidráulica natural NHL5 e cal aérea hidratada foi observado o mesmo. Em ambos os
casos, a introdução de cal aérea numa argamassa de cal hidráulica parece provocar o aumento do
módulo de elasticidade, ao contrário do que seria expectável.
Neste caso, a variação do valor do módulo de elasticidade não acompanha variação no mesmo
sentido das resistências à compressão e à tracção, parecendo antes variar no sentido contrário, como
se observa na fig. Iv.8.
Rt, Rc [MPa]
4000 1,2 4000
0,9
E [Mpa]
E [Mpa]
3000 0,9 3000
0,6
2000 0,6 2000
0,3 1000 0,3 1000
0,0 0 0,0 0
A B C D E F A B C D E F
Rt Rc E Rt Rc E
Fig. IV-8 – Tensão de ruptura à compressão e à tracção com o módulo de elasticidade aos 28 dias de idade.
(esquerda) e aos 90 dias de idade (direita).
Salienta-se o facto de que este ensaio apresenta uma grande variabilidade nos resultados obtidos,
principalmente nas argamassas preparadas in situ, sendo mais fiável, por ter resultados mais
homogéneos nas argamassas pré-doseadas.
A absorção de água por capilaridade foi determinada utilizando semi-provetes selados com cera
segundo o procedimento apresentado na norma referida no capítulo III. Como, nas argamassas
bastardas, se moldou mais três provetes, utilizou-se um provete para cada idade e assim, sobrava um
semi-prisma dos dois existentes. De modo a comparar os resultados, utilizou-se esse semi-provete
para verificar se alcançava valores semelhantes, com e sem utilização de cera.
A absorção de água por capilaridade pode ser traduzida graficamente através da apresentação da
massa de água absorvida por unidade de área de contacto pela raiz quadrada do tempo passado.
58
25 25
28 dias 90 dias
20
15
15
10
10
5
5
0
0
0 10 20 30 40
0 10 20 30 40
Tempo [min1/2]
Tempo [min1/2]
A B C
A B C
D E F D E F
A partir das curvas de absorção de água por capilaridade foram determinados os coeficientes de
capilaridade que traduzem a absorção de água nos instantes iniciais, estando apresentados no
quadro IV-9 e na fig. IV–10.
A B C D E F
Dias 28 90 28 90 28 90 28 90 28 90 28 90
1,8 1,6 2,1 1,8 1,6 1,4 1,8 2,2 1,7 1,9 1,2 1,7
C. Cap.10-
kg/m2min1/2 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ±
60
0,01 0,03 0,01 0,07 0,08 0,04 0,16 0,10 0,10 0,32 0,08 0,09
A – cH1:ar (1:3); B – cH2:ar (1:3); C – cH3:ar (1:3); D – cH1:ca:ar (1:1:6); E – cH2:ca:ar (1:1:6); F – cH3:ca:ar (1:1:6)
2,5
C.C.0-60 (Kg/m2.min1/2)
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
A B C D E F
28 90
Ao observar a Fig. IV-9 verifica-se que a recta de absorção de água nos instantes iniciais da
argamassa A tem uma inclinação diferente das outras argamassas, o que indicia ter um coeficiente
de capilaridade inferior às outras argamassas. Ao analisar o Quadro IV-9 verifica-se que isso não
acontece. O valor do coeficiente de capilaridade da argamassa A é semelhante ao das outras
argamassas. Isto acontece porque no intervalo dos 10 aos 60 minutos, intervalo no qual é
determinado o coeficiente de capilaridade, a recta que representa a absorção de água tem um declive
59
semelhante em todas as argamassas. O mesmo não acontece nos primeiros instantes, até aos 10
minutos, em que a recta que representa a argamassa A tem uma inclinação menor.
A partir do momento em que os provetes atingem a saturação, a velocidade de absorção de água por
unidade de superfície é a mesma. Por esse motivo, à excepção da argamassa A, o coeficiente de
capilaridade determinado no intervalo de 10-60 minutos conduz a valores semelhantes aos
calculados no intervalo 10-90 minutos, como se observa na consulta do quadro IV.9. Contudo, o
coeficiente de capilaridade deve ser determinado antes da saturação dos provetes. Por isso, como os
provetes saturam no intervalo dos 60 aos 90 minutos vai ser determinado o coeficiente de
capilaridade com base nos resultados dos 10-60 minutos, para todos os casos. Não se considerou o
intervalo dos 0-60 minutos, porque a absorção inicial dá-se com grande velocidade, aumentando
significativamente o valor do coeficiente de capilaridade.
Tal como nas propriedades mecânicas, é espectável que as características de absorção de água por
capilaridade sejam melhoradas, ou seja, que o coeficiente de capilaridade decresça ao longo do
tempo. Analisando a fig. IV-10 e o quadro IV – 9, observa-se que nas argamassas bastardas isso não
acontece, dos 28 para os 90 dias de idade, verificando-se que o coeficiente de capilaridade aumenta.
