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Belo Horizonte
2020
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1. INTRODUÇÃO
2. CONTEXTUALIZAÇÕES
A década de 1980 foi marcada por crises financeiras em todo o mundo, e não
foi diferente para o Brasil, o país começou o ano com várias dívidas externas e isso só
foi piorando. Economicamente, este período histórico ficou conhecido na América
Latina como “a década perdida”, de acordo com Gilberto Marangoni, na publicação
“Anos 1980, década perdida ou ganha?” da Revista Desafios do Desenvolvimento do
IPEA - Instituto de Pesquisa Aplicada, de 2012. Ainda segundo este estudo,
politicamente, a década foi marcada também por crises políticas e pela mobilização
social em prol do fim do regime militar no Brasil. Neste contexto, emergiu em 1980 o
Partido do Trabalhador, trabalhadores, operários, militantes unidos a favor do
socialismo democrático. Diante desta “dialética crise” como escreveu Gilberto
Marangoni, houve a redemocratização do país com José Sarney, em 1988 tivemos
uma nova Constituição Federal, e a primeira eleição para presidente com sufrágio
universal em 29 anos no ano seguinte.
A promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil foi
especialmente importante para a classe trabalhadora, uma vez que foi formalizada a
garantia de direitos da CLT – Consolidação de Leis Trabalhistas publicadas a primeira
vez em 1943. De acordo com a informação noticiada no portal do Tribunal Superior do
Trabalho do Brasil, a “Constituição de 1988 consolidou direitos dos trabalhadores”:
Diante desse forte apelo político de grande parte da população brasileira, surge
a música de Gonzaguinha, “É”, reverberando a consciência de um discurso coletivo
em consonância com a participação expressiva da população com sugestões aos
deputados e senadores para elaboração das proposições de ampliação dos direitos
sociais. Este esforço conjunto que se tornou símbolo do processo de
redemocratização do Brasil, e por isso, esse documento tão importante ficou
conhecido como Constituição Cidadã.
Depreendemos, diante disto, que a obra resgata um dito social a respeito dos
níveis subjetivos de autoconstrução e de autoconsciência do operário, uma trajetória
difícil, uma vez que apenas um deles virou-se contra um sistema sólido e enraizado na
sociedade, no qual o patrão determina o que o operário deve pensar, dizer e fazer.
Entre aspas, o narrador marca a voz discursiva do patrão como um dizer coercitivo,
expressando seu poder de comando sobre todos os seus subalternos, no excerto: “-
‘Convençam-no’ do contrário.-”
A escolha do nome da canção, “É”, variação do verbo ser, não foi aleatória, e
nos chama a refletir sobre o sentido do discurso que será enunciado. “É” expressa
existir, ideia afirmada e reafirmada no decorrer da composição, explicita a voz do
enunciador, o cidadão, o seu desejo de se comunicar, sua reivindicação por espaço de
fala, a manifestação da consciência do povo brasileiro face ao sistema de governo.
Argumentamos isto diante do estudo do texto “Interação Discursiva” do filósofo
Valentin Volochinov:
“Em sua essência, a palavra é um ato bilateral. Ela é
determinada tanto por aquele de quem ela procede
quanto por aquele para quem ela se dirige.”
(VOLOCHINOV, 2017, p. 205)
4. CONCLUSÃO
Transmutação
Vinícius e Gonzaguinha
Contemporâneos na mesma nação
Poesia, partitura, caneta e música
É, É, É, o operário em construção
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. “Os gêneros do discurso”. São Paulo: Editora 34, 2016 - (1ª
Edição).