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Educação Ambiental

Paulo de Bessa Antunes


Advogado e Procurador Regional da República
Professor da Faculdade de Direito Cândido Mendes
Doutor (UERJ) e Mestre (PUC/RJ) em Direito
Autor de 5 livros sobre Direito Ambiental

1. Introdução
A Constituição Brasileira, expressamente, estabelece que é uma obrigação do
1
Estado a promoção da educação ambiental como forma de atuação com vistas à
preservação ambiental. Este, de fato, é um dos mais importantes mecanismos que
podem ser utilizados para a adequada proteção do meio ambiente, pois não se pode
acreditar – ou mesmo desejar – que o Estado seja capaz de exercer controle absoluto
sobre todas as atividades que, direta ou indiretamente, possam alterar a qualidade
ambiental. A correta implementação de amplos processos de educação ambiental é a
maneira mais eficiente e economicamente viável de evitar que sejam causados danos
ao meio ambiente.
A educação ambiental é o instrumento mais eficaz para a verdadeira aplicação
do princípio mais importante do Direito Ambiental que é exatamente o princípio da
prevenção.
Educação ambiental é termo que tem encontrado diversas definições e que,
não raras vezes, tem servido de motivo de equívocos e desentendimentos. Uma boa
síntese das diferentes concepções que se têm apresentado quanto ao particular foi
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compilada pela Professora Iara Verocai , em seu consagrado Vocabulário Básico do
Meio Ambiente. A ilustre autora arrolou os seguintes significados:
“Processo de aprendizagem e comunicação de problemas relacionados à intera-
ção dos homens com seu ambiente natural. É o instrumento de formação de uma
consciência, através do conhecimento e da reflexão sobre a realidade ambiental”
(FEEMA, Assessoria de Comunicação, informação pessoal, 1986).
“O processo de formação e informação social orientado para: (I) o desenvolvimento
de consciência crítica sobre a problemática ambiental, compreendendo-se como
crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução dos problemas ambientais,
1
CF. art. 225, § 1º, VI.
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disponível em http://sema.rj.gov.br

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tanto em relação aos seus aspectos biofísicos, quanto sociais, políticos, econômicos
e culturais; (II) o desenvolvimento de habilidades e instrumentos tecnológicos ne-
cessários à solução dos problemas ambientais; (III) o desenvolvimento de atitudes
que levem à participação das comunidades na preservação do equilíbrio ambiental”
(Proposta de Resolução CONAMA n.º 02/85).
Parece-me que as definições acima apresentadas não levam em conta um elemento
que julgo ser da maior importância que é a consideração do processo educativo como
um elemento capaz de fazer que o Ser Humano possa conviver e compreender os riscos,
benefícios e vantagens que determinados empreendimentos possam trazer para uma
determinada comunidade. É pelo correto enquadramento dos problemas ambientais
em suas múltiplas facetas que o indivíduo terá capacidade de participar ativamente da
decisão sobre problemas ambientais que sejam relevantes. O processo de educação
ambiental, portanto, não se limita a ser um instrumento poderoso para a efetivação do
princípio da prevenção mas, igualmente, é uma ferramenta absolutamente imprescindível
para a objetivação do princípio democrático. Com efeito, a participação em audi-
ências públicas, o exame dos relatórios de impacto ambiental e todos os outros atos
que decorrem do princípio democrático somente podem ser considerados de acordo
com a sua finalidade se as populações interessadas tiverem a necessária informação
ambiental, que é o produto final do processo de educação ambiental.
É dentro do contexto acima explicitado que deve ser compreendida a Lei n.º
9795, de 27 de abril de 1999, que “dispõe sobre educação ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.”
2. A Lei n.º 9.795, de 27 de abril de 1999

A Lei está dividida em quatro capítulos que se estendem por 22 artigos. O pri-
meiro capítulo define o conceito normativo de educação ambiental e os princípios que
lhe são próprios. O Capítulo II cuida da Política Nacional de Educação Ambiental. Ao
Capítulo III coube a elaboração dos mecanismos de execução da Política Nacional de
Educação Ambiental. O Capítulo IV se ocupa das disposições finais. A seguir passo
a examinar cada um dos capítulos da Lei n.º 9.795.
2.1 Da educação ambiental

O artigo 1º da Lei determina o conceito normativo de educação ambiental que


é o seguinte:
“art. 1º - Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.”
Em primeiro lugar, há que se observar que a educação ambiental tem por objetivo