Este facto é justificado pela diferença da granulometria da areia dos dois lotes utilizados. Como foi
referido anteriormente, os provetes prismáticos utilizados na determinação do coeficiente de
capilaridade das argamassas bastardas aos 28 dias de idade foram os únicos provetes produzidos
com a areia do lote 2, caracterizada por uma granulometria mais fina. Ao possuir uma granulometria
mais fina, os poros apresentam menores dimensões e tal como observa Rato [27], poros de menores
dimensões conduzem a coeficientes de absorção menores. Por outro lado, o coeficiente de
capilaridade evolui de modo inverso com as resistências, ou seja, quanto maior a resistência, maior a
compacidade e menor será o coeficiente de capilaridade. Nas argamassas bastardas, como se pode
observar na fig. IV – 5 e no quadro IV – 7, a resistência tende a aumentar ou a manter-se constante o
que indicia que o coeficiente de capilaridade deverá diminuir. Por estas causas, apesar de no
presente estudo, nas argamassas bastardas ter ocorrido um aumento do coeficiente de capilaridade
dos 28 dias de idade para os 90 dias de idade, não é um resultado conclusivo uma vez que teve
origem em diferentes lotes de areia caracterizados por diferentes granulometrias.
60
A utilização de diferentes lotes de areia teve ainda outra consequência. A introdução de cal aérea
numa argamassa de cal hidráulica faz diminuir as características mecânicas, fazendo aumentar o
coeficiente de capilaridade. Aos 90 dias de idade, verifica-se este aumento, o coeficiente de
capilaridade nas argamassas bastardas é superior ao das argamassas de ligante único. O invés
acontece aos 28 dias de idade, as argamassas bastardas tem coeficientes menores do que as outras.
Este acontecimento também é justificado pela diferença de granulometrias.
Ao observar o quadro IV. 9, as argamassas bastardas apresentam um desvio padrão bem mais
elevado do que as argamassas com ligante único. Este facto pode ser justificado pela variabilidade
química da mistura. Esta variabilidade química pode estar relacionada com vários factores, dos quais:
a variabilidade da cal aérea, e da composição da marga que lhe está associada; a variabilidade de
composição da cal aérea e por fim a variabilidade dos compostos resultantes da mistura das duas.
O valor assintótico da curva de absorção quantifica a quantidade total de água que por unidade de
superfície penetra na argamassa. Este valor não foi calculado porque existe alguma diferença, em
certos casos significativa, nas dimensões dos provetes. A dimensão dos provetes influencia a
quantidade de água absorvida, uma vez que não se tem em consideração a altura do provete mas
apenas a área de contacto com a água.
A segunda maneira de determinar a absorção de água por capilaridade foi apenas utilizada nos
provetes de argamassa bastarda, nos quais os provetes de 28 dias de idade foram produzidos com o
lote 2 de areia, caracterizado por uma granulometria mais fina e os provetes aos 90 dias de idade
foram produzidos com areia do lote 1. Nestes provetes, no final de se alcançar a saturação, por
vezes, ocorria uma diferença negativa de massas entre duas pesagens consecutivas. Isto surge em
consequência de os provetes não se encontrarem isolados e terem maior área por onde possa
ocorrer evaporação de água, quando comparado com a área dos provetes isolados.
Tal como esperado, a absorção de água em função da raiz do tempo apresenta o mesmo andamento
do que os provetes isolados com cera.
61
25 25 25
Capilaridade D Capilaridade E Capilaridade F
Àgua Absorvida [kg/m2]
20 20 20
15 15 15
10 10 10
5 5 5
0 0
0
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
0 10 20 30 40
Tempo [min1/2] Com cera (28 dias) Sem cera (28 dias)
Fig. IV-11 – Absorção de água por capilaridade dos provetes com cera e sem cera.
Ao observar a fig. IV – 11, observa-se que o declive da recta de absorção de água é semelhante nos
provetes com e sem cera, ou seja, a velocidade de absorção é semelhante. Os provetes sem cera
têm maior área de absorção (zona lateral em contacto com a água mais extremidade inferior),
apresentam maior velocidade de absorção nos instantes iniciais e esta diminui à medida que se
aproxima da saturação. Estes provetes alcançam a saturação antes dos 60 minutos, ao contrário do
que acontece com os provetes ensaiados com cera, como se pode observar na fig. IV -11. Por esse
motivo, não é aconselhável o cálculo do coeficiente de capilaridade até aos 90 minutos, nem mesmo
até aos 60 minutos, porque a absorção de água termina antes desse intervalo. Assim, neste caso, o
coeficiente de capilaridade deve ser determinado até aos 30 minutos, para não apanhar a zona de
saturação. No entanto, ao considerar o intervalo 10-30 minutos, só se consideram dois pontos, o que
implica menor rigor, pelo que se optou por considerar o intervalo 0-30 minutos, que abrange três
pontos.
C. C. 28 dias 90 dias
Argamassa
[kg/m2min1/2]
Com cera Sem cera Diferença Com cera Sem cera Diferença
C.C. 10-60 1,77* 1,26 0,50 2,18* 2,13 0,05
D
C.C. 0-30 2,90 2,99 -0,10 2,68 2,79 -0,11
C.C. 10-60 1,67* 1,28 0,39 1,91* 1,88 0,03
E
C.C. 0-30 2,61 2,75 -0,14 2,51 2,64 -0,13
C.C. 10-60 1,25* 1,03 0,22 1,70* 1,48 0,22
F
C.C. 0-30 3,01 2,89 0,12 3,03 2,96 0,07
O coeficiente de capilaridade obtido no intervalo 0-30 minutos é semelhante nos dois métodos de
ensaio, sendo a diferença pouco significativa.
