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ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES

PRÉ-FABRICADOS DE BETÃO ARMADO, PÓS-TENSIONADOS

Ana Rita Conrado Pimenta da Silva Pereira

Dissertação apresentada na
Faculdade de Ciências e Tecnologia
para a obtenção do grau de
Mestre em Engenharia Civil – Perfil de Estruturas

Orientador: Doutor António Lopes Batista

Júri:
Presidente: Doutor Corneliu Cismasiu

Vogais: Doutor Válter José da Guia Lúcio

Doutor António Lopes Batista

Lisboa
Dezembro 2010
Agradecimentos

Ao longo desta dissertação pude contar com o apoio de várias pessoas, que contribuíram para
o sucesso deste trabalho. Em particular, gostaria de manifestar os meus mais sinceros
agradecimentos:

Ao Professor Doutor António Lopes Batista, orientador científico desta dissertação, pela
orientação, disponibilidade e por todo o apoio;

A todos os meus colegas e amigos, que estiveram sempre presentes, e me transmitiram


sempre a motivação para conseguir chegar ao fim. Muito obrigada pela vossa amizade.

Por fim, gostaria de agradecer e dedicar o meu trabalho aos meus pais, pela sua amizade e
pelo apoio que sempre me prestaram ao longo de todo o meu percurso como estudante. Sem
eles, nunca teria conseguido chegar aqui.

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Resumo
Os reservatórios são estruturas bastante comuns, estando normalmente associados a funções
de regulação de caudais e de pressões, bem como a redes de abastecimentos de água e rega.
Das várias tipologias de reservatórios apoiados no terreno, as soluções pré-fabricadas de
betão armado, pós-tensionadas, têm alguma divulgação mas são das menos estudadas.

Nesta dissertação pretende-se estudar o desempenho estrutural deste tipo de reservatórios,


quando construídos com painéis nervurados, dando especial ênfase às nervuras e às juntas
que separam os elementos pré-fabricados, já que são os aspectos diferenciadores
relativamente às soluções betonadas in situ.

Abordam-se as características relevantes das soluções pré-fabricadas pós-tensionadas e os


principais aspectos da análise estrutural, nomeadamente os métodos de pré-dimensionamento
e o método dos elementos finitos. Para consideração da interacção dinâmica estrutura – líquido
armazenado, adaptou-se o método de Newmark & Rosenblueth, de forma a generalizar a sua
utilização em modelos tridimensionais.

Os estudos foram desenvolvidos através da análise detalhada de dois casos, correspondentes


a um reservatório baixo, com altura igual ao seu raio, e a um reservatório alto, com altura igual
ao seu diâmetro, tendo-se para tal recorrido ao programa de cálculo automático SAP2000.

Comprovou-se que os reservatórios estudados têm um comportamento bastante diferente dos


betonados in situ, essencialmente devido à geometria poligonal, à presença de ligações entre
elementos pré-fabricados, à existência de nervuras horizontais (para facilitar a distribuição de
pré-esforço circunferencial) e aos diferentes tipos de ligação à laje de fundo.

Palavras-chave: Reservatórios circulares, Pós-tensão, Pré-fabricação

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Abstract
Reservoirs are very common structures, normally associated to flow and pressure regulation,
and also for water supply and irrigation networks. From the innumerous ground based water
reservoirs, the precast and prestressed concrete structures are one of the most known, but
quite poorly studied.

In this dissertation it is intended to study the structural performance of this type of reservoirs,
when built with ribbed panels, paying special attention to the ribs and joints that separate the
precast elements, since they are the elements that differ precast and cast in place concrete
reservoirs.

An approach is made of the relevant characteristics of the precast and prestressed solutions
and the principle structural analysis aspects, particularly the pre-design and finite element
methods. Concerning the dynamic interaction between the structure and the liquid stored, the
Newmark & Rosenblueth method was used, which is widely applicable to three-dimensional
models.

The studies involved two highly detailed analyses concerning a low reservoir (same height and
radius) and an high reservoir (same height and diameter), using the commercial finite element
software SAP2000 is used.

It was proved that the reservoirs studied, have quite a different behavior compared to the ones
cast in place, due to the polygonal geometry, the presence of connections between the
precasted concrete panels, the existence of horizontal ribs (that simplify the distribution of the
circumferential prestressing) and finally because of the different type of connections to the base
slab.

Key words: Cylindrical tanks, Prestress, Precast

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Índice
1 Introdução ............................................................................................................................ 1

1.1 Considerações gerais .................................................................................................... 1

1.2 Utilização de reservatórios pré-fabricados de betão armado, pós-tensionados, em


Portugal ..................................................................................................................................... 2

1.3 Objectivos ...................................................................................................................... 4

1.4 Organização da dissertação .......................................................................................... 4

2 Soluções estruturais de reservatórios cilíndricos de betão armado, pré-fabricados . 7

2.1 Considerações gerais .................................................................................................... 7

2.2 Reservatórios pré-fabricados de betão armado ............................................................ 8

2.3 Reservatórios pré-fabricados de betão armado pós-tensionados ................................ 8

2.4 Dimensões dos painéis pré-fabricados e dos reservatórios ....................................... 11

2.5 Características das argamassas de ligação ............................................................... 13

2.5.1 Generalidades ..................................................................................................... 13

2.5.2 Parâmetros que influenciam a ligação entre painéis pré-fabricados .................. 14

2.6 Ligação dos painéis à laje de fundação ...................................................................... 16

2.6.1 Tipos de ligação dos painéis à laje de fundação ................................................ 16

2.6.2 Características estruturais das ligações à laje de fundação ............................... 17

2.6.3 Aspectos construtivos da ligação dos painéis à laje de fundação ...................... 19

3 Acções de projecto ........................................................................................................... 23

3.1 Considerações gerais .................................................................................................. 23

3.2 Acções permanentes ................................................................................................... 24

3.2.1 Peso próprio ........................................................................................................ 24

3.2.2 Pré-esforço .......................................................................................................... 24

3.3 Acções variáveis.......................................................................................................... 26

3.3.1 Pressão hidrostática ............................................................................................ 26

3.3.2 Variações de temperatura ................................................................................... 27

3.3.3 Acção sísmica ..................................................................................................... 30

4 Métodos de análise e dimensionamento ........................................................................ 37

4.1 Considerações gerais .................................................................................................. 37

vii
4.2 Aspectos condicionantes do dimensionamento .......................................................... 37

4.3 Métodos simplificados de cálculo ................................................................................ 38

4.3.1 Análise de cascas cilíndricas com simetria de revolução ................................... 38

4.3.2 Cálculo dos efeitos da pressão hidrostática ........................................................ 39

4.3.3 Cálculo dos efeitos das variações de temperatura ............................................. 43

4.3.4 Análise dos efeitos do pré-esforço ...................................................................... 44

4.3.5 Acções dinâmicas................................................................................................ 49

4.4 Análise estrutural pelo método dos elementos finitos ................................................. 54

4.4.1 Generalidades ..................................................................................................... 54

4.4.2 Elementos finitos a utilizar na análise de reservatórios ...................................... 55

4.4.3 Análises estática e dinâmica pelo método dos elementos finitos ....................... 57

4.4.4 Adaptação do método de Newmark & Rosenblueth para utilização em


programas de elementos finitos .......................................................................................... 59

5 Análise de casos de estudo ............................................................................................. 61

5.1 Considerações gerais .................................................................................................. 61

5.2 Descrição dos casos de estudo .................................................................................. 61

5.3 Modelos estruturais dos reservatórios ........................................................................ 63

5.3.1 Análise para as acções estáticas ........................................................................ 63

5.3.2 Análise dinâmica para acções sísmicas.............................................................. 71

5.4 Apresentação e análise dos resultados ...................................................................... 74

5.4.1 Acções estáticas.................................................................................................. 75

5.4.2 Acções sísmicas ................................................................................................ 113

6 Considerações finais ...................................................................................................... 121

7 Referências ...................................................................................................................... 125

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Índice de Figuras
Figura 1.1 - Reservatório pré-fabricado de betão armado pós-tensionado do Hotel Vila Galé, em
Beja. .............................................................................................................................................. 3

Figura 1.2 - Reservatório pré-fabricado de betão armado pós-tensionado de Santa Ana, em


Seia. .............................................................................................................................................. 3

Figura 2.1 - Ligação entre os painéis utilizando argamassa nas juntas verticais. ........................ 7

Figura 2.2 - Reservatórios da patente Paver, constituídos por painéis pré-fabricados de betão
armado de planta quadrangular, à esquerda, e de planta circular, ao centro/direita. (fotografia
retirada do site da empresa MEBEP) ............................................................................................ 8

Figura 2.3 – Vista de reservatório pré-fabricado com painéis dotados de nervuras periféricas,
com pré-esforço interior aderente, e pormenor do painel (fotografia retirada do catálogo da
Shay Murtagh). .............................................................................................................................. 9

Figura 2.4 – Vista de reservatório pré-fabricado com painéis nervurados, pós-tensionado com
cordões auto-embainhados exteriores, e pormenor do painel nervurado (patente Acontank). .... 9

Figura 2.5 - Distribuição dos cabos de pré-esforço num reservatório pré-fabricado. (Fotografia
retirada do site da empresa Perstrup) ......................................................................................... 10

Figura 2.6 - Pormenor das ancoragens, embebidas no betão das nervuras verticais, dos
cordões de pré-esforço circunferenciais, interiores ou exteriores. ............................................. 10

Figura 2.7 – Vista das ancoragens móveis exteriores (em cruz) dos cordões de pré-esforço
circunferenciais.(patente Acontank). ........................................................................................... 11

Figura 2.8 – Diâmetros de reservatórios alcançados pela Acontank, variando o número de


painéis acoplados. (Catálogo Acontank) ..................................................................................... 12

Figura 2.9 - Modelo utilizado para estudar o desempenho das argamassa de ligação (Ramos
Barboza, 2001) ............................................................................................................................ 15

Figura 2.10 – Diferenças entre os tipos de ligação painel – laje ................................................ 17

Figura 2.11 – Ligação flexível na base das paredes do reservatório, realizada com aparelhos de
apoio em neoprene cintado, e utilização de uma tela de impermeabilização para garantir a
estanquidade (adaptado de VSL, 1983) ..................................................................................... 18

Figura 2.12 – Apoio radial flexível na base das paredes do reservatório, para a acção do pré-
esforço, conseguido através da betonagem em segunda fase de um anel interior da laje de
fundo (adaptado de VSL, 1983 ................................................................................................... 18

Figura 2.13 – Montagem dos painéis de um reservatório pré-fabricado (Catálogo da Stresscret -


Precast Concrete) ....................................................................................................................... 19

ix
Figura 2.14 – Pormenor construtivo de uma ligação de continuidade entre o painel e a laje e
idealização estrutural de encastramento. ................................................................................... 20

Figura 2.15 – Pormenor construtivo de uma ligação apoiada do painel à laje e idealização
estrutural com apoio fixo. ............................................................................................................ 20

Figura 2.16 – Pormenor construtivo de uma ligação horizontal flexível entre o painel e a laje e
idealização estrutural dessa ligação. .......................................................................................... 21

Figura 3.1 - Diagrama tensões – extensões do aço de pré-esforço (EN1992-1-1, 2010) .......... 25

Figura 3.2 – Distribuição das pressões hidrostáticas numa parede de um reservatório (Montoya,
Meseguer, & Cabré, 2000) .......................................................................................................... 27

Figura 3.3 – Representação das parcelas consideradas nas variações de temperatura de uma
secção de peça linear (Luís, 2005) ............................................................................................. 28

Figura 3.4 – Curvatura das paredes de um reservatório devido à acção da temperatura


diferencial (Baikov et al., 1978) ................................................................................................... 29

Figura 3.5 - Zonamento sísmico de Portugal (Anexo Nacional EN1998-1, 2010) ...................... 31

Figura 3.6 - Espectro de resposta elástica para as acções horizontais, para um terreno tipo A
(EN1998-1, 2010) ........................................................................................................................ 33

Figura 3.7 - Espectro de resposta elástica do sismo tipo 1, para os diferentes tipos de terreno
(EN1998-1, 2010) ........................................................................................................................ 34

Figura 3.8 - Espectro de resposta elástica do sismo tipo 2, para os diferentes tipos de terreno
(EN1998-1, 2010) ........................................................................................................................ 34

Figura 4.1 - Esforços actuantes numa casca com simetria de revolução (Timoshenko &
Woinowsky-Krieger, 1959) .......................................................................................................... 38

Figura 4.2 - Casca cilíndrica solicitada por uma pressão interna linearmente variável (Vilardell I
Vallès, 1994)................................................................................................................................ 41

Figura 4.3 - Esforços na parede de um reservatório cilíndrico (Montoya, Meseguer & Cabré,
2000) ........................................................................................................................................... 42

Figura 4.4 – Simulação dos efeitos da pressão hidrostática e do pré-esforço, considerando o


critério de Load Balancing Prestressing ...................................................................................... 45

Figura 4.5 - Comparação das funções tipo R.B.P. e tipo L.B.P. (Vilardell, Aguado de Cea &
Mirambell, 1994) .......................................................................................................................... 45

Figura 4.6 - Casca cilíndrica solicitada por forças pontuais uniformemente distribuídas
radialmente (Vilardell I Vallès, 1994) .......................................................................................... 49

Figura 4.7 - Representação esquemática do comportamento hidrodinâmico (Mendes, 2000) .. 50

x
Figura 4.8 – Sentido das sobrepressões dinâmicas num reservatório cilíndrico (Mendes, 2000)
..................................................................................................................................................... 51

Figura 4.9 - Modelo considerado no método de Newmark & Rosenblueth para da análise modal
do reservatório............................................................................................................................. 53

Figura 4.10 – Elementos com funções de interpolação d 1º grau e do 2º grau.......................... 56

Figura 4.11 - Elemento com incompatibilidade de deslocamento a) e elementos com número


variável de nós b) (Vieira de Lemos, 2005) ................................................................................ 56

Figura 4.12 - Pontos de integração para a regra de Gauss 2x2 (Vieira de Lemos, 2005) ......... 58

Figura 4.13 - Esquema utilizado para o cálculo da rigidez de cada na generalização do método
de Newmark & Rosenblueth........................................................................................................ 59

Figura 5.1 – Alçados dos painéis pré-fabricados dos reservatórios baixo (a) e alto (b), e corte
horizontal do painel de ambos os reservatórios (c). ................................................................... 62

Figura 5.2 – Discretização em elementos finitos dos painéis e juntas do reservatório baixo (a) e
do reservatório alto (b), em SAP2000 ......................................................................................... 63

Figura 5.3 – Nervuras modeladas com elementos lineares (a) e cabos de pré-esforço
considerados (b) no reservatório baixo, em SAP2000................................................................ 64

Figura 5.4 – Nervuras modeladas com elementos lineares (a) e cabos de pré-esforço
considerados (b) no reservatório alto, em SAP2000 .................................................................. 64

Figura 5.5 – Ligação elástica na base das paredes utilizando lâminas de elastómero. ............. 65

Figura 5.6 - Diagrama de variação das tensões ao longo da parede do reservatório, devidas à
variação uniforme de temperatura, usado como hipótese de pré-dimensionamento ................. 67

Figura 5.7 – Malhas utilizadas para a análise dinâmica do reservatório baixo (a) e do
reservatório alto (b), em SAP2000 .............................................................................................. 72

Figura 5.8 – Espectros de resposta elástica para as zonas sísmicas 1.3 e 2.3 e terreno tipo B.
..................................................................................................................................................... 74

Figura 5.9 - Tensões circunferenciais provocadas pelas acções estáticas, ao longo da altura
dos painéis, na face exterior do reservatório baixo..................................................................... 76

Figura 5.10 - Tensões circunferenciais provocadas pelas acções estáticas, ao longo da altura
das juntas, na face exterior do reservatório baixo. ..................................................................... 76

Figura 5.11 - Tensões circunferenciais provocadas pelas acções estáticas, ao longo da altura
dos painéis, na face interior do reservatório baixo...................................................................... 77

Figura 5.12 - Tensões circunferenciais provocadas pelas acções estáticas, ao longo da altura
das juntas, na face interior do reservatório baixo. ...................................................................... 77

Figura 5.13 – Deslocamentos (mm) do reservatório baixo, devidos à pressão hidrostática PH. 79

xi
Figura 5.14 – Deslocamentos (mm) do reservatório baixo sem isolamento térmica, devidos à
acção do pré-esforço PE1. .......................................................................................................... 79

Figura 5.15 – Deslocamentos (mm) do reservatório baixo, devidos à acção da variação


uniforme de temperatura VUT. .................................................................................................... 80

Figura 5.16 – Deslocamentos (mm) do reservatório baixo sem isolamento térmico, devidos à
acção da variação diferencial de temperatura VDT1. ................................................................. 80

Figura 5.17 – Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-
esforço, ao longo da altura dos painéis, na face exterior do reservatório baixo. ........................ 82

Figura 5.18 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-
esforço, ao longo da altura das juntas, na face exterior do reservatório baixo. ......................... 82

Figura 5.19 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-
esforço, ao longo da altura dos painéis, na face interior do reservatório baixo.......................... 83

Figura 5.20 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-
esforço, ao longo da altura das juntas, na face interior do reservatório baixo. .......................... 83

Figura 5.21 – Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face exterior dos painéis do reservatório baixo. ......................... 84

Figura 5.22 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face interior dos painéis do reservatório baixo. .......................... 85

Figura 5.23 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face exterior das juntas do reservatório baixo. ........................... 86

Figura 5.24 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face interior das juntas do reservatório baixo. ............................ 86

Figura 5.25 - Tensões circunferenciais devidas às acções estáticas, ao longo da altura dos
painéis, na face exterior do reservatório alto. ............................................................................. 87

Figura 5.26 - Tensões circunferenciais devidas às acções estáticas, ao longo da altura das
juntas, na face exterior do reservatório alto. ............................................................................... 88

Figura 5.27 - Tensões circunferenciais devidas às acções estáticas, ao longo da altura dos
painéis, na face interior do reservatório alto. .............................................................................. 89

Figura 5.28 - Tensões circunferenciais devidas às acções estáticas, ao longo da altura das
juntas, na face interior do reservatório alto. ................................................................................ 89

Figura 5.29 – Deslocamentos (mm) do reservatório alto, devidos à acção da pressão


hidrostática PH. ........................................................................................................................... 90

Figura 5.30 – Deslocamentos (mm) do reservatório alto sem isolamento térmico, devidos à
acção do pré-esforço PE1. .......................................................................................................... 90

xii
Figura 5.31 – Deslocamentos (mm) do reservatório alto devidos à acção da variação uniforme
de temperatura VUT. ................................................................................................................... 91

Figura 5.32 – Deslocamentos (mm) do reservatório alto sem isolamento térmico, devidos à
acção da variação diferencial de temperatura VDT1. ................................................................. 91

Figura 5.33 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-
esforço, ao longo da altura dos painéis, na face exterior do reservatório alto. .......................... 92

Figura 5.34 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-
esforço, ao longo da altura das juntas, na face exterior do reservatório alto. ............................ 93

Figura 5.35 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-
esforço, ao longo da altura dos painéis, na face interior do reservatório alto. ........................... 93

Figura 5.36 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-
esforço, ao longo da altura das juntas, na face interior do reservatório alto. ............................. 94

Figura 5.37 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face exterior dos painéis do reservatório alto. ............................ 95

Figura 5.38 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face interior dos painéis do reservatório alto. ............................. 95

Figura 5.39 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face exterior das juntas do reservatório alto. .............................. 96

Figura 5.40 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face interior das juntas do reservatório alto. ............................... 97

Figura 5.41 – Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura dos painéis, na
face exterior do reservatório baixo. ............................................................................................. 98

Figura 5.42 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura das juntas, na
face exterior do reservatório baixo. ............................................................................................. 98

Figura 5.43 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura dos painéis, na
face interior do reservatório baixo. .............................................................................................. 99

Figura 5.44 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura das juntas, na
face interior do reservatório baixo. .............................................................................................. 99

Figura 5.45 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao
longo da altura dos painéis, na face exterior do reservatório baixo.......................................... 100

Figura 5.46 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao
longo da altura das juntas, na face exterior do reservatório baixo. .......................................... 101

Figura 5.47 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao
longo da altura dos painéis, na face interior do reservatório baixo........................................... 101

xiii
Figura 5.48 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao
longo da altura das juntas, na face interior do reservatório baixo. ........................................... 102

Figura 5.49 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face exterior dos painéis do reservatório baixo. ....................... 103

Figura 5.50 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face interior dos painéis do reservatório baixo. ........................ 103

Figura 5.51 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face exterior das juntas do reservatório baixo. ......................... 104

Figura 5.52 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face interior das juntas do reservatório baixo. .......................... 105

Figura 5.53 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura dos painéis, na
face exterior do reservatório alto. .............................................................................................. 106

Figura 5.54 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura das juntas, na
face exterior do reservatório alto. .............................................................................................. 107

Figura 5.55 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura dos painéis, na
face interior do reservatório alto. ............................................................................................... 107

Figura 5.56 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura das juntas, na
face interior do reservatório alto. ............................................................................................... 108

Figura 5.57 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao
longo da altura dos painéis, na face exterior do reservatório alto. ........................................... 109

Figura 5.58 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao
longo da altura das juntas, na face exterior do reservatório alto. ............................................. 109

Figura 5.59 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao
longo da altura dos painéis, na face interior do reservatório alto. ............................................ 110

Figura 5.60 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao
longo da altura das juntas, na face interior do reservatório alto. .............................................. 110

Figura 5.61 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face exterior dos painéis do reservatório alto. .......................... 111

Figura 5.62 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face interior dos painéis do reservatório alto. ........................... 112

Figura 5.63 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face exterior das juntas do reservatório alto. ............................ 112

Figura 5.64 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o


reservatório vazio e cheio, na face interior das juntas do reservatório alto. ............................. 113

xiv
Figura 5.65 – Configuração do primeiro modo de vibração do reservatório baixo, quando vazio.
................................................................................................................................................... 115