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a conservação ambiental e não a preservação ambiental. A definição constante no
artigo 1º é extremamente importante, pois por ela se pode perceber que os processos
de educação ambiental devem ter por finalidade a plena capacitação do indivíduo
para compreender adequadamente as implicações ambientais do desenvolvimento
econômico e social. O fato é tanto mais relevante, na medida em que a lei que ora está
sendo examinada não está voltada para a educação ecológica mas, isto sim, para a
educação ambiental. Ambiente, como se sabe, é conceito mais amplo e que abarca
o entorno do ser humano, quaisquer que sejam as suas dimensões. A lei, de forma
correta, assimilou o conceito existente em nossa Lei Fundamental.
A educação ambiental, nos termos da lei, é considerada “um componente
essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma arti-
culada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal
e não-formal”. O artigo 2º da Lei, parece-me, peca pelo excesso. Com efeito, não se
pode pretender que a educação ambiental possa estar presente “em todos os níveis
e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.” Processo
educativo não se confunde com escolaridade. A educação é uma atividade constante
e permanente que se faz a todo dia e em todos os locais. É razoável que se aceite a
hipótese de que no processo de escolarização a preocupação com as repercussões
ambientais da atividade humana esteja sempre presente. Aliás, isto é mais do que ra-
zoável, é altamente desejável. Não é razoável, contudo, que nos processos informais
de educação seja possível a inclusão de tal componente. É curioso que se observe
que o próprio legislador, em contradição com o disposto no artigo 2º, estabeleceu
que a educação ambiental deve ser prestada, também, de maneira não-formal (seção
III, Capítulo II), sem mencionar a sua prestação no processo educativo não-formal.
Educação se adquire em qualquer recinto, em qualquer tempo. A maneira como so-
mos cumprimentados e como cumprimentamos as pessoas é parte importantíssima
do processo educativo não-formal. Não consigo antever, contudo, como incluir em
um bom dia a preocupação com o meio ambiente.
O artigo 3º determina que “como parte do processo educativo mais amplo,
todos têm direito à educação ambiental”. A redação do caput do artigo 3º não é das
mais felizes. O que seria um processo educativo mais amplo? A resposta é difícil. O
legislador, certamente, quis dizer que a educação ambiental é um elemento essencial
na formação cultural dos indivíduos. Este artigo estabeleceu uma série de determi-
nações para diferentes atores sociais. É importante, nesta passagem, que se recorde
que a educação ambiental está expressamente prevista no § 1º, VI do artigo 225
3
“Conservação – Proteção do meio ambiente com a utilização racional dos recursos naturais,
a fim de beneficiar a posteridade, assegurando uma produção contínua de plantas, animais e
materiais úteis, mediante o estabelecimento de um ciclo equilibrado de colheita e renovação”,
in, KRIEGER, Maria da Graça et al. Dicionário de direito ambiental. Porto Alegre/Brasília
: Ed. UFRS/MPF, 1998. p. 110.
4
“Preservação – manutenção da integridade e perenidade dos recursos ambientais.” in, KRIE-
GER, op. cit. p. 285.

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da Constituição da República Federativa do Brasil, como uma obrigação do Poder
Público, in verbis:
“art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
(...)
VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e conscientização
pública para a preservação do meio ambiente.”
Perfeitas, portanto, as determinações para que o Poder Público (art. 3º, I) pro-
mova políticas públicas que integrem em seus conteúdos a educação ambiental. Há
redundância quanto à determinação de que os “órgãos integrantes do Sistema Na-
cional de Meio Ambiente – SISNAMA” promovam ações de educação ambiental
integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente. 5
Como é curial, os órgãos que integram o SISNAMA são o próprio Poder Público .
A incumbência contida no inciso VI é absolutamente inócua. Com efeito, dispõe o
mencionado inciso incumbir, “à sociedade como um todo, manter atenção permanente
à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e
coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambien-
tais.” O dever constitucional que a coletividade tem em relação ao meio ambiente é
o de defender e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (art. 225, caput). A
Constituição Federal não estabeleceu qualquer obrigação da coletividade para com a
educação ambiental. A lei, portanto, jamais poderia ter estabelecido tal incumbência.
Ademais, “sociedade como um todo” é conceito abstrato e, francamente, autoritário.
A sociedade é um conjunto de indivíduos, uma coletividade. Jamais um todo.
Quanto à incumbência imposta aos meios de “comunicação de massa”, no
sentido de que devem colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de
informações e práticas educativas sobre meio ambiente, deve ser dito que inúmeras
emissoras de TV e rádio possuem programas de excelente nível especialmente voltados
para os problemas ambientais. Tal fato, entretanto, nada tem a ver com determinações
legais sobre conteúdos de programação que, em muito, se assemelham à propaganda
oficial. A matéria já encontra normação constitucional nos artigos 220 e 221. Em
especial, há que se verificar que o artigo 221, I da Lei Fundamental já determina que
a programação das televisões e rádios deve ser feita com “preferência a finalidades
educativas, artísticas, culturais e informativas”.
Os princípios básicos que regem a educação ambiental foram estabelecidos pelo
artigo 4º da lei em comento. Tais princípios são os seguintes:
“I – enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;
5
Ver Lei n.º 6.938/81, art. 6º.