A determinação da absorção de água por capilaridade sem cera poderá ser melhorada ao se realizar
mais medições do intervalo de tempo 0-60 minutos de forma a obter mais pontos do gráfico e dar
62
uma melhor aproximação. Assim, poderá ser possível aproximar o coeficiente de capilaridade do
declive da recta real, tornando-se num método possível para determinar o coeficiente de capilaridade.
IV.6.5 Secagem
A secagem poderia ter sido feita de duas maneiras, tal como a capilaridade, utilizando provetes com
ou sem cera. Como os provetes isolados com cera demoravam muito tempo a secar totalmente
(aproximadamente 3 semanas), optou-se por utilizar os provetes sem cera. Por outro lado, salienta-se
que o ensaio de secagem não é baseado em nenhuma norma, consiste num ensaio empírico para
determinar a capacidade de uma argamassa secar após estar saturada, não se baseando em
nenhum coeficiente ou índice.
25
Àgua Absorvida [kg/m2]
20
15
10
0
0 20 40 60 80 100 120
Tempo [min1/2]
Um indício de boa secagem é o provete secar na totalidade no mínimo tempo possível. Este método
de ensaio é muito aproximado. Ao observar a Fig. IV-12, verifica-se que o coeficiente assimptótico da
absorção de água por capilaridade é diferente em cada argamassa testada, não existindo uma origem
de secagem, simultânea para todos os provetes.
De um modo geral, os provetes aos 28 dias de idade secam mais rapidamente que os provetes aos
90 dias de idade. Eventualmente, esta diferença pode ser justificada por dois factores, que podem
acontecer individual ou em conjugação. Um deles está relacionado é justificada pela utilização de
lotes diferentes de areia, em que a areia utilizada para a produção dos provetes de 28 dias de idade é
mais fina do que a utilizada nos provetes de ensaio aos 90 dias de idade. Este facto leva a que os
poros dos provetes ensaiados aos 28 dias de idade sejam menores que os poros dos provetes
ensaiados aos 90 dias de idade e ainda que a sua porosidade total seja inferior à dos provetes com
90 dias de idade, como é sugerido pelo gráfico da fig. IV.12. A menor porosidade total, associada à
menor absorção total, explica uma mais rápida expulsão da água dos provetes com 28 dias de idade.
O outro factor está correlacionado com o processo de carbonatação e hidratação da cal que
influencia a estrutura interna da argamassa.
63
IV.6.6 Permeabilidade ao vapor de água
Quadro IV-11 – Permeabilidade ao vapor de água e espessura da camada de ar de difusão equivalente das
argamassas.
N=5 (N- Numero de determinações). A – cH1:ar (1:3); B – cH2:ar (1:3); C – cH3:ar (1:3); D – cH1:ca:ar (1:1:6); E – cH2:ca:ar
(1:1:6); F – cH3:ca:ar (1:1:6).
31 0,07
Permeabilidade [ng/m.s.Pa]
30 0,07
0,07
29
0,07
28 0,06
27 0,06 Sd [m]
26 0,06
0,06
25
0,06
24 0,05
23 0,05
A B C D E F
Perm. Vap. Sd
Os resultados induzem a que se conclua que a introdução de cal aérea faz melhorar a
permeabilidade ao vapor de água, favorecendo a secagem da argamassa.
64
A argamassa D apresenta um desvio padrão demasiado alto. Este facto é justificado pelo facto de
num provete, entre dois dias seguidos ocorrer uma variação de massa muito grande, provavelmente
resultante da molhagem do provete circular aquando do transporte da câmara para a balança.
As camadas de revestimento mantêm-se aderentes aos tijolos passados 28 dias de idade, sem
qualquer tipo de destacamento. No fim do ensaio de aderência, a camada de revestimento contínua
aderente ao tijolo.
Após a realização das carotes e da colagem das pastilhas foi efectuado o ensaio de aderência, cujos
valores e tipologias de rotura são apresentados no quadro IV.12.
65
Quadro IV-12 – Valores da tensão de aderência e tipologia de rotura.
N (Número de determinações); A – cH1:ar (1:3); B – cH2:ar (1:3); C – cH3:ar (1:3); D – cH1:ca:ar (1:1:6); E – cH2:ca:ar (1:1:6);
F – cH3:ca:ar (1:1:6)
0,16
0,14
0,12
0,10
0,08
0,06
0,04
0,02
0,00
A B C D E F
Aderência
0,5
0,4
0,4
Rt, Aderência [MPa]
0,3
0,3
0,2
0,2
0,1
0,1
0,0
A B C D E F
Rt Aderência
66
De uma forma generalizada, a tensão de aderência de todas as argamassas é fraca uma vez que
todos os valores são inferiores a 0,15 MPa. Segundo Veiga, é usual para argamassas fracas se
atingir apenas 0,1 MPa. Nas alvenarias de tijolo é usual que os valores de resistência ao
arrancamento sejam no máximo 0,3 MPa, uma vez que se não ocorrer o arrancamento pela
argamassa, ocorre pelo suporte [42].