Figura 5.66 - Configuração do primeiro modo de vibração do reservatório alto, quando vazio.
................................................................................................................................................... 117

Figura 5.67 - Tensões circunferenciais (em cima) e verticais (em baixo) devidas à acção
sísmica nos painéis (à direita) e nas juntas (à esquerda) do reservatório baixo. ..................... 118

Figura 5.68 - Tensões circunferenciais (em cima) e verticais (em baixo) devidas à acção
sísmica nos painéis (à direita) e nas juntas (à esquerda), no reservatório alto........................ 119

xv
xvi
Índice de Tabelas
Tabela 2.1 – Dimensões de painéis nervurados pré-fabricados, disponibilizados pela Abetong.
(Catálogo Abetong Tank C14)..................................................................................................... 13

Tabela 2.2 - Propriedades mecânicas da argamassa e do betão pré-fabricado utilizados nos


ensaios para determinar a melhor espessura de camada de argamassa (Ramos Barboza,
2001) ........................................................................................................................................... 14

Tabela 2.3 - Propriedades mecânicas da argamassa e do betão pré-fabricado utilizados para


determinar a melhor relação entre a resistência do betão e da argamassa (Ramos Barboza,
2001) ........................................................................................................................................... 16

Tabela 3.1 - Descrição dos perfis estratigráficos (Anexo Nacional EN1998-1, 2010) ................ 32

Tabela 3.2 - Aceleração máxima de referência agR (m/s2) nas várias zonas sísmicas (Anexo
Nacional EN1998-1, 2010) .......................................................................................................... 32

Tabela 4.1 – Valores dos parâmetros de αm e αv para determinação dos esforços na base do
reservatório (Montoya, Meseguer & Cabré, 2000) ...................................................................... 43

Tabela 4.2 – Hipóteses para a distribuição dos cabos de pré-esforço (Vilardell, Aguado de Cea
& Mirambell, 1994) ...................................................................................................................... 47

Tabela 5.1 - Valores da pressão hidrostática calculados à cota de cada nervura ..................... 66

Tabela 5.2 - Cálculo do número total de cordões de pré-esforço a considerar em cada nervura,
para o reservatório baixo sem isolamento térmico. .................................................................... 69

Tabela 5.3 – Cálculo do número total de cordões de pré-esforço a considerar em cada nervura,
para o reservatório baixo com isolamento térmico. .................................................................... 69

Tabela 5.4 - Cálculo do número total de cordões de pré-esforço a considerar em cada nervura,
para o reservatório alto sem isolamento térmico. ....................................................................... 70

Tabela 5.5 - Cálculo do número total de cordões de pré-esforço a considerar em cada nervura,
para o reservatório alto com isolamento térmico. ....................................................................... 71

Tabela 5.6 – Valores calculados para realizar a análise dinâmica dos reservatórios
considerando o método de Newmark & Rosenblueth ................................................................. 72

Tabela 5.7 – Cálculo da rigidez de cada mola para análise dinâmica dos reservatórios
considerando o método de Newmark & Rosenblueth ................................................................. 73

Tabela 5.8 – Parâmetros que definem o espectro de resposta elástica para T=475 anos, para
as zonas sísmicas 1.3 e 2.3, para terreno de fundação do tipo B .............................................. 74

Tabela 5.9 – Frequências e modos de vibração do reservatório baixo, considerando a


interacção entre a estrutura e o líquido..................................................................................... 114

xvii
Tabela 5.10 - Frequências e modos de vibração do reservatório alto, considerando a interacção
entre a estrutura e o líquido. ..................................................................................................... 116

xviii
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

CAPÍTULO 1
1 Introdução

1.1 Considerações gerais


Os reservatórios de água são estruturas necessárias na nossa civilização, dada a sua função
reguladora de caudal e de pressão das redes de abastecimento de água a populações e de
rega. Geralmente são usados em variadas indústrias, em transporte, agricultura, etc., mas
costumam estar associados a abastecimento de água e esgotos.

Existem diferentes tipos de reservatórios, sendo normalmente classificados segundo a sua


função hidráulica e dimensionamento estrutural. Considerem-se os vários aspectos que os
distinguem:

 Quanto à sua função - podem ser reservatórios de água potável, piscinas e tanques de
rega, tanques de estações de tratamento, cubas de vinho e azeite, depósitos de
combustíveis e gás.
 Quanto ao material – betão armado, betão armado pré-esforçado, aço, cobre,
alvenaria, plástico, fibrocimento.
 Quanto à sua posição no solo - enterrados, apoiados no terreno, elevados.
 Quanto à geometria – cilíndricos, cónicos, esféricos, cúbicos ou paralelepipédicos.
 Quanto à exigência de estanquidade (segundo EN1992 – 4) – classe 0, em que é
aceitável alguma permeabilidade (em geral adopta-se esta classe para reservatórios
com finalidade de rega); classe 1, em que é exigida a estanquidade em termos globais,
isto é, abertura de fendas inferiores a 0,1 mm; e classe 2, que exige estanquidade em
termos absolutos, não sendo permitidas fissuras que atravessem a espessura da
parede (é usual optar por um material membrana no interior, que assegure a
estanquidade).

Os tipos de reservatórios mais comuns são os de planta circular e rectangular. Os primeiros


caracterizam-se por exibirem dois mecanismos de deformação, um de flexão longitudinal e
outro de deformação circunferencial. Já os reservatórios rectangulares distinguem-se por terem
um funcionamento essencialmente de flexão vertical. Para a mesma área em planta, um
reservatório circular tem apenas mais 10% de tensões horizontais nas paredes que o
reservatório rectangular, mas neste último é ainda necessário sobrepor as tensões horizontais
resultantes da flexão das paredes. Isto leva a que os reservatórios rectangulares necessitem,
geralmente, de mais armadura e/ou maior espessura de parede, o que permite concluir que,
em regra, os reservatórios circulares têm melhor desempenho estrutural.

1
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Os reservatórios circulares, quando pré-esforçados, permitem também alcançar maiores alturas


de água, já que o pré-esforço é eficaz enquanto acção que contraria a pressão hidrostática, por
compressão radial da parede.

Os reservatórios de armazenamento de água, que não seja para rega, têm como exigência de
estanquidade pertencerem à classe 1, pelo menos. Para cumprir esta exigência, a nível
construtivo, torna-se mais simples optar por uma solução betonada in situ. Mas as soluções
pré-fabricadas, caso se tomem medidas para assegurar a estanquidade, podem ser bastante
competitivas. De um ponto de vista económico reduz-se a mão-de-obra e os desperdícios de
material, são mais rápidos de construir e não necessitam de cofragem in situ.

Há, no entanto, algumas particularidades relacionadas com a pré-fabricação, como a


dificuldade no transporte e montagem, bem como a existência de ligações entre os elementos
a realizar em obra. Este último aspecto diferencia um sistema monolítico de um pré-fabricado.

As ligações podem causar redistribuição de esforços nos elementos e modificar os


deslocamentos finais. Se houver falhas nas ligações dos elementos ou defeitos na sua
execução, quando estes são submetidos a certas acções, podem dar origem a deslocamentos
excessivos que podem levar ao colapso da estrutura.

Surge então a necessidade de compreender o funcionamento das ligações, e estudar


correctamente este fenómeno de forma a proceder a um correcto dimensionamento destas
estruturas.

1.2 Utilização de reservatórios pré-fabricados de betão armado,


pós-tensionados, em Portugal

Existem, em Portugal, várias realizações de reservatórios circulares pré-fabricados de betão


armado, pós-tensionados. Citam-se, como exemplo, os reservatórios de Santa Ana, em Seia, e
do Hotel Vila Galé, nos arredores de Beja, todos construídos com painéis nervurados verticais,
cintados horizontalmente por pré-esforço exterior não aderente (figuras 1.1 e 1.2). A estrutura
da cobertura apoia-se nas paredes e, quando o diâmetro é grande, em pilares dispostos no
interior.

2
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 1.1 - Reservatório pré-fabricado de betão armado pós-tensionado do Hotel Vila Galé, em Beja.

Figura 1.2 - Reservatório pré-fabricado de betão armado pós-tensionado de Santa Ana, em Seia.

O pré-esforço exterior não aderente deste tipo de reservatórios, embora muito susceptível a
actos de vandalismo, permite a construção de forma extremamente rápida, a que acrescem as
outras vantagens, já referidas, de pré-fabricação. Assim, considerou-se oportuno abordar este
tema numa dissertação de mestrado, com o objectivo de aprofundar os conhecimentos nesta
área.

Havendo um representante em Portugal, a empresa Soplacas, da patente alemã com que


foram construídos os reservatórios atrás referidos, solicitou-se o seu apoio para o presente
trabalho, através do fornecimento de informação técnica. Infelizmente os contactos efectuados
foram infrutíferos, pelo que o trabalho teve apenas como base a consulta da bibliografia
disponível. Estamos certos que o fornecimento de documentos de índole diversa, por parte de

3
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

empresas especializadas do sector, teria beneficiado o desenvolvimento e os resultados do


trabalho.

1.3 Objectivos
Apesar de haver abundante bibliografia sobre reservatórios de betão armado, o caso particular
dos reservatórios de betão armado, pré-fabricados e pós-tensionados, não tem vindo a ser
objecto de estudo. Estes têm um comportamento estrutural bastante diferente dos betonados in
situ, essencialmente devido à presença de ligações entre elementos pré-fabricados e à
existência, em regra, de nervuras horizontais, de forma a facilitar a distribuição de pré-esforço
circunferencial.

O estudo iniciou-se com uma pesquisa bibliográfica, genérica, sobre o tema, com o objectivo
de definir as acções de projecto, bem como as características estruturais deste tipo de
soluções, nomeadamente no que diz respeito às ligações de peças pré-fabricadas.

Pretendeu-se também identificar os métodos de análise e dimensionamento destas estruturas,


em particular os de utilização expedita e os baseados no método dos elementos finitos,
considerando os efeitos da pressão hidrostática, do pré-esforço e das acções térmicas, que
são os condicionantes do comportamento deste tipo de reservatórios.

A comprovação do desempenho das metodologias desenvolvidas será realizada através da


análise de casos de estudo. Estas análises, apoiadas no programa de elementos finitos
SAP2000, permitiram o cálculo das tensões devidas às acções de projecto e a verificação da
segurança para o estado limite de descompressão de reservatórios para diferentes relações
entre a altura e o raio.

1.4 Organização da dissertação


Esta dissertação está organizada em 6 capítulos, incluindo a presente introdução, que constitui
o primeiro capítulo.

No capítulo 2 expõem-se as práticas construtivas mais comuns na construção de reservatórios


circulares pré-fabricados pós-tensionados, dando relevância à ligação entre os painéis e entre
os painéis e a laje de fundo.

No capítulo 3 são apresentadas as acções que solicitam os reservatórios que se irão


considerar na análise dos dois casos de estudo.

No capítulo 4 são introduzidos os métodos de análise e dimensionamento de reservatório


circulares encontrados na bibliografia disponível. Também é feita uma exposição do método
utilizado na análise estrutural dos casos de estudo, o método dos elementos finitos.

No capítulo 5, por sua vez, são expostos os dois casos de estudo, a sua análise estrutural e
analisam-se os resultados que derivaram da sua modelação.

4
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Finalmente, no capítulo 6 enumeram-se as principais conclusões deste estudo.

5
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

6
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

CAPÍTULO 2
2 Soluções estruturais de reservatórios cilíndricos de
betão armado, pré-fabricados

2.1 Considerações gerais


Os reservatórios de betão armado de planta circular, pré-fabricados, são constituídos por
módulos planos (painéis), de desenvolvimento vertical, ligados de topo entre si e, na base, a
uma laje de fundação. Os painéis, em geral com uma largura de cerca de 2 m, formam uma
planta poligonal, com geometria muito próxima da circular. A cobertura é também feita, em
geral, com elementos pré-fabricados, apoiados no topo dos painéis e em pilares interiores.

Os painéis podem ser de espessura constante ou nervurados. As nervuras podem ser verticais
e/ou horizontais. As nervuras verticais localizam-se, em regra, na periferia, para facilitar a
materialização do encaixe entre painéis.

Os painéis assentam sobre uma laje de fundação, betonada “in situ”, e são acoplados através
de um sistema macho-fêmea. Posteriormente é injectada argamassa nas juntas, de forma a
assegurar a continuidade entre os painéis (Figura 2.1). Essa solidarização pode ser ainda
melhorada utilizando pré-esforço circunferencial.

Figura 2.1 - Ligação entre os painéis utilizando argamassa nas juntas verticais.

As soluções estruturais disponíveis no mercado são patenteadas. Há alguns fabricantes


portugueses de painéis para reservatórios de betão armado, nomeadamente a MEBEP e a
Pavicentro. As soluções pré-esforçadas disponíveis em Portugal são da patente alemã
Acontank. Conhecem-se outras patentes europeias de reservatórios pós-tensionados,
designadamente a Dywidag-Aquaschutz (Alemanha) e Perstrup (Dinamarca).

7
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

2.2 Reservatórios pré-fabricados de betão armado


As soluções de betão armado, com solidarização lateral com argamassa, têm um
funcionamento em consola para a acção predominante, a pressão hidrostática, não havendo
assim vantagem estrutural em utilizar uma planta circular. Os painéis têm espessura constante
e são dotados de nervuras verticais de espessura variável, aumentando para a base.
Apresenta-se na Figura 2.2 uma solução deste tipo de solução, de um fabricante português.

Figura 2.2 - Reservatórios da patente Paver, constituídos por painéis pré-fabricados de betão armado de planta
quadrangular, à esquerda, e de planta circular, ao centro/direita. (fotografia retirada do site da empresa
MEBEP)

2.3 Reservatórios pré-fabricados de betão armado pós-tensionados


As armaduras de pré-esforço mais utilizadas na solidarização circunferencial dos painéis que
formam os reservatórios são os cordões. Em regra apresentam-se isolados no pré-esforço
exterior não aderente, protegidos por uma bainha individual de polietileno com um lubrificante
interno, dispostos no extradorso das paredes, e agrupados em cabos (conjunto de cordões) no
pré-esforço aderente, inseridos em bainhas metálicas caneladas dispostas no interior das
peças de betão, que são posteriormente injectadas com calda de cimento para garantir a
aderência.

O método de aplicação do pré-esforço nos reservatórios de planta circular é o da pós-tensão,


isto é, as forças são aplicadas às armaduras após a betonagem ou após a montagem da
estrutura. O pré-esforço aderente é mais vantajoso que o não aderente, pois as armaduras
podem ser mobilizadas na resistência para os estados limites últimos de flexão composta, para
além de disporem, em regra, de uma maior protecção.

8
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Os reservatórios de betão armado, pré-fabricados e pós-tensionados, são também formados


por painéis planos justapostos. As nervuras verticais da periferia possibilitam, em muitos casos,
a amarração das armaduras de pré-esforço aderente (Figura 2.3). As nervuras horizontais são
normalmente menos espaçadas junto à base, devido ao aumento dos esforços circunferenciais
(Figura 2.4).

Figura 2.3 – Vista de reservatório pré-fabricado com painéis dotados de nervuras periféricas, com pré-esforço
interior aderente, e pormenor do painel (fotografia retirada do catálogo da Shay Murtagh).

Figura 2.4 – Vista de reservatório pré-fabricado com painéis nervurados, pós-tensionado com cordões auto-
embainhados exteriores, e pormenor do painel nervurado (patente Acontank).

A utilização do pré-esforço circunferencial destina-se a compensar as tensões de tracção


devidas à pressão hidrostática e às acções térmicas (Figura 2.5). Em reservatórios de grandes
dimensões, normalmente betonados “in situ”, também se utiliza pré-esforço vertical.

A aplicação por pós-tensão permite flexibilidade no arranjo dos cabos de pré-esforço. Sendo o
traçado idêntico em todos eles, faz-se variar a sua distribuição em altura em função da
intensidade requerida para as forças. Os cabos podem ancorar nas nervuras verticais de

9
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

ligação entre painéis (Figura 2.6) ou, exteriormente, em ancoragens móveis utilizadas
especificamente neste este tipo de estruturas (Figura 2.7).

Figura 2.5 - Distribuição dos cabos de pré-esforço num reservatório pré-fabricado. (Fotografia retirada do site
da empresa Perstrup)

Figura 2.6 - Pormenor das ancoragens, embebidas no betão das nervuras verticais, dos cordões de pré-esforço
circunferenciais, interiores ou exteriores.

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ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 2.7 – Vista das ancoragens móveis exteriores (em cruz) dos cordões de pré-esforço
circunferenciais.(patente Acontank).

2.4 Dimensões dos painéis pré-fabricados e dos reservatórios

As dimensões dos painéis, bem como a capacidade volúmica dos reservatórios, são definidos
pelo fabricante, de forma a facilitar o seu transporte desde a fábrica até ao local da obra.

De entre as patentes de painéis nervurados pré-fabricados de betão armado comercializadas


em Portugal destacam-se a Abetong e a Acotank.

Nas tipologias de painéis nervurados disponibilizadas pela Acontank os painéis têm 23 cm de


espessura e 2,40 m de largura, sendo que a altura pode ser de 3,10 m, 6,00 m, 8,60 m e 10,00
m. A capacidade dos reservatórios dependerá do número de painéis acoplados. A figura 2.8
ilustra a gama possível de diâmetros, variando o número de painéis em acordo com as
dimensões disponibilizadas pela Acontank.

11
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 2.8 – Diâmetros de reservatórios permitidos pela patente Acontank, variando o número de painéis
acoplados. (Catálogo Acontank)

O fabricante Abetong, por sua vez, disponibiliza painéis com altura de 3,00 m, 4,00 m, 6,00 m,
8,00 m, 10,00 m, 12,00 m e 14,00 m. A espessura pode ser de 24 cm ou 30 cm, dependendo
da capacidade do reservatório. Variando o número de painéis, com a patente Abetong podem
construir-se reservatórios com as capacidades ilustradas na tabela 2.1, em que os valores a
bold representam as capacidades para as quais os painéis têm espessura de 30 cm.

12
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Tabela 2.1 – Dimensões de painéis nervurados pré-fabricados, disponibilizados pela Abetong. (Catálogo
Abetong Tank C14)

Número de Diâmetro interno Capacidade para as diferentes alturas [m3]


painéis e=24 cm e=30 cm 3,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0
11 7,77 7,66 146 195 293 390 488 569 664
15 10,89 10,77 283 378 567 756 945 1110 1295
20 14,76 14,64 518 690 1035 1380 1725 2038 2377
25 18,62 18,50 821 1095 1643 2190 2738 3244 3784
30 22,47 22,36 1194 1593 2389 3185 3981 4727 5515
35 26,32 26,20 1637 2183 3274 4365 5457 6489 7571
40 30,17 30,05 2149 2866 4298 5731 7164 8529 9950
45 34,02 33,90 2731 3641 5461 7282 9102 10846 12654
50 37,86 37,74 3382 4509 6763 9018 11272 13441 15682
55 41,70 41,58 4102 5470 8204 10939 13674 16315 19034
60 45,55 45,43 4892 6523 9784 13045 16221 19465 22710
65 49,39 49,27 5751 7669 11503 15337 19078 22894 ‐
70 53,23 53,11 6680 8907 13360 17814 22167 26601 ‐
75 57,07 56,95 7678 10238 15357 20476 25487 30585 ‐
80 60,91 60,79 8746 11661 17492 23323 29039 34847 ‐
85 64,75 64,63 9883 13178 19766 26355 32822 ‐ ‐
90 68,59 68,47 11090 14786 22180 29573 36837 ‐ ‐

2.5 Características das argamassas de ligação

2.5.1 Generalidades

A principal diferença entre as estruturas pré-fabricadas e as betonadas “in situ” está na ligação
entre elementos. As ligações são zonas de descontinuidade com a finalidade estrutural de
transferir forças entre elementos, onde se concentram tensões. Assim, torna-se necessário
dotar o material de preenchimento, a argamassa, de propriedades mecânicas adequadas.

É fácil compreender que as ligações entre elementos têm um papel importante na estabilidade
da estrutura, já que um deficiente funcionamento destas zonas, devido a cargas excessivas ou
a má execução, pode levar colapso.

13
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

2.5.2 Parâmetros que influenciam a ligação entre painéis pré-fabricados

Ramos Barboza (2001) estudou o comportamento das juntas na ligação entre elementos pré-
fabricados, considerando os principais parâmetros que influenciam uma ligação entre juntas.
Para tal, submeteu dois paineís ligados por uma junta de argamassa a diferentes ensaios para
analisar a influência dos seguintes parâmetros:

 Tipo de argamassa usada na junta;


 Espessura da camada de argamassa;
 Relação entre as resistências da argamassa e do betão pré-fabricado;
 Resistência do betão pré-fabricado;
 Rugosidade da superfície dos elementos na ligação sem argamassa;
 Armadura de reforço na região do elemento pré-fabricado adjacente à ligação;
 Excentricidade do carregamento;
 Variação na forma da secção transversal dos elementos pré-fabricados.

Entre os parâmetros indicados, aqueles que influenciam mais o comportamento de juntas de


argamassa foram a espessura da camada de argamassa e a relação entre as resistências da
argamassa e do betão pré-fabricado. Concluiu-se ainda que os restantes parâmetros tinham
uma influência diminuta no desempenho da ligação de argamassa.

2.5.2.1 Influência da espessura da camada de argamassa

Para estudar a espessura de argamassa mais conveniente para assegurar uma boa ligação
entre elementos pré-fabricados, Ramos Barboza (2001) simulou uma junta entre dois painéis
de betão pré-fabricados com quatro espessuras diferentes de argamassa (15 mm, 25 mm, 35
mm e 45 mm), com as propriedades mecânicas da argamassa e do betão indicadas na tabela
2.1. Nas análises foi considerado um carregamento uniforme no topo do modelo, como mostra
a figura 2.8, tendo-se incrementado o carregamento até se atingir o colapso da estrutura.