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II – a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando interdepen-
dência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da
sustentabilidade;
III – o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter,
multi e transdisciplinaridade;
IV – a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;
V – a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;
VI – a permanente avaliação crítica do processo educativo;
VII – a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais
e globais;
VIII – o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultu-
ral.”
Os objetivos fundamentais da educação ambiental foram definidos pelo artigo
5º da Lei n.º 9.795, de 27 de abril de 1999 e são os seguintes:
“I – o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas
múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos,
legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;
II – a garantia de democratização das informações ambientais;
III – o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática
ambiental e social;
IV – o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na
preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade
ambiental como uma valor inseparável do exercício da cidadania;
V – o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e
macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equi-
librada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia,
justiça social, responsabilidade sustentabilidade;
VI – o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;
VII – o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade
como fundamentos para o futuro da humanidade.”
Não se pode deixar de reconhecer que os objetivos traçados pela norma legal,
que ora está sendo examinada, são extremamente vastos e que se forem alcançados,
ainda que parcialmente, a sociedade brasileira terá sofrido uma mudança estrutural
de larga escala. Cumpre indagar se a lei não estabeleceu objetivos demasiadamente
extensos e que podem gerar frustração por não serem alcançáveis.
2.2 Da política nacional de educação ambiental

2.2.1 Disposições gerais


Após ter traçados os princípios e os objetivos da Educação Ambiental em
nosso país, a Lei 9.795/99 instituiu uma Política Nacional de Educação Ambiental,
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conforme determinação contida no artigo 6º do diploma legal. O legislador ordinário,
que nos artigos precedentes havia construído princípios e objetivos dotados de forte
parcela de grandiloqüência, foi modesto. O artigo 6º em questão limita-se a dizer:
“é instituída a Política Nacional de Educação Ambiental”. Não há qualquer fixação
de objetivos, instrumentos ou outros mecanismos que sejam capazes de definir de
maneira precisa como devem ser implementadas as políticas públicas pertinentes à
educação ambiental.
Mesmo que se considere que não existem as definições acima reclamadas, o
artigo 7º determina que a Política Nacional de Educação Ambiental “envolve em sua
esfera de ação” (sic) os órgãos integrantes do SISNAMA, instituições educacionais
públicas e privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, e organizações não governamentais com atuação
em educação ambiental. O sistema nacional de educação deverá organizar ações que
busquem desenvolver as seguintes atividades que são consideradas necessárias para
a política nacional de educação ambiental:
“I – capacitação de recursos humanos;
II – desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações;
III – produção e divulgação de material educativo;
IV – acompanhamento e avaliação.”
Merece ser observado que a lei, ao definir os quatro temas acima mencionados,
estabeleceu os objetivos a serem buscados com a sua consecução. A capacitação de
recursos humanos, conforme a disposição contida nos cinco incisos que compõem o
parágrafo segundo do artigo 8º deve (i) incorporar a dimensão ambiental na formação,
especialização e atualização dos educadores de quaisquer níveis e modalidades de
ensino; (ii) incorporar a dimensão ambiental na formação, especialização e atualização
dos “profissionais de todas as áreas”; (iii) preparar profissionais orientados para a
atividade de gestão ambiental; (iv) formação, especialização e atualização de profis-
sionais da “área de meio ambiente” e (v) “o atendimento da demanda dos diversos
segmentos da sociedade no que diz respeito à problemática ambiental”.
Nos termos do § 3º do artigo 8º, as ações de estudos, pesquisas e experimentação
deverão estar voltadas para o seguinte: (i) desenvolvimento de instrumentos e metodo-
logias, com vistas à incorporação “da dimensão ambiental, de forma interdisciplinar,
nos diferentes níveis e modalidades de ensino”; (ii) a difusão de conhecimentos,
tecnologias e informações sobre a “questão ambiental”; (iii) o desenvolvimento de
instrumentos e metodologias, visando à participação dos interessados na formulação
e execução de pesquisas relacionadas à “problemática ambiental”; (iv) a busca de
alternativas curriculares e metodológicas de capacitação na “área ambiental”; (v) o
apoio a iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção de material
educativo e (vi) a “montagem de uma rede de banco de dados e imagens” que sirva
de apoio às iniciativas precedentes.”
Em minha opinião, a lei, na passagem que foi abordada acima, se utilizou de