Os valores de aderência obtidos nas argamassas estudadas são semelhantes aos valores obtidos
com algumas argamassas de cimento (Aderência = 0,07 MPa [55]) e em argamassas bastardas de
cimento e cal aérea (Aderência = 0,1MPa [55]).
Fig. IV-17 – Tipologias de rotura observadas. Direita – rotura adesiva. Esquerda – rotura coesiva.
À excepção da argamassa A, todas as argamassas apresentam uma rotura coesiva, tendo a rotura
surge no interior do revestimento. Este facto denuncia que as argamassas são menos coesas do que
aderentes. O contrário se passa com a argamassa A, na qual a tipologia de rotura apresentada foi
principalmente adesiva, ou seja, a rotura ocorreu na interface revestimento suporte, não sendo uma
rotura favorável.
Na argamassa C, houve um provete em que se obteve um caso de rotura mista, numa parte foi por
aderência entre o suporte e o revestimento, e na outra parte foi no seio da argamassa.
67
IV.6.9 Envelhecimento
O ensaio de envelhecimento foi executado aproximadamente aos 40 dias de idade. Após os dois
ciclos, calor/chuva e gelo/degelo, as argamassas não apresentaram qualquer tipo de fendilhação,
indiciando um bom comportamento. Por outro lado, de um modo geral não apresentam uma
degradação acentuada. Apenas foi observada uma degradação ligeira e pouco significativa, tal como
se pode ver na fig. IV-19.
Simbologia Patologia Exemplificação
Degradação
moderada nos
cantos
Fig. IV-19 – Identificação e caracterização das patologias nos tijolos cerâmicos após o ensaio de
envelhecimento.
Após o ensaio de envelhecimento foi realizado o ensaio de aderência de forma a comparar com os
resultados obtidos aos 28 dias de idade.
Quadro IV-13 - Valores da tensão de aderência e tipologia de rotura, após o ensaio de envelhecimento.
68
0,16
Na realização do ensaio de aderência, houve algumas pastilhas que não foram devidamente coladas
e em vários provetes, a rotura deu-se na interface pastilha/argamassa. Provavelmente, este tipo de
rotura surgiu por origem de uma colagem deficiente. Nos provetes em que a rotura se deu na
interface argamassa/pastilha, os resultados foram desprezados. Ao se desprezar estes resultados, a
tensão de aderência apresentada corresponde à tensão de um só provete, conduzindo a um valor
individual, não se podendo propagar o resultado.
69
V. DESEMPENHO DAS ARGAMASSAS ESTUDADAS
Após a apresentação e análise de resultados efectuada no capítulo anterior, neste capítulo vai ser
realizada uma análise em termos de:
No presente trabalho foram utilizadas duas formulações distintas. Na primeira utilizou-se cal
hidráulica como ligante único no traço 1:3 (cH:ar), compreendendo as argamassas A, B e C. Na
segunda, manteve-se a mesma relação ligante/agregado, mas adicionou-se cal aérea à cal hidráulica
segundo o traço 1:1:6 (cH:ca:ar), correspondendo às argamassas D, E e F. Nesta análise, cada
formulação vai ser estudada independentemente de modo a apurar vantagens ou desvantagens de
cada uma.
As argamassas de cal hidráulica apresentam boas resistências iniciais, aos 14 dias de idade já
alcançaram mais do que 50% da sua resistência máxima. A resistência máxima, nas argamassas de
cal hidráulica NHL5 é alcançada aos 28 dias de idade enquanto na argamassa de cal hidráulica
HL3,5 é alcançada aos 90 dias de idade. Em todas as argamassas ocorre uma diminuição da
resistência a partir dessa idade. Devido às altas resistências iniciais, constituem boas soluções para
locais onde sejam aconselhadas boas resistências nos primeiros dias. Em comparação com as
argamassas bastardas, apresentam resistências mecânicas mais elevadas, acautelando o
destacamento do revestimento e uma maior resistência aos choques, podendo ser aplicada em locais
mais movimentados e mais susceptíveis a degradação.
70
de água no suporte prolongada. Por último, apresentam um bom desempenho face às condições
atmosféricas padronizadas no ensaio de envelhecimento.
As argamassas bastardas de cal hidráulica e cal aérea apresentam um valor bastante elevado de
retenção de água no estado fresco, indicando um bom comportamento quando são aplicadas em
condições atmosféricas adversas, tempo seco e quente ou em suportes muito absorventes. Estas
argamassas apresentam baixas resistências, à tracção, à compressão e de aderência. Por esse
motivo, não são muito aconselháveis para edifícios que se encontrem susceptíveis a choques. Por
outro lado, por possuírem baixas resistências constituem soluções reversíveis, não contribuindo para
a degradação do suporte, adaptando-se bem devido à sua boa ductilidade. Devido ao seu módulo de
elasticidade ligeiramente elevado são pouco apropriadas para suportes muito deformáveis, devido a
uma menor capacidade para acompanhar essas deformações. Refere-se ainda que apresentam um
bom comportamento à água pois a água que penetra é facilmente expulsa por evaporação uma vez
que apresentam um elevado valor de permeabilidade ao vapor de água. Tal como as argamassas de
cal hidráulica, também apresentam um bom comportamento no ensaio de envelhecimento,
denunciando um bom comportamento à água.