Tabela 2.2 - Propriedades mecânicas da argamassa e do betão pré-fabricado utilizados nos ensaios para
determinar a melhor espessura de camada de argamassa (Ramos Barboza, 2001)

Propriedades Betão Argamassa 1

Resistência à compressão (MPa) 113 71

Resistência à tracção (MPa) 5,9 5

Módulo de elasticidade longitudinal (MPa) 37400 16500

Coeficiente de Poisson 0,2 0,3

14
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 2.9 - Modelo utilizado para estudar o desempenho das argamassa de ligação (Ramos Barboza, 2001)

Através dos resulados obtidos de uma análise não linear, Ramos Barboza (2001) concluiu que:

 Com o aumento da espessura da junta verifica-se uma maior quantidade de fissuras;


 Detecta-se uma tendência de expulsão da argamassa nas extremidades e
destacamento do recobrimento dos elementos pré-fabricados, o que significa que a
distribuição de tensões verticais nas proximidades da junta não é uniforme. O
destacamento de recobrimento no painel superior é mais acentuado quanto mais
espessa é a junta;
 A espessura mais indicada é de 25 mm, para as propriedades referidas na tabela 2.1,
já que minimiza o efeito de descontinuidade provocado pela junta, e permite um maior
controlo do aparecimento de vazios e uma maior uniformidade da junta.

2.5.2.2 Influência da relação entre a resistência do betão e da argamassa

Para estudar a relação entre as resistências do betão pré-fabricado e da argamassa, Ramos


Barboza (2001) realizou outros ensaios com uma argamassa com melhor desempenho
estrutural, cujas características mecânicas se apresentam na tabela 2.2.

15
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Tabela 2.3 - Propriedades mecânicas da argamassa e do betão pré-fabricado utilizados para determinar a
melhor relação entre a resistência do betão e da argamassa (Ramos Barboza, 2001)

Propriedades Argamassa 2

Resistência à compressão (MPa) 170

Resistência à tracção (MPa) 27,72

Módulo de elasticidade longitudinal (MPa) 54600

Coeficiente de Poisson 0,27

O modelo foi carregado de forma idêntica ao anterior e os resultados de desempenho das duas
argamassas foram comparados. O ensaio permitiu concluir que, no caso das características
mecânicas do betão que constitui os elementos pré-fabricados serem inferiores às da
argamassa (leia-se argamassa de alta resistência), existe um aumento das tensões nas juntas.
Concluiu-se também que quando a ligação é mais rígida que o elemento, ocorre fendilhação no
elemento, levando este à rotura. Assim, a utilização de uma argamassa de alta resistência só
será viável quando o betão do elemento pré-fabricado for também de alto desempenho.

2.6 Ligação dos painéis à laje de fundação

2.6.1 Tipos de ligação dos painéis à laje de fundação

A ligação dos painéis pré-fabricados à laje de fundação tem uma grande relevância no
funcionamento estrutural do reservatório. Trata-se da fronteira dos painéis onde podem
concentrar-se as tensões máximas, pelo que se reveste da maior importância o controlo
dessas tensões, o que pode ser conseguido escolhendo a ligação que melhor se adapta a cada
situação.

Dependendo da experiência do projectista, da tradição construtiva ou do método construtivo de


cada país, da geometria do reservatório e das acções, pode escolher-se uma das três ligações
seguintes (Vilardell I Vallès, 1994):

 Contínua;
 Fixa;
 Flexível.

A ligação contínua caracteriza-se por garantir a continuidade dos deslocamentos na base do


reservatório ao longo do seu perímetro. A ligação flexível estabelece uma relação de
proporcionalidade da translação radial e da rotação relativamente aos esforços
correspondentes, tendo uma rigidez radial e de rotação inferior à da união contínua. Na ligação

16
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

fixa permite-se parcialmente a rotação (diminuição da rigidez de flexão), mas a translação


radial é impedida (Figura 2.9).

Figura 2.10 – Diferenças entre os tipos de ligação painel – laje

2.6.2 Características estruturais das ligações à laje de fundação

A ligação mais simples entre os painéis e a laje é a monolítica. Este tipo de ligação, para além
de uma fácil execução em obra, assegura facilmente as condições de estanquidade e de
durabilidade, sendo de baixo custo de execução e de manutenção.

Todavia, os esforços de flexão na ligação são bastante elevados, pois a união contínua é mais
sensível à rigidez de flexão do que à rigidez de translação, tornando-se difícil comprimir
uniformemente todo o painel, já que este não se pode deformar radialmente no trecho mais
próximo da base (Vilardell I Vallès, 1994), absorvendo elevados esforços. Assim, Vilardell I
Vallès (1994) recomenda evitar uniões contínuas e fixas quando se requerem compressões
circunferenciais residuais importantes na base do reservatório.

Quando a união é articulada, as libertações introduzidas influenciam muito o comportamento do


reservatório. Por exemplo, quando o apoio é flexível o comportamento é principalmente de
deformação radial, enquanto se a ligação for assegurada por uma rótula fixa o comportamento
de flexão prevalece principalmente na metade inferior do reservatório. Por isso, Vilardell I
Vallès (1994) não aconselha a utilização de uniões fixas quando se pretende comprimir
radialmente a base do reservatório.

Nestas condições, deve ser considerada, sempre que possível, uma união flexível. Assim, os
esforços de flexão junto à base têm uma importância diminuta e o pré-esforço é aproveitado de

17
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

uma forma mais racional. Contudo, a condição de estanquidade é mais difícil de satisfazer,
requerendo-se um grande controlo de qualidade antes e depois da execução da estrutura
(Figura 2.10).

Figura 2.11 – Ligação flexível na base das paredes do reservatório, realizada com aparelhos de apoio em
neoprene cintado, e utilização de uma tela de impermeabilização para garantir a estanquidade (adaptado de
VSL, 1983)

Se for realizada a betonagem em segunda fase de um anel interior da laje de fundo, consegue-
se uma transmissão mais eficaz do pré-esforço às paredes (Figura 2.11). No entanto, deverão
ser considerados os efeitos da fluência no comportamento a longo prazo.

Figura 2.12 – Apoio radial flexível na base das paredes do reservatório, para a acção do pré-esforço,
conseguido através da betonagem em segunda fase de um anel interior da laje de fundo (adaptado de VSL,
1983

18
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

2.6.3 Aspectos construtivos da ligação dos painéis à laje de fundação

Apresenta-se, de seguida, o método mais utilizado na construção dos reservatórios pós-


tensionados, salientando-se os aspectos relevantes da ligação dos painéis à laje de fundo.

A montagem dos painéis pré-fabricados (Figura 2.12) é precedida da marcação da posição de


cada painel na laje de fundação. De seguida colocam-se espaçadores sobre a laje, de forma a
deixar uma folga na base dos painéis, para permitir a passagem da argamassa. Com a ajuda
de gruas os painéis são montados justapostos, suportados através de escoras, sendo o último
colocado por cima, deslizando entre dois painéis. Depois procede-se ao enfiamento dos cabos
de pré-esforço, colocam-se as peças de ancoragem e aplica-se uma tensão inicial em todos os
cabos.

Figura 2.13 – Montagem dos painéis de um reservatório pré-fabricado (Catálogo da Stresscret - Precast
Concrete)

19
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

De seguida procede-se à betonagem das nervuras de travamento, envolventes da base dos


painéis. Quando se pretende uma ligação contínua (monolítica) é necessário assegurar
armadura de ligação entre o painel e a laje de fundação e entre a nervura e a laje (Figura 2.13),
impedindo todos os movimentos relativos.

Figura 2.14 – Pormenor construtivo de uma ligação de continuidade entre o painel e a laje e idealização
estrutural de encastramento.

Para materializar um apoio fixo (Figura 2.14), a ligação da nervura à laje é executada com
armadura de espera da laje, ficando o painel confinado entre as duas nervuras de travamento,
permitindo-se apenas a rotação do painel.

Figura 2.15 – Pormenor construtivo de uma ligação apoiada do painel à laje e idealização estrutural com apoio
fixo.

No caso de se pretender realizar uma ligação flexível (Figura 2.15), podem-se instalar lâminas
elastómeras entre as nervuras e os painéis previamente à betonagem das nervuras amarradas
à laje, conferindo-se assim menor rigidez na direcção radial. É essencial assegurar a
estanquidade da união, podendo para tal prever-se um dispositivo “waterstop”.

20
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 2.16 – Pormenor construtivo de uma ligação horizontal flexível entre o painel e a laje e idealização
estrutural dessa ligação.

Por fim, quando a argamassa das juntas atinge cerca de 70% da sua resistência, é então
aplicada a tensão máxima nos cabos de pré-esforço (Vilardell I Vallès, 1994).

21
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

22
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

CAPÍTULO 3
3 Acções de projecto

3.1 Considerações gerais


As acções sobre os reservatórios circulares podem classificar-se, à semelhança do que
acontece com os outros tipos de estruturas, em permanentes, variáveis e de acidente (EN
1990). As acções permanentes são aquelas que assumem valores constantes, ou com
pequena variação em torno do seu valor médio, durante toda ou praticamente toda a vida da
estrutura, e acções variáveis são aquelas que assumem valores com variação significativa em
torno do seu valor médio durante a vida da estrutura (RSA, 2007).

As acções permanentes são o peso próprio das paredes estruturais, dos elementos da
cobertura e de eventuais revestimentos ou dispositivos de protecção, os impulsos de terras, o
pré-esforço e a retracção e fluência do betão. As acções variáveis são a pressão interna
exercida nas paredes pelo fluído retido, as sobrecargas na cobertura, as variações de
temperatura, as acções laterais do vento e a acção da neve na cobertura. A acção de acidente
mais significativa é a dos sismos.

Estas acções têm diferente relevância no dimensionamento e verificação da segurança da


estrutura do reservatório. Atendendo à pequena altura destas estruturas, as tensões verticais
induzidas pelos pesos próprios têm valores moderados, os efeitos da acção do vento não são
condicionantes e as sobrecargas e a acção da neve apenas influenciam a estrutura da
cobertura. Os efeitos da retracção e da fluência, atendendo às dimensões moderadas e ao
processo de fabrico, têm também uma influência diminuta no comportamento destas estruturas.
As paredes deste tipo de estruturas ligam-se à laje de fundo a pequena profundidade, pelo que
os impulsos de terras têm, em regra, valores diminutos.

As pressões internas e as variações de temperatura originam esforços circunferenciais de


tracção muito importantes, condicionando o dimensionamento das paredes de betão,
nomeadamente no que diz respeito aos estados limites de utilização. O uso de pré-esforço
pode obviar esta situação, desde que utilizado de forma criteriosa. Assim, no caso dos
reservatórios circulares pré-fabricados, as acções a considerar são o peso próprio, o pré-
esforço, a pressão do fluído armazenado, as variações térmicas e a acção sísmica.

Neste capítulo definem-se e quantificam-se as acções relevantes à análise estrutural deste tipo
de reservatórios. Pretendendo-se considerar reservatórios apoiados no terreno, a análise e
dimensionamento das fundações, embora importantes, sai fora do âmbito do trabalho, pelo que
não serão referidas.

23
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

3.2 Acções permanentes

3.2.1 Peso próprio

O peso próprio é caracterizado pela massa volúmica do material que constitui a estrutura. No
caso dos depósitos pré-fabricados de betão armado, os materiais a considerar são o betão
armado que constitui os painéis e a laje de fundação, e a argamassa das juntas. Para o betão
armado deve considerar-se um peso específico de 25 kN/m3 e para a argamassa deve adoptar-
se um peso específico de 25 kN/m3.

Como referido, as tensões devidas ao peso próprio são significativamente inferiores às


provocadas por outras acções, por isso a sua influência na estrutura não é significativa.

3.2.2 Pré-esforço

3.2.2.1 Tipos do pré-esforço

Nas estruturas de planta circular dos reservatórios podem distinguir-se, no que toca à direcção
de aplicação, dois tipos de pré-esforço, o circunferencial e o vertical. Por outro lado, o pré-
esforço pode ser classificado em aderente ou não aderente, conforme as armaduras
tensionadas sejam solidárias ou não com o betão envolvente.

O pré-esforço circunferencial é geralmente usado para contrariar as tensões de tracção


originadas pela pressão do material armazenado e por outras acções, como as variações de
temperatura e a retracção do betão. Permite também controlar a fissuração vertical, ao
comprimir radialmente as paredes do reservatório. No entanto, a força de pré-esforço origina
esforços de flexão que induzem tensões de tracção verticais e, eventualmente, fendas
horizontais. Como solução para o controle deste tipo de fissuração é usual aumentar a
quantidade de armadura passiva vertical ou mesmo aplicar pré-esforço vertical.

A aplicação do pré-esforço vertical é alvo de alguma controvérsia. De acordo com Vilardell,


Aguado de Cea & Mirambell (1994), existem autores que defendem que não é admissível a
ocorrência de fissuração horizontal, o que torna a aplicação de pré-esforço vertical inevitável.
No entanto, de acordo com a EN1992-3 (2006), a durabilidade da estrutura não é
comprometida quando ocorre fissuração horizontal, desde que controlada através do aumento
de armadura passiva. Assim, no presente trabalho não irá ser considerado o uso de pré-
esforço vertical, pois não serão analisadas estruturas com dimensões que conduzam a
esforços que justifiquem o empregue deste tipo de pré-esforço.

24
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

3.2.2.2 Forças úteis de pré-esforço

A distribuição do pré-esforço circunferencial em reservatórios é feita em altura, definida por um


conjunto de n cargas lineares Pϕ , relativas a cada um dos cabos, situados a uma altura xi da
base.

O valor da força de pré-esforço que cada cabo transmite à estrutura corresponde ao valor
máximo da força aplicada à armadura de pré-esforço Pmax , subtraindo as perdas instantâneas e
diferidas.

O somatório das perdas instantâneas e diferidas corresponde, no máximo, a cerca de 25% da


força aplicada à armadura de pré-esforço Pmax . De acordo com a EN1991, a tensão máxima a
aplicar às armaduras de pré-esforço σp,max é limitada por:

σp, max =min 0,8.fpk ;0,9.fp0,1k [3.1]

sendo fpk o valor característico da tensão de rotura do aço de pré-esforço e fp0,1k a tensão limite
convencional de proporcionalidade a 0,1% (Figura 3.1). Sendo Ap a área da secção transversal
da armadura de pré-esforço, o valor da força útil de pré-esforço que cada cabo transmite à
estrutura pode ser estimada, de forma conservativa, por:

Pϕ =0,75.Ap .σp,max [3.2]

Figura 3.1 - Diagrama tensões – extensões do aço de pré-esforço (EN1992-1-1, 2010)

Para determinar a força de pré-esforço necessária para compensar os efeitos das restantes
acções, devem calcular-se as tensões de tracção resultantes das combinações mais

25
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

desfavoráveis e determinar-se a quantidade de pré-esforço que é preciso induzir na estrutura,


de forma a garantir um estado de compressão no betão.

Sendo σP.E. a tensão requerida às forças de pré-esforço, e a espessura dos paredes e d a


altura de influência de cada cabo de pré-esforço, a força total de pré-esforço necessária é dada
por:

PP.E. =σP.E. .d.e [3.3]

3.3 Acções variáveis

3.3.1 Pressão hidrostática

A pressão pode ser medida em relação a uma referência arbitrária, sendo usual tomar-se como
referência o vácuo absoluto, tendo-se a pressão absoluta, Pabs , ou a pressão atmosférica local
Patm , tendo-se então a pressão relativa, Prel (Quintela, 2002). Pode então escrever-se:

Pabs Prel Patm [3.4]

Pretendendo-se determinar as pressões resultantes nas paredes de um reservatório, torna-se


mais expedito trabalhar com pressões relativas. Assim, a pressão relativa num dado ponto a
uma altura h, medida a partir da superfície livre à pressão atmosférica, é dada por:

Ph =γ.h [3.5]

em que γ é o peso específico do líquido contido no reservatório.

De acordo com a norma EN1991-1-4 (2010) a pressão exercida nas paredes de um


reservatório deve ser representada como uma carga hidrostática linearmente distribuída
(formato triangular). Esta carga toma o seu valor máximo na base do reservatório e é nula na
superfície livre (Figura 3.2). Deve ser contabilizada para a situação de reservatório cheio, e
ainda o reservatório vazio, de modo a serem consideradas as mais condicionantes para a
estrutura.

26
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 3.2 – Distribuição das pressões hidrostáticas numa parede de um reservatório (Montoya, Meseguer, &
Cabré, 2000)

3.3.2 Variações de temperatura

3.3.2.1 Generalidades sobre variações de temperatura

A sazonalidade da temperatura ambiente, anual e diária, provoca variações de temperatura


cíclicas nos corpos. A sua distribuição, no espaço e no tempo, depende das características
térmicas dos materiais (fluído, betão das paredes e eventuais materiais de isolamento), das
ondas térmicas do fluído e do ambiente exterior, da espessura das paredes e dos eventuais
isolamentos, do tempo de exposição solar da estrutura e das propriedades de radiação das
superfícies aparentes.

Como as variações de temperatura não são constantes nas secções das peças, é conveniente,
para facilitar a análise, a sua decomposição em várias parcelas. Destas parcelas destacam-se,
pela sua relevância, as variações uniformes de temperatura e as variações diferenciais de
temperatura.

As variações uniformes correspondem, em geral, às variações anuais da temperatura ambiente


que, por se processarem com lentidão, conduzem sucessivamente a estados térmicos que se
podem supor uniformes em todos os elementos da estrutura. As variações diferenciais
correspondem, por sua vez, às variações rápidas da temperatura ambiente, características da
evolução diária, que originam gradientes térmicos na estrutura. (RSA, 2007)

Na figura 3.3 representam-se, esquematicamente, as variações de temperatura numa secção


de peça linear, em que ∆TU é a variação uniforme de temperatura, ∆TMz e ∆TMy são as
parcelas correspondentes à variação diferencial de temperatura segundo z e y,
respectivamente, e ∆Te é a parcela não linear da temperatura, que provoca tensões auto-

27
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

equilibradas (resultante nula na secção, dado que a sua “área” e o seu “momento de inércia”
são nulos) (Mendes, 2000).

Figura 3.3 – Representação das parcelas consideradas nas variações de temperatura de uma secção de peça
linear (Luís, 2005)

3.3.2.2 Efeitos das acções térmicas em reservatórios circulares

As solicitações correspondentes às variações de temperatura são deformações impostas,


dependendo do coeficiente de dilatação térmica dos materiais:

ε=α.∆T [3.6]

Se as deformações forem totalmente impedidas, as tensões geradas valem,

σ=E.α.∆T [3.7]

sendo E o módulo de elasticidade do betão. Para o betão considera-se, em regra, um valor de


1 x 10-5 /º C para coeficiente de dilatação térmica linear, α.

Como a variação anual da temperatura ambiente é lenta no tempo, as peças de betão (paredes
e laje de fundo) deveriam ter uma temperatura média idêntica. No entanto, como a laje de
fundo está em contacto com o terreno de fundação, com maior estabilidade térmica, e como o
volume de fluído armazenado é muito maior que o volume das paredes do reservatório, a
influência térmica do terreno e a maior inércia térmica do líquido vão induzir um atraso na
evolução da temperatura do próprio líquido e da laje de fundo relativamente à temperatura do
ar, pelo que haverá que considerar um pequeno diferencial de temperatura, devido a este
fenómeno, entre o interior e o exterior das paredes. Um outro diferencial, de maior valor, é
devido às variações de temperaturas diárias, muito maiores no exterior que no interior do
reservatório.

28
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

As variações de temperatura não induzem esforços (nem tensões) em estruturas isostáticas


homogéneas, provocando apenas deformações (extensões e curvaturas) e deslocamentos
lineares e angulares.

Se os reservatórios de secção circular não tivessem restrição inferior à sua deformação, as


variações uniformes de temperatura não provocariam tensões. As tensões circunferenciais que
ocorrem, embora em geral pequenas, são devidas a essa restrição na base de apoio.

No caso de um anel submetido a uma variação diferencial de temperatura, geram-se tensões


correspondentes à restrição total das deformações impostas. Nos reservatórios cilíndricos
apenas tal não acontece nas extremidades (figura 3.4).

Figura 3.4 – Curvatura das paredes de um reservatório devido à acção da temperatura diferencial (Baikov et al.,
1978)

Pode assim concluir-se que o comportamento das estruturas dos reservatórios de planta
circular é muito influenciado pelas variações de temperatura, nomeadamente as diferenciais.
Assim, recorre-se com frequência ao controlo dos seus efeitos, já que podem comprometer a
funcionalidade e a durabilidade. Este controlo é efectuado, em regra, pela introdução de
libertações nos apoios e pela utilização de isolamentos térmicos, interior e/ou exterior.

3.3.2.3 Variações uniformes e diferenciais de temperatura adoptadas

Atendendo ao descrito, as variações de temperatura a considerar na análise são devidas ao


diferencial de temperatura que se pode estabelecer entre o exterior e o interior das paredes do
reservatório. Não existindo informação específica na EN1992-1-5 para o caso de reservatórios
deste tipo, considerou-se, desfavoravelmente, uma temperatura média, não variável no tempo,
de 20º C para a água armazenada, e temperaturas máximas e mínimas exteriores de 35º C e
5º C, respectivamente. Estas temperaturas correspondem a um diferencial de 15º C entre a
temperatura interior e exterior, para a situação de não existência de qualquer tipo de

29
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

isolamento, a que equivale uma variação uniforme de temperatura de 7,5º C (VUT) e uma
variação diferencial de 15º C e -15º C entre os paramentos (VDT1). Considerou-se ainda uma
outra situação, correspondente à existência de um isolamento térmico, com uma variação
uniforme de temperatura idêntica à anterior (VUT de 7,5º C) e uma variação diferencial de
metade da anterior (VDT2 de 7,5º C e -7,5º C entre os paramentos).

3.3.3 Acção sísmica

Existem duas exigências fundamentais que as estruturas têm de cumprir, quando se procede à
verificação sob o efeito de um sismo:

 Exigência de limitação de danos – os danos nas estruturas devem ser limitados, sob a
acção de um fenómeno sísmico relativamente frequente.
 Exigência de não colapso – sob a acção de um evento sísmico raro, as estruturas não
podem colapsar (Lopes, 2008), devendo manter a sua integridade física, de forma a
evitar perdas humanas; para tal devem possuir capacidade mínima de suporte de
cargas gravíticas durante e após a acção do sismo.