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termos pouco claros e extremamente ambíguos tais como: “dimensão ambiental”,
“questão ambiental”, “área ambiental”, “problemática ambiental” que são termos
correntes da linguagem diária, mas que não se prestam para uma norma legal que
pretende disciplinar assunto de tão grande relevância como a educação ambiental. O
legislador, se desejasse utilizar termos como aqueles que acabam de ser mencionados,
data vênia, deveria ter-lhes atribuído um conceito normativo claro e inequívoco. Foi
utilizada uma linguagem extremamente atécnica.
2.2.2 Educação ambiental no ensino formal
A educação ambiental na educação escolar é aquela desenvolvida “no âmbito
dos currículos” das instituições de ensino públicas e privadas e que se estende por
todos os níveis e modalidades de ensino, conforme o disposto no artigo 9º da lei que
ora se está comentando. A educação ambiental, entretanto, não deverá se constituir
em uma disciplina autônoma mas, ao contrário, deverá ser uma preocupação das
diferentes disciplinas que, em seus diferentes conteúdos, deverão buscar vínculos
e liames entre os diferentes assuntos abordados e as suas respectivas repercussões
no meio ambiente. A orientação da lei, no particular, é excelente, pois a educação
ambiental não pode e não deve se constituir em um gueto isolado. Ela deve ser uma
preocupação presente em todo o processo educativo, de forma transversal. Um outro
elemento importante é que nos cursos voltados para atividades técnicas e profissio-
nais deve ser incluído um conteúdo específico sobre a ética ambiental. O desiderato
do legislador é relevante. Infelizmente, a lei não define o que compreende por “ética
ambiental”. Deveria fazê-lo, pois como se sabe ética ambiental é um conceito extre-
mamente amplo e que se presta a múltiplas interpretações. Penso que, na hipótese,
a compreensão que corresponde a uma interpretação lógica de todo o conjunto da
legislação ambiental brasileira – inclusive do artigo 225 de nossa Lei Fundamental – é
a de que a ética ambiental a ser implementada nos programas de educação ambiental
é aquela que se baseia no desenvolvimento sustentável. Admite-se, entretanto, que
em cursos de pós-graduação e de extensão universitária possa existir uma disciplina
própria para o tema.
A formação de professores, em todos os diferentes níveis de ensino, deverá ter
uma particular atenção para a “dimensão ambiental”.
2.2.3 Educação ambiental não-formal
A Educação ambiental não-formal é aquela constituída por um conjunto de
práticas e ações de natureza educativa cujo objetivo é a “sensibilização da coleti-
vidade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa
da qualidade do meio ambiente”. Ou seja, a educação ambiental não-formal é um
processo integrado e amplo cujo objetivo é a capacitação dos indivíduos para a
ampla compreensão das diferentes repercussões ambientais das atividades humanas,
tornando-os aptos a agir ativamente em defesa da qualidade ambiental. O parágrafo
único do artigo 13 da lei determina que o Poder Público, em seus diversos níveis,
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deverá incentivar:
“ I – a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços
nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de temas
relacionados ao meio ambiente;
II – a ampla participação da escola, da universidade e de organizações não-go-
vernamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à
educação ambiental não-formal;
III – a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de
programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as
organizações não-governamentais;
IV – a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conserva-
ção;
V – a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades de
conservação;
VI – a sensibilização ambiental dos agricultores;
VII – ecoturismo.”

3. Execução da Política Nacional de Educação Ambiental


A coordenação da Política Nacional de Educação Ambiental, conforme disposto
no artigo 14, “ficará a cargo de um órgão gestor, na forma definida pela regulamentação
desta lei.” Neste ponto, com o devido respeito, o legislador cometeu uma verdadeira
barbaridade jurídica. O Direito Administrativo brasileiro não conhece a expressão
“órgão gestor”, muito menos se o mesmo for ser definido por decreto, pois, como se
sabe, o poder regulamentar não pode ir além dos limites fixados pela lei. A própria
lei, no entanto, não definiu a questão. Vale ser mencionado, contudo, que embora não
tenha sido especificado a quem compete a direção da Política Nacional de Educação
Ambiental, foram definidas competências e atribuições para o “órgão”. Tais atribuições
são, segundo o artigo 15 da norma que ora está sob exame: “ (a) definição de diretrizes
para implementação em âmbito nacional (sic) (?!)”; (b) articulação, coordenação e
supervisão de planos, programas e projetos na área de educação ambiental, em âmbito
nacional e, (c) participação na negociação de financiamentos a planos, programas e
projetos na área de educação ambiental.
4. Conclusão
A lei da Política Nacional de Educação Ambiental é uma norma jurídica extre-
mamente confusa e de difícil compreensão. Os seus termos são pouco claros e pecam
pela absoluta ausência de técnica jurídica. As suas gritantes falhas, certamente, serão
um importante entrave para a implantação de uma necessidade ambiental das mais
sentidas que é, justamente, a necessidade de uma política clara e estável de educação
ambiental. Lamentavelmente, a lei não logrou atender às enormes expectativas da
sociedade.

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