Na caracterização das argamassas, houve propriedades que foram determinadas em várias idades
de forma a se conhecer a sua evolução ao longo do tempo. Essas características foram: a massa
volúmica no estado endurecido (Mv); a resistência à compressão (Rc) e à tracção (Rt); o módulo de
elasticidade dinâmico (E) e o coeficiente de capilaridade (C.C.). No quadro V.1 estão apresentadas as
idades em que foram realizados os ensaios e os respectivos valores médios encontrados.
C.C.0-60
Mv [kg/m3] Rc [MPa] Rt [MPa] E [MPa]
[kg/m2.min1/2]
Argamassa
7-14-28-90-
7-14-28-63-90-180 7-14-28-90-180 14-28-63-90-180 28-90
180
1940-1690-1740- 0,4-0,7-1,2-0,6- 0,1-0,3-0,4- 1735-2143-
A 1,8-1,7
1720-1730-1720 0,4 0,3-0,2 5552-5086-4845
A – cH1:ar (1:3); B – cH2:ar (1:3); C – cH3:ar (1:3); D – cH1:ca:ar (1:1:6); E – cH2:ca:ar (1:1:6); F – cH3:ca:ar (1:1:6)
71
A massa volúmica aos 7 dias de idade apresenta um valor muito alto originado pelo tipo de cura (cura
húmida) e só a partir desta idade é que os provetes perdem a água livre da sua constituição. De
seguida, ocorre um ligeiro incremento até aos 60 dias de idade, provocado pelas reacções de
hidratação e formação dos novos compostos. A partir desta idade, a massa volúmica tende a manter-
se constante em todas as argamassas.
2000
1950
1900
Mv [kg/m3]
1850
1800
1750
1700
1650
1600
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Idade [dias]
A B C D E F
As resistências, tanto à compressão como à flexão, aumentam nas primeiras idades, apresentando
um andamento semelhante. As resistências à compressão crescem cerca de 2 a 3 vezes mais
rapidamente do que as resistências à flexão. Em todas as argamassas, é notório um incremento
bastante significativo até aos 28 dias de idade. Após esta idade, só se observa um incremento na
argamassa C, constituída pela cal cH3. Possivelmente, isto acontece por ser uma cal artificial, que é
fabricada com bastante controlo da composição das matérias-primas, conseguindo-se assim que a
resistência vá aumentando à medida que se avança na idade. Em todas as argamassas, incluindo a
C, as resistências dos 90 para os 180 dias de idade diminuem. Isto pode ser justificado pelo facto de
estarem demasiado tempo expostas a um ambiente seco, sem a presença de água, prejudicando a
eventual continuação da hidratação e favorecendo o surgimento de alguma micro-fissuração.
72
1,8
0,7
0,6 1,5
0,5 1,2
Rc [MPa]
Rt [MPa]
0,4 0,9
0,3
0,6
0,2
0,3
0,1
0,0 0,0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Fig. V-2 – Evolução da resistência à tracção com a idade (à esquerda). Evolução da resistência à
compressão com a idade (à direita).
Como já foi referido no subcapítulo IV.6.3, os valores obtidos para as idades mais jovens (14 e 28
dias de idade) apresentam grandes oscilações, considerando-se anómalos. Esta variabilidade poderá
estar relacionada com a presença de humidade nos provetes, que tendencialmente diminui a partir
dos 28 dias de idade, permitindo a obtenção de valores coerentes. A partir dos 63 dias de idade, os
módulos de elasticidade dinâmicos tendem a manter-se constantes em todas as argamassas.
9000
8000
7000
6000
E [MPa]]
5000
4000
3000
2000
1000
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Idade [dias]
A B C D E F
Nas argamassas de cal hidráulica de ligante único (A, B e C), os coeficientes de capilaridade
diminuem com a idade, enquanto os coeficientes de capilaridade das argamassas bastardas (D, E e
F), aumentam com a idade. Como já foi referido, isto acontece porque os provetes ensaiados aos 28
dias de idade das argamassas bastardas, foram produzidos com um lote de areia diferente, com
granulometria mais fina do que a utilizada na produção dos outros provetes. A utilização de uma areia
mais fina, provoca a diminuição do tamanho dos poros condicionando/diminuindo a velocidade de
absorção nos momentos inicias. O esperado, era que em todas as argamassas, o coeficiente de
capilaridade diminuísse com a idade, provocando uma melhoria nas condições de absorção de água
do revestimento. Assim, a velocidade de absorção inicial de água por capilaridade é influenciada pela
porometria da argamassa. Quanto maior for a porosidade total do material maior a absorção total. Por
outro lado, quanto maiores forem os poros (dentro da gama capilar), mais fácil e rápida é a
73
penetração e percolação de água. No presente estudo não foi possível caracterizar a estrutura porosa
das argamassas.
2,4
2,2
Cc10-60 [kg/m2.min1/2]
2,0
1,8
1,6
1,4
1,2
1,0
20 30 40 50 60 70 80 90 100
Idade [dias]
A B C D E F
A interacção entre as características das argamassas vai ser realizada em duas idades, aos 28 dias
de idade, aos 90 dias de idade e em alguns casos aos 180 dias de idade.