Para a verificação da exigência de não colapso, a EN1998-1 (2010) distingue uma acção
sísmica de projecto, cuja probabilidade de excedência, durante um determinado período de
tempo, varia consoante a classe de importância da estrutura (ou seja, implica uma variação dos
períodos de retorno). A acção sísmica de projecto de referência corresponde a um período de
retorno de 475 anos, ou seja, uma probabilidade de excedência de 10% no período de vida de
50 anos.

A EN1998-1 (2010) caracteriza o movimento de um sismo à superfície com um espectro de


resposta elástico de aceleração do solo, chamado espectro de resposta elástico. Os espectros
de resposta elástico são definidos considerando o valor de cálculo da aceleração à superfície
para um terreno tipo A (Tabela 3.1), ag , que é o produto entre o valor de referência da
aceleração máxima à superfície de um terreno tipo A, agR , e o coeficiente de importância da
estrutura γI ,

ag =agR .γI [3.8]

O coeficiente de importância está associado à finalidade da estrutura. Em geral, toma-se como


unitário, mas quando a estrutura tem uma classe de importância elevada (por exemplo escolas,
hospitais, quartéis de bombeiros e pontes), deve-se adoptar um coeficiente superior a 1.

A EN1998-1 (2010) faz também uma divisão do território nacional em zonas sísmicas (Figura
3.5), às quais corresponde uma aceleração máxima de referência (Tabela 3.2), de forma a
analisar a estrutura de acordo com o seu local de implantação e do tipo de terreno em que está
fundada (Tabela 3.1).

30
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 3.5 - Zonamento sísmico de Portugal (Anexo Nacional EN1998-1, 2010)

31
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Tabela 3.1 - Descrição dos perfis estratigráficos (Anexo Nacional EN1998-1, 2010)

Tipo de Terreno de
Descrição do perfil estratigráfico
Fundação

Rocha ou outra formação geológica que inclua no máximo 5m de material mais


A
fraco à superfície.

Depósitos rijos de areia, gravilha ou argila sobreconsolidada, com uma espessura


B de, pelo menos, vária dezenas de metros, caracterizados por um aumento
gradual das propriedades mecânicas em profundidade.

Depósitos profundos de areia de densidade média, de gravilha ou de argila de


C consistência média com espessura entre várias dezenas e muitas centenas de
metros.

Depósitos de solos não coesivos, entre soltos a de média consitência, com ou


D sem a ocorrência de algumas camadas coesivas brandas, ou de depósitos com
solos predominantemente coesivos de fraca e média consistência.

Perfil de solo consistindo numa camada superficial com valores de vs


E característicos de solo tipo C ou D e espessura variando entre 5 e 20 metross,
assente sobre uma camada mais rija com valores de vs superiores a 800 m/s.

Depósitos com uma camada de, pelo menos 10 m, de argilas brandas ou siltes
S1
com um índice de alta plasticidade e elevador teor em água.

Depósitos de solos susceptíveis de sofrerem liquefacção ou de argilas sensíveis,


S2
ou qualquer outro tipo de solo não incluído nas categorias A a E e S1.

2
Tabela 3.2 - Aceleração máxima de referência agR (m/s ) nas várias zonas sísmicas (Anexo Nacional EN1998-1,
2010)

Acção sísmica Tipo 1 Acção sísmica Tipo 2


2
Zona Sísmica agR (m/s ) Zona Sísmica agR (m/s2)
1.1 2,5 2.1 2,5
1.2 2,0 2.2 2,0
1.3 1,5 2.3 1,7
1.4 1,0 2.4 1,1
1.5 0,6 2.5 0,8
1.6 0,35 - -

32
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

3.3.3.1 Espectros de resposta elástica

Existem dois tipos de espectros de resposta elástica, o referente às acções sísmicas


horizontais e o que define as acções sísmicas verticais.

Para definir a componente sísmica horizontal, de acordo com o ponto 3.2.2.2 da EN1998-1
(2010), o espectro de resposta elástica Se (T), representado na figura 3.6, vem definido em
função do período de vibração pelas seguintes expressões:

T
0 T TB :Se T ag .S. 1+ . η.2,5-1 [3.9]
TB

TB ≤ T ≤ TC :Se T =ag .S.η.2,5 [3.10]

TC
TC ≤ T ≤ TD :Se T =ag .S. η.2,5. [3.11]
T

TC TD
TD ≤ T ≤ 4s:Se T =ag .S. η.2,5. [3.12]
T2

em que,

T é o período de vibração de um sistema linear de um grau de liberdade;

TB é o limite inferior do período no patamar de aceleração espectral constante;

TC é o limite superior do período no patamar de aceleração espectral constante;

TD é o valor que define no espectro o início do ramo de deslocamento constante;

S. é o coeficiente de solo;

η é o coeficiente de correcção do amortecimento, com valor de referência de η 1 para um


coeficiente de amortecimento de 5%.

Figura 3.6 - Espectro de resposta elástica para as acções horizontais, para um terreno tipo A (EN1998-1, 2010)

33
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

A EN1998-1 (2010) define ainda dois tipos de acções sísmicas: o sismo tipo 1, que caracteriza
uma acção sísmica interplacas, equivalente a um sismo de magnitude maior que 5,5 que
ocorre a uma grande distância focal; e o sismo tipo 2, que é uma acção sísmica intraplacas, de
magnitude menor, a uma menor distância focal.

Os espectros de resposta devem ser calculados para cada um dos tipos de sismos, conforme o
que está disposto na EN1998-1 (2010). Nas figuras 3.7 e 3.8 estão representados os espectros
de resposta para os sismos tipo 1 e 2, para os diferentes tipos de terreno.

Figura 3.7 - Espectro de resposta elástica do sismo tipo 1, para os diferentes tipos de terreno (EN1998-1, 2010)

Figura 3.8 - Espectro de resposta elástica do sismo tipo 2, para os diferentes tipos de terreno (EN1998-1, 2010)

34
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

O espectro de resposta elástica vertical Sve T está definido relativamente à componente


vertical da aceleração de dimensionamento em rocha, avg , e as expressões que o definem são:

T
0 ≤ T ≤ TB :Sve T =avg . 1+ . η.3,0-1 [3.13]
TB

TB ≤ T ≤ TC :Sve T =avg .η.3,0 [3.14]

TC
TC ≤ T ≤ TD :Sve T =avg .η.3,0. [3.15]
T

TC TD
TD ≤ T ≤ 4s:Sve T =avg . η.3,0. [3.16]
T2

35
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

36
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

CAPÍTULO 4
4 Métodos de análise e dimensionamento

4.1 Considerações gerais


A análise de reservatórios requer a utilização de modelos estruturais adequados a esse fim. Na
fase de pré-dimensionamento (escolha de formas e dimensões) é útil o recurso a métodos
simplificados, mas na fase de verificação da segurança das soluções finais é necessário usar
modelos e métodos mais elaborados, que representem de forma suficientemente aproximada o
funcionamento das estruturas.

Os métodos simplificados para o cálculo de esforços em reservatórios cilíndricos são derivados


da teoria das cascas com simetria de revolução (Timoshenko & Woinowsky-Krieger, 1959;
Ghali & Elliot, 1991; Montoya, Meseguer & Cabré, 2000), aplicando-se quando as paredes têm
espessura constante.

O método dos elementos finitos permite a análise estrutural dos reservatórios sem limitações
na geometria e nas propriedades estruturais, nas condições de fronteira e na forma dos
carregamentos. Em regra consideram-se elementos de casca na discretização estrutural,
podendo também ser adoptados elementos lineares na representação das nervuras.
Atendendo a esta versatilidade, será o método utilizado no presente trabalho.

4.2 Aspectos condicionantes do dimensionamento


O principal requisito dos reservatórios cuja finalidade é armazenar líquidos para além da
resistência, é a impermeabilidade. Como referido, com o pré-esforço pretende-se criar um
campo de compressões de forma a evitar ou minimizar, para valores admissíveis, as tensões
de tracção no betão. Deveria então utilizar-se como critério de dimensionamento a verificação
da segurança das peças em relação ao estado limite de descompressão. Sendo tal requisito
difícil de conseguir, pode tolerar-se a existência de tensões de tracção, desde que sejam
limitadas ao valor médio da resistência do betão à tracção, para evitar a ocorrência de
fendilhação. Se também não for possível respeitar esta condição, deve finalmente garantir-se
que a abertura das fendas seja limitada a 0,1 mm (valor máximo recomendado pela norma
EN1992-3 (2006), para um reservatório de classe 1).

A fendilhação potencia a carbonatação do betão, o que acelera a corrosão das armaduras e a


consequente degradação estrutural. Assim, é essencial que os painéis pré-fabricados sejam
construídos com um betão de classe de resistência elevada, para garantir resistências

37
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

adequadas tanto à compressão como à tracção (em regra cerca de 10% da resistência à
tracção).

As nervuras verticais entre painéis, sendo faixas mais rígidas e localizando-se nos vértices da
poligonal, terão uma grande concentração de tensões nas juntas. Assim, torna-se determinante
uma análise realista de tensões nestas zonas.

4.3 Métodos simplificados de cálculo

4.3.1 Análise de cascas cilíndricas com simetria de revolução

Considere-se uma casca cilíndrica de raio r e altura dx (Figura 4.1).

Figura 4.1 - Esforços actuantes numa casca com simetria de revolução (Timoshenko & Woinowsky-Krieger,
1959)

Nos reservatórios cilíndricos com simetria de revolução os esforços a considerar são, segundo
x, o esforço axial Nx , o momento flector Mx e o esforço transverso Qx , e, na direcção
circunferencial, o esforço axial N e o momento flector circunferencial Mφ . Com base na teoria
da elasticidade, e impondo condições de simetria, Timoshenko & Woinowsky-Krieger (1959)
relacionaram os esforços com os deslocamentos radiais de uma casca w(x), de acordo com as
seguintes expressões:

E.e.w(x)
Nφ x =- [4.1]
r

38
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

d2 w(x)
Mx x =-D [4.2]
dx2

Mφ x =ν.Mx x [4.3]

d d2 w(x)
Qx x = -D. [4.4]
dx dx2

Em que E e ν são, respectivamente, o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson do


material, e a espessura e D é a rigidez de flexão da casca, dada por,

E.e3
D= [4.5]
12.(1-ν2 )

Como o deslocamento w(x) varia consoante o tipo de solicitação, a sua definição será
apresentada conforme se introduz cada acção.

4.3.2 Cálculo dos efeitos da pressão hidrostática

Quando os reservatórios cilíndricos são submetidos à pressão hidrostática podem distinguir-se


dois tipos de comportamento, o de grelha de vigas verticais, associado aos esforços de flexão,
e o de anéis circulares horizontais, essencialmente associado aos esforços de tracção.

Quando se pretende calcular a pressão total no reservatório à distância z (distância de uma


linha transversal média genérica à superfície livre do líquido), têm que se considerar duas
componentes: a componente vertical, Pv z e a horizontal, Ph (z). Assim sendo, a pressão total
do líquido vem expressa como:

P z γ.z Pv z +Ph (z) [4.6]

De acordo com Mendes (2000), para determinar a influência de cada uma das componentes é
necessário considerá-las separadamente. O perímetro de uma secção genérica de raio r
constante é dado por:

P 2.π.r [4.7]

E quando este perímetro sofre uma expansão, vem que:

39
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

∆P 2.π.w z [4.8]

Onde w(z) traduz o deslocamento axial somado ao raio do reservatório. Logo, a extensão do
reservatório é:

Ph (z) w(z)
ε z = = [4.9]
P(z) r

De acordo com Timoshenko & Woinowsky-Krieger (1959), se uma casca cilíndrica com as
extremidades livres for submetida a uma pressão interna uniforme, esta produz tensões
circunferenciais dadas por,

Ph z .r
σh z = [4.10]
e

e, assumindo que o material tem um comportamento elástico linear, vem que a extensão
horizontal é:

Ph z .r
εh z = [4.11]
E.e

Desta forma, a componente horizontal da pressão é dada por:

w(z)
Ph z = .e.E [4.12]
r2

A componente vertical da pressão é determinada associando o comportamento vertical do


reservatório ao de uma viga. Assim sendo,

d2 d2 w z
Pv z = 2
(D. ) [4.13]
dz dz2

em que D é a constante de flexão já exposta na expressão (4.5) Admitindo a espessura do


reservatório constante, pode admitir-se uma constante K igual a,

E.e
K= [4.14]
r2

Portanto, a expressão (4.6) toma a forma:

d4 w z
P z =Pv z +Ph z =D +K.w z [4.15]
dz4

40
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Em que a solução homogénea desta equação é dada pela equação (4.16) e a solução
particular por (4.18).

wh z =e-βz A. cos βz +Bsen βz +eβz (C. cos βz +Dsen βz ) [4.16]

onde A,B,C e D são constantes de integração, determinadas a partir das condições de fronteira
do problema, e β é denominado como constante de casca, sendo

4 K
β= [4.17]
4D

P(z)
wp z = [4.18]
K

Desprezando a influência do bordo superior, a distribuição de deslocamentos laterais numa


casca de espessura constante, solicitada por uma pressão com variação linear (figura 4.2) é:

P z .r2
w z =e-βz A. cos βz +B.sen βz + [4.19]
E.e

Figura 4.2 - Casca cilíndrica solicitada por uma pressão interna linearmente variável (Vilardell I Vallès, 1994)

Este modelo analítico é limitador, na medida em que não considera a deformabilidade da laje
de fundo e tem como condição a ligação entre a parede do reservatório e a laje de fundo ser
um encastramento perfeito, o que deve ser considerado como uma situação limite. Assim, para
considerar o encastramento elástico pode-se recorrer ao método de Hangan-Soare.

41
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Este método tem como base a utilização dos ábacos que se apresentam no anexo A,
pressupondo que a laje de fundo está apoiada numa fundação rígida e que o material tem um
comportamento elástico linear.

Também Montoya, Meseguer & Cabré (2000) propõem um método simples de cálculo dos
esforços num reservatório cilíndrico de espessura constante, ligado rigidamente a uma laje de
fundo (Figura 4.3). O esforço de tracção circunferencial np e o momento flector mv , a uma altura
x do reservatório, são dados por,

np =α.r.h.δ [4.20]

mv =α.r.h.e.δ [4.21]

Sendo α um coeficiente adimensional, dado pelos ábacos do Anexo B, r o raio do reservatório,


h a altura do reservatório, δ o peso especifico do líquido e e a espessura da parede.

Figura 4.3 - Esforços na parede de um reservatório cilíndrico (Montoya, Meseguer & Cabré, 2000)

Os gráficos estão organizados em função de x/h e do parâmetro K. Tendo em conta que e é a


espessura do reservatório, K é dado por,

1,3.h
K= [4.22]
√r.e

42
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

O momento flector mmax e o esforço transverso vmax , na base do reservatório, podem ser
determinados a partir da tabela 4.1, considerando

mmax =αm .r.h.e.δ [4.23]

vmax =αv .r.e.δ [4.24]

Tabela 4.1 – Valores dos parâmetros de αm e αv para determinação dos esforços na base do reservatório
(Montoya, Meseguer & Cabré, 2000)

2 3 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

αm 0,147 0,196 0,235 0,265 0,275 0,279 0,282 0,284 0,286 0,287 0,288 0,288

αv -0,882 -1,471 -2,647 -5,588 -8,529 -11,471 -14,412 -17,353 -20,294 -23,235 26,176 29,118

4.3.3 Cálculo dos efeitos das variações de temperatura

4.3.3.1 Variações uniformes de temperatura

De acordo com Timoshenko & Woinowsky-Krieger (1959) se uma casca de revolução sem
restrições nas extremidades for submetida a uma variação uniforme de temperatura, esta não
provoca tensões na mesma. Mas se uma das extremidades for apoiada ou encastrada, a casca
não se pode deformar livremente, gerando-se reacções M0 e Q0 nessa extremidade. O
deslocamento radial da casca em x é dado por,

e-βx
w x = 3
β.M0 . senβx-cosβx -Q0 .cosβx [4.25]
2.β .D

em que, M0 e Q0 são o momento flector e o esforço transverso em x 0.

43
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

4.3.3.2 Variações diferenciais de temperatura

Considerando T1 e T2 as temperaturas constantes nas faces externa e interna de um


reservatório cilíndrico, respectivamente, e que a variação de temperatura na espessura é
linear, as tensões na face interna e externa são (Timoshenko & Woinowsky-Krieger, 1959):

E.α.(T1 -T2 )
σx =σφ =± [4.26]
2(1-ν)

O sinal positivo refere-se à face exterior, quando a fibra desta é traccionada para T1 >T2 .

Tomando como exemplo uma casca cujas extremidades são livres, as tensões nas
extremidades resultam num momento uniformemente distribuído, com o valor de:

E.α. T1 -T2 .e2


M0 = [4.27]
12(1-ν)

4.3.4 Análise dos efeitos do pré-esforço

4.3.4.1 Critério de definição do pré-esforço

Como referido, o pré-esforço tem a finalidade de introduzir compressões na parede do


reservatório de forma a contrariar as tracções provocadas pela pressão do líquido armazenado
e por outras solicitações. Para o efeito, é costume definir-se uma função com uma forma
contrária à dos efeitos da solicitação que se pretende contrariar. Por exemplo, no caso de um
fluído, as pressões são caracterizadas por um diagrama triangular, que cresce para a base do
reservatório (Figura 4.4), portanto a função de pré-esforço deveria ter um andamento igual mas
de sinal contrário. Este tipo de função é conhecida como Load Balancing Prestressing (L.B.P.).

44
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 4.4 – Simulação dos efeitos da pressão hidrostática e do pré-esforço, considerando o critério de Load
Balancing Prestressing

Se um reservatório tem a translação radial na base restringida e o bordo superior livre, quando
é submetido à pressão do líquido armazenado geram-se esforços de flexão na base que
podem ser agravados pelo pré-esforço aplicado junto à base.

Assim, foram realizados estudos com o objectivo de determinar as melhores formas de


distribuir os cabos de pré-esforço, com o intuito de reduzir o agravamento dos esforços de
flexão, e potenciar a compressão radial do pré-esforço. Tendo em conta que os cabos de pré-
esforço junto à base não são eficazes na compressão da parede e ainda agravam os esforços
de flexão, não faz sentido utilizar uma função crescente desde o bordo superior até à base. Os
estudos realizados incidiram essencialmente na distribuição eficaz dos cabos, de forma a
obter-se a compressão das paredes com a mínima quantidade de pré-esforço. Estas funções
são denominadas por Ring-force Balancing Prestressing (R.B.P.) e têm como objectivo
contrariar as tracções circunferenciais causadas pela pressão do líquido armazenado.

Figura 4.5 - Comparação das funções tipo R.B.P. e tipo L.B.P. (Vilardell, Aguado de Cea & Mirambell, 1994)

45
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

No caso de reservatórios com ligação fixa ou contínua da parede à laje de fundo, as funções do
tipo L.B.P. agravam, como referido, os esforços de flexão na base. Por isso, Vilardell, Aguado
de Cea & Mirambell (1994) aconselham a adopção de funções do tipo R.B.P., que conduzem a
esforços de flexão consideravelmente mais baixos e asseguram compressões circunferenciais
mais uniformes. Por sua vez, caso a ligação painel – laje seja elástica, é usual considerar uma
distribuição do tipo L.B.P. já que os esforços de flexão resultantes são de menor importância.

4.3.4.2 Optimização da função de pré-esforço

Como referido, a fissuração vertical é permitida desde que não se exceda uma abertura de
fendas de 0,1 mm (valor máximo recomendado pela norma EN1992-3 (2006), para
reservatórios de classe 1). As tensões máximas de compressão e de tracção no betão não
poderão ultrapassar, em nenhum momento, o seu valor crítico, e os painéis do reservatório
deverão permanecer sempre comprimidos em condições de serviço.

De acordo com Vilardell, Aguado de Cea & Mirambell (1994), podem definir-se funções que
representem a disposição dos cabos de pré-esforço ao longo da parede do reservatório e
determinar, entre elas, a que optimiza a distribuição do pré-esforço. Deve-se, no entanto, ter
em consideração alguns dos requisitos que esta função tem de cumprir. As distribuições
propostas são apresentadas na tabela 4.2.

A partir da análise das diferentes funções, os autores concluem que as funções do tipo L.B.P.
induzem uma distribuição de tensões circunferenciais pouco uniforme. Em relação à
distribuição trapezoidal, o facto de no bordo livre a quantidade de pré-esforço ser diferente de
zero faz com que as tracções sejam controladas com maior eficácia, e no caso de reservatórios
altos a quantidade de pré-esforço necessária diminui cerca de 3%. Os esforços de flexão
devidos ao pré-esforço também diminuem em relação à função triangular e as compressões
circunferenciais são mais uniformes. De acordo com estas conclusões, quando é oportuno a
utilização de uma função do tipo L.B.P., aconselha-se a utilização da trapezoidal.

Dentro das funções R.B.P. estudadas, as funções F4 e F5 apresentaram melhores resultados


que a função F3, mas com esta última consegue-se também um bom desempenho. Como a
concretização prática da função F3 é mais fácil e tem parâmetros definidores de determinação
mais expedita, Vilardell Vallès, Aguado de Cea, & Arrizabalaga (1997) recomendam a utilização
da distribuição trapezoidal nos reservatórios com ligação contínua ou fixa.

46
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Tabela 4.2 – Hipóteses para a distribuição dos cabos de pré-esforço (Vilardell, Aguado de Cea & Mirambell,
1994)

Perfil de distribuição dos cabos


Tipo de Função Denominação Parâmetros definidores
de pré-esforço

L.B.P. F1 -

L.B.P. F2 c1

R.B.P. F3 c1, e1

R.B.P. F4 c1, e1, g1

R.B.P. F5 c1, e1

47
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

4.3.4.2.1 Determinação dos parâmetros definidores

A função recomendada F3 é definida por dois parâmetros, c1 e e1. O parâmetro c1 é o


multiplicador que quantifica a compressão mínima a aplicar no bordo livre do reservatório,
enquanto e1 define a altura em que a quantidade de pré-esforço passa a ser constante.

De acordo com Vilardell, Aguado de Cea, & Mirambell (1994), o parâmetro c1 deve variar entre
0 e 0,03, sendo o valor recomendado de 0,01. Apesar deste valor ser muito próximo de zero,
comprova-se que no caso de depósitos pequenos, quando se considera c1 nulo, verificam-se
pequenas tracções no bordo livre.

O parâmetro B é o valor máximo de pré-esforço a aplicar no reservatório, calculado de acordo


com a expressão [4.3].

Foi também notado que o parâmetro e1 cresce de forma linear com o aumento do volume do
reservatório, variando entre 0,78 e 0,89. A partir de um estudo em que se variou a rigidez do
terreno, fixando o valor de c1, Vilardell, Aguado de Cea, & Mirambell (1994) propõem uma
expressão que permite determinar de forma simples o valor de e1, em função do volume V (em
m3) do reservatório,

e1 =8,46×10-6 V+0,73 [4.28

4.3.4.3 Deslocamentos devidos ao pré-esforço

O efeito do pré-esforço circunferencial num reservatório alto pode ser estudado de forma
simplificada. De acordo com Timoshenko & Woinowsky-Krieger (1959), uma casca cilíndrica
solicitada por uma carga pontual circunferencial Pϕ , uniformemente distribuída numa secção
intermédia (Figura 4.6), tem deslocamentos radiais dados por,

Pϕ .e-βx
w x = 3
senβx+cosβx [4.29]
8.β .D

sendo Pϕ a força de pré-esforço, aplicada à altura x.

48
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 4.6 - Casca cilíndrica solicitada por forças pontuais uniformemente distribuídas radialmente (Vilardell I
Vallès, 1994)

4.3.5 Acções dinâmicas

4.3.5.1 Interacção dinâmica líquido-reservatório

A quantificação dos efeitos das acções dinâmicas, entre as quais se destacam as sísmicas,
num reservatório cilíndrico requer a consideração de três efeitos, nomeadamente os
associados à massa estrutural, à massa líquida e ao terreno envolvente.

O efeito associado à massa estrutural é contabilizado na equação fundamental de equilíbrio


dinâmico,

Mx + Cx + Kx = P(t) [4.30]

sendo x o vector dos deslocamentos (de dimensão n), x o vector das velocidades, x o vector
das acelerações, M a matriz das massas. C a matriz dos amortecimentos, K a matriz de rigidez
e P(t) o vector das forças nodais aplicadas ao longo do tempo.

O efeito associado ao terreno envolvente terá que ser considerado nos reservatórios
enterrados, mas como neste trabalho apenas serão tratadas os apoiados no terreno, este efeito
não será considerado.

Para uma solicitação sísmica o líquido contido no reservatório gera ondas à superfície que
originam sobrepressões nas paredes, que no caso específico da água “correspondem a modos
anti-simétricos de vibração do líquido excitados pelas componentes de baixa frequência da
solicitação sísmica” (Mendes, 2000). Assim, a massa líquida também tem modos de vibração
próprios, normalmente caracterizados por frequência baixas, por isto devem-se considerar
métodos que possibilitem a análise das vibrações do sistema líquido – reservatório (Figura 4.7).

49
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 4.7 - Representação esquemática do comportamento hidrodinâmico (Mendes, 2000)

Apresentam-se dois métodos que visam quantificar o efeito associado à massa líquida, o de
Housner, apresentado na prEN1998-4 (2003), e o de Newmark & Rosenblueth (1972).

4.3.5.2 Método de Housner

O método de Housner, descrito na prEN1998-4 (2003), é muito elaborado em termos de


formulação teórica, mas é de fácil aplicação.

A aplicação deste método requer a consideração das seguintes hipóteses (Mendes, 2000):

 O líquido é incompressível e viscoso;


 O movimento associado às vibrações do líquido processam-se em regime laminar;
 As deformações nas paredes do reservatório, devidas aos impulsos exercidos pelo
líquido, são desprezáveis;
 A excitação sísmica e correspondentes pressões hidrodinâmicas, exercidas sobre as
paredes, são apenas segundo a direcção horizontal;
 Apenas é considerado o 1º modo de vibração do líquido e admite-se que a sua
frequência tem um valor bem separado da frequência fundamental da estrutura;
 Não se consideram os efeitos associados a modos de vibração vertical.

Considerando estas hipóteses, as sobrepressões hidrodinâmicas podem ser divididas numa


parcela de impulsão Pi , que está associada a uma porção de líquido que oscila em conjunto
com o reservatório, e numa parcela de oscilação Po , associada à oscilação própria do líquido.
Os esforços devido à acção sísmica resultam da vibração própria da estrutura e das
sobrepressões hidrodinâmicas.

50
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

As resultantes das sobrepressões hidrodinâmicas podem ser traduzidas em duas forças


estáticas Fi e Fo , que podem ser interpretadas segundo a 2ª lei de Newton, em que a
aceleração corresponde ao valor do espectro de resposta da acção sismica, Sa , definido em
termos de acelerações horizontais relativas.

A parcela de impulsão é definida através de uma frequência própria, ωc , e de um coeficiente de


amortecimento, ξc , normalmente com um valor de 5% para as estruturas de betão. Desta forma
vem,

Fi =Mi .Sa (ωc ;ξc ) 4.31

Por sua vez, a parcela correspondente ao movimento oscilatório do líquido é definida através
da frequência fundamental de vibração do líquido armazenado, ωo , e de um coeficiente de
amortecimento, ξo , considerando-se normalmente um valor de 0,5% para esta parcela
(Mendes, 2000). Assim vem,

Fo =Mo .Sa ωo ;ξo [4.32]

em que Mi e Mo são massas equivalentes, sendo que a sua soma não é necessáriamente igual
à massa total do líquido armazenado.

Num reservatório cilíndrico as sobrepressões hidrodinâmicas dão-se no seu contorno,


perpendicularmente à parede, sendo necessário considerá-las tanto em altura como em planta
(Figura 4.7).

Figura 4.8 – Sentido das sobrepressões dinâmicas num reservatório cilíndrico (Mendes, 2000)

Considerando θ o ângulo ao centro da direcção da solicitação sísmica, a distribuição espacial


das pressões da parcela de impulsão, para reservatórios pouco esbeltos (H<1,5r) são dadas
por,

51
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

r z z2
Pi,θ =Sa wc . 3.ρ.H.tg 3. . - .cosθ [4.33]
H H 2H2

sendo r e H o raio e altura do reservatório, respectivamente, e z a cota a que se encontra o


líquido armazenado.

A força resultante das pressões de impulsão tem a mesma direcção da acção sísmica, sendo
dada por,

2π H r
tg(√3.)
Fi = 2
Pi z,θ .cosθ.dz.r.dθ=Sa ωc . ρ.π.r .H . H [4.34]
r
√3.
0 0 H

Considerando que ρ.π.r 2 .H é a massa total do líquido, a massa de impulsão é,

r
tg(√3 )
Mi = H
r .M [4.35]
√3
H

Por sua vez, a massa correspondente à parcela oscilante é,

27 r
tg( )
8 H
Mo =0,586 .M [4.36]
27 r
8 H

4.3.5.3 Método de Newmark & Rosenblueth

O método de Newmark & Rosenblueth (1972) permite a análise modal de um reservatório


circular, considerando-o um oscilador linear de n-graus de liberdade. A análise é feita
assimilando o líquido a massas ligadas às paredes através de molas lineares, cada uma
associada a um modo de vibração da estrutura.

A análise sustenta-se na teoria que, num reservatório rígido e completamente cheio, dotado de
uma cobertura rígida, toda a massa do líquido que está dentro do reservatório move-se
solidariamente com este, como uma massa rígida. Mas caso haja um pequeno espaço entre a
superfície do líquido e a cobertura (a partir de cerca de 2% da altura total do reservatório), a
pressão exercida pelo líquido na base e nas paredes é praticamente a mesma que se exerceria
caso a superfície do reservatório fosse livre.

52
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 4.9 - Modelo considerado no método de Newmark & Rosenblueth para da análise modal do reservatório

Considerando o reservatório circular representado na Figura 4.9, de raio r, com a superfície


livre do líquido de massa M a uma altura H da base, as massas que substituem o líquido são
Mo, rigidamente ligada às paredes, a uma altura H0, e M1, ligada às paredes através de molas
de rigidez total K, a uma altura H1. Os valores destas grandezas são os seguintes,

1,7r
tanh( )
M0 = H ×M [4.37]
1,7R
H

1,8H
0,71tanh( )
M1 = r ×M [4.38]
1,8H
r

M
H0 =0,38H 1+ -1 [4.39]
M0

2 2
M r r r.M
H1 =H[1-0,21 +0,55β 0,15 -1 ] [4.40]
M1 H H H.M1

4,75gM21 H
K= [4.41]
Mr2

em que g é a aceleração da gravidade, α e β devem tomar os valores de 1,33 e 2,0,


respectivamente, caso se pretenda considerar os efeitos da pressão hidrodinâmica na laje de

53
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

fundação, ou 0 e 1, respectivamente, caso apenas se pretenda simular os efeitos da pressão


hidrodinâmica nas paredes do reservatório.

A frequência angular correspondente ao primeiro modo de vibração é dada por,

K
ω= [4.42]
M1

Para reservatórios em que a razão H/r é inferior a 0,25, é possível determinar o período
fundamental da estrutura associado ao primeiro modo de vibração, com um erro de
aproximadamente 2%, pela seguinte expressão,

r
T1 1,07 [4.43]
√H

Nos casos em que a razão H/r é aproximadamente de 0,7, sabe-se, com cerca de 10% de erro,
que o período fundamental associado ao primeiro modo de vibração é dado por,

r
T1 [4.44]
√H

4.4 Análise estrutural pelo método dos elementos finitos

4.4.1 Generalidades

A análise de reservatórios cilíndricos com paredes de espessura constante, solicitados por


cargas com simetria de revolução, é relativamente simples considerando os métodos analíticos
atrás apresentados. Quando a geometria das paredes é mais complexa ou as cargas aplicadas
não têm simetria de revolução, é necessário recorrer aos métodos numéricos, sendo o método
dos elementos finitos (MEF) o mais versátil para este fim.

O método dos elementos finitos permite determinar os campos de tensão e de deformação de


uma estrutura de geometria qualquer, sujeita a acções exteriores. Para tal o domínio é dividido
em vários elementos de geometria simples - elementos finitos - cuja assemblagem representa a
estrutura a analisar. Em cada elemento, as variáveis de campo (deslocamentos, esforços ou
tensões) são aproximadas por meios de funções simples.

Os computadores actuais permitem a utilização do MEF, no domínio elástico linear,


praticamente sem limitações. Acresce que existe actualmente um considerável número de
códigos computacionais comerciais baseados no método dos elementos, com excelentes

54
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

capacidades gráficas no pré e pós processamento de dados e resultados, tornando


relativamente fáceis as actividades de análise estrutural. O programa de cálculo SAP2000,
inicialmente desenvolvido na Universidade de Berckley, é um dos programas de cálculo de
estruturas mais versáteis, pelo que será o utilizado no presente trabalho para a análise dos
reservatórios cilíndricos pré-fabricados, nervurados, pós-tensionados. Este programa utiliza
uma formulação em deslocamentos do método dos elementos finitos, sendo estabelecida uma
matriz de rigidez que possibilita o cálculo dos deslocamentos nodais, a partir dos quais são
calculadas as extensões, as tensões e as reacções nos apoios.

Os reservatórios cilíndricos construídos com painéis pré-fabricados são estruturas laminares,


mas com superfície média não plana, constituindo uma casca tridimensional, existindo forças
perpendiculares e paralelas ao seu plano médio e momentos cujo vector está contido no plano
médio da estrutura. Assim, a discretização deve contemplar os painéis, as nervuras e as juntas,
devendo recorrer-se a elementos de casca e lineares, de forma a simular o comportamento de
flexão transversal e modelar a extensão no próprio plano da estrutura.

4.4.2 Elementos finitos a utilizar na análise de reservatórios

4.4.2.1 Elementos finitos de casca

Os elementos finitos de casca mais utilizados são os quadrangulares, mas é também usual
considerar elementos triangulares. A utilização de elementos triangulares de tensão constante
implica um maior refinamento das malhas de cálculo, para se obter uma boa representação do
campo de tensões.

Os elementos triangulares são os mais indicados quando se pretende gerar malhas irregulares
e os quadriláteros são melhores quando se pretendem malhas regulares. Também é comum a
utilização conjunta dos dois tipos de elementos, cobrindo-se a maior parte do domínio com uma
malha de elementos quadriláteros, utilizando-se os elementos triangulares em zonas de
fronteira que necessitam de um maior refinamento, e em zonas de transição de uma malha
mais larga para uma malha mais apertada.

É possível obter bons resultados com menos elementos caso se usem elementos
isoparamétricos com funções de interpolação de 2º grau ou superior. Num elemento
isoparamétrico com funções de interpolação de 2º grau os lados são definidos por três pontos
nodais, enquanto num elemento com funções de interpolação lineares tem os lados definidos
por dois pontos nodais (Figura 4.10). Os elementos cujas funções de interpolação são de 2º
grau são usados geralmente quando se pretende definir domínios de forma curva, mas estes
são mais difíceis de gerar, sendo muitas vezes necessário introduzir os seus pontos de forma
manual.

55
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 4.10 – Elementos com funções de interpolação d 1º grau e do 2º grau.

É fundamental assegurar a compatibilidade de geometria entre os elementos (Vieira de Lemos,


2005). Assim, não se pode ligar a aresta de um elemento de 1º grau com a de um elemento de
2º grau (Figura 4.11 a)), devendo assegurar-se esta transição através de elementos
adequados, utilizando um número variável de nós que possibilite conjugar lados com função de
interpolação do 1º grau com funções do 2º grau (Figura 4.11 b)).

Figura 4.11 - Elemento com incompatibilidade de deslocamento a) e elementos com número variável de nós b)
(Vieira de Lemos, 2005)

4.4.2.2 Elementos finitos de barra

As nervuras devem ser modeladas com elementos de barra, que têm, em regra, 2 pontos
nodais e 6 graus de liberdade em cada nó, correspondentes aos deslocamentos generalizados
(3 rotações e 3 deslocamentos). Utilizando este tipo de elementos em conjunto com elementos
finitos de casca, haverá que garantir, em todos os lados comuns, a compatibilidade da
geometria e dos deslocamentos, isto é, as funções de interpolação deverão ser as mesmas.

56
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

4.4.2.3 Requisitos da discretização estrutural

A precisão dos resultados depende da aproximação do modelo considerado à situação real.


Assim, devem ser considerados todos os aspectos relevantes no que toca à geometria, às
propriedades estruturais, às ligações exteriores e aos carregamentos.

Os elementos finitos devem obedecer a um conjunto de requisitos (por exemplo, devem


permitir a representação de um movimento de corpo rígido sem desenvolver tensões e devem
poder simular os diferentes estados de tensão uniforme), para haver a garantia de obtenção de
uma solução correcta. No programa SAP2000 estes aspectos estão salvaguardados.

Outro aspecto importante prende-se com a distorção dos elementos quadrangulares. Em geral,
a qualidade da solução numérica é tanto pior quanto mais distorcidos forem os elementos
(Vieira de Lemos, 2005). Assim, na discretização deve assegurar-se que as dimensões
relativas do elemento não sejam muito díspares, para que os ângulos internos estejam
compreendidos entre os 45º e os 135º. Nos elementos com funções de interpolação de 2º grau
o ponto nodal intermédio não deve estar fora do terço central da aresta do elemento.

4.4.3 Análises estática e dinâmica pelo método dos elementos finitos

4.4.3.1 Equações matriciais do método dos elementos finitos

A equação de equilíbrio dinâmico de uma estrutura com n graus de liberdade pode escrever-se
na forma matricial como indicado na expressão (4.30). No caso das acções sísmicas, tem-se,

P t =-MIxs [4.45]

sendo xs as acelerações da base de apoio.

No domínio elástico linear, quando se pretende apenas a determinação dos efeitos máximos
nas estruturas, a análise dinâmica pode ser realizada, com vantagem, recorrendo à análise
modal e aos espectros de resposta. Na análise modal requere-se a determinação das
frequências próprias e dos modos de vibração, que é feita a partir da resolução da equação
característica,

K-w2 M =0 [4.46]

57
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

sendo w o vector das frequências angulares da estrutura (valores próprios). Os vectores


próprios correspondem aos modos de vibração.

Na análise estática a equação (4.30) reduz-se a,

Kx=F [4.47]

sendo F o vector das forças nodais equivalentes às acções.

A determinação das matrizes e dos vectores atrás referidos envolve o cálculo de integrais que
não têm, em geral, uma definição analítica. Esse cálculo é realizado numericamente, utilizando
para tal pontos de amostragem dos elementos finitos, designados por pontos de integração. A
regra de integração mais utilizada é a de Gauss (Figura 4.12).

Figura 4.12 - Pontos de integração para a regra de Gauss 2x2 (Vieira de Lemos, 2005)

4.4.3.2 Aspectos do cálculo das tensões

Utilizando uma formulação em deslocamentos do método dos elementos finitos, garante-se a


continuidade dos deslocamentos em todo o domínio, mas verifica-se uma descontinuidade do
campo de tensões entre elementos adjacentes. Desta forma, quanto mais refinada é a malha
menor é a diferença de tensões nas fronteiras de dois elementos contíguos, logo melhor é a
solução numérica.

Quando se pretende obter a tensão num dado ponto do domínio, faz-se uma interpolação das
tensões calculadas nos pontos de amostragem (pontos de Gauss) mais próximos.

A comparação de soluções analíticas e numéricas permite identificar as zonas dos elementos


finitos onde se verificam tensões mais próximas da solução analítica. Para um elemento de 3
nós, esta zona fica no centróide do elemento, e num elemento de 4 nós situa-se no centro do
elemento (Vieira de Lemos, 2005). Num elemento quadrangular com funções de interpolação

58
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

de 2º grau verifica-se que os valores das tensões com melhor aproximação são nos pontos de
integração de Gauss, utilizando uma regra de 2x2. A maioria dos programas de cálculo de
elementos finitos utiliza este critério para o cálculo das tensões nos elementos de 4 e 8 nós. No
programa de cálculo automático SAP2000 as tensões são calculadas nos pontos de Gauss,
mas os resultados são apresentados ao utilizador nos pontos nodais do elemento.

4.4.4 Adaptação do método de Newmark & Rosenblueth para utilização

em programas de elementos finitos

Procedeu-se à adaptação do método Newmark & Rosenblueth (1972) para possibilitar a


análise dinâmica de reservatórios através do método dos elementos finitos. Assim, haverá que
considerar uma distribuição espacial de massas e de rigidez, por forma a simular
correctamente o comportamento de um líquido sob a acção sísmica, uma vez que o método
original é unidimensional.

A ligação das massas aos painéis do reservatório foi considerada através de elementos
lineares de rigidez infinita, no caso da massa M0, e de rigidez K´ , para a massa M1.

O cálculo da rigidez K´ é efectuado considerando a projecção dos vectores da força elástica em


função dos ângulos entre o conjunto de molas, partindo da rigidez total, calculada para o
modelo unidimensional. Na figura 4.13 está representado, em planta, o esquema utilizado para
o cálculo da rigidez de cada mola.

Figura 4.13 - Esquema utilizado para o cálculo da rigidez de cada na generalização do método de Newmark &
Rosenblueth

59
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Considerando um número n de molas, o ângulo que a direcção i (i=1,…n) faz com a direcção 1,
αi, é dado por,


αi = i-1 [4.48]
n

Considerando um deslocamento unitário na direcção 1, o deslocamento da i-nésima direcção é


dado por,

1 1
∆i = = [4.49]
cos(αi ) 2π
cos[ i-1 ]
n

Atendendo a que a força total é dada pelo produto da rigidez pelo deslocamento de cada
direcção, pode determinar-se K´ pela expressão,

K
K´= [4.50]
2
∑ 1

sendo a rigidez total K calculada pela expressão [4.41].

60
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

CAPÍTULO 5
5 Análise de casos de estudo

5.1 Considerações gerais


Neste capítulo será feita a análise dos casos de estudo seleccionados para testar as
metodologias descritas nos capítulos anteriores. Pretende-se realizar a análise dos esforços e
das tensões nos painéis e nas juntas, com o objectivo de identificar os aspectos críticos do
comportamento e da verificação da segurança deste tipo de estruturas.

Escolheram-se duas soluções estruturais para os reservatórios a analisar. A primeira


corresponde a um reservatório baixo, que se admitiu como tendo a altura igual ao seu raio, e o
segundo diz respeito a um reservatório alto, com a altura igual ao seu diâmetro. Considerou-se
o mesmo raio nos dois reservatórios, não demasiado pequeno, para potenciar os efeitos
estruturais devidos à pressão hidrostática, ao pré-esforço e às variações de temperatura.

Os modelos de elementos finitos das estruturas dos dois reservatórios foram analisados, em
regime elástico linear, com o programa de cálculo automático SAP2000.

5.2 Descrição dos casos de estudo


No primeiro caso de estudo, que corresponde ao reservatório baixo, considerou-se uma altura
H1 de 5,8 m, dos quais cerca de 0,50 m estão enterrados, e um raio r de 5,8 m. O reservatório
foi considerado ligeiramente enterrado num pequeno trecho junto à base, sobre a laje de fundo
que constitui a sapata de fundação. Este aspecto tem influência nos efeitos das variações
diferenciais de temperatura, uma vez que nessa zona não provocam esforços nos painéis.

No segundo caso de estudo, respeitante ao reservatório alto, considerou-se a altura igual ao


diâmetro, mantendo, como referido, o raio igual ao do reservatório do primeiro caso. Desta
forma a altura H2 é de 11,6 m e o raio r de 5,8 m. Pela razão referida no exemplo anterior, o
metro inferior do reservatório, junto à base, foi considerado enterrado.