A tensão de compressão pode ser relacionada com a tensão de tracção por flexão. Nas idades
apresentadas, 28, 90 e 180, verifica-se que quando a tensão de compressão aumenta, a tensão de
tracção por flexão também aumenta. O coeficiente de correlação aos 28 dias de idade é inferior ao
coeficiente dos 90 dias de idade e ao coeficiente dos 180 dias de idade. Isto acontece por serem
argamassas de cal, e por isso demoram mais tempo a alcançar características estáveis.
0,7
0,4 R² = 0,8454
0,3
y (28 dias)= 0,2487x + 0,0912
0,2 R² = 0,7885
0,1
0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
Rc [MPa]
28 dias 90 dias 180 dias
Linear (28 dias) Linear (90 dias) Linear (180 dias)
74
As tensões à tracção e à compressão podem ser correlacionadas com o respectivo módulo de
elasticidade dinâmico. Ao contrário do que seria expectável, este parece aumentar à medida que as
referidas tensões diminuem. Existe uma relação elevada entre a tensão de compressão e o módulo
de elasticidade, sendo maior aos 90 dias de idade do que aos 180 dias de idade, assim como
acontece na relação Rt/Rc.
6000
y (90 dias) = -1282,6x + 5785,1 6000
y (90 dias) = -3403,2x + 5818,7
5000 R² = 0,7172
5000 R² = 0,7329
4000 4000
E [MPa]
E [MPa]
3000 R² = 0,5809 3000 y (180 dias) = -2310,9x + 5270,2
R² = 0,3851
2000 2000
1000 1000
0 0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8
Rc [MPa] Rt [MPa]
90 dias 180 dias 90 dias 180 dias
Linear (90 dias) Linear (180 dias) Linear (90 dias) Linear (180 dias)
Fig. V-6 – Relação entre a resistência à compressão e o módulo de elasticidade (esquerda). Relação entre a
resistência à tracção e módulo de elasticidade (direita).
2,5
2,5
R² = 0,1275
1,5 1,5
y (90 dias) = -1282,6x + 5785,1
1,0 y (90 dias) = -3403,2x + 5818,7
R² = 0,7172 1,0 R² = 0,7329
0,5 0,5
0,0 0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8
Rc [MPa] Rt [MPa]
Fig. V-7 - Relação entre a resistência à compressão e o coeficiente de capilaridade (esquerda). Relação entre a
resistência à tracção e o coeficiente de capilaridade (direita).
75
As argamassas de cal são argamassas porosas que normalmente apresentam elevada capacidade
de absorção de água, avaliada pelo coeficiente de capilaridade. Interessa averiguar se nas
argamassas que apresentam elevada tendência a absorver água por capilaridade, esta água se
dissipa por evaporação, evitando uma permanência prolongada no suporte. Uma boa permeabilidade
ao vapor favorece a evaporação de água, facilitando a secagem da parede. Por esse motivo convém
conjugar o valor da permeabilidade ao vapor de água com o coeficiente de capilaridade, como se
pode ver na fig. V-8.
31 2,5
30
Permeabilidade (ng/m.s.Pa)
Cc10-60 (Kg/m2.min1/2)
2
29
28 1,5
27
26 1
25
0,5
24
23 0
A B C D E F
Fig. V-8 – Relação do coeficiente de capilaridade com o valor da permeabilidade ao vapor de água,
na idade de 90 dias de idade.
76
3,05
3,00
Fig. V-9 – Relação entre o coeficiente de capilaridade calculado com cera e sem cera.
Os resultados levam a induzir que a tensão de aderência aumenta com a tensão à compressão e
tracção. Contudo, os resultados não são, só por si, conclusivos porque o factor de correlação é baixo
e porque é necessário considerar a tipologia de rotura para seleccionar uma argamassa.
0,16 0,16
0,14 0,14
y (28 dias) = -5732,8x + 5269,5
0,12 0,12 R² = 0,1275
Aderência [MPa]
Aderência [MPa]
0,1 0,1
0,04 0,04
0,02 0,02
0 0
0,0 0,5 1,0 1,5 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
Rc [MPa] Rt [MPa]
Fig. V-10 – Relação entre a resistência à compressão e a aderência (esquerda). Relação entre a resistência à
tracção e a aderência (esquerda).
Neste subcapítulo vai ser analisada a adequação das argamassas estudadas para revestimentos de
edifícios antigos e para edifícios recentes.
77
V.5.1 Argamassas de substituição para edifícios antigos
A análise vai ser realizada tendo por base dois pontos de vista: as características necessárias para
proteger as alvenarias antigas e as características necessárias para prevenir a degradação do
revestimento.
A protecção das paredes de alvenaria antiga, a nível mecânico é avaliada através da obtenção de
soluções compatíveis com o suporte. Deste modo é aconselhável a utilização de argamassas com
resistências baixas e elevada deformabilidade (baixo módulo de elasticidade). Todas as argamassas
apresentam baixas resistências mecânicas, tanto à compressão como à tracção. Só as argamassas
C e D apresentam a deformabilidade aconselhável para não introduzir demasiadas tensões no
suporte. As restantes argamassas são demasiado rígidas para suportes bastante deformáveis.