Considerou-se que os painéis pré-fabricados são constituídos por betão da classe C45/55, a
que corresponde um módulo de elasticidade E = 36 GPa e coeficiente de Poisson ν = 0,2. A
argamassa considerada para as juntas tem propriedades idênticas à estudada por Ramos
Barboza (2001), cujas propriedades mecânicas se apresentaram na tabela 2.1.

Os paineis pré-fabricados dos reservatórios têm uma largura de 2,40 m e as paredes e as


nervuras têm espessuras de 0,10 m e 0,23 m, respectivamente (dimensões idênticas às dos
painéis pré-fabricados de um dos fabricantes deste tipo de estruturas). A disposição das

61
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

nervuras horizontais em altura, nos dois reservatórios, e o corte horizontal dos painéis são
apresentados na figura 5.1, a), b) e c), respectivamente.

O pré-esforço será materializado por cordões de 7 fios de aço de alta resistência da classe
Y1860S7-15,3 (prEN 10138-3), pretendendo-se que fiquem inseridos em bainhas no interior
das nervuras horizontais dos paineis pré-fabricados. Os cabos são ancorados entre os painéis,
sendo posteriormente injectada a calda de cimento para assegurar a aderência com o betão
envolvente.

Figura 5.1 – Alçados dos painéis pré-fabricados dos reservatórios baixo (a) e alto (b), e corte horizontal do
painel de ambos os reservatórios (c).

62
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

5.3 Modelos estruturais dos reservatórios

5.3.1 Análise para as acções estáticas

5.3.1.1 Características gerais dos modelos

Como referido, os modelos estruturais dos reservatórios foram elaborados no programa de


cálculo automático SAP2000, com recurso a elementos finitos.

Os painéis pré-fabricados foram discretizados com elementos de casca quadrangulares (Figura


5.2, (a) e (b)). As juntas entre os painéis foram também modeladas com elementos
quadrangulares, em que as diferenças relativamente aos painéis são a espessura e as
propriedades mecânicas correspondentes à argamassa considerada.

A espessura dos painéis é de 0,10 m, sendo a das juntas e nervuras de 0,23 m.

Figura 5.2 – Discretização em elementos finitos dos painéis e juntas do reservatório baixo (a) e do reservatório
alto (b), em SAP2000

As nervuras foram discretizadas com elementos de barra de 0,23 m de espessura (Figuras 5.3
(a) e 5.4 (a)). Para simular as armaduras pré-esforçadas foram utilizados elementos de cabo,
nas cotas das nervuras horizontais (Figura 5.3 (b) e 5.4 (b)), com forças de pré-esforço
constantes em cada cabo.

63
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 5.3 – Nervuras modeladas com elementos lineares (a) e cabos de pré-esforço considerados (b) no
reservatório baixo, em SAP2000

Figura 5.4 – Nervuras modeladas com elementos lineares (a) e cabos de pré-esforço considerados (b) no
reservatório alto, em SAP2000

A ligação entre os painéis e a laje de fundo foi escolhida com o objectivo de optimizar o pré-
esforço aplicado, tendo em vista a verificação dos estados limites de utilização do reservatório.
Começou-se por considerar os painéis perfeitamente encastrados, mas este tipo de ligação
não permitia aproveitar o pré-esforço instalado junto à base, já que para controlar as tensões aí
ocorrentes seria necessária uma grande quantidade de cabos. Por isso, seguindo as

64
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

recomendações de Vilardell I Vallès (1994), para se obterem compressões circunferenciais


residuais importantes na base do reservatório consideraram-se ligações elásticas na base,
materializadas por 2 lâminas de neoprene, o que confere alguma flexibilidade na direcção
radial. A rigidez das molas na direcção radial pode ser calculada de acordo com a expressão
5.1, considerando as variáveis definidas na Figura 5.5 e sendo G o módulo de distorção do
elastómero.

G.h.l
K= [5.1]
e

Figura 5.5 – Ligação elástica na base das paredes utilizando lâminas de elastómero.

Considerando, para as folhas de neoprene, o módulo de distorção G =1 MPa, a espessura e =


2 cm e a altura h = 20 cm, a rigidez das molas vale cerca de 5900 KN/m, para um comprimento
l = 0,59 m, correspondente à divisão da largura de cada painel de 2,36 m em 4 partes iguais.

5.3.1.2 Pressão hidrostática

A pressão que o líquido exerce nos painéis pré-fabricados foi simulada através de uma carga
linearmente distribuída, com valor máximo na base dos reservatórios e mínimo na superfície
livre dos mesmos.

Considerou-se que a altura do líquido era a mesma do reservatório, por isso o valor das
pressões hidrostáticas no bordo superior dos reservatórios é 0 e na base dos mesmos é γ.hi .
Assim, assumindo que o líquido é água, com peso específico γ=10 KN/m3 , a pressão máxima é
de 58 KN/m2 no reservatório baixo e de 116 KN/m2 no reservatório alto.

Com a expressão (4.10) determinaram-se as tensões circunferenciais nas paredes de um


reservatório cilíndrico livre (Tabela 5.1), considerando o raio do reservatório e a pressão
hidrostática nas diferentes cotas.

65
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Tabela 5.1 - Valores da pressão hidrostática calculados à cota de cada nervura

Reservatório baixo H=R Reservatório alto H=D

Altura Altura
nervuras p [KN/m2] σ [KN/m2] nervuras p [KN/m2] σ [KN/m2]
[m] [m]

h0 0,00 0,00 0,00 h1 0,00 0,00 0,00

h1 1,12 11,20 649,60 h2 1,30 13,00 754,00

h2 1,83 18,30 1061,40 h3 2,15 21,50 1247,00

h3 2,44 24,40 1415,20 h4 2,88 28,80 1670,40

h4 2,90 29,00 1682,00 h5 3,40 34,00 1972,00

h5 3,36 33,60 1948,80 h6 3,92 39,20 2273,60

h6 3,82 38,20 2215,60 h7 4,44 44,40 2575,20

h7 4,23 42,30 2453,40 h8 4,96 49,60 2876,80

h8 4,64 46,40 2691,20 h9 5,48 54,80 3178,40

h9 5,05 50,50 2929,00 h10 6,00 60,00 3480,00

h10 5,46 54,60 3166,80 h11 6,52 65,20 3781,60

h11 5,80 58,00 3364,00 h12 7,04 70,40 4083,20

h13 7,56 75,60 4384,80

h14 8,08 80,80 4686,40

h15 8,60 86,00 4988,00

h16 9,12 91,20 5289,60

h17 9,64 96,40 5591,20

h18 10,16 101,60 5892,80

h19 10,67 106,70 6188,60

h20 11,18 111,80 6484,40

h21 11,60 116,00 6728,00

66
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

5.3.1.3 Variações de temperatura

Considerou-se, como referido, uma variação uniforme de temperatura de ±7,5 °C e duas


parcelas diferenciais, uma com uma variação de 15 °C e outra com uma variação de 7,5ºC.

A consideração de valores distintos para as parcelas diferenciais tem como objectivo o estudo
das tensões no reservatório quando este não tem qualquer tipo de revestimento isolante,
simulado pela imposição da variação diferencial de 15ºC, e quando este se encontra isolado
termicamente, que é a situação concretizada pela variação diferencial de 7,5ºC, sendo que esta
última situação é a mais comum.

Como hipótese de pré-dimensionamento considerou-se a variação uniforme de temperatura


com a distribuição apresentada na Figura 5.6. Tomou-se esta opção para ter em conta que a
diferença de temperatura entre o interior e o exterior dos reservatórios, próximo do bordo
superior, não é significativa, não produzindo tensões nessa zona. No trecho intermédio
considerou-se um aumento linear de tensões, que estabilizam junto ao fundo, onde a diferença
de temperatura será máxima. Para α=10-5 ºC-1 e ∆T=7,5ºC, a tensão máxima induzida pelas
variações uniformes de temperatura será de 2175 KN/m2 (2,175 MPa).

Figura 5.6 - Diagrama de variação das tensões ao longo da parede do reservatório, devidas à variação uniforme
de temperatura, usado como hipótese de pré-dimensionamento

As tensões devidas às variações diferenciais de temperatura foram consideradas constantes


ao longo da altura do reservatório. Para ∆T=15ºC a tensão máxima toma o valor de 4350
KN/m2 e para ∆T=7,5ºC a tensão diferencial é de 2175 KN/m2.

67
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

5.3.1.4 Pré-esforço

Para determinar a quantidade de pré-esforço a aplicar nos reservatórios, considerou-se que os


cabos ficarão inseridos nas nervuras dos painéis pré-fabricados, o que significa que a sua
distribuição em altura não é constante, sendo que cada cabo irá influenciar faixas de altura
diferente.

A escolha da quantidade de pré-esforço em cada nervura resultou do cálculo analítico das


tensões que as diferentes acções induzirão nas paredes do reservatório. A quantidade de pré-
esforço é dada por,

NP.E. = σ .e.linf [4.3]

em que ∑ σ é o somatório das tensões devidas às acções da água, σP.H. e das variações
uniforme, σV.U.T. e diferencial, σV.D.T. de temperatura, todas à mesma cota, e é a espessura da
parede do reservatório e linf é a altura de influência do cabo.

Considerando cordões de 7 fios (cada um equivale a uma força de pré-esforço final de cerca de
150 KN), calculou-se o número total de cordões necessários em cada nervura, em cada
reservatório, na situação de reservatório dotado de isolamento térmico e sem isolante térmico
(Tabelas 5.2 a 5.5). Deve referir-se que a quantidade prática de pré-esforço a aplicar NP.E.,apl , é
superior ao valor calculado analiticamente, NP.E. , porque no cálculo analítico considerou-se a
base livre de restrições e paredes de espessura constante, o que faz com que a força de pré-
esforço calculada seja insuficiente.

68
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Tabela 5.2 - Cálculo do número total de cordões de pré-esforço a considerar em cada nervura, para o
reservatório baixo sem isolamento térmico.

Alturas
cordões de σP.H. σV.U.T. σV.D.T. σP.E. NP.E. σP.E.,apl NP.E.,apl Número
pré-esforço [KPa] [KPa] [KPa] [KPa] [KN] [KPa] [KN] cordões
[m]
h0 0 0,00 0,00 4350,00 4350,00 321,03 6097,56 450 3

h1 1,12 649,60 0,00 4350,00 4999,60 737,44 10162,60 750 5

h2 1,83 1061,40 915,00 4350,00 6326,40 417,54 6097,56 450 3

h3 2,44 1415,20 1220,00 4350,00 6985,20 373,71 8411,21 450 3

h4 2,9 1682,00 1450,00 4350,00 7482,00 344,17 9782,61 450 3

h5 3,36 1948,80 1680,00 4350,00 7978,80 367,02 9782,61 450 3

h6 3,82 2215,60 1910,00 4350,00 8475,60 368,69 10344,83 450 3

h7 4,23 2453,40 2115,00 4350,00 8918,40 365,65 10975,61 450 3

h8 4,64 2691,20 2175,00 4350,00 9216,20 377,86 10975,61 450 3

h9 5,05 2929,00 2175,00 4350,00 9454,00 387,61 10975,61 450 3

h 10 5,46 3166,80 2175,00 0,00 5341,80 291,13 11009,17 600 4

Tabela 5.3 – Cálculo do número total de cordões de pré-esforço a considerar em cada nervura, para o
reservatório baixo com isolamento térmico.

Alturas
cordões de σP.H. σV.U.T. σV.D.T. σP.E. NP.E. σP.E.,apl NP.E.,apl Número
pré-esforço [KPa] [KPa] [KPa] [KPa] [KN] [KPa] [KN] cordões
[m]
h0 0 0,00 0,00 2175,00 2175,00 160,52 4065,04 300 2

h1 1,12 649,60 0,00 2175,00 2824,60 416,63 3050,85 450 3

h2 1,83 1061,40 915,00 2175,00 4151,40 273,99 4545,45 300 2

h3 2,44 1415,20 1220,00 2175,00 4810,20 257,35 5607,48 300 2

h4 2,9 1682,00 1450,00 2175,00 5307,00 244,12 6521,74 300 2

h5 3,36 1948,80 1680,00 2175,00 5803,80 266,97 6521,74 300 2

h6 3,82 2215,60 1910,00 2175,00 6300,60 274,08 6896,55 300 2

h7 4,23 2453,40 2115,00 2175,00 6743,40 276,48 7317,07 300 2

h8 4,64 2691,20 2175,00 2175,00 7041,20 288,69 7317,07 300 2

h9 5,05 2929,00 2175,00 2175,00 7279,00 298,44 7317,07 300 2

h 10 5,46 3166,80 2175,00 0,00 5341,80 291,13 8256,88 450 3

69
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Tabela 5.4 - Cálculo do número total de cordões de pré-esforço a considerar em cada nervura, para o
reservatório alto sem isolamento térmico.

Alturas
cordões de σP.H. σV.U.T. σV.D.T. σP.E. NP.E. σP.E.,apl NP.E.,apl Número
pré-esforço [KPa] [KPa] [KPa] [KPa] [KN] [KPa] [KN] cordões
[m]
h1 0,00 0,00 0,00 4350,00 5000,00 261,00 5000,00 300,00 2

h2 1,30 754,00 0,00 4350,00 6944,44 551,23 6944,44 750,00 5

h3 2,15 1247,00 0,00 4350,00 5696,20 442,16 5696,20 450,00 3

h4 2,88 1670,40 0,00 4350,00 7142,86 379,29 7142,86 450,00 3

h5 3,40 1972,00 850,00 4350,00 8653,85 372,94 8653,85 450,00 3

h6 3,92 2273,60 980,00 4350,00 11538,46 395,39 11538,46 600,00 4

h7 4,44 2575,20 1110,00 4350,00 11538,46 417,83 11538,46 600,00 4

h8 4,96 2876,80 1240,00 4350,00 11538,46 440,27 11538,46 600,00 4

h9 5,48 3178,40 1370,00 4350,00 11538,46 462,72 11538,46 600,00 4

h10 6,00 3480,00 1500,00 4350,00 11538,46 485,16 11538,46 600,00 4

h11 6,52 3781,60 1630,00 4350,00 14423,08 507,60 14423,08 750,00 5

h12 7,04 4083,20 1760,00 4350,00 14423,08 530,05 14423,08 750,00 5

h13 7,56 4384,80 1890,00 4350,00 14423,08 552,49 14423,08 750,00 5

h14 8,08 4686,40 2020,00 4350,00 14423,08 574,93 14423,08 750,00 5

h15 8,60 4988,00 2150,00 4350,00 14423,08 597,38 14423,08 750,00 5

h16 9,12 5289,60 2175,00 4350,00 14423,08 614,36 14423,08 750,00 5

h17 9,64 5591,20 2175,00 4350,00 14423,08 630,04 14423,08 750,00 5

h18 10,16 5892,80 2175,00 4350,00 14423,08 645,73 14423,08 750,00 5

h19 10,67 6188,60 2175,00 0,00 14705,88 426,54 14705,88 750,00 5

h20 11,18 6484,40 2175,00 0,00 13235,29 588,84 13235,29 900,00 6

70
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Tabela 5.5 - Cálculo do número total de cordões de pré-esforço a considerar em cada nervura, para o
reservatório alto com isolamento térmico.

Alturas
cordões de σP.H. σV.U.T. σV.D.T. σP.E. NP.E. σP.E.,apl NP.E.,apl Número
pré-esforço [KPa] [KPa] [KPa] [KPa] [KN] [KPa] [KN] cordões
[m]
h1 0,00 0,00 0,00 2175,00 2500,00 130,50 2500,00 150,00 1

h2 1,30 754,00 0,00 2175,00 4166,67 316,33 4166,67 450,00 3

h3 2,15 1247,00 0,00 2175,00 3797,47 270,34 3797,47 300,00 2

h4 2,88 1670,40 0,00 2175,00 4761,90 242,26 4761,90 300,00 2

h5 3,40 1972,00 850,00 2175,00 5769,23 259,84 5769,23 300,00 2

h6 3,92 2273,60 980,00 2175,00 5769,23 282,29 5769,23 300,00 2

h7 4,44 2575,20 1110,00 2175,00 8653,85 304,73 8653,85 450,00 3

h8 4,96 2876,80 1240,00 2175,00 8653,85 327,17 8653,85 450,00 3

h9 5,48 3178,40 1370,00 2175,00 8653,85 349,62 8653,85 450,00 3

h10 6,00 3480,00 1500,00 2175,00 8653,85 372,06 8653,85 450,00 3

h11 6,52 3781,60 1630,00 2175,00 8653,85 394,50 8653,85 450,00 3

h12 7,04 4083,20 1760,00 2175,00 8653,85 416,95 8653,85 450,00 3

h13 7,56 4384,80 1890,00 2175,00 8653,85 439,39 8653,85 450,00 3

h14 8,08 4686,40 2020,00 2175,00 11538,46 461,83 11538,46 600,00 4

h15 8,60 4988,00 2150,00 2175,00 11538,46 484,28 11538,46 600,00 4

h16 9,12 5289,60 2175,00 2175,00 11538,46 501,26 11538,46 600,00 4

h17 9,64 5591,20 2175,00 2175,00 11538,46 516,94 11538,46 600,00 4

h18 10,16 5892,80 2175,00 2175,00 11538,46 532,63 11538,46 600,00 4

h19 10,67 6188,60 2175,00 0,00 11764,71 426,54 11764,71 600,00 4

h20 11,18 6484,40 2175,00 0,00 11029,41 588,84 11029,41 750,00 5

5.3.2 Análise dinâmica para acções sísmicas

5.3.2.1 Características das massas e das molas para simulação do líquido

A análise dinâmica dos reservatórios para as acções sísmicas foi feita considerando o método
de Newmark & Rosenblueth. Para o efeito determinaram-se os valores das massas
equivalentes e as alturas a que essas massas deverão ser localizadas, para simulação do
comportamento de um líquido represado sob a acção sísmica.

Para efectuar a simulação ligaram-se as massas aos painéis dos reservatórios através de
elementos de barra de rigidez infinita, no caso da massa M0, e de rigidez K´ , para a massa M1,
tal como se mostra na figura 5.7.

71
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 5.7 – Malhas utilizadas para a análise dinâmica do reservatório baixo (a) e do reservatório alto (b), em
SAP2000

Considerando o raio e a altura do reservatório baixo iguais a 5,8 m, a massa de água com o
reservatório cheio é de 6129,6 Kg. No caso de reservatório alto, para uma altura de 11,6 m e
um raio de 5,8 m, a massa total de água é de 12259,3 Kg. Não considerando os efeitos da
pressão hidrodinâmica na laje de fundação (α=0 e β=1), o valor das massas e as respectivas
alturas, a rigidez total e a frequência natural dos sistemas são apresentados na Tabela 5.6.

Determinado o valor da rigidez total, é possível determinar o valor da rigidez de cada mola K´ ,
considerando um número de painéis n=15 (Tabela 5.7).

Tabela 5.6 – Valores calculados para realizar a análise dinâmica dos reservatórios considerando o método de
Newmark & Rosenblueth

H reservatório 5,80 m 11,60 m

M água [Kg] 6129,62 12259,25

M0 [Kg] 3372,77 9967,05

M1 [Kg] 2289,18 2414,19

H0 [m] 2,20 4,41

H1 [m] 3,41 8,51

K [kN/m] 6861,50 7631,33

w [rad/s] 1,73 1,78

72
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Tabela 5.7 – Cálculo da rigidez de cada mola para análise dinâmica dos reservatórios considerando o método
de Newmark & Rosenblueth

K´H=R K´H=D
Barra α [rad] ∆ [m]
[kN.m] [kN.m]

1 0,00 1,00

2 0,42 1,09

3 0,84 1,49

4 1,26 3,24

5 1,68 9,57

6 2,09 2,00

7 2,51 1,24

8 2,93 1,02 170,26 189,36

9 3,35 1,02

10 3,77 1,24

11 4,19 2,00

12 4,61 9,57

13 5,03 3,24

14 5,45 1,49

15 5,86 1,09

5.3.2.2 Definição da acção sísmica

A acção sísmica foi definida pelos espectros de resposta da EN1998-1 (2010). Considerou-se
que o reservatório está implantado numa zona sísmica equivalente às zonas sísmicas 1.3 e 2.3
do território nacional, e que o terreno de fundação é do tipo B.

De acordo com a prEN1998-4 (2010), um reservatório para armazenamento de água ou de


material líquido não inflamável nem tóxico, com classe de importância II (existem três classes
de importancia para reservatórios, tendo-se considerado a situação intermédia), tem um
coeficiente de importância igual a 1. Com as expressões (3.9) a (3.12) determinaram-se os
parâmetros da Tabela 5.8, necessários para definir o espectro de resposta elástica, para um
período de retorno T=475 anos.

73
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Tabela 5.8 – Parâmetros que definem o espectro de resposta elástica para T=475 anos, para as zonas sísmicas
1.3 e 2.3, para terreno de fundação do tipo B

agR (m/s2 ) ag (m/s2 ) S TB (s) TC (s) TD (s)

Sismo Tipo 1 1,5 1,5 1,2 0,1 0,6 2

Sismo Tipo 2 1,7 1,7 1,35 0,1 0,25 2

Na figura 5.8 apresenta-se a representação gráfica dos espectros de resposta elástica


utilizados.

7
6
Sismo afastado (tipo 1)
Aceleração (m/s2)

5
4
Sismo próximo (tipo 2)

3
2
1
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
Período (s)

Figura 5.8 – Espectros de resposta elástica para as zonas sísmicas 1.3 e 2.3 e terreno tipo B.

5.4 Apresentação e análise dos resultados


Como referido, os deslocamentos, os esforços e as tensões devidos às diferentes acções
foram calculados através da resolução automática, com o programa SAP2000, dos dois
modelos estrutuais dos reservatórios.

Os métodos apresentados no capítulo 4 aplicam-se a reservatórios cilíndricos com paredes de


espessura constante (não nervurados), em geral betonados in situ, pelo que não será possível
comparar os resultados obtidos no presente estudo com os referentes à utilização daqueles
métodos. A análise de tensões será feita a meio dos paineis pré-fabricados e nas juntas, sendo
comparadas as diferenças entre estes dois elementos.

Analisar-se-ão as tensões circunferencais e as verticais, nas faces exterior e interior de cada


reservatório, para os casos de reservatórios cheios e vazios, submetidos apenas às acções
permanentes (peso próprio, pré-esforço e, para os reservatórios cheios, pressão hidrostática) e
às acções permanentes e variáveis (variações uniformes e diferenciais de temperatura).

74
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Tendo sido calculado o pré-esforço necessário para os casos em que os reservatórios não têm
isolamento térmico (pré-esforço PE1, para as variações diferenciais de temperatura VDT1) e
com isolamento térmico (pré-esforço PE2 e variações diferenciais de temperatura VDT2), é
feita a comparação de tensões para estas situações.

5.4.1 Acções estáticas

5.4.1.1 Tensões circunferenciais

5.4.1.1.1 Tensões no reservatório baixo

Nos gráficos das Figuras 5.9 a 5.12 apresentam-se as tensões circunferenciais nas paredes
dos painéis (Figuras 5.9 e 5.11) e das juntas (Figura 5.10 e 5.12), nas faces exterior e interior
do reservatório baixo, para cada uma das acções estáticas, nomeadamente o peso próprio
(PP), a pressão hidrostática (PH), o pré-esforço para os casos de não existir isolamento térmico
(PE1) e havendo isolamento térmico (PE2), a variação uniforme de temperatura (VUT) e as
variações diferenciais de temperatura sem isolamento térmico (VDT1) e com isolamento
térmico (VDT2).

As tensões circunferenciais devidas ao peso próprio são nulas, como seria de esperar. Como
se pode comprovar, tanto nos painéis como nas juntas, a acção que induz maiores tensões de
tracção na face exterior é a variação diferencial de temperatura, quando o reservatório não é
dotado de revestimento isolante (excepto no trecho enterrado, onde as tensões devidas à
temperatura diferencial são próximas de zero). Nesta face exterior calcularam-se tensões de
tracção máximas de cerca de 4 MPa e na face interior obtiveram-se, para esta acção, tensões
de compressão máximas também de cerca de 4 MPa. Os valores das tensões nas juntas é
substancialmente menor que nos painéis, sendo os máximos da ordem de 2 MPa, pois a
espessura é muito maior (23 cm em vez de 10 cm).

75
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
6

4 PP
PH
3
PE1

2 PE2
VUT
1 VDT1
VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.9 - Tensões circunferenciais provocadas pelas acções estáticas, ao longo da altura dos painéis, na
face exterior do reservatório baixo.

h [m]
6

4
PP

3 PH
PE1
2 PE2
VUT
1 VDT1
VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.10 - Tensões circunferenciais provocadas pelas acções estáticas, ao longo da altura das juntas, na
face exterior do reservatório baixo.

76
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
6

4
PP
PH
3
PE1
2 PE2
VUT
1 VDT1
VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.11 - Tensões circunferenciais provocadas pelas acções estáticas, ao longo da altura dos painéis, na
face interior do reservatório baixo.

h [m]
6

4
PP
3 PH
PE1
2 PE2
VUT
1 VDT1
VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.12 - Tensões circunferenciais provocadas pelas acções estáticas, ao longo da altura das juntas, na
face interior do reservatório baixo.

77
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

O trecho inferior do painel, junto à base, é o que tem maior quantidade de pré-esforço, como se
pode confirmar nas tabelas 5.2 a 5.5., mas é onde se regista um menor aproveitamento do pré-
esforço, facto que se verifica tanto nos painéis como nas juntas. Nas juntas nota-se também
que as tensões são menos uniformes junto ao bordo superior do reservatório.

A pressão hidrostática, tal como previsto, induz tensões de tracção na face exterior do
reservatório, que crescem no sentido da base do reservatório (valor máximo da ordem de 3,8
MPa). Já nas juntas provoca compressões (Figura 5.10), de valor máximo (cerca de 1,5 MPa)
menor que nos painéis.

Na face interior do reservatório, a pressão hidrostática é condicionante nas juntas, com tensões
de tracção da ordem de 3,8 MPa, mas nos painéis as tensões são muito próximas de zero
(Figuras 5.11 e 5.12).

A variação uniforme de temperatura, por sua vez, causa tracções praticamente constantes ao
longo dos painéis e das juntas, tanto na face exterior como na interior, com valores da ordem
de 1,5 MPa, sendo que na face interior dos painéis é a única acção que submete o betão à
tracção.

Nas Figuras 5.13 a 5.16 apresentam-se, sucessivamente, os deslocamentos devidos à pressão


hidrostática, ao pré-esforço PE1, às variações uniformes de temperatura e às variações
diferenciais de temperatura VDT1.

Na figura 5.14 pode comprovar-se que os deslocamentos mínimos devido ao pré-esforço


situam-se junto ao bordo superior, que é livre, e junto à base.

Deve referir-se que os deslocamentos representados na Figura 5.16, devidos à variação


diferencial de temperatura VDT1, são qualitativamente similares aos representados na Figura
3.4.

78
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 5.13 – Deslocamentos (mm) do reservatório baixo, devidos à pressão hidrostática PH.

Figura 5.14 – Deslocamentos (mm) do reservatório baixo sem isolamento térmica, devidos à acção do pré-
esforço PE1.

79
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 5.15 – Deslocamentos (mm) do reservatório baixo, devidos à acção da variação uniforme de temperatura
VUT.

Figura 5.16 – Deslocamentos (mm) do reservatório baixo sem isolamento térmico, devidos à acção da variação
diferencial de temperatura VDT1.

80
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Os gráficos das Figuras 5.17 a 5.20 representam as tensões nos reservatórios, quando cheios,
para dois tipos de combinações: acções permanentes, com e sem pré-esforço, e acções
permanentes e variáveis, também com e sem pré-esforço.

A combinação de acções permanentes considera o peso próprio (PP) e a pressão hidrostática


(PH), e a combinação de acções permanentes e variáveis considera as duas acções anteriores
e as variações de temperatura, VUT e VDT1 para o caso do reservatório sem isolamento
térmico, e VUT e VDT2 para o reservatório dotado de isolamento.

As combinações de acções que consideram as variações de temperatura, mas sem incluir o


pré-esforço, provocam tensões de tracção elevadas nos painéis, na face exterior do
reservatório, sendo a situação mais gravosa a referente ao reservatório sem isolamento
térmico, em que se atingem valores máximos de cerca de 8 MPa; considerando adicionalmente
o pré-esforço os painéis continuam à tracção, mas as tensões máximas são de cerca de 1,5
MPa (Figura 5.17), situando-se assim dentro dos limites de resistência do betão C45/55 (valor
máximo de resistência à tracção de 3,8 MPa). A face interior dos painéis está praticamente
sempre comprimida, mas os valores máximos das tensões de compressão atingem cerca de
9,5 MPa (Figura 5.19).

Na face exterior das juntas, tanto a pressão hidrostática como o pré-esforço induzem tensões
de compressão, atingindo-se valores máximos de cerca de 6 MPa com a consideração do pré-
esforço (Figura 5.18). Na face interior, junto à base, as juntas ficam traccionadas, mesmo após
a aplicação do pré-esforço, com valores máximos da ordem de 1 MPa.

Concluindo, na face exterior das paredes do reservatório, tanto nos painéis como nas juntas, a
combinação de acções permanentes e variáveis, no caso do reservatório sem isolamento
térmico, irá condicionar o dimensionamento, ao passo que na face interior a combinação
condicionante será a das acções permanentes.

81
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
6

PP+PH 4

PP+PH+VUT+VDT1
3
PP+PH+VUT+VDT2
PP+PH+PE1
2
PP+PH+PE2
PP+PH+PE1+VUT+VDT1 1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.17 – Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo
da altura dos painéis, na face exterior do reservatório baixo.

h [m]
6

4
PP+PH

3 PP+PH+VUT+VDT1
PP+PH+VUT+VDT2
2 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
1 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.18 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da
altura das juntas, na face exterior do reservatório baixo.

82
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
6

4
PP+PH
3 PP+PH+VUT+VDT1
PP+PH+VUT+VDT2
2 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
1 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.19 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da
altura dos painéis, na face interior do reservatório baixo.

h [m]
6

PP+PH
3
PP+PH+VUT+VDT1
PP+PH+VUT+VDT2
2
PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
PP+PH+PE1+VUT+VDT1 1

PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.20 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da
altura das juntas, na face interior do reservatório baixo.

83
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Os gráficos das Figuras 5.21 a 5.24 representam as tensões no reservatório para a situação
em que está vazio ou cheio.

A face exterior dos painéis estará sempre comprimida quando o reservatório se encontra vazio,
com excepção de um pequeno trecho superior, em que ocorrem tensões de tracção máximas
de cerca de 0,5 MPa. As tensões de compressão atingem valores máximos de cerca de 7 MPa,
para a acção exclusiva do pré-esforço. A situação mais desfavorável para a face exterior dos
painéis corresponde ao caso de reservatório cheio com todas as acções em simultâneo, em
que haverá tracções em toda a altura, com valores máximos de cerca de 1,5 MPa (Figura
5.21).

A face interior dos painéis estará sempre comprimida, podendo as tensões máximas atingir um
valor de cerca de 9,5 MPa (Figura 5.22).

h [m]
6

4 PP+PE1
PP+PE2
3 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
2 PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
1 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.21 – Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio
e cheio, na face exterior dos painéis do reservatório baixo.

84
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
6

4 PP+PE1
PP+PE2
3 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
2 PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
1 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.22 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e
cheio, na face interior dos painéis do reservatório baixo.

De acordo com os diagramas de tensões apresentados nas Figuras 5.23 e 5.24, na face
exterior das juntas a combinação de acções que condiciona é a que considera todas as
acções, quando o reservatório se encontra vazio, sem isolamento térmico. Nessa situação
verificam-se tensões de tracção no trecho superior, com valores máximos de cerca de 1 MPa
(Figura 5.23).

Na face interior das juntas, por sua vez, a combinação de acções permanentes e variáveis com
o reservatório cheio e com isolamento térmico é a que provoca ligeiras tensões de tracção
junto à base, com valores máximos da ordem de 1,5 MPa (Figura 5.24).

85
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
6

4 PP+PE1
PP+PE2

3 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
2 PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
1 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.23 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e
cheio, na face exterior das juntas do reservatório baixo.

h [m]
6

4 PP+PE1
PP+PE2
3 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
2
PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
1
PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.24 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e
cheio, na face interior das juntas do reservatório baixo.

86
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

5.4.1.1.2 Tensões no reservatório alto

Nas Figuras 5.25 a 5.28 representam-se as tensões circunferenciais no reservatório alto para
as acções do peso próprio (PP), pressão hidrostática (PH), pré-esforço para o caso em que
não existe isolamento térmico (PE1) e para o caso com isolamento térmico (PE2), variação
uniforme de temperatura (VUT) e variação diferencial de temperatura, quando o reservatório
não é dotado de isolamento térmico (VDT1) e quando é isolado termicamente (VDT2).

A partir dos diagramas da Figura 5.25 pode-se concluir que desde o bordo superior até cerca
dos 6 m de altura, quando o reservatório não é dotado de isolamento, a solicitação que origina
as tensões máximas de tracção na face exterior dos painéis é a variação diferencial de
temperatura, atingindo-se valores da ordem de 3,5 MPa. Abaixo dos 6 m, a pressão
hidrostática induz as maiores tensões de tracção, que atingem cerca de 8 MPa na base. Por
sua vez, quando o reservatório é isolado termicamente, a variação diferencial de temperatura
provoca tracções máximas de cerca de 1,5 MPa.

Na face exterior das juntas, dado que a pressão hidrostática provoca tensões de compressão,
as variações diferenciais de temperatura, para o caso de não existir isolamento térmico,
induzem as maiores tensões de tracção, atingindo valores de 3 MPa (Figura 5.26).

Na face interior, tanto nos painéis como nas juntas, a variação diferencial de temperatura induz
tensões de compressão (Figuras 5.27 e 5.28).

h [m]
12

10

8
PP
6 PH
PE1
4 PE2
VUT
2 VDT1
VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.25 - Tensões circunferenciais devidas às acções estáticas, ao longo da altura dos painéis, na face
exterior do reservatório alto.

87
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
12

10

8
PP
6 PH
PE1
4 PE2
VUT
2 VDT1
VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.26 - Tensões circunferenciais devidas às acções estáticas, ao longo da altura das juntas, na face
exterior do reservatório alto.

Dado a maior altura deste reservatório, a pressão hidrostática provoca um aumento das
tensões na base do reservatório, em comparação com o exemplo anterior, nomeadamente na
face exterior dos painéis e na face interior das juntas, alcançando valores da ordem de 8,5 MPa
e 9 MPa, respectivamente.

Tal como acontecia com o reservatório baixo, o pré-esforço junto da base não é totalmente
aproveitado, dado que a ligação entre os painéis e a laje está parcialmente restringida; nas
juntas verifica-se, também, que as tensões são pouco uniformes.

As variações uniformes de temperatura, à semelhança do modelo anterior, só induzem


esforços de tracção, sendo condicionantes na face interior dos painéis.

88
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
12

10

8
PP
6 PH
PE1
4 PE2
VUT
2 VDT1
VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.27 - Tensões circunferenciais devidas às acções estáticas, ao longo da altura dos painéis, na face
interior do reservatório alto.

h [m]
12

10

8
PP
6 PH
PE1
4 PE2
VUT
2 VDT1
VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.28 - Tensões circunferenciais devidas às acções estáticas, ao longo da altura das juntas, na face
interior do reservatório alto.

Nas Figuras 5.29 a 5.32 apresentam-se, sucessivamente, os deslocamentos devidos à pressão


hidrostática, ao pré-esforço PE1, às variações uniformes de temperatura e às variações
diferenciais de temperatura VDT1.

89
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 5.29 – Deslocamentos (mm) do reservatório alto, devidos à acção da pressão hidrostática PH.

Figura 5.30 – Deslocamentos (mm) do reservatório alto sem isolamento térmico, devidos à acção do pré-
esforço PE1.

90
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura 5.31 – Deslocamentos (mm) do reservatório alto devidos à acção da variação uniforme de temperatura
VUT.

Figura 5.32 – Deslocamentos (mm) do reservatório alto sem isolamento térmico, devidos à acção da variação
diferencial de temperatura VDT1.

91
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Considerem-se as Figuras 5.33 a 5.36, onde estão representadas as tensões circunferenciais


no reservatório alto para as diferentes combinações de acções, em função da quantidade de
pré-esforço aplicado. As combinações consideram as acções do peso próprio (PP), da pressão
hidrostática (PH) e do pré-esforço (pré-esforço no reservatório sem isolamento, PE1, e com
isolamento, PE2), e estas acções com as variáveis (variação uniforme de temperatura, VUT, e
variação diferencial de temperatura, para reservatório sem isolamento, VDT1, e com
isolamento, VDT2). Considerou-se também uma combinação com todas as acções (PH, PP,
PE1 e PE2, VUT, VDT1 e VDT2).

A combinação de acções permanentes e variáveis é aquela que condiciona sempre as tensões


na face exterior dos painéis e das juntas. Na face exterior dos painéis, à semelhança do que
acontecia no reservatório baixo, quando se consideram todas as acções, o pré-esforço não
evita que haja tensões de tracção, mas com valores máximos da ordem de 3 MPa (Figura
5.33). Nas juntas, dado a pressão hidrostática comprimir a parede, o pré-esforço acentua a
compressão, atingindo-se máximos de cerca de 12 MPa junto à base.

Na face interior dos painéis e das juntas é a pressão hidrostática que induz as tensões
máximas de tracção (Figura 5.35 e 5.36). Já com pré-esforço, a situação mais desfavorável nas
juntas ocorre quando este é dotado de revestimento térmico, ficando os 6 m inferiores
traccionados, com valor máximo de cerca de 3 MPa (Figura 5.35). A compressão máxima nos
painéis ascende a 13 MPa (Figura 5.35).

h [m]
12

10

8
PP+PH
PP+PH+VUT+VDT1 6
PP+PH+VUT+VDT2
PP+PH+PE1 4
PP+PH+PE2
PP+PH+PE1+VUT+VDT1 2
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.33 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da
altura dos painéis, na face exterior do reservatório alto.

92
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
12

10

8
PP+PH
6 PP+PH+VUT+VDT1
PP+PH+VUT+VDT2
4 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
2 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.34 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da
altura das juntas, na face exterior do reservatório alto.

h [m]
12

10

8
PP+PH
PP+PH+VUT+VDT1
6
PP+PH+VUT+VDT2

4 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
2 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.35 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da
altura dos painéis, na face interior do reservatório alto.

93
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
12

10

8
PP+PH
PP+PH+VUT+VDT1 6
PP+PH+VUT+VDT2
PP+PH+PE1 4
PP+PH+PE2
PP+PH+PE1+VUT+VDT1 2

PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.36 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da
altura das juntas, na face interior do reservatório alto.

Os gráficos das Figuras 5.37 a 5.40 representam as tensões no reservatório para a situação
em que está vazio ou cheio.

A combinação de acções que condiciona a face exterior dos painéis é aquela que considera
todas as acções, para o reservatório dotado de isolamento térmico, quando se encontra cheio,
já que as tensões de tracção atingem cerca de 3 MPa junto à base (Figura 5.37). A face interior
mantém-se sempre comprimida, com valores máximos de 13 MPa (Figura 5.38).

94
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
12

10

8
PP+PE1
PP+PE2
6
PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
4
PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
2 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.37 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e
cheio, na face exterior dos painéis do reservatório alto.

h [m]
12

10

8 PP+PE1
PP+PE2
6 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
4 PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
2 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.38 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e
cheio, na face interior dos painéis do reservatório alto.

95
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Na face exterior das juntas, junto ao bordo superior do reservatório, calcularam-se tensões de
tracção na combinação de acções permanentes e variáveis, para as situações de reservatório
cheio e vazio (Figura 5.39), com valores máximos de cerca de 1,5 MPa. Já na face interior
(Figura 5.40), junto à base do reservatório, quando este se encontra cheio, existem tracções de
valor relativamente elevado (3 MPa).

h [m]
12

10
PP+PE1
8 PP+PE2
PP+PH+PE1
6
PP+PH+PE2

4 PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
2 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.39 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e
cheio, na face exterior das juntas do reservatório alto.

96
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
12

10

8 PP+PE1
PP+PE2
6 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
4 PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
2 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.40 - Tensões circunferenciais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e
cheio, na face interior das juntas do reservatório alto.

5.4.1.2 Tensões verticais

5.4.1.2.1 Tensões no reservatório baixo

Nas figuras 5.41 a 5.44 apresentam-se as tensões verticais calculadas no reservatório baixo,
para as acções estáticas consideradas.

O peso próprio induz tensões verticais muito moderadas no reservatório, que aumentam para a
base, como é natural. As tensões verticais devidas à pressão hidrostática são muito pequenas,
ao contrário do que se verificou com as tensões circunferenciais, registando-se um valor
máximo de 0,5 MPa na face interior das juntas, junto à base (Figura 5.44).

As variações diferenciais de temperatura são as acções mais gravosas para a face exterior do
reservatório, tanto nos painéis como nas juntas, atingindo as tensões de tracção valores da
ordem de 4,0 MPa, nos painéis, e de 2,5 MPa nas juntas (Figuras 5.41 e 5.42). Na face interior
estas acções induzem compressões (Figuras 5.43 e 5.44). A variação uniforme de temperatura
provoca tracções na face interior dos painéis, com valores praticamente constantes de 1 MPa.
O pré-esforço não induz tensões verticais significativas nos painéis (os valores máximos
registam-se junto à base do reservatório, sendo da ordem de 1 MPa), mas nas juntas as
tensões variam muito em altura, sendo que os valores máximos da ordem de ± 2,0 MPa.

97
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
6

4
PP
3 PH
PE1
2 PE2
VUT
1 VDT1
VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.41 – Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura dos painéis, na face exterior do
reservatório baixo.

h [m]
6

4
PP
3 PH
PE1
2 PE2
VUT
1 VDT1
VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.42 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura das juntas, na face exterior do
reservatório baixo.

98
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
6

4
PP
3 PH
PE1
2 PE2
VUT
1 VDT1
VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.43 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura dos painéis, na face interior do
reservatório baixo.

h [m]
6

4
PP
PH
3
PE1

2 PE2
VUT
1 VDT1
VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.44 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura das juntas, na face interior do
reservatório baixo.

99
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Nas Figuras 5.45 a 5.48 apresentam-se os diagramas de tensões para as diferentes


combinações, com e sem pré-esforço.

Nas figuras 5.45 e 5.46, que apresentam as tensões verticais na face exterior do reservatório, é
possível verificar que as tracções provocadas pela combinação de todas as acções, quando o
reservatório não é dotado de isolamento térmico, são grandes, com valores máximos da ordem
de 5,5 MPa (as tensões de compressão provocadas pelo pré-esforço são de cerca de 1 MPa).
A análise destas tensões verticais permite concluir que a única forma de garantir a segurança
estrutural do reservatório é dotando-o de isolamento térmico, garantindo-se assim valores
máximos de tracção da ordem de 3 MPa.

No que diz respeito aos efeitos das várias combinações de acções na face interior do
reservatório, pode observar-se nas figuras 5.47 e 5.48 que a estrutura está praticamente
sempre submetida a tensões de compressão, sendo as tracções máximas de cerca de 1,5 MPa
apenas na base, nas juntas.

h [m]
6

4
PP+PH
PP+PH+VUT+VDT1
3
PP+PH+VUT+VDT2
PP+PH+PE1 2
PP+PH+PE2
PP+PH+PE1+VUT+VDT1 1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.45 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da altura
dos painéis, na face exterior do reservatório baixo.