Relativamente à tensão de aderência, em geral é baixa, favorecendo a reversibilidade da solução,
evitando a degradação do suporte no caso de ser necessário substituir o revestimento. Contudo, a
argamassa A não é aconselhável por apresentar uma rotura adesiva pelo suporte. Este facto dificulta
a substituição da argamassa sem a consequente degradação do suporte. Para além das
características mecânicas é necessário averiguar o comportamento das argamassas em relação à
água de modo a evitar que a água penetre facilmente ou então, a água que penetre seja facilmente
expulsa por evaporação do vapor de água. As argamassas estudadas apresentam coeficientes de
capilaridade consideravelmente altos, facilitando a penetração de água até ao suporte, com excepção
da argamassa C. A argamassa A e E apresentam um coeficiente de capilaridade superior ao
recomendado, possibilitando uma excessiva entrada de água no suporte, favorecendo a sua
degradação. Nas argamassas bastardas, a permeabilidade ao vapor de água é bastante elevada,
possibilitando a secagem da parede por evaporação. A argamassa C apresenta um baixo valor de
permeabilidade ao vapor de água. Contudo, isso não é prejudicial porque é conjugado com um
coeficiente de capilaridade também baixo, constituindo uma boa solução. Assim, para protecção de
paredes, as argamassas mais indicadas são as argamassas C e D.
78
Deste modo, tendo em conta a protecção das paredes e a constituição de uma solução durável, as
argamassas C e D são as mais apropriadas para revestimentos de paredes antigas. Enquanto que
para juntas, só a argamassa C cumpre os requisitos.
A verificação da adaptação das argamassas para edifícios antigos pode ser realizada a partir dos
requisitos apresentados no Quadro II.1 e encontra-se expressa no Quadro V.2.
Quadro V.2 – Análise da adequação das argamassas para revestimentos de edifícios antigos.
0,15
C 0,6 1,6 3697 0,07 8,2
Rotura coesiva
A partir do Quadro II.2, vai-se observar se as argamassas formuladas são adequadas para serem
utilizadas para argamassas de edifícios recentes.
As argamassas estudadas apresentam uma resistência de tracção baixa. Para edifícios recentes,
esse valor deveria ser preferencialmente mais alto de modo a ser compatível com o suporte, que em
79
comparação com os suportes antigos, apresenta maior resistência mecânica e menor
deformabilidade. Deste modo, tendo em conta, que as resistências à tracção são baixas, as
argamassas estudadas não são apropriadas para revestimentos de edifícios recentes.
Quadro V.3 – Análise da adequação das argamassas para revestimentos de edifícios recentes
Intervalo de
Verificação da
Normalização Característica valores obtidos no
normalização
ensaio
Resistência à compressão Rc
0,4 < Rc < 1,6 CSI
(MPa)
Coeficiente de capilaridade CC
EN 998-1 0,90 < CC <1,58 W0
(kg/m2.min1/2)
As argamassas de cal hidráulica apresentam elevadas resistências iniciais. Quando comparadas com
as argamassas bastardas estudadas apresentam: resistências mecânicas mais elevadas, sendo mais
apropriadas para aplicar em locais mais movimentados e mais susceptíveis a degradação; módulos
de elasticidade dinâmicos inferiores indiciando que são mais deformáveis evitando uma transmissão
de esforços excessiva para o suporte. Todas as argamassas estudadas apresentam um bom
comportamento à água padronizado por uma boa conjugação do coeficiente de capilaridade com a
permeabilidade ao vapor de água, e por um bom comportamento no ensaio de envelhecimento.
A partir do momento em que a água livre presente nos provetes evapora, tende a aumentar até aos
63 dias de idade, a massa volúmica mantém-se constante até ao final do ensaio. As resistências,
tanto à compressão como à flexão aumentam até aos 28 dias de idade e posteriormente tendem a
80
diminuir. O módulo de elasticidade atinge valores aceitáveis a partir dos 63 dias de idade, mantendo-
se constante até aos 180 dias de idade. O coeficiente de capilaridade diminui com a idade nas
argamassas só de cal hidráulica, enquanto nas bastardas aumenta.
Como argamassas de revestimento para edifícios de alvenaria antiga, só duas, C e D, são adequadas
segundo os requisitos estabelecidos em estudos anteriores. Apesar de não verificarem todos os
requisitos, as outras argamassas também podem ser utilizadas, consoante as particularidades do
suporte. Relativamente à sua utilização como argamassas de revestimento em edifícios recentes, já
não são muito adequadas porque estes edifícios são constituídos por suportes fortes e rígidos. Neste
caso poderão talvez ser usadas argamassas de cal hidráulica em mistura com cimento.
81
VI. CONCLUSÃO E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
Ao concluir este trabalho, considera-se que os objectivos estabelecidos no capítulo introdutório foram
alcançados, pelo que foi possível: conhecer a influência do tipo de cal hidráulica no desempenho das
argamassas estudadas; estudar a evolução das características físicas e mecânicas das argamassas
ao longo do tempo, detectando comportamentos distintos e por último, estudar a adequabilidade das
argamassas formuladas para revestimento de edifícios recentes e edifícios antigos.
A partir da pesquisa bibliográfica realizada foi possível apreender que a formulação de uma
argamassa de revestimento deve ser cuidada de modo a ser compatível com o suporte, contribuindo
e incrementando a durabilidade da solução de revestimento. O bom desempenho de uma argamassa
de revestimento depende da conjugação de vários factores, tais como: formulação da argamassa;
constituintes da argamassa; condicionamento dos materiais; condições de cura; quantidade de água
e técnicas de aplicação. A cal hidráulica, como ligante único ou misturada com cal aérea, surge como
uma possível opção para a aplicação em revestimentos de edifícios antigos e edifícios recentes.
82
das resistências. Os resultados indiciam que as argamassas de cal hidráulica, a partir dos 28 dias de
idade nas NHL5 e a partir dos 90 nas HL3,5 tendem a diminuir as características mecânicas.
Contudo, este resultado deve ser confirmado e entendido. Suspeita-se que seja devido à matéria-
prima de origem das várias cais e das reacções de hidratação, mas neste trabalho não houve
oportunidade de analisar estes parâmetros. Os resultados obtidos para o módulo de elasticidade
também apresentam umas oscilações até aos 63 dias de idade, causadas pela presença de
humidade que condiciona a viabilidade do ensaio. A partir desta idade, os resultados obtidos já são
coerentes, indiciando que as argamassas só de cal hidráulica são mais deformáveis que as
argamassas bastardas.
Das seis argamassas estudadas, só duas argamassas (C e D) são adaptáveis para argamassas de
substituição em edifícios antigos, segundo requisitos estabelecidos em estudos anteriores. Estes
resultados não são totalmente conclusivos por vários motivos. O primeiro é que segundo os requisitos
apresentados também é aconselhável a realização do ensaio de retracção restringida e os ensaios
com o humidímetro. Por outro lado, o bom desempenho da solução de revestimento também
depende das condições de aplicação, características do suporte, condicionamento dos materiais,
condicionantes que não foram consideradas nesta análise. Deste modo, as argamassas C e D
indiciam um bom desempenho como argamassas de substituição para edifícios antigos. As outras
argamassas apesar de não satisfazerem todos os requisitos, também indiciam a possibilidade de
serem aplicadas em casos pontuais, conforme o suporte.
As argamassas estudadas, segundo o relatório do LNEC 427/05 não são muito aconselháveis para
argamassas de revestimento em edifícios recentes, porque estas argamassas são caracterizadas por
uma resistência à tracção baixa, e segundo aquele relatório deveria ser preferencialmente elevada.
As paredes de edifícios recentes são, normalmente, rígidas e fortes mecanicamente. Para o
revestimento não destacar com facilidade é aconselhável a utilização de argamassas de revestimento
com resistência à tracção relativamente elevadas e módulo de elasticidade de ordem de grandeza
semelhante à do suporte. Para fazer uma avaliação mais precisa, segundo o quadro II.2 – Funções e
exigências de rebocos correntes para edifícios novos e características das argamassas a usar, era
necessário realizar mais alguns ensaios: permeabilidade à água sob pressão, retracção e o ensaio de
retracção restringida.
83
VI.3. Propostas para desenvolvimentos futuros
Os resultados obtidos neste trabalho de base experimental podem ser bastante interessantes para
algumas entidades da construção, mas poderão ser muito mais úteis se forem validados,
compreendidos e complementados com outros ensaios. Por isso, este estudo, para ter aplicabilidade
significativa neste sector deverá ser continuado. Assim, apresentam-se algumas propostas para
desenvolvimentos futuros:
• Análise das argamassas formuladas com utilização de diferentes misturas de areia, como
exemplo, substituição parcial da areia de rio por areia de areeiro.
• Validação do ensaio de absorção de água por capilaridade com recurso a semi provetes sem
cera realizando uma vasta campanha experimental utilizando vários materiais, formulações e
um menor intervalo entre medições.
84
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90
Anexos
i
Anexo I – Análise granulométrica da areia
ii
Anexo II – Resultados individuais para cada tipo de argamassa.
(1:1:6).
(1:1:6).
(1:1:6).
iii
A – Argamassa A – Argamassa de cal hidráulica (cH1:ar) no traço (1:3).
iv
Massas dos provetes medidas para o ensaio de capilaridade.
v
B - Argamassa B – Argamassa de cal hidráulica (cH2:ar) no traço (1:3).
vi
Massas dos provetes medidas para o ensaio de capilaridade.
vii
C – Argamassa C – Argamassa de cal hidráulica (cH3:ar) no traço (1:3).
viii
Massas dos provetes medidas para o ensaio de capilaridade.
ix
D – Argamassa D – Argamassa bastarda de cal hidráulica e cal aérea (cH1:ca:ar) no traço
(1:1:6).
x
Massas dos provetes medidas para o ensaio de capilaridade.
xi
E – Argamassa E – Argamassa bastarda de cal hidráulica e cal aérea (cH2:ca:ar) no traço
(1:1:6).
Dados obtidos no ensaio de compressão e flexão por tracção.
xii
Massas dos provetes medidas para o ensaio de capilaridade.
xiii
F - Argamassa F – Argamassa bastarda de cal hidráulica e cal aérea (cH3:ca:ar) no traço
(1:1:6).
xiv
Massas dos provetes medidas para o ensaio de capilaridade, em gramas.
xv