100
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
6

4
PP+PH
PP+PH+VUT+VDT1 3
PP+PH+VUT+VDT2
PP+PH+PE1 2

PP+PH+PE2
PP+PH+PE1+VUT+VDT1 1

PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.46 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da altura
das juntas, na face exterior do reservatório baixo.

h [m]
6

4
PP+PH
3 PP+PH+VUT+VDT1
PP+PH+VUT+VDT2
2 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
1 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.47 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da altura
dos painéis, na face interior do reservatório baixo.

101
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
6

4
PP+PH

3 PP+PH+VUT+VDT1
PP+PH+VUT+VDT2
2 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
1 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.48 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da altura
das juntas, na face interior do reservatório baixo.

Para as situações de reservatório vazio e cheio, como os efeitos da pressão hidrostática e do


pré-esforço são diminutos nas tensões verticais, são as variações de temperatura que
condicionam o desempenho estrutural. A combinação mais desfavorável respeita ao
reservatório cheio, sem isolamento térmico, atingido as tracções na face exterior dos painéis
valores de cerca de 5 MPa (figura 5.49). Já a face interior dos painéis encontra-se sempre à
compressão, com valores máximos das tensões de 4 MPa (figura 5.50).

102
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
6

PP+PE1 4
PP+PE2
PP+PH+PE1 3
PP+PH+PE2
PP+PE1+VUT+VDT1 2
PP+PE2+VUT+VDT2
PP+PH+PE1+VUT+VDT1 1

PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.49 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e cheio,
na face exterior dos painéis do reservatório baixo.

h [m]
6

4 PP+PE1
PP+PE2
3 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
2 PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
1 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.50 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e cheio,
na face interior dos painéis do reservatório baixo.

103
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Na face exterior das juntas a situação mais gravosa verifica-se quando o reservatório se
encontra vazio e sem isolamento térmico (Figura 5.51), devido aos efeitos provocados pelas
variações de temperatura, sendo atingidas tensões de tracção de cerca de 4 MPa no topo. À
semelhança do que acontece na face interior dos painéis, o paramento interior das juntas
também não é solicitado por tracções significativas, registando-se os valores máximos para a
combinação de acções permanentes, quando o reservatório está cheio e sem isolamento
térmico, com valores que atingem 1,5 MPa (Figura 5.52).

h [m]
6

PP+PE1 4

PP+PE2
PP+PH+PE1 3

PP+PH+PE2
PP+PE1+VUT+VDT1 2

PP+PE2+VUT+VDT2
1
PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.51 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e cheio,
na face exterior das juntas do reservatório baixo.

104
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
6

4 PP+PE1
PP+PE2

3 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
2 PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
1 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐10000 ‐8000 ‐6000 ‐4000 ‐2000 0 2000 4000 6000 8000 10000
Tensão [KPa]

Figura 5.52 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e cheio,
na face interior das juntas do reservatório baixo.

5.4.1.2.2 Tensões no reservatório alto

Considerem-se os diagramas de tensões representados nas Figuras 5.53 a 5.56. À


semelhança do caso estudado relativo ao reservatório baixo, apresentam-se e comparam-se as
tensões verticais devidas às acções estáticas que solicitam o reservatório alto.

O peso próprio induz tensões verticais moderadas no reservatório, que aumentam para a base,
onde atingem cerca de 1 MPa. As tensões devidas à pressão hidrostática têm um andamento
linear crescente, desde o bordo superior até à base do reservatório, mas com valores
significativamente inferiores aos registados nas tensões circunferenciais. No caso da face
exterior dos painéis e da face interior das juntas, as tensões provocadas são de tracção, com
valores máximos de 2 MPa. Na face exterior das juntas e na face interior dos painéis, as
tensões são de compressão.

O pré-esforço, que foi considerado com o intuito de contrariar as tensões circunferenciais,


provoca tensões verticais com pequenos valores. No entanto, nas juntas observa-se uma
descontinuidade de tensões e um acréscimo junto à base dos painéis, pelo facto de esta se
encontrar parcialmente restringida.

A variação uniforme de temperatura, tal como esperado, provoca tracções de valor


praticamente constante ao longo da altura do reservatório, de cerca de 1 MPa.

105
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

A acção que origina maiores tensões de tracção na parede exterior do reservatório (painéis e
juntas) é a variação diferencial de temperatura, quando este não é isolado termicamente, onde
se registam valores máximos da ordem de 4 MPa (Figuras 5.53 e 5.54). Estas tracções podem
comprometer as condições de estanquidade da estrutura, e até mesmo a sua segurança
estrutural, pelo que se pode concluir que também o reservatório alto tem que ser isolado
termicamente. Nesta solução reduz-se as tensões de tracção reduzem-se para cerca de 2
MPa. Já nas paredes interiores do reservatório (Figuras 5.55 e 5.56), as tensões provocadas
pelas variações diferenciais de temperatura são de compressão, com valores máximos de
cerca de 4 MPa.

h [m]
12

10

8
PP

6 PH
PE1
4 PE2
VUT
2 VDT1
VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.53 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura dos painéis, na face exterior do
reservatório alto.

106
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
12

10

8
PP
6 PH
PE1
4 PE2
VUT
2 VDT1
VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.54 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura das juntas, na face exterior do
reservatório alto.

h [m]
12

10

PP
6
PH
PE1
4
PE2
VUT
2
VDT1
VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.55 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura dos painéis, na face interior do
reservatório alto.

107
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
12

10

PP
6 PH
PE1
4 PE2
VUT
2 VDT1
VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.56 - Tensões verticais devidas às acções estáticas, ao longo da altura das juntas, na face interior do
reservatório alto.

Nas Figuras 5.57 a 5.60 apresentam-se os diagramas de tensões para as diferentes


combinações, com e sem pré-esforço.

Quando se fez a análise das tensões para cada acção, tinha-se concluído que o reservatório
teria de ser dotado de isolamento térmico de forma a satisfazer as condições de segurança. A
mesma conclusão pode ser tirada quando se procede à análise do diagrama de tensões da
Figura 5.57, já que a combinação de todas as acções, para o reservatório sem isolamento
térmico, induz tracções da ordem de 5,5 MPa. Quando se dota o reservatório de isolamento
térmico, as tracções máximas decrescem para cerca de 3 MPa. Na face exterior das juntas
(figura 5.58), a combinação de todas as acções é aquela que provoca maiores tensões de
tracção, atingindo-se valores de cerca de 5,5 MPa no trecho superior, no caso de não existir
isolamento (decrescem para cerca de 3 MPa se houver isolamento térmico).

108
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
12

10

8
PP+PH
PP+PH+VUT+VDT1 6
PP+PH+VUT+VDT2
PP+PH+PE1 4
PP+PH+PE2
PP+PH+PE1+VUT+VDT1 2

PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.57 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da altura
dos painéis, na face exterior do reservatório alto.

h [m]
12

10

PP+PH
6 PP+PH+VUT+VDT1
PP+PH+VUT+VDT2
4 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
2 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.58 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da altura
das juntas, na face exterior do reservatório alto.

109
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Na face interior, os painéis encontram-se comprimidos em toda a altura (Figura 5.59). O


mesmo não acontece na face interior das juntas (Figura 5.60), em que há tracções junto à
base, com valores máximos de cerca de 3 MPa.

h [m]
12

10

8
PP+PH
6 PP+PH+VUT+VDT1
PP+PH+VUT+VDT2
4 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
2 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensões [KPa]

Figura 5.59 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da altura
dos painéis, na face interior do reservatório alto.

h [m]
12

10

8
PP+PH
6 PP+PH+VUT+VDT1
PP+PH+VUT+VDT2
4 PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
2 PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.60 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, com e sem pré-esforço, ao longo da altura
das juntas, na face interior do reservatório alto.

110
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Os diagramas de tensões das Figuras 5.61 a 5.64 ilustram as situações correspondentes ao


reservatório cheio e vazio, com e sem isolamento térmico.

Na face exterior dos painéis do reservatório sem isolamento térmico, a combinação de todas as
acções induz tensões de tracção máximas de cerca de 5 MPa (Figura 5.61), dada a influência
da variação diferencial de temperatura. Na face interior dos painéis praticamente não existem
tracções, sendo as compressões máximas de cerca de 4,5 MPa (Figura 5.62).

Na face exterior das juntas as tensões de tracção ascendam a cerca de 6 MPa no trecho
superior, quando não existe isolamento térmico, mas decrescem para cerca de 3 MPa se
houver isolamento (Figura 5.63). Junto à base do reservatório, na face interior das juntas,
registam-se tracções de cerca de 3 MPa (Figura 5.64).

h [m]
12

10

8
PP+PE1
PP+PE2
6
PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
4
PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
2
PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.61 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e cheio,
na face exterior dos painéis do reservatório alto.

111
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
12

10

8
PP+PE1
6 PP+PE2
PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
4
PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
2
PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.62 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e cheio,
na face interior dos painéis do reservatório alto.

h [m]
12

10

8
PP+PE1
PP+PE2
6
PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
4
PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
2
PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.63 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e cheio,
na face exterior das juntas do reservatório alto.

112
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m]
12

10

8
PP+PE1
PP+PE2 6
PP+PH+PE1
PP+PH+PE2
4
PP+PE1+VUT+VDT1
PP+PE2+VUT+VDT2
2
PP+PH+PE1+VUT+VDT1
PP+PH+PE2+VUT+VDT2
0
‐15000 ‐12000 ‐9000 ‐6000 ‐3000 0 3000 6000 9000 12000 15000
Tensão [KPa]

Figura 5.64 - Tensões verticais devidas às combinações de acções, considerando o reservatório vazio e cheio,
na face interior das juntas do reservatório alto.

5.4.2 Acções sísmicas

5.4.2.1 Frequências próprias e modos de vibração

A análise modal tem como objectivo a determinação das frequências próprias e dos modos de
vibração da estrutura. A sua análise permite a compreensão do comportamento estrutural para
as acções sísmicas.

Tal como já foi referido anteriormente, quando se procede à análise modal de um reservatório é
necessário considerar uma parcela correspondente à vibração própria do líquido e uma parcela
de impulsão que caracteriza as vibrações do líquido com o reservatório. Apresentam-se nas
tabelas 5.9 e 5.10 os valores das primeiras cinco frequências próprias do conjunto reservatório
e líquido e as configurações dos respectivos modos de vibração, para os reservatórios baixo e
alto, respectivamente.

A frequência fundamental do reservatório baixo, sem contabilizar a parcela hidrodinâmica, é


18,06 Hz. Esta frequência é muito maior que a frequência do 1º modo de vibração do sistema
reservatório – líquido (0,288 Hz) pois a rigidez de um reservatório é, em geral, elevada. A
frequência fundamental associada ao 1º modo de vibração do reservatório alto vazio é de 8,82

113
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Hz, sendo de 0,295 Hz quando se considera a parcela hidrodinâmica. Apresentam-se nas


Figuras 5.65 e 5.66 as configurações dos primeiros modos de vibração das estruturas vazias
dos reservatórios baixo e alto, respectivamente.

Deve-se também notar que na análise do sistema reservatório – líquido as frequências entre o
1º modo de vibração e os restantes são bastante díspares, devendo-se ao facto de o 1º modo
de vibração estar apenas associado à vibração do fluído e nos restantes é mobilizada a
elevada rigidez da estrutura.

Tabela 5.9 – Frequências e modos de vibração do reservatório baixo, considerando a interacção entre a
estrutura e o líquido.

Modo Configuração deformada Frequência [Hz] Período [s]

1 0,288 3,478

2 20,276 0,04932

3 28,637 0,03492

114
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Modo Configuração deformada Frequência [Hz] Período [s]

4 28,637 0,03492

5 28,969 0,03452

Figura 5.65 – Configuração do primeiro modo de vibração do reservatório baixo, quando vazio.

115
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Tabela 5.10 - Frequências e modos de vibração do reservatório alto, considerando a interacção entre a
estrutura e o líquido.

Frequência Período
Modo Configuração deformada [Hz] [s]

1 0,295 3,3880

2 29,291 0,03414

3 29,291 0,03414

116
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Frequência
Modo Configuração deformada [Hz]
Período [s]

4 39,324 0,02543

5 39,448 0,02535

Figura 5.66 - Configuração do primeiro modo de vibração do reservatório alto, quando vazio.

117
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Como seria de esperar, quando vazio, a frequência fundamental do reservatório alto é mais
pequena que a do reservatório baixo, mas o primeiro modo de vibração do sistema reservatório
– líquido tem frequência mais baixa no caso do reservatório baixo.

5.4.2.2 Tensões devidas às acções sísmicas

As tensões na estrutura devidas à acção sísmica resultam da vibração da própria estrutura e


da sobreposição dos efeitos hidrodinâmicas. Nas Figuras 5.67 e 5.68 apresentam-se os
diagramas de tensões nos reservatórios baixo e alto, respectivamente, calculados para os
espectros de resposta elástica horizontais definidos na EN1998-1 (2010) e antes apresentados.

A ordem de grandeza das tensões que se verificam devido à acção sísmica, com máximos de
cerca de 150 kPa, é bastante inferior à das acções estáticas, por isso a acção sísmica não vai
condicionar a verificação da segurança.

h [m] h [m]
6 6
5 5
4 4

3 3
Máximo sismo Máximo sismo
2 tipo 1 2 tipo 1

1 Máximo sismo 1 Máximo sismo


tipo 2 tipo 2
0 0
0 50 100 150 0 50 100 150
Tensão [KPa] Tensão [KPa]

h [m] h [m]
6 6

5 5

4 4

3 3
Máximo sismo Máximo sismo
2 tipo 1 2 tipo 1

1 Máximo sismo 1 Máximo sismo


tipo 2 tipo 2
0 0
0 50 100 150 0 50 100 150
Tensões [KPa] Tensões [KPa]

Figura 5.67 - Tensões circunferenciais (em cima) e verticais (em baixo) devidas à acção sísmica nos painéis (à
direita) e nas juntas (à esquerda) do reservatório baixo.

118
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

h [m] h [m]
12 12

10 10

8 8

6 6
Máximo sismo Máximo
4 tipo 1 4 sismo tipo 1

2 Máximo sismo 2 Máximo


tipo 2 sismo tipo 2
0 0
0 50 100 150 0 50 100 150
Tensão [KPa] Tensões [KPa]

h [m] Máximo sismo h [m]


12 Máximo sismo
tipo 1 12 tipo 1
Máximo sismo
10 tipo 2 10 Máximo sismo
tipo 2
8 8

6 6

4 4

2 2

0 0
0 50 100 150 0 50 100 150
Tensão [KPa] Tensões [KPa]

Figura 5.68 - Tensões circunferenciais (em cima) e verticais (em baixo) devidas à acção sísmica nos painéis (à
direita) e nas juntas (à esquerda), no reservatório alto.

119
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

120
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

CAPÍTULO 6
6 Considerações finais

A presente dissertação abordou os principais aspectos da análise estrutural de reservatórios de


betão armado pré-fabricados e pós-tensionados, tendo-se verificado que têm um
comportamento bastante diferente dos betonados “in situ”, essencialmente devido à geometria
poligonal, à presença de ligações entre elementos pré-fabricados, à existência de nervuras
horizontais (para facilitar a distribuição de pré-esforço circunferencial) e aos diferentes tipos de
ligação à laje de fundo.

Após uma apresentação genérica do problema a estudar e dos métodos disponíveis para esse
efeito, os estudos foram desenvolvidos através da análise detalhada de dois casos,
correspondentes a um reservatório baixo, com altura igual ao seu raio, e a um reservatório alto,
com altura igual ao seu diâmetro. Os reservatórios foram analisados com o auxílio do programa
comercial SAP2000, considerando os painéis e as juntas com módulo de elasticidade de 32
GPa e 16,5 GPa e espessuras de 10 cm e 23 cm, respectivamente. Foram consideradas todas
as acções estáticas e dinâmicas que podem solicitar este tipo de estruturas.

Relativamente às acções dinâmicas, foi adaptado o método de Newmark & Rosenblueth, de


forma a generalizar a sua utilização em modelos tridimensionais, podendo assim ser
considerado, sem limitações, o comportamento dinâmico do conjunto estrutura – líquido
armazenado.

Os estudos permitiram estabelecer um método de pré-dimensionamento do pré-esforço a


considerar, em função das tensões circunferenciais estimadas para as outras acções. Não era
objectivo pormenorizar o pré-esforço mas sim calcular a sua quantidade. O número de cordões
necessários depende muito do tipo de ligação à laje de fundo e da intensidade das variações
uniformes e diferenciais de temperatura.

Mesmo controlando a rigidez da ligação na base, não foi possível verificar, na maior parte das
situações, o estado limite de descompressão, considerando as acções do peso próprio,
pressão hidrostática, pré-esforço, variações uniformes de temperatura e variações diferenciais
de temperatura e todas as combinações plausíveis delas. Remanescem tensões de tracção,
tanto circunferenciais como verticais, que só podem ser comportadas por betões de classes
elevadas de resistência, o que em regra é possível em estruturas pré-fabricadas.

As tensões verticais, que dependem pouco da pressão hidrostática e do pré-esforço, são muito
dependentes das variações diferenciais de temperatura. Assim, não se utilizando pré-esforço
vertical, que é a situação mais comum em reservatórios de pequena e média dimensão, é

121
ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

necessário dotar este tipo de reservatórios de isolamentos térmicos, em regra no interior, para
limitar as tensões de tracção a valores compatíveis com a resistência dos betões.

As situações de reservatório cheio são, em geral, as mais condicionantes, excepto na face


exterior das juntas. Isto acontece porque a pressão hidrostática gera nas juntas tensões de
sinal contrário às dos painéis, comprimindo a face exterior das juntas, dando assim uma
contribuição significativa para a verificação da segurança.

Nota-se um comportamento diferente dos reservatórios de diferente altura face às acções


estáticas. Na face exterior dos painéis, no caso do reservatório baixo, as variações diferenciais
de temperatura condicionam a segurança do reservatório, em quase toda a sua altura. A
excepção é feita próximo da base, em que as tensões induzidas pela pressão hidrostática, que
têm valores máximos na ordem de 3,5 MPa, são maiores que as devidas às variações
diferenciais de temperatura. Isto acontece porque as variações diferenciais de temperatura
originam essencialmente esforços de flexão e a base do reservatório é dotada de livre rotação.
Já no reservatório alto a pressão hidrostática é a acção mais gravosa abaixo de 6 m de altura,
tendo as tensões valores da ordem de 8 MPa junto à base.

Na face interior das juntas geram-se as tensões máximas de tracção devido à pressão
hidrostática. Estas tensões chegam a atingir valores de 9 MPa no reservatório alto e 4 MPa no
reservatório baixo. Trata-se do aspecto que merece mais cuidado no dimensionamento de um
reservatório pré-fabricado, pois uma análise de reservatório cilíndrico tradicional não capta este
efeito nas juntas, podendo ocorrer fenómenos de fendilhação, perda de estanquidade e mesmo
colapso estrutural.

As variações térmicas diferenciais, que ocorrem diariamente, obrigam à utilização de pré-


esforço circunferencial, pois o reservatório não suporta as tracções pela pressão hidrostática e
pelas variações térmicas.

As tensões máximas devidas ao pré-esforço acontecem a cerca de 1/3 da altura, apesar de o


pré-esforço máximo ser disposto na nervura mais próxima da base. Isto confirma o facto de se
perder eficácia de pré-esforço devido à rigidez da ligação à laje de fundo, sendo a utilização de
uma função trapezoidal de distribuição de pré-esforço a mais indicada.

A frequência fundamental calculada para o reservatório baixo foi de 0,288 Hz tendo em conta a
parcela hidrodinâmica, passando para 18,06 Hz quando foi apenas considerada a massa
estrutural. Por sua vez, o reservatório alto tem uma frequência fundamental de 0,295 Hz
quando se tem em conta a interacção com o fluído, passando a 8,82 Hz quando apenas se
considera a massa estrutural. Esta diferença de valores evidencia a importância de se fazer
uma análise que considere a interacção do fluído com o reservatório. No caso dos dois
modelos analisados as acções sísmicas não condicionam o dimensionamento do reservatório,
dado que as tensões geradas são de uma ordem de grandeza muito inferior à das acções
estáticas (os valores máximos calculados foram de 150 kPa), mas em reservatórios mais

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ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

esbeltos isto pode já não ser verdade. De facto, o reservatório alto registou tensões superiores
às do reservatório baixo, quando submetido às acções sísmicas.

Considera-se que os objectivos deste trabalho foram genericamente cumpridos, na medida em


que se fizeram análises de tensões nos reservatórios com o intuito de conhecer melhor o
comportamento deste tipo de solução pré-fabricada, nomeadamente nas juntas. Os resultados
obtidos confirmaram que é necessário dar especial atenção à quantificação das variações de
temperatura e à intensidade das tensões nas juntas.

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ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

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ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

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ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

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ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Anexo A
Ábacos de Hangan – Soare para determinação dos
esforços na base das paredes de um reservatório
cilíndrico, em função da rigidez da ligação.

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ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura A1 - Momento na ligação parede – laje de fundo. (Guerrin, 1972)

Figura A2 - Ponto de anulamento do momento flector vertical. (Guerrin, 1972)

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ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura A3 - Máximo momento vertical “negativo”. (Guerrin, 1972)

Figura A4 - Localização do máximo momento vertical “negativo”. (Guerrin, 1972)

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ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura A5 - Máxima tracção circunferencial. (Guerrin, 1972)

Figura A6 - Localização da máxima tracção circunferencial. (Guerrin, 1972)

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ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Anexo B
Ábacos de Montoya, Mesenguer e Morán para
determinação dos esforços nas paredes de um
reservatório cilíndrico encastrado na base.

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ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura B1 – Esforços de tracção em reservatórios cilíndricos encastrados na base (Montoya, Meseguer, &
Cabré, 2000)

Figura B2 – Momentos em reservatórios cilíndricos encastrados na base, para K≤10 (Montoya, Meseguer, &
Cabré, 2000)

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ANÁLISE DE RESERVATÓRIOS CIRCULARES DE BETÃO ARMADO PRÉ-FABRICADOS, PÓS-TENSIONADOS

Figura B3 – Momentos em reservatórios cilíndricos encastrados na base, para K≥15 (Montoya, Meseguer, &
Cabré, 2000)